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Art.

7 - Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de


ausência:

I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de


vida;

II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for


encontrado até dois anos após o término da guerra.

Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente


poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações,
devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.

Notas:

1. V. art. 9º, IV (registro da morte presumida); LRP, art. 88, 109 e segs. e
CPC, arts. 861 a 866 (justificação e seu procedimento); 1159 a 1169 (sobre
os bens dos ausentes e sua curadoria) Lei 8.112/90, art. 221 (pensão
provisória por morte presumida do servidor); Lei 8.213/91, arts. 74, III e
78 (pensão previdenciária por morte presumida do segurado); Lei nº
9.140/95 (morte presumida de pessoas desaparecidas em razão de
participação, ou acusação de participação, em atividades políticas); Súmula
331 do STF; Súmula 32 do STJ.

2. O artigo em epígrafe não encontra correspondente no Código anterior,


pelo qual a declaração de morte presumida seguia-se necessariamente à
de ausência, decorridos dez anos do trânsito em julgado da sentença de
abertura da sucessão provisória (art. 1167, II, do CPC) ou contando o
ausente com 80 anos de idade e houverem decorrido cinco anos das últimas
notícias suas (CC/1916, art.482 e CPC, art. 1167, III). O CC/2002 manteve
a presunção de morte em decorrência da ausência (art. 6º), nos casos em
que a lei autoria a abertura da sucessão definitiva (CC, arts. 37 e 38) e foi
além, admitindo a morte presumida ainda que não decretada a ausência,
nas hipóteses elencadas nos incisos I e II e observado o disposto no
parágrafo único.

3. A Lei dos Registros Públicos já estabelecia em seu art. 88: "Poderão os


juízes togados admitir justificação para o assento de óbito, de pessoas
desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer
outra catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre
e não for possível encontrar-se o cadáver para exame.", complementando
em seu parágrafo único que "será também admitida a justificação no caso
de desaparecimento em campanha, provados a impossibilidade de ter sido
feito o registro nos termos do artigo 85 e os fatos que convençam da
ocorrência do óbito."

4. A justificação judicial acima mencionada segue o rito previsto nos arts.


861 a 866 do CPC, c.c. os arts. 109 e segs. da própria Lei de Registros
Públicos, incumbindo ao interessado no assento do óbito provar, por todos
os meios legais e moralmente legítimos (art. 332 do CPC), a circunstância
do perigo de vida (ou desaparecimento-prisão em campanha), a presença da
pessoa desaparecida no local da catástrofe e a impossibilidade de encontro
do cadáver para exame e, por último, que foram esgotadas as buscas e
averiguações.

5. A legitimidade ativa para o fim previsto no artigo é atribuída a qualquer


pessoa que por laço de parentesco, de casamento ou de negócio comprove
interesse e legitimidade, como por exemplo o beneficiário do seguro de
vida.

6. E se o morto deixou seguro de vida, deve o beneficiário comunicar à


seguradora o "sinistro" e a morte havida nas circunstâncias do art. 7º, com
desaparecimento de cadáver, incumbindo então à seguradora constituir
"reserva de sinistro a liquidar", até que lhe seja apresentada a certidão de
óbito a ser obtida conforme nota 4 acima.

7. A sentença declarando a morte presumida deverá fixar a data provável


do falecimento, ou seja, devera reportar-se sempre, quanto a seus efeitos,
ao dia do desaparecimento do ausente ou de suas últimas notícias. Dessa
sentença caberá o recurso de apelação.

8. A declaração da a morte presumida implicará na abertura da sucessão


definitiva, com a decorrente repercussão na vida negocial e demais efeitos
à semelhança da morte natural, inclusive com a apresentação de eventual
testamento. (v. art. 1167, I, do CPC) e direito do cônjuge supérstite ao
recebimento de pensão previdenciária.
9. A Lei nº 9.140, de 04 de Dezembro de 1995, reconhece como mortas
pessoas desaparecidas em razão de participação, ou acusação de
participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961
a 15 de agosto de 1979, .

10. Não se pode recusar ao cônjuge sobrevivente o direito de contrair novo


matrimônio. Embora o art. 3º da Lei nº 6.515/77 não inclua a ausência ou
morte presumida como fatores de extinção do vínculo matrimonial, não
há que se exigir, neste caso, o Divórcio por iniciativa do cônjuge sobrevivo,
pois o artigo 1571, parágrafo primeiro, determina a aplicação da presunção
estabelecida quanto ao ausente como causa de dissolução do casamento
válido.

11. Vocação hereditária. Além de inovar passando a admitir a morte


presumida, sem declaração da ausência, o novo Código manteve, para
efeito de abertura da sucessão, a morte presumida como uma das
conseqüências da ausência declarada (v. nota 2). Sobre o assunto leciona
Orlando Gomes que "na solução do problema da ausência predominam, no
Direito contemporâneo, três orientações. A primeira não admite a
declaração de óbito do ausente. A segunda prevê tal declaração, passado
certo tempo do desaparecimento. A terceira acolhe a declaração de
ausência como de morte presumida. Uma vez que o traço característico da
ausência, para sua regulamentação jurídica, é a incerteza quanto à
existência da pessoa desaparecida, o sistema que rejeita a presunção de
morte não atende à finalidade do instituto. É mais propícia a solução que a
autoriza, e mais prudente o regime que faz precedê-la de um período de
expectativa, no curso do qual sejam provisórios os efeitos da ausência.". O
procedimento a ser observado para a arrecadação dos respectivos bens é
traçado pelos arts. 1.159 a 1.169 do Código de Processo Civil.

12. Direito Civil e Securitário. Reflexos da Lei n. 10.406, de 2002 (Novo


Código Civil) nos contratos e planos de seguro.

A declaração de ausência, por sentença, por força do desaparecimento de


pessoa do seu domicílio sem deixar notícia era tratada, no Código Civil de
1916, no art. 463, com procedimento judicial regulado nos arts. 1159 a
1169, da lei adjetiva.
O novo Código, todavia, introduz a figura da declaração de morte
presumida, sem decretação de ausência, devendo a sentença fixar a data
possível do falecimento.

Consoante o art. 9º, inciso IV, do novo Código, a sentença declaratória de


morte presumida, assim como a declaratória de ausência, deve ser levada
a registro para expedição da certidão de óbito, pelo oficial do registro civil,
que deverá apontar, como data do óbito, aquela fixada pelo juiz na
sentença.

Importante destacar que a nova figura não se confunde com a ausência


(arts. 22 e 23); portanto declarada a morte presumida, por sentença, esta
valerá para todos os fins legais, inclusive o seguro.

Assim, qualquer atualização a incidir sobre o valor da indenização deverá


ter por base a data fixada na sentença.

(RAUL TEIXEIRA, Procurador-Geral - Parecer Normativo nº 5, de 11 de


março de 2003 - PROCESSO SUSEP N. 15414.000747/2003-24 - D.O.U.
59, de 26-3-2003, pág. 39.)

Referência doutrinária:

SANTOS, Ricardo Bechara. Seguro de vida. Morte presumida. Em:


Revista Forense. Jul./Set./1986. v.295 p.204-206. Parecer. ALMEIDA,
Jorge Luiz de. Sucessão em bens de ausente. Ausência ha mais de 40 anos
e idade do ausente superior a 86 anos. Possibilidade de sucessão definitiva
e dispensada a provisoria. Em: JUSTITIA. Out./Dez./1979. v.107 p.229-
230. Parecer. VIANNA, José de Segadas. Morte presumida. Registro do
óbito. Prova da catástrofe. Pensão. Em: Revista Forense. Ago./1942. v.91
p.90-91. Parecer. Pereira, Caio Mario da Silva, "Morte civil, aspectos
sociais, Brasil.". Estudos em homenagem a Oscar Dias Corrêa, p.12-26,
(Reconhecimento legal e administrativo de morte -- As modalidades de
morte e seus efeitos sociais e negociais: A morte natural. A morte
presumida. A morte encefálica -- Os efeitos do reconhecimento da morte
pela Lei nº 9.140/95).

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