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TECNOLOGIA

FRUTAS E HORTALIÇAS

TECNOLOGIAS PARA A
CONSERVAÇÃO PÓS-COLHEITA
BRUNO RÓGORA KAWANO1 ROBERTO FRAY DA SILVA2
GIANA DE VARGAS MORES3 CARLOS EDUARDO CUGNASCA4

U M TERÇO dos alimentos produzidos no


mundo é desperdiçado nas diversas etapas
das cadeias de suprimentos. O desenvolvimento
de defesa, que são eficientes no controle de certos
microrganismos que diminuem a sua vida útil.

e a aplicação de tecnologias na etapa de pós-co- A modificação da atmosfera do ambiente onde o


lheita são fundamentais para que esse cenário seja alimento está pode ser feita por dois métodos. O
mitigado. As etapas de manuseio e transporte re- primeiro, denominado atmosfera controlada, consiste
presentam a metade do total de perdas, de acordo no controle dos gases onde o fruto está, como, por
com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária exemplo, níveis de gás carbônico (CO2) e oxigênio
(Embrapa). Fatores que influenciam nessas perdas (O2), a fim de se reduzir o metabolismo dos mi-
são, por exemplo, a carência de investimentos em crorganismos. Este método é utilizado no caso da
infraestrutura e o uso de tecnologias e processos maçã. O segundo método é denominado atmosfera
pós-colheita inadequados. modificada, por meio do qual é possível alterar a
atmosfera dentro da embalagem onde o alimento está.
Aspectos relacionados à contaminação dos ali- Um exemplo é o uso de embalagens que permitem
mentos, como, por exemplo, as microtoxinas e que o O2 saia, mas que o CO2 fique retido, aumen-
outras toxinas produzidas por microrganismos tando a vida útil do produto. Isso é comum no caso
patogênicos, remetem esse cenário a uma maior de algumas frutas (como melão e abacaxi), alface e
atenção à questão da segurança dos alimentos. mandioquinha minimamente processada.

Há diversas tecnologias disponíveis para a conser- A radiação gama contempla um método em que
vação de produtos agrícolas pós-colheita, como se irradia o alimento com um elemento radioativo,
os métodos físicos – tratamento térmico (aqueci- sendo o cobalto o mais utilizado. É um tratamento
mento), modificação de atmosfera e refrigeração. seguro para a saúde humana, pois o que penetra
Por outro lado, tem sido cada vez mais estudada de forma uniforme na fruta é somente a radiação
e ampliada a aplicação de métodos considerados gama, que não é prejudicial, sendo que a sua ação
emergentes na conservação pós-colheita de frutas visa à redução de podridões em frutas e hortaliças.
e hortaliças – a radiação gama, o ozônio (O3) em No Brasil, a sua aplicação é baixa e concentra-se
sua fase gasosa ou diluído em meio aquoso e a em níveis experimentais, especialmente em frutas e
radiação ultravioleta C (UV-C). hortaliças folhosas. A sua ação não deixa resíduos
nos alimentos e é segura à saúde humana.
O tratamento térmico é comumente utilizado em
frutas, como o mamão e a manga, para que se A aplicação do ozônio na indústria vem ganhando
evitem podridões. Este método consiste em mer- espaço conforme mais pesquisas são realizadas
gulhar as frutas em água a temperaturas elevadas sobre o uso desta tecnologia. Nos Estados Unidos,
(45 °C por 15 minutos, no caso da pera), o que por exemplo, na década de 1990, a partir da apro-
acaba estimulando a fruta a produzir compostos vação pela Food and Drug Administration (FDA)

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do ozônio como uma substância segura para apli- órgãos responsáveis. Entretanto, quando é aplicado
cação direta em alimentos, sua aplicação no setor no alimento, o ozônio degrada-se rapidamente
alimentício vem crescendo. No Brasil, no entanto, em gás oxigênio, não sendo um contaminante. A
não há legislação específica sobre a sua utilização no agroindústria de tomates, por exemplo, tem utili-
setor alimentício, ficando restrito ainda a pesquisas zado o ozônio na forma aquosa para tratar seus
e experimentos científicos. O ozônio pode afetar produtos e evitar a proliferação de microrganismos
componentes dos microrganismos, como glicopro- patogênicos desde os anos 2000.
teínas, glicolipídios, enzimas, além de apresentar
outros efeitos benéficos para o aumento da vida É importante notar que um método de tratamento
útil dos produtos. não é necessariamente melhor do que os outros,
pois cada um possui vantagens e desvantagens.
Um entrave da utilização do ozônio é que ele é Muitas vezes, a combinação de métodos de trata-
um gás tóxico, que necessita de controle pelos mento pode ser a melhor opção.

VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS MÉTODOS DE TRATAMENTO


PÓS-COLHEITA DE FRUTAS E HORTALIÇAS

Métodos Vantagens Desvantagens


Pode ocasionar alterações
Controle consolidado e efetivo
Térmico químicas, nutricionais, sensoriais
no combate a podridões
(aquecimento) e de textura do alimento. Exige
em manga e mamão.
alto consumo energético.

Amplamente utilizada, efetiva Alto consumo energético.


Refrigeração no controle de podridões. Pode causar danos pelo frio
Aumenta a vida de prateleira. na superfície do alimento.

Elevados custos de manutenção


Penetração uniforme no alimento. Não
Radiação gama e com segurança no manuseio
causa contaminação pós-tratamento.
do material fonte da radiação.

Exige investimento elevado


Sua utilização é eficiente no
em estrutura da câmara de
Modificação de armazenamento de frutas de alto
armazenamento, no caso da atmosfera
atmosfera valor agregado, principalmente
controlada, e tecnologia específica, no
as voltadas para exportação.
caso da modificação de atmosfera.

Grande disponibilidade de
Pode ocasionar alterações nos
Radiação ultravioleta lâmpadas de UV-C comerciais.
alimentos, como descoloração
C (UV-C) Baixo custo de manutenção.
ou escurecimento.
Não contamina o alimento.

Não contamina o alimento. Efetivo em


hortaliças. Pode ser aplicado diluído Exige atenção ao controle e à
Ozônio (O3)
em água. Elimina alguns defensivos segurança do ozônio armazenado.
agrícolas residuais nos alimentos.

Fonte: Elaboração própria

1 Engenheiro agrônomo, mestre em Planejamento de 3 Economista, mestra e doutoranda em Agronegócios


Sistemas Energéticos e doutorando em Engenharia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Elétrica pela Universidade de São Paulo (USP) (UFRGS) e professora titular da Universidade
Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó)
2 Engenheiro agrônomo, mestre em Engenharia de
Sistemas Logísticos e doutorando em Engenharia 4 Professor associado 3 no Departamento
Elétrica pela Universidade de São Paulo (USP) de Engenharia de Computação e Sistemas
Digitais da Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo (PCS/Poli-USP)

30 | AGROANALYSIS - NOV 2016

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