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Notas finais
1: Ao discutir tópicos especialmente difíceis e complexos, como a
influência da prática Zen na DBT, uma nota de esclarecimento faz-se
necessária. Minha intenção aqui não é explicar e falar sobre Zen-
Budismo per se, mas aprofundar a discussão sobre a história do
desenvolvimento da DBT e a influência que esta prática teve na criação
do tratamento. Me encontro em uma posição difícil; embora acredite
que esteja em uma ótima posição para contribuir para a discussão, por
ser tanto um terapeuta DBT e trainer-in-training da
BehavioralTech/DBT Brasil como um aluno de Zen da Empty Cloud
Sangha, quero deixar claras as minhas limitações como um praticante,
um aluno iniciante, por mais que alguns anos tenham se passado desde
que iniciei a prática. Dizer que sei o que é o Zen seria, no mínimo,
arrogante, e uma exposição clara da minha completa ignorância sobre
o assunto. Portanto, qualquer coisa que eu traga sobre isso serão os
comentários do professor (Rōshi) Randy Wolbert, ou citarei fontes
apropriadas ao traduzir termos e evitarei tentar explicar conceitos,
achando melhor deixar para os professores, mestres, acadêmicos, que
citarei quando apropriado. Devido à necessidade de explicar nomes e
termos do Zen ou aprofundar alguma discussão que seja tocada
superficialmente no texto, me darei ao luxo de possivelmente ser
redundante, repetitivo e me alongar nessas notas. Pode ser uma boa
ideia ler o texto e a entrevista de uma vez antes de se deter nelas. Junto
aos comentários relevantes sobre aspectos do texto e referências da
literatura, estas notas se propõe a definir alguns termos japoneses que
inevitavelmente serão utilizados nesse texto que se referem ao Zen,
começando pelo próprio termo “Zen” na nota abaixo.
2: Zen significa: “escola do budismo surgida na China do sVI d.C. e
levada para o Japão no sXII, onde granjeou grande importância
cultural até os dias atuais, caracterizada pela busca de um estado
extático de iluminação pessoal (satori), equivalente a um rompimento
deliberado com o pensamento lógico, obtido por meio de práticas de
meditação sobre o vazio ou reflexão a respeito de absurdos, paradoxos
e enigmas insolúveis (koans); zen-budismo”. (Dicionário Oxford
Languages). O mesmo dicionário traz, como segunda definição:
“adjetivo. Muito tranquilo e confiante.” Vemos aqui o uso informal e
corriqueiro do termo Zen, incorreto do ponto de vista da
prática/religião, que se deu a partir da inserção da cultura japonesa e
da prática do Zen no ocidente (EUA, inicialmente). A palavra em língua
japonesa “Zen” é uma tradução do termo em chinês “ch’an”, que é uma
tradução do sânscrito “dhyana”, que significa “meditação”. (Dumoulin,
1963). Dhyana: “Hinduísmo, Budismo, Jainismo: Meditação.
(Dicionário Merriam-Webster, disponível em: https://www.merriam-
webster.com/dictionary/dhyana). Tanto meditação
quanto mindfulness serão melhor definidos na parte 2 desta série. Para
um estudo aprofundado da história do Zen-Budismo, ver Dumoulin,
1963. Para uma introdução ao Zen pelo próprio Zen, ver Suzuki, 2019.
3: Mindfulness: o termo mindfulness tem inúmeras definições (Tatton-
Ramos, 2016). Vou escolher aqui 3 delas, úteis para este artigo. Na
parte 2, aprofundarei a definição do ponto de vista da DBT. (1) “a
prática de estar atento [aware] do seu corpo, mente e sentimentos no
momento presente, dita capaz de criar um sentimento de calma.”
(Cambridge Dictionary; tradução livre pelo autor). ( 2)
“Mindfulness tem a ver com a qualidade da consciência ou a qualidade
da presença que uma pessoa traz à vida cotidiana. É uma forma de ela
viver desperta, com os olhos bem abertos. Em termos de um conjunto
de habilidades, a prática de mindfulness é o processo intencional de
observar, descrever e participar na realidade no momento, com
efetividade (i.e., usando meios hábeis) e de modo não julgador.”
Linehan, 2018b, p. 148. (3) “(…) prestando atenção de uma forma
específica: intencionalmente, no presente momento, sem julgamentos.”
Kabat-Zinn, 2013, p. xxvii.
4: Frase retirada de um conhecido texto do Mestre Eihei Dogen (1200-
1253), celebrado como o fundador da escola Soto Zen (“Soto-shu”).
Existem inúmeras traduções deste antigo texto. A que usei, de um
braço da escola Soto no Brasil, liderada pela Monja Coen Rōshi, está
disponível aqui: https://www.zendobrasil.org.br/wp-
content/uploads/2021/03/Fukanzazengi_site.pdf. O intuito de colocar
esta afirmação aqui, de que “Zazen [meditação sentada, sentar-se
em zen, principal prática do Zen-Budismo] não é meditação passo a
passo”, vem para ilustrar a ideia da diferença importante (não
abordada novamente neste texto) entre mindfulness, meditação, e
meditação no Zen Budismo (zazen).
5: Linehan 2021, p. 275-276. Tradução livre da passagem feita por
mim.
11 Algo que Randy não disse, mas acredito que valha a pena adicionar:
é possível também ser ateu e praticar Zen. Recentemente tive o prazer
de compartilhar vários dias de um retiro da Empty Cloud Sangha com
um grande amigo e colega de profissão que é ateu. Essa ideia de que
Zen pode ser praticado por pessoas de qualquer religião aparece em
diversos lugares. Conferir este texto do Zen Center of Georgia
(https://www.zen-georgia.org/ZenFaq.php). Diversos praticantes
cristãos (especialmente monges católicos) praticaram Zen. O próprio
Willigs Jäger, professor da Marsha, é um exemplo. Conferir também,
por exemplo: d’Ors, 2021, e no vasto trabalho de Monja Coen esse tema
aparece diversas vezes (ver www.zendobrasil.org).