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NACIONALIDADE

1. CONCEITO

A nacionalidade é o vínculo jurídico que liga o indivíduo a um Estado, tornando-o nacional, componente do povo e
titular de direitos e obrigações. Relaciona-se diretamente com a própria identidade da pessoa humana, direito as-
segurado inclusive pela Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.

O conceito de nacionalidade no Brasil não se confunde com o de cidadania, que recebeu do constituinte originário
sentido restrito e vinculado ao exercício de direitos políticos por meio do título de eleitor. O conjunto dos nacionais
é muito maior que o conjunto de cidadãos, quando se vincula a cidadania strictu sensu ao pleno gozo dos direitos
eleitorais políticos.

Com isso, pode-se concluir que o cidadão deverá ser nacional (salvo a situação peculiar do português equiparado),
mas nem todo nacional é cidadão (crianças brasileiras, por exemplo).

São conceitos relacionados à nacionalidade:

Polipátrida: aquele que tem mais de uma nacionalidade (um conflito positivo, que gera a multinacionalidade).

Apátrida ou heimatlos: aquele que não tem nacionalidade (um conflito negativo, que gera dificuldades ao indivíduo
em razão das restrições jurídicas que poderá sofrer em alguns países).

A Lei de Migração (Lei 13.445/17), em seu art. 1º, § 1o, VI, conceituou o apátrida como a pessoa que não seja
considerada como nacional por nenhum Estado, segundo a sua legislação, nos termos da Convenção sobre o Es-
tatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002, ou assim reconhecida
pelo Estado brasileiro.

No que tange a entrada e saída de estrangeiros no território nacional, importante diferenciar, ainda que sucinta-
mente, os seguintes conceitos:

Extradição: É a medida de cooperação internacional entre o Estado brasileiro e outro Estado pela qual se concede
ou solicita a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de
processo penal em curso, na forma do art. 81 da Lei 13.445/17.

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Vale ressaltar que o art. 5°, LII da CRFB/88 veda a extradição de brasileiros e estrangeiros por crime político e de
opinião, e que há proteção absoluta ao brasileiro nato contra a extradição, inclusive ao que possui dupla nacionali-
dade, de acordo com o art. 5°, LI da CRFB/88.

Expulsão: Consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional,
conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado, na forma do art. 54 da Lei 13.445/17.

Deportação: É a medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na retirada compulsória de pessoa
que se encontre em situação migratória irregular em território nacional, na forma do art. 50 da Lei 13.445/17.
Importante destacar que não há expulsão ou deportação de brasileiros do território nacional.

2. ESPÉCIES DE NACIONALIDADE

Nacionalidade Originária ou Primária

A nacionalidade originária resulta do nascimento, sendo estabelecida por critérios sanguíneos, territoriais ou mistos.
É também conhecida como involuntária e deve ser decidida de acordo com as normas previstas no Direito interno
de cada país, de acordo com a sua soberania. No Brasil, os nacionais originários são denominados brasileiros natos.

Nacionalidade Derivada ou Secundária

A nacionalidade derivada é aquela que decorre da manifestação de vontade do indivíduo, e, em regra, é adquirida
por meio do processo de naturalização. Em nosso país, os nacionais derivados são chamados brasileiros naturali-
zados.

3. CRITÉRIOS DE ATRIBUIÇÃO DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA

Os critérios principais de aquisição de nacionalidade originária, a seguir analisados, são:

a) critério sanguíneo ou ius sanguinis;


b) critério territorial ou ius soli; e o
c) critério misto.

De acordo com o critério estabelecido pelo ius sanguinis, será nacional todo o descendente de nacionais, indepen-
dentemente do local de nascimento. É adotado, em regra, pelos países do “Velho Mundo” (África, Europa e Ásia),
países de emigração, sendo normalmente ambilinear, ou seja, pai ou mãe podem transferir a nacionalidade a seus
filhos.

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Por meio do critério territorial, ius soli, será nacional o nascido no território do Estado, independentemente da naci-
onalidade de sua ascendência. É o critério predominante nos países do “Novo Mundo” (as Américas e a Oceania),
conhecidos como países de imigração.

No entanto, vários países adotam hoje em dia um critério misto, numa combinação entre o ius soli e o ius sanguinis.
No Brasil, o critério de atribuição de nacionalidade originária predominante é o da origem territorial, ainda que se
reconheça em algumas situações a origem sanguínea, pode-se dizer que temos um sistema de ius soli relativo ou
misto.

Atenção! Não se revela possível, em nosso sistema jurídico-constitucional, a aquisição da nacionalidade brasileira
jure matrimonii, vale dizer, como efeito direto e imediato resultante do casamento civil. [Ext 1.121, rel. min. Celso de
Mello, j. 18-12-2009, P, DJE de 25-6-2010.]

4. AQUISIÇÃO DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA

O art. 12, I, e suas alíneas “a”, “b” e “c”, da CF/1988, encerram as únicas formas de aquisição de nacionalidade
originária brasileira, não podendo a legislação infraconstitucional ampliá-las, segundo entendimento do próprio Su-
premo Tribunal Federal.

No texto do art. 12, I, “a”, a Constituição apresenta o critério de maior destaque da nacionalidade primária no país,
ou seja, a origem territorial. De acordo com o referido dispositivo, serão brasileiros natos: os nascidos na República
Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país. Daí se
infere que, em regra geral, quem nasce no Brasil, será brasileiro nato, a não ser que seja filho de pai e mãe estran-
geiros (não importa de qual nacionalidade) e ainda que um deles esteja a serviço oficial de seu país de origem
(assim reconhecido pelo país que lhe encaminhou ao Brasil). Pode-se concluir que filho de brasileiro (pai ou mãe),
seja nato ou naturalizado, nascido em nosso país, será sempre brasileiro nato.

Na alínea seguinte temos a combinação entre o critério sanguíneo, associado à questão funcional, senão vejamos:
serão também brasileiros natos: os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer
deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil. Da mesma maneira que não se impõe a nacionalidade
brasileira ao filho de um estrangeiro, que está a serviço de seu país em território brasileiro, aqui nascido, a Consti-
tuição determina que o brasileiro a serviço do Brasil no exterior também possa transferir a nacionalidade brasileira
a seu filho, mesmo tendo este nascido fora do território nacional. Ressalte-se que “a serviço” do país deve englobar
a Administração Pública direta ou indireta de quaisquer das esferas da Federação.

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O art. 12, I, “c”, último critério a ser analisado, já sofreu duas reformas no texto de sua redação originária. Vejamo-
lo com detalhes:

Serão brasileiros natos:

•Em 1988: os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que sejam registrados em reparti-
ção brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil antes da maioridade e, alcançada
esta, optem em qualquer tempo pela nacionalidade brasileira.
•Com a redação da ER nº 3/1994: os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que venham
a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira.
•Atualmente, com a redação dada pela EC no 54/2007:

c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição
brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois
de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira.

Com a supressão da possibilidade de registro em consulado brasileiro no exterior para fins de aquisição de nacio-
nalidade brasileira, pela ER no 03/94, muitos brasileiros que moram no exterior (alguns em países de ius sanguinis
e com isso seus filhos se tornavam apátridas ao nascerem) fizeram campanhas para o retorno do registro, o que
aconteceu apenas em 2007.

É possível observarmos, então, que a atual redação é mais benéfica ao brasileiro do que se comparada à redação
posterior à ER no 03/94, levando-se em consideração que nela havia a previsão de residência no país e ainda
manifestação perante a Justiça Federal brasileira.

Na redação atual, os filhos de brasileiros podem ser registrados em Consulados (ou nas seções consulares das
Embaixadas), sem a necessidade de vir ao país e proceder à opção. Os que não forem registrados no exterior ainda
podem vir residir a qualquer tempo no Brasil e manifestar a opção após atingida a maioridade. Essa opção, apesar
de potestativa, é feita na forma do art. 109, X, da CF/88 perante a Justiça Federal, em um processo de jurisdição
voluntária.

Como nacionalidade é um direito fundamental personalíssimo, podem surgir duas hipóteses oriundas da citada
alínea c:

1) o nascido no estrangeiro, filho de pai brasileiro ou mãe brasileira, que vem morar no Brasil antes de atingida a
maioridade; e
2) o nascido no estrangeiro, filho de pai ou mãe brasileira, que vem morar no Brasil depois de atingir a maioridade.

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Na primeira situação, como a opção perante a Justiça Federal só pode ser feita após atingida a maioridade, o filho
de brasileiro ainda menor, ao vir residir no Brasil, será reconhecido como brasileiro nato em caráter provisório, até
que se ultime a manifestação de vontade. Nesse sentido, o STF assim decidiu: “Vindo o nascido no estrangeiro, de
pai brasileiro ou de mãe brasileira, a residir no Brasil, ainda menor, passa a ser considerado brasileiro nato, sujeita
essa nacionalidade à manifestação da vontade do interessado, mediante a opção, depois de atingida a maioridade.
Atingida a maioridade, enquanto não manifestada a opção, esta passa a constituir-se em condição suspensiva da
nacionalidade brasileira”.

Na segunda hipótese, como já é maior de idade, o filho de brasileiro pode se manifestar diretamente perante a
Justiça Federal para exercer a opção confirmativa, entretanto, não há prazo para essa manifestação no ordena-
mento jurídico.

Ademais disso, a EC n° 54/2007 ainda acrescentou ao ADCT o art. 95, em atenção aos nascidos justamente
depois da supressão do registro em consulado e antes da nova redação dada ao dispositivo.

Ressalte-se que a alínea “c” também, à semelhança da “b”, excepciona o critério territorial, para aplicar o critério
sanguíneo em conjunto com outros elementos, nesse caso: registro consular (na primeira parte) ou residência e
opção (na segunda parte).

5. AQUISIÇÃO DE NACIONALIDADE DERIVADA

A naturalização permite ao estrangeiro que detém outra nacionalidade, ou ao apátrida (que não tem nenhuma), a
aquisição da nacionalidade brasileira, na forma do art. 12, II, “a” e “b” e ainda de acordo com a Lei de Migração (Lei
13.445/17)* . Pode-se dizer, com isso, que as hipóteses de aquisição de nacionalidade secundária não se esgotam
completamente na Constituição Federal. Como a naturalização no Brasil decorre de uma manifestação da vontade,
podemos dizer que hoje não há naturalização tácita ou por decurso de prazo.
A naturalização tácita ou por decurso de prazo já foi adotada no país na Constituição de 1891, cujo art. 69, item 4,
considerava cidadãos brasileiros “os estrangeiros, que achando-se no Brasil aos 15 de novembro de 1889, não
declararem, dentro em seis meses depois de entrar em vigor a Constituição, o ânimo de conservar a nacionalidade
de origem”. Para alguns, essa naturalização ficou conhecida como “a grande naturalização”.

Em sede constitucional, encontramos duas situações de aquisição de nacionalidade derivada:

Art. 12. São brasileiros:

II – Naturalizados:

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a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portu-
guesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos
ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

a) Naturalização ordinária: para os originários de países da língua portuguesa (Angola, Açores, Portugal, Cabo
Verde, Moçambique etc.), de acordo com o art. 12, II, “a”, é exigida a residência por um ano ininterrupto no Brasil
e idoneidade moral e, para os demais estrangeiros, as exigências estão na Lei de Migração, arts. 65 e 66 (ou, como
diz o texto, na “forma da lei”). Apesar dos requisitos necessários para a aquisição da nacionalidade brasileira dos
originários de países de língua portuguesa serem fixados pela Constituição, a natureza do ato administrativo de
concessão do pedido é discricionário do Poder Executivo federal.
b) Naturalização extraordinária ou quinzenária: na forma do art. 12, II, “b”, serão também brasileiros naturalizados:
“os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos
ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira”. Originariamente o prazo
de residência exigido era de 30 (trinta) anos, e foi reduzido pela metade com a ER no 03/94. Nesse caso, o Ministro
da Justiça não pode fazer um juízo de conveniência e oportunidade sobre o deferimento da naturalização extraor-
dinária. Preenchidos os requisitos acima mencionados, surge o direito público subjetivo à naturalização, sendo,
portanto, um ato vinculado.

A Lei de Migração trouxe a naturalização extraordinária em seu art. 67, dispondo que: “A naturalização extraordinária
será concedida a pessoa de qualquer nacionalidade fixada no Brasil há mais de 15 (quinze) anos ininterruptos e
sem condenação penal, desde que requeira a nacionalidade brasileira.”

Além das duas situações de aquisição de nacionalidade derivada elencadas pela Constituição Federal e também
pela Lei de Migração, acima vistas, passaremos a analisar mais duas hipóteses contempladas apenas pela última.
Quais sejam: a naturalização especial e a naturalização provisória.

a) Naturalização especial: na forma do art. 68 da Lei de Migração, tal espécie de naturalização poderá ser concedida
ao estrangeiro que seja cônjuge ou companheiro, há mais de 5 (cinco) anos, de integrante do Serviço Exterior
Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do Estado brasileiro no exterior, ou que seja ou tenha sido empregado
em missão diplomática ou em repartição consular do Brasil por mais de 10 (dez) anos ininterruptos. Para que seja
concedida a naturalização é necessário o cumprimento dos requisitos elencados no art. 69 da citada lei. (São requi-
sitos para a concessão da naturalização especial: I - ter capacidade civil, segundo a lei brasileira; II - comunicar-se
em língua portuguesa, consideradas as condições do naturalizando; e III - não possuir condenação penal ou estiver
reabilitado, nos termos da lei).

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b) Naturalização provisória: de acordo com o art. 70 da Lei de Migração, a naturalização provisória poderá ser
concedida ao migrante criança ou adolescente que tenha fixado residência em território nacional antes de completar
10 (dez) anos de idade e deverá ser requerida por intermédio de seu representante legal, podendo vir a ser conver-
tida em definitiva se o naturalizando expressamente assim o requerer no prazo de 2 (dois) anos após atingir a
maioridade. Os arts. 71 e 72 da referida lei tratam do pedido de naturalização provisória e demais providências.

6. TRATAMENTO DIFERENCIADO ENTRE BRASILEIROS

Como já vimos, os nossos nacionais originários são os brasileiros natos e os nacionais derivados são chamados
brasileiros naturalizados. Saliente-se, entretanto, que quando a CF/88 dispõe sobre um direito ou um dever dos
“brasileiros”, está se referindo tanto aos natos quanto aos naturalizados, e essa é a regra geral, em nome do princípio
da igualdade e da não discriminação. Os nossos brasileiros, seja em razão de vínculo originário ou de vínculo
secundário, são nacionais, e em direitos e obrigações devem ser tratados da forma mais equânime possível.
Na forma do art. 12, § 2o, em nome do princípio da igualdade, somente a Constituição pode estabelecer tratamento
diferenciado entre seus brasileiros, como o faz em alguns dispositivos legais, a seguir relembrados.

a) Quanto aos cargos

Na forma do art. 12, § 3o:


São privativos de brasileiros natos os cargos:

I – de Presidente e Vice-Presidente da República;


II – de Presidente da Câmara dos Deputados;
III – de Presidente do Senado Federal;
IV – de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V – da carreira diplomática;
VI – de oficial das Forças Armadas;
VII – de Ministro de Estado da Defesa.

Como esse rol é taxativo, nada impede, portanto, que um brasileiro naturalizado concorra a cargo na Câmara dos
Deputados ou no Senado Federal, não podendo apenas ser eleito Presidente das duas Casas. Da mesma maneira,
Governadores de Estado e Prefeitos podem ser brasileiros naturalizados, por inexistir proibição constitucional que
os impeça de exercer tais cargos.

b) Quanto à composição no Conselho da República, na vaga de cidadão


De acordo com o art. 89, VII, a representação direta do povo no Conselho da República também é privativa de
brasileiros natos:

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VII – seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente
da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de
três anos, vedada a recondução.

Ressalte-se que nem todo membro do Conselho da República é brasileiro nato (líderes da maioria e da minoria das
Casas Legislativas, por exemplo), mas, na forma do dispositivo citado, a participação do povo no Conselho só pode
ser preenchida por brasileiro nato.

c) Quanto à extradição
Nos termos do art. 5°, LI, não haverá extradição passiva de brasileiro nato:

LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da natura-
lização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei.
Conforme orientação do STF, o brasileiro nato que possui dupla nacionalidade também não poderá ser extraditado.

Importante destacar que se o brasileiro nato vem a perder a sua nacionalidade originária por ter adquirido volunta-
riamente, por meio de processo de naturalização, outra nacionalidade (hipótese em que não incide o disposto no
art. 12, § 4º, II, alienas “a” e “b” da CRFB/88), poderá vir a sofrer extradição, pois terá havido a renúncia à naciona-
lidade brasileira diante da adoção de outra cidadania, hipótese autorizadora da decisão pela extradição.

Por fim, de acordo com o entendimento do STF na Súmula no 421, não impede a extradição a circunstância de ser
o extraditado casado com brasileira ou ter filho brasileiro.

d) Quanto à propriedade

Ainda na forma do art. 222:

“a propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos
ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham
sede no País”.

De acordo com o dispositivo acima, a Constituição de 1988 apresenta uma clara preocupação com a influência da
mídia como formadora de opinião e exige que os nacionais derivados comprovem pelo menos dez anos de natura-
lização.

7.PERDA DA NACIONALIDADE

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De acordo com a orientação jurisprudencial, as hipóteses de perda da nacionalidade estão taxativamente previstas
na Constituição Federal, não podendo, portanto, a legislação infraconstitucional ampliar as hipóteses de restrição
ao importante direito fundamental à nacionalidade.

Ressalta-se que o texto constitucional não consagra a possibilidade de renúncia à nacionalidade brasileira, não
sendo, portanto, a mesma admitida.

Assim dispõe o art. 12, § 4o:

Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:

I – tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
II – adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:

a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;


b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como
condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.

7.1. Perda-sanção ou Punição: Brasileiros Naturalizados

O art. 12, § 4o, I, destaca que o brasileiro naturalizado, depois de enfrentar uma ação de cancelamento de natura-
lização transitada em julgado, terá declarada judicialmente a perda de sua nacionalidade brasileira. Como a perda
ocorreu em razão da prática de ato nocivo ao interesse nacional, pode ser denominada perda-sanção, ou perda--
punição.

A ação de cancelamento de naturalização é ajuizada pelo Ministério Público Federal perante a Justiça Federal, na
forma do art. 109, X, da CRFB/88, garantidas a ampla defesa e o contraditório. Após declarada a perda, o ex-
brasileiro não poderá enfrentar novo processo administrativo para aquisição de nacionalidade brasileira. É possível,
entretanto, que o cancelamento da naturalização seja desfeito via ação rescisória.

7.2. Perda-mudança: Brasileiros Natos e Naturalizados

O art. 12, § 4°, II, traz a hipótese de perda de nacionalidade administrativa para o brasileiro nato ou naturalizado
que optar pela aquisição voluntária de outra nacionalidade, como reconhecido pelo STF e já citado em tópico acima.
A doutrina entende que o dispositivo trata de uma perda-mudança, porque não há punição ao brasileiro.

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A Constituição consagra ainda a possibilidade de dupla nacionalidade, em que não haverá perda de nacionalidade
do brasileiro, nos casos de

a) reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; ou b) imposição de naturalização, pela norma
estrangeira, ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou
para o exercício de direitos civis.

A primeira situação é muito comum num país que recebeu tantos imigrantes como o nosso. Por meio desta exceção,
filhos ou netos (dependendo da legislação estrangeira) de estrangeiros, nascidos no Brasil, serão brasileiros natos,
ainda que possuam o reconhecimento de sua nacionalidade originária por outro país. Na segunda situação, brasi-
leiros que sejam obrigados a se naturalizar, por força de casamento, trabalho, herança, ou como condição de per-
manência, manterão intacta a nacionalidade brasileira. É o que frequentemente ocorre com os jogadores de futebol,
que, para jogarem nos clubes europeus, têm de se naturalizar no país dos clubes.

Segundo José Afonso da Silva, em caso de reaquisição de nacionalidade brasileira, mediante processo administra-
tivo, o readquirente recupera a condição que perdera: se era brasileiro nato, voltará a ser brasileiro nato; se natu-
ralizado, retomará essa qualidade.
O art. 76 da Lei de Migração preceitua que o brasileiro que houver perdido a nacionalidade nos termos do art. 12,
§ 4°, II da CRFB/88, uma vez cessada a causa, poderá readquiri-la ou ter o ato que declarou a perda revogado, na
forma definida pelo órgão competente do Poder Executivo.

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