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A utilização de toxina botulínica como forma de

amenizar os efeitos do bruxismo


Beatriz Carvalho Alves
Cleber Lopes de Moraes Junior
Irailde Lobato França¹
Raquel Carvalho Bouth²

RESUMO
O bruxismo é uma condição que consiste na repetitiva atividade muscular dos músculos
temporomandibulares, entre os tratamentos existentes, o trabalho se propõe analisar a viabilidade
do tratamento por toxina botulínica e seus benefícios para os pacientes..

1. INTRODUÇÃO

O bruxismo é uma condição que acomete várias pessoas de todas as faixas etárias e
gênero por todo o mundo, de acordo com a definição de Lobbezoo F et al.(2012) ela consiste pela
repetitiva atividade muscular que pode se apresentar de várias formas como o ranger de dentes
e/ou por travamento ou movimento da mandíbula durante o sono, bruxismo do sono (BS), ou
durante a vigília, bruxismo da vigília (BV).
Ao decorrer do tempo várias formas de tratamento surgiram, de acordo com Luz (2019)
podemos citar o tratamento psicológico, prática de fisioterapia, ajustes oclusais, instalação de
placas e a utilização de fármacos como anti-inflamatórios, relaxantes musculares ou calmantes.
De acordo com Zandijcke e Marchau(1990) a toxina botulínica (TxB-A) tem sido apresentada
como uma alternativa para o tratamento do bruxismo.
Os principais sinais e sintomas do bruxismo incluem o ruído característico de ranger dos
dentes, desgaste dentário, dor local, hipertrofia dos músculos masseteres e temporais, cefaléias,
disfunção da articulação temporomandibular, sono de má qualidade e sonolência diurna
(ASUTAY et al., 2017).
Diante das conseqüências derivadas do bruxismo pergunta-se o quanto o tratamento com a
toxina botulínica pode ser eficaz para trazer uma melhor qualidade de vida, pelo alívio de dores
provocadas, o alívio do estresse provocado pelas noites de sono ruim, e pelo lado estético, poder
tornar viável a recuperação do sorriso perdido pelo desgaste dentário originado pelo bruxismo.
O trabalho tem como objetivo verificar o quanto o tratamento pelo uso da toxina
botulínica ameniza os sinais e sintomas provocados pelo bruxismo de alguns pacientes de uma
clínica odontológica de Belém, avaliando os pontos positivos e negativos de sua utilização, o
retorno gerado ao paciente, avaliar e analisar a mudança na qualidade de vida proveniente do
tratamento.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1 Nome dos acadêmicos


2 Nome do Professor tutor externo
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Biomedicina (BBI0234) – Prática do Módulo V - 21/06/21
2

Segundo Bhidayasiri et al. (2006) os quadros de bruxismo podem ainda produzir um


aumento do desgaste dental e disfunção temporomandibular. O tratamento tardio, em alguns
casos, pode resultar em luxação da articulação temporomandibular e artrite degenerativa desta
articulação, por este motivo é importante o tratamento precoce, bem como o tratamento
apropriado.
Conforme Paiva et al. (2020, p.8) “A principal ação clínica associada ao bruxismo deve
ser voltada aos cuidados de proteção aos dentes, abrandando o ranger, diminuindo dores faciais e
temporais e proporcionando melhorias na qualidade do sono.”
Como actividade parafuncional, o bruxismo tem um efeito no sistema estomatognático
diferente do efeito de uma actividade funcional. A tabela 1 ilustra a diferença entre estas duas
actividades.
Factor Actividade Funcional Actividade Parafuncional
Forças de contacto do dente 17,200 lb-seg/dia 57,600 lb-seg/dia ou mais
Direcção das forças Vertical (bem tolerada) Horizontal (não é bem
tolerada)
Posição mandibular Oclusão cêntrica Movimentos excêntricos
(relativamente estável) (relativamente instáveis)
Tipo de contracção muscular Isotónica (fisiológica) Isométrica (não fisiológica)
Influência de reflexos Presente Menos presente
protectores
Efeitos patológicos Improváveis Muito prováveis
Tabela 1 – Comparação entre as actividades funcional e parafuncional usando cinco
factores comuns (Santos, 2011).
Analisando a tabela 1 podemos perceber de início as cargas quase 4 vezes maior aplicadas
devido a atividade parafuncional em comparação com as atividades funcionais, tal fator acelera o
desgaste dentário ou deformações provenientes das forças que além de ter um excesso de carga, a
direção na qual ela é orientada incentiva as tensões provocadas pela força de atrito aumentando as
tensões cisalhantes nos dentes, todos esses fatores aplicados durante um longo prazo levam à
erosão dentária, sensibilidade, entre outros, consequentemente acarretando não só no prejuízo aos
dentes, mas em um quadro psicosocial envolvendo a autoimagem e a autoestima do paciente,
diante desse quadro cabe ao profissional adequado cuidar destes sintomas, para poder devolver
muito mais do que um alívio da dor.
Em relação ao tratamento do bruxismo, não existe ainda consenso sobre qual a melhor
opção terapêutica, sendo as abordagens oclusais, comportamentais e farmacológicas as mais
utilizadas. (Lobbezoo et al., 2008)
De acordo com Martínez-Pérez (2004) em seu estudo afirma que as toxinas botulínicas
são indicadas para o tratamento de patologias que resultam de hiperfunção muscular, além de
citar que na literatura aparecem cada vez mais registros no tratamento de patologias que
envolvem a articulação temporomandibular, dando como exemplo o bruxismo.
A toxina botulínica A tem sido usado no tratamento de uma variedade de condições
médicas associadas à contração ou dor muscular. (MONTEMOR, 2017, p.12)
Vasconcelos et al.(2016, p.50) explica o mecanismo de ação da toxina botulínica:
A TB possui uma cadeia leve (L) e uma cadeia pesada, que se subdivide em duas (HC
e HN, que são cadeias peptídicas simples). O HC conecta-se ao motoneurônio, e a cadeia
HN é responsável pela internalização e translocação da membrana da célula nervosa. A
cadeia L é responsável pela ação ativa da toxina botulínica na célula. Essa molécula irá
competir com a acetilcolina, que é responsável por causar a tensão no músculo, inibindo
sua ação. Na realidade, a TB destrói as proteínas de ligação da acetilcolina (SNAP-25,
Sintaxina e Sinaptobrevina ou VAMP), não permitindo a ligação dela com a membrana
pré-sináptica. Assim, a neurotoxina irá conectar-se à membrana pré-sináptica,
penetrando na fenda sináptica, relaxando a musculatura.
Em um estudo realizado por Alcolea et al. (2019) verificou-se que em um período de
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aproximadamente 5 ou 6 meses 76% dos pacientes apresentaram uma melhora significativa


enquanto que os outros 24% ficaram livres do bruxismo, com efeitos adversos leves e que se
resolveram em poucos dias.
No estudo de Shim et al.(2014) concluiu-se que uma única aplicação de toxina botulínica
A é eficaz para controlar o bruxismo do sono em pelo menos 1 mês, reduzindo a intensidade ao
invés da contração em si nos músculos que fecham a mandíbula.
Segundo Vasconcelos et al.(2016, p.53) “Apesar das reações, que são raras, os benefícios
encorajam o seu uso. No caso de patologias que afetam os músculos temporal e/ou masseter, de
caráter constritivo, esta tem promovido um relaxamento com melhora da sintomatologia.”

3. METODOLOGIA

Assim como fez Montemor (2017) O bruxismo foi identificado através da aplicação do
questionário proposto pela American Academy of Sleep Medicine (AASP). O questionário
contém 3 questões, sendo que a terceira pergunta apresenta 6 sub-itens, totalizando 8 questões de
avaliação. As questões 1 e 2 tem um peso de avaliação maior. Foram considerados como
bruxistas os voluntários que responderam afirmativamente a pergunta 1 e/ou 2 e, pelo menos uma
resposta do item 3. O questionário é composto pelas seguintes perguntas:

1. Você está ciente, ou alguém já falou de você ranger os dentes com frequência durante o sono?
2. Você está ciente de que sua dentição está mais gasta do que deveria?
3. Você está ciente de algum dos seguintes sintomas ao acordar:
3.1. Sensação de fadiga, aperto ou dor no maxilar ao acordar?
3.2. Sentindo que seus dentes estão cerrados ou que sua boca está dolorida ao acordar?
3.3. Dói nas têmporas ao acordar?
3.4. Dificuldade em abrir bem a boca ao acordar?
3.5. Sensação de tensão na articulação da mandíbula ao acordar e sensação de que precisa mover
a mandíbula para liberá-la?
3.6. Ouvir ou sentir um ‘‘ clique ’’ na articulação da mandíbula ao acordar que desaparece
depois?
Além desse questionário foi perguntado àqueles considerados bruxistas quais seus
principais sintomas e dificuldades no dia-a-dia e o que pensam à respeito do tratamento por
aplicação de toxina botulínica, se fariam e em caso de resposta negativa o principal motivo para
essa resposta.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Dentre os pacientes que foram questionados, encontrou-se 5 pacientes identificados com


bruxismo, enquanto outros relatos sobre alguns já terem tido alguns dos sintomas em algum
momento da vida, dentre os pacientes identificados com bruxismo as maiores dificuldades
apresentadas foram a má qualidade de sono, o estresse causado, as dores de cabeça, dores na
mandíbula, reclamações das placas utilizadas que incomodam e são difíceis de se acostumar, e
em relação ao que pensam sobre o tratamento por aplicação de toxina botulínica, 3 desconheciam
a existência do tratamento, enquanto os 2 que conheciam afirmaram ser algo que facilitaria muito
seu dia-a-dia, além de apresentarem uma preocupação com sua saúde dentária em caso da
permanência dos sintomas. Após uma breve explicação para esclarecer aos pacientes sobre o
assunto, eles afirmaram ter interesse pelo tratamento, que modificaria suas vidas, mas que não
fariam no momento devido os altos custos em cada sessão, mas que se tivessem condições
4

certamente o fariam.
Assim como os estudos de Alcolea et al. (2019), Shim et al.(2014) e Vasconcelos et al.
(2016) se mostraram positivos em relação ao tratamento por toxina botulínica, ao ter um pouco de
conhecimento a respeito do assunto, os pacientes se sentem mais confiantes e desejam poder um
dia realizar o tratamento, vendo este, como uma esperança, para a melhoria de sua qualidade de
vida.

5. CONCLUSÃO

Diante do exposto no trabalho a pesquisa mostra que mesmo na existência de um


tratamento que prometa melhorias significativas em relação a condição do bruxismo, seu valor
ainda é algo intangível para muitos, tornando assim um tratamento que permanece para a grande
maioria intangível.
Portanto, o tratamento a partir da aplicação de toxina botulínica mesmo sendo de acesso a
poucos no momento atual, é algo que promete muitos avanços para que no futuro se torne um
tratamento viável e que ajudará na melhoria da qualidade de vida de vida de muitas pessoas
acometidas pelo bruxismo.
Conclui-se que mesmo que inicialmente não se veja uma conexão com a estética, o
bruxismo pode vir a acometer de várias formas, ocasionando perdas de dentes, impossibilitando o
uso de certas próteses, aumentando o estresse e as noites mal dormidas, fatores que influenciam
diretamente na aparência de uma pessoa, tornando assim o método uma promessa para recuperar
a auto estima e a qualidade de vida dos pacientes.

REFERÊNCIAS

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