Educação e a neuroplasticidade: a importância do conhecimento sobre o
desenvolvimento neurocognitivo para professores que recebem crianças
com deficiência intelectual no ensino regular.
Graciely Nunes Santana
A perspectiva da inclusão escolar defende o direito de que todos os alunos
devem desenvolverer habilidades e competências necessárias no âmbito educacional como também fortalecer e ampliar suas potencialidades, ampliando a possibilidade de se adquirir novos saberes, adaptações as práticas escolares e sociais, mas, apesar da implementação do modelo educacional inclusivo, o processo educacional ainda tem se demonstrado pouco efetivo, o que nos mostra falhas na efetivação das políticas de inclusão. As dificuldades e preconceito tem sido frequentes entre as queixas das famílias de crianças com atraso o neurodesenvolvimento, especialmente quando se trata da deficiência intelectual, a visão de uma escola que busca apenas socializar já não convence mais, afinal a neuroplasticidade esta ai para nos comprovar que se bem estimulada a capacidade de evolução no aprendizado de a criança com deficiência intelectual é indiscutível. Tannous (2005), em um estudo realizado com professores da rede pública sobre a experiência de trabalhar com a inclusão de alunos com deficiência intelectual, verificou que os professores se percebem como despreparados e sem as ferramentas necessárias para a realização adequada da inclusão escolar, em sua pesquisa muitos demonstraram uma imagem preconceituosa sobre as capacidades de seus alunos, já que não acreditam na possibilidade de avanços significativos no processo de aprendizagem tal como desconheciam o significado da palavra inclusão. Já no estudo de Barbosa e Duarte (2016) foram identificadas lacunas na formação profissional dos docentes como o pouco direcionamento para as especificidades da deficiência intelectual apesar dos professores participantes relatarem interesse na educação inclusiva. Já não é novidade que professores enfrentam dificuldades na pratica pedagógica e no processo de ensino aprendizagem das pessoas com deficiência intelectual, a frase que não estão preparados ou de que não possuem habilidades específicas para essa função me parece comum e ate mesmo robótica por parte de muitos, mesmo com uma vasta lista de informações disponíveis nos acessos online, formações a preço popular, infinitas lives gratuitas que abordam métodos eficazes que não se aplica em passar um ano letivo oferecendo cópias, recortes, pinturas e colagem, não que estas não sejam importantes, já que fazem parte de uma estimulação inicial com pressupostos de desenvolvimento psicomotor, visual e de lateralidade, porém, precisamos respeitar as fases de desenvolvimento de cada criança, percebendo que a mesma está pronta para iniciar elementos elementares para um avanço cabe sim ao professor e suas práticas curriculares prover esta necessidade. Ao considerar a complexibilidade que permeia esta intervenção entendemos que é de fundamental importância que este professor tenha conhecimentos das contribuições da neurociência bem como da neuroplasticidade e o dialogo que ela faz com a educação, especialmente para crianças que possuem transtornos do desenvolvimento como o caso da deficiência intelectual. A relação entre a educação e a estimulação cognitiva tem sido pouco estabelecida, formada em estrutura de currículos que desenvolva habilidades e competências formais, a educação busca lidar com conhecimentos que são adquiridos espontaneamente, porem os professores desconhecem os processos neurocognitivos que são cruciais para a aprendizagem. As funções que, em geral, apresentam desempenho abaixo do esperado na deficiência intelectual são memoria de trabalho, capacidade de planejamento e de resolução de problemas, controle atencional e velocidade de processamento. A falha no funcionamento de tais funções dificulta a aprendizagem de coisas novas, sendo necessário o uso de estratégias educacionais especiais (FREITAS et al., 2016). Percebemos então que a primeira ação por parte do professor deve ser um levantamento do perfil dessa criança, identificando seus déficits e os níveis o qual ela se encontra, quanto mais detalhes o professor tiver destes aspectos, maior será a precisão na proposta de ensino, que já, as crianças que recebem estimulação cognitiva adequada ao seu nível de desenvolvimento ampliarão a capacidade de resolver problemas de forma mais eficiente e adaptada. O que de fato muda com a detecção da deficiência intelectual e seus respectivos déficits é a necessidade de atendimento diferenciado, utilizando estratégias educacionais individualizadas, currículos adaptados para a necessidade de cada um e o uso de técnicas de ensino e aprendizagem com evidencias cientificas. (RIBEIRO, 2019) Um dos impactos ocasionados pela compreensão dos mecanismos da neuroplasticidade é a percepção do potencial de aprendizagem apesar da deficiência intelectual. Assim, no contexto da educação especial, o educador torna-se um profissional da reabilitação cognitiva atuando na reorganização neurocognitiva e favorecendo o desenvolvimento (MARTINEZ-MORGA; MATINEZ, 2017) Concluímos então que o processo de educação das pessoas com deficiência intelectual deve considerar os princípios da neuroplasticidade. Assim como na reabilitação, a neuroplasticidade é o pilar de sustentação, para que possamos aplicar intervenções, considerando que esses procedimentos podem melhorar a funcionalidade apresentada pelas crianças. Portanto, é necessário que os educadores conheçam a dinâmica do funcionamento e das possibilidades de recuperação para estruturas que por diversas razoes apresentam alterações do neurodesenvolvimento. A criança com deficiência intelectual não representa uma condição de completa incapacidade e precisa ter a oportunidade de um desenvolvimento escolar.
Referencias
BARBOSA, A.J.G; MOREIRA, P.S. Deficiência mental e inclusão escolar:
produção cientifica em Educação e Psicologia. Rev.bras.educ.espec., v.15,n.2, p.337-352,2009.
FREITAS, P.M.et al. Adaptações curriculares para crianças com deficiência
intelectual moderada: contribuições da neuropsicologia do desenvolvimento. Pedagogia em Ação, Belo Horizonte, v.8, n.2, 2016. MARTINEZ-MORGA, M; MARTINEZ, S. Neuroplasticity: Synaptogenesis During Normal Development and Its Implication in Intellectual Disability. Revista de Neurologia, v.64, n.1, p.45-50, 2017.
RIBEIRO, D.O. Neuroplasticidade na Educação e Reabilitação cognitiva da
TANNOUS, G.S. Inclusão do aluno com deficiência mental: experiências
psicossociais dos professores da escola pública. 2005. 174f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) Universidade Católica Dom Bosco, São Paulo, 2005. TEBEROSKY, A. e PALÁCIO, M.G. Os processos de leitura e escrita: novas perspectivas. Porto Alegre: ARTMED, 1987.