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Tentar proibir ChatGPT nas escolas será perda de tempo,

dizem especialistas; veja prós e contras do robô na sala de


aula

Ferramenta de inteligência artificial pode facilitar plágios e cópias sem


reflexão. Por outro lado, é capaz de poupar tempo, resumir assuntos
estudados e revisar o que foi aprendido em aula.

Por Luiza Tenente, g1

29/01/2023 05h00  Atualizado há 3 meses

Uso do ChatGPT na educação tem vantagens e desvantagens; saiba quais —


Foto: g1

O ChatGPT, novo sistema de inteligência artificial, está sendo tratado como


“vilão” por escolas no exterior: nos Estados Unidos e na Europa, colégios
bloquearam o acesso ao robô, temendo que os alunos trapaceiem nas provas e
passem a apenas copiar e colar os textos escritos automaticamente pela
ferramenta.

Mas, afinal, vale a pena comprar essa briga nas salas de aula? Segundo
especialistas ouvidos pelo g1, lutar contra o robozinho é perda de tempo.

“Não vai adiantar proibir, é o cenário para o futuro. Primeiro, precisamos


conhecer o ChatGPT e entender que ele não é um oráculo: tem limitações e
pontos positivos. A partir disso, vamos adaptar a forma de ensinar e de avaliar
[as turmas]”, explica Diogo Cortiz, professor de tecnologia da PUC-SP.

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Para quem ainda não sabe como funciona o ChatGPT, aqui vai uma explicação
simplificada: a partir de um vasto material disponível na internet, o site (por
enquanto, gratuito) responde a qualquer pergunta que o usuário digitar (desde
"o que é Revolução Gloriosa?" até "Deus existe?"). Mas, atenção: o próprio
sistema admite que tem limitações e que pode fornecer dados imprecisos,
incompletos e desatualizados.

Abaixo, conheça as vantagens e desvantagens de usar essa ferramenta na


educação:

🔴Desvantagens (e como superá-las)

🔍 Dificuldade de detectar plágios e de avaliar alunos

Se, ao fazer um trabalho da faculdade, o estudante copiar e colar um trecho da


Wikipedia, softwares antiplágio identificarão exatamente o parágrafo transcrito.

Mas esse “flagra” não acontece com o ChatGPT, porque o robozinho é mais
esperto. Ele usa uma infinidade de textos disponíveis na internet para redigir
uma resposta “com as próprias palavras”, sem, em geral, citar as fontes. Ou
seja: o risco de trabalhos acadêmicos serem plagiados aumenta.

Na FGV Direito Rio, por exemplo, o professor Luca Belli deixará de testar os
conhecimentos dos alunos por meio de redações.

“O ChatGPT faria o texto em 5 minutos. Vou passar a pedir que [as turmas]
respondam as perguntas oralmente ou façam apresentações em sala de aula”,
conta.

Não é só uma questão de nota. Se a maioria dos alunos só tirar notas boas
“artificialmente”, por meio do robô, os professores não conseguirão detectar as
dificuldades que precisam ser sanadas ao longo do semestre.

💡 Possível solução: repensar a forma de avaliar os estudantes (trocar as


provas no computador por formulação de projetos ou apresentações orais).

LEIA TAMBÉM:

 Robô 'ChatGPT' escreve redação do Enem em 50 segundos


 Sem 'colar': descubra 7 formas de usar o robô ChatGPT para turbinar os
estudos

🤔Opiniões rasas e desestímulo ao pensamento crítico


Se o estudante fizer ao ChatGPT qualquer questão que envolva opiniões,
receberá uma resposta rasa. Sim, o robô é bem “ensaboado”.

“A tecnologia ainda não conseguiu replicar a inteligência humana. Em


conteúdos que vão além do factual e que exijam a própria versão de algo, [a
ferramenta] vai até responder, mas de forma básica e pouco convincente”,
explica o professor Belli.

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⬇ Veja abaixo um exemplo do que ele escreveria sobre aborto. Se o aluno
apenas copiar a resposta, perderá a oportunidade de desenvolver o
pensamento crítico.

Exemplo de dúvida sobre aborto no ChatGPT — Foto: Reprodução

💡 Possível solução: estimular os alunos a usarem o ChatGPT apenas como


um ponto de partida para a discussão, em vez de limitarem-se às respostas
rasas dele.

🤦‍♀️Imprecisão de respostas

Martin Oyanguren, CEO do Educacional (ecossistema de tecnologia e


inovação) e vice-presidente na Positivo Tecnologia, afirma que o ChatGPT
“pode fornecer respostas incompletas ou incorretas, especialmente se as
perguntas forem mal formuladas ou se as informações na base de
conhecimento estiverem desatualizadas”.

O próprio robô tem "consciência" de suas limitações: no painel principal, há um


aviso de que os dados podem estar errados ou ultrapassados (especialmente
se o assunto for recente, de 2021 até agora).

“Será importantíssimo por parte do professor e do aluno garantir a curadoria do


conteúdo", diz Oyanguren.

Olhe só um exemplo de resposta incompleta: o ChatGPT não menciona o


nome de Santos Dumont na discussão (polêmica) de quem inventou o avião.
Ele é categórico ao afirmar que foram os irmãos Wright. ⬇

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Resposta do ChatGPT sobre a invenção do avião não menciona Santos
Dumont — Foto: Reprodução

💡 Possível solução: Propor debates em grupo e "correções" a partir de


respostas dadas pelo ChatGPT.

🎨Falta de estímulo à criatividade e à pesquisa

Se o aluno parar de se esforçar para solucionar problemas e deixar de


pesquisar novas fontes de informação, não exercitará sua criatividade.

Carlos Neves, professor do curso de sistemas de informações da Escola


Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), conta que fez uma brincadeira:
pediu para o ChatGPT criar um roteiro de propaganda de cerveja.

"O sistema criou algo genérico, que tiraria um 3 ou 4 na nota. Mas dá para o
aluno usar aquilo como ponto de partida, se não souber por onde começar",
diz.

💡 Possível solução: Professores explicarem que a ferramenta é útil para dar


ideias iniciais, mas não para criar um material inédito.

🔴Vantagens

💬 Novas formas de interagir com a informação

O ChatGPT pode ser interessante para que o aluno e os professores interajam


de forma diferente com o conteúdo ensinado.

"Serve como um suporte. Por exemplo: para testar os próprios conhecimentos,


você consegue pedir para a ferramenta gerar perguntas sobre um assunto. É
um treino personalizado muito bacana", diz Neves, da ESPM.

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Exemplo de perguntas geradas pelo ChatGPT — Foto: Reprodução

Oyanguren dá outro exemplo: o sistema é útil para "gerar tutoriais interativos


que permitem aos alunos aprenderem de forma mais independente".

🩺Desenvolvimento de habilidades de análise

Henrique Braga, coordenador do ensino médio do Sistema Anglo, explica que o


ChatGPT pode ser uma oportunidade para os estudantes exercitarem a
capacidade de raciocínio analítico.

"Se o aluno estiver diante de uma questão proposta pelo professor ou extraída
de um vestibular/concurso público, pode ser interessante elaborar
[primeiramente] sua própria resposta e, depois, comparar com a oferecida pelo
robô", diz.

"Qual ficou mais adequada? É possível melhorar? Esse tipo de reflexão na


construção de conhecimento estimula o desenvolvimento de habilidades
complexas, como análise e avaliação."

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⏰ Economia de tempo

O ChatGPT pode ajudar alunos e professores a pouparem o tempo que


gastariam com tarefas repetitivas e mecânicas, para que se dediquem a
trabalhos mais criativos, explica Luca Belli, da FGV.

👅Treino em idiomas estrangeiros

O mecanismo de conversação do robozinho também é um bom apoio para


treinar idiomas estrangeiros:

ChatGPT escreve em idiomas estrangeiros — Foto: Reprodução

📱 Aprendizado sobre ética digital

O aluno pode usar o ChatGPT de forma desonesta ou pouco crítica? Sim, há


esses riscos. Mas não será a primeira vez que uma nova tecnologia terá um
"lado ruim".

"A existência de um robô que traz prontas todas as respostas gera ótimas
oportunidades para exercitar uma relação ética com as tecnologias digitais na
escola", afirma Henrique Braga.

A competência 5 da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) — documento


com o que deve ser ensinado nas escolas — diz que, ao terminar a educação
básica, o estudante precisa saber “compreender, utilizar e criar tecnologias
digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e
ética nas diversas práticas sociais".

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Vídeos

ChatGPT: como usar o robô no dia a dia

FONTE:

https://g1.globo.com/educacao/noticia/2023/01/29/tentar-proibir-chatgpt-nas-
escolas-sera-perda-de-tempo-dizem-especialistas-veja-pros-e-contras-do-robo-
na-sala-de-aula.ghtml

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