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PODER JUDICIÁRIO 
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO PARÁ 

ACÓRDÃO Nº 32.246

RECURSO ELEITORAL (11548) - 0600140-57.2020.6.14.0075 - Parauapebas - PARÁ.


RELATOR: Juiz Diogo Seixas Condurú.

RECORRENTE: MDB - PARAUAPEBAS


- PA - MUNICIPAL.
ADVOGADO: CLAUDIO GONCALVES MORAES - OAB/PA0017743.

ADVOGADO: THIAGO DA CRUZ LERMEN - OAB/PA29249.

ADVOGADO: FELIPE PINHEIRO CUNHA - OAB/PA0026764.

RECORRIDO: FABIO BARROS MOURA.

ADVOGADO: LUIZ HENRIQUE VIEIRA XAVIER - OAB/MG0121116A.


 

ELEIÇÕES 2020. RECURSO ELEITORAL.


REPRESENTAÇÃO. PROPAGANDA ELEITORAL
ANTECIPADA NEGATIVA. PUBLICAÇÃO DE VÍDEO NA
REDE SOCIAL INSTAGRAM. AMBIENTE PRÓPRIO PARA
ANTECIPAÇÃO DO PLEITO E DESEQUILÍBRIO DA
DISPUTA ELEITORAL. VÍDEO COM PEDIDO EXPLÍCITO
DE NÃO VOTO. CARACTERIZAÇÃO. EXTRAPOLAÇÃO
DOS LIMITES DA MERA CRÍTICA POLÍTICA. MULTA.
ARTIGO 36, §3º, DA LEI Nº 9.504/97. APLICAÇÃO
NO  MÍNIMO LEGAL, RECURSO PARCIALMENTE
CONHECIDO E PROVIDO.

1. Nos termos da Res.-TSE 23.610/2019 (art. 38, caput e §§ 1º e


7º) a atuação da Justiça Eleitoral em relação aos conteúdos
divulgados na internet deve ser realizada com a menor
interferência possível no debate democrático, a fim de assegurar
a liberdade de expressão e impedir a censura, de modo que as
ordens de remoção se limitarão às hipóteses em que seja
constatada violação às regras eleitorais ou ofensa aos direitos
das pessoas que participam do processo eleitoral, tornando-se
sem efeito caso não confirmadas por decisão de mérito
transitado em julgado até a data do pleito.

2. Conforme entendimento do TSE, uma vez encerrado o


processo eleitoral, com a diplomação dos eleitos, cessa a razão
de ser da medida limitadora à liberdade de expressão,
consubstanciada na determinação de retirada de propaganda
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eleitoral tida por irregular, ante o descompasso entre essa


decisão judicial e o fim colimado (tutela imediata das eleições).
Eventual ofensa à honra, sem repercussão eleitoral, deve ser
apurada pelos meios próprios perante a Justiça Comum.

3. Desse modo, na linha da jurisprudência do TSE, fica


prejudicado o pleito de remoção definitiva da publicação
impugnada, uma vez encerrado o processo eleitoral, subsistindo,
no caso, interesse de agir apenas no tocante à eventual
aplicação de multa, caso configurada a propaganda antecipada
negativa.

4. Quando se trata de propaganda negativa, a tutela imediata da


Justiça Eleitoral não é a honra do ofendido ou mesmo a
recriminação do ofensor, mas a igualdade do pleito. Assim, a
Justiça Eleitoral não invade a esfera da liberdade de expressão
na medida em que não a limita ou censura, mas sim tutela a
igualdade da eleição, diferentemente, portanto, do período
permitido de propaganda, em que há paridade entre os diversos
atores que devem debater ideias sem que necessite de qualquer
tutela, salvo em caso de excessos.

5. Segundo a jurisprudência do Egrégio Tribunal Superior


Eleitoral, para o reconhecimento do ato como propaganda
eleitoral extemporânea, devem-se observar três parâmetros
alternativos; quais sejam, a presença de pedido explícito de voto
ou não voto; a utilização de formas proscritas durante o período
oficial de propaganda; ou a violação ao princípio da igualdade
de oportunidades entre os candidatos.

6. No presente caso, a publicação foi realizada pelo recorrido no


dia 30 de agosto de 2020 em seu perfil de rede social Instagram
com 23,8 mil seguidores, sendo antecipada ao período permitido
de propaganda, de acordo com o art. 11, inc. II, da Resolução
TSE n. 23.624/20, que dispõe a permissão da propaganda
eleitoral na internet a partir de 27 de setembro de 2020, o que
pode gerar ambiente próprio para a antecipação do pleito e
desequilíbrio da disputa entre os candidatos.

7. O conteúdo do vídeo publicado extrapola os limites do direito


de mera crítica política, uma vez que consubstanciam ofensa
grave a imagem e a honra de pré-candidato, com viés
claramente político, capaz de criar, artificialmente, na opinião
pública, estados mentais, emocionais e passionais e induzir ao
não voto, caracterizando a propaganda eleitoral negativa.

8. Configurada a responsabilidade pela prática de propaganda


eleitoral negativa antecipada, atrai-se à aplicação da multa do
artigo 36, §3º, da Lei nº 9.504/97.

9. Recurso parcialmente conhecido e provido.

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ACORDAM os Juízes Membros do Tribunal Regional Eleitoral do Pará, por maioria, conhecer
parcialmente do recurso, nos termos do voto do Relator, que foi acompanhado pelo
Desembargador Leonam Gondim da Cruz Júnior, pela Juíza Federal Carina Cátia Bastos de
Senna e pelos Juízes Edmar Silva Pereira e Rafael Fecury Nogueira. Voto divergente do Juiz
Álvaro José Norat de Vasconcelos. À unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos do
voto do Relator. Votaram com o Relator o Desembargador Leonam Gondim da Cruz Júnior, a
Juíza Federal Carina Cátia Bastos de Senna e os Juízes Álvaro José Norat de Vasconcelos,
Edmar Silva Pereira e Rafael Fecury Nogueira. Presidiu o julgamento a Desembargadora Luzia
Nadja Guimarães Nascimento.

Sala das Sessões do Tribunal Regional Eleitoral do Pará.

Belém, 20 de outubro de 2021.


Juiz Diogo Seixas Condurú 


Relator

 
 

PODER JUDICIÁRIO 

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO PARÁ 

RECURSO ELEITORAL Nº 0600140-57.2020.6.14.0075.


RECORRENTE: MDB - PARAUAPEBAS - PA - MUNICIPAL.

RECORRIDO: FABIO BARROS MOURA.

 
 
RELATÓRIO
 

O Senhor Juiz Diogo Seixas Condurú: Trata-se de Recurso Eleitoral interposto


pelo Movimento Democrático Brasileiro – MDB/Diretório Municipal de Parauapebas, contra
sentença do Juízo da 75ª Zona Eleitoral, na qual julgou improcedente a representação eleitoral
por propaganda antecipada negativa em face de Fábio Barros Moura.

Em síntese, na sentença (ID 5927569), o juiz a quo assentou trata-se de mera


divulgação de posicionamento pessoal sobre questões politicas, fazendo longa e assertiva
fundamentação acerca dos limites normativos e hermenêuticos da liberdade de expressão, da
possibilidade de engajamento do debate político e da salvaguarda da democracia, razões pelas
quais julgou improcedente o pedido da exordial.
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Em suas razões recursais (ID 5927919), o recorrente pugna pela reforma da


sentença, para reconhecer a ocorrência de propaganda eleitoral antecipada negativa, sustentando
e requerendo:

a) Teria ocorrido propaganda antecipada negativa, já que, no


caso em análise, o intuito do recorrido foi obter benefícios
eleitorais, ultrapassando os limites da liberdade de expressão e
atacando a honra do Prefeito Darci Lermen com o termo “rato,
rato do bucho branco”;

b) O juízo a quo não enfrentou o conteúdo específico trazido à


discussão para se configurar a propaganda antecipada negativa,
especificamente, sobre as frases proferidas pelo recorrido para se
dirigir a pessoa do Prefeito de Parauapebas, com o intuito de
capitalizar eleitoralmente o candidato de sua preferência e
escarnecer um adversário político, tendo desrespeitado o inciso
IV, do §1º, do Art. 489 do CPC/15;

c)A retirada definitiva da postagem hospedada na URL:


https://www.instagram.com/p/CEg0zIGJR9p/, na página do
Instagram do representado;

d) A aplicação de multa no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil


reais) ao recorrido, ante o grau de reprovabilidade da conduta,
com fulcro no artigo § 3º, do art. 36, da Lei das Eleições e art. 2º,
§ 4º, da Resolução TSE nº 23.610/2019.

Em contrarrazões (ID 5928069), o recorrido pugna pelo desprovimento do recurso


eleitoral e a manutenção da sentença, aduzindo que não realizou pedido explícito de não voto
contra o candidato Darci Lermen, pois teria apenas exercido seu direito constitucional de livre
manifestação.

A Procuradoria Regional Eleitoral, por meio de parecer (ID 19130419),


manifestou-se pelo desprovimento recursal para a manutenção da sentença.

É o relatório.

VOTO
 

O Senhor Juiz Diogo Seixas Condurú (Relator): O recurso é adequado,


tempestivo e está subscrito por profissional habilitado nos autos, devendo, assim, ser conhecido.

De início, entendo que restou parcialmente prejudicado o presente recurso, ante a


perda superveniente do interesse recursal em relação ao pedido de retirada do conteúdo
impugnado em razão do término do período eleitoral.

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Isto porque, conforme já manifestado em outros casos, é de entendimento do


Tribunal Superior Eleitoral de que a atuação da Justiça Eleitoral está adstrita ao período eleitoral,
devendo o ofendido buscar as vias ordinárias da Justiça Comum para obter a remoção definitiva
de conteúdo ofensivo, de acordo com o art. 38, § 7 da Resolução n° 23.610.

A precitada Res.-TSE 23.610 preconiza, em seu art. 38, caput e 7º, que a atuação da
Justiça Eleitoral em relação aos conteúdos divulgados na internet deve ser realizada com a
menor interferência possível no debate democrático, a fim de assegurar a liberdade de expressão
e impedir a censura, de modo que as ordens de remoção se limitarão às hipóteses em que seja
constatada violação às regras eleitorais ou ofensa aos direitos das pessoas que participam do
processo eleitoral, tornando-se sem efeito aquelas não confirmadas por decisão de mérito
transitado em julgado até a data do pleito.

Assim, resta prejudicado o pleito no tocante a remoção definitiva da publicação


impugnada, subsistindo, contudo, interesse recursal na análise da configuração ou não da
propaganda eleitoral extemporânea negativa.

Diante disso, no mérito, a controvérsia dos autos consiste em estabelecer se o


recorrido incorreu ou não na prática de propaganda antecipada negativa, por meio de divulgação
de vídeo em rede social com comentários supostamente ofensivos à imagem e honra do então
candidato Darci José Lermen.

Conforme relatado, o Juízo a quo fez longa e assertiva fundamentação acerca dos
limites normativos, hermenêuticos da liberdade de expressão e da possibilidade de engajamento
do debate político. A partir dessa perspectiva, entendeu que a postagem impugnada não
extrapolou os limites da crítica política, e por isso não caracterizou propaganda negativa
proscrita pela norma eleitoral, art. 57-C, §3º da Lei n° 9.504/97.

Como tenho dito, estes limites daquilo que é humor ou mesmo das esferas de
liberdade não podem ser objetos de maior aprofundamento pela justiça eleitoral, que deve se ater
às evidências de desequilíbrio do pleito.

Procurei, em diversos precedentes desta casa, compreender a existência desse


fenômeno relacional entre as matérias aqui tratadas e a liberdade de expressão e constatei que o
que se tem coibido nessa casa são contextos produzidos artificialmente com o intuito de
antecipar os debates eleitorais, geralmente em clara desvantagem para uma das partes.

Com isso, saliento que a postagem, per si, seria um indiferente eleitoral, já que o
debate sobre os limites das acusações ou aquilo que foi falado, isoladamente, não atrairia a
atuação desta Especializada.

Contudo, de rigor destacar que a publicação foi realizada no dia 30 de agosto de


2020 em seu perfil da rede social Instagram, por pessoa com 23,8 mil seguidores e engajada na
militância política, conforme se verificou no seu perfil, o que pode gerar ambiente próprio para a
antecipação do pleito e desequilíbrio da disputa entre os candidatos, vejamos:

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De acordo com o art. 11, inc. II, da Resolução TSE n. 23.624/20, é permitida a
propaganda eleitoral na internet a partir de 27 de setembro de 2020. O § 1º do art. 27 da
Resolução TSE n. 23.610/19, por sua vez, prevê que: A livre manifestação do pensamento do
eleitor identificado ou identificável na internet somente é passível de limitação quando ofender a
honra ou a imagem de candidatos, partidos ou coligações, ou divulgar fatos sabidamente
inverídicos.

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Do exame dessas disposições, tem-se que, antes do dia 27.9.2020, a divulgação de


propaganda eleitoral contendo veiculação de ofensas à honra ou à imagem pré-candidato ou
divulgação de fato sabidamente inverídico constitui ilícito eleitoral.

Segundo a jurisprudência do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral (AgR–AI 9–


24/SP, Ac. De 25/09/2018, rel. Min. Tarcisio Vieira de Carvalho Neto), para o reconhecimento
do ato como propaganda eleitoral extemporânea, devem-se observar três parâmetros
alternativos; quais sejam: i) a presença de pedido explícito de voto ou não voto; ii) a utilização
de formas proscritas durante o período oficial de propaganda; ou iii) a violação ao princípio da
igualdade de oportunidades entre os candidatos.

O vídeo publicado é uma paródia chamada “RATO DO BUCHO BRANCO”,


disponível através da URL: https://www.instagram.com/p/CEg0zIGJR9p/, confira-se a
transcrição completa do vídeo guerreado:

“Rato do bucho branco onde é que tu estavas? Por que agora


resolveu aparecer? Tu tá achando que o povo vai esquecer das
promessas que tu fez pra poder se eleger? E fala agora para de
enrolação, começou mostrar a cara em tempo de eleição, o seu
governo não passa de fantasia devolva a nossa alegria e vai
embora pra Bahia.

Você sumiu em 2017, veio em 2018 e também não apareceu,


2019 faltou compromisso, tomou um chá de sumiço e do povo se
esqueceu, 2020 só no final do mandato, serviço de porco e rato,
pra tentar nos enganar, acredite nosso povo tem memória, quem
acredita em tua história quem é pago pra babar. Rato do bucho
branco onde é que tu estavas? Por que agora resolveu aparecer?
Tu tá achando que o povo vai esquecer das promessas que tu fez
pra poder se eleger?

Rato do bucho branco onde é que tu estavas? Por que agora


resolveu aparecer? Tu tá achando que o povo vai esquecer das
promessas que tu fez pra poder se eleger? E fala agora para de
enrolação, começou mostrar a cara em tempo de eleição, o seu
governo não passa de fantasia, devolva a nossa alegria e vai
embora pra Bahia.”

Ao contrário do que sustentado na sentença recorrida, a utilização do termo "Rato


do Bucho Branco", não exige maior esforço para decifrar seu conteúdo pejorativo - no sentido
de que é uma pessoa que age de modo trapaceiro - que associado ao conteúdo do vídeo
publicado, revela, sim, propaganda negativa, capaz de criar, artificialmente, na opinião pública,
estados mentais, emocionais e passionais e induzir ao não voto.

Ademais, o fato de as publicações terem ocorrido antecipadamente ao período


permitido de propaganda, possui maior gravidade e risco de prejuízo a isonomia na disputa
eleitoral.

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Nesse sentido, esta c. Corte tem entendido que se configurará propaganda negativa
quando houver a recomendação de não votar em determinado futuro candidato, podendo se
perfazer em casos nos quais se utilize de críticas que excedam os limites do tolerável e atentem a
honra e imagem do mesmo, o que ocorreu no caso concreto, vejamos:

ELEIÇÕES 2020. RECURSO ELEITORAL.


REPRESENTAÇÃO. PROPAGANDA ELEITORAL
EXTEMPORÂNEA NEGATIVA. NÃO VOTO.
COMPARTILHAMENTO DE VÍDEO NA REDE SOCIAL
FACEBOOK. VÍDEO COM PEDIDO EXPLÍCITO DE NÃO
VOTO. CARACTERIZAÇÃO. MULTA. ARTIGO 36, §3º, DA
LEI Nº 9.504/97. APLICAÇÃO NO VALOR MÍNIMO,
DIANTE DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO.

(...).

3. A propaganda antecipada eleitoral fica configurada não


apenas nas hipóteses de pedido explícito de voto em período
de pré-campanha, mas também se, de acordo com as
peculiaridades do caso concreto, existir explicitamente
recomendação para não se votar em determinado pré-
candidato, a qual configura a propaganda negativa, seja por
conter expressões que excedam o limite da crítica com nítido
intuito de macular a honra ou a imagem de futuro candidato,
seja por pedido explícito de não voto, já que, ambos os casos,
induz-se eleitores a não votar em potencial candidato, o que
deve ser imediatamente tolhida pela Justiça Eleitoral, desde
que não se trate de mera crítica ou exercício ao direito de
informação e respeitados os princípios constitucionais, pois o
que se veda é o exercício abusivo de direito.

4. O compartilhamento de conteúdo efetuado por usuário da


rede social facebook é suficiente para atrair a
responsabilidade por aquela divulgação. Ao usuário
compartilhar determinada publicação se torna um replicador
daquele conteúdo em seu próprio perfil, aumentando o alcance
de forma exponencial para todos os seus seguidores, não
havendo, portanto, o que se falar em ausência de culpa pelo mero
compartilhamento.

7. Recurso conhecido parcialmente provido para reformar a


sentença guerreada no sentido de reconhecer a prática de
propaganda eleitoral antecipada pelo recorrido, deferir a tutela
ora requerida no bojo da ação para retirar o conteúdo da
postagem, ou se já tenha sido retirado, de se manter a exclusão
do conteúdo contido na URL, sob pena de multa, bem como
condená-lo ao pagamento de multa no valor mínimo de R$
5.000,00, com fulcro no art. 36, § 3º, da Lei nº 9.504/97, nos
termos da fundamentação.

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(Recurso Eleitoral n 060003313, ACÓRDÃO n 31169 de


24/09/2020, Relator(aqwe) JUIZ FEDERAL SÉRGIO
WOLNEY DE OLIVEIRA BATISTA GUEDES, Publicação:
DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 186, Data 30/09/2020,
Página 11,12).

ELEIÇÕES 2020. RECURSO ELEITORAL.


REPRESENTAÇÃO. PROPAGANDA ELEITORAL
EXTEMPORÂNEA NEGATIVA. NÃO VOTO. PUBLICAÇÃO
DE VÍDEO NA REDE SOCIAL FACEBOOK. TÍTULO DE
VÍDEO COM PEDIDO DE NÃO VOTO.
CARACTERIZAÇÃO. MEIO UTILIZADO PARA
PROMOVER ANTECIPAÇÃO DA CANDIDATURA
VEDADO PELA LEGISLAÇÃO ELEITORAL. MULTA.
ARTIGO 36, §3º, DA LEI Nº 9.504/97. APLICAÇÃO NO
VALOR MÍNIMO, DIANTE DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO
CASO. RECURSO DESPROVIDO.

(...).

2.1. Compete à Justiça Eleitoral velar pela moralidade do


processo eleitoral. A liberdade de expressão, embora
reconhecida como um dos pilares da democracia, não é
absoluto.

2.2. A configuração da propaganda eleitoral extemporânea


independe da escolha dos candidatos em convenção partidária.
Precedentes TSE. (vide in: Recurso Especial Eleitoral nº 20626,
Acórdão, Rel. Min. João Otávio De Noronha, DJE, Tomo 60,
27/03/2015, pág. 31).

2.3. A propaganda antecipada eleitoral fica configurada não


apenas nas hipóteses de pedido explícito de voto em período
de pré-campanha, mas também se, de acordo com as
peculiaridades do caso concreto, existir explicitamente
recomendação para não se votar em determinado pré-
candidato, a qual configura a propaganda negativa, seja por
conter expressões que excedam o limite da crítica com nítido
intuito de macular a honra ou a imagem de futuro candidato,
seja por pedido expresso de não voto, já que, ambos os casos,
induz-se eleitores a não votar em potencial candidato, o que
deve ser imediatamente tolhida pela Justiça Eleitoral, desde
que não se trate de mera crítica ou exercício ao direito de
informação e respeitados os princípios constitucionais, pois o
que se veda é o exercício abusivo de direito.

(...).

(Recurso Eleitoral n 060004612, ACÓRDÃO n 31135 de


10/09/2020, Relator(a) JUIZ FEDERAL SÉRGIO WOLNEY DE

https://consultaunificadapje.tse.jus.br/consulta-publica-unificada/documento?extensaoArquivo=text/html&path=regional/pa/2021/10/28/10/0/54/2… 9/13
02/11/2021 22:05 https://consultaunificadapje.tse.jus.br/consulta-publica-unificada/documento?extensaoArquivo=text/html&path=regional/pa/2…

OLIVEIRA BATISTA GUEDES, Publicação: DJE - Diário da


Justiça Eletrônico, Tomo 173, Data 21/09/2020, Página 13,14).

O conteúdo do vídeo publicado extrapola os limites do direito de mera crítica


política, uma vez que consubstanciam ofensa grave a imagem e a honra de pré-candidato, com
viés claramente político, caracterizando a propaganda eleitoral negativa.

Logo, ao contrário do que constou na sentença, embora operosa e bem


fundamentada, o caso dos autos trata de extrapolação do regular exercício da liberdade de
expressão e propaganda eleitoral extemporânea negativa, atraindo a aplicação de multa previsto
no art. 36, § 3° da Lei 9.504/97.

Outrossim, ressalta-se que o recorrido já teve outras representações de nº 0600141-


42.2020.6.14.0075 e nº 0600133-65.2020.6.14.0075 neste r. Tribunal Regional por propaganda
eleitoral antecipada negativa, na qual realizou postagens com ataques diretos à imagem do
candidato Darci José Lermen.

ELEIÇÕES 2020. RECURSO ELEITORAL.


REPRESENTAÇÃO. PROPAGANDA ELEITORAL
EXTEMPORÂNEA NEGATIVA. NÃO VOTO. PUBLICAÇÃO
DE VÍDEO NA REDE SOCIAL INSTAGRAM. VÍDEO COM
PEDIDO EXPLÍCITO DE NÃO VOTO. CARACTERIZAÇÃO.
MULTA. ARTIGO 36, §3º, DA LEI Nº 9.504/97. ALEGAÇÃO
DE DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO LIMINAR ZONAL.
CARACTERIZAÇÃO. REFORMA DA SENTENÇA PARA
MAJORAÇÃO DA MULTA APLICADA. RECURSO PELO
AFASTAMENTO DA MULTA CONHECIDO E
DESPROVIDO. RECURSO PELO AUMENTO DO
QUANTUM DA MULTA CONHECIDO E PROVIDO.

1. Compete à Justiça Eleitoral velar pela moralidade do processo


eleitoral. A liberdade de expressão, embora reconhecida como
um dos pilares da democracia, não é absoluta.

2. A configuração da propaganda eleitoral extemporânea


independe da escolha dos candidatos em convenção partidária.
Precedentes TSE. (vide in: Recurso Especial Eleitoral nº 20626,
Acórdão, Rel. Min. João Otávio De Noronha, DJE, Tomo 60,
27/03/2015, pág. 31).

3. A propaganda antecipada eleitoral fica configurada não apenas


nas hipóteses de pedido explícito de voto em período de pré-
campanha, mas também se, de acordo com as peculiaridades do
caso concreto, existir explicitamente recomendação para não se
votar em determinado pré-candidato, a qual configura a
propaganda negativa, seja por conter expressões que excedam o
limite da crítica com nítido intuito de macular a honra ou a
imagem de futuro candidato, seja por pedido expresso de não

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02/11/2021 22:05 https://consultaunificadapje.tse.jus.br/consulta-publica-unificada/documento?extensaoArquivo=text/html&path=regional/pa/2…

voto, já que, em ambos os casos, induzem-se eleitores a não


votar em potencial candidato, o que deve ser imediatamente
tolhida pela Justiça Eleitoral, desde que não se trate de mera
crítica ou exercício ao direito de informação e respeitados os
princípios constitucionais, pois o que se veda é o exercício
abusivo de direito. Precedentes.

4. As liberdades de expressão e pensamento são parte dos


paradigmas normativos que orientam os pleitos eleitorais.
Entretanto, não abrangem aquelas condutas cujo propósito é
causar dano à imagem de candidatos adversários ou estimular o
não-voto. Precedentes.

5. Configurada a responsabilidade pela prática de propaganda


eleitoral negativa antecipada, atrai-se à aplicação da multa do
artigo 36, §3º, da Lei nº 9.504/97.

6. No caso em análise, observou-se que o representado


descumpriu decisão liminar zonal de retirada do ar do conteúdo
impugnado, o que deixou de ser examinado pelo juízo de origem.

7. O descumprimento da liminar atenta contra a Justiça Eleitoral


e torna imperativa a procedência do pedido do representante, ora
recorrente, pela majoração da multa aplicada na origem.

8. Recurso interposto pelo representado para afastar a multa


conhecido e desprovido. Recurso interposto pelo representante
para aumentar a multa em função de descumprimento de liminar
zonal conhecido e provido. Reforma da sentença para elevação
do quantum do limite da multa aplicada de R$ 6.000,00 (seis mil
reais) para R$ 12.000,00 (doze mil reais.).

(Recurso Eleitoral n 060013365, ACÓRDÃO n 31922 de


20/05/2021, Relator(aqwe) JUIZ FEDERAL SÉRGIO
WOLNEY DE OLIVEIRA BATISTA GUEDES, Publicação:
DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 103, Data 07/06/2021,
Página 30, 31).

RECURSO ELEITORAL. REPRESENTAÇÃO. ELEIÇÕES


2020. PROPAGANDA ELEITORAL ANTECIPADA
NEGATIVA. COMPARTILHAMENTO. INTERNET.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO. DIREITO À IMAGEM.
SOPESAMENTO DE DIREITOS FUNDAMENTAIS.
RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.

1. Concernente à propaganda antecipada negativa, o Tribunal


Superior Eleitoral firmou entendimento de que a irregularidade
não se limita ao pedido de "não voto", estabelecendo que
“configuram propaganda eleitoral antecipada negativa críticas
que desbordam os limites da liberdade de informação, em

https://consultaunificadapje.tse.jus.br/consulta-publica-unificada/documento?extensaoArquivo=text/html&path=regional/pa/2021/10/28/10/0/54/… 11/13
02/11/2021 22:05 https://consultaunificadapje.tse.jus.br/consulta-publica-unificada/documento?extensaoArquivo=text/html&path=regional/pa/2…

contexto indissociável da disputa eleitoral do pleito vindouro”


(TSE, ac. de 10.02.2011 no AgR-REspe n. 3967112, rel. Min.
Arnaldo Versiani). E, além disso, que “a divulgação de fatos que
levem o eleitor a não votar em determinada pessoa, provável
candidato, pode ser considerada propaganda eleitoral antecipada,
negativa” (TSE, ac. de 23.10.2002 no REspe n. 20073, rel. Min.
Fernando Neves).

2. A livre manifestação do pensamento somente é passível de


limitação quando ofender a honra, a imagem ou, igualmente,
divulgar fatos sabidamente inverídicos sobre candidatos, partidos
ou coligações, ainda que antes do início do período da
propaganda eleitoral.

3. Constata-se no conjunto probatório dos autos que o vídeo


postado em período de pré-campanha não objetivava o exercício
concreto da liberdade de expressão ou manifestação do
pensamento, que assegura aos cidadãos o direito de expender
críticas a qualquer pessoa, ainda que em tom áspero ou
contundente, especialmente contra autoridades ou agentes do
Estado. Ao contrário disso, o contexto fático demonstra que a
replicação da paródia visava tão somente desprestigiar o pré-
candidato e atual prefeito do município de Parauapebas,
colocando-o em posição de desvantagem em relação a outros
candidatos, de sorte a interferir no resultado do pleito;

4. O mero compartilhamento de informações pejorativas em


página de rede social, conforme observado no feito, amolda-se à
conduta ilícita de divulgação de propaganda negativa,
configurando a responsabilidade do representado pelos atos

5. Recurso conhecido e, no mérito, provido para reformar a


sentença de primeiro grau.

(Recurso Eleitoral n 060014142, ACÓRDÃO n 31789 de


18/03/2021, Relator(aqwe) JUIZ EDMAR SILVA PEREIRA,
Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 55, Data
24/03/2021, Página 6, 7).

Com efeito, entendo caracterizada a propaganda eleitoral antecipada negativa, cuja


prática enseja o sancionamento por multa eleitoral nos termos da Lei n. 9.504/97, art. 36, § 3º.
No presente caso, entendo razoável e proporcional que a condenação seja fixada
no quantum mínimo de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), conforme requerido no próprio recurso.

Ante o exposto, CONHEÇO PARCIALMENTE do recurso e, no mérito, DOU-


LHE PROVIMENTO, para reformar a sentença recorrida e condenar o recorrido, com base no
art. 36, § 3° da Lei 9.504/97, ao pagamento de multa de R$ 5.000,00 pela extrapolação do
regular exercício da liberdade de expressão e realização de propaganda eleitoral extemporânea
negativa.

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É o voto.

Belém, 20 de outubro de 2021.

 
Juiz Diogo Seixas Condurú
Relator
 

PODER JUDICIÁRIO 
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL
DO PARÁ 

RECURSO ELEITORAL Nº 0600140-57.2020.6.14.0075.


RECORRENTE: MDB - PARAUAPEBAS - PA - MUNICIPAL.

RECORRIDO: FABIO BARROS MOURA.

VOTO DIVERGENTE
 

O Senhor Juiz Álvaro José Norat de Vasconcelos: Entendo diferentemente do


Relator, já que a Justiça Eleitoral, ainda que as Eleições tenham ocorrido, é competente para
determinar a retirada  do conteúdo propagandístico nos endereços mencionados na peça de
ingresso. Contudo, acompanho o Relator quanto a aplicação da multa aplicada no seu valor
mínimo.

Pelo exposto, determino que a propaganda indevidamente veiculada seja retirada.

É o voto.

Belém, 20 de outubro de 2021.

Juiz Álvaro José Norat de Vasconcelos

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