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RESUMO
O objetivo do presente estudo foi comparar programas de intervenção para alunos do ensino
fundamental (EF), com discalculia do desenvolvimento (DD) quanto às estratégias utilizadas
e resultados obtidos. Conduziu-se uma revisão sistemática, através do sistema CAFE
(CAPES), nas bases de dados Pubmed, Web of Science e Scopus, cobrindo o período de 2016
a 2021, incluindo artigos revisados por pares, nos idiomas português, inglês e espanhol. Os
descritores escolhidos foram “Discalculia do Desenvolvimento”, “Programa de Intervenção” e
“Ensino Fundamental”. Após aplicados os critérios de inclusão e exclusão, obteve-se uma
amostra de 11 artigos. Os resultados mostraram que as estratégias utilizadas dentro dos
programas de intervenção, foram treino com lápis e papel, instrução direta de forma
presencial e por videoconferência, cálculo mental, treino computadorizado, treino musical e
de metacognição. A ludicidade foi bastante valorizada com uso de jogos, materiais concretos
e reforçadores motivacionais. O ambiente de intervenção mais utilizado foi o escolar,
privilegiando outros espaços que não a sala de aula, buscando diminuir a pressão por
desempenho, o que reforça a preocupação com aspectos socioemocionais, além dos
neurocognitivos. Conclui-se que intervenções direcionadas melhoram a cognição numérica,
especialmente quando se adaptam às necessidades de aprendizagem de cada criança.
ABSTRACT
Numerical competence represents a fundamental practice in our daily life and deficits in the
development of this competence have negative impacts on the individual's education, social,
emotional and professional life. One of the best known conditions, within the clinical or
school context, related to impairments in arithmetic skills is developmental dyscalculia (DD),
a learning developmental disorder characterized by significant and persistent difficulties in
learning school skills related to mathematics or arithmetic. Establishing appropriate
intervention strategies and programs adapted to the specific cognitive profile of each
individual favors their development, being an alternative to improve school performance and
the quality of life of children with DD. The aim of this study was to compare intervention
programs for learning difficulties in mathematics, developed with elementary school students,
with a DD framework and to analyze the strategies used as well as the results obtained. The
method chosen for the research was the systematic review, through the CAFE system
(CAPES), in the PUBMED, WEB OF SCIENCE and SCOPUS databases, within the period
from 2016 to 2021, using as a criterion peer-reviewed articles, in Portuguese, English and
Spanish. The descriptors chosen were “Development Dyscalculia”, “Intervention Program”
and “Elementary School”. After applying the inclusion and exclusion criteria, a sample of
eleven articles was obtained. The results allow us to answer that the strategies used within the
intervention programs for elementary school students with DD were training with pencil and
paper, direct instruction in person and by videoconference, mental calculation, computerized
training, musical and metacognition training. Playfulness was highly valued with the use of
games, concrete materials and motivational reinforcers. The most used intervention
environment was the school, favoring spaces other than the classroom, seeking to reduce
pressure for performance, which reinforces the concern with socio-emotional aspects in
addition to neurocognitive ones. Studies demonstrate that targeted interventions can improve
aspects of numerical cognition, especially when they adapt to each child's learning needs.
RESUMEN
La competencia numérica representa una práctica fundamental en nuestra vida diaria y las
deficiencias en el desarrollo de esta competencia tienen impactos negativos en la educación,
la vida social, emocional y profesional del individuo. Una de las condiciones más conocidas,
dentro del contexto clínico o escolar, relacionada con las deficiencias en las habilidades
aritméticas es la discalculia del desarrollo (DD), un trastorno del desarrollo del aprendizaje
que se caracteriza por dificultades significativas y persistentes en el aprendizaje de las
habilidades escolares relacionadas con las matemáticas o la aritmética. Establecer estrategias
y programas de intervención adecuados y adaptados al perfil cognitivo específico de cada
individuo favorece su desarrollo, siendo una alternativa para mejorar el rendimiento escolar y
la calidad de vida de los niños con DD. El objetivo de este estudio fue comparar los
programas de intervención para las dificultades de aprendizaje en matemáticas, desarrollados
con estudiantes de primaria, con un marco DD y analizar las estrategias utilizadas y los
resultados obtenidos. El método elegido para la investigación fue la revisión sistemática, a
través del sistema CAFE (CAPES), en las bases de datos PUBMED, WEB OF SCIENCE y
SCOPUS, en el período de 2016 a 2021, utilizando como criterio artículos revisados por
pares, en portugués, Inglés y español. Los descriptores elegidos fueron “Discalculia del
desarrollo”, “Programa de intervención” y “Escuela primaria”. Tras aplicar los criterios de
inclusión y exclusión, se obtuvo una muestra de once artículos. Los resultados nos permiten
responder que las estrategias empleadas dentro de los programas de intervención para
alumnos de primaria con DD fueron entrenamiento con lápiz y papel, instrucción directa
presencial y por videoconferencia, cálculo mental, entrenamiento computarizado,
entrenamiento musical y metacognición. La alegría fue muy valorada con el uso de juegos,
materiales concretos y reforzadores motivacionales. El ambiente de intervención más
utilizado fue la escuela, favoreciendo espacios distintos al aula, buscando reducir la presión
por el desempeño, lo que refuerza la preocupación por los aspectos socioemocionales además
de los neurocognitivos. Los estudios demuestran que las intervenciones dirigidas pueden
mejorar aspectos de la cognición numérica, especialmente cuando se adaptan a las
necesidades de aprendizaje de cada niño.
1 INTRODUÇÃO
A competência numérica representa uma prática fundamental na vida cotidiana e
déficits no desenvolvimento dessa competência trazem impactos negativos na escolaridade, na
vida social, emocional e profissional do indivíduo 1. A aquisição das habilidades aritméticas
básicas como reconhecimento de quantidades, contagem, leitura e escrita do número, cálculo
das quatro operações e o uso dessas habilidades em situações cotidianas envolvendo datas,
horários, dinheiro e diferentes informações numéricas é fundamental para o exercício da
cidadania social2.
No Brasil, de acordo com os dados do Programa de Avaliação Internacional de
Estudantes, PISA - 2018, na área de matemática, 68,1% dos estudantes avaliados, na faixa
etária de 15 anos, encontram-se no nível de proficiência 1 ou abaixo dele, sugerindo
competência apenas para realizar tarefas matemáticas simples como analisar um gráfico ou
realizar cálculos aritméticos de números naturais3. As condições mais conhecidas, dentro do
contexto clínico ou escolar, relacionadas aos prejuízos nas habilidades aritméticas são baixo
rendimento matemático, transtorno de aprendizagem de matemática e a discalculia do
desenvolvimento (DD). Segundo Santos4, a nomenclatura para essas condições pode mudar de
acordo com o campo de investigação e é preciso estar atento aos conceitos e critérios
utilizados, mais do que ao termo em si.
A DD é um transtorno do desenvolvimento da aprendizagem, caracterizado por
dificuldades significativas e persistentes no aprendizado de habilidades escolares relacionadas
à matemática ou aritmética, que não podem ser mais bem explicadas por nível intelectual
deficiente, alteração auditiva, visual ou neurológica, ou baixa qualidade educacional 5.
Kaufmann et al.6 classifica a DD em dois tipos, em função dos déficits observados. A DD
primária, cujos déficits são causados inteiramente por deficiências numéricas, mas com
impacto nos níveis comportamentais e neuro cognitivos; e a DD secundária, cujas disfunções
numéricas são causadas por comprometimentos em funções cognitivas, atencionais, por
déficits nas habilidades visuoespaciais e na memória operacional. Nesses casos, a DD é
considerada em comorbidade com outros transtornos como o TDAH ou a dislexia1.
A etiologia da DD não está claramente definida; no entanto, parece ser consensual que
deve ser compreendida dentro de uma perspectiva de desenvolvimento individual, onde as
experiências e os ambientes individuais, a tornam uma condição heterogênea com diferentes
perfis neuronais, cognitivos e comportamentais1,4,6. Davis et al.7 pesquisando sobre como os
genes originam as diferenças individuais quanto ao funcionamento cognitivo, pontua que
embora perceba-se a hereditariedade nos transtornos de aprendizagem, ainda não se
identificou especificamente qual o gene ou os genes responsáveis por isso. Contudo, estudos
com gêmeos na faixa etária de dez anos, conduzidos por estes pesquisadores, mostraram a
correlação genética entre os domínios de leitura, matemática e inteligência geral, o que eleva
a probabilidade da existência de genes generalistas influenciando as estruturas e funções
cognitivas. Os dados encontrados também mostraram que, quando o ambiente era
compartilhado, as correlações fenotípicas eram maiores, ou seja, a interação entre gene,
ambiente e comportamento era mais evidente.
2 MÉTODO
2.1 Contextualização
Para auxiliar na revisão bibliográfica sistemática (RBS) foi utilizado o Start (State of
the art through systematic review), uma ferramenta computacional, gratuita, desenvolvida
pelo Laboratório de pesquisa em Engenharia de Software da Universidade Federal de São
Carlos (LAPES-UFSCAR), que tem como primeira etapa a criação de um protocolo de
planejamento.
Questão principal ou Quais são as estratégias utilizadas dentro dos programas de intervenção para
norteadora alunos com discalculia do desenvolvimento (DD)?
Figura 1 - Captura de tela da ferramenta Start sobre os estudos aceitos na amostra final.
3 RESULTADOS
Conforme pode ser visto no quadro 3, quanto à origem dos estudos, os Estados Unidos
e a China foram os países que mais publicaram e o Frontiers in Psychology, o periódico com
o maior número de publicações. Em 2020 houve um aumento no número de artigos. Em uma
das publicações há colaboração de pesquisadoras brasileiras. Quanto ao idioma, os 11 artigos
selecionados foram publicados em inglês. Não foram recuperados para a análise artigos
publicados em português e espanhol. Dentre os artigos selecionados, dez eram estudos
experimentais e um quase experimental realizados com alunos do ensino fundamental.
2 Can abacus course eradicate developmental dyscalculia 2021 Psychology in the Schools Ch
Effectiveness of working memory training among children with
Provav
3 dyscalculia: evidence for transfer effects on mathematical 2018 Cognitive Processing
Arg
achievement
Efficacy of a Computer-Based Learning Program in Children
with Developmental Dyscalculia. What Influences Individual
4 2020 Frontiers in Psychology Alem
Responsiveness?
No gráfico 1 vemos que a maioria das pesquisas com alunos com DD foram realizadas
em escolas públicas. Os programas de intervenção ou a aplicação das estratégias para esses
alunos ocorreram dentro do ambiente escolar, contudo, sendo somente dois deles na sala de
aula (Gráfico 2). A maior parte do público-alvo envolvido nas pesquisas pertencia ao nível
socioeconômico baixo; porém, os estudos do Irã, da Argélia e da Alemanha não especificaram
esta informação. Apenas o estudo da Itália caracterizou os alunos como pertencentes a um
ambiente sociocultural adequado (Gráfico 3).
Gráfico 1 - Tipos de escolas onde foram realizadas as pesquisas para alunos com DD.
O treinamento musical para crianças com DD, merece destaque por integrar jogos e
atividades corporais com a música, estimulando a capacidade de cognição numérica, de forma
lúdica, no próprio ambiente escolar. As atividades melódicas e rítmicas podem ser
desenvolvidas a partir do próprio corpo da criança e/ou com materiais concretos que fazem
parte do seu cotidiano, estimulando a interação e a socialização 18. Esse estudo mostrou-se
eficiente não apenas no pós-teste como também no follow-up após 10 meses do término da
intervenção, na aquisição da compreensão dos números, em tarefas de linha numérica e em
cálculo.
O uso do ábaco como estratégia de intervenção é um exemplo de como os materiais
concretos podem potencializar o funcionamento cerebral. No estudo chinês 19 os participantes
foram orientados a utilizar o ábaco físico e gradualmente realizar cálculos com o ábaco
mental. Os achados apontam para melhora na eficiência do processamento numérico básico,
memória de curto prazo e atenção, bem como modula a atividade cerebral em áreas
frontoparietais e induz a plasticidade estrutural em áreas motor-parietais. Os resultados
mostraram que esse treinamento pode ser utilizado em salas de aulas normais para promover o
desenvolvimento aritmético em crianças com alto risco de DD, já que nenhuma criança foi
diagnosticada com DD nas classes de ábaco. Nas classes controle, a prevalência de DD foi de
6,4%. Os alunos com um curso de ábaco demonstraram melhor desempenho em computação
aritmética e memória espacial de curto prazo após o controle de idade, sexo, série, e outras
habilidades cognitivas básicas. Os resultados sugerem que o curso de ábaco pode ser uma
ferramenta eficaz para a intervenção da DD em ambientes de educação natural.
Uso de tecnologias – jogos computadorizados, treinamentos informatizados e vídeo
aulas.
O uso das tecnologias digitais como estratégia para o processo de ensino-
aprendizagem tem se intensificado, e essa afirmação pode ser comprovada pela nossa
pesquisa, já que quatro dos onze artigos selecionados, são treinamentos desenvolvidos a partir
de aplicativos para o ensino da matemática. Um dos estudos analisados, com jogo
computadorizado de coleta de maçãs, evidencia que o treinamento em numerosidade não
simbólica melhora a percepção da forma visual, o que por sua vez, contribui para a acuidade
do sistema numérico aproximado (ANS) e para o desempenho aritmético dos alunos. Os
achados corroboram a ideia de que crianças com DD possuem déficits de numerosidade que
subsidiam as habilidades de cálculo, aprimoradas através do ensino formal, em algumas
culturas4. Embora o treinamento tenha sido de curto prazo, garantiu-se que o mesmo foi
intenso o suficiente para mostrar eficácia. O grupo controle melhorou nas tarefas cognitivas
de subtração, comparação de numerosidade e correspondência de números20.
O jogo do aplicativo da Web, “I bambini contano”, associou tarefas digitais às
dificuldades individuais dos alunos para execução de cálculos fundamentais (mentais e
escrito), oferecendo além da interação virtual, um treinamento específico que envolvia o
desenvolvimento e a exploração de estratégias concretas e metacognitivas para melhorar a
competência matemática. Os resultados mostram, que a nível individual, houve melhora nas
pontuações em todas as tarefas numéricas, inclusive em cálculo escrito. A precisão de cálculo
mental ou o seu tempo de execução não apresentaram efeitos significativos de melhora. O
estudo que pesquisou a eficácia do treinamento da memória de trabalho em crianças com DD
relatou correlações entre a capacidade verbal da memória operacional (MO), as habilidades
numéricas iniciais como a contagem e o cálculo mental. Tal relação justificaria a resistência
desse tipo de cálculo às intervenções. A associação do treino numérico com o treino da MO é
considerada mais eficaz21. As comparações pré e pós-intervenção de alguns estudos que
envolviam estimulação da MO revelaram melhoras na habilidade trabalhada e também em
outras tarefas cognitivas.
Dentro das intervenções, o efeito de transferência pode ser dificultado pela
coexistência de outro transtorno. O estudo alemão 22 que investigou a eficácia de um programa
de aprendizagem baseado em computador, bem como os fatores que influenciaram as
respostas individuais, mostrou que crianças com discalculia sem um distúrbio adicional de
leitura/ortografia, bem como com baixos escores de ansiedade matemática apresentaram
melhores resultados23.
Algumas limitações apontadas nesses estudos são a definição do quanto a atratividade
dos estímulos visuais (cores, formas) e auditivos (sons), bem como os desafios de passar de
fases influenciam os resultados encontrados, já que a atenção e o exercício do controle
inibitório parecem mais presentes; a possibilidade de a ferramenta digital ser utilizada em
casa, sem a orientação explícita de um psicólogo ou pesquisador, apenas com o auxílio dos
pais20,24.
Re et al.24, destaca a importância da continuidade de pesquisas sobre o uso de
tecnologias digitais, uma vez que a questão não é determinar se são eficazes, mas quais são as
reais mudanças produzidas por esse tipo de treinamento e se as habilidades adquiridas se
mantêm por um período após o término dos treinos, evidenciando assim, aprendizagem.
Embora as ferramentas digitais tenham vantagens, os pesquisadores ainda divergem quanto
aos seus efeitos15.
Ainda dentro das estratégias que se beneficiam de ferramentas digitais foi encontrado
um artigo que merece atenção, dado a nova realidade enfrentada pela educação durante a
pandemia da Covid 19, em 2020-2021, a necessidade do uso de metodologia de ensino
remoto. A pesquisa utilizou a ferramenta iVocalize Web Conference, um aplicativo de
software Voice over Internet Protocol (VOIP), para ministrar aulas focadas em melhorar o
senso numérico, a compreensão conceitual de operações matemáticas e a fluência com fatos
números básicos, de alunos residentes em áreas rurais remotas, cujo desempenho nas
avaliações nacionais daquele país, consistentemente não atingem o padrão mínimo previsto
para cada nível de ano, nas habilidades matemáticas. Esta estratégia também permitiu
adequação dos conteúdos às dificuldades ou facilidades individuais dos alunos. Os resultados
apontam melhorias significativas com grandes tamanhos de efeito em tarefas matemáticas de
ordem superior, conforme a estatística de Cohen d = 1,1. Uma das limitações citadas foram as
interrupções constantes nos serviços de internet, contudo sem prejuízos quantitativos.
5 Considerações Finais
Dentre as mais variadas causas das dificuldades na aprendizagem matemática,
encontra-se a discalculia do desenvolvimento, com perfis de desempenho altamente
diversificado. Os estudos demonstram que intervenções direcionadas podem melhorar
aspectos da cognição numérica, especialmente quando se adaptam às necessidades de
aprendizagem de cada criança. As crianças com DD se beneficiam de intervenções
estruturadas, com nível de complexidade crescente e práticas frequentes. Os sistemas de
recompensa aumentam a motivação para resolver problemas aritméticos 16. Como essas
crianças apresentam déficits diversificados, os treinamentos precisam abordar várias áreas da
cognição numérica, como competências numéricas básicas, conhecimentos conceitual,
procedimental e recuperação de fatos aritméticos28,29.
O benefício do uso de estratégias metacognitivas, embora avaliada isoladamente
somente por Karbasdehi et al.30, parece contribuir para a organização do pensamento, busca
de estratégias mais adequadas em resposta a um problema, planejamento da ação e
monitoramento dos erros e da motivação 24,25. Alguns treinamentos mostraram-se vantajosos
considerando o custo operacional baixo, como por exemplo, o Treinamento Musical 18 e o
programa de capacitação de autorregulação30, cuja necessidade de investimento é
prioritariamente em profissionais qualificados.
Os treinamentos que envolvem uso de jogos computadorizados ou aulas on-line 20, 24, 25,
necessitam de investimento em equipamentos tecnológicos e a democratização do acesso à
internet. Por outro lado, esses treinamentos computadorizados oferecem a possibilidade de um
ambiente de aprendizagem livre da pressão de desempenho competitivo e comparações entre
pares no contexto da sala de aula. Isso é extremamente importante, uma vez que a experiência
repetida de fracasso pode levar à ansiedade matemática. Uma das causas da ansiedade diante
da matemática está na história escolar do indivíduo, na qual se podem identificar experiências
negativas marcantes na tentativa de aprender matemática31. As aulas on-line podem ser uma
alternativa para as localidades onde não se tem disponibilidade do professor especialista ou do
profissional que realize as intervenções com alunos com transtorno específico de aritmética.
Os resultados do presente estudo permitem responder que as estratégias utilizadas
dentro dos programas de intervenção para alunos do EF com DD, na amostra de artigos
analisados, foram treino com lápis e papel, instrução direta de forma presencial e por
videoconferência, cálculo mental, treino computadorizado, treino musical e de metacognição.
A ludicidade foi bastante valorizada com uso de jogos, materiais concretos e reforçadores
motivacionais. Os resultados mostraram também que o ambiente escolar, porém fora da sala
de aula, foi o mais utilizado reforçando a preocupação com os aspectos socioemocionais além
dos neuro cognitivos.
Este estudo teve como objetivo realizar uma análise sistemática da literatura sobre
produções que apresentem estratégias ou programas de intervenção para estudantes com DD
ou dificuldades matemáticas persistentes, do ensino fundamental e sem outras comorbidades.
Por meio da leitura minuciosa dos resumos, foi possível realizar uma síntese das ideais
principais. Ressalta-se que o número de estudos encontrados foi pequeno, o que evidencia a
necessidade da emergência de novos estudos e pesquisas sobre essa temática, principalmente
em território nacional. Dentro do recorte de tempo realizado por nosso estudo, apenas uma
pesquisa brasileira foi identificada18.
A análise comparativa entre os onze estudos elencados permitiu observar, que, após
realizarem um determinado número de intervenções, boa parte, se não a maioria, dos
participantes apresentou uma melhora significativa, demonstrando que muitas das habilidades
matemáticas que estavam prejudicadas foram reabilitadas, embora com diferentes níveis de
eficácia e follow up. Estudos que usaram grupo controle sem dificuldades matemáticas
demonstrou que o grupo alvo apresentou habilidades potencializadas, como é o caso, por
exemplo, do estudo da Grécia32. Estudos longitudinais como o que envolveu o curso de
ábaco19 e acompanhou crianças por até três anos, iniciando no primeiro ano do EF, mostrou a
importância do trabalho de estimulação das habilidades matemáticas, do cálculo mental e de
funções como a MO e a atenção. Isso reforça a importância da orientação dos pais e
professores sobre os sinais de risco, para que possam suspeitar dos indícios de DD e para que
esses estudantes iniciem desde cedo estimulações da linguagem, intervenções pedagógicas ou
psicopedagógicas.
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