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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____a.

VARA DA INFÂNCIA E
JUVENTUDE DA COMARCA DE PORTO ALEGRE/RS:

REQUERIMENTO DE PRODUÇÃO ANTECIPADA DE PROVA


(Inciso I do artigo 156 do Código de Processo Penal)

Postula-se sua autuação em procedimento próprio, sob respectivo registro, com


apensamento ao Inquérito de n. (themis) 001/.....

O Ministério Público, por seu agente firmatário, no uso de


suas atribuições legais, com base no inquérito policial de n.(themis) 001/ ....,
vem requerer, em produção antecipada de prova relevante e urgente, com
fulcro no inciso I do artigo 156 do Código de Processo Penal, a oitiva judicial
da criança....(ou adolescente...) , com .... anos de idade, filho de .....,
residente na......., sob a modalidade de tomada de Depoimento sem Dano
(DSD), sob a observância das exigências legais, em razão dos fundamentos a
seguir expostos:

I. FUNDAMENTOS FÁTICOS E JURÍDICOS.

De acordo com os elementos constantes dos autos do


inquérito supracitado, foi noticiada a ocorrência de eventual delito de ....,
capitulado, em tese, no artigo .... do Código Penal, figurando como vítima
..... Segundo o referido, o autor do fato seria .... e teria ....(descrever a ação
cometida....)
Com efeito, a notícia há que ser devidamente averiguada e
apurada, colhendo-se os elementos necessários e imprescindíveis ao seu
esclarecimento. Nesse âmbito, a modalidade de tomada de depoimento sem
dano de crianças e adolescentes tem mostrado-se efetiva e salutar, tanto
para o resguardo destas, minimizando-se ou afastando-se a produção de
danos secundários, quanto ao completo esclarecimento dos casos
noticiados.

A uma, com a coleta do relato da criança ou adolescente,


tem-se a possibilidade de facilitação do resgate na memória dos fatos e de
seu contexto e circunstâncias.

A duas, a possibilidade de gravação em DVD do


depoimento judicial sem dano objetiva, além de manter registro completo
permanente do relato nos autos, reduzir, ou elidir, a necessidade de coleta
de outro depoimento da mesma vítima sobre a mesma base fática. Trata-se
de providência que, sem dúvida, resguarda o especial interesse protetivo
junto às crianças e adolescentes.

A três, com o relato da criança ou adolescente tomado,


reúne-se, no mais das vezes, relevante parte dos elementos necessários ao
esclarecimento do noticiado, quer para autorizar a persecução penal quer
para, se for o caso, dirimir suspeita, evitando-se eventuais desgastes
trazidos com o passar do tempo.

Nesse âmbito, pela adequação, vale citar a ementa do


Acórdão em MS n. 70013748959 – TJRS:

PROJETO "DEPOIMENTO SEM DANO".


Pleito de inquirição de vítimas menores, abusadas
sexualmente, nos moldes da procedimentalidade técnica
desenvolvida no âmbito do “Projeto Depoimento sem Dano - DSD”.
Relevância da postulação, a partir da caracterização do
fumus boni juris e do periculum in mora.
Priorização objetiva de medida judiciária
institucionalizada no denominado “Projeto Depoimento sem Dano -
DSD”, que objetiva a proteção psicológica de crianças - como no
caso - e adolescentes vítimas de abusos sexuais e outras infrações
penais que deixam graves seqüelas no âmbito da estrutura da
personalidade, ainda permitindo a realização de instrução criminal
tecnicamente mais apurada, viabilizando uma coleta de prova oral
rente ao princípio da veracidade dos fatos havidos.
Precedente no direito comparado.
Ordem concedida para que as vítimas sejam inquiridas sob
a tecnicalidade do "Projeto Depoimento sem Dano", não obstante
os indiscutidos predicados e atributos profissionais da magistrada
que preside o processo criminal no Juízo a quo.
AÇÃO JULGADA PROCEDENTE. ORDEM
CONCEDIDA. VOTO VENCIDO.( Mandado de
Segurança n. 70013748959 – TJRS, impetrante: Ministério
Público).

No caso, estão presentes os requisitos de relevância e


urgência, contidos no inciso I do artigo 156 do CPP.

A relevância está destacada pela própria importância que


assume, em casos de esclarecimento de suspeitas de eventuais crimes
sexuais contra crianças ou adolescentes, a coleta e o exame da palavra da
vítima. Não se pode desconsiderar outras fontes probatórias, todavia tal
relato assume especial relevância, pois estamos, quase que na totalidade
das vezes, diante de fatos cometidos em situação de deliberada ocultação
pelo agente, em que não há testemunhos diretos. Esta relevância vem sido
reconhecida expressamente na Jurisprudência, em reiteradas decisões:
exempli gratia, Acórdãos em Apelações Criminais n. 70019857531,
70019986835, 70019812809 e 70021901210, do Egrégio Tribunal de
Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.

A urgência no caso em tela está presente na própria


condição da criança (....ou adolescente.....) e especialmente do efeito
devastador, caso comprovada a ocorrência, no desenvolvimento e no aparato
psíquico da vítima que assumem casos de abusos sexuais. Quanto antes
possam a criança e o adolescente atingidos, de maneira fidedigna,
desincumbirem-se de relatos sobre os traumáticos eventos e retomarem o
curso normal de suas vidas, melhor. Estudos científicos mostram que a
passagem do tempo na Infância e na Adolescência assume proporção bem
maior que a sentida na Fase Adulta.

Outrossim, os pressupostos de adequação, necessidade e


proporcionalidade estão presentes. Como visto, trata-se de providência
pertinente e sob a modalidade mais adequada. Necessária, pois a espécie
fática exige efetivamente tal esclarecimento, em tempo hábil. Também,
diante da gravidade do fato noticiado, guarda plena proporcionalidade com o
fim colimado.

Em razão do disposto no artigo 3º do Código de Processo


Penal, com incidência supletiva, faz-se pertinente, no que couber, a
aplicação do rito previsto nos artigos 846 a 851 do CPC.

II. COMPETÊNCIA CRIMINAL DO JUIZADO DA INFÂNCIA E JUVENTUDE


DA COMARCA DE PORTO ALEGRE.

A partir da publicação do Edital n. 058/2008 do Egrégio


Conselho da Magistratura do Estado do Rio Grande do Sul (COMAG), sob
prévia autorização contida na Lei Estadual n. 12.913/08, o Juizado da
Infância e Juventude da Comarca de Porto Alegre, pelas 1ª e 2ª Varas,
passou a contar com competência em matéria criminal.

Tal competência criminal envolve os crimes sexuais contra


crianças e adolescentes previstos nos artigos 213 a 234 do Código Penal e
os crimes definidos no artigo 240 do ECA e no artigo 244-A do ECA.

Nesse âmbito, o Edital n. 058/2008 (COMAG) transferiu da


9ª Vara Criminal do Foro Central da Capital (Edital n. 004/2008-COMAG)
aos Primeiro e Segundo Juizados da Infância e Juventude desta Comarca a
competência sobre os crimes acima mencionados.

Destarte, o Juizado da Infância e Juventude desta


Comarca, pelas 1ª e 2ª Varas, apresenta competência para o recebimento e
exame da presente providência.

1. DIANTE DISSO, o Ministério Público requer, em


especial atenção aos direitos e interesses de proteção à criança (ou
adolescente....), com fulcro no inciso I do artigo 156 do CPP, sob a
modalidade de tomada de Depoimento sem Dano (DSD), em antecipação de
prova:
A) a designação de oitiva judicial de ...., com a notificação
do responsável ...., com endereço na....., segundo consta da fl.
..... do inquérito, para comparecimento, possibilitando-se a
gravação do depoimento em DVD com disponibilização de cópias
para fins de ulteriores procedimentos criminais, cíveis e
administrativos;

B) a cientificação do suposto autor do fato, ...., residente


na ...., segundo referido à fl. ...., possibilitando-se a este
constituir advogado ou, se for o caso, procurar a Defensoria
Pública; caso silente o suposto do autor do fato, postula-se que
seja nomeada defesa técnica a este para acompanhamento do
ato, com respectiva intimação, bem como que sejam observadas
as demais formalidades legais, resguardando-se os princípios do
contraditório e da ampla defesa e

C) seja comunicada a DPCAV acerca da designação judicial


da oitiva.

2. Requer seja juntada a mídia (DVD) contendo a filmagem


e gravação do depoimento acima postulado, para os devidos fins, aos autos
do inquérito policial supracitado, com abertura de vista e concessão de
carga ao Ministério Público.

Porto Alegre, ....

Alexandre Fernandes Spizzirri,


11º Promotor de Justiça
da Infância e Juventude.

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