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POVO:

É um conjunto de pessoas que se unem para constituir um Estado, criando um vínculo


jurídico-político de natureza permanente.

População: expressão numérica, conjunto de pessoas que vivem num Estado, incluindo-
se nacionais e estrangeiros. Revela-se conceito lato por incluir estrangeiros domiciliados
no Estado ou que aí possuem sua principal residência, mas restringe por desconsiderar
os nacionais instalados no estrangeiro que escolheram continuar a participar na vida
política do seu Estado de origem.

Cidadania não é sinônimo de nacionalidade, pois decorre do fato de um indivíduo


ser nacional de determinado país.
b.1) A NACIONALIDADE:

Conceitos:
Alain Pellet aponta que a nacionalidade cria uma fidelidade pessoal do indivíduo para com o seu
Estado nacional, ela fundamenta a competência
pessoal do Estado, competência que o autoriza a exercer certos poderes sobre os seus
nacionais onde quer que se encontrem.

1
> NACIONALIDADE, conforme acredita a maioria dos doutrinadores, é O
VÍNCULO JURÍDICO-POLÍTICO QUE RELACIONA O INDIVÍDUO AO
ESTADO.
> NATURALIDADE revela um vínculo material-geográfico, pois nem
sempre são naturais do Brasil aqueles que possuem nacionalidade brasileira.
>CIDADANIA por sua vez, implica em exercício de direitos políticos de determinado povo.
Cada Estado determina por conta própria e dentro dos limites do Direito Internacional, as condições de aquisição ou perda
de nacionalidade.

A competência para legislar sobre nacionalidade é exclusiva do próprio Estado, sendo incontroversa a total
impossibilidade de ingerência normativa de direito estrangeiro. Isto é, competente para conceder a nacionalidade aos
indivíduos é o direito positivo de cada Estado tal como a competência para retirar a nacionalidade.

b.1.1) NACIONALIDADE ORIGINÁRIA:

CONCEITO: É aquela preexistente, própria do indivíduo, ou melhor, natalícia. Também conhecida por
nacionalidade primária, possui dois critérios atributivos conhecidos doutrinariamente, sendo estes o
jus soli e o jus sanguinis. Há no entanto, o chamado critério misto que entremeia ambos para
determinar a nacionalidade do indivíduo.

Jus sanguinis ou direito de sangue é aquele oriundo de parentesco, sendo a nacionalidade obtida de
acordo com a dos pais, à época do nascimento. Via de regra, sendo a nacionalidade obtida de acordo com
a filiação e se os pais pertencerem a nações diversas, prevalecerá a do pai, mas quando esse for
desconhecido a nacionalidade do filho seguirá a da mãe. No caso de ambos os pais desconhecidos, o jus
sanguinis não poderá ser adotado, optando-se então para outro critério.
O direito do solo ou jus soli por sua vez, teve origem ainda no Feudalismo, dada a importância da terra ou do solo para aquele modo de
produção. Sabe-se que foi abolido na França e renasceu nos Estados Unidos da América, face a necessidade de reintegrar os imigrantes à
nova nacionalidade para fortalecer o país. Neste critério a nacionalidade é estabelecida pelo lugar do nascimento, obtida em virtude do
território berço do nascimento.

CRITÉRIO MISTO: Válido ressaltar que esses critérios também são adotados de forma flexível, ocasionando o surgimento do critério misto, no
qual um se adapta ao outro, conforme a legislação de cada país.
O Brasil adota como regra o jus soli;

O jus sanguinis entra como exceção ao primeiro em alguns casos, entretanto aparece não de forma pura, mas conjugado a certos
requisitos constitucionais. Segue o dispositivo constitucional pertinente:

NACIONALIDADE NA CONSTITUIÇÃO

Art. 12. São brasileiros:


I - NATOS:
A)OS NASCIDOS NA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, AINDA QUE DE PAIS ESTRANGEIROS, DESDE QUE ESTES NÃO
ESTEJAM A SERVIÇO DE SEU PAÍS;
B)OS NASCIDOS NO ESTRANGEIRO, DE PAI BRASILEIRO OU MÃE
BRASILEIRA, DESDE QUE QUALQUER DELES ESTEJA A SERVIÇO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL;
C)OS NASCIDOS NO ESTRANGEIRO DE PAI BRASILEIRO OU DE MÃE BRASILEIRA, DESDE QUE SEJAM REGISTRADOS EM
REPARTIÇÃO BRASILEIRA COMPETENTE OU VENHAM A RESIDIR NA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E OPTEM, EM
QUALQUER TEMPO, DEPOIS DE ATINGIDA A MAIORIDADE, PELA NACIONALIDADE BRASILEIRA; (REDAÇÃO DADA PELA EMENDA
CONSTITUCIONAL Nº 54, DE 2007)
b.1.2) NACIONALIDADE DERIVADA OU ADQUIRIDA:
O indivíduo pode adquirir uma nacionalidade diferente daquela que ele tem pelo
nascimento, por diversos modos: benefício da lei; casamento; naturalização; jus laboris; jus
domicili.

A nacionalidade derivada poderá ser posterior e livremente escolhida; é aquela adquirida,


obtida ou secundária, podendo ser identificada através do fenômeno da naturalização.
Para que o Estado conceda a naturalização, além da vontade daquele que busca outra
nacionalidade, influem o jus domicili e o jus laboris.

A naturalização é forma derivada de aquisição da nacionalidade. A sua concessão, via de


regra é feita discricionariamente pelo Estado, conforme suas conveniências. Logo, a
naturalização é um ato unilateral e discricionário do Estado no exercício de sua soberania.
Estado algum não pode conferir nacionalidade de outra nação soberana, tampouco ter
como nacional, indivíduo ao qual não lhe conferiu nacionalidade utilizando da sua
soberania.
A concessão da nacionalidade brasileira está inteiramente submetida à discricionariedade
do Poder Público brasileiro, dentro dos critérios de conveniência e oportunidade, segundo
límpida lição de Francisco Xavier da Silva Guimarães, e do Ministro Celso de Mello, para
quem "a concessão da naturalização é faculdade exclusiva do Poder Executivo. A
satisfação das condições, exigências e requisitos legais não assegura ao estrangeiro
direito à naturalização. A outorga da nacionalidade brasileira, secundária a um
estrangeiro, constitui manifestação de soberania nacional".

No Brasil a Constituição dispõe:


ART. 12
II – NATURALIZADOS:

A) OS QUE, NA FORMA DA LEI, ADQUIRAM A NACIONALIDADE BRASILEIRA,


EXIGIDAS AOS ORIGINÁRIOS DE PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA APENAS
RESIDÊNCIA POR UM ANO ININTERRUPTO E IDONEIDADE MORAL;
B) OS ESTRANGEIROS DE QUALQUER NACIONALIDADE, RESIDENTES NA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL HÁ MAIS DE QUINZE ANOS ININTERRUPTOS E SEM CONDENAÇÃO
PENAL, DESDE QUE REQUEIRAM A NACIONALIDADE BRASILEIRA. (Redação dada pela
Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994, sendo o prazo anterior de 30 anos).

As exigências são apenas três: residência ininterrupta no Brasil há mais de quinze anos,
ausência de condenação penal definitiva no Brasil e requerimento.

:
A CONSTITUIÇÃO AINDA EM SEU ARTIGO 12 APONTA QUE:

§ 1º AOS PORTUGUESES COM RESIDÊNCIA PERMANENTE NO PAÍS, SE HOUVER


RECIPROCIDADE EM FAVOR DE BRASILEIROS, SERÃO ATRIBUÍDOS OS DIREITOS INERENTES
AO BRASILEIRO, SALVO OS CASOS PREVISTOS NESTA CONSTITUIÇÃO.

§ 2º A LEI NÃO PODERÁ ESTABELECER DISTINÇÃO ENTRE BRASILEIROS NATOS E


NATURALIZADOS, SALVO NOS CASOS PREVISTOS NESTA CONSTITUIÇÃO.

§ 3º SÃO PRIVATIVOS DE BRASILEIRO NATO OS CARGOS: I - DE PRESIDENTE E VICE-


PRESIDENTE DA REPÚBLICA;
II - DE PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS; III - DE PRESIDENTE DO SENADO
FEDERAL;
IV.- DE MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL;
V.- DA CARREIRA DIPLOMÁTICA; :
VI.- DE OFICIAL DAS FORÇAS ARMADAS.
VII.- DE MINISTRO DE ESTADO DA DEFESA
(INCLUÍDO PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 23, DE 1999)
B.1.3) PERDA OU REAQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE
É possível a perda da nacionalidade brasileira, tal como se vê na Constituição Federal
(art. 12):

§ 4º SERÁ DECLARADA A PERDA DA NACIONALIDADE DO BRASILEIRO QUE:


I.TIVER CANCELADA A SUA NATURALIZAÇÃO, POR SENTENÇA JUDICIAL, EM
VIRTUDE DE ATIVIDADE NOCIVA AO INTERESSE NACIONAL;
II.ADQUIRIR OUTRA NACIONALIDADE, SALVO NOS CASOS:
A)DE RECONHECIMENTO DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA PELA LEI
ESTRANGEIRA;
B)DE IMPOSIÇÃO DE NATURALIZAÇÃO, PELA NORMA ESTRANGEIRA, AO
BRASILEIRO RESIDENTE EM ESTADO ESTRANGEIRO, COMO CONDIÇÃO PARA
PERMANÊNCIA EM SEU TERRITÓRIO OU PARA O EXERCÍCIO DE DIREITOS
CIVIS.

Comentário:

A AQUISIÇÃO VOLUNTÁRIA DE OUTRA NACIONALIDADE POR UM BRASILEIRO


CONDUZ, COMO REGRA, À PERDA DA SUA NACIONALIDADE BRASILEIRA.
Somente duas exceções são admitidas:

a)Primeira, no caso de a lei estrangeira reconhecer ao brasileiro em


determinadas condições determinada nacionalidade estrangeira, como é o
caso da Itália, que reconhece aos descendentes de italianos nascidos no
Brasil a condição de italianos. É caso de acumulação de nacionalidade, ou
dupla nacionalidade, constitucionalmente amparado.
b)Segunda e última, quando a lei estrangeira impuser ao brasileiro a obrigação
de naturalizar-se, para que naquele país possa permanecer ou mesmo exercer
direitos civis, como trabalhar, alugar imóvel, ter conta em banco, etc.
Em consequência da Emenda Constitucional de revisão nº3, de 09/06/94, não são mais passíveis de perder a
nacionalidade brasileira aqueles cidadãos que adquirirem outra nacionalidade em conseqüência de imposição
de naturalização pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para
permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.

7 – CONDIÇÃO JURÍDICA DO ESTRANGEIRO

Lei de Migração (Lei 13.445/2017) https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2017/09/lei-de-


migrac3a7c3a3o- resumo.pdf

1. NOÇÕES GERAIS

Do que trata a Lei


A Lei nº 13.445/2017 (Lei de Migração) trata sobre os seguintes assuntos:
• Dispõe sobre os direitos e os deveres do migrante e do visitante;
• Regula a entrada e estada no País dos migrantes e visitantes; e
•Estabelece princípios e diretrizes para as políticas públicas voltadas ao emigrante.

Mudança de paradigma
A Lei nº 13.445/2017 revoga o chamado Estatuto do Estrangeiro (Lei nº
6.815/80). Vale ressaltar que, além da revogação, existe uma verdadeira mudança de paradigma:

• Lei nº 6.815/80: como regra geral, VIA O ESTRANGEIRO COMO UMA


“AMEAÇA”, de forma que a regulamentação tinha como objetivo principal a proteção da segurança nacional, dos interesses do Brasil e dos
trabalhadores brasileiros (art. 2º). Aqui vigorava a chamada “doutrina da segurança nacional”.

•Lei nº 13.445/2017 tem como objetivo regular os direitos e os deveres do migrante e do visitante (art. 1º). Assim, o foco muda e a FINALIDADE
PRECÍPUA PASSA A SER A PROTEÇÃO DO MIGRANTE E DO VISITANTE, QUE SÃO ENCARADOS COMO SUJEITOS DE DIREITOS.

Migrante
Migrante é a pessoa que se desloca de país ou região geográfica ao território de outro país ou região geográfica. É um conceito genérico que abrange o
imigrante, o emigrante e o apátrida.

Imigrante
Imigrante é a pessoa nacional de outro país ou apátrida que trabalha ou reside e se estabelece temporária ou definitivamente no Brasil.
Ex: Benjamin é um haitiano que veio morar e trabalhar no Brasil.

Emigrante
Emigrante é o brasileiro que se estabelece temporária ou definitivamente no exterior. Ex: a atriz Sônia Braga é uma emigrante que foi morar e trabalhar
nos EUA.

Residente fronteiriço
Residente fronteiriço é a pessoa nacional de país limítrofe ou apátrida que conserva a sua residência habitual em município fronteiriço de país vizinho.
Ex: Juan, uruguaio, mora em Santana do Livramento (RS), cidade que faz fronteira com Rivera (Uruguai).

Visitante
Visitante é a pessoa nacional de outro país ou apátrida que vem ao Brasil para estadas de curta duração, sem pretensão de se estabelecer temporária
ou definitivamente no território nacional. Ex: Sean, cidadão norte-americano, veio ao Brasil para visitar o Rio de Janeiro e conhecer o carnaval carioca.
Apátrida
Apátrida é a pessoa que não seja considerada como nacional por nenhum Estado, segundo a sua
legislação, nos termos da Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo
Decreto nº 4.246, de 22 de maio de 2002, ou assim reconhecida pelo Estado brasileiro.

2. PRINCÍPIOS E GARANTIAS

Princípios da política migratória brasileira


A política migratória brasileira rege-se pelos seguintes princípios e diretrizes: I - universalidade, indivisibilidade e interdependência
dos direitos humanos;
II.- repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação;
III.- não criminalização da migração;
IV.- não discriminação em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos quais a pessoa foi admitida em território nacional;
V.- promoção de entrada regular e de regularização documental; VI - acolhida humanitária;
VII.- desenvolvimento econômico, turístico, social, cultural, esportivo, científico e tecnológico do Brasil;
VIII.- garantia do direito à reunião familiar;
IX.- igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus familiares;
X.- inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas;
XI.- acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e benefícios sociais, bens públicos, educação, assistência jurídica
integral pública, trabalho, moradia, serviço bancário e seguridade social
XII. - promoção e difusão de direitos, liberdades, garantias e obrigações do migrante
XIII.- diálogo social na formulação, na execução e na avaliação de políticas migratórias e promoção da participação cidadã do migrante;
XIV.- fortalecimento da integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, mediante constituição de espaços
de cidadania e de livre circulação de pessoas;

- cooperação internacional com Estados de origem, de trânsito e de


XV

destino de movimentos migratórios, a fim de garantir efetiva proteção aos direitos humanos do migrante;
XVI.- integração e desenvolvimento das regiões de fronteira e articulação de políticas públicas regionais capazes de garantir efetividade
aos direitos do residente fronteiriço;
XVII.- proteção integral e atenção ao superior interesse da criança e do adolescente migrante; XVIII - observância ao disposto em
tratado;
XIX - proteção ao brasileiro no exterior;

- migração e desenvolvimento humano no local de origem, como direitos


XX

inalienáveis de todas as pessoas;


XXI.- promoção do reconhecimento acadêmico e do exercício profissional no Brasil, nos termos da lei; e
XXII.- repúdio a práticas de expulsão ou de deportação coletivas.

FIQUE ATENTO AOS SEGUINTES PRINCÍPIOS:

• a migração não deve ser criminalizada;


• deverão ser promovidas práticas para assegurar a entrada regular dos migrantes
e a sua regularização documental;
• acolhida humanitária dos migrantes;
GARANTIAS DOS MIGRANTES

AO MIGRANTE É GARANTIDA NO TERRITÓRIO NACIONAL, EM CONDIÇÃO DE IGUALDADE COM OS NACIONAIS, A INVIOLABILIDADE


DO DIREITO À VIDA, À LIBERDADE, À IGUALDADE, À SEGURANÇA E À
PROPRIEDADE, bem como são assegurados:
I - direitos e liberdades civis, sociais, culturais e econômicos; II - direito à liberdade de circulação em território nacional;
III.- direito à reunião familiar do migrante com seu cônjuge ou companheiro e seus filhos, familiares e dependentes;
IV.- medidas de proteção a vítimas e testemunhas de crimes e de violações
de direitos;
V.- direito de transferir recursos decorrentes de sua renda e economias pessoais a outro país, observada a legislação aplicável;
VI.- direito de reunião para fins pacíficos;
VII.- direito de associação, inclusive sindical, para fins lícitos;
VIII.- acesso a serviços públicos de saúde e de assistência social e à previdência social, nos termos da lei, sem discriminação em razão da
nacionalidade e da condição migratória;
IX.- amplo acesso à justiça e à assistência jurídica integral gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;
X. - direito à educação pública, vedada a discriminação em razão da
nacionalidade e da condição migratória;
XI.- garantia de cumprimento de obrigações legais e contratuais trabalhistas e
de aplicação das normas de proteção ao trabalhador, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória;
XII.- isenção das taxas de que trata esta Lei, mediante declaração de hipossuficiência econômica, na forma de regulamento;
XIII.- direito de acesso à informação e garantia de confidencialidade quanto aos dados pessoais do migrante, nos termos da Lei nº 12.527, de 18
de novembro de 2011;
XIV.- direito a abertura de conta bancária;
XV.- direito de sair, de permanecer e de reingressar em território nacional, mesmo enquanto pendente pedido de autorização de residência, de
prorrogação de estada ou de transformação de visto em autorização de residência; e
XVI - direito do imigrante de ser informado sobre as garantias que lhe são asseguradas para fins de regularização migratória.
Obs: todas essas garantias são aplicáveis ao apátrida residente no Brasil.

3. SITUAÇÃO DOCUMENTAL DO MIGRANTE E DO VISITANTE

Documentos de viagem
São documentos de viagem:
I.- PASSAPORTE;

II.- LAISSEZ-PASSER;
III.- AUTORIZAÇÃO DE RETORNO; IV - SALVO-CONDUTO;
V - CARTEIRA DE IDENTIDADE DE MARÍTIMO; VI - CARTEIRA DE MATRÍCULA CONSULAR;
VII - DOCUMENTO DE IDENTIDADE CIVIL OU DOCUMENTO ESTRANGEIRO EQUIVALENTE, QUANDO
ADMITIDOS EM TRATADO;
VII - CERTIFICADO DE MEMBRO DE TRIPULAÇÃO DE TRANSPORTE AÉREO; E
IX - OUTROS QUE VIEREM A SER RECONHECIDOS PELO ESTADO BRASILEIRO EM REGULAMENTO.

Obs1: esse rol de documentos de viagem é exemplificativo.


Obs2: os documentos previstos nos incisos I, II, III, IV, V, VI e IX, quando emitidos pelo Estado brasileiro, são de propriedade da União, cabendo
a seu titular a posse direta e o uso regular.

O que é o visto?
O visto é o documento que dá a seu titular expectativa de ingresso em território nacional.

Quem concede o visto?


O visto será concedido por embaixadas, consulados-gerais, consulados, vice-
consulados e, quando habilitados pelo órgão competente do Poder Executivo, por escritórios comerciais e de
representação do Brasil no exterior.
Excepcionalmente, os vistos diplomático, oficial e de cortesia poderão ser concedidos no Brasil.

Vedações quanto à concessão de visto


NÃO SE CONCEDERÁ VISTO:
I. - A QUEM NÃO PREENCHER OS REQUISITOS;
II.- A QUEM COMPROVADAMENTE OCULTAR CONDIÇÃO IMPEDITIVA DE CONCESSÃO DE VISTO OU DE
INGRESSO NO PAÍS; OU
III.- A MENOR DE 18 (DEZOITO) ANOS DESACOMPANHADO OU SEM AUTORIZAÇÃO DE VIAGEM POR
ESCRITO DOS RESPONSÁVEIS LEGAIS OU DE AUTORIDADE COMPETENTE.

Poderá ser denegado visto a quem se enquadrar em pelo menos um dos casos de impedimento definidos nos incisos
I, II, III, IV e IX do art. 45.
Art. 45. Poderá ser impedida de ingressar no País, após entrevista individual e mediante ato fundamentado, a pessoa:
I.- anteriormente expulsa do País, enquanto os efeitos da expulsão vigorarem;
II.- condenada ou respondendo a processo por ato de terrorismo ou por crime de genocídio, crime contra a humanidade,
crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de
1998, promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002;
III.- condenada ou respondendo a processo em outro país por crime doloso passível de extradição segundo a lei brasileira;
IV.- que tenha o nome incluído em lista de restrições por ordem judicial ou por compromisso assumido pelo Brasil
perante organismo internacional;
(...)
IX - que tenha praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal.

A pessoa que tiver visto brasileiro denegado será impedida de ingressar no País enquanto permanecerem as
condições que ensejaram a denegação.
TIPOS DE VISTO

Ao solicitante que pretenda ingressar ou permanecer no Brasil poderá ser concedido visto:
I.- DE VISITA;
II.- TEMPORÁRIO; III - DIPLOMÁTICO; IV - OFICIAL;
V - DE CORTESIA.

I- Visto DE VISITA
O visto de visita poderá ser concedido ao visitante que venha ao Brasil para estada de curta duração, sem intenção de estabelecer residência, nos seguintes casos:
I.- turismo;
II.- negócios;
III.- trânsito;
IV.- atividades artísticas ou desportivas; e
V.- outras hipóteses definidas em regulamento.

ATENÇÃO: É vedado ao beneficiário de visto de visita exercer atividade remunerada no Brasil.


Vale ressaltar, no entanto, que o beneficiário de visto de visita poderá receber
pagamento do governo, de empregador brasileiro ou de entidade privada a título de diária, ajuda de custo, cachê, pró-labore ou outras despesas com a viagem, bem como
concorrer a prêmios, inclusive em dinheiro, em competições desportivas ou em concursos artísticos ou culturais.
O visto de visita não será exigido em caso de escala ou conexão em território nacional, desde que o visitante não deixe a área de trânsito internacional.

II - Visto TEMPORÁRIO
O visto temporário é concedido ao imigrante que venha ao Brasil com o intuito de estabelecer residência por tempo determinado e que tenha uma das
seguintes finalidades:

1) Pesquisa, ensino ou extensão acadêmica;


2) Tratamento de saúde;
Obs: poderá ser concedido ao imigrante e a seu acompanhante, desde que o imigrante comprove possuir meios de subsistência
suficientes.
3) ACOLHIDA HUMANITÁRIA;
Poderá ser concedido ao:
• apátrida ou
• ao nacional de qualquer país em situação de grave ou iminente instabilidade institucional, de conflito
armado, de calamidade de grande proporção, de desastre ambiental ou de grave violação de direitos
humanos ou de direito internacional humanitário, ou em outras hipóteses, na forma de regulamento.

4) Estudo;
Poderá ser concedido ao imigrante que pretenda vir ao Brasil para frequentar curso regular ou realizar estágio ou intercâmbio de estudo ou de pesquisa.

5) Trabalho;
Poderá ser concedido ao imigrante que venha exercer atividade laboral,
com ou sem vínculo empregatício no Brasil, desde que comprove oferta de trabalho formalizada por pessoa jurídica em atividade no País, dispensada
esta exigência se o imigrante comprovar titulação em curso de ensino superior ou equivalente. Não se exigirá do marítimo que ingressar no Brasil em viagem de
longo curso ou em cruzeiros marítimos pela costa brasileira o visto temporário de trabalho, bastando a apresentação da carteira internacional de marítimo.
É reconhecida ao imigrante a quem se tenha concedido visto temporário
para trabalho a possibilidade de modificação do local de exercício de sua atividade laboral.

6) Férias-trabalho;
Poderá ser concedido ao imigrante maior de 16 anos que seja nacional de país
que conceda idêntico benefício ao nacional brasileiro, em termos definidos por comunicação diplomática.

7) Atividade religiosa ou serviço voluntário;


8)Realização de investimento ou de atividade com relevância econômica, social, científica, tecnológica ou
cultural; O visto para realização de investimento poderá ser concedido ao imigrante que aporte recursos
em projeto com potencial para geração de empregos ou de renda no País.

9) Reunião familiar;

10) Atividades artísticas ou desportivas com contrato por prazo determinado.

III e IV - Vistos DIPLOMÁTICO e OFICIAL


Os vistos diplomático e oficial poderão ser concedidos a autoridades e funcionários estrangeiros que
viajem ao Brasil em missão oficial de caráter transitório ou permanente, representando Estado
estrangeiro ou organismo internacional reconhecido.
Os vistos diplomático e oficial poderão ser estendidos aos dependentes das autoridades.
O titular de visto diplomático ou oficial somente poderá ser remunerado por Estado estrangeiro ou
organismo internacional, ressalvado o disposto em tratado que contenha cláusula específica sobre o
assunto. Atenção! Não se aplica ao titular dos vistos diplomático e oficial o disposto na legislação
trabalhista brasileira. O dependente de titular de visto diplomático ou oficial poderá exercer atividade
remunerada no Brasil, sob o amparo da legislação trabalhista brasileira, desde que seja
nacional de país que assegure reciprocidade de tratamento ao nacional brasileiro, por
Os vistos diplomático e oficial poderão ser transformados em autorização de
comunicação diplomática.
residência, o
que importará cessação de todas as prerrogativas, privilégios e imunidades
V - Visto DE CORTESIA decorrentes do respectivo visto.
O empregado particular titular de visto de cortesia somente poderá exercer

atividade remunerada para o titular de visto diplomático, oficial ou de cortesia ao qual


esteja vinculado, sob o amparo da legislação trabalhista brasileira.
O titular de visto diplomático, oficial ou de cortesia será responsável pela saída de seu
empregado do território nacional.
Identificação do detentor de visto temporário ou de autorização de residência
O registro consiste na identificação civil por dados biográficos e biométricos, e é obrigatório a todo imigrante detentor de visto temporário ou de
autorização de residência.
O registro gerará número único de identificação que garantirá o pleno exercício dos atos da vida civil. O documento de identidade do imigrante será
expedido com base no número único de identificação.
Enquanto não for expedida identificação civil, o documento comprobatório de que o imigrante a solicitou à autoridade competente garantirá ao titular o
acesso aos direitos.
• RESIDENTE FRONTEIRIÇO

• Autorização para atos da vida civil


• A fim de facilitar a sua livre circulação, poderá ser concedida ao residente fronteiriço, mediante requerimento, autorização para a
realização de atos da vida civil.
• Essa autorização deverá indicar o Município fronteiriço no qual o residente estará autorizado a exercer os seus direitos.
• O espaço geográfico de abrangência e de validade da autorização será
• especificado no documento de residente fronteiriço.
• O residente fronteiriço detentor da autorização gozará das garantias e dos direitos assegurados pelo regime geral de migração.

• Cancelamento do documento de residente fronteiriço


• O documento de residente fronteiriço será cancelado se o titular:
• I - tiver fraudado documento ou utilizado documento falso para obtê-lo; II - obtiver outra condição migratória;
III.- sofrer condenação penal; ou
IV.- exercer direito fora dos limites previstos na autorização.
5. PROTEÇÃO JURÍDICA DO APÁTRIDA

Reconhecimento da condição de apátrida


O processo de reconhecimento da condição de apátrida tem como objetivo verificar se o solicitante é considerado nacional pela legislação de algum Estado
e poderá considerar informações, documentos e declarações prestadas pelo próprio solicitante e por órgãos e organismos nacionais e internacionais.
Durante a tramitação do processo de reconhecimento da condição de apátrida, o solicitante terá todas as garantias e proteções previstas:
•na Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas de 1954 (Decreto nº 4.246/2002)
•na Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados (Decreto nº 50.215/61) e
• na Lei nº 9.474/97 (Estatuto dos Refugiados).
O solicitante poderá ingressar com recurso administrativo contra a decisão que não reconhecer sua condição de apátrida.
O indivíduo que não for reconhecido como apátrida não poderá ser devolvido para país onde sua vida, integridade pessoal ou liberdade estejam em risco.

PONTO IMPORTANTE

Processo simplificado de naturalização

Reconhecida a condição de apátrida, o solicitante será consultado sobre o desejo de adquirir a


nacionalidade brasileira.
A Lei nº 13.445/2017 prevê que deverá ser assegurado ao apátrida um processo simplificado de naturalização. Esse instituto
protetivo especial do apátrida deverá ser disciplinado por meio de regulamento (decreto, portaria do Ministério da Justiça etc).
Além disso, será reconhecido o direito de reunião familiar do indivíduo considerado apátrida.

Se o apátrida quiser adquirir a nacionalidade brasileira


Caso o apátrida opte pela naturalização, a decisão sobre o reconhecimento será
encaminhada ao órgão competente do Poder Executivo para publicação dos atos
necessários à efetivação da naturalização no prazo de 30 dias, desde que ele cumpra os
requisitos previstos para a naturalização ordinária (art. 65 da Lei nº 13.445/2017).
Se o apátrida não quiser adquirir a nacionalidade brasileira
O apátrida reconhecido que não opte pela naturalização imediata terá a autorização de residência outorgada em
caráter definitivo.

Perda da proteção como apátrida

O apátrida perderá a proteção conferida pela Lei nº 13.445/2017 nos seguintes


casos: I - renúncia;
II - prova da falsidade dos fundamentos invocados para o reconhecimento da condição de apátrida; ou III - existência de fatos que, se
fossem conhecidos por ocasião do reconhecimento, teriam ensejado decisão negativa.

6. ASILADO

Ato discricionário
O asilo político é um instrumento de proteção à pessoa, sendo, no entanto, um ato discricionário do Estado.

Espécies
O asilo poderá ser de duas espécies:
a) diplomático; ou
b) territorial.

Vedação ao asilo
Não se concederá asilo a quem tenha cometido:
• crime de genocídio;
• crime contra a humanidade;
• crime de guerra; ou
• crime de agressão

Tal vedação se dá nos termos do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo
Decreto nº 4.388/2002.
Saída do asilado sem
autorização

A saída do asilado do País sem prévia


comunicação implica renúncia ao asilo
Refúgio, asilo ou apatridia

O solicitante de refúgio, de asilo ou de proteção ao


apátrida fará jus a autorização provisória de
residência até a obtenção de resposta ao seu
pedido.
7. REUNIÃO FAMILIAR

O visto ou a autorização de residência para fins de reunião familiar será concedido ao imigrante:
I.- cônjuge ou companheiro, sem discriminação alguma;
II.- filho de imigrante beneficiário de autorização de residência, ou que tenha filho brasileiro ou
imigrante beneficiário de autorização de residência;
III.- ascendente, descendente até o segundo grau ou irmão de brasileiro ou de imigrante
beneficiário de autorização de residência; ou
IV.- que tenha brasileiro sob sua tutela ou guarda.
MEDIDAS DE RETIRADA COMPULSÓRIA

1. NOÇÕES GERAIS
A repatriação, a deportação e a expulsão serão feitas para o país de
nacionalidade ou de procedência do migrante ou do visitante, ou para outro que o
aceite, em observância aos tratados dos quais o Brasil seja parte.
Nos casos de deportação ou expulsão, o chefe da unidade da Polícia Federal
poderá representar perante o juízo federal, respeitados, nos procedimentos
judiciais, os direitos à ampla defesa e ao devido processo legal.

É proibida a repatriação, a deportação ou a expulsão coletivas


Não se procederá à repatriação, à deportação ou à expulsão coletivas.
Entende-se por repatriação, deportação ou expulsão coletiva aquela que não individualiza a situação
migratória irregular de cada pessoa.

Risco à vida ou à integridade pessoal


Não se procederá à repatriação, à deportação ou à expulsão de nenhum indivíduo quando
subsistirem razões para acreditar que a medida poderá colocar em risco a vida ou a integridade
pessoal.
8.2 REPATRIAÇÃO

Em que consiste
A repatriação consiste em medida administrativa de devolução de pessoa em situação de impedimento ao
país de procedência ou de nacionalidade.
Será feita imediata comunicação do ato fundamentado de repatriação à
empresa transportadora e à autoridade consular do país de procedência ou de nacionalidade do migrante ou
do visitante, ou a quem o representa.

Proibição de repatriação
Não será aplicada medida de repatriação à pessoa em situação de refúgio ou
de apatridia, de fato ou de direito, ao menor de 18 anos desacompanhado ou separado de sua família, exceto
nos casos em que se demonstrar favorável para a garantia de seus direitos ou para a reintegração a sua
família de origem, ou a quem necessite de acolhimento humanitário, nem, em qualquer caso, medida de
devolução para país ou região que possa apresentar risco à vida, à integridade pessoal ou à liberdade da
pessoa.
8.3 DEPORTAÇÃO

Em que consiste

A deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na retirada compulsória de pessoa que se encontre em situação migratória
irregular em território nacional

PONTO IMPORTANTE A deportação será precedida de notificação pessoal ao deportando, da qual constem,
expressamente, as irregularidades verificadas e prazo para a regularização não inferior a 60 dias, podendo ser prorrogado, por igual
período, por despacho fundamentado e mediante compromisso de a pessoa manter atualizadas suas informações domiciliares.

Essa notificação não impede a livre circulação em território nacional, devendo o deportando informar seu domicílio e
suas atividades.
Vencido o prazo de 60 dias sem que se regularize a situação migratória, a deportação poderá ser executada. A
deportação não exclui eventuais direitos adquiridos em relações contratuais ou decorrentes da lei brasileira.
A saída voluntária de pessoa notificada para deixar o País equivale ao cumprimento da notificação de deportação
para todos os fins.
O prazo de 60 dias poderá ser reduzido nos casos em que a pessoa tenha
praticado ato contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal.

Contraditório e ampla defesa


Os procedimentos realizados com objetivo de deportação devem respeitar o contraditório e a ampla defesa e a
garantia de recurso com efeito suspensivo.

Participação da DPU A Defensoria Pública da União deverá ser notificada, preferencialmente por meio eletrônico, para
prestar assistência ao deportando em todos os procedimentos administrativos de deportação. A ausência de manifestação da
Defensoria Pública da União, desde que prévia e devidamente notificada, não impedirá a efetivação da medida de deportação.

Deportação de apátrida
Em se tratando de apátrida, o procedimento de deportação dependerá de prévia autorização
da autoridade competente.

Não se pode deportar nos casos em que não cabe extradição


Não se procederá à deportação se a medida configurar extradição não admitida pela legislação
brasileira.
8.4 EXPULSÃO

Em que consiste
A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional,
conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado.

Hipóteses
Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa à prática de:
• crime de genocídio;
• crime contra a humanidade;
• crime de guerra;
• crime de agressão;
•crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização
em território nacional.

De quem é a competência para a expulsão?


O Estatuto do Estrangeiro afirmava que a competência era do Presidente da República (art. 66).

A Lei de Migração não é muito clara sobre o tema e fala apenas que “caberá à
autoridade competente resolver sobre a expulsão, a duração do impedimento de
reingresso e a suspensão ou a revogação dos efeitos da expulsão” (art. 54, § 2º).
O Poder Judiciário poderá avaliar a decisão de expulsão?
SIM, é possível. No entanto, como o ato de expulsão é considerado
discricionário, somente cabe ao Poder Judiciário analisar se ele foi praticado em
conformidade ou não com a legislação em vigor (controle delegalidade), não
podendo examinar a sua conveniência e oportunidade, ou seja, não poderá
realizar o controle sobre o mérito da decisão.
Expulsão de estrangeiro refugiado

A expulsão de estrangeiro que ostente a condição de refugiado não pode ocorrer sem a regular perda
dessa condição.
Assim, antes da expulsão, deveria ter sido determinada a instauração de devido processo legal, com
contraditório e ampla defesa, para se decretar a perda da condição de refugiado, nos termos do art. 39,
III, da Lei nº 9.474/97. Somente após essa providência, ele poderá ser expulso.
STJ. 1ª Seção. HC 333.902-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 14/10/2015 (Info 571).
PONTO IMPORTANTE
Prazo de vigência da medida
de impedimento

No revogado Estatuto do Estrangeiro, a pessoa expulsa só poderia retornar ao Brasil caso o decreto de
expulsão fosse revogado pelo Presidente da República. A situação mudou com a Lei de Migração (Lei nº 13.445/2017) e
agora o impedimento de reingresso do estrangeiro é feito com prazo determinado:

Art. 54 (...)
§ 4º O prazo de vigência da medida de impedimento
vinculada aos efeitos da expulsão será proporcional ao
prazo total da pena aplicada e nunca será superior ao
dobro de seu tempo.
Situações em que não se admite a expulsão
Não se procederá à expulsão quando:
I.- a medida configurar extradição inadmitida pela legislação brasileira;
II.- o expulsando:
a)tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela;
b)tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil, sem discriminação alguma, reconhecido judicial ou legalmente;
c)tiver ingressado no Brasil até os 12 anos de idade, residindo desde então no País;
d)for pessoa com mais de 70 anos que resida no País há mais de 10 anos, considerados a gravidade e o fundamento da expulsão.

Contraditório e ampla defesa


No processo de expulsão serão garantidos o contraditório e a ampla defesa.

Pedido de reconsideração
Caberá pedido de reconsideração da decisão sobre a expulsão no prazo de 10 dias, a contar da notificação pessoal do expulsando.

Saída voluntária
A existência de processo de expulsão não impede a saída voluntária do expulsando do País.
10. EXTRADIÇÃO E OUTRAS MEDIDAS DE COOPERAÇÃO

O que é a extradição?
A extradição ocorre quando o Estado entrega a outro país um indivíduo que cometeu um crime
que é punido segundo as leis daquele país (e também do Brasil), a fim de que lá ele seja
processado ou cumpra a pena por esse ilícito.
Ex: um cidadão dos EUA lá comete um homicídio e foge para o Brasil. Os EUA requerem a
extradição desse indivíduo e, se for deferida pelo Brasil, ele é mandado de volta ao território
estadunidense.
Veja o que diz a Lei nº 13.445/2017 (Lei de Migração):

Art. 81. A extradição é a medida de cooperação internacional entre o Estado


brasileiro e outro Estado pela qual se concede ou solicita a entrega de pessoa
sobre quem recaia condenação criminal definitiva ou para fins de instrução de
processo penal em curso.
§ 1º A extradição será requerida por via diplomática ou pelas autoridades centrais
designadas para esse fim.
§ 2º A extradição e sua rotina de comunicação serão realizadas pelo órgão
competente do Poder Executivo em coordenação com as autoridades judiciárias e
policiais competentes.
Quem decide o pedido de extradição?
O pedido de extradição é decidido pelo STF, conforme prevê o art. 102, I, "g", da CF/88.

PONTO IMPORTANTE
Situações em que não se concede a extradição

Não se concederá a extradição quando:


I - o indivíduo cuja extradição é solicitada ao Brasil for brasileiro nato;
Somente o naturalizado pode ser extraditado (o nato nunca!).

O naturalizado pode ser extraditado por crime cometido antes da naturalização ou então mesmo depois
da naturalização se o crime cometido foi o tráfico ilícito de entorpecentes.

Para determinação da incidência do disposto neste inciso I, será observada, nos casos de aquisição de
outra nacionalidade por naturalização, a anterioridade do fato gerador da extradição.
II - o fato que motivar o pedido não for considerado crime no Brasil ou no Estado requerente;

Trata-se do chamado requisito da “dupla tipicidade”, ou


seja, o fato deve ser considerado crime no Estado
estrangeiro de origem e também aqui no Brasil.

III - o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando;

IV - a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão


inferior a 2 (dois) anos;
NOVIDADE! Na antiga Lei nº 6.815/80, exigia-se que a pena mínima fosse de 1 (um) ano.
V - o extraditando estiver respondendo a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no
Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido;
VI - a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou a do Estado
Trata-se do chamado requisito da “dupla punibilidade”.
O Brasil não deverá deferir pedido de extradição se o delito praticado pelo extraditando estiver prescrito segundo as leis
brasileiras, considerando que deverá ser respeitado o requisito da dupla punibilidade.
STF. Plenário. Ext 1362/DF, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, julgado em
VII - o fato constituir crime político ou de opinião;

Esse requisito já era previsto na própria CF/88:


Art. 5º (...)
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;

A extradição poderá ocorrer quando o fato praticado constituir, principalmente, infração à lei penal comum ou quando
o crime comum, conexo ao delito político, constituir o fato principal.

O STF (autoridade judiciária competente) é quem irá apreciar o caráter da infração, ou seja, quem dirá se é crime
político ou de opinião.

O STF poderá deixar de considerar crime político o atentado contra chefe de Estado ou quaisquer
autoridades, bem como crime contra a humanidade, crime de guerra, crime de genocídio e
terrorismo.

VIII - o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante tribunal ou juízo de


exceção;

IMPORTANTE! Não havia essa


previsão na Lei nº 6.815/80.
IX - o extraditando for beneficiário de refúgio, nos termos da Lei nº 9.474, de 22 de julho de
1997, ou de asilo territorial.
Condições para a extradição

I.- ter sido o crime cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao
extraditando as leis penais desse Estado; e

II.- estar o extraditando respondendo a processo investigatório ou a processo penal ou ter


sido condenado pelas autoridades judiciárias do Estado requerente a pena privativa de
liberdade.

Prisão cautelar
- Em caso de urgência, o Estado interessado na extradição poderá, previamente ou conjuntamente com a formalização do pedido extradicional,
requerer, por via diplomática ou por meio de autoridade central do Poder Executivo, prisão cautelar do extraditando com o objetivo de assegurar a
executoriedade da medida de extradição que, após exame da presença dos pressupostos formais de admissibilidade, deverá representar à
autoridade judicial competente, ouvido previamente o MPF.

Depois da prisão
Efetivada a prisão do extraditando, o pedido de extradição será encaminhado à autoridade judiciária competente.

Duração da prisão
A prisão cautelar poderá ser prorrogada até o julgamento final da autoridade judiciária competente quanto à legalidade do pedido de extradição.

Quando mais de um Estado requerer a extradição da mesma pessoa, o que acontece?


1)Se esse pedido se referir ao mesmo fato (“mesmo crime”), terá preferência o pedido daquele em cujo território a infração foi cometida;
2-Em caso de crimes diversos, terá preferência, sucessivamente:

a)o Estado requerente em cujo território tenha sido cometido o crime mais grave, segundo a lei brasileira;
b)o Estado que em primeiro lugar tenha pedido a entrega do extraditando, se a gravidade dos crimes for idêntica;
c) o Estado de origem, ou, em sua falta, o domiciliar do extraditando, se os
pedidos forem simultâneos.
Obs1: se a situação não se enquadrar em nenhuma das hipóteses acima
mencionadas, o órgão competente do Poder Executivo decidirá sobre a preferência do pedido, priorizando o Estado requerente que
mantiver tratado de extradição com o Brasil.
Obs2: havendo tratado com algum dos Estados requerentes, prevalecerão suas normas no que diz respeito à preferência de que trata
este artigo.
O STF, ouvido o Ministério Público, poderá autorizar prisão albergue ou domiciliar ou determinar
que o extraditando responda ao processo de extradição em liberdade, com retenção do documento de viagem ou outras medidas
Prisão albergue ou prisão domiciliar
cautelares necessárias, até o julgamento da extradição ou a entrega do extraditando, se pertinente, considerando a situação
administrativa migratória, os antecedentes do extraditando e as circunstâncias do caso.
Mudança importante: o revogado Estatuto do Estrangeiro dizia que a prisão deveria perdurar até o julgamento final do STF, “não
sendo admitidas a liberdade vigiada, a prisão domiciliar, nem a prisão albergue” (art. 84, parágrafo único, da Lei nº 6.815/80).

Concordância do extraditando
O extraditando poderá entregar-se voluntariamente ao Estado requerente, desde que:
• declare isso expressamente
• esteja assistido por advogado e
• seja advertido de que tem direito ao processo judicial de extradição.

Mesmo assim, o pedido ainda será decidido pelo STF.


Assim, o simples fato de o extraditando estar de acordo com o pedido
extradicional e de declarar que deseja retornar ao Estado requerente a fim de se submeter ao
processo criminal naquele País não exonera (não exime) o STF do dever de efetuar o controle
da legalidade sobre a postulação formulada pelo Estado requerente. Nesse sentido:
Compromissos que o Estado deverá assumir para que ocorra a extradição
Não será efetivada a entrega do extraditando sem que o Estado requerente assuma o
compromisso de:
I.- não submeter o extraditando a prisão ou processo por fato anterior ao pedido de extradição;
II.- computar o tempo da prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição;
III.- comutar a pena corporal, perpétua ou de morte em pena privativa de
liberdade, respeitado o limite máximo de cumprimento de 30 (trinta) anos;
IV.- não entregar o extraditando, sem consentimento do Brasil, a outro Estado que o reclame;
V.- não considerar qualquer motivo político para agravar a pena; e
VI.- não submeter o extraditando a tortura ou a outros tratamentos ou penas cruéis,
desumanos ou degradantes.

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