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Universidade de Brasília - UnB

Depto. Teoria Literária e Literatura


Docente: Deane Maria Fonseca de Castro e Costa
Discente: Natália Sousa Teixeira (190093820)
Realismo - TEL 0022

Resenha: As idéias fora do lugar

Schwarz começa seu texto criticando o Brasil impolítico e abominável da escravidão. Dores
que ecoam nos demais estrangeiros mas parecem nada ou pouco afetar aos brasileiros desta
terra que fora construída em mãos escravas. Sendo um pequeno resumo do panfleto liberal
contemporâneo para Machado de Assis. O país estava fora da própria realidade, dentro e fora
da ciência, prova disso é o incentivo que Dom Pedro II deu à ciência, contudo os cientistas
eram estrangeiros e baseiam suas descobertas em um sistema racista e encorajava a opressão
à povos negros. Conde Gobineau colocava a questão étnica como fator de sucesso ou fracasso
de uma civilização.

Nabuco enxerga as artes como luz, progresso e parte fundamental da humanidade ao protestar
contra o teatro de Alencar : “Se isso ofende o estrangeiro, como não humilha o brasileiro!”.
Enquanto tínhamos aqueles que defendiam uma sociedade escravista para o bem-estar dos
“irmãos brancos” que ficariam desamparados sem negros para oprimir.

Ideais similares eram difusos pela Europa, a liberdade que a exploração do trabalho trazia. O
país brasileiro seguia a mesma tendência, e ainda que fossem realidades distintas, os
espelhava. Na Declaração dos Direitos do Homem, parte da Constituição Brasileira de 1824,
apresentava o ignóbil instituto da escravidão. A literatura da época serve de documentação
histórica ao Brasil hipócrita, ainda que seu gênero seja fictício, suas linhas são verossímeis e
fiéis, testemunhas perfeitas do tempo.

Enquanto o país tivesse sua economia baseada em um sistema de exploração do homem pelo
homem, este seguiria bases e ideais burgueses no raciocínio e economia, priorizando o lucro,
por também depender do mercado externo. Fato este que reflete na literatura brasileira, o
escritor pode até não saber ou diminuir a influência, esse aspecto será como colocado por
Schwartz, “matéria e problema para a literatura. O escritor pode não saber disso, nem
precisa, para usá-las. Mas só alcança uma ressonância profunda e afinada caso lhes sinta,
registre e desdobre.”

Roberto, utiliza do termo favor ao exemplificar a relação de poder exercida no Brasil, fica
claro no trecho seguinte “ O favor é, portanto, o mecanismo através do qual se reproduz uma
das grandes classes da sociedade, envolvendo também outra, a dos que têm.” e “favor é a
nossa mediação quase universal e sendo mais simpático do que o nexo escravista, a outra
relação que a colônia nos legara.” (Página 5)

Compreende-se então a base que os presos tenham utilizado como interpretação acerca do
Brasil, cobrindo a violência, sempre presente na esfera da produção. Ainda que não fossemos
feudais antes de sermos capitalistas, a antiga colônia suavizou em seus textos literários a real
violência que acompanhava a escravidao, Adota da prática de regimes de trabalhos por ser
mais lucrativo, e com ressalvas, uma decisão muito demorada a ser aceita por todos, mesmo
com incentivo europeu.

Machado observa esta dinâmica, o exterior ditava a direção do movimento, “não há por ora
no nosso ambiente, a força necessária à invenção de doutrinas novas.” (p. 826-827.)

Utilizando do ceticismo, não assegurado na exploração daquele que seria pai do


neoliberalismo, M.A refletia sobre os limites do pensamento liberal. Em suas obras a reflexão
era ao mesmo tempo nítida e míope, conseguia criticar a burguesia, com foco na carioca, e
míope ao receber elogios por obras que denunciavam aquela burguesia. Essas críticas sempre
foram ponto de foco do romancista, que ao usar da história mundial, ignorando-as, narrava
sobre o Brazil.
Referências Bibliográficas:
SOUSA, Ricardo Alexandre Santos de. A extinção dos brasileiros segundo o conde
Gobineau. Casa de Oswaldo Cruz, COC/ FIOCRUZ. Revista Brasileira de História da
Ciência, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 21-34, jan | jun 2013

A Polêmica Alencar-Nabuco, organização e introdução de Afrânio Coutinho, Ed.Tempo


Brasileiro, R. J., 1965, p. 106.

Cf. A Nova Geração,Obra Completa, Aguilar, R. J., 1959, vol. III, p. 826-827.

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