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Dentre os vários testes de atenção existentes, há um Teste de Atenção Concentrada

Visual conhecido como Teste D2.

Ele tem este nome não por causa do cantor Marcelo D2, mas porque a atividade que o
D2 orienta ao examinando (nome dado a pessoa que é submetida à Avaliação
Psicológica em geral) é de marcar todas as vezes que este ver um “D” com dois riscos
em três posições diferentes, que são exemplificadas no teste.

Antes de falarmos mais sobre a atividade do teste em si, causa vamos entender a
origem dele.

Conhecendo o D2

O Teste D2 foi criado na Alemanha por Brickenkamp com a colaboração de diversos


autores. Depois foi disseminado por toda Europa e Estados Unidos. Inicialmente foi
construído para a demanda de trânsito, ou seja, para certificar que o examinando tem
capacidade emocional para a obtenção de CNH.

Lauer (1955) teve grande influência na construção do teste, isto porque este foi
construído a partir de experiências colhidas por ele em seu trabalho dentro do
exército americano. Ele tinha uma ideia muito clara que para um bom motorista são
necessárias algumas aptidões e a atenção está entre elas.

Jenkins (1956), autor também colaborador, fez uma pesquisa sobre pessoas que
estavam sujeitas a acidentes e enumerou algumas características de personalidade
para estas pessoas e, em primeiro está falta de atenção e a tendência para se distrair
(realmente não podemos negar que esta é uma característica muito importante para
um motorista).

Em 1961 (recente não é mesmo?!), Jenkins realizou uma pesquisa a partir de um


questionário que foi utilizado como ponto de referência na construção e padronização
do Teste D2.

Com o passar do tempo, foi necessária uma padronização do teste e uma ampliação
da sua aplicabilidade.

O objetivo do Teste D2 é avaliar a atenção visual do examinando. Ou seja, medir


o potencial de concentração a partir de estímulos visuais.

Para manter a atenção é necessário que o examinando tenha uma qualidade de


percepção, selecionando quais estímulos são prioridade ou foco, e quais não são.

Com o D2, como é popularmente chamado, já difundido no Brasil (meados de 1990),


percebeu-se que esta ferramenta poderia ir além. Assim iniciou sua utilização também
em processos de seleção em empresas e outros ambientes.

Há ainda estudos e práticas a serem realizadas para conseguirmos definir mais


claramente quais comportamentos e características devem ser medidos e outros
resultados que o D2 pode contribuir em diferentes contextos.

Mas, o lado positivo é que estamos aqui para isso!

É importante ter claro que o Teste D2 levanta informações como quantidade,


deficiência e desvios no desempenho do examinando e foi elaborado para um
diagnóstico altamente objetivo.

Por isso, muitas vezes é representado como “simplório”, mas sua construção foi
delimitada e definida para uma finalidade específica que é avaliar a atenção do
examinando.

Outro ponto importante é que o seu resultado não depende do grau de inteligência do
examinando. Ou seja, atenção e inteligência são duas características diferentes, e,
neste ponto a atenção se relaciona apenas parcialmente com a inteligência do sujeito.

Então, caso seja necessário, aplique um teste de inteligência no examinando também.

Como Aplicar o teste D2


A aplicação do D2 é simples porém demanda uma atenção especial na explicação das
atividades para que não haja dúvidas. Como um teste de atenção visual, é necessário
que todos entendam os comandos e estejam atentos desde o início.

Os materiais utilizados pelo avaliador são: lápis, cronômetro e a Folha de Aplicação


que deve ser original já que cópias são contra as regras, e vai dificultar sua correção.

E para alegria de muitos recrutadores que utilizam esta ferramenta pode ser
também aplicada em grupo, além de individual, desde que as instruções sejam
transmitidas com clareza e você se certifique que todos entenderam os
comandos.

Podem ser examinadas as pessoas entre 9 a 52 anos, desde que estejam aptas
fisicamente e emocionalmente para serem submetidas ao teste.

Já que o objetivo do teste é avaliar a atenção visual do examinando, podem ser


submetidas ao teste quaisquer pessoas com esta demanda de avaliação. Em conjunto,
pode ser aplicado também em surdos, desde que a instrução seja realizada de forma
diferenciada e esclarecedora.

Não há restrição clara em seus estudos, mas eu oriento fortemente não aplicar em
pessoas analfabetas ou semi-analfabetas. Isto porque é um teste de letras, e estes
símbolos podem ser estranhos aos mesmos e até causar intimidação.

Nestes casos escolha por outro teste de atenção, que dê um resultado similar e que
não cause tal constrangimento. Uma dica seria o teste de Atenção Concentrada, AC.

O tempo médio de aplicação do D2 é de 8 minutos.


Como já dito, um dos propósitos na construção do teste foi de fornecer uma
avaliação rápida, prática e objetiva, sendo que, mesmo com todas essas
características consiga avaliar:

 Rapidez,
 Exatidão,
 Qualidade de atenção e
 Desempenho

Para aplicação do Teste D2 é necessário:

 Folha de Aplicação

A folha é utilizada frente e verso e pode ser adquirida nas lojas correspondentes ou via
internet, sempre utilizando o número do seu CRP para confirmação que você é
Psicólogo e liberação do mesmo.

Na parte frontal tem uma área destinada a dados gerais e uma parte de treinamento,
no qual o examinando vai certificar que realmente entendeu os comandos. Enquanto
no verso é a parte oficial, no qual o examinando começa a ser avaliado.

No verso se encontram 14 linhas com 47 sinais diferentes, sendo que o examinando


sempre terá que marcar o sinal com a letra D e o total de dois riscos.

 Dois crivos de correção

Os crivos são laminas transparentes que te auxiliam na correção do teste. Isto porque
a Folha de Aplicação tem um tamanho diferenciado para evitar cópias, assim, o crivo
se faz importante para ajudar o examinador a enxergar melhor os sinais que foram
omitidos e os sinais que foram marcados de forma errada.

 Régua Especializada para correção

A régua auxilia na contagem de sinais avançados em cada linha pelo examinador. Ou


seja, em vez do examinador contar o número de sinais que foram realizados em cada
linha, a régua bem posicionada facilmente dá esta informação.

 Dois lápis número 2

O examinando utilizará somente um lápis, porém é importante que você deixe outro
próximo de reserva para caso aconteça algo com o primeiro como quebrar a ponta.

 Cronômetro

Como é um teste que utiliza marcação de tempo, é necessário o uso do cronômetro. E,


eu sugiro fortemente que não seja utilizado o celular, pois pode alterar a concentração
do examinando e do examinador.
Além disso, um local devidamente iluminado, o mais silencioso possível e que não haja
interrupção.

Para mais informações das condições ambientais e do examinando veja o vídeo


“Condições Ambientais...” aqui na Academia do Psicólogo!

Para análise do D2 é necessário fazer correção com contas matemáticas (que não são
complicadas, prometo) que você encontra os seguintes resultados:

 RB: Resultado Bruto


 TE: Total de Erros
 E%: Porcentagem de Erros
 RL: Resultado Líquido
 AO: Amplitude ou Oscilação

Cada um dos seguintes resultados, devidamente calculados em cada uma das


categorias correspondentes, nos permitirão identificar na tabela do manual o percentil
correspondente, que é diferente para cada idade e escolaridade.

Isso mesmo!

É necessário fazer os cálculos correspondentes e em um segundo momento encontrar


o percentil correspondente a cada resultado de acordo com as características do
examinando e, por fim, fazer a análise do mesmo.

A análise do teste é mais completa e complexa que só o número de sinais


apontados, como muitos examinandos pensam.

Porém uma vez que o examinador aprende o processo de interpretação do mesmo se


torna simples e descomplicado.

Podemos analisar dentro do D2 a concentração, precisão, atenção e oscilação de


humor do examinando.

E, se realizado junto com outras ferramentas da Avaliação Psicológica como


observação e entrevista, que são altamente recomendadas em conjunto com qualquer
teste, é uma ferramenta de análise ainda mais profunda.

O Dia Em Que O D2 Mudou A


Vida Do Marcelo
Vamos ver um exemplo?

Houve um momento em que recebi uma demanda de um pré-adolescente, que aqui


vou chamá-lo pelo nome fictício de Marcelo, que estava com dificuldades de atenção
na escola. A mãe já tinha recebido o diagnóstico de TDAH da escola – como se a
instituição tivesse poder para isso – porém, duvidando deste resultado, chegou até
mim solicitando uma segunda opinião.

Em um primeiro momento houve uma sessão com a mãe, onde ela relatou todo o
processo que o filho passou na escola, e em um segundo encontro conheci o Marcelo
para conhecê-lo e estabelecer rapport.

Rapport é o estabelecimento de vínculo com o paciente, ou seja, estabelecer


empatia para que este se sinta à vontade e confiante na realização do processo
psicológico em geral.

Agendamos um novo encontro com o Marcelo, e, com o rapport já estabelecido, decidi


aplicar o D2 para saber se de fato o Marcelo tinha alguma dificuldade em atenção.
Neste momento escolhi esta ferramenta pois era uma demanda muito focal na
concentração dele, e por isso acredito que foi a melhor ferramenta que poderia ser
utilizada.

O resultado do Teste D2 estava exatamente de acordo com a idade do Marcelo e sua


escolaridade, e dentro destas condições foi excelente. Além disso, durante a realização
eu percebi que ele se motivou com o desafio de fazer em pouco tempo.

Na sessão posterior à aplicação do teste, Marcelo me perguntou do resultado, pois


estava muito interessado.
E assim, eu calmamente expliquei o resultado para ele, e, neste momento e em outra
sessão concluí que na verdade ele não apresentava TDAH, mas sim uma falta de
motivação e interesse pela forma como o conteúdo era transmitido na escola.

Por fim, conversei com a mãe – em um encontro separado de Marcelo – sobre a


conclusão tomada. Neste momento, a orientei a retomar sua conversa com a escola,
falar sobre o método de ensino e encontrar junto à instituição uma maneira de
envolver mais o Marcelo.

Um profissional precisa ser


maior que suas técnicas

O mais interessante aqui é que, apesar do Teste D2 ter sido construído para a
obtenção de carteira de motorista, ele pode ser utilizado em diferentes contextos
desde que haja a real demanda.

No caso do Marcelo, o Teste D2, foi muito útil, pois evitou que um diagnóstico errado
fosse levado adiante e rotulasse um pré-adolescente dentro de suas atividades
escolares. E mais que isso, permitiu que ele também tivesse mais qualidade de estudo
dentro da escola inserido.

Percebam que eu mencionei para a mãe a orientação de conversar com a escola, pois
apesar de Marcelo ter recebido o feedback dos testes realizados, esta informação
poderia levá-lo a ir contra a escola, enquanto na verdade o objetivo é que o mesmo se
sentisse confortável e como pertencente a ela.

Por isso, você profissional, esteja aberto à utilização desta e outras ferramentas que
possam impulsionar ainda mais sua prática profissional, adequando a finalidade delas
com os seus objetivos.

Em resumo: o D2 é um teste de atenção visual, que pode ser utilizado individual


ou em grupo (desde que todos entendam as atividades à serem realizadas) e com
potencial para diferentes demandas.

Espero que tenham gostado do artigo, e caso haja dúvidas ou até mesmo histórias
sobre suas experiências com o Teste D2 escreva e compartilhe conosco.

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Tássia Garcia
@tassiagarcia

Eu sou Tássia Garcia, psicóloga por formação e empreendedora por vocação. Aprendi
estudando, errando e praticando que ser Psicóloga é muito mais que eu aprendi na
graduação. Atualmente utilizo meus conhecimentos em avaliação psicológica,
inovação profissional e a experiência como coach e consultora para auxiliar outros
profissionais a se posicionarem no mercado, construir estratégias de marketing e
terem maior reconhecimento.

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