Você está na página 1de 6

Qual é o papel que liderança, nos mais

diversos níveis de uma organização industrial,


deve desempenhar para que seja implantada a
cultura de segurança?
Há alguns anos, fizemos uma palestra sobre sistema de gestão de segurança num
congresso de manutenção e mencionamos uma campanha de segurança que iríamos
lançar para fomentar o uso da “Análise de Risco do Trabalho” nos serviços de
manutenção. Na ocasião, ressaltamos que estávamos planejando e tomando os cuidados
necessários para evitar cair na armadilha que muitas empresas caem de tentar eliminar a
ocorrência de acidentes do trabalho apenas com as campanhas de segurança que,
geralmente, resumem-se a um slogan ou frase de efeito.

A chamada fase de “conscientização das pessoas”, isoladamente, tem efeito temporário e


não produz os resultados desejados pois a forma para atingir o objetivo, no caso evitar
acidentes, é obscuro para a maioria das pessoas; guardadas as devidas diferenças,
podemos fazer a correlação, por exemplo, com o tabagismo.
A maioria dos fumantes, e como ex-fumante, posso dizer por experiência própria, tem
plena consciência de todos os males que este hábito causa e, se apenas a
conscientização bastasse, certamente, o número de fumantes seria diminuto porém, na
realidade, não é isto que se observa.

Voltando à Segurança do Trabalho, uma pesquisa publicada pela European Agency for
Safety and Health at Work sugere que melhorias duradouras e contínuas em Segurança e
Saúde Ocupacional (SSO) somente serão alcançadas através de uma mudança
fundamental na organização em questão, ou seja a criação de uma cultura de prevenção,
demonstrando que a organização coloca os valores mais elevados em matéria de SSO no
ambiente de trabalho. Ainda de acordo com a publicação mencionada, a desejada
mudança cultural, exige o envolvimento e participação de todos na organização,
principalmente, de seus líderes.

A partir das pesquisas mencionadas anteriormente, foi possível identificar cinco princípios
fundamentais para a liderança da SSO:
1.Os líderes devem levar a sério sua responsabilidade para estabelecimento de uma
cultura de prevenção positiva. Devem levar em conta o contexto cultural, incluindo a
inteligência emocional necessária para que as mudanças produzam efeito na cultura e nos
comportamentos.
2.Os líderes devem ser vistos priorizando as políticas de SSO acima de outros objetivos
corporativos, e aplicá-los de forma consistente em toda a organização e ao longo do
tempo.
3.As medidas de SSO só produzirão o efeito desejado se tiverem o compromisso
inequívoco do mais alto escalão de uma organização. E, neste ponto deve ficar claro que
os gestores de alto nível, e não apenas a média gerência ou especialistas, devem estar
diretamente envolvidos na implementação de políticas de SSO.
4.A comunicação aberta, regular e em todos os níveis da organização é vital para a efetiva
melhoria em SSO. Os líderes devem propiciar uma atmosfera aberta em que todos
possam expressar suas experiências, pontos de vista e idéias sobre SSO, a qual incentiva
a colaboração entre as partes interessadas, internas e externas, em torno de uma visão
compartilhada de SSO.
5.Os líderes devem mostrar que valorizam seus funcionários, e promovem a participação
ativa de todos no desenvolvimento e implementação de medidas de SSO.

Um dos exemplos mais emblemáticos de liderança para a segurança vem de uma


empresa norte-americana, reconhecida mundialmente por sua cultura de segurança.
Conta-se que esta empresa iniciou no seculo XIX a fabricação de pólvora e que, naquela
época, ninguém estava muito preocupado com segurança. Ocorre que, logo nos primeiros
anos, durante a fabricação de pólvora ocorreu uma explosão que dizimou a fábrica inteira.
A partir deste momento, segundo consta, surgiu a consciência de que era preciso investir
na segurança das pessoas que iriam trabalhar nas fábricas. Obviamente, ninguém iria
querer trabalhar numa atividade perigosa assim, se tivesse qualquer outra oportunidade.

Na história do desenvolvimento da cultura de segurança desta empresa, um dos pontos


que mais me chamou a atenção e que eu classifico como o mais importante, foi a definição
de quem seria responsável pela segurança dentro das fábricas. Definiram que o gerente
seria diretamente responsável pela prevenção de acidentes e doenças ocupacionais e,
cada supervisor, o responsável direto pela segurança daqueles que com ele trabalham.
Este princípio abrange todos os níveis, desde o presidente da companhia, passando pela
gerência até o supervisor de primeira linha. Foi instituída a prática, no começo do século
passado que a casa do gerente ficasse no interior da própria fábrica. Isso aumentou a
responsabilidade do gerente com a segurança na sua fábrica pois ele não era apenas o
responsável pelos trabalhadores e pela saúde física das instalações, mas também com
seus familiares.

Quando escrevi sobre “A lição dos gansos selvagens na vida


do Técnico de Segurança“ citei sete itens que considero
importantes para o sucesso do profissional de segurança do
trabalho e, o item de número sete era: “Trabalhe junto
com as lideranças das áreas.”

TRABALHO EM EQUIPE

Em Segurança do Trabalho não é possível fazer nada sozinho,


sendo assim, o envolvimento das lideranças com as questões
preventivas é imprescindível para que um programa de
segurança tenha êxito. Para tanto é necessário que o
relacionamento entre o serviço de segurança e as lideranças
das áreas seja de ajuda mútua.

Não pode haver “desavenças” entre os profissionais das duas


áreas ou então o trabalho preventivo estará fadado ao
fracasso.

CUIDADO PARA NÃO SER VISTO COM UM ESTORVO

Essa relação sempre foi um tanto tumultuada e a causa é


simples – o profissional de segurança ainda é visto (sem
generalizar) pelas lideranças como um empecilho à realização
de suas tarefas.

Quando você vai até a área para uma inspeção de rotina, por


exemplo, tem líder que não entende que você está em busca
de um comportamento mais seguro dos trabalhadores e que
isso é um benefício para todos, pois é um trabalho
preventivo.

É comum você ouvir frases do tipo: “Tive que perder tempo


acompanhado uma inspeção”; ou então – “Lá vem os caras
da segurança me atrapalhar”.
O problema é que esse líder esquece que, depois que
acontece o acidente a “perda de tempo” é muito maior.

DICAS PARA MELHORAR A RELAÇÃO COM OS LÍDERES

Mas então o que nós profissionais da prevenção podemos


fazer para mudar isso?

·        Faça uma auto-avaliação. Sim, o problema pode estar


em você;

·        Pergunte ao líder da área que você atende o que ele


espera de você;

·        Deixe claro a sua forma de trabalhar e quais são suas


atribuições;

·        Conheça todo o processo da sua área de atuação;

·        Estabeleça em comum acordo com o líder um dia e


horário para alinhar os trabalhos (reunião com o líder, e não
reunião de segurança);

·        Nunca falte há um compromisso com o líder a menos


que você tenha uma boa justificativa.

·        Mantenha o líder informado sobre as suas ações na


área (faça seu marketing);

A lista pode ser grande, mas com esses itens já é possível


manter uma boa relação com lideranças.

NÃO SEJA ARROGANTE


A base para uma boa relação está no respeito mútuo e, para
isso, é importante ter um bom conhecimento das relações
interpessoais e estar atento às diferenças que podem ser de
cultura, crença, etc.

Um detalhe que pode fazer toda a diferença na relação


técnico de segurança-líder é a de sempre deixar claro que o
elo mais importante entre o trabalhador e a segurança é o
líder. Ou seja, o líder é mais importante que o técnico de
segurança na prevenção de acidentes.

Dessa forma você faz com que ele sinta-se realmente


responsável pela prevenção e passe a ser o seu apoio nas
situações adversas que se apresentarem.  

Não caia no erro de se portar com arrogância, pois só


lhe trará prejuízos. Já escrevi sobre esse em “A arrogância é
o caminho mais curto para o fracasso. “

A chave está em fazer com que o líder jogue no seu time.


Nem que para isso você tenha que ceder em alguns
momentos, desde que isso não signifique colocar um
trabalhador em risco, essa estratégia vai fazer com o líder
tenha adquira confiança em seu trabalho e passe a ser um
parceiro na prevenção.

CONCLUSÃO.

Essa relação pode passar por momentos conturbados e


tensos, mas nunca deixe que esses momentos atrapalhem na
prevenção de acidentes que é nosso maior objetivo.

Tenha em mente que o líder de área tem os seus problemas.


Então, não basta conhecer a legislação. Tenha bom senso e
saiba o momento certo de fazer suas colocações.

Trate a todos com respeito. Imponha-se quando for o caso e


o momento certo, mas não seja arrogante, pois isso só lhe
trará inimigos.
Por fim, cumpra com suas atribuições assessorando os líderes
de modo a construir um ambiente de trabalho seguro e
agradável a todos. Agindo assim você terá o seu trabalho
facilitado e todos saem ganhando.

  

Veja também: Dicas para se manter motivado no trabalho   

Você também pode gostar