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Rio de Janeiro, Segunda-feira, 3 de Julho de 2023 - Ano CXXII - Nº 24.302

Novo longa de Por onde anda Adriana Esteves

François Ozon Ciro Bottini, o brilha com outra
chega ao Brasil vende-tudo da TV? vilã em série
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Divulgação/Amazon Prime Video

1000km de
arte e afeto

A equipe liderada pelo diretor Andrucha Waddington acompanhou os shows e os bastidores da turnê de Gilberto Gil com a família

Nova temporada de ‘Viajando com os Gil’, série da Amazon, nham a família durante o trajeto, e há um
episódio bônus com imagens do show gra-
mostra vida da família de Gilberto Gil na estrada vadas nos diferentes lugares que passaram.
Fora a presença de filhos, genros, en-
Por Isabela Yu (Folhapress) fez 15 shows em 10 países na Europa. com os Gil”, em 2022. teadas, netos e bisnetos, somam-se a eles
Tudo o que acontecia no palco, quanto A imersão em Araras aproximou a famí- participações de amigas como Marisa

A
o longo de 36 dias, fora dele, foi documentado na série “Via- lia da equipe dirigida por Andrucha Wad- Monte, Fernanda Paes Leme e Thaynara
Gilberto Gil rodou jando com os Gil”, que acaba de estrear dington, ao lado do filho Pedro Waddington OG. Há também convidados em algumas
quase 1000km com no Amazon Prime Video. e de Rebeca Diniz. A preparação aconteceu apresentações: Juliette canta “Eu Só Que-
a estreia da turnê A princípio, a ideia seria filmar ape- ao longo de 2021, onde afinaram os detalhes ro Um Xodó”, em Barcelona, na Espanha,
“Nós, A Gente” em nas a convivência na estrada, mas a Co- para acomodar o grupo de 40 pessoas viajan- e Xamã faz um freestyle em “Aquele Abra-
junho do ano passa- vid atrapalhou os planos, então o público do de avião e divididas em três ônibus. ço”, no show em Portoroz, na Eslovênia.
do. Acompanhado da família, o artista ganhou a primeira temporada, “Em casa Desta vez, os cinco episódios acompa- Continua na página seguinte
2 Continuação da Capa
CoRREio CuLtuRaL
Madonna está em casa, sob fortes cuidados médicos
Recuperação de Madonna
deve durar alguns meses
A recuperação de Madonna
deve durar meses, disseram
os amigos da cantora ao
jornal britânico Daily Mail.
Embora já esteja em casa, a
artista precisa de cuidados
especiais, porque seu estado
de saúde ainda é frágil.
Um desses amigos disse
que ninguém sabia a causa
do problema de saúde de
Madonna. Quando os médi-
Pagu na Flip
A Festa Literária Internacio-
nal de Paraty homenageará a
jornalista, dramaturga, poeta
e crítica Pagu em sua edição
2023. “Pagu foi uma expressão
por liberdade, uma vontade
de libertar o Brasil de suas arti-
manhas históricas”, diz a cura-
dora Milena Britto.
Reparação
Em meio à onda de devolu-
ções de artefatos históricos a
seus países de origem, o go-
verno da Dinamarca anun-
ciou que vai entregar ao
Brasil um manto tupinambá
do século 17, que está Museu
Nacional da Dinamarca, em
Copenhagen, desde 1689.
Divulgação
cos descobriram a infecção,
amigos e familiares ficaram
seguros de que o tratamen-
to funcionaria. Só que, com o
passar do tempo, ninguém
sabia o que iria ocorrer com
a cantora.
No sábado, dia 24, a artista
foi internada em estado gra-
ve numa UTI e precisou adiar
a turnê mundial de celebra-
ção dos 40 anos da carreira.
A quatro mãos
Walcyr Carrasco convidou
Thelma Guedes, das novelas
“Órfãos da Terra” (2019) e “Joia
Rara” (2013-2014), para dividir
com ele a autoria de “Terra
Paixão”. Produto principal
da dramaturgia na Globo, o
folhetim das nove ainda não
decolou na audiência.
Na floresta
No Limite (Globo) já tem data
de estreia e a nova tempora-
da vai se passar na floresta
amazônica. A partir do dia 18
de julho, 15 participantes dis-
putam comida, chances de
imunidade e disputas a elimi-
nação. Dentre os competido-
res, quatro serão famosos.
Gil e a filha Preta em momento de descontração entre um show e outro da turnê
O palco como extensão da
atmosfera doméstica
Ainda que estejam em movi-
mento, assim como acontece na
primeira temporada, as assembleias
da família acontecem para discutir
os detalhes do show, resolver atritos
de convivência e planejar a pro-
gramação. Em mais de uma dessas
conversas, o avô se emociona ao fa-
lar sobre a felicidade de viajar com
cada um deles e como a música faz
parte da forma como a família se
comunica.
“Eles são aprendizes, cresceram
me vendo ensaiar, compor, e esta-
belecendo diálogos com músicos.
Carregam a cultura de casa para o
trabalho. O palco é uma extensão
dessa atmosfera musical doméstica,
é um ambiente muito próprio de-
les”, diz Gil.
O show foi construído de for-
ma colaborativa, então o setlist traz
músicas de Preta Gil, dos Gilsons e
ainda introduz os netos - Flor Gil e
Bento Gil.
“Escolhemos o ‘O Pato’ por ter
um significado interessante, é uma
música com força de jovialidade e
ele aprendeu certinho. Está dando
conta do recado”, divide o artista so-
bre a canção apresentada pelo neto
durante os shows.
Mesmo quando não estão en-
cantando milhares de pessoas, eles
mantêm um violão por perto e po-
Segunda-feira, 3 de Julho de 2023
Divulgação/Amazon Prime Video
Gil no Cavern Club
dem começar a entoar alguma me-
lodia do repertório de Gil. Na pa-
rada em Casablanca, no Marrocos,
eles participam de uma cerimônia
Gnawa, que para o músico, os sons
se assemelham ao alujá e samba de
roda.
Na cena seguinte, Gil toca o
guembri, um alaúde de três cordas
marroquino, ao som de “Filhos de
Gandhi”.
Já na Suíça, perto de Genebra,
visitam o Cern, a Organização Eu-
ropeia para Pesquisa Nuclear, para
uma aula sobre antimatéria, acom-
panhada de música. Neste momen-
to, Gil canta “Queremos Saber” e
“Quanto”, e discute a sua relação
com a ciência e o conhecimento.
Gravando durante 18 horas
Divulgação/Amazon Prime Video
por dia, a equipe de Andrucha
Waddington se organizava de uma
forma em que todos os núcleos es-
tavam acompanhados por uma câ-
mera. O objetivo era seguir a tour
de dentro. “O Gil é um cara muito
pontual, traz essa firmeza, quer
sempre passar o som na hora. Acho
comovente. Hoje em dia, com 80
anos, você poderia não querer fazer
essas coisas, mas isso traz o rigor de
que estamos viajando a trabalho,
não é uma viagem à Disney”, expli-
ca o diretor.
Quando Flora Gil pergunta
o que precisa acontecer para um
show ser bom, Gil fala que é impor-
tante se comunicar com o público e
todos tocarem bem. Nesses 50 anos
de estrada, ele aprendeu inglês, es-
panhol e francês justamente para
continuar se expressando, mesmo
que fora do país.
Não à toa, o encerramento da
excursão aconteceu na Inglaterra,
quando passaram por Liverpool e
Londres, quase como um retorno
ao lugar que marcou o início da
internacionalização de sua carreira.
Há imagens e depoimentos da
época do exílio, entre os anos de
1969 e 1971, quando morou em
Londres com a ex-esposa Sandra
Gadelha e o filho Pedro Gil, faleci-
do em 1990.
Segunda-feira, 3 de Julho de 2023 Cinema 3
Carole Bethuel/Gaumont

Por Rodrigo Fonseca

Especial para o Correio da Manhã

força de 1.091.489

À ingressos vendi-
dos entre março e
abril na Europa, o
divertidíssimo “O Crime É Meu”
(“Mon Crime”) integra o bonde do
milhão que, este ano, está devolven-
do à França a primazia popular so-
bre as bilheterias de seu circuito co-
mercial que havia se perdido com a
pandemia, quando a frequência do
público de Paris, Nice, Marselha e
arredores aos filmes feitos na terra
de Truffaut caiu vertiginosamente,
mobilizando até diretores autorais
que extrapolam códigos mercado-
lógicos. É o caso do parisiense Fran-
çois Ozon, diretor desse sucesso
mais do que refinado que aporta no
Brasil neste fim de semana, tendo o
comediante Dany Boon como um
de seus chamarizes. Usina produti-
va, mantendo uma média de um a
dois longas por ano, com visibilida-
de e prestígio nos grandes festivais,
vide a escolha de “Peter von Kant”
como atração de abertura da Berli- Ozon com Isabelle Huppert e Fabrice Luchini no set de ‘O Crime é Meu’
nale 2022, Ozon é responsável por

Pílulas de
blockbusters do Velho mundo, em – Nossa Linda Família” (1998). É fesa. Uma nova vida de fama e su-
seus 35 anos de carreira, como “8 a essa época que ele se remonta em cesso começa a partir daí. Mas essa
Mulheres”, visto por cerca de 3,6 “Remastered & Uncut”. Foi nesse bonança só há de durar até verdade
milhões de pagantes na terra natal percurso de narrativas em pílulas por trás do crime ser finalmente

do cineasta. “Dentro da Casa”, que
rendeu a ele a Concha de Ouro
no Festival de San Sebastián de
2022 vendeu 1,1 milhão de tíque-
tes. Fidelidade é o que não falta ao
séquito de fãs do realizador, que
acaba de fazer um documentário
(numa produção orçada em 450
mil euros) sobre homoerotismo em
seus primeiros curtas, realizados no
fim da década de 1980. “Ozon: Re-
mastered & Uncut” é o nome desse
.doc, feito pra streaming.
“Fui muito impactado pelo
cinema de (Rainer Werner) Fass-
binder quando comecei a estudar
cinema e senti uma identificação
forte com a estética do melodra-
ma, vendo Douglas Sirk, Pedro
Almodóvar e outros grandes no-
mes, de muita delicadeza. Mas eu
não rotularia o que eu faço como
melodramático, até por me pautar
pelo desejo de contar determinadas
histórias que me aparecem sem eu
encaixá-las em gavetas de gênero.
Ozon
Prolífico realizador francês
regressa às telonas brasileira com
o divertido ‘O Crime É Meu’ e revê
sua obra de formação, em curtas,
no projeto ‘Remastered & Uncut’
Mas eu não analiso o que faço, pois
o meu trabalho é outro”, disse Ozon
ao Correio da Manhã em sua pas-
sagem pelo Festival de San Sebas-
tián, em setembro, retomando uma
autoanálise que falou na Berlinale,
há um ano: “Eu não sigo métodos.
Filmo muito porque gosto de tra-
balhar e tenho ideias, sem perder
meu tempo pensando o que elas
simbolizam em conjunto”.
A partir de sua estreia em dose
dupla, em 1988, com “Photo de
Familie” e “Le Doigts Dans Le Ve-
tre”, Ozon dirigiu 16 curtas e um
média-metragem de 52 minutos
(“Regarde La Mer”), antes de lan-
çar seu primeiro longa: “Sitcom
que ele criou o seu estilo sensual,
majoritariamente queer, com que
viria a atriz estrelas classe AA da
França, como Isabelle Huppert,
que participa com destaque em “O
Crime É Meu”.
“Gosto de diretores que têm
um universo próprio e me ofe-
recem histórias que me tirem do
maniqueísmo. Vivi isso com Ozon
em ‘8 Mulheres’ e agora, nesse novo
filme”, disse Isabelle ao CORREIO
DA MANHÃ durante o fórum
Rendez-Vous Avec Le Cinéma
Français, em janeiro. Envelopado
numa direção de arte requintada,
“O Crime É Meu” transporta a pla-
teia até a Paris de 1930, onde Ma-
deleine Verdier (Nadia Tereszkie-
wicz), uma atriz jovem, pobre e sem
talento, é acusada de assassinar um
famoso produtor. Sua melhor ami-
ga, Pauline (Rebecca Marder), uma
advogada desempregada, consegue
defender Madeleine com afinco e
ela acaba absolvida por legítima de-
revelada. Essa revelação inclui per-
sonagens encarnados um elenco es-
telar com direito a atuações impe-
cáveis de Isabelle, André Dussollier,
Fabrice Luchini e o já citado Boon,
também diretor, que estrelou e di-
rigiu o fenômeno “A Riviera Não
É Aqui” (visto por 20.000.000 de
pagantes em 2008).
“Gosto das descobertas que
cercam as pulsões que não sabemos
verbalizar”, diz Ozon, que em 2019
deixou a Berlinale com um Urso
de Prata, após receber o Grande
Prêmio do Júri da competição ger-
mânica por “Graças a Deus”, no
qual denunciou casos de pedofilia
cometidos por sacerdotes católicos.
“O cinema é uma força. Tem força.
E alguns têm medo disso. Filmar
é algo que me dá satisfação. Mon-
tagem também. O processo de
construção de um filme me atrai,
sobretudo por que eu aposto em
narrativas muito diferentes, o que
não me enfastia”.
 4 Televisão
Bottini culpa as Lojas Americanas pelo fim do Shoptime: ‘Tentaram fazer coisas novas que não davam certo’
‘Serei a
múmia ’
das vendas
Por onde anda Ciro Bottini,
o homem que vendia de tudo na TV
Por Júlio Boll (Folhapress)
S
ão pequenas as probabilidades
de um brasileiro com acesso à
TV não ter visto este rosto na
tela em algum momento, entre
o início dos anos 1990 até 2020. Por mais
de 25 anos, Ciro Bottini passava horas e
horas no ar vendendo panelas, eletrodo-
mésticos, relógios, CDs, e o que mais pu-
desse interessar aos espectadores do Shop-
time, primeiro canal voltado a vendas da
TV paga no país.
O Shoptime saiu do ar no início de
junho deste ano, mas desde 2020 já não
contava com sua maior estrela. Bottini,
ex-locutor de rádio e de um shopping cen-
ter de São Paulo, decidiu pedir as contas
naquele ano por discordar do novo mo-
delo de gestão da empresa e das novidades
que tentaram implementar.
Segundo ele, o início da derrocada se
deu com a venda da emissora pela Glo-
bosat para as Americanas, em 2005. “A
cultura da empresa era bem diferente A
Americanas sempre foi carrancuda”, diz
ele, o avesso do avesso do que se conven-
cionou chamar de “carrancudo” em suas
apresentações na TV.
Parece papo de vendedor, mas ele jura
que não: mais do que faturar (e muito),
seu objetivo era “encantar o espectador”.
Reprodução
Simpático, sorridente e com uma lábia
impressionante, Bottini tinha um dis-
curso sempre positivo e entusiasmado,
em que evitava expressões como “talvez”,
“quem sabe”, “pode ser”. Mais do que ra-
zão, o cliente tem que ter certeza.
O tal do “Eu mereço” faz toda a dife-
rença, e Ciro sempre soube disso. Ele, cla-
ro, tinha algumas palavras-chave em seu
discurso, afinal, consumidor confiante
abre a carteira (eis uma das primeiras li-
ções dos cursos de marketing).
“Sempre gostei muito de ‘incrível’,
roubei essa do Steve Jobs, inclusive (ri-
sos). Tem outras, como ‘sensacional’, ‘qua-
lidade’ e ‘magnífico’”, enumera.
Ele era feliz e sabia - até que veio a
nova gestão.
“Tentavam fazer coisas novas a cada
90 dias, não dava certo. Tentaram colocar
programas de entrevistas, mas a gente ti-
nha que vender produto. Esse é o ponto.
Parece que não entendiam”, critica. “E o
colapso da Americanas foi inacreditável.
É caso de polícia mesmo”, provoca.
Da saída do Shoptime para cá, três
anos se passaram, e Bottini, 57, não ficou
parado. Já lançou dois livros sobre ven-
das (claro) e vem se dedicando a campa-
nhas publicitárias e palestras. Abriu uma
produtora, a Máquina de Propaganda, e
segue com entusiasmado com a carreira.
“Nem penso em me aposentar, serei a mú-
mia das vendas”, brinca.
Segunda-feira, 3 de Julho de 2023
‘Sonic’ acelera
a ‘Tela Quente’
Divulgação
Sonic promete ampliar a
audiência da Globo nesta segunda
Por Rodrigo Fonseca
Especial para o Correio da Manhã
Criado no Japão, em 1990, por Naoto
Ohshima e Yuji Naka, para a desenvolvedora
de jogos eletrônicos Sega, Sonic vai invadir a
TV aberta esta noite, como atração da “Tela
Quente” da Globo, dublado por Manolo
Rey, levando pra TV aberta uma das fran-
quias mais pop desta década. Embora tenha
sido atropelado pela pandemia quando esta-
va no auge de sua arrecadação nas telonas, o
filme de 2020 que trouxe o ouriço superveloz
para o cinema foi orçado em US$ 85 milhões
e faturou US$ 319 milhões. Sua continuação
arrecadou US$ 405 milhões no ano passado.
Ambas trazem Jim Carrey como vilão, o Dr.
Robotnik, que recebeu a voz de Tatá Guar-
nieri na versão brasileira.
Graças à popularidade dessa cinessérie
– que se expandiu com uma linha de brin-
quedos, camisetas e itens escolares –, Holly-
wood percebeu o quanto pode ser rentável
investir em videogames, como se viu este ano
com “Super Mario Bros”, maior bilheteria de
2023, com US$ 1,3 bilhão de receita na ven-
da de ingressos.
Na trama que a Globo exibe esta noite,
Sonic, um ser de um planeta de criaturas ani-
mais com superpoderes, é abandonado ainda
guri na Terra. Ele vai encontrar um lar na casa
do xerife Tom (James Marsden) ao correr pe-
las ruas de Montana, onde ele é patrulheiro.
A presença desse ser no planeta acaba atrain-
do as atenções de um cientista abilolado, Ro-
botnik, que deseja se apoderar da super velo-
cidade do ouriço.
Segunda-feira, 3 de Julho de 2023
‘Gosto muito da
minha maturidade’
Como Adriana
Esteves foi
da Band a
medalhão da
Globo com
vilãs como
Carminha
Por Guilherme Luis (Folhapress)
É
com os olhos esbuga-
lhados e a boca retor-
cida numa expressão
raivosa que Adriana
Esteves aparece em memes com-
partilhados incansavelmente nas
redes sociais. Sua Carminha, a vilã
da novela “Avenida Brasil”, de 2012,
caiu nas graças dos brasileiros e de
lá nunca saiu.
Agora, mais de 10 anos depois,
a atriz ressurge com cara de pou-
cos amigos em “Os Outros”, nova
série do Globoplay com episódios
semanais. Esteves interpreta a pro-
tagonista, Cibele, mãe superpro-
tetora que perde os escrúpulos na
tentativa de proteger o filho de um
vizinho mal-intencionado.
Mas a tresloucada Carminha e
a soturna Cibele pouco têm a ver
com a serenidade alcançada por
Adriana Esteves aos 53 anos. “É
gostoso pensar que ainda estou jo-
vem e que há tanta coisa pela frente.
Adoro olhar para trás e ver minha
história inteira, o tanto que já hou-
ve de batalha, esforço e dedicação.
Não posso usar a palavra sofrimen-
to”, diz ela, por videoconferência.
Flertar com o desequilíbrio
emocional de Cibele em “Os Ou-
tros” é a parte mais difícil de inter-
pretar a personagem, diz Esteves.
Na história, a mulher entra em con-
flito com Wando, papel de Milhem
Cortaz, após o filho dela ser agredi-
Adriana Esteves como Cibele em ‘Os Outros’: ‘Ela é tudo que não quero ser’
do pelo filho dele no condomínio
onde eles vivem. A briga escala ao
longo dos episódios e toma propor-
ções incontroláveis.
“Os Outros” estreou há apenas
um mês, mas Cibele já é uma das
personagens mais elogiadas da car-
reira de Esteves. Na pele da perso-
nagem, a atriz precisa levar seu lado
materno ao extremo. Ela dá berros
ensandecidos, cospe no rosto de
seu nêmesis e até compra um revól-
ver para proteger o filho. “A perso-
nagem me desequilibra, e não pude
ter medo disso para compô-la. Ela é
tudo o que eu não quero ser.”
A atriz, que ostenta um currícu-
lo extenso, com dezenas de papéis
na televisão e no cinema, leva jeito
para interpretar figuras inescrupu-
losas. A quintessência disso é sua
Carminha, escrita por João Ema-
nuel Carneiro.
O dramaturgo conta que pre-
cisou mexer uns pauzinhos para
escalar a atriz. “Eu me seduzi com
a possibilidade de ela ser a Carmi-
nha e fiz uma pequena conspiração,
porque a Globo queria outra atriz”,
diz Carneiro, por telefone, sem re-
Streaming
velar de quem Esteves fisgou a per-
sonagem. “Eu atirei no escuro. Mas,
quando fiz uma filmagem de teste,
tive certeza.”
A relação íntima de Esteves
com seus personagens também im-
pressiona Luísa Lima, diretora de
“Os Outros”. “Adriana é operária
do ofício. Ela nunca vai para o mo-
nitor revisar as cenas porque não
quer saber se está fazendo assim ou
assado, se fez uma cara meio estra-
nha ou se ficou bonita. Ela não tem
pudores em cena.”
Lima dirigia a atriz também na
minissérie “Justiça”, de 2016, época
em que se perguntava como Esteves
faria para se desvincular da imagem
de Carminha. A atriz, por outro
lado, afirma que não teve medo de
seguir em frente. Ela descansou por
pouco mais de um ano e voltou a
trabalhar no folhetim “Babilônia”,
de 2015, como a vilã Inês.
A novela, escrita por Gilberto
Braga, foi um fracasso. Parlamen-
tares evangélicos organizaram um
boicote por causa de um beijo lés-
bico, fazendo com que a audiência
despencasse. O roteiro tampouco
Reprodução Globoplay
agradou aos críticos.
Não demorou para que ela con-
seguisse apagar aquela mancha do
próprio currículo. Sua personagem
seguinte, a Fátima, de “Justiça”, ren-
deu uma indicação ao Emmy Inter-
nacional.
Em 2018, Esteves retomou a
parceria com Emanuel Carneiro
na novela das nove “Segundo Sol”,
quando foi escalada mais uma vez
para interpretar uma vilã, a cafetina
Laureta. A atriz seguiu no horário
nobre no ano seguinte com Thel-
ma, de “Amor de Mãe”, que vira
antagonista com o desenrolar da
trama. É a prova de que Esteves foi
mesmo feita para as vilãs.
A atriz mantém contrato fixo
com a Globo desde a década de
1990, mas foi na Band que sua
carreira começou. Ela foi chama-
da para apresentar um programa
da emissora depois de se cadastrar
numa agência de modelos e atores.
A carioca despertou o interesse de
Boninho, que a convidou para um
quadro do Domingão do Faustão.
Não deu certo, e a vaga foi con-
quistada por outra pessoa. Desem-
5
pregada, Esteves decidiu se arriscar
num teste para um papel pequeno
da novela “Top Model”, de 1989.
Ela foi aprovada e emendou um
personagem no outro até ser con-
tratada para protagonizar “Renas-
cer”, de 1993.
O papel lhe rendeu uma enxur-
rada de críticas, e ela recebeu diag-
nóstico de depressão pouco depois.
“Foi uma novela que exigiu muito
trabalho, e eu estava muito sen-
sível”, diz ela, negando que tenha
ficado mal só por causa dos comen-
tários negativos. “Acho que sou um
pouquinho mais complexa do que
isso. Eu não entraria num quadro
depressivo por causa de crítica de
novela. Dizer isso é reduzir demais
a minha história.”
Esteves ficou dois anos sem
atuar. Doente, ela precisou recusar
um papel na novela “Quatro Por
Quatro” e, por causa disso, foi dis-
pensada da Globo. Quando conse-
guiu voltar a trabalhar, migrou para
uma novela do SBT.
Levou só um ano até que ela
atraísse de novo o faro da Globo,
para onde voltou como protago-
nista de “A Indomada”. A partir daí,
sua carreira decolou. Ela fez clássi-
cos como “O Cravo e a Rosa”, “Co-
ração de Estudante” e “A Senhora
do Destino”, em que viveu a versão
jovem da vilã Nazaré Tedesco, eter-
nizada na pele de Renata Sorrah.
Ela chegou aos 50 anos, há
três anos, querendo cuidar não só
da mente, mas também do corpo.
Hoje, comemora uma cirurgia
bem-sucedida de histerectomia,
de remoção do útero, feita recen-
temente. Ao vislumbrar o futuro,
Esteves diz que não vê a hora de
ser avó e que quer continuar com a
saúde em dia para nunca deixar de
trabalhar. “Gosto muito da minha
maturidade. Tenho me sentido sa-
tisfeita, feliz e corajosa. Estou con-
seguindo ser a mulher que persigo
há tantos anos.”
6 Streaming
CantO Da CrÔniCa
LUÍS PimenteL
JORNALISTA E ESCRITOR
luispime@gmail.com
Viva São João
T
oda a Bahia (e
todo o Nordeste) se
alegra quando chega o dia
dele, do santo protetor da fo-
gueira, do milho assado, da
canjiquinha, do bolo de fubá,
do amendoim cozido. E, tam-
bém, do quentão e do licorzi-
nho, que ninguém é de ferro.
No Sudeste é bem querido;
mas no Nordeste (especial-
mente na Bahia!) é até feriado
(para o pessoal curar a ressaca
da noite anterior, dedicada
aos arrasta-pés), ele é ama-
do, reverenciado e esperado
o ano inteiro. Inspirador dos
compositores, o São João já
rendeu muita música bonita.
De Luiz Gonzaga a Bragui-
nha (passando por Domin-
guinhos, Xangai, Targino
Gondim, Maciel Melo, Alceu
Valença, Geraldo Azevedo,
Nando Cordel...), o repertó-
rio é vasto e é lindo. Minha
canção junina preferida é uma
que diz assim (de Gonzagão
e Guio de Moraes): “Ai, São
João, São João do carneirinho,
você é tão bonzinho / Fale lá
com São José, peça pra ele me
ajudar / Peça pro meu milho
dá vinte espiga em cada pé”.
Aqui vão duas historinhas
inspiradas na data:
1. Foi o inocente Dorival
quem causou a separação dos
pais – Dora e Lourival, como
a combinação denuncia –, em
noite de São João. Dorinha
jogou todo o capricho de mãe
na fantasia do caipira-mirim:
costeletas e bigodinho feitos
com carvão, canino emprete-
cido no lápis crayon, remen-
dos de chita colorida na calça
e na camisa. Tava uma graça.
Enquanto isto, Lourival
enchia a moringa com licor de
jenipapo, falando besteiras e
gargalhando com os amigos em
volta da fogueira. Orgulhosa
que só vendo, Dora levou o me-
nino até a calçada, para o paizão
conferir o trabalho:
– Tá bonito, não tá, Lou-
ro? Um verdadeiro caipira.
E o jumento insensível,
entre um arroto e outro:
– Vai lavar a cara desse
menino. A festa é de São João,
não é carnaval.
Dora usou a lenha da fo-
gueira para incendiar a casa,
depois sumiu no mundo. Le-
vando o pequeno Dori, que
não entendeu nada.
2. Depois de 30 anos de
casamento arrastado, resolve-
ram exercitar o romantismo
numa noite de São João. Co-
locaram as cadeiras na calçada
e ficaram a contemplar o céu
de junho:
– Olha, Nestor, que lin-
do balão. Ganha o céu e as
alturas, carregando com ele
mensagens de paz e de pros-
peridade.
Um brinde à resposta do
velho:
– Deixa de ser tola, Lucila.
Qualquer um vai às alturas, quan-
do ainda se tem fogo no rabo.
++++++++++++++
É isso: nas oropas, na
França ou na Bahia, o fogo
no rabo ainda é o que nos faz
contemplar horizontes, seja
no São João ou em qualquer
época, no sentido fulguroso
(segundo o Dicionário, “acri-
monioso, adulteroso, afe-
tuoso, desvalioso, especioso,
infeccioso, infectuoso, infe-
tocontagioso, ingluvioso, mo-
roso, peixe-barroso, poroso,
rumoroso”) ou figurado.
O longa português ‘A Fábrica de Nada’, de Pedro Pinho, narra com
picardia e elementos documentais o sucateamento do trabalho
Estética de
porcas e
parafusos
Laureado com o Prêmio da Crítica
em Cannes, ‘A Fábrica de Nada’ leva
o cinema português ao streaming
Por Rodrigo Fonseca
Especial para o Correio da Manhã
T
em sido um ano de fô-
lego farto para o cine-
ma português na cena
dos grandes festivais,
com a conquista do Prêmio do Júri
da Berlinale 2023 por “Mal Viver”,
exuberante tratado sobre solidões
de João Canijo, e a boa recepção
de “As Filhas do Fogo”, de Pedro
Costa, em Cannes. Noutra latitu-
de, a do streaming, o audiovisual da
terrinha também faz bonito, como
se vê pela presença de “A Fábrica de
Nada” na plataforma Reserva Imo-
vision, canteiro de vozes autorais na
rede.
Seu diretor, Pedro Pinho, que
já visitou o Brasil em festivais, pro-
duziu um dos cults lusos de 2022:
“Nação Valente”, de Carlos Con-
Segunda-feira, 3 de Julho de 2023
ceição. Estima-se que haverá algum
filme dele – como diretor ou pro-
dutor – na seleção competitiva do
Festival de Locarno, que será anun-
ciada nesta quarta-feira.
Ativista da causa da perple-
xidade ética, Pinho construiu “A
Fábrica de Nada” ciente de nossa
orfandade em relação à falência dos
(meta)discursos políticos que ou-
trora explicavam e confortavam o
mundo, como o marxismo, o anar-
quismo, e até o socialismo cristão.
Fez um filme para expor o quanto
somos órfãos, mas numa aborda-
gem um tanto analgésica, que nos
alumbra. O diretor costura núme-
ros musicais com trechos docu-
mentais e situações cômicas quase
caricatas com dramas realistas. Essa
mistura é das mais radicais – e, ao
mesmo tempo, das mais harmôni-
cas – que o cinema contemporâneo
Divulgação
já viu, sobretudo em língua portu-
guesa. Vem daí o Prêmio da Crítica
de Cannes, dado pela entidade cha-
mada Fipresci (Federação Interna-
cional de Imprensa Cinematográfi-
ca) que o longa conquistou.
Tudo neste filmaço lusitado é
registrado numa fotografia esmae-
cida, na qual a câmera de Vasco
Viana rejeita excessos de cor e luz.
Tudo está esgotado, como o mun-
do. Existe um mote: a demolição
da lógica fabril herdada dos 1800
e, até hoje, vigente, como um zum-
bi da História. Existe uma trama:
um grupo de operários se encres-
pa com a administração de uma
indústria de elevadores, ao flagrar
a gerência está roubando máqui-
nas e matérias-primas, e fazem um
levante que tem um ônus - todos
serão obrigados a permanecer em
seus postos, no ócio, até as nego-
ciações para demissão coletiva
saírem. José Smith Vargas encarna
o mais combativo desses trabalha-
dores. Entre eles, existe uma vivên-
cia de dor.
Explicitado esse enredo, as
tensões geram invenções, desde co-
reografias dos trabalhadores até di-
gressões de teóricos. E, a um dado
momento, brota uma frase român-
tica – “O filho da p... do amor, se
for mesmo amor, é incondicional”
– provando estarmos diante de um
olhar terno sobre pessoas, e não de
uma tese sociológica. E a monta-
gem primorosa galvaniza a poética
de alarmismo de Pinho.
Segunda-feira, 3 de Julho de 2023
Melhor que a festa
do meu apê
Por Cláudia Chaves
Especial para o Correio da Manhã
U
ma pergunta que nos cala fun-
do: há melhor do que festa
de criança, ou ainda melhor,
comida de festa de criança?
Salgadinho, cachorro-quente, batata frita,
estrogonofe, bolo, docinhos? E ainda mais
quando o espaço é enorme, tem drinques,
chope gelado, um quintalzão cheio de som-
bras, todo o conforto?
Assim é Casinhas, autodenominado o
primeiro rodízio de comida de festas do Bra-
sil, com duas unidades em Campo Grande,
uma em Madureira e o recém-inaugurado
espaço no Recreio dos Bandeirantes.
Escolhemos o Recreio, porque a von-
GASTRONOMIA
CRÍTICA / RESTAURANTE / CASINHAS
tade era mesmo comer muito salgadinho.
Fomos recebidos pelo gentil Anderson e
pela eficiente Carol. Antes mesmo de sen-
tamos, vieram com a torta salgada (aquela
de pão de forma com recheios). Tenho que
dizer que uma das minhas maiores falhas
na cozinha é justamente essa torta. A da
Casinhas vem com três recheios, macia,
molhada e cortada bem fininha.
O cardápio é infindável praticamente:
feijão amigo, creme de ervilha, a torta, es-
trogonofe, arroz a piemontesa com molho
madeira, massinha com molho de toma-
te, massinha com molho branco, salada
com molho caesar. Batata frita, cachorro
quente, kibe, croquete de carne, barriga,
empanado de camarão, bolinho de queijo
coalho, bolinho de aipim recheado, boli-
Oseias Barbosa/Divulgação
A casa oferece várias opções de
bolo e os tradicionais brigadeiro
e beijinho de coco
nho de queijo com orégano.
Sentimo-nos em casa totalmente. Além
do prédio, os pratos, servidos sem parar,
todos vieram quentes, em pequenos potes,
com aquele gosto de comida de mãe. Os fla-
shes da infância se transformaram em uma
7
série com dezenas de capítulos porque fui
com Senhor I. , meu amigo desde a Pré-Es-
cola, companheiro de todas as aventuras,
sobretudo as festas e gastronômicas.
As bebidas sem álcool, sucos, refrigeran-
tes estão incluídos no valor. A cerveja/chopp
é caseiro, gelado e bem tirado. Os drinques
são os clássicos e pode-se escolher entre leve,
médio e mais forte. Depois de tudo chegam
o bolo, docinhos variados (cajuzinho, briga-
deiro, beijinho). E como é junho, finalizaram
com a canjica, simplesmente deliciosa. E a
melhor surpresa, R$ 50 dia de semana e R$
59 nos fins de semana. Fizemos as contas, é a
festa mais econômica que já vimos. Por isso,
concluímos que vai ter festa lá nas Casinhas.
SERVIÇO
CASINHAS
Unidade Recreio (Rua Mininstro
Aliomar Baleeiro, 51 – Recreio dos
Bandeirantes)
Diariamente, das 18h a 0h.
Crianças até 4 anos não pagam e de
5 à 8 anos pagam meia
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