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PROJETO DE URBANISMO I

Ficha 2: O que um bairro precisa ter para que seus moradores tenham uma boa qualidade de
vida? Em grupos de 3 alunos. Debater e escrever. Entrega: 28/03/2023 IMPRESSO.
Textos:
➔ CAMPOS FILHO, Cândido Malta. Reinvente o seu bairro: caminhos para você
participar do planejamento de sua cidade. 2a edição. São Paulo: Editora 34, 2010, p.
15-28
➔ LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001 [1965], p.105-118.
Cap. O direito à cidade.
Alunos: Barbara Giroto, Júlia Mello e Marcela Gonella

A partir do texto de Candido Malta, entende-se que, para garantir uma boa qualidade de vida
para os moradores de um bairro, estruturas coletivas deveriam ser introduzidas como forma
de suprir necessidades arquitetônicas específicas de cada moradia. Como, por exemplo, a
ausência de quintais e espaços de lazer privados no lote, produz provavelmente uma carência
a ser resolvida no espaço coletivo das ruas ou da praça (CAMPOS FILHO, 2003, p.15).

Para atender às necessidades daqueles que ali residem, é proposta uma organização em três
níveis: (1) comércios e serviços de apoio imediato à moradia, que devem responder às
necessidades diárias dos moradores, (2) comércios e serviços diversificados de menor
demanda e (3) comércios e serviços esporádicos, como relojoarias e concessionárias.

Em princípio podemos dizer que para o morador interessa que, quanto maior
a frequência da demanda, mais fácil deve ser o acesso a esse comércio ou
serviço. Isto é, o "local" deve estar mais perto de sua casa, o "diversificado"
pode estar um pouco mais longe, e o "sofisticado" mais longe ainda.
(CAMPOS FILHO, 2003, p. 18)

Para garantir uma boa qualidade de vida, ainda, é importante que os mesmos princípios sejam
empregados para os equipamentos de saúde e de educação. Escolas e creches demandam um
deslocamento diário e exigem uma atenção redobrada para a segurança na circulação de seus
alunos. Portanto, a proximidade desses equipamentos é desejável tanto do ponto de vista do
custo material (tempo) e econômico (gastos com transporte) quanto da seguridade na
mobilização, uma vez que, tal proximidade possibilita que uma criança com idade suficiente
para andar a pé consiga fazer o trajeto da escola até sua moradia mais rápido e com maior
segurança.
Acontece que, muitas vezes, nem o mercado imobiliário e nem o poder público atendem os
moradores com essa configuração de estrutura urbana ideal. É relativamente comum que o
poder público concentre essas estruturas em locais de maior visibilidade (como as vias de
tráfego intenso), mas que são, consequentemente, mais perigosos e barulhentos, prejudicando
determinados usos, como os próprios edifícios educacionais. O autor defende que a
localização de alguns serviços e, comércios e equipamentos públicos nos corredores de
transporte pode ser benéfico, porém também cobra que o poder público distinga as atividades
que se beneficiam das que são prejudicadas por esse sistema.

Posto em evidência o fator da movimentação das vias, o autor de “Reinvente seu bairro”
ressalta a importância da existência de ilhas de tranquilidade na constituição de um espaço de
morar. Vias de tráfego local e a presença de espaços livres como praças e parques agregam
tranquilidade e, portanto, qualidade de vida aos cidadãos.

Já através do texto de Lefebvre, entende-se que a boa qualidade de vida não depende apenas
de necessidades como segurança e trabalho mas, também, de pontos de encontro, trocas e
lazer, fugindo da ideia de que apenas produtos materiais consumíveis e construídos são
essenciais, sendo fundamental complementá-los através de simbolismos e atividades lúdicas
(LEFEBVRE, H, 2001, p. 105).

Diferentemente de Campos Filho, que propõe uma relação ideal dos moradores com o
espaço, Lefebvre constata que nem arquitetos e nem urbanistas podem “tirar do nada novas
formas e relações”, porque, segundo ele, essas são criações naturais das relações sociais e da
sua práxis. Portanto, para o autor, mesmo que esses modelos utópicos sejam positivos, é
somente a partir da experimentação, da visualização de implicações e consequências desses
protótipos que seu sucesso social pode ser alcançado.

Os arquitetos parecem ter estabelecido e dogmatizado um conjunto de


significações, mal explicitado como tal e que aparece através de diversos
vocábulos: "função", "forma", "estrutura", ou antes funcionalismo,
formalismo, estruturalismo. Elaboram-no não a partir das significações
percebidas e vividas por aqueles que habitam, mas a partir do fato de
habitar, por eles interpretado. Esse conjunto é verbal e discursivo, tendendo
para a metalinguagem. (LEFEBVRE, H, 2001, p. 111).

O conceito de transdução traduz essa concepção dada pelo autor, pois tal conceito utiliza de
informações reais e problemáticas reais na elaboração de um objeto teórico. ou seja a
transdução pressupõe uma via contínua de mão dupla entre o contexto conceitual e as
observações empíricas (realidade). Outro conceito abordado pelo autor, é o conceito de utopia
experimental ou utopia lúcida, esse conceito considera a utopia de forma experimental, ou
seja a partir de uma situação considerada utópica estuda-se na prática suas implicações e
consequências, a partir desse conceito pretende-se responder às seguintes questões:

"Quais são e quais serão os locais que socialmente terão sucesso? como
destacá-los? segundo que critérios? quais tempos, quais ritmos de vida
cotidiana se inscrevem, se escrevem, se prescrevem nesses aspectos “bem
sucedidos” isto é, nesses espaços favoráveis a felicidade?” (LEFEBVRE, H.
O direito à cidade - p. 110 )

Lefebvre aborda ainda o conceito de ciência da cidade, tal conceito exige um período
histórico para construir e orientar a prática social, ele a considera válida porém não única, o
autor reforça a necessidade de um suporte social e de força políticas na utilização de uma
estratégia urbana baseada na ciência da cidade para que ela se torne atuante.
O autor aborda ainda a importância da participação da classe operária na elaboração de uma
estratégia urbana, segundo ele a participação da classe é fundamental na construção de uma
centralidade urbana.
“Basta abrir os olhos para compreender a vida cotidiana daquele que corre de
sua moradia para a estação próxima ou distante, para o metrô superlotado,
para o escritório ou para a fábrica, para retomar à tarde o mesmo caminho e
voltar para casa a fim de recuperar as forças para recomeçar tudo no dia
seguinte. O quadro dessa miséria generalizada não poderia deixar de se fazer
acompanhar pelo quadro das “satisfações” que a dissimulam e que se tornam
os meios de eludi-la e de evadir–se dela.” (LEFEBVRE, H. O direito à cidade
- p. 118 )

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