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Autos número XXXXXXXXXX

PARECER PSICOLÓGICO

1. Identificação

Solicitante: Excelentíssimo Juiz de Direito XXXXX Finalidade: Avaliação Preliminar


Autora: XXXXXX

2. Descrição da demanda

O presente parecer trata da determinação do Excelentíssimo Juiz de Direito


XXXXXXXXXXXXXX, para avaliação sobre o meio adequado para a produção
antecipada da prova, perícia ou depoimento especial, observando-se a Lei no
13.431/2017, o Provimento no 287-2019/TJPR e a Portaria Conjunta no 43/2019 desta
Comarca.

Conforme o art. 18 do Provimento no 287/2019 do Tribunal de Justiça do Estado


do Paraná, “o magistrado, ao receber a representação ministerial, determinará a
realização de avaliação preliminar do caso pelo profissional especializado a serviço do
Juízo”. Esta avaliação tem por objetivo indicar o procedimento mais adequado ao caso,
considerando-se a compatibilidade entre a necessidade do meio probatório no processo e
a garantia dos direitos fundamentais das crianças e adolescentes. Este Provimento, em
seu Art. 19, descreve que, para o procedimento de avaliação preliminar deve-se
considerar: I - A disposição e concordância da vítima ou testemunha em se manifestar;
II - As condições psicológicas e desenvolvimentais para manifestação; III - A capacidade
cognitiva para acesso mnemônico.

De acordo com a Portaria Conjunta no 43/2019 do Fórum da Comarca de Toledo,


a qual disciplina a realização da oitiva de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas
de violência, referente à realização de Avaliação Preliminar, em seu Art. 10, descreve:

§ 30. Esta avaliação será realizada, preferencialmente, com base nos documentos
juntados nos Autos, podendo envolver, a critério do profissional responsável,
atendimento à criança ou adolescente, familiares ou levantamento de dados junto a
profissionais da Rede da Proteção, objetivando-se evitar a exposição desnecessária da
vítima a situações institucionais que possa vir a violar seus direitos.
§ 40. Mesmo tendo sido indicada, por meio da avaliação preliminar, a utilização do
Depoimento Especial, pode o profissional, durante a realização do referido Depoimento,
com base nos dados observados no dia do atendimento à criança ou ao adolescente,
reformar a avaliação anteriormente realizada e, de forma fundamentada, sugerir a
mudança para o método de Perícia Técnica, ou de que a suposta vítima ou testemunha
não seja submetida a qualquer forma de oitiva ou coleta de informações, tendo como
norte a preservação de seus direitos fundamentais.

§ 50. Deverá ser verificada previamente, antes de se submeter o caso à análise do NAE,
a existência de relatórios de avaliação ou laudos periciais já realizados na fase
inquisitorial ou perante outros juízos, principalmente pelas Varas de Família e Infância
e Juventude, juntando-os ao processo.

§ 60. Caso a avaliação preliminar leve à conclusão de que a submissão a qualquer dos
procedimentos poderá gerar a violação dos direitos fundamentais da criança ou
adolescente vítima ou testemunha, deve ser emitido parecer justificado pela não
intervenção.

3. Análise

Em análise aos documentos presentes nos Autos observa-se que a suposta vítima
encontra-se com 12 (doze) anos de idade. A adolescente encontra-se em faixa etária cujas
competências cognitivas permitem o desenvolvimento de narrativa a partir de evocação
mnemônica. As crianças mais velhas detêm mais habilidades cognitivas, o que lhes
facilita recordarem informações (EYSENCK, 20111).

Na adolescência o indivíduo dispõe de competências cognitivas que propiciam


maior quantidade e qualidade das lembranças que são recuperadas (ORNSTEIN &
HADEN, 20022). Adolescentes, comparativamente a crianças menores, possuem maior
desenvolvimento da linguagem, melhor compreensão de um evento e maior efetividade
na recuperação de memórias (STEIN, PERGHER & FEIX, 20093).
Não há dados nos Autos que indiquem fatores desenvolvimentais que poderiam
interferir negativamente na capacidade de produzir o relato. Não foram identificados
nos presentes Autos, até este momento, fatores que contraindiquem a realização do
procedimento de Depoimento Especial.

4. Conclusão

Concluiu-se pela indicação do procedimento de Depoimento Especial no


atendimento da adolescente, referente a demanda judicial apresentada. Na realização do
Depoimento Especial nesta Comarca, a criança ou adolescente e seu representante legal,
são intimados a comparecer com antecedência junto ao Setor Responsável, sendo
atendidas em uma sala deste Núcleo antes de ser dado início ao procedimento de
Depoimento Especial. Caso seja observado, neste atendimento, qualquer fator que
contraindique a realização do referido depoimento, ou mesmo a discordância da
adolescente em se manifestar, o profissional responsável informará o juízo, podendo
sugerir a substituição do Depoimento Especial por Perícia Técnica ou mesmo que a
criança ou adolescente não sejam ouvidos, apresentando as devidas justificativas em sua
manifestação.

O motivo maior para que a criança ou adolescente vítima ou testemunha de


violência sejam atendidas por esta equipe somente no dia agendado para realização do
Depoimento Especial se dá, principalmente, com objetivo de submeter a criança ou
adolescente ao mínimo possível de atendimentos referentes a temática, diminuindo,
assim, sua exposição a sentimentos desagradáveis significativos

Considerando o fato de a sala de audiência ficar localizada no mesmo andar da


sala onde será realizado o Depoimento Especial, objetivando não expor a adolescente a
possível situação de risco e/ou constrangimento, tendo base os artigos 9o e 12o, § 3o da
lei No 13.431, de 4 de abril de 2017, sugere-se que não seja permitida a presença do
imputado nas proximidades do local onde o procedimento será realizado.

Sendo isso o que havia a relatar no momento, levo a apreciação de Vossa


Excelência.
Cidade, Data.

Nome do profissional e identificações necessárias

Em observância ao Código de Ética Profissional do Psicólogo (Art. 9o), assinala se o caráter


confidencial deste documento, estando seu portador responsável por manter seu sigilo.

1
EYSENCK, M. W. A memória na infância. In. BADDELEY, A.; ANDERSON, M. C.; EYSENCK, M. W.
Memória. Porto Alegre: Artmed, 2011.

2
ORNSTEIN, P. A., HADEN, C. A. The Development of memory: Toward an understaing of hildren’s
testimony. In Eisen, M. L.; Quas, J. A. & Goodman, G. S. Memory & Suggestibility in the Forensic
Interview. Mahwah, Lawrence Erlbaum Associates, 2002. p. 29-61.

3
STEIN, L. M.; PERGHER, G. K.; FEIX, L. F. Desafios Da oitiva De Crianças no Âmbito forense. Brasília-DF:
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República/Subsecretaria de Promoção dos
Direitos da Criança e do Adolescente Programa Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes. Childhood Brasil (Instituto WCF-Brasil). Projeto Culturas e Práticas não
Revitimizantes: Reflexão e Socialização de Metodologias Alternativas para Inquirir Crianças e
Adolescentes em Processos Judiciais, 2009.

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