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Metodologia cientifica
Resenha
Ouro Preto
2017
Milito de Medeiros & Sousa Pereira
http://www.scielo.mec.pt/pdf/est/v3n5/v3n5a16.pdf
Artigo completo submetido em 20 de janeiro e aprovado em 8 de fevereiro de 2012.
Sayonara Sousa Pereira (Sayô Pereira): Brasil, bailarina, coreógrafa, professora efetiva
na Escola de Comunicações e Artes - Departamento de Artes Cênicas - da Universidade
de São Paulo - ECA / CAC / USP. Doutora em Artes-Dança pela UNICAMP / 2007. Na
Alemanha, a convite de Susanne Linke, especializou-se na Folkwang Hochschule-Essen,
escola dirigida por Pina Bausch, e licenciou-se em Pedagogia da Dança na Hochschule
Für Musik-Tanz / Köln (Colônia). Coordena o LAPETT (Laboratorio de Estudos e
Pesquisas em Tanztheater - ECA-USP)
A autora começa seu artigo contextualizando, quem foi Pina Bausch, onde nasceu
sua formação e sua trajetória artística até chegar no trabalho KONTAKTHOF. Enfatiza
também o desenvolvimento do seu trabalho criado com o tanztheater desenvolvido no
Wuppertal Tanztheater off Pina Bausch. “No tanztheater (Dança Teatral), a personalidade, as
histórias e as vivências dos intérpretes permeiam o processo de criação das obras (Pereira, 2010). Bausch
verticalizou seu trabalho nesse sentido, buscando expor o lado mais humano de seus bailarinos, a
fragilidade, suas dúvidas e inquietações, fazendo com que o público se identifique com o ser humano à
sua frente, sem impedir que o bailarino se utilize das diferentes técnicas apreendidas ao longo de sua
carreira” (p.92).
“trabalho que Bausch havia desenvolvido até então já apresentava como característica diferencial em
relação a outras Companhias de dança, o fato de permitir que seu elenco continue dançando
indeterminadamente, independentemente da idade que atinjam (Dominique Mercy, um de seus
principais bailarinos, tem hoje mais de 60 anos).” (p.93)
A coreografa sempre soube valorizar as qualidades que só a idade pôde trazer para
os intérpretes, saberes que só o tempo poderia proporcionar aos intérpretes. Assim no
projeto “Senhores e Senhoras” ela começa a ampliar esse conceito “mostrando que além
de não existir limite de idade para dançar, não existem limites para a dança. Qualquer um
pode dançar, não apenas bailarinos profissionais. Bausch demonstra a ideia, muitas vezes
defendida por Laban, de que o movimento é algo inerente aos animais, portanto a dança
é inerente ao Homem.” (p.93) Nos corpos e entre as rugas dos senhores e senhoras eram
a exposição de anos de experiência, de vivência e conhecimento que vem embutidos em
cena, trazendo afetividade a experiência da cena.
“Como coreógrafa, Bausch não tinha nada a ver com o politicamente correto, 94 Medeiros, Marina
Milito de & Pereira, Sayonara Sousa (2012) “Pina Bausch, de referência mundial ao trabalho social -
Kontakthof através das gerações.” mas nesse ato brilhantemente inventivo de seleção de elenco, ela
expôs a pobreza da nossa cultura anti-idade – particularmente quando aplicada à dança. Os homens e
mulheres acima de 65 anos que interpretaram Kontakthof não só tornaram falsa a noção de que nos
tornamos invisíveis ao envelhecer; eles demonstraram que podemos nos tornar significativamente mais
vitais e vivos (Mackrell, 2010).”
Ela ainda cita que “Segundo John Ann Endicott (1950), os bailarinos da companhia
costumavam afirmar que Kontakthof seria a peça que eles dançariam até a velhice.
(P.94)”, em entrevista com (Endicott, 2010), ela afirma que talvez seria a única peça em
que bailarinos não profissionais conseguiriam dançar, talvez tivesse sido por esses
motivos que Pina, tenha desenvolvido esse espetáculo com senhores e senhoras acima de
65 anos. Como ela já estava com 59 anos na época, poderia ser um dos motivos que
aproximava ela desse espetáculo, talvez com uma questão pessoal e inquietações trazidas
pela idade começasse a inquietar Pina.
“O meu desejo de ver essa peça, dessa vez mostrada por senhoras e senhores com mais experiência de
vida, cresceu ainda mais forte com o tempo. Então eu encontrei coragem para dar Kontakthof para as
pessoas mais velhas acima de ‘65.’ Pessoas de Wuppertal. Nem atores. Nem dançarinos (Pina Bausch,
L’arche, 2007: 8). (p.94)”
A autora começa a citar o inicio da peça em 1998, onde Pina Bausch inicia seu trabalho
com os Senhores e Senhoras de 65 anos, pessoas comuns, moradores de Wuppertal, sem
experiência com “teatro e dança”(tanztheater), mas com uma vontade insaciável por
novas experiências e aprendizados com desejos por novas descobertas; Pina, coloca o
anuncio no jornal local, convocando moradores que estariam interessados em participar
da seleção, sendo que o único pré requisito seria que os moradores tivessem acima de 65
anos de idade. Com uma preocupação entusiasmada com seus interpretes Pina, sempre
que podia estar presente nas apresentações pessoalmente, entregava flores aos interpretes,
quando não conseguia ela entregava uma rosa com uma carta na casa de cada interprete:
“Queridos, De Nova York eu envio para todos vocês todo meu amor, pensamentos carinhosos e os
melhores desejos. Eu desejo a todos vocês uma Performance maravilhosa em Gênova. Eu estou com todo
meu coração com vocês. Dancem lindamente. Boa sorte. Eu os envolvo com amor. Sua Pina (Pina Bausch
18.11.2004-L´arche,2007:26)”(p.94).
Continuando a autora expõem que em 2007 ela abre uma nova seleção para a
mesma peça, porém dessa vez era voltada para adolescentes entre 14 - 17 anos, com
objetivo de atingir os netos dos senhores e senhoras que dançaram a peça anteriormente
a quase 10 anos; ela cita que “Wuppertal é, basicamente, uma cidade industrial, com um
cenário cultural restrito e muitos de seus moradores, até os dias atuais, não conhecem o
trabalho de Bausch e da Companhia, um dos principais meios de difusão do nome da
cidade pelo mundo afora. Porém com as experiências de Kontakthof Bausch movimentou
três gerações de sua cidade.” (p.95), sendo então construída uma nova relação com a
comunidade, o trabalho pode envolver os senhores e senhoras de 65 anos,
consequentemente os adultos pais dos adolescentes que apresentariam esse novo trabalho,
como também possivelmente filhos dos senhores e senhoras que apresentaram o trabalho
anteriormente. Sendo assim os bailarinos e a própria Wuppertal tanzthater, criam uma
nova relação com a comunidade sendo seu publico como também bailarino, “O melhor de
tudo, os 26 dançarinos de cada elenco emergem totalmente como pessoas, a integridade da interação
deles é um testemunho do poder duradouro do legado de Bausch (Crompton, 2010) (p.95)”
A autora tenta concluir sua pesquisa, com uma pergunta: “o que Bausch estaria
buscando ao realizar um mesmo espetáculo com três gerações diferentes?”(p.95), ela
mesma afirma que assistindo os espetáculos, e pesquisando em campo, não consegue uma
resposta em palavras fechadas, é como se as mesmas cenas representadas por pessoas
diferentes com idades diferente formassem uma nova leitura a cada espetáculo, mas ao
final, ela cita que com esse trabalho Pina, acabou mudando as perspectivas e pontos de
vistas dos senhores e senhoras de mais de 65 anos e dos adolescentes, a maioria deles
nunca tiveram a oportunidade de estar em um palco, ao final conclui que bausch estava
em busca de um questionamento também de quem são “ os verdadeiros artistas?”,
colocando todos em um mesmo patamar sem diferenciação, elevando a poesia de ser
humano ao máximo.