DIREITO CONSTITUCIONAL
Direitos a Nacionalidade
“Sem a nacionalidade a pessoa
humana fica privada do direito de
ter direitos” (Hannah Arendt)
No art. 15º da Declaração Universal do
Direitos do Homem e do Cidadão e no at. 20º
do Pacto São José da Costa Rica dispõem que
““Todas as pessoas têm direito a
nacionalidade”.
CONCEITO
Nacionalidade é o vínculo de direito público
interno que une um determinado indivíduo
à um determinado Estado.
Para Pontes Miranda a “nacionalidade é o laço
jurídico político de direito público interno,
que faz da pessoa um dos elementos
componentes da dimensão pessoal do
Estado”.
ESPÉCIES DE NACIONALIDADE
Doutrinariamente há duas espécies de
nacionalidade: primária ou originária (que é
estabelecida em razão do nascimento) e
secundária ou derivada (que é adquirida por
um ato de vontade do indivíduo que opta por
uma determinada nacionalidade.
Denominada, também, como naturalização).
Nacionalidade Originária
Os critérios de atribuição de nacionalidade
são, basicamente, dois: o ius sanguinis e o ius
soli, aplicando-se ambos a partir de um fato
natural: o nascimento.
• IUS SANGUINIS (origem sanguínea)
– será nacional todo o descendente de
nacionais, independentemente do local
de nascimento.
• IUS SOLI (origem territorial) – será
nacional o nascido no território do
Estado, independentemente da
nacionalidade de sua ascendência.
*O Brasil não adotou o critério jure
matrimonii, ou seja, não é possível a
aquisição de nacionalidade brasileira
decorrente tão somente de casamento
civil com brasileiro.
A Constituição Federal prevê exaustiva e
taxativamente as hipóteses de aquisição da
nacionalidade originária, ou seja, somente
serão brasileiros natos aqueles que
preencherem os requisitos constitucionais das
hipóteses únicas do art. 12, inciso I.
Assim são brasileiros natos:
• os nascidos na República Federativa
do Brasil, ainda que de pais
estrangeiros, desde que estes não
estejam a serviço de seu país (ius soli);
• os nascidos no estrangeiro, de pai ou
mãe brasileiros, desde que qualquer
deles esteja a serviço da República
Federativa do Brasil (ius sanguinis +
critério funcional)
• os nascidos no estrangeiro de pai ou
mãe brasileiros, desde que sejam
registrados em repartição brasileira
competente (ius sanguinis + registro –
EC nº 54/07);
• os nascidos no estrangeiro, de pai ou
mão brasileiros, desde que venham a
residir na República Federativa do
Brasil e optem, em qualquer tempo,
depois de atingida a maioridade (EC nº
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54/07), pela nacionalidade brasileira
(ius sanguinis + critério residencial +
opção confirmativa).
o Antes da maioridade pode-se
possuir a nacionalidade
provisória, tendo que
posteriormente ao aniversário
de 18 anos de idade realizar a
opção confirmativa.
Opção
A opção prevista na Constituição Federal
consiste na declaração unilateral de vontade
de conservar a nacionalidade brasileira
primária, na já analisada hipótese de
nacionalidade potestativa. A aquisição, apesar
de provisória, dá-se com a fixação de
residência, sendo a opção uma condição
confirmativa e não formativa de
nacionalidade, que deverá ocorrer a partir da
maioridade.
Portanto, o filho de pai brasileiro e/ou mãe
brasileira nascido no estrangeiro adquire a
nacionalidade originária no momento da
fixação de sua residência no Brasil, devendo
confirmar sua vontade de conservar a
nacionalidade brasileira a partir da aquisição
da maioridade civil, de maneira
personalíssima. Durante o período de fixação
da residência até atingir a maioridade civil,
por não ter validamente realizar a opção, todos
os direitos inerentes à nacionalidade poderão
ser exercidos, pois a “aludida condição
suspensiva só vigora a partir da maioridade,
haja vista que, antes, o menor, por intermédio
do registro provisório (Lei nº 6.015/73, art. 3º,
§ 2º), desde que residente no país, é
considerado brasileiro nato para todos os
efeitos”.1
1
STF – 1ª T. – Rextr. nº 415.957/RS, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, decisão: 23-08-2005 –
Informativo STF nº 398, p.2.
Nacionalidade Derivada
O brasileiro naturalizado é aquele que adquire
a nacionalidade brasileira de forma
secundária, ou seja, não pela ocorrência de um
fato natural, mas por um ato voluntário. A
naturalização é o único meio derivado de
aquisição de nacionalidade, permitindo-se ao
estrangeiro, que detém outra nacionalidade,
ou ao apátrida, que não possui nenhuma,
assumir a nacionalidade do país em que se
encontra, mediante a satisfação de requisitos
constitucionais e legais.
Não existe direito público subjetivo à
obtenção da naturalização, que se configura
ato de soberania estatal, sendo, portanto, ato
discricionário do Chefe do Poder Executivo,
já tendo, inclusive, o Supremo Tribunal
Federal decidido que “não há
inconstitucionalidade no preceito que atribui
exclusivamente ao Poder Executivo a
faculdade de conceder naturalização”.2
Naturalização
A naturalização, doutrinariamente, poderá ser
tácita ou expressa, dividindo-se esta última
em ordinária ou extraordinária.
Naturalização tácita
Podendo também ser chamada de grande
naturalização, a naturalização tácita é a
aquisição da nacionalidade sem a
manifestação de vontade.
O art. 69, § 4º, da Constituição de 1891, previa
a serem “cidadãos brasileiros, os estrangeiros
que, achando-se no Brazil aos 15 de novembro
de 1889, não declararem, dentro de seis
mezes depois de entrar em vigor a
2
RDA 20/313.
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Constituição, o ânimo de conservar a
nacionalidade de origem”.
A Constituição Federal de 1988 não atribuiu
nenhuma forma de naturalização tácita,
necessitando que todos os estrangeiros que
queiram ser brasileiros têm que expressar
ânimo de vontade.
Naturalização expressa
É aquela que depende de requerimento do
interessado, demostrando sua manifestação de
vontade em adquirir a nacionalidade
brasileira. Divide-se em ordinária3 e
extraordinária4.
• Naturalização expressa ordinária
É prevista no artigo 12, II, a:
os que, na forma da lei, adquiram a
nacionalidade brasileira, exigidas aos
originários de países de língua
portuguesa apenas residência por um
ano ininterrupto e idoneidade moral;
Vemos que “os que na forma da lei”
depende de regulamentação
infraconstitucional. Sendo que a Lei em
menção em vigor hoje é a Lei
13.445/2017 chamada lei de migração,
que é responsável por estabelecer às
condições gerais para a naturalização.
Essa lei estabelece um período mínimo de
4 anos de residência para o estrangeiro •
poder requerer a naturalização.
(lembrando que este requerimento pode
ser negado).
Ademais, a Constituição Federal indicou
uma exceção em seu texto, exigindo dos
3
Art. 12º, inciso II, a da CF/88. os que, na forma da
lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos
originários de países de língua portuguesa apenas
residência por um ano ininterrupto e idoneidade
moral;
originários de países de língua portuguesa
apenas um ano de residência e idoneidade
moral.
Países de língua portuguesa –
Açores, Angola, Cabo, Verde, Gamão,
Guiné, Bissau, Goa, Macau,
Moçambique, Portugal, Princípe e Timor
Leste.
• Naturalização expressa excepcional
É prevista no artigo 12, II, b:
os estrangeiros de qualquer
nacionalidade, residentes na República
Federativa do Brasil há mais de quinze
anos ininterruptos e sem condenação
penal, desde que requeiram a
nacionalidade brasileira.
Requisitos cumulativos:
• Residência por mais de 15 anos
ininterruptos;
• Ausência de condenação penal;
• Requerimento.
A previsão constitucional afirmando a
aquisição, presentes todos os requisitos,
“... desde que requeiram ...”, parece não
deixar dúvidas sobre a existência de
direito subjetivo por parte daquele que
cumprir os requisitos constitucionais.
Quase nacionalidade
O § 1º do art. 12 da CF, diz:
Aos portugueses com residência
permanente no País, se houver
reciprocidade em favor de brasileiros,
4
Art. 12º, inciso II, b da CF/88. os estrangeiros de
qualquer nacionalidade, residentes na República
Federativa do Brasil há mais de quinze anos
ininterruptos e sem condenação penal, desde que
requeiram a nacionalidade brasileira.
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serão atribuídos os direitos inerentes ao
brasileiro, salvo os casos previstos nesta
Constituição.
Neste caso os portugueses (estrangeiros)
são equiparados aos brasileiros
naturalizados, mesmo sem a naturalização,
desde que se haja reciprocidade com
Portugal.
A reciprocidade é garantida pelo Estatuto • Assentos no Conselho da República
da Igualdade firmado entre Brasil e
Portugal, que garante às duas
nacionalidades a equivalência de direitos.
Segundo o STF, tal reciprocidade há
requisitos, como:
• Necessidade do pronunciamento do
Estado Brasileiro (Ministério da
• Propriedade de empresa jornalística e
Justiça do Brasil); de radiodifusão.
• Requerimento do português;
• Cumprir os requisitos do estatuto.

• Em formas de extraditar

Distinção entre brasileiros

natos e naturalizados
Os naturalizados que praticaram
A lei não pode criar distinções entre natos e crimes políticos ou de opinião antes da
naturalizados, além das previstas na naturalização não serão extraditados, segundo
Constituição, segundo o §2º do art. 12 da o art. 5º, LII da CF/88.
CF/88.
A Constituição estabelece quatro situações em
que há diferença de tratamento entre eles,
quais sejam:
• ~Cargos privativos de brasileiros
natos:

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Perda do Direito de
Nacionalidade
Art. 12, § 4º da CF/88. Será declarada a perda
da nacionalidade do brasileiro que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por
sentença judicial, em virtude de fraude
relacionada ao processo de naturalização ou
de atentado contra a ordem constitucional e o
Estado Democrático;
• Somente a Justiça Federal tem
competência de julgar ação de
cancelamento de naturalização.
• Nessa hipótese o desnaturalizado não
poderá mais adquirir a naturalização,
salvo por cancelamento da sentença.
II - fizer pedido expresso de perda da
nacionalidade brasileira perante autoridade
brasileira competente, ressalvadas situações
que acarretem apatridia.
• Neste caso, o desnacionalizado pode
readquirir a nacionalidade, conforme §
5º deste dispositivo.
Expulsão
É a retirada à força, do território brasileiro,
conjugada com o impedimento de reingresso
por prazo determinado, de um estrangeiro
que tenha praticado atos tipificados no artigo
54 da Lei de Migração, onde torna o
estrangeiro um indesejável.
Não poderá ocorrer expulsão, quando o
expulsando:
• Tiver folho brasileiro que esteja sob
sua guarda ou dependência econômica
ou socioafetiva ou tiver pessoa
brasileira sob sua tutela;
• Tiver cônjuge ou companheiro
residente no Brasil, sem discriminação
alguma, reconhecido judicial ou
legalmente;
• Tiver ingressado no Brasil até os 12
anos de idade, residindo desde então
no País;
• For pessoa com mais de 70 anos de
idade que resida no País há mais de 10
anos, considerados a gravidade e o
fundamento da expulsão.
Deportação
Consiste na devolução compulsória ao país de
origem ou mesmo qualquer outro que possa
recebê-lo, do estrangeiro que tenha entrado ou
esteja de forma irregular no território
nacional.
Extradição
É o ato pelo qual um Estado entrega um
indivíduo, acusado de um delito ou já
condenado como criminoso, à justiça do
outro, que o reclama, e que é competente para
julgá-lo e puni-lo.
Princípios e Regras:
• Contenciosidade Limitada. Não é
permitido à Justiça Brasileira rever o
conjunto probatório que ensejou o
pedido de extradição.
• Princípio da Especialidade. A
extradição acontecerá para o
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extraditando ser processado e julgado
somente pelo objeto da extradição.
Podendo o Brasil autorizar a extensão.
• Princípio da Dupla Punibilidade. O
pedido de extradição só será aceito se
a conduta for tipificada como crime,
no Brasil e no País requerente. Se
prescrita a punibilidade, o pedido será
indeferido. Se processado e
condenado no Brasil, a extradição não
será concedida.
Direitos Humanos e Comutação de Pena
Quando a pena prevista pelo país solicitante
for vedada pela CF/88, a extradição é
condicionada ao compromisso de comutação
da pena por uma pena aceita no Brasil.
Se o País requerente não tiver condições de
cumprir o acordo, o pedido será negado, da
mesma dor se não puder garantir os direitos
e liberdades fundamentais.

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