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PRAZERES POÉTICOS
Chiado Editora
www.chiadoeditora.com
.
Portugal | Brasil | Angola | Cabo Verde
Conjunto Nacional, cj. 903, Avenida
Paulista 2073, edifício Horsa 1, CeP
01311-300 São Paulo, Brasil
ISBN: 978-989-51-2792-2
Depósito Legal n.º 383284/14
JUAN PABLO
DIÁLOGO
DOS OLHOS
Chiado Editora
Portugal | Brasil | Angola | Cabo Verde
Dedico este livro aos teus olhos
Agradecimentos:
I.POESIAS..................................................................................... 13
Nota do Autor ............................................................................... 17
Parte I ........................................................................................... 25
À menina cujo coração me é uma estrela ................................... 27
Dolorida saudade da aurora ......................................................... 28
Estou vivo ..................................................................................... 30
Eu apenas estou vivo ................................................................... 31
Falácia ........................................................................................... 33
Feito uma fuga.............................................................................. 34
Junto à minha pele........................................................................ 35
Meus olhos são lagos ................................................................... 36
Ela era ........................................................................................... 37
No instante ................................................................................... 38
O contorno das sombras das horas ............................................. 39
O instante, o momento valente e o enfrentamento do tempo ....40
Quadrilhas ..................................................................................... 41
Santiago Andrade ......................................................................... 42
Se eu me vestisse novamente de menino ................................... 43
Seu silêncio no mundo .................................................................. 45
Teu mundo inteiro inventaria ...................................................... 46
Trespassar .................................................................................... 47
Parte II .......................................................................................... 49
A criação ....................................................................................... 51
A lua declarou-se minha ............................................................... 52
Tradução da alma triste ............................................................... 53
Apelo ao Relógio .......................................................................... 54
Eu busco alguém .......................................................................... 55
Jardim Social ................................................................................ 57
Mas o mundo é tão grande .......................................................... 58
Medida ..........................................................................................59
Novamente, e agora José? ........................................................... 61
Parecia ter chegado da guerra .................................................... 65
No meio do caminho tinha uma pedra preciosa ......................... 66
Poeminha anatômico.................................................................... 67
Relatos ......................................................................................... 70
Releitura do poema “Cantada” de Ferreira Gullar ..................... 71
Reticências ................................................................................... 72
Retrato ......................................................................................... 73
Tenho nuvens que se desenvolvem ............................................ 75
Teus passos foram se desenhando ............................................. 76
Vidinha triste ............................................................................... 77
Aguou-se ....................................................................................... 80
Bateis............................................................................................ 81
E triste, sepultado entre todas elas ............................................ 85
O paradoxo de não sofrer ............................................................ 88
Tempo errado ................................................................................89
Se Camões desconhecesse o amor .............................................. 92
(Fernando Pessoa)
27
Juan Pablo
28
Diálogo dos Olhos
29
Juan Pablo
Estou vivo
Eu sou o silêncio
Caminhando nas folhas.
30
Diálogo dos Olhos
31
Juan Pablo
32
Diálogo dos Olhos
Falácia
Os olhos teus?
Nossa dor?
Quantos traços de luz farão
Escuridão?
33
Juan Pablo
Seus lábios,
lagos,
fados,
vida e
esplendor,
Suas estrelas cadentes do coração,
Seus mastros de alegria e ardor,
Tudo isso guardado em entrelinhas
34
Diálogo dos Olhos
Pelo luar,
Pela vida,
Do sangue,
Da desilusão.
35
Juan Pablo
36
Diálogo dos Olhos
Ela era
37
Juan Pablo
No instante
No instante
Em que o amor se derramar
Nem o homem menos errante
Poderá acertar.
38
Diálogo dos Olhos
A dar-te normas,
Contornos,
Sombras das horas.
Olhos apagados.
39
Juan Pablo
Fez-se o instante.
Fez-se o momento valente
Enfrentando o tempo.
40
Diálogo dos Olhos
Quadrilhas
41
Juan Pablo
Santiago Andrade
Onde penduraste
As estrelas
De teus olhos?
Responda-me:
Em que lado da vida,
Em que avenida
Sem direito à despedida
Andam teus passos
Santiago Andrade?
42
Diálogo dos Olhos
Se eu me vestisse novamente
De menino não seria difícil
Esquecer a barba e meus
Cinquenta e tantos anos.
Se eu me vestisse novamente
De menino eu iria me despir
Do suor maldito e das dores
Envenenadas que guarnecem o sangue.
43
Juan Pablo
Se eu me vestisse novamente
De menino; eu diria que o tamanho do amor
Vai de uma ponta do dedo à outra
De plenos braços esticados,
Vestido de ignorância em pensar
Que o amor seja só isso, mas, às vezes, é.
44
Diálogo dos Olhos
Ah, coração,
De linguagem e prosa
Constituído,
Pulsando em dores
Monolúcidas
E orações.
Coração de espanto,
Desenhado pelo silêncio,
Que diz sem dizer,
Cujo canto é mudo.
Pulsa, vibra, coração!
Tu és um poema,
E o poema,
O mundo
45
Juan Pablo
46
Diálogo dos Olhos
Trespassar
47
Parte II
Diálogo dos Olhos
A criação
51
Juan Pablo
52
Diálogo dos Olhos
O corpo enfermo
É a tradução
Da alma triste,
É como se a
Alma escarrasse dor!
53
Juan Pablo
Apelo ao Relógio
54
Diálogo dos Olhos
Eu busco alguém
55
Juan Pablo
56
Diálogo dos Olhos
Jardim Social
57
Juan Pablo
58
Diálogo dos Olhos
Medida
É tão desmedida
A maneira com que
Meço seus detalhes,
Que eles chegam
A falar comigo.
59
Juan Pablo
60
Diálogo dos Olhos
61
Juan Pablo
62
Diálogo dos Olhos
63
Juan Pablo
64
Diálogo dos Olhos
65
Juan Pablo
66
Diálogo dos Olhos
Poeminha anatômico
67
Juan Pablo
Se até tu é
Tão triste,
O mar
A alvorada
Todas elas
Desta caminhada
As pessoas
Amadas
O sol
O poeta
A música
Imaginas
Toda poesia
Que fala
Anda e se cala
Em cada entristecer.
68
Diálogo dos Olhos
69
Juan Pablo
Relatos
70
Diálogo dos Olhos
71
Juan Pablo
Reticências
72
Diálogo dos Olhos
Retrato
73
Juan Pablo
74
Diálogo dos Olhos
75
Juan Pablo
76
Diálogo dos Olhos
Vidinha triste
77
Juan Pablo
78
Diálogo dos Olhos
79
Juan Pablo
Aguou-se
80
Diálogo dos Olhos
Bateis
81
Juan Pablo
82
Diálogo dos Olhos
83
Juan Pablo
84
Diálogo dos Olhos
85
Juan Pablo
86
Diálogo dos Olhos
87
Juan Pablo
88
Diálogo dos Olhos
Tempo errado
89
Juan Pablo
90
Diálogo dos Olhos
91
Juan Pablo
92
Parte III
Diálogo dos Olhos
A mar
95
Juan Pablo
A natureza dela
96
Diálogo dos Olhos
Mitológica
97
Juan Pablo
Filosofia
98
Diálogo dos Olhos
99
Juan Pablo
100
Diálogo dos Olhos
Antítese da lembrança
Eu me lembro,
Lembro-me bem,
Do seu sexo.
Ah! o teu sexo!
Lembro do teu
Perfume, anjo do
Odor! Fragrância
Melancólica do
Inferno da lembrança.
Da minha lembrança.
Lembro de tudo.
Do riso
Solto, desencadeado
Afrouxado, feliz.
Eu me lembro da sua
Alva cor de horizonte.
Lembro-me da sua
Paixão, de sua nobreza,
De seu coração!
Mas, ah, diabos!
Hoje:
Quem és tu?
Eu não me lembro!
101
Juan Pablo
Castelo
102
Diálogo dos Olhos
Currículo Poético
103
Juan Pablo
Desgosto:
Devo deixar de gostar de ti,
Pois quando de ti eu gosto
De mim viro desgosto
E eu não gosto disto.
104
Diálogo dos Olhos
105
Juan Pablo
Espelho
106
Diálogo dos Olhos
107
Juan Pablo
108
Diálogo dos Olhos
Fidelidade
A fidelidade é o padre
Que diz aos cristãos que
Casados estão, porque de
Amor em amor,
Um amador
Nunca amou ninguém.
109
Juan Pablo
Humano
110
Diálogo dos Olhos
111
Juan Pablo
112
Diálogo dos Olhos
Imaginação
113
Juan Pablo
Manuel Bandeira
114
Diálogo dos Olhos
Vinicius de Moraes
115
Juan Pablo
116
Diálogo dos Olhos
a poesia é um órgão nu
não lhe ponha adornos
ou tantos pontos, roupa
ou tanta rima que canse,
bota alma
seu desejo, sua cara
seu costume, o brilho
de quem tu gostas, o sol
que cabe na sinceridade,
entre ser poeta e poetizar
há o espaço breve de se fazer
poesia e se fazer amor.
117
Juan Pablo
Você é a base,
É o teto
É o muro
É o mar
É o vento
É tudo que
Tá no verso
Que tá em você
Que tá no amor
Que tá no riso
Que tá em mim.
118
Diálogo dos Olhos
Para
Que
O
Coração
Não
Ficasse
Doce,
Eles
amargaram-se.
119
Juan Pablo
120
Diálogo dos Olhos
A chuva é o orvalho
Dos olhos dos deuses
Que por descuido
Lembram que são a
Semelhança dos homens...
121
Juan Pablo
122
Diálogo dos Olhos
123
Juan Pablo
Vida vazia
Sala vazia
Corredor vazio
Cama vazia
Casa vazia
Coração cheio
Lembranças cheias
Cabeça cheia.
Ruas vazias
Praças vazias
Garrafas vazias
Histórias cheias
Coração cheio
Cabeça vazia
Vida vazia
Coração vazio
Garrafas vazias
Garrafas vazias
Garrafas vazias
Lembranças vazias
Histórias vazias
Coração vazio
Vida vazia.
124
Diálogo dos Olhos
Vindes a mim
125
Juan Pablo
A morte do amor
126
Diálogo dos Olhos
127
Juan Pablo
A superioridade é a
Subordinação do
Desejo de poder
128
Parte IV
Diálogo dos Olhos
Pensamentos, Rabiscos
131
Juan Pablo
132
Diálogo dos Olhos
O silêncio chora,
Por não conseguir expressar.
Um mundo de palavras.
133
Juan Pablo
Você é a pintora
Que pincelou meu coração,
A escritora
Que escreveu em Minh ‘alma,
A bailarina
Que baila no meu olhar.
Você é a artista do meu amor.
O infinito do verbo nascer.
134
Diálogo dos Olhos
Entala em mim
135
Juan Pablo
Brincando de amor
Porque no mundo
O tempo é rouco
O pesar profundo
E o amor tão pouco.
136
Diálogo dos Olhos
137
Juan Pablo
138
Diálogo dos Olhos
É ela
139
Juan Pablo
Em alegria,
Canto pulando
Na tristeza,
Sorrio chorando
Estou assim
Começando a
Viver bem.
Não sei que é,
Sei que vem,
De longe ou
Perto,
Não sei quem é,
Sei que tem,
Alguma coisa para
Mim.
Sensível,
Amante invisível
De seu sonho
Distante.
Dedico-me
Ao amor amigo
Que vem,
De onde não sei,
Sei que vem.
Com força e
Carinho,
Rosa e espinho
140
Diálogo dos Olhos
141
Juan Pablo
142
Diálogo dos Olhos
Embalo-me em pensamento
E me perco no tempo
Não vendo a vida passar.
Embalo-me na vida
E vejo a mulher
Chegar, ficar e chorar.
Embalo-me na lágrima
Que vi cair e choro,
Choro por chorar.
Embalo-me no coro
Que me fazes cantar
Silenciosamente.
Embalo-me enquanto
Posso, até que a morte
Venha me embalar.
143
Juan Pablo
144
Diálogo dos Olhos
145
Juan Pablo
146
Diálogo dos Olhos
Quando eu me for
147
Juan Pablo
148
Diálogo dos Olhos
149
Juan Pablo
150
Diálogo dos Olhos
151
Juan Pablo
Agonizar em saudade
De uma vida que nunca lhe fora dada,
Parece-me recôndito e sofrido.
Ao passo que morder o mato e ter
Na língua o amargo da natureza,
São sofridos como saudade.
E é sofrido descobrir na amargura
Os traços de uma vida a mais,
A vida paralela, a vida que não
Tenho, tampouco você, parece-me
Mais aguçada e doce como lábios.
Ainda tenho saudade dos meus erros.
Acho que estou a ficar velho demais
Na casca de um jovem velho,
Que gosta de charutos e uísque...
Como Saudade, bebo uísque...
Não me lembro onde enfiei os
Malditos ou benditos óculos que
Não comprei.
Embarquei no momento de silêncio
Que uma vida a mais pode ter.
Respirei um pouco menos e vivi
A morte um pouco mais.
Pingos da saudade, a saudade
152
Diálogo dos Olhos
153
Juan Pablo
Voa o pensamento,
Voa tão longe quando
Tu és ausente,
Voa pra você.
Receba em teu colo
O meu riso solitário
Que te espera nas
Manhãs tranquilas,
Nos dias turbulentos.
Voa o pensamento,
Eu me caso com você
Eu te espero
Voa o pensamento,
Ele desenha, te faz
Presente em meu
Consciente.
Voa o pensamento
Que se faz e se refaz...
Você permanece.
Voa o pensamento
Buscando o passarinho
Que me cedeu paz
Ao coração vazio.
Voa o pensamento,
Mas não sai do seu
Colo o meu riso,
Voa o pensamento, mas ele não sai de ti.
154
Diálogo dos Olhos
155
Juan Pablo
156
Diálogo dos Olhos
157
Parte V
Diálogo dos Olhos
É triste Severina
É triste Severina,
Há tanto do que se morrer
E a gente quase nunca morre pela
Morte, e morre todo dia.
É triste Severina,
Tu tanto tentas te curar
E machuca-se com o remédio,
Vai amando, vai ardendo,
Vai chorando, vai vivendo.
É triste Severina
Tu jurar e perjurar
Amar e desmanchar
E viver correndo, sem alento,
Sem ninguém vendo.
É triste Severina
Que em um pedacinho azul do céu
Não se encontre num olhar de comparação.
A solidão é tão pequena, mas como cabe
No coração, na decisão, na informação.
É triste Severina
Que haja guerra, mas não haja soldado
Pruma vida tão inteira
Onde todo mundo jaz acabado.
É triste Severina
161
Juan Pablo
162
Diálogo dos Olhos
Mira o tempo
163
Juan Pablo
164
Diálogo dos Olhos
O choro do mundo
165
Juan Pablo
166
Diálogo dos Olhos
167
Juan Pablo
168
Diálogo dos Olhos
169
Juan Pablo
Há quem conheça
Estrelas,
Que olhe pro céu e veja
Estrelas
Que desenhe no papel
Estrelas
Mas eu sempre que vejo o
Céu
Só vejo teus dentes
E nunca, as
Estrelas.
170
Diálogo dos Olhos
Se namoras uma
Poesia,
Saiba
Que o
Poeta
Casaria
Contigo
Se descomprometido
Fosse.
171
Juan Pablo
Mar,
Ilha,
Teu nome é uma dádiva
Marília!
Que tu sempre convivas
Com
Mar,
Ilha,
Marília!
172
Diálogo dos Olhos
Fala florzinha
Diz que é sozinha
Não guardeis medo de mim
Sou também sozinho
Não tenho nenhum amorzinho
Pra viver de amor em flor até o fim.
Teu olhar sibilino
Meu olhar peregrino
Nossos olhos de vidro
Engarrafados no livro.
Dar bom-dia é um enfeite
Ao dia de quem aceite
É ter deleite de quem
Nos respeite, viva tua voz,
Bom dia!
173
Juan Pablo
Fugi da estrela
Agredi a pedra
Beijei o espinho
Que pariu meu sangue.
Quando volvi à estrela
Era dela
A pedra
O espinho
E o sangue.
Fugi da estrela.
Sangrando de amor
Viu-me como uma janela
Pra guardar só pra ela
Toda compra de flor.
Quando sentiu
Agrediu
A razão e
A dor.
Quando à dor
Consentiu
Sentiu o coração
Manchado de amor.
174
Diálogo dos Olhos
175
Juan Pablo
O valor da Morte
“É triste Severina,
Há tanto do que se morrer
E a gente quase nunca morre pela
Morte, e morre todo dia.”
176
Diálogo dos Olhos
Filha minha
Não fiques tão tristinha
Um dia tu vais nascer
E de ti ireis fazer
Uma linda menininha
Toda contente em viver.
Quero que recebas flores
Do vosso namorado
Que desfrute em teus olhos as cores
De se amar e ser amado.
Filho meu
Teu pai tá tão cansado
Sozinho, desanimado
Que só a Filha conseguiu nascer
E que dela quis fazer
Um sonho que também serve pra você.
O que não volta
Vira
Revolta.
177
Juan Pablo
Olhar de vidro
De tonto, de poeta
Olhar de santo
Olhar secreto
Olhar pronto
Da vida, do encanto
Da promessa
Do tecer o nunca mais
Olhar sempre em tanto
Canto, sem tanto no entanto
Olhar por olhar
E amar pra não morrer.
Eu sempre preciso do
Ponto pra não ficar tonto
De tanto beber poemas prontos
178
Diálogo dos Olhos
179
Juan Pablo
180
Diálogo dos Olhos
181
Juan Pablo
A porta do amor
Semeia no meu
Sangue tua vontade
De amor,
Eu não tenho medo.
Pendura no meu dedo
Teu segredo.
Faz de mim
Teu enredo,
Sem assim contar
Se é de comédia
Ou tragédia
Que se trata.
Se tua vontade
Me mata ou teu amor
Me desata, não importa!
Eu não tenho medo.
Pendura no meu dedo
Teu segredo
E abre logo esta porta.
182
Diálogo dos Olhos
A vida nasceu
Como uma planta linda
No meu olhar.
E morreu pobrezinha
Toda coitadinha
Como quem nunca
Saiu no jornal.
Será que tudo que
Existe entre nascer
E morrer é somente
O nome?
Teu amor
Era um vento
Que escutou o tempo
E deixou de ser amor.
Que ventania faz nessa cidade
Que ventania faz nessa idade.
Perguntou-me quem
Eu era e então respondi
Tudo que importava:
- 077 e alguns
Números mais.
183
Juan Pablo
No meu olhar
Eu tenho teu nome.
Do teu
Eu tenho a fome.
184
Diálogo dos Olhos
O comum puro
É lindo eu te asseguro.
Vamos nascer de novo
E contar pro povo
Que ninguém é dono
De nada, que não existe
Propriedade privada,
Que nós todos somos
Os donos do mundo.
185
Juan Pablo
Lívia Petry
Alivia Lívia
A tempestade que o mundo temia
Mar de sangue.
Arrepia Lívia
O medo que mar sente
De estar sempre presente
Na morte
Tu que escreves torna-te salva-vidas.
Vês como tu é querida?
Trabalhas a palavra linda.
Desenhas barquinhos de papel
Mais fortes que um quartel.
Alivia Lívia
O peso da âncora
Faz dela uma aurora
E da aurora uma aquarela.
186
Diálogo dos Olhos
Teu corpo
Roubou
Da minha
Canseira
O leito de
Sono.
Há flores ancoradas
No sul azul dos teus olhos.
Sábias flores que dormem
À luz das tuas retinas.
Há flores penduradas
No vão dos teus dedos.
Mas nunca é vão o cheiro
Que deixam em tua mão.
Há flores respirando
Nos teus lábios,
Lindas flores que folham
Suas palavras meninas.
Há um fruto no teu beijo,
Uma raiz no teu coração
Um caule no meu desejo
De ancorar em ti minha floração.
187
Juan Pablo
Salta susto
Forma pranto
Vem partida
Sofre escondido
Triste vida.
Salta moleque
Estanca a ferida
Cala tua chaga
E vá trabalhar.
Salta cólera
Forma solitude
Muito e amiúde
É proibido ser
Triste, não ser
Salta da cama
Atira no relógio
Maldiz tudo
Olhos pesados
Fundos, profundos
Tão magoado
Salta tua imagem
Vem a ferida
Revogar meus ais.
Salta o ponteiro
Ressuscitado
Revogar meu ar.
188
Seleção de poemas de
Jéssica Tassiana Bobroski*
Procurar
191
Juan Pablo
Único
192
Diálogo dos Olhos
Força
193
Juan Pablo
Desencontros
Ando em círculos
Girando e Girando
Circo da vida
Caio no início
No ponto de partida.
194
Diálogo dos Olhos
Covardia
Um passo
O grito
Meus anúncios
Meus delírios
Uma buzina
O disparo
Sonhos, devaneios
Um passo
O grito
Coragem!
Não sustento minha travessia.
195
Juan Pablo
Intoxicação
Ouço...
Pedras,
Fagulhas,
Espinhos
Liquidifico,
Mastigo
Regurgito.
Pela manhã...
Língua amarga
Da boca saem...
Pedras, fagulhas e espinhos.
196
Diálogo dos Olhos
Nascer
Meu parto
Desabrocha suavemente em respirar
Suspirar, sorrir
Meu parto
Desabrocha em sangue, lágrimas e gritos.
Nasço e renasço
Como uma lagarta de vida breve
Pronta para voar!
197
Juan Pablo
Confidente
Mão direita
Pesada Trêmula
Trêmula confidente!
Da ponta de meus dedos
Grafite que
Desenha, rabisca, risca
O que há para gritar!
198
Diálogo dos Olhos
Meu sertão
199
Juan Pablo
A espera
200
Diálogo dos Olhos
Fugaz
201
Juan Pablo
Súplica
202
Diálogo dos Olhos
(Jéssica Bobroski)
203
Juan Pablo
Poeta amigo
Por Rob Rodrigues
Imaginei muitas coisas
Tudo que vem demais pode ser ruim
Uma vida sem amizade, o que seria de mim?
Seria incerto ou crueldade?
Ou bastaria mesmo assim?
Há coisas que o tempo apaga
No tempo, a lembrança esmaga
Imagem de alegria e sossego
Que nem a morte cala
Nem distância, o desapego
Jogaria contra a alma
Um amigo na amizade
Um culto novo ou felicidade?
Do encontro ao coração, isso mesmo ou bastaria?
E se amor poderia... Enxergar com outros olhos
Me abandonaria? Me deixaria?
És pra mim, mais que um irmão!
Esse amigo tem um nome
Chama Juan Pablo, mas chamá-lo-ei irmão
Dois pobres jovens sem coração
Digerindo palavras, ao intuito de ser poeta,
Que nem o tempo veta, nem mesmo a paixão
Amores vem e vão.
204
Diálogo dos Olhos
Tem tudo.
Nome de artista, pose de artista, palavras de artista.
De artista não, de poeta.
Com as palavras me deixa maravilhada.
Tudo isso em um só. Em só um.
Em alguém especial, que tem os olhos fascinantes.
Eu gosto de ti baby, eu gosto muito de ti.
Janaína Senem
205
Irreversível
História que conta o primeiro contato que tivemos, Felipe
Soeiro e eu, grandes amigos hoje e parceiro que eu abracei
nas capas dos meus primeiros livros. Esta história é
inclusive contada por ele onde eu sou o rapaz cujos olhos se
escondem e o portador de alargadores negros:
Capítulo Um
Cinco
de Março
de Dois Mil
e Doze
209
Juan Pablo
210
frente, e mais outro minúsculo pedaço de papel marrom
claro.
Então, em prol da minha felicidade, a folhinha era um
comando para que organizássemos os documentos da
inscrição corretamente antes de entregá-los ao monitor, e,
em prol da minha tristeza, o minúsculo pedaço de papel
indesejavelmente marrom era a senha para a lista de espera.
Depois de reconhecê-lo, o detestei imediatamente. Havia
cerca de quarenta pessoas na sala, e meu número, o
vigésimo-sexto, não trazia bons presságios para o resto da
minha tarde naquela sala. Não posso ficar parado. Mas
enfim, se tratava do grande dia.
As dezenas de olhares sobre aquele alguém parado à
porta eram plenos de uma curiosidade eminente, que
transparecia nas faces de todos ali dentro, e para mim, a
descoberta dos rostos daqueles com os quais eu
provavelmente passaria os próximos quatro anos ainda não
me cativava.
Eu havia me afastado dessa expectativa nas semanas
anteriores, pois estava decidido de não mais me engajar em
amizades entre universitários, tal como havia feito em meu
curso anterior a esse. Eu esperava por uma revolução
solitária.
Assim sendo, meu instinto territorialista despertou
de imediato, e ele me dizia para que evitasse seguir para o
meio da sala. Os três minutos em silencio na porta foram
suficientes para chamar uma atenção desnecessária sobre
mim. Logo, verifiquei se não havia me esquecido de nada
sobre a mesa e depois segui pelo canto da sala, ao lado da
211
Juan Pablo
212
inevitavelmente dos demais ao meu redor, todas capturadas
pela minha incontrolável visão periférica.
Foi inevitável que eu percebesse a cor de seus
cabelos, o corte de suas roupas, as diferentes estaturas, os
diferentes comportamentos daqueles aguardando ali dentro,
para onde eles olhavam, por fim a quantidade de homens e
de mulheres presentes: seis homens comigo contra trinta e
quatro mulheres. Trinta e cinco com mais outra que acabara
de entrar. E claro, como não notar o insuportável desleixo na
voz do monitor. E, sobretudo, o tal rapaz incógnito, sua
camisa polo branca, sua bermuda, da cor que menos gosto,
amarela, sentado lá poucos metros atrás de mim, todo
comprometido consigo mesmo debaixo de seu boné cor
vinho gasto escurecido. Já eram muitas estatísticas para a
percepção demasiadamente exagerada do meu ser.
Contudo, independente daquilo que
involuntariamente eu percebesse no mundo ao meu redor,
naquele momento, era a presença silenciosa daquele rapaz
que me recordava de outro mundo esquecido em mim. Foi
como se vestígios das desventuras deixadas nas páginas
passadas da minha vida, aquela que havia decidido esquecer
para viver a atual, surgissem do nada como fantasmas
antigos. Estava sentado ali a menos de cinco minutos, mas já
sabia que a vibração que sentia em uníssono naquela sala
oscilava entre mim e ele. Seu silencio parecia pretender
cobrir a minha presença inquieta, e de alguma forma
prazerosa eu não podia barrar aquilo.
Porém, dificilmente me deixo vencer. Não me cabe
bem o papel da vítima. Logo, como de hábito faço com tudo
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mim e minha improvisada atividade sobre aquela mesa
ridícula. Senti um ar todo curioso sobre mim. Tentei ignorar
aquilo, mas fui traído pela minha própria percepção
exagerada.
Era eu o curioso a respeito das tatuagens em seus
braços e de seus alargadores de aço negro,
consideravelmente grandes em suas orelhas. Porém injusto
seria listá-lo como um tipo anarquista rebelde, pois o silencio
de seus lábios sérios relatavam nele algo a mais. Sua
existência sutil ao meu lado não podia me entregar nada
além daquilo por hora, embora intuísse que, apesar da
proposta de sua aparência turrona, ele também era
constituído de uma essência bem contrária àquela que
residia na superfície de sua indagável aparência.
Mas o que estaria debaixo de sua superfície quase
hostil? No que estaria pensando além do óbvio em comum
em todos naquela sala? Difícil seria decifrar pensamentos
desse tipo naquele instante, mas interessante era imaginar
por quais periferias suas ideias perambulavam. O jogo que
empreendi com o silencio vindo daquele rapaz me distraia da
lerdíssima chamada do monitor diante de todos, melhor não
poderia ser. As tatuagens dele estavam um tanto escondidas
debaixo das mangas de sua camisa polo. Nelas percebi
vermelho, preto e provavelmente azul também, no que
imaginava serem desenhos indígena-americanos. Ou não.
Seus brincos, sim eram alargadores, que lhe caíam muito
bem, aliás. Entretanto, seus olhos permaneciam impossíveis
de se ver debaixo de seu boné.
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Deixei minhas digitais com a garota ao seu lado e já estava
livre para retornar naquele prédio em uma semana para o
início do curso.
Entre todos aqueles que eu notei na sala de
inscrição, ninguém a meu ver fazia o tipo inclinado ao curso
de literatura. Em contrapartida o número de mulheres
inscritas não me surpreendeu. Mas, em relação a presença
do rapaz tatuado e de alargadores negros nas orelhas, de ar
anarquista rebelde, este sim foi a grande surpresa do dia.
Apesar do peso de seu silencio, nada em sua aparência
turrona me desagradava, ao contrário. As margens do senso
comum me interessam infindavelmente mais que seu centro.
Prefiro a marginalização a superfícies rasas, eu sempre
gostei do contraste inesperado nas coisas, e talvez ele
também preferisse.
Já caminhava para casa e a lembrança do rapaz
incógnito ainda me acompanhava, suspeitava que devido ao
estado de êxtase do fator boa surpresa. Só não esperava que
ela me acompanhasse por todo o restante daquela semana.
Talvez eu viesse a descobrir que pudesse dividir com ele
muitas coisas inesperadas em comum, passagens além da
perigosa superfície aonde geralmente meus diálogos vinham
definhando. Talvez fosse ele um dos caminhos para a
revolução em minha vida. Os atentos se deparam sempre
com caminhos assim, irreversíveis.
Felipe. S. Soeiro*
(*Felipe. S. Soeiro; acadêmico de letras, professor, pintor, escritor e grande
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Kauã Luidi Ramos Ribeiro.
O irmão mais novo.
Ele perguntou, ele perguntou,
“Eu vou sair no livro?”
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