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UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS | DEPARTAMENTO DE DIREITO | FORMULÁRIO PARA FICHA DE LEITURA

Álvaro José Pereira Neto; Anna Luísa Braz Rodrigues; Fernanda C.


Estudantes:
Valentim; Larissa do Vale Teixeira; Talita Tavares Borges.
201520932 Data: 02/08/2020
201520932
Registo Acadêmico: 201520958
201520084
201520939

EXERCÍCIOS E RESPOSTAS

1. Se Viktor Navorski quisesse visitar o Brasil, o visto adequado seria o de turista.

Prima facie insta consignar que nos minutos iniciais do filme veio à tona a informação de que
Krakozhia, país de origem do personagem Viktor Navorski, passara por um gole de Estado que
destituiu seu governo. Com isto se quer dizer, que no momento em que Navorski teve seu visto negado,
ele era considerado apátrida.

Por esta razão, tendo em vista que sua localidade de origem se encontra em guerra, com notável
instabilidade institucional, o visto mais adequado a ser concedido nesta ocasião é o temporário, com a
finalidade de acolhida humanitária. A previsão legislativa está presente no artigo 14 da Lei de Migração
(Lei nº 13.445/2017), in verbis:

Art. 14. O visto temporário poderá ser concedido ao imigrante que venha ao Brasil com o
intuito de estabelecer residência por tempo determinado e que se enquadre em pelo menos uma
das seguintes hipóteses: I - o visto temporário tenha como finalidade: (...) c) acolhida
humanitária; (...) § 3º O visto temporário para acolhida humanitária poderá ser concedido ao
apátrida ou ao nacional de qualquer país em situação de grave ou iminente instabilidade
institucional, de conflito armado, de calamidade de grande proporção, de desastre ambiental ou
de grave violação de direitos humanos ou de direito internacional humanitário, ou em outras
hipóteses, na forma de regulamento. (gn).

Ressalta-se que não fosse a situação específica de destituição da República Krakozhiana, o visto de
visitante seria adequado porque, ao que tudo indica, o personagem viajava à turismo ou negócio, com
estada de curta duração, portando consigo a passagem de retorno.

2. Em razão de sua situação, nos termos da legislação brasileira e supondo que o caso tivesse
ocorrido no Brasil, Viktor Navorski poderia ser enviado de volta ao seu país de origem,
configurando a medida de retirada compulsória de deportação.

A priori, cumpre destacar que de acordo com a Lei de Imigração 13.445/2017, a deportação, em seu
artigo 50, apresenta-se enquanto “medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na
retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em território nacional”.

No caso de Vitor Navorski, preliminarmente, considerar-se-á que se o mesmo tivesse ingressado no


Brasil nas circunstâncias em que sucedia seu país de origem, ou seja, em ocorrência de guerra que
culminou na cessação dos vistos imigratórios, ele se encontraria em irregularidade. Isto, pois, de acordo
com o artigo 6º da referida lei, “o visto é o documento que dá a seu titular a expectativa de ingresso em
território nacional”.

Frente o exposto, sua situação possibilitaria a deportação, mediante prazo estabelecido no artigo 50, §
1º dessa legislação e frente a não regularização de sua situação migratória até o vencimento do prazo
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estipulado, a deportação deverá ser executada, como dispõe o §3º do mesmo artigo. Inclusive, o artigo
109, inciso I, elenca que a deportação, enquanto sanção, se aplicará mediante a infração de adentrar
território nacional sem estar autorizado, caso não saia do país ou não regularize a situação migratória
no prazo fixado.

Entretanto, a conjuntura que Vitor se encontra oblitera seu retorno ao país de origem, visto que este, em
decorrência da guerra, bloqueou suas fronteiras, assim como inviabilizou a possibilidade de
regularização de situação migratória. Diante desse débil contexto, o artigo 62 da Lei 13.445/2017
poderá vir a abarcar essa situação, discorrendo que “não se procederá à repatriação, à deportação ou à
expulsão de nenhum indivíduo quando subsistirem razões para acreditar que a medida poderá colocar
em risco a vida ou a integridade pessoal”. Ou seja, encontrando-se o país de Vitor em guerra, assim
como as demais consequências que sucedeu dessa ocorrência, deportá-lo à esse país seria colocar sua
vida em risco em decorrência dos efeitos gravosos desse cenário, por razões que notoriamente não
estão sob o controle de Vitor.

Nesse ínterim, deportá-lo seria “colocar em risco a vida ou a integridade pessoal”, infringindo,
portanto, o disposto no artigo 62 da Lei 13.445/2017. Uma provável alternativa para posição que Vitor
se encontra seria, de acordo com a legislação brasileira, o que pressupõe o artigo 47 dessa referida
normativa, em que “a repatriação, a deportação e a expulsão serão feitas para o país de nacionalidade
ou de procedência do migrante ou do visitante, ou para outro que o aceite, em observância aos tratados
dos quais o Brasil seja parte. ”

3. Partindo ainda da premissa que o caso ocorreu no Brasil, uma vez reconhecida a condição de
apátrida de Viktor, ele deveria ser consultado sobre o desejo de adquirir a nacionalidade
brasileira. Caso Viktor não optasse pela naturalização, teria autorização de residência outorgada
em caráter definitivo.

Ao considerar a condição de apátrida de Viktor, em consonância com o disposto no art. 1°, §1º, inciso
VI da Lei nº 13.445/2017, será dado a ele a oportunidade em adquirir nacionalidade brasileira (art. 26,
§6º).

Tendo em vista que no caso em análise o Viktor não optou pela naturalização, será dado a ele a
autorização de residência outorgada em caráter definitivo, conforme preconiza o disposto no art. 26,
§8º, da Lei nº 13.445/2017.

Dito isso, cabe salientar que, nos termos da Lei nº 13.445/2017, o apátrida apenas deixará de ter a
proteção do Estado brasileiro, nos casos de casos de renúncia; prova da falsidade dos fundamentos
invocados para o reconhecimento da condição de apátrida; ou a existência de fatos que, se fossem
conhecidos por ocasião do reconhecimento, teriam ensejado decisão negativa (art. 26, §12, incisos I a
III).

4. Se Viktor Navorski fosse filho de pai “krakozhiano” mas a mãe fosse naturalizada brasileira,
tendo ele nascido em Krakozhia, em nenhuma circunstância Viktor poderia ser considerado
brasileiro nato.

Quanto ao filho de brasileiro nascido no exterior, dispõe o art. 12, inciso I, alínea c da Constituição
Federal, que são brasileiros natos os nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente, ou venham a residir na república Federativa do Brasil
antes da maioridade e, alcançada esta, optem a qualquer tempo pela nacionalidade brasileira.

Considera-se que a repartição brasileira é o Consulado ou a Embaixada do Brasil no exterior. Ademais,


importante ressaltar o art. 12 em seu §2º, que dispõe sobre a impossibilidade da lei estabelecer
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distinções entre brasileiros natos e naturalizados, com exceção dos casos previstos no texto
constitucional. Dessa forma, sendo a mãe de Viktor naturalizada brasileira, seria possível que o mesmo
pudesse ser considerado brasileiro nato, preenchidos os requisitos expostos no art. 12, inciso I, alíneas
b ou c.

Art. 12. São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que
de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no
estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da
República Federativa do Brasil; c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe
brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir
na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a
maioridade, pela nacionalidade brasileira; II - naturalizados: a) os que, na forma da lei,
adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa
apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer
nacionalidade residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos
ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. § 1º Aos
portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de
brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta
Constituição. § 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados,
salvo nos casos previstos nesta Constituição. (...)

5. Passado alguns anos do ocorrido, Viktor conheceu Ana, uma brasileira por quem se apaixonou
e acabou casando. O casal estabeleceu residência em Krakozhia. Lá sua esposa adquiriu a
nacionalidade “krakozhiana”, já que era uma condição para o exercício de direitos civis naquele
país. Nessa hipótese, a esposa de Viktor perderia a nacionalidade brasileira.

O caso de Viktor é uma expressão de um comum fluxo da atualidade baseado na mobilidade de pessoas
no trânsito internacional e na constituição de famílias plurinacionais ou famílias monoparentais em
Estados distintos. Quando um estrangeiro é recolocado em uma sociedade, por óbvio, se aproxima de
um novo ordenamento jurídico e de seus valores e fundamentos.

Nesse sentido, para refutar a afirmação 5 do exercício proposto e afirmar que Ana não perderia sua
nacionalidade, é preciso vincular o caso, primeiramente, ao artigo 15º da Declaração Universal de
Direito Humanos: “Todo indivíduo tem direito a ter uma nacionalidade”. Contudo, inicialmente, a
nacionalidade brasileira se deu como forma de reconhecer o pertencimento a uma nação e a
nacionalidade “krakozhiana” foi uma concessão de direitos e uma permissão para que ela integrasse um
novo Estado.

Sob a ótica brasileira, incide no caso o art. 12, § 4º, II, b da Constituição Federal de 1988:

Art. 12 (...) § 4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I - tiver cancelada
sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos: a) de reconhecimento de nacionalidade
originária pela lei estrangeira; b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao
brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território
ou para o exercício de direitos civis.

Destaca-se que, se não fosse aplicada a hipótese de exceção do inciso II, b se aplicaria mesmo assim o
que está disposto no art. 76 da Lei de Migração:

Art. 76. O brasileiro que, em razão do previsto no inciso II do § 4º do art. 12 da Constituição


Federal, houver perdido a nacionalidade, uma vez cessada a causa, poderá readquiri-la ou ter o
ato que declarou a perda revogado, na forma definida pelo órgão competente do Poder
Executivo.
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