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TÓPICOS AVANÇADOS

EM PROCESSO CIVIL
Flávio Cheim Jorge
Direito Processual Eleitoral

Compreensão e características
Introdução
• A compreensão do direito processual eleitoral demanda
uma análise histórica:

 1ª Fase: Surgimento da Justiça Eleitoral até a CF/88

 2ª Fase: CF/88 até a edição da LC 135/10 (Ficha Limpa)

 3ª Fase: Após a Lei da Ficha Limpa até os dias atuais


Análise histórica
• 1ª fase: Surgimento da Justiça Eleitoral até a CF/88
 Antes da Criação da Justiça Eleitoral: modelo parlamentar de
controle das eleições
 03 grandes problemas:
 Formação da convicção do eleitor: voto de cabresto, pela coação e
pela corrupção eleitoral
 Controle da apuração do voto: fraudes na falsificação de cédulas, na
apuração dos votos, dos mapas de votação e etc.
 Ausência na lisura do ato que declarava o vencedor.
Análise histórica
 Criação da Justiça Eleitoral: solução para a imparcialidade do
processo eleitoral
 Valores predominantes do sistema eleitoral nesse período:
 Proteção ao direito de votar
 Proteção ao direito de ser votado

Art. 1º “Este Código contém normas destinadas a assegurar a


organização e o exercício de direitos políticos precipuamente os de
votar e ser votado”.
Análise histórica
 Direito de ser votado:
 Impossibilidade de que o candidato ser retirado do pleito antes do
momento do sufrágio;
 Inexistência de mecanismos processuais para impedir que o
candidato de participar do pleito e fosse votado.
 Contencioso pós-eleitoral:
 Doutrina
 RCED como única via de ação
 Preocupação do sistema: fraude na apuração e no processo de
votação (momentos posteriores às eleições).
 Vícios na vontade dos eleitores dos eleitores não era relevante.
Análise histórica
• 2ª fase: CF/1988 até Lei da Ficha Limpa
 A CF/1988 incorporou novos valores: à probidade administrativa,
isonomia, moralidade, normalidade e legitimidade das eleições
 Urna eletrônica: solução quanto ao problema da fraude na votação.
Legislação se volta para os vícios na formação da vontade do eleitor:
 1997 (Condutas Vedadas);
 1999 (Captação Ilícita de Sufrágio)
 2006 (30-A – Captação e gastos ilícitos de campanha)
 2009 (aumento de cassação de mandato por condutas vedadas)
 2010 (Lei da Ficha Limpa – LC 135/10): eficácia da AIJE para as
próprias eleições e antes do trânsito em julgado
Análise histórica
 Aumento da Judicialização das Eleições

 Contencioso deixa de ser predominantemente pós-eleições

 Direito Processual eleitoral voltado tutela da normalidade do


processo eleitoral
Análise histórica
• 3ª Fase: 2010 aos dias atuais
 Novas preocupações:
 Racionalização do sistema;
 Sistematização
 Elaboração de normas adequadas à natureza do direito processual
eleitoral

 Exemplos:
 Racionalização do RCED
 2013/2014: TSE: conexão e litispendência com técnicas de tutela
coletiva
Análise histórica
 2015: Lei nº 13.165: conexão, litispendência, coisa julgada, efeito
suspensivo em caso de cassação
 2019: resoluções do TSE com regras para:
 produção de prova pericial
 proibição de decisão surpresa
 modificação da capitulação legal do fato
 depoimento pessoal do réu

 2021: Projeto de Novo Código Eleitoral


Características
• Necessidade de adequação do direito processual ao direito
material: instrumentalidade metodológica
• Valores e institutos a serem protegidos pelo direito
processual eleitoral
 Calendário eleitoral
 Natureza fundamental dos direitos políticos
 Normalidade e lisura dos pleitos
 Segurança jurídica e estabilidade para atores do processo
eleitoral
Características
• Predominância de ações de natureza coletiva
“O interesse que está em jogo é o interesse dos cidadãos na
legitimidade do resultado eleitoral, sendo seus portadores (=a quem
pertence o interesse) os próprios detentores do direito ao voto, ou
seja, todos os eleitores” (ADI 3592-DF, Rel. Min. Gilmar Mendes)
• Legitimados são coletivos (MP, Partidos, Coligações,
Federações e candidatos)
• Objeto é de natureza coletiva: tutela de interesse
supraindividual (de forma direta ou indireta, tutela o
sufrágio universal
Características
• Legislação:
 Lei 13.165/15: introduziu o art. 96-B na Lei 9.504/97 com novos e
adequados contornos à conexão, à litispendência e à coisa julgada
• Doutrina:
 Rodolfo Viana Pereira (Tutela coletiva no direito eleitoral: controle
social e fiscalização das eleições. Rio de Janeiro: Lúmen Juris,
2008)
 Ludgero Liberato, Marcelo e Flávio Cheim (Curso de Direito
Eleitoral e artigos)
 Roberta Gresta: Dissertação de mestrado
Características
• Jurisprudência:

“A AIJE visa proteger bem jurídico de titularidade coletiva, qual seja,


a estabilidade do regime democrático manifestado pela soberania
do voto popular” (TSE, Respe 35.923, Rel. Min. Felix Fischer, DJ
14.04.2010)

- “O bem jurídico a ser protegido com a proibição do abuso é de


titularidade coletiva, sendo suficientes, para demonstrar o liame
entre a prática da conduta e o resultado do pleito, a sua gravidade e
aptidão para macular a igualdade na disputa” (TSE, EgR-Respe n.
872331566/RO, Rel. Min. Luciana Lóssio, DJ 25/06/2014).
Características
• Institutos previstos no CPC incompatíveis com à ação eleitoral coletiva
 Legitimidade
 CPC: aferida a partira da titularidade do direito material, de forma
relacional e transitiva (pessoas e objeto);
 Direito Eleitoral:
 atribuída da representatividade adequada (Legitimação extraordinária)
 Legitimidade: concorrente e disjuntiva.

Lei 9.504/97
Art. 96-B (...) §1º O ajuizamento de ação eleitoral por candidato ou partido
político não impede ação do Ministério Público no mesmo sentido (lei
13.165/15)
Características
 Intervenção de terceiros
 CPC:
 São voltadas para processo individual

 Os pretensos titulares do bem figuram com partes e são


alcançados pela coisa julgada

 Terceiros, que possuem interesse jurídico (relação conexa ou


dependente), podem ingressar, quando a lei permite.
Características
 Eleitoral: Aplica-se indiscriminadamente a assistência simples,
com fundamento nas premissas do CPC
(...) 1. Foi deferido o pedido de ingresso no feito, na qualidade de
assistente simples, do candidato ao cargo de vice–prefeito na chapa
que elegeu o recorrente, pois indubitável seu interesse jurídico, nos
termos da jurisprudência desta Corte. (REspe 060030464, Relator(a)
Min. Mauro Campbell Marques, 23/05/2022)

"[e]m ações eleitorais que visam impugnar pedido de registro de


candidatura ou que objetivam a cassação de registro, mandato ou
diploma, admite–se a intervenção de candidato (primeiro suplente
ao cargo proporcional) apenas na condição de assistente simples"
(AgR–AI 68–38/GO, Rel. Min. Admar Gonzaga, DJE de 10/11/2017).
Características

ELEIÇÕES 2022. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. REQUERIMENTO DE


REGISTRO DE CANDIDATURA. (RRC). DEPUTADO FEDERAL.
INDEFERIMENTO. PEDIDO DE INGRESSO NO FEITO. ASSISTENTE
SIMPLES. POSSIBILIDADE. INTERESSE JURÍDICO DEMONSTRADO.
PRECEDENTES. CONDIÇÃO DE ELEGIBILIDADE. FILIAÇÃO PARTIDÁRIA.
AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. PROVA UNILATERAL. SÚMULAS Nº
20, 24, 72 E 30/TSE. DESPROVIMENTO.
1. Demonstrado o interesse jurídico, cabe deferir o pedido de
ingresso no feito da Federação Partidária PSDB/CIDADANIA na
qualidade de assistente simples da parte recorrente. Precedentes.
(REspe 060341711, Relator(a) Min. Carlos Horbach, 03/11/2022)
Características

“O segundo colocado no pleito majoritário requereu o seu ingresso


como assistente simples. A jurisprudência do TSE é firme no sentido
de que, nessa condição, o interesse do pretenso assistente é
meramente fático, e não o exigido interesse jurídico, haja vista que a
"[...] eventual manutenção do indeferimento do registro do
recorrente acarretará novo pleito por força do art. 224 do Código
Eleitoral" (REspEl nº 0600758–53/RJ, rel. Min. Luis Felipe Salomão,
18.12.2020).
Características
 Esse entendimento é o mais adequado?

 Trata-se efetivamente de assistência simples?

 Sua atuação deve ser subordinada ao assistido?


Características
 Coisa julgada
Lei 9.504/97
Art. 96-B (...)
(...)
§ 3º Se proposta ação sobre o mesmo fato apreciado em outra cuja
decisão já tenha transitado em julgado, não será ela conhecida pelo
juiz, ressalvada a apresentação de outras ou novas provas.

 Coisa julgada secundum eventum probationes (característica


natural das ações coletivas)
 É mais ampla: não exige julgamento de improcedência “por
insuficiente de provas” ou “por deficiência de prova”.
Características
• Tipicidade de meios e de técnicas processuais:
 CPC:
 Procedimento comum (residual) + procedimentos especiais
 Eleitoral: ausência de procedimento comum
 Consequências positivas:
 Consequências negativas:
 Res. nº 22.610/2007
Características
• Princípio do in dubio pro sufraggi
 O mandatário escolhido pelo voto popular goza de presunção de
legitimidade social e jurídica;
 Código Eleitoral:

Art. 368-A. A prova testemunhal singular, quando exclusiva, não será


aceita nos processos que possam levar à perda do mandato (Incluído
pela Lei nº 13.165, de 2015)
Características
 Qual o standard de prova no Direito Eleitoral?

 Prova convincente ou de verossimilhança razoável

 Prova clara e convincente

 Prova além de toda dúvida razoável


Características
• Princípio da adequação das técnicas ao prazo e ao calendário
eleitoral
 A existência de prazos definidos (início e término) é característica
fundamental do direito eleitoral
 Há prazo para tudo (domicílio eleitoral, filiação, convenção, registro,
ajuizamento de impugnação, diplomação, exercício dos mandatos
eletivos)
 Princípio da duração razoável do processo eleitoral: o processo tem
que ser adequado para iniciar, formar, terminar e ser efetivo dentro
desses prazos
 Reflexo: Prazos decadenciais e prazos iniciais para a propositura de
ações
Características
 A não efetivação do direito no momento adequado gera danos
quase sempre irreparáveis:
 Há dano irreparável a cada dia que aquele eleito ilegitimamente
permanece no cargo;
 Há dano irreparável a cada dia que aquele eleito legitimamente é
impedido de exercer o cargo;
 A cada voto que é dado em um candidato que não terá o registro
deferido, deixa-se de dar o voto naquele que deveria representar o
povo.
 Reflexo:
 eficácia imediata dos provimentos jurisdicionais como regra
 periculum in mora in re ipsa
Características
• Tipicidade do pedido e da causa de pedir
 Causa de pedir e pedidos ex legge
 Ausência de espaço discricionário para a parte
 Ausência de espaço discricionário para o juiz

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