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FORMAÇÃO PEDAGÓGICA INICIAL DE FORMADORES

O formador e o contexto em que se desenvolve a formação


Ivone Coimbra

O Formador e o Contexto em que


se desenvolve a Formação

Objectivos do Módulo

Pretende-se que cada formando no final do módulo seja capaz de:


ƒ Caracterizar os diferentes sistemas de formação, com base nos objectivos e nos
públicos-alvo específicos, metodologias e meios pedagógicos utilizados
ƒ Identificar a legislação nacional e comunitária que regulamenta a formação
profissional
ƒ Enunciar as competências e capacidades necessárias à actividade de formador nos
diferentes sistemas de formação
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O formador e o contexto em que se desenvolve a formação
Ivone Coimbra

FORMAÇÃO PROFISSIONAL

A formação profissional é definida como o “conjunto de actividades que visam a aquisição de


conhecimentos, capacidades, atitudes e formas de comportamento exigidos para o exercício
das funções próprias duma profissão ou grupo de profissões em qualquer ramo de actividade
económica” (CIME, 2001; INOFOR, 2004).

Trata-se do processo global e permanente de aprendizagem e desenvolvimento de


competências que possibilitam a aquisição de qualificações para um melhor desempenho
profissional. É ferramenta do domínio do desenvolvimento de recursos humanos que permite
aumentar e/ aperfeiçoar conhecimentos (saber-saber), desenvolver capacidades (saber-
fazer) e promover comportamentos e atitudes (saber-estar, saber-ser).

CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA DE FORMAÇÃO EM PORTUGAL

O Sistema de Educação Português organiza-se em três subsistemas diferenciados e com


finalidades próprias:
ƒ a educação pré-escolar: destina-se a crianças com idades compreendidas entre os
3 anos e a entrada na escolaridade obrigatória, é ministrada em Jardins de Infância
e que tem por objectivo principal a socialização da criança e ser uma forma
educativa complementar à educação no seio familiar
ƒ a educação escolar, que abrange os ensinos básico, secundário e superior, integra
modalidades especiais e inclui actividades de ocupação de tempos livres;
ƒ a educação extra-escolar, que se realiza num quadro aberto de iniciativa
múltiplas, de natureza formal e não formal, destina-se a complementar formações
escolares anteriores e/ou a suprir as suas lacunas e carências.

Fonte: Ministério da Educação, in www.min-edu.pt


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A Formação Profissional é legalmente enquadrada pela Lei de Bases do Sistema Educativo e


Decretos-lei nº 401/91 de 16 de Outubro e nº 405/91 de 16 de Outubro, agora renovada e
reorganizada pelo novo Código do Trabalho.

As ofertas, contudo, permanecem centradas em:


ƒ a formação profissional inserida no sistema educativo;
ƒ a formação profissional inserida no mercado de emprego.

A diferenciação entre ambas centra-se sobretudo pela base institucional que as suporta,
respectivamente o Ministério da Educação e o Ministério do Emprego e da Solidariedade
Social, e também pelas características das ofertas formativas e seus destinatários
específicos.

Por outro lado, articulam-se pelos princípios, finalidades, processo de certificação e principais
conceitos, possibilitando o estabelecimento de relações entre ambas, em particular, as saídas
profissionais e respectivos níveis de qualificação.

TIPOLOGIAS DE FORMAÇÃO

As tipologias de formação disponíveis são diversas, apresentando-se de seguida uma breve


sinopse das mesmas:

Cursos de Educação e Formação de Jovens (CEF) – são cursos que oferecem uma
segunda oportunidade a indivíduos que abandonaram a escola precocemente ou que estão
em risco de a abandonar, são cursos ministrados nas escolas, mas com uma componente
técnico-profissional muito forte e claramente voltados para o mercado de trabalho. As
diferentes modalidades de educação e formação de jovens permitem adquirir uma
certificação escolar ao nível do ensino básico e uma qualificação profissional e, ainda, o
prosseguimento de estudos de nível pós-secundário ou o ensino superior. Actualmente são
desenvolvidos nas Escolas de Ensino Básico e Secundário.

Formação Profissional em Alternância (Sistema de Aprendizagem) – trata-se de um


sistema idêntico aos CEF, mas anterior em termos de desenvolvimento no nosso país que
tem como objectivo qualificar jovens, para integração na vida activa, através de perfis de
formação com tripla valência: reforço das competências académicas, pessoais, sociais e
relacionais; aquisição de saberes no domínio científico-tecnológico e uma sólida experiência
na empresa. De facto o aspecto central desta tipologia de curso é o facto de semanalmente
os formandos de forma gradual alternarem entre a formação em sala e o contexto real de
trabalho numa empresa. Destina-se a candidatos ao primeiro emprego, que abandonaram o
sistema de ensino tradicional, com idades compreendidas entre os 15 e os 25 anos,
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promovendo a certificação profissional com qualificação escolar equivalente aos ciclos do


Ensino Básico ou Ensino Secundário. São cursos tutelados pelo Instituto de Emprego e
Formação Profissional, que se desenvolvem directamente por estes nos seus Centros de
Formação ou em centros de entidades formadoras com estreita ligação com este instituto.

Educação e Formação de Adultos – Tal como os cursos anteriores, educação e formação


de adultos oferece uma segunda oportunidade a indivíduos que abandonaram a escola
precocemente, bem como àqueles que não tiveram oportunidade de a frequentar quando
jovens. Destina-se a maiores de 18 anos e procura proporcionar novas vias para aprender e
progredir. Integram-se aqui:
ƒ O Sistema de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC),
adquiridas ao longo da vida, por via formal, informal e não-formal, proporcionando
aos alunos melhorar a sua formação e obter um diploma escolar e/ou profissional e
desenvolve-se nos CNOs – Centros de Novas Oportunidades. Actualmente este
sistema prevê não apenas a qualificação nos vários ciclos do Ensino Básico, mas
alarga-se a sua implementação desde 2006 também ao 12º ano.
ƒ Cursos de educação e formação de adultos – cursos de duração alargada
desenvolvidos em unidades capitalizáveis que visam a dupla certificação: qualificação
escolar e profissional
ƒ Ensino recorrente;
ƒ “Acções S@bER +” – formação de curta duração em áreas específicas do saber
desenvolvidas para promoção da aprendizagem ao longo da vida e adaptabilidade

São cursos tutelados pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional no âmbito da


componente profissional e pelo Ministério da Educação na qualificação escolar, que se
desenvolvem directamente por estes nas Escolas ou Centros de Formação ou em centros de
entidades formadoras devidamente homologadas e acreditadas para o efeito.

Cursos Profissionais - inserem-se ao nível do Ensino Secundário e são estruturados por


diferentes áreas, são organizados em módulos, correspondendo a 3100 horas de formação.
Estes cursos destinam-se a proporcionar a entrada no mundo do trabalho, facultando
também o prosseguimento de estudos em cursos pós–secundários não superiores ou, ainda,
no ensino superior. Estes cursos desenvolvem-se nos Centros de Formação Profissional do
IEFP ou em Escolas Profissionais.

Cursos de Especialização Tecnológica (CET) – integram-se no Ensino pós-secundário


não superior e possibilitam percursos de formação especializada em diferentes áreas
tecnológicas, permitindo a inserção no mundo do trabalho ou o prosseguimento de estudos
de nível superior. A conclusão com aproveitamento de um curso de especialização
tecnológica confere um diploma de especialização tecnológica (DET) e qualificação
profissional de nível 4, podendo ainda dar acesso a um certificado de aptidão profissional
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(CAP). Estes cursos desenvolvem-se nos Centros de Formação Profissional do IEFP ou em


Escolas Profissionais.

MODALIDADES DE FORMAÇÃO

A formação profissional distingue-se por modalidades, definindo-se estas como os “tipos de


formação determinados e diferenciados pelas características específicas das populações-alvo,
pela natureza dos objectivos de aprendizagem e pelos reflexos destas nas formas
organizativas, estruturas curriculares, metodologias pedagógicas, recursos envolvidos e
carga horária” (INOFOR 2004).

Formação Pré-profissional - Modalidade que visa a sensibilização, informação, orientação


e a preparação dos formandos para a escolha de uma profissão ou projecto de formação;
pode integrar acções que complementem a educação anterior, mobilizem para o trabalho e
para a formação, estimulem a emergência de interesses e aptidões e promovam a adaptação
e integração futura na vida activa e na profissão. Conceitos equivalentes são a iniciação, pré-
aprendizagem e pré-formação.

Formação Inicial - Modalidade que se destina a criar condições para a integração na vida
profissional, através de uma formação profissional certificada, de base alargada,
preferencialmente qualificante. Habitualmente inclui formação geral ou de base, seguida de
especialização. Visa a aquisição das capacidades indispensáveis para poder iniciar o exercício
duma profissão. É o primeiro programa completo de formação que habilita ao desempenho
das tarefas que constituem uma função ou profissão.

Formação Qualificante - Modalidade que visa qualificar activos, através da aquisição de


conhecimentos e competências adequadas ao exercício de uma profissão, bem como das
atitudes e formas de comportamento que potenciam uma melhor integração sócio-
profissional.

Formação Contínua / de Actualização - Modalidade de formação que pressupõe uma


qualificação profissional de base, que visa complementar, actualizar conhecimentos e
desenvolver capacidades práticas, atitudes e formas de comportamento no âmbito das
profissões exercidas.

Formação Contínua / de Especialização - Modalidade de formação que pressupõe uma


qualificação profissional de base, que visa complementar, através de uma especialização
específica em determinada área do saber, promovendo a aquisição de novos conhecimentos
e desenvolver capacidades práticas, atitudes e formas de comportamento no âmbito das
profissões exercidas.
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Formação de Reconversão – Modalidade de formação que visa proporcionar aos activos,


em risco de perda de emprego ou sem emprego, uma qualificação diferente, no todo ou em
parte, da já possuída, para o exercício de uma nova actividade profissional. Pode implicar
uma formação profissional de base seguida de especialização. Assume, habitualmente, a
forma de recolocação / reintegração, precedida de nova qualificação, com aproveitamento de
saberes e experiências profissionais anteriores.

ESTRUTURA DE NÍVEIS DE FORMAÇÃO OU DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL

De acordo com a Decisão do Conselho de 16 de Julho de 1985 (85/368/CEE), JOCE n.º


L199/565, fixada também no Despacho Normativo n.o 53-A/96 e no Despacho Normativo nº
42-B/2000, a formação profissional divide-se em 5 níveis de qualificação, níveis estes que
definem quer os requisitos de entrada para acesso ao curso, bem como o nível de saída do
formando.

A formação inserida neste nível de formação é caracterizada por ser uma formação que visa
permitir principalmente a execução de um trabalho relativamente simples, podendo a sua
aquisição ser bastante rápida. A formação de acesso a este nível: escolaridade obrigatória e
Nível 1

iniciação profissional. A iniciação profissional para o acesso a este nível de formação é adquirida
quer num estabelecimento escolar, quer no âmbito de estruturas de formação extra-escolares,
quer na empresa. A quantidade de conhecimentos técnicos e de capacidades práticas é muito
limitada.
Este nível corresponde a uma qualificação completa para o exercício de uma actividade bem
determinada, com a capacidade de utilizar os instrumentos e técnica com ela relacionadas. Esta
Nível 2

actividade respeita principalmente a um trabalho de execução, que pode ser autónomo no limite
das técnicas que lhe dizem respeito. A formação de acesso a este nível é a escolaridade
obrigatória e formação profissional (incluindo, nomeadamente, a aprendizagem).
Esta formação implica mais conhecimentos técnicos que o nível 2. Esta actividade respeita
principalmente a um trabalho técnico que pode ser executado de forma autónoma e/ou incluir
Nível 3

responsabilidades de enquadramento e de coordenação. A formação de acesso a este nível é a


escolaridade obrigatória e/ou formação profissional e formação técnica complementar
ou formação técnica escolar ou outra, de nível secundário.
A qualificação resultante desta formação inclui conhecimentos e capacidades que pertencem ao
nível superior. Não exige em geral, o domínio dos fundamentos científicos das diferentes áreas
Nível 4

em causa. Estas capacidades e conhecimentos permitem assumir, de forma geralmente


autónoma ou de forma independente, responsabilidades de concepção e/ou de direcção e/ou de
gestão. A formação de acesso a este nível é formação secundária (geral ou profissional) e
formação técnica pós-secundária.
Esta formação conduz geralmente à autonomia no exercício da actividade profissional
(assalariada ou independente) que implica o domínio dos fundamentos científicos da profissão.
Nível 5

As qualificações exigidas para exercer uma actividade profissional podem ser integradas nestes
diferentes níveis. A formação de acesso a este nível é a formação secundária (geral ou
profissional) e formação superior completa.
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LEGISLAÇÃO EM VIGOR

No âmbito do desempenho da profissão o formador deve dispor de conhecimento claro da


legislação que o afecta, em vigor está um conjunto de legislação da qual se destaca a
seguinte:

Legislação Âmbito geral

Decreto Regulamentar n.º 26/97 de 18 Regulamenta o exercício da actividade de formador no âmbito da


de Junho formação inserida no mercado de emprego, sabendo-se que a qualidade
da formação deve ser alicerçada na consolidação e dignificação da
função de formador. Altera parcialmente o Decreto Regulamentar
n.º 66/94, de 18 de Novembro

Decreto Regulamentar n.º 66/94 de 18 Regulamenta a actividade do formador.


de Novembro

Portaria n.º 1119/97 de 5 de Novembro Estabelece as normas específicas de certificação respeitantes à


caracterização das condições de homologação da formação pedagógica,
necessária à obtenção do certificado de aptidão de formador, e das
condições de renovação daquele certificado.

Decretos-lei 401/91 e 405/91 de 16 de O DL 401/91 estabelece o quadro legal da formação profissional inserida
Outubro quer no sistema educativo quer no mercado de emprego; o DL 405/91
regula o anterior nas suas especificidades.

Anexo do Despacho Normativo 53 – Define os níveis de qualificação da formação profissional de acordo com
A/96 de 16 de Dezembro e Anexo ao a Decisão do Conselho de 16 de Julho de 1985 (85/368/CEE), JOCE n.º
Despacho Normativo 42 – B/2000 de 20 L199/565
de Setembro

O PAPEL DO FORMADOR

Na formação o papel do formador é definido pelos Decretos Regulamentares 66/94 e 26/97.


A actividade deste profissional centra-se ao nível do processo formativo essencialmente no
âmbito do desenvolvimento e execução da formação.

De facto, o formador é definido como o profissional que, na realização de uma acção de


formação, estabelece uma relação pedagógica com os formandos, favorecendo a aquisição
de conhecimentos e competências, bem como o desenvolvimento de atitudes e formas de
comportamento, adequados ao desempenho profissional.

Contudo, a sua actividade profissional não se esgota na monitoragem e preparação das


horas de formação que lhe são destinadas, as suas actividades e também os seus deveres
vão muito para além destas práticas.
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No processo formativo consideram-se actividades da responsabilidade do formador as


seguintes:
• realização das horas de monitoragem;
• apoio pedagógico-didáctico à entidade formadora;
• preparação, desenvolvimento e acompanhamento do processo formativo;
• elaboração de materiais didácticos;
• elaboração de provas de avaliação final;
• organização de processos técnicos-pedagógicos;
• participação em actividades de formação complementar dos formandos e noutras de
natureza interdisciplinar;
• participação em reuniões técnicas;
• participação na análise/reflexão/validação de técnicas e métodos formativos;
• fixar objectivos e metodologia pedagógica, tendo em consideração o diagnóstico de
partida, os objectivos da acção e os destinatários da mesma
• cooperar no sentido de assegurar a eficácia da acção de formação;
• preparar de forma adequada e prévia cada acção de formação, tendo em conta os
objectivos da acção, os destinatários, a metodologia pedagógica mais ajustada, a
estruturação do programa, a preparação de documentação e de suportes
pedagógicos de apoio, o plano de sessão e os instrumentos de avaliação, bem como
os pontos de situação intercalares que determinem eventuais reajustamentos no
desenvolvimento da acção;
• participar na concepção técnica e pedagógica da acção, adequando os seus
conhecimentos técnicos e pedagógicos ao contexto em que se desenvolve o processo
formativo;
• assegurar confidencialidade dos processos
• zelar pelos meios e materiais.

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