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24 NOVEMBRO 2023
REVISTA
DO NASCER
DO SOL
LILIANE
BETTENCOURT
HISTÓRIAS E
POLÉMICAS DA
FAMÍLIA MAIS
RICA DO MUNDO
SARA
TAVARES
ANTÓNIO PEDRO SANTOS
O eterno
Ponto de Luz
SUMÁRIO
24 NOV
NAS REDES
Maria Botelho Moniz e Pedro
Bianchi Prata apresentam o filho,
Vicente
06
QUESTIONÁRIO PORTEFÓLIO
NATAL/ANO NOVO Desfile da estilista
A consoada pouco tradicional Fátima Lopes dedicado
da apresentadora Jani Gabriel a Simone de Oliveira
e Ruy de Carvalho
10 12
26 36
Um sonho exclusivo
– Laura Ramires
EDITORIAL
V
iver em Portugal é um sonho». Com mora-
da em Melides desde maio de 2022, onde
passa grandes temporadas com o marido e
filhos, a princesa Eugenie foi o mais recen-
te membro da realeza a descobrir os en-
cantos do nosso país. O clima, a gastronomia e a segu-
rança continuam a atrair cada vez mais celebridades
internacionais, desde o cinema à moda com Lisboa,
Porto, Troia, Comporta e Algarve a serem os destinos
de eleição para comprarem casa. Mas seja para garan-
tir nova morada ou apenas para gozar um período de
férias, Portugal tornou-se já um verdadeiro “Passeio da
Fama”: Tom Brady e Gisele Bundchen partilharam re-
gistos na Comporta no verão de 2022, ainda antes de
anunciarem o divórcio e, no último mês de agosto,
também Janet Jackson escolheu aquela zona para go-
zar um período de férias. A irmã de Michael Jackson
instalou-se em Melides, no luxuoso Hotel Vermelho de
CULTURA/ ÓBITO Christian Louboutin, o conceituado designer francês
Sara Tavares, que escolheu já há vários anos Portugal como casa.
Também Jesse Tyler Ferguson, conhecido ator da série
o eterno “Ponto de Luz” Modern Family, andou por Portugal nos últimos tem-
pos, com passeios pela vila de Sintra e pelo Douro.
E numa altura em que a cozinha portuguesa ganha
cada vez mais destaque e dimensão internacional,
também através dos prémios e distinções como as es-
trelas Michelin, as terras lusas provam ser cada vez
14 mais saborosas. Nos últimos dias, o renomado chef Ja-
mie Oliver esteve pelo Porto, onde provou a célebre
francesinha, que apelidou de «sanduíche mais louca
E TAMBÉM ESTA SEMANA que já comeu na vida».
Viver em Portugal é um sonho. A princesa Eugenie não
07 Nas redes Jamie Oliver no Porto: tem dúvidas disso, sobretudo pela liberdade que o país
da sardinha no pão à francesinha lhe proporciona, onde até pode ir ao «supermercado
14 Sociedade Marina Machete no top-20 do Miss Universo de roupa de treino e mola na cabeça», uma vez que
«ninguém quer saber». Lá nisso tem razão, já que esse
18 Volta ao mundo Cartas de Napoleão à venda
“protocolo” em concreto até é bastante comum. De res-
42 Agenda Bailado ‘A Bela Adormecida’ to, e apesar de reunir todas as condições de país ideal,
no Coliseu dos Recreios viver em Portugal é um sonho quase exclusivo para
46 Retratos Contados Onde estavas no 25 de Novembro? príncipes, princesas e celebridades internacionais.
F
alei há umas semanas, de essa era a sua força e a sua fraqueza. Procuraram rotulá-
raspão, do último livro de -lo de inculto e ele puxa dos galões. Antes de ser políti-
Luís Filipe Menezes, com co tinha uma carreira. Era médico. Trabalhou em Fran-
o título de Homo Líder. ça. Tinha mundo.
Mas o livro merece um Mas notando-se a mágoa de nunca ter sido aceite pela
pouco mais de atenção. ‘elite’ lisboeta, Menezes procura ultrapassá-la e ser ob-
Não abunda a literatura jetivo. Numa escrita ágil, que nunca é enfadonha, revol-
mostrando os partidos ve as entranhas do partido e fala sem punhos de renda
por dentro, e quando sur- das suas principais figuras.
ge é muitas vezes marca- Lisboa conheceu-o no Congresso para a sucessão de Ca-
da pelo ressentimento, vaco Silva, que opôs Fernando Nogueira e Durão Barroso.
por ofensas recalcadas, Nesse conclave, Menezes pronunciou uma famosa frase
por frustrações resultan- que seria glosada à saciedade, quando classificou os barro-
tes de fracassos. sistas de «elitistas, sulistas e liberais». Foi ridicularizado e
Neste livro de Menezes nota-se também algum res- saiu a chorar do Coliseu. Escreveu-se que a sua carreira
sentimento sobretudo pelo modo como foi tratado – e política tinha acabado ali. Eu fui talvez o único colunista
desvalorizado – pela imprensa lisboeta. Mas aí tem ra- com alguma expressão que escreveu o contrário: que a sua
zão. Há uma altivez despropositada da autoproclamada carreira começava ali. E estava cheio de razão.
‘elite’ da capital em relação às pessoas da ‘província’ e Falando das figuras do partido, percebe-se que não gos-
designadamente do Porto. Também Rui Rio foi vítima ta de Cavaco Silva. Sublinha o seu egocentrismo, que não
disso. Curiosamente, três dos políticos que marcaram lhe permitia reconhecer o mérito dos outros. A propósito
mais a política portuguesa nos últimos 100 anos vieram dos dossiês do Kosovo e do Estatuto dos Açores, escreve:
da província: Salazar, Sá Carneiro e Cavaco Silva. «O presidente Cavaco Silva, na sua autobiografia, cha-
Menezes foi secretário de Estado, líder do PSD e pre- mou a si a dinâmica milagrosa que tudo resolve, como se
sidente da Câmara de Gaia. E tinha uma qualidade in- tivesse tido uma crise de amnésia política. O seu trajeto
discutível: era politicamente incorreto. Procurava de- de obra e reformas estruturais profundas e positivas
safiar as verdades estabelecidas, o establishment – e não necessitavam desses ‘trocos’».
Pacheco Pereira é ruim e de mau caráter, e Ferreira Leite tem a memória fraca
Mas Menezes é sobretudo arrasador para dois políti- mais violentas. «Conheço-o muito bem. Fui eu que lhe
cos que saíram do ativo e passaram a comentadores: dei a mão quando ninguém lhe dirigia a palavra no gru-
Manuela Ferreira Leite e Pacheco Pereira. Trata-os com po parlamentar da primeira maioria absoluta.
uma violência que raramente se vê. Chega a doer a for- Conheço a história de ter ido primeiro bater à porta
ma como se lhes refere. do PS após ter apoiado a primeira eleição presidencial
Sobre Manuela Ferreira Leite, que era sua vizinha nas de Mário Soares, mas também sei como a sua entrada
Torres do Restelo, um pouco acima do estádio do Bele- foi prontamente bloqueada pela maioria soarista. Eles
nenses, quando Menezes viveu em Lisboa, diz: «Esse conheciam-no!
conhecimento recíproco acentuou-se ainda mais devi- Entrou no PSD nas listas candidatas à AR na época
do ao facto de ambos sermos membros do Conselho de da opção política do início do cavaquismo, tipo ‘alber-
secretários de Estado e estarmos reunidos durante gue espanhol’. Esse Pacheco Pereira era um modesto
muitas horas, todas as segundas-feiras à tarde. Duran- professor de filosofia em princípio de carreira coloca-
te dois anos. do no interior profundo, que por essa via já talvez ti-
Foi nessa altura, 1993, que baptizei o meu terceiro fi- vesse chegado à aposentação numa escola do Grande
lho e entre os poucos colegas de Governo que convidei Porto. Sem o PSD nunca teria atingido a expressão pú-
para a festinha do bebé estava naturalmente Manuela blica e os benefícios socioprofissionais e socioeconó-
Ferreira Leite. micos de que hoje usufrui.
A vida afastou-nos, o que não é drama nem origi- É um homem culto, inteligente, viajado, mas tam-
nalidade. bém ruim, mau carácter, vingativo, obcecado e, na
O que é sintomático e estruturante de algo feio e minha opinião, por estar sempre de mal com o seu
espúrio foi eu ter lido numa longa entrevista, após infinito ego, frustradíssimo e infeliz. Muito mais de
me ter substituído na liderança partidária, a seguin- pessoal poderia acrescentar sobre este homem mal-
te frase: ‘Luís Filipe Menezes, conheço-o muito su- doso e intelectualmente desonesto, mas prefiro não
perficialmente, mas nunca tivemos qualquer tipo o fazer e peço a Deus que ele nunca mais tente obri-
de intimidade’. gar-me a fazê-lo».
Não valia a pena ir por aí!». E com esta ameaça velada arruma o assunto.
Já sobre Pacheco Pereira, as considerações são bem Um livro que vale muito a pena ler.
Gwyneth Paltrow
Uma lista excêntrica
A renomada atriz Gwyneth Paltrow, aos 51 anos, lan-
çou a sua tradicional lista de presentes de Natal atra-
vés do seu site Goop, abordando categorias peculiares.
A secção intitulada “Ridículo mas Incrível” apresenta
517 artigos, com destaques que vão desde uma pulseira
de ouro de 18 quilates por 36 mil euros até um vibra-
dor de ouro de 24 quilates, avaliado em 13.700 euros.
A lista inclui itens extravagantes como queijo parme-
são envelhecido por 24 anos (365 euros), um panetone
“especial” (59 euros) e macarons dourados (150 eu- ROBERT PATTINSON mostrou a barriga de grávida já
ros). Além disso, destacam-se outros presentes volta- E SUKI WATERHOUSE saliente. Os dois atores foram
dos para casais, como o massajador anal “El Vecino” e vistos pela primeira vez,
uma almofada sexual para facilitar diferentes posições.
BEBÉ A CAMINHO juntos, em julho de 2018 e
Gwyneth Paltrow é conhecida pelas suas escolhas ex- foram viver na casa de ambos
cêntricas, e a lista reflete a sua abordagem única ao es- «Decidi vestir algo brilhante durante a pandemia de covid-
tilo de vida e ao bem-estar, com produtos que variam hoje para tentar distrair-vos -19. «Acho que ele sente o
desde extravagantes até itens de utilidade questioná- de outra coisa que está a mesmo por mim. Sempre
vel, com preços muitas vezes elevados. acontecer... mas não tenho a temos muito a dizer e eu acho
certeza de que está a hilariante», contou Suki
funcionar», disse Suki, de 31 recentemente, ao referir-se
anos, durante a sua atuação no àquilo que sente quando vê o
Corona Capital Festiva, no número de Pattinson, de37
México. Logo de seguida, a anos, surgir no ecrã do seu
artista abriu o casaco e telemóvel.
Jani
Gabriel
1/Natal é…
2/Qual o melhor programa
para um chuvoso domingo
de dezembro?
3/Afinal, qual é a data
aceitável para montar
árvore/ fazer presépio?
1/…União. 7/ Todos aqueles que nos
4/Tradição que não pode apeteçam desde os que
faltar nesta época. 2/ Sem dúvida sofá são intemporais aos
e mantas, em casa recém-lançados, mas
dos meus pais. não… não faço questão de
5/Além do bacalhau
ver o Sozinho Em Casa
e do peru, a mesa não fica 3/ Ora bem, isto é outra vez! Quanto às músi-
completa sem… um caso que eu tenho cas: uma playlist, ‘Michael
sempre por hábito Bublé Christmas’. Aquece
6/Sobremesa natalícia “discutir”. Para mim, sempre o coração.
favorita. o que faz mais sentido
é cumprir o advento. Este 8/ Os presentes com mais
7/Música(s) e filme(s) ano esse mesmo domingo significado são aqueles fei-
obrigatórios. é dia 3 de dezembro. tos por nós. Gosto de ofe-
recer coisas personaliza-
8/Três sugestões 4/ Rumar até ao Algarve, das e feitas por mim ou,
de presentes. à minha terra natal. por exemplo, coisas espe-
ciais como uma moldura
9/Cada vez mais perto 5/ Na minha mesa de onde esteja uma recorda-
do final, já se pode dizer Natal não há nem baca- ção de um momento espe-
lhau, nem peru… não cial dessa pessoa.
que o ano de 2023 foi….
somos tradicionais, mas
não pode faltar marisco! 9/…. Intenso.
10/Três desejos
para o Ano Novo. 6/ Filhós de mel. 10/ Saúde; Trabalho; Amor.
U
Tenha fundamento ou não, Para eles, tudo nos filhos
é uma urgência e nenhuma se resolve pelo telefone.
m dia, por mero aca- térias, diarreias e vómitos, pernas partidas e até pana-
so, reparei que o rícios. Já passei natais nos míticos SO de pediatria, se-
meu filho bebé não manas com eles internados e também evitei as urgên-
tinha a língua unifor- cias quando devia ter lá ido mais cedo. Uma das vezes
me. Numa gritara de foi quando um dos meus filhos caiu duas vezes das es-
choro dei conta de cadas dois dias seguidos com o andarilho. Alguém,
uma textura estra- que ainda não descobrimos, deixou o portão das esca-
nha e desenhada. das aberto e a crianças seguiu o barulho que vinha do
Nunca tinha repa- andar debaixo precipitando-se pelas escadas. Como
rado em língua ne- não vomitou, dormiu bem, só chorou do susto e não ti-
nhuma e assustei- nha um arranhão, atrasei a ida às urgências. Se soube-
-me. Vesti a criança rem disto, a CPCJ entra-me pela casa a dentro e leva-
e levei-a ao hospital -me a criança, pensei. Não vou arriscar. E correu bem:
temendo uma infeção ou uma qualquer coisa de anormal atirei fora o andarilho.
que precisava de cuidados imediatos. Sabia que nunca Devo muito da minha vida de mãe às urgências hos-
mais dormiria se ele não fosse visto por um especialista. pitalares. A todos os auxiliares, enfermeiros e médi-
Pulseira verde, horas de espera e finalmente o veredicto: cos que viram os meus filhos crescer, que me atura-
“O seu filho tem a língua geográfica. Acontece. É como ter ram e foram verdadeiros pais e mães quando eu sabia
as orelhas grandes ou o nariz bicudo”. Senti-me estúpida e o que fazer. Que me educaram e ensinaram a dar uma
voltei para casa num misto de humilhação e alívio. Outra colher de chá de cinco em cinco minutos às crianças
vez a minha filha queixou-se de um altinho nas costas que quando as diarreias e os vómitos as desidratavam, me
lhe doía. Era uma espécie de borbulha saliente e cinzenta. explicaram que a febre não é doença, que as covinhas
Lá fui eu para as urgências. Mais uma pulseira verde, horas no peito é sinal de perigo nas infeções respiratórias e
de espera e outro veredicto humilhante: “A sua filha tem que a tosse de cão se cura com chá de cebola e cenou-
uma nódoa negra”. Não contei a ninguém e senti-me ainda ra e não com antibióticos.
mais estúpida do que da primeira vez. Outro dos meus be- As urgências de pediatria são a única porta aberta
bés, com semanas de vida, começou a tossir e o leite que ti- para pais desesperados, com ou sem razão, mas de-
nha acabado de beber saía-lhe pelo nariz. Mais um susto sesperados. Não existe mais nenhuma. E nenhum pai
e mais uma voltinha ao hospital. “Andou a brincar com consegue descrever o seu desespero por telefone. To-
ele depois de lhe dar leite?”, perguntou o médico. Sim, dos querem que o seu filho seja visto por alguém de
respondi timidamente, temendo nova humilhação. bata branca com urgência porque tudo num filho é
“Pois: ele engasgou-se e o leite saiu pelo nariz. Foi isso”. urgente. Tentar educar pais a não irem às urgências e
Pedi desculpa e mais uma vez não contei a ninguém. ligarem para as linhas de saúde é como tentar expli-
Também já fui às urgências de pediatria com os car a alguém que deve ligar à assistência do gás quan-
meus filhos por causa de infeções respiratórias, bac- do tem um fogo em casa. Não resolve nem sossega.
Fátima
Lopes
Alma d’Arte
A
1
FOTOGRAFIA
Bruno Gonçalves
4 5
1. Desfile Pela primeira vez, o
Palácio Nacional de Queluz
acolheu um desfile de moda
2. Homenagem Desfile foi
dedicado a Simone de
Oliveira e Ruy de Carvalho
3. Fátima Lopes com Sofia
Ribeiro [à esq.], Marcantonio
Del Carlo e Marisa Cruz [à dir.]
4. Coleção Apresentada nas
Salas do Trono e da Música
5. Som Voz de Dulce Pontes
abrilhantou o desfile
6 e 7. Alma D’Arte Nova cole-
ção dedicada às artes
6 7
O
TEXTO Maria Moreira Rato
Miss Portugal
rariamente os concursos de beleza em Portu-
gal. A retoma do evento nos anos seguintes,
como demonstrado pela eleição de Ana Paula
Freitas em 1974, que ocorreu no meio de um
Um concurso
período de transição política e social.
Desde então, o concurso Miss Portugal con-
tinuou a ser uma tradição, adaptando-se às mu-
com 64 anos
danças culturais e sociais. A seleção da miss en-
volve critérios que vão além da beleza física, in-
cluindo aspetos como simpatia, elegância,
postura e conhecimentos gerais.
O concurso não apenas destaca a beleza das
participantes, mas também proporciona opor-
Carla Caldeira A apresentadora, Marisa Ferreira Miss Portugal 1998, Laura Gonçalves Miss Portugal
modelo e Miss Portugal 1990 representou Portugal no Miss Universo 2011, representou o país no Miss
tem estado afastada dos ecrãs 1999 em Trinidade e Tobago, tendo vencido Universo, em São Paulo. Chegou
há vários anos o titulo de Miss Simpatia às 10 finalistas, uma classificação
inédita para Portugal no concurso
correntes de todo o mundo e a pressão asso- mente, temendo a desaprovação dos pais.
ciada ao evento. No entanto, eles não se opuseram, e ela par- MARINA MACHETE FEZ
Laura Gonçalves, com a sua atitude per- ticipou no concurso, embora sem muita con-
sistente e determinada, estava focada em al- fiança. Mesmo no dia da eleição, não acredi- HISTÓRIA: FOI
cançar o sucesso na gestão, seja trabalhan- tava que venceria. Surpreendentemente,
do para uma empresa de produtos de con- quase desistiu antes de ser coroada, mas foi A PRIMEIRA MULHER
sumo ou, eventualmente, gerindo a sua convencida a retornar ao palco.
própria marca. Recuando algumas décadas Após vencer o concurso nacional, Ana Ma- TRANS FINALISTA
através da crónica ‘As misses não têm ida- ria Lucas representou Portugal no Miss Eu-
de’, da autoria de Helena de Matos, publica-
da no Público, entendemos que na madru-
ropa, realizado na Grécia. O seu retorno foi
marcado pelo reconhecimento da sua sim-
DO MISS UNIVERSO.
gada de 11 de abril de 1970, um evento tele-
visivo levou as misses para os lares
patia e doce sorriso, além de trazer para Por-
tugal o prestigioso título de Miss Europa. De
A PORTUGUESA FICOU
portugueses, com Ana Maria Lucas a ser co-
roada Miss Portugal. Esse acontecimento,
seguida, participou nos concursos Miss Mun-
do, em Londres, e Miss Universo. ENTRE AS 20 MELHORES
ocorrido no Teatro da Trindade em Lisboa, Apesar da visibilidade proporcionada pe-
foi marcado pelo entusiasmo da audiência e los concursos de beleza, Ana Maria Lucas DA COMPETIÇÃO
pela transmissão posterior do desfile pela teve de enfrentar a realidade e seguir em
RTP. Ana Maria Lucas, elogiada pela impren- frente. Continuou a sua carreira como ma-
sa pela sua tez morena, elegância e beleza nequim, apresentou o Festival da Canção um
“bem portuguesa”, tornou-se uma figura des- ano depois, trabalhou numa empresa de
tacada nos anos 70. moda, tornou-se designer e atuou em tele-
Antes mesmo de conquistar o título de Miss novelas. Casou-se com o cantor Carlos Men-
Portugal, Ana Maria Lucas já atuava como des e teve dois filhos. Em 2009, Ana Maria
modelo para uma das casas de moda mais Lucas enfrentou um desafio significativo ao
prestigiadas de Lisboa, a Ayer. Quando a es- sofrer um AVC, que afetou a sua mão direi-
colheram como candidata, relutou inicial- ta e a fala.
Os concursos de beleza, especialmente o as mulheres portuguesas fossem bonitas», nistas questionaram a promoção da mulher
de Miss Portugal, estavam a tornar-se even- contou Maria João da Câmara, autora do li- associada aos concursos de beleza.
tos de grande popularidade, com a televisão vro Vera Lagoa – Um Diabo de saias, ao i, O ano de 1973 foi marcado pela ausência
a desempenhar um papel crucial na sua pro- em 2021. de Angola e Moçambique no concurso, e em
moção. O sucesso de 1970 levou à decisão de O lobby moçambicano, liderado por Jorge 1974, o contexto político da Revolução dos
repetir o concurso em 1971, transferindo-o Jardim, desempenhou um papel crucial na Cravos levou a uma interrupção de cinco anos
para o Casino Estoril. No entanto, a verda- promoção das candidatas moçambicanas. nos concursos de beleza em Portugal. Ana
deira reviravolta aconteceu com a decisão Em 1971, a angolana Celmira Bauleth, conhe- Paula Freitas, eleita Miss Portugal em 1974,
de incluir jovens das então colónias, abrindo cida como Riquita, foi coroada Miss Portu- representou uma transição nesse período tur-
espaço para uma dimensão política no uni- gal, recebendo uma receção triunfal ao re- bulento, sendo escolhida por um júri popu-
verso das misses. tornar a Angola. lar constituído por turistas no Sheraton.
Em 1971, as delegações de Angola e Mo- O universo das misses nos anos 70, com a
çambique chegaram a Lisboa, trazendo não Um concurso de sucesso e polémicas sua mistura única de beleza, política e even-
apenas uma beleza exótica, mas também O sucesso do concurso gerou lobbies político- tos sociais, permanece na memória como uma
uma desenvoltura e marketing eficazes. Fes- -militares, envolvendo figuras como o gene- época marcante na cultura portuguesa. As
tas foram organizadas em honra das candi- ral Spínola e Jorge Jardim, que procuravam controvérsias, lobbies e a influência política
datas africanas, destacando-se a presença aproveitar a importância do evento para os transformaram os concursos de beleza em
do merengue, marrabenta e kuela. A jorna- seus interesses. O concurso de beleza tornou- arenas onde a estética e a política se entrela-
lista Vera Lagoa, através do Diário Popular, -se, assim, um terreno onde as dinâmicas po- çavam de maneira complexa.
documentou pitorescamente as viagens e líticas de diferentes territórios portugueses De notar que no final de 2022, Jakapong “An-
participações das misses portuguesas nos se entrelaçavam. ne” Jakrajutatip tornou-se a primeira mulher
concursos internacionais. «Era uma mulher O auge da controvérsia ocorreu em 1972, a deter o Miss Universo. Magnata dos media e
absolutamente livre. A título de exemplo, quando a Guiné entrou na competição com ativista dos direitos das pessoas transgénero,
organizou os primeiros concursos de Miss duas candidatas. O general Spínola pode ter a empresária tailandesa comprou o concurso
Portugal. Gostava muito de moda e era ex- usado a sua influência para favorecer as can- de beleza – que realizou a sua 72.ª edição no
tremamente coquete. No fundo, era uma didatas guineenses. No entanto, protestos último fim de semana em El Salvador – por 20
esteta, gostava daquilo que era bonito e que à porta do Casino Estoril por grupos femi- milhões de dólares (19,9 milhões de euros).
Porcos e
manifestantes
Quando não são os
trabalhadores da ferrovia são
os professores, quando não são
os professores são os
estudantes, quando não são os
estudantes são os agricultores,
e quando não são os
agricultores são os ecologistas:
Paris é uma festa para
manifestantes e grevistas, que
gostam de paralisar
ciclicamente a capital. Desta
vez foram os ativistas do
Greenpeace, que não querem
perder todo o protagonismo
para os novos movimentos pelo
clima, a protestar contra a
industrialização da pecuária.
As autoridades viram-se gregas
MIGUEL MEDINA/AFP
Napoleão na Rússia.
A neve de novembro
EUGENE TANNER/AFP
A estação mais fria do ano só se inicia daqui a um mês,
mas o general inverno parece já se ter instalado no
norte da Europa. Na Finlândia tem nevado
abundantemente, o que não impede os migrantes de
procurarem aquelas paragens. Helsínquia acusa a
Rússia de estar a fomentar a chegada de migrantes sem
documentos à fronteira da Finlândia, para a Salvo das águas
desestabilizar, o que o Kremlin desmente.
Foi uma derrapagem e tanto: quando descolava da
pista de Kaneohe, Havai, um avião militar da Força
Aérea norte-americana perdeu o controlo e só parou
nas águas da Baía de Kaneohe. Nem de propósito, o
aparelho é um Boeing P8 Poseidon, em homenagem ao
deus dos mares grego. Os nove tripulantes nadaram
para terra, sem quaisquer ferimentos.
Oferendas
para o deus-sol
Não eram só os antigos egípcios
que prestavam culto a Rá (ou
Ré, consoante a pronúncia), o
deus-sol do seu extenso e
complexo panteão. Na Índia
atual (que consegue ter ainda
mais divindades do que o
Egipto dos faraós) o astro-rei
também é objeto de culto. O
festival ‘Chhath Puja’ decorre
ao longo de quatro dias de
novembro, em que os fiéis se
banham nas águas do rio,
cumprem o jejum, abstêm-se
de beber água, dedicam
orações e fazem ofertas de
comida ao deus Surya e à sua
SHAMMI MEHRA/AFP
SARA
TAVARES
(1978-2023)
A artista que ajudou o país
a dissolver o seu racismo
20 LUZ | 24 NOVEMBRO 2023
N
TEXTO Diogo Vaz Pinto
quatro anos, depois dos pais se separarem, a mãe levou os Metia-se muito comigo. E um dia perguntou-me se gos-
outros dois filhos e foi viver com um novo companheiro tava de cá andar e se já tinha reparado na minha cor.
A CANTORA,
para o Algarve, deixando-a com uma avó emprestada na «Não gostavas de ter a cor das outras pessoas?» E eu COMPOSITORA,
margem sul do Tejo. respondi que gostava e perguntei o que podia fazer. E
Foram as dificuldades financeiras que ditaram este ele disse-me para tomar banho com lixívia. Foi para GUITARRISTA
abandono, e sem esconder a dor, Sara Tavares sempre casa, e estava já a preparar o banho quando a avó deu
mostrou compreensão diante da escolha que a mãe fez. com ela a encher a banheira de lixívia. «Claro que o E PRODUTORA
Em entrevista ao Alta Definição, em 2012, lembrava que senhor levou um raspanete. Nunca lhe passou pela
aquela senhora que tomava conta dela tinha ficado mui- cabeça que eu o fosse fazer». DESCOBRIU QUE
to apegada, e tendo já uma idade avançada, ficou decidi- Uns anos mais tarde, numa outra entrevista, desta
do que ficaria a viver com ela na sua casa no Pragal, em Al- vez ao Observador, falou dessa diferença que via no ALGO NÃO ESTAVA
mada. Sara viveu ali toda a vida, naquele lugar com vista espelho, como uma prece que mesmo ela não enten-
para Cacilhas e o Cristo Rei. dia, e para a qual durante muito tempo não teve res-
BEM EM 2009,
Embora muitas vezes se tenha ressentido face à decisão posta. «Cresci longe dos africanos. Sentia-me dife- VENDO-SE OBRIGADA
da mãe, admitiu que foi sabendo compreendê-la com o rente, até porque os miúdos são cruéis com essas coi-
passar dos anos: «Acho que os miúdos percebem só com sas. Fazem-te sentir diferente», contava. O sentimento A INTERROMPER TODAS
um olhar. Podem depois levar uma vida inteira a tradu- esbateu-se à medida que crescia. «Achava normal [vi-
zir isso para o consciente, mas percebem o olhar da mãe. ver entre pessoas brancas], mas sentia que havia algo. AS ATIVIDADES
Sabem que ela vai voltar. Se ela te deixa em algum sítio Daquele lado dos bairros, viviam os africanos todos.
é porque sabe que vais ficar bem. E se calhar vais ficar E eu vivia deste lado (…) Coisas básicas: ‘Como não sa- MUSICAIS
mais protegido naquele sítio do que ao ir com ela», dis- bes cuidar do teu cabelo?’», perguntavam, e eu dizia:
se naquele programa televisivo. E ainda que entre ela e a «A minha avó não me sabe pentear». «Não tinha uma
avó adotiva se tenha formado um laço inquebrável, re- mãe ou uma tia que soubesse tratar dele», contou.
conhecia que apesar de estar em boas mãos, houve mo- Foi só quando regressou às suas origens que em cer-
mentos na sua infância em que a diferença na cor da pele to sentido a sua vida também lhe foi explicada. Ao vi-
lhe causava embaraço. sitar Cabo Verde e conhecer os seus avós, «percebi
porque é que as famílias cabo-verdianas são tão dis-
funcionais, a ponto de 90 por cento das crianças se-
2. Sara Tavares
cantou a música
Longe do Mundo
para o filme
O Corcunda
de Notre-Dame.
A interpretação
valeu-lhe uma
menção honrosa da
Disney como a melhor
versão internacional
Em 2009 regressou
aos originais com
o álbum Xinti ,
do qual fazem parte
temas como Quando
Dás um Pouco Mais
e Ponto de Luz
uma audiência imaginada e que, com a vitória da Sara, Sei…. Só seis anos mais tarde, viria o terceiro disco,
viram o horizonte ficar mais largo. Ninguém regis-
«AJUDOU A Balancê, em que a artista aprofundava a sonoridade
tou que as vitórias musicais retumbantes da Sara INVENTAR UMA crioula, assumindo-se, em entrevista ao Expresso,
eram também vitórias no reconhecimento da nossa como parte de uma «geração multicultural, que in-
humanidade». LISBOA QUE ABRIU tegra vários estilos, do funk ao rap, passando pelas
mornas ou pelas coladeiras».
OS BRAÇOS PARA Em declarações ao Público, a artista angolana Aline
LILIANE
BETTENCOURT
Um dos escândalos
T
odos nós temos segredos, uns
mais graves, outros totalmente
inofensivos. Sejamos nós um ci-
mais controversos
dadão comum, uma estrela de
rock, um político, um grande
empresário, todos nós temos se-
gredos e, cada um, arranjará a sua forma de es-
da democracia
condê-los, mantê-los no silêncio. Quando fa-
lamos de pessoas influentes, é natural que
existam dois caminhos de pensamento pos-
síveis: é muito complicado conseguir mantê-
-los na escuridão já que o mundo está aten-
to, ou, por outro lado, os meios disponíveis
A nova série da Netflix, O Caso Bettencourt: Escândalo Com a Mulher (graças ao dinheiro), permitem que se guar-
Mais Rica do Mundo, destaca a controversa vida de Liliane Bettencourt, dem a sete chaves. A história já provou que o
que foi uma das mulheres mais poderosas e influentes da França. Em caminho mais natural é o primeiro.
Este é um dos escândalos mais controver-
pouco tempo, tornou-se a série mais vista da plataforma de streaming. sos da democracia francesa dos últimos
anos. E, ao contrário daquilo que normal-
TEXTO Sara Porto mente acontece, desta vez, no centro da po-
Liliane ofereceu prendas ao fotógrafo no valor O tribunal acabou por condenar Banier,
de quase mil milhões de euros no entanto, hoje, este é um homem livre
lémica esteve uma mulher: Liliane Betten- mão e há quem fale mesmo de uma ilha – que, em 1950. O seu marido, que lhe “empres-
court, herdeira de Eugène Schueller, funda- ao todo, somavam quase mil milhões de euros. tou” o nome, ocupou cargos na política, sen-
dor do grupo L’Oréal. Em 2016, a revista For- Em poucos dias, a série tornou-se a mais assis- do deputado, senador e ministro em quatro
bes chegou a classificá-la como a 11ª pessoa tida da plataforma de streaming. governos diferentes. Muito do que hoje se
mais rica do mundo. Liliane conheceu Banier em 1987, durante sabe sobre a matriarca, na verdade, veio a
No dia 8 de novembro, a Netflix lançou a sé- uma sessão de fotografia para a revista de luxo partir do escândalo deflagrado pela queixa
rie documental O Caso Bettencourt: Escân- Egoíste. Estava habituada a receber muita da filha. A produção da Netflix ouviu diver-
dalo Com a Mulher Mais Rica do Mundo que, gente em sua casa, mas desta vez foi diferen- sas fontes, entre amigos e jornalistas, que
em três episódios, retrata o caso que ocorreu te. Pouco depois, os dois iniciaram uma rela- tratam a empresária como uma figura pre-
entre 2007 e 2013 e que envolve a progenito- ção de amizade bastante extravagante, ape- sente nas rodas da alta sociedade francesa,
ra, Liliane, herdeira da L’Oréal, que faleceu em sar do homem ser rude. O fotógrafo era 25 no entanto, extremamente reservada sobre
2017; a sua filha, Françoise, que é atualmente, anos mais novo – à época ela tinha 65 anos, sua vida pessoal.
a mulher mais rica do mundo (com uma fortu- ele 40 – e, segundo algumas fontes, era aber- O marido morreu em 2007, pouco tempo
na avaliada em cerca de 75 mil milhões de eu- tamente homossexual. Por isso, muitos ques- antes do início do conflito familiar. Atual-
ros), e ainda o fotógrafo de celebridades, Fran- tionavam o que motivava a herdeira do im- mente sabe-se que ambos não eram próxi-
çois-Marie Banier. Françoise Bettencourt regis- pério L’Oréal a oferecer tantos presentes ex- mos e, durante as últimas décadas, dormiam
tou uma queixa contra o fotógrafo por abusar travagantes ao amigo. em quartos separados e tinham vidas distin-
da suposta «fragilidade psicológica» da sua Sabe-se que Liliane era uma pessoa bas- tas. Segundo o documentário, foi François
mãe para lhe extorquir presentes – desde pin- tante solitária e vivia um casamento infeliz (o fotógrafo) que a auxiliou a sair dessa «nu-
turas, viagens, seguros de saúde, dinheiro em com André Bettencourt. Casou aos 28 anos, vem negra».
A
vemos os volumes que lá estão, mas sim os que nos faltam.
casa estava em arru- ci e Jorge Luis Borges surgiu a ideia de reunir a sua biblio-
mações, mas o escri- teca ideal, uma coleção da sua literatura favorita. London,
tório pareceu-me or- Chesterton, James, Stevenson, Kafka, Kipling e outros
ganizado – dentro do coabitam nesta antologia que reúne o melhor da literatura
possível, uma vez fantástica. Inspirada no título de uma das melhores histó-
que o número de li- rias de Borges, a série foi baptizada ‘Biblioteca de Babel’».
vros excedia larga- Com o seu formato alongado, as letras bem torneadas e
mente o espaço dis- os sugestivos desenhos a cores da capa enquadrados por
ponível nas estantes. uma cercadura, a edição portuguesa da Presença repro-
Nestas, ocupava lu- duz sem mácula o design requintado da versão original. E
gar de honra uma tem a vantagem de não ser absurdamente cara.
caixa de cartão com Só que – como já devem ter adivinhado – ao chegar a casa
a edição integral das comecei a perceber que ainda me faltavam alguns núme-
Aventuras de Tintin. Oito volumes de lombadas verme- ros. Bartleby, O Escrivão, o livro de culto de Melville, era
lhas que se destacavam dos demais. «Isso é a minha mania um deles. Tratei de o arranjar, embora já tivesse outra edi-
de completista», comentou o meu anfitrião. ‘Completis- ção. Seguiram-se O Abutre, de Kafka, que deu mais luta, e
ta’? Nunca tinha ouvido a palavra, mas percebi muito bem a antologia Contos Argentinos. Procurei afincadamente
o que ele queria dizer. pelos Contos Russos nas plataformas online. Um dia lá me
Há situações em que podemos adquirir, de uma assenta- apareceu um exemplar. Pelo menos o título e os autores
da, a obra completa de um autor ou personagem – e o caso eram os mesmos. E a descrição começava desta forma in-
fica encerrado. Mas há outras em que isso exige mais tempo confundível: «A minuciosa burocracia, exaltada satirica-
e paciência. Enquanto a coleção não está completa, é sem- mente, é o tema essencial da inacabada fantasia de ‘O
pre uma pedra no sapato. Olhamos para a prateleira e não Crocodilo’, de Dostoiévski...». Quando chegou, porém,
vemos os volumes que lá estão, mas sim os que nos faltam. tratava-se afinal de uma outra edição, com uma tristonha
Aqui há tempos adquiri, por bom preço, o que me foi capa castanha… Publicidade enganosa?
vendido como todos os volumes da Biblioteca de Babel – os O volume dos Contos Russos é sem dúvida o mais diaboli-
livros de histórias fantásticas escolhidos e apresentados camente difícil de encontrar de toda a Biblioteca de Babel.
por Jorge Luis Borges – publicados em Portugal. Sabia que Nesta coleção parece ser o 14 e não o 13 – esse eu tenho, é a
por cá a coleção não chegava aos 33 volumes editados en- Porta no Muro, de H.G. Wells – o número do azar. Mas,
tre 1975 e 1985 por Franco Maria Ricci (FMR), e estava con- quando se trata de colecionar, claro que a caça é uma das
vencido de que aqueles dez ou onze títulos seriam tudo o partes mais emocionantes. Toda a gente sabe que as crian-
que havia em português. ças, no dia em que completam uma caderneta de cromos,
Espreitemos agora como a famosa casa editorial italiana fecham-na e põem-na de parte. Daí em diante só lhes inte-
apresenta a coleção: «Do encontro entre Franco Maria Ric- ressa a próxima coleção, a que ainda está por completar.
Teoria e prática
de um Golpe
de Estado
...E os animais
de quatro patas
levantaram-se
e começaram a
andar só em duas
Interessante perceber como se debruçaram
intelectuais e filósofos sobre o que é uma
Revolução, um Golpe de Estado ou a ameaça
a um Estado de Direito. Mas mais curioso tentar
encaixar a choldra do Eça nos tempos em
que vivemos - claramente à beira de um Golpe
de Estado. A Procuradora Geral é a figura
mais poderosa do país!
Imagem icónica
do 25 de Abril. Prestes
a cumprirem-se 50 anos
após a Revolução
dos Cravos o Estado
de Direito em Portugal
vive o seu momento
mais frágil desde
o Verão Quente de 1975
3 4
1. 25 de Abril Depois da
Revolução houve várias
tentativas de Golpes de
Estado
2. Pinochet Um caso típico
de tomada de poder com
auxílio dos Estados Unidos
3-6. Golpes Os russos
multiplicaram-se em Golpes
de Estado e, em África
(ou Cuba, por exemplo)
ditaduras instalaram-se
no poder sob proteção
norte-americana
7. Bourguiba Na Tunísia
chegou ao poder e utilizou
um Golpe de Estado para se
perpetuar no poder
5 6 7
resse do divino Eça de Queiroz e do seu amigo Ramalho xarão de ficar a estranhar minha posição em relação às
Ortigão se estivessem vivos, nos dias que correm, nesta infames escutas através das quais se faz hoje todo o tra-
ignominiosa choldra, a tal fétida lesma que se espapa à balho de investigação que, in illo tempore, dava água pela
beira Atlântico sob o nome desacreditado de Portugal. A barba ao Perry Mason, ou pelo bigode a Hercule Poirot.
expressão é dele, do Eça. Por minha parte, e tendo em Os inspectores/esbirros de Madame Lucília podem ser
conta o conteúdo e desenrolar dos facto, e por isto ser tão gagos como ela, mas têm ouvidos afiados como rapo-
uma crónica e nenhum presunçoso texto de análise po- sinhos (daí talvez o fedor): ouvem tudo, tomam notas,
lítica/criminal, vou dispensar tratar por doutor a maioria horrorizam-se e coram como virgens ofendidas perante
das personagens que o é, contendo-me em troca, ainda certas frases e, com elas já transcritas, vão à procura de
que com alguma parcela de pesar, em apelidar de bestas um juiz que valide a coscuvilhice feita em favor de um
muitas daquelas outras que o são, não por opinião mas Bem Maior. Num idílico Estado de Direito, no qual todos
por diagnóstico. E o debate comigo mesmo torna-se mais gostaríamos de ver crescer os nossos filhos e netos, seria
equilibrado. Talvez... o juiz obrigado a validar a autorização para que os mexe-
Começa-se pela teoria e, depois sim, passa-se à prática. ricos pudessem ser escutados se deles nascesse a descon-
Proponho, para teórico início, que entremos num supo- fiança de algo ilícito. Mas, se assim for, que diabo iriam
nhamos: Lucília Gago, num momento de inusitada irrita- fazer os fâmulos de Madame Lucília? Levantarem-se das
ção, resolve rabiscar num comunicado de investigação em cadeiras e irem, pelo próprio pé, à procura de indícios e
curso que é de opinião de que, por exemplo, Sua Excª. o de provas? Que falta de senso. Tive juízes como antepas-
Presidente da República tem muito que explicar sobre a sados em linha direta até mim, pelo que, na brincadeira
forma como duas moças gémeas foram tratadas excecional- digo que desde que nasci como juízes ao pequeno almo-
mente num caso clínico passado no Hospital de Santa Ma- ço. Um deles, meu bisavô Afonso, foi presidente do Su-
ria e que atingiu verbas de cerca de quatro milhões de eu- premo. Aprendi com o meu pai que um funcionário do
ros? Ofendido, o Exmº. Senhor Presidente sente-se acusa- Ministério Público não valia para um juiz o que um dina-
do de nepotismo e acha que isso o diminuiu perante os marquês não vale para um marquês. Por isso teve ele de
portugueses que o elegeram; numa atitude não muito sua, penar para se tornar juiz de Direito como queria, passan-
mas enfim, Marcelo Rebelo de Sousa demite-se e, de re- do por essa subalternidade de MP hoje virada do avesso.
pente, temos um Primeiro-Ministro demissionário, a ca- Fechem os olhos e imaginem uma sala de tribunal deste
deira presidencial vazia, e o terceiro elemento da hierar- país de justiça ascorosa: ali fica ele, o mono, soturno como
quia do Estado, o presidente de uma Assembleia da Repú- um abutre, sentado numa mesinha de pinho barato ao
blica, sem estatura moral para se perfilar num momento lado do magistrado responsável pelo julgamento. Por-
em que as eleições já são uma inevitabilidade e não é tido quê? Afinal não passa de um segundo advogado de acusa-
nem achado pelos seus correligionários. É, como se costu- ção, uma figura diminuta num espetáculo no qual deve-
mava dizer com ganas no tempo do PREC, o poder a cair à ria estar, isso sim, ao nível do advogado de defesa. Ne-
rua. Restam, dirão alguns de vós, continuando a percorrer nhum Estado de Direito, mesmo duvidoso, como os
a tal hierarquia estatal, o Presidente do Supremo Tribunal Estados Unidos, alimenta uma grunhice de tal calibre.
de Justiça e o Presidente do Tribunal Constitucional. Pois, Mas, para que a teoria do Golpe de Estado entre, final-
eis-nos perante um terrível busílis, permitam-me que vos mente na prática, se por um mero acaso, a acusação che-
diga. Se a tropa fandanga, à qual até já venderam os quar- ga à fase de instrução e, ainda por um maior acaso – ge-
téis ao preço da uva mijona, não assusta nem o Capuchi- ralmente a incompetência e a estupidez andam de mãos
nho Vermelho, o que dizer da bem mais preocupante ne- dadas – no momento de passar à barra a decisão está to-
cessidade de não deixar esquecer os sábios ensinamentos mada. Serás sempre culpado se não provares a tua ino-
de Montesquieu sobre a Separação dos Poderes. cência! O alegado criminoso já pagou pelo seu crime por
mais inocente que seja. Porque, neste Golpe de Estado
OS JULGAMENTOS judiciário no qual seremos, tal com os porcos de Orwell,
POPULARES!!! alguns ligeiramente mais iguais do que outros, os animais
de quatro patas se levantaram e distribuíram pelos jor-
Como estou a escrever em silêncio e não a falar ao mes- nais e televisões que, de bocarras aguadas por um osso,
mo tempo, não me estou a preocupar grandemente com tudo o que interessa aos bufos é passar a mensagem: in-
qual infeliz funcionário do fedorento Ministério Público verter o ónus da prova é uma das estratégias infalíveis
vai ficar hoje até ao nascer do sol entregue à tarefa de an- dos que promovem Golpes de Estado. Não se iludam: a
dar de roda das minhas comunicações entre Lisboa, Águe- Choldra não apareceu por acaso. Muitas e muitas gera-
da e aquele grupo de olivalenses que faz sempre parte da ções alimentaram os velhacos que a ergueram como um
minha tertúlia quotidiana. Mas, se me escutam, não dei- facho a arder na noite escura de tanta podridão.
História de vida Mais de 40 anos dedicados a imitar mil vozes como nunca ninguém!
E
trália, Bélgica, Bermudas, Brasil, Canadá, Caraíbas, Du- DEZEMBRO. ÉVORA,
eis que Senhor Mil Vozes volta a atacar como bai, Egipto, Eslovénia, Espanha, Estados Unidos, Fran-
nos filmes de Terence Hill e do seu inseparável ça, Inglaterra, Itália, Luxemburgo, Namíbia, Noruega, ALAGOA, SINTRA
Bud Spencer (que, já agora, e por curiosidade, Rússia e Suíça». 4000 atuações ao vivo????!!! Ò Fernan-
não estivéssemos aqui a falar de camaleões, se do, daqui a bocado já ninguém te pode ver… Isto sou eu E ERICEIRA – O HOMEM
chamava na verdade Carlo Pedersoli, foi nada- a brincar. Mas falta-te ir à Índia. Ou melhor: falta-te ir a
dor olímpico, e inventou a alcunha por ser um bebedor in- Goa. Fosse eu empresário já tinha tratado disso. Iria ser QUE TEM UMA VOZ QUE
veterado da cerveja Bud) e vai andar ocupado como nun- um sucesso como não és capaz sequer de adivinhar.
ca nos próximos tempos. «Mano! O mais fácil de tudo é
PARECE UMA MATRIOSCA
saltar para cima do palco e cantar!», diz-me ele quando HÁ QUARENTA ANOS... (HÁ SEMPRE OUTRA
pergunto se está tão atrapalhado com trabalho (irra para O Fernando é moço praticamente para a minha idade, um
a aliteração trapalha/trabalho, razão têm os que dizem quadradinho mais velho, começou a aparecer no início POR DENTRO) NÃO
que o trabalho atrapalha) que não tenha tempo para se dos anos 80 com aquela voz que parece uma matriosca,
sentar a jantar com os amigos. Para já prepara-se para um uma daquelas bonecas russas que se vendem a copeques TEM MÃOS A MEDIR...
espetáculo à americana, The Christmas Dining Show, no na Rua Arbat, de dentro de cada boneca sai outra, de cada
qual, acompanhado por Carla Amieiro, pela bailarina Sara voz do homem sai outra voz, multiplicam-se, é até capaz
Djulic e pela soprano polaca Patrycja Gabriel vai andar de cantar com a voz do Pai Natal (embora, até hoje, só te-
por aí, numa parceria com a empresa hoteleira da Vila nha ouvido o gordo forreta da farda da Coca-Cola a ron-
Galé, a cantar até que a voz lhe doa começando no dia 1 car um desagradável «Oh!Oh!Oh»), e foi por 1983, há qua-
de dezembro, em Évora, e continuando no dia 2, em Ala- renta anos portanto, que se tornou popular com a ajuda
goa, em Sintra, no dia 15, para fechar na Ericeira a 16. Até da rádio e de gente finíssima como o senhor Artur Agosti-
para o Senhor Mil Vozes, com cordas vocais de espantar nho e do meu tão querido António Macedo («ai que sau-
o universo e que até mereceram um estudo científico em dades, ai, ai», diria o mestre Carlos Pinhão) e depois foi
tempos que lá vão, é obra. Sobretudo porque o treino é exi- por aí fora, mérito dele, fura-vidas como é, sempre com
gente. Sim, sim, vocês já sabem, já o ouviram, ou melhor, projetos, sempre com ideias, sempre com vontade de an-
já leram o que eu o ouvi dizer, o mais fácil é saltar para o dar de um lado para o outro, tantas vezes até só por altruís-
palco e cantar, o Fernando sempre foi assim, profissio- mo, já falei aqui de algumas dessas ações solidárias, não é
nal daqueles a sério, de mão cheia, robustíssimo talento, o caso neste momento, mas não tardará a ser noutro.
diria o Alencar do Eça, a gente não tem dúvidas que vai fa- O Fernando não gosta de rótulos. Se for preciso pôr-
zer tudo com uma perna às costas. Eu chamo-lhe sempre -lhe uma etiqueta que seja a de «enterteiner». E com este
Senhor Mil Vozes mas nesta altura está mais para o Gil- rótulo lá vai dando que fazer às rótulas trepando de pal-
bert Bécaud, o Senhor Mil Volts. Os dias passam sobre co em palco agora com uma ligação publicitária espe-
outros dias como cometas. Ora, mas que importa isso se cial que servirá para alegrar o Natal das gentes das ter-
deixarem atrás de si o brilho estonteante de uma cauda ras por onde passará a partir de dia 1 de dezembro. Está
de luz estroboscópica. Mas, ora, tubérculos. Deitem o ra- quase. Força aí Fernando! Já sei que não és de desiludir
binho do olho ao que se publica oficialmente sobre a sua ninguém, bem pelo contrário, mas estejas onde estive-
carreira: «40 anos de excelência, ao serviço da cultura res a tua presença é notícia no mundo do espetáculo.
e do puro entretenimento... 3 milhões e meio de visua- Fica aqui assinalada e assinada. 1 e 2, 15 e 16 do mês que
lizações no Youtube... 400 horas de televisão... 4000 vem. A toda a brida!
GUINÉ-BISSAU
VARELA
Senegal
2
GUINÉ-BISSAU
OCEANO ATLÂNTICO
1 Bissau
2 Varela
A
– VARELA (4H)
CASA ABERTA, VARELA: ssim ditou o isolamento rural maya. A presença da família de Valentina em
FACEBOOK.COM/CASAA- deste recanto noroeste da Gui- Varela vem de há muito. A sua avó materna
BERTAKASUMAYAKU/ né-Bissau. Cumprido o regresso era guineense, em tempos, proprietária do
fluvial e de motorizada da taban- terreno em que o pai italiano e a mãe guineen-
WHATS APP ca de Elalab, chegamos a Susa- se-corsa de Valentina geriram a pousada Chez
+245 966 640 180 na e depressa apuramos que já não devia pas- Helene, hoje, inativa.
sar nenhum toca-toca proveniente de São Ao invés, na Casa Aberta, Valentina e a sua
Domingos. A alternativa era só uma: o duo equipa não param. O duche generoso e o jan-
de motoqueiros que nos tinha trazido do em- tar com que nos mimam deixam-nos outros.
barcadouro. Um sono imaculado recupera-nos de vez da
Varela distava 16km de Susana, cinco vezes itinerância desgastante em que andávamos,
mais que o que tínhamos acabado de percor- da descoberta de Cachéu e de Elalab.
rer, apertados, sobre as motas de Hilário e de Despertamos sobre a aurora. Pouco depois,
um colega, com as mochilas de fotografia en- saímos para o caminho arenoso que serpenteia
tre nós e eles e as malas atadas sobre a grade pela floresta e palmar, entre casas de taban-
porta-bagagens. Assim mesmo, num equilí- ca pouco concentradas. O trilho deixa-nos so-
brio precário afetado pelos desníveis da pseu- bre o início do areal a sul da aldeia. Àquela
do-estrada, uma hora depois, chegamos à en- hora, não víamos sinal de pescadores, apenas
trada de Varela. Recebe-nos Valentina Kasu- umas poucas pirogas ao abrigo da praia-mar.
P
redominam na região de Varela,
Saudamo-nos. Perguntamos-lhe se está a A ÁRVORE MAIS FAMOSA como em redor, os felupes, um sub-
correr bem a recolha. «Tudo bom. Pena não grupo étnico dos Diolas predomi-
haver mais umas palmeiras destas...», afian- E SAGRADA DE VARELA: nante em boa parte do Noroeste da
ça-nos, num português que depressa perce- Guiné-Bissau e região senegalesa de Casa-
bemos quase só crioulo. Despedimo-nos com UM ESTRANHA PALMEIRA mança. Pois, eram, sobretudo, felupes as gen-
um “até já” que, pela quantidade de praia que tes com que nos cruzávamos, em redor da
tínhamos para norte, sabíamos ter tudo para COM TRONCO RASTEIRO, mesquita rosada de minarete amarelo. Entre
demorar. cabanas e casas remediadas, umas tantas, le-
Dos domínios de Varela, passamos aos de QUE SE TINHA ENFIADO gadas pelos colonos portugueses após o perío-
Nhiquim, ditados pela presença de tabancas do colonial.
homónimas e próximas. Aos poucos, os pare- ENTRE AS RAÍZES DE UMA Por ali, um costureiro migrado da Guiné Co-
dões ocres perdem altura e significado. Ali- nacri criava roupa a partir de tecidos tradicio-
nham-se com a superficialidade do areal mais OUTRA ÁRVORE E, nais africanos. Conversa puxa conversa, em
alvo, dissolvem-se numa profusão de arbus- francês, conseguimos que nos indicasse onde
tos e gramíneas amareladas.
AOS POUCOS, ENROLADO estava a árvore mais famosa de Varela, uma
Segundo nos viria a explicar Valentina, nem
só a subida do mar e a erosão fragilizava a su-
SOBRE SI MESMO estranha palmeira com tronco rasteiro, que
se tinha enfiado entre as raízes de uma outra
perfície ocre em redor. Há muito que se sabia
que a região de Varela era rica em areias pesa-
das, repletas de zircónio, um mineral de va-
lor elevado. Sem qualquer estudo ambiental,
uma empresa russa inaugurou a sua extração,
levando à contaminação das águas de que se
servem as tabancas, as consumidas direta-
mente, as que irrigam as suas bolanhas e as
que fluem para os manguezais por ali abun-
dantes. Pois, essa extração durou algum tem-
po, com a anuência de contratos duvidosos E cima Miúdos jogam
com o governo de Bissau. «Mas quando os na- futebol num campo
tivos começaram a ver as suas bolanhas des- empoeirado
truídas, isso, passou todos os limites. Nos úl- À esquerda
timos tempos, eram chineses quem procu- Compradores em
ravam continuar a extração mas dá-me a ideia redor de peixe
N
divinal. Voltamos a dormir sem apelo.
essa tarde, mesmo em frente à Casa O dia seguinte era o último que podíamos
Aberta, damos com um dos jogos de dedicar a Varela. Para nossa surpresa, nessa
futebol mais estranhos que alguma manhã de domingo, quando voltamos a es-
vez vimos. Num campo improvisa- preitar a praia a sul da Casa Aberta, encontra-
do no interior escuro da floresta, sobre uma mo-la numa azáfama de faina. Uns poucos pes-
areia acinzentada, um grupo de miúdos dis- cadores, tinham acabado de desembarcar, de-
putava a bola com a atitude guerreira própria terminados a venderem a pescaria. Auxiliares
dos felupes. descarregavam e dividiam, a critério, espéci-
Era tal a poeirada que levantavam que, nuns mes de tudo um pouco. Peixes-guitarra, pei-
breves instantes, nos vimos obrigados a tapar xe-coelho, raias, peixes-gato e até pequenos
a boca e o nariz com roupa que tínhamos de so- tubarões. Mulheres enfiadas em capulanas
bra. Intrigava-nos, assim, o como sobreviviam coloridas, munidas de facas afiadas, amanha-
a respirar aquele pó concentrado durante uma vam peixe atrás de peixe, para venda ou para
hora (ou mais) a fio. Nesse espanto, repara- consumo. Finda a faina, os restos e a praia fi-
mos que, a espaços, o sol que descia a ociden- caram à mercê dos bandos de aves marinhas.
te, penetrava na floresta. Ao incidir na poei- Aproveitamos para cirandar por recantos
ra, gerava feixes de luz dançantes que torna- que ainda não tínhamos espreitado e por pro-
vam a pelada ainda mais deslumbrante. De priedades abandonadas acima da praia. Os
acordo, para gáudio da miudagem, instalamo- homens da aldeia entretinham-se a ver a final
-nos a acompanhá-los. Deixámo-los quando do Mundial do Qatar. Pouco depois de a Ar-
o sol parou de incidir. Decidia a partida uma gentina se sagrar campeã, volta a escurecer.
dramática sequência de penáltis. Na madrugada seguinte, viajamos para São
Contados quase 20km, caminhados de mo- Domingos. Cruzamos a fronteira para terras
chilas carregadas, às costas, sobre areia que, em tempos portuguesas, francesas, agora se-
amiúde, dava de si, reentramos na Casa Aber- negalesas, de Casamança. Morador sobe à copa de uma palmeira
CHEFE
JOSÉ LIMA
RESTAURANTE
TÁBUA DA RIA
(PRAIA DA BARRA)
@tabua_da_ria
@tabuadariaoficial
1 Cozer a sapateira por 25 min. COGUMELOS CANTERELO 1 Fazer um caldo de frango com
ARROZ ARBÓRIO cebola, alho francês, louro e alho
2 Arranjar a sapateira separan- QUEIJO PARMESÃO
do as ovas e a carne, com cui- MANTEIGA 2 Arranjar e limpar muito bem
dado para o patê não ficar VINHO BRANCO os cogumelos
cheio de casquinhas CEBOLINHO
FRANGO 3 Num tacho, colocar azeite e
3 Adicionar todos os outros in- ALHO FRANCÊS chalota picada e deixar refo-
grediente e triturar com a CEBOLA gar; adicionar os cogumelos
ajuda de uma varinha mágica CHALOTA e, depois, o arroz e fritar. Re-
frescar tudo com vinho bran-
4 Retificar os temperos e finali- co e deixar reduzir
zar com ovo cozido ralado
4 Adicionar caldo de frango até
ter o arroz cozido e ir sempre
mexendo
CONCERTO
MÚSICA DE CÂMARA interpreta composições de Mo-
EXPOSIÇÃO iniciado em 1929 – três anos de- COM A ORQUESTRA zart e Janácek.
QUEM ÉS TU? – UM TEATRO pois da instauração da ditadura SINFÓNICA PORTUGUESA
NACIONAL A OLHAR militar – e terminado em 1974, ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA
PARA O PAÍS com a Revolução. A exposição Um concerto de música de câ- 20H00
procura estabelecer ligações mara, em que a Orquestra Sin- 15€
A concessão do Teatro Nacional entre a prática artística e o seu fónica Portuguesa, sob a dire- 11,25€ (MENORES DE 25 E MAIORES
D. Maria II à Companhia Rey contexto político e social. ção musical de Antonio Pirolli, DE 65)
Colaço-Robles Monteiro acom-
panhou 45 dos 48 anos da dita- ATÉ 16 DE DEZEMBRO
dura do Estado Novo, tendo-se TEATRO DAS FIGURAS, FARO DOMINGO, 26
BAILADO esta produção clássica de Piotr
CONCERTO A BELA ADORMECIDA Tchaikovsky.
HÁ FADO NO CAIS
- ANTÓNIO CHAINHO Um elenco de artistas interna- COLISEU DOS RECREIOS, LISBOA
cionais composto por nove na- 17H00
António Chainho levou a guitar- cionalidades dá corpo e alma a A PARTIR 25€
ra portuguesa aos cinco conti-
nentes ao longo de quase ses-
senta anos de carreira. O seu TEATRO
novo disco O Abraço da Guitar- A BELA E O MONSTRO
ra é um trabalho de tributo a – O MUSICAL
compositores e guitarristas de
fado como Raul Nery, Armandi- Um musical de Fernando Go-
nho, Jaime Santos e José Nu- mes a partir do conto da ro-
nes. mancista francesa Gabrielle Su-
zanne Barbot.
CENTRO CULTURAL DE BELÉM, LISBOA
21H00 CONSERVATÓRIO DE MÚSICA
A PARTIR DE 12,50€ DE COIMBRA
15H30
17H15
14€
Terceiro episódio de uma anto- Neste concerto inserido no ci- A canadiana Chris Cole Luiz Caracol apresenta Sou, o
logia de seis histórias de fanta- clo Mundos, a música popular apresenta um concerto seu mais recente concerto ins-
sia/ aventura, lendas portugue- da cantora curda Aynur surge com temas dos seus discos pirado no álbum Ao Vivo no Na-
sas tiradas de um vasto e rico enquanto lugar de confluência A Piece of Work mouche, gravado e filmado no
folclore. entre a música tradicional e e Other Meetings. mítico estúdio lisboeta.
Uma série realizada por Frede- contemporânea.
rico Serra, com argumento de GALERIA ZÉ DOS BOIS, CENTO CULTURAL OLGA CADAVAL,
Nuno Soler. TEATRO DA TRINDADE INATEL, LISBOA SINTRA
LISBOA 22H00 21H00
RTP 1 / 21H00 21H00 10€ 10€ 10€
Escolhas da semana
48€
BA&SH
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NÉLSON ALICE
MATEUS VIEIRA
O P
nde estavas no dia 25 de Novembro de 1975? erguntas-me onde estava no 25 de Novembro de 75,
Como sabes, quando se deu o 25 de Abril, em estava a trabalhar nos jornais, como sabes.
1974, eu era uma inocente criança. Sei que a Revo- Uma vez que este ano tanto se fala nesta data, es-
lução dos Cravos derrubou a ditadura que gover- crevo-te esta carta para te contar um pouco sobre o
nava Portugal há quase 50 anos. Foi um momento que aconteceu. Foi uma data muito importante
de grande alegria e esperança para o povo português, que ansia- para a história do nosso país, pois marcou o fim de um período
va por liberdade e justiça. Mas também foi um momento de de grande instabilidade e violência, e o início de uma democra-
grande incerteza e conflito, pois havia muitas forças políticas e cia representativa.
militares que disputavam o poder e o rumo do país. Durante o ano de 1975, assistimos a muitas manifestações, gre-
Foi essa a história que sempre me foi contada pelos meus pais e ves, ocupações, atentados, e confrontos entre grupos rivais. Não
avós e o que me foi ensinado na escola. imaginas a loucura que era o nosso trabalho nas redações dos
No entanto, sobre o 25 de Novembro, de 1975, pouco nos é en- jornais. O país estava dividido entre os que defendiam uma via
sinado. socialista ou comunista, e os que defendiam uma via moderada
Tu que na época trabalhavas exaustivamente nos jornais, és a ou democrática. Havia também o perigo de uma intervenção es-
pessoas ideal para esclarecer esse teu neto sobre este período da trangeira, pois a Guerra Fria estava no auge, e as grandes potên-
nossa história. cias tinham interesses em Portugal.
O que mudou na tua vida e no nosso país? No dia 25 de Novembro, houve uma tentativa de golpe militar
Tens muitos conteúdos sobre a censura e sobre a vida antes de por parte de alguns setores das Forças Armadas, ligados à extre-
Abril de 74. Aliás, costumas levar tudo isto às escolas. ma-esquerda, que pretendiam impor um regime comunista em
Tens algumas fotografias ou documentos que nos façam recor- Portugal.
dar o 25 de Novembro de 75? Como era a tua relação com os teus Foi um dia de grande tensão e nervosismo, pois não sabíamos o
amigos e colegas de trabalho que tinham opiniões políticas dife- que ia acontecer, nem quem ia ganhar. O país respirou de alívio,
rentes das tuas? e começou a normalizar-se.
É sempre interessante e enriquecedor conversar contigo sobre O 25 de Novembro foi decisivo para o fim do PREC, que era o
estas questões, e aprender mais sobre a nossa história e a nossa nome dado ao período revolucionário que se seguiu ao 25 de
identidade. Que foi que aconteceu no dia 25 de Abril de 1974? E Abril. A partir daí, iniciou-se um processo de estabilização da
em Novembro de 1975? democracia representativa em Portugal, que culminou com a
Aparentemente a resposta é fácil. Mas só aparentemente, pois aprovação da Constituição da República, em 1976, e com a reali-
tudo vai depender da idade que têm os que a ela respondem... zação das primeiras eleições livres e plurais, em 1976 e 1977.
Para os mais novos, aqueles a quem 1974 e 1975 é a pré-história, O 25 de Novembro foi, portanto, um marco na nossa história,
25 de Abril, 10 de Junho, 5 de Outubro ou 1.º de Dezembro é que nos permitiu viver em paz, liberdade e democracia. E des-
tudo o mesmo, ou seja, é feriado e isso é que importa. frutar dos direitos e deveres que temos como cidadãos portu-
Mas, para os mais velhos, as coisas não são assim tão simples. gueses.
Acho que é importante conhecer o passado para compreender o Espero que tenhas gostado de saber um pouco mais sobre este
presente e preparar o futuro. acontecimento.
Obrigado pelo teu contributo em prol da Liberdade. Viva a liberdade.
Bjs Bjs