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OS AUTORES
CAPÍTULO PRIMEIRO
CARISMAS
“Estes milagres acompanharão os que crerem: expulsarão os demônios em meu nome, falarão
novas línguas, manusearão serpentes e se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal;
imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados” (Mc 16, 17-18).

1. Introdução

Os carismas eram comuns no início da Igreja. Basta ler os Atos dos Apóstolos e as cartas
de São Paulo. Depois, por alguns séculos eles se mantiveram restritos aos grandes santos. Assim,
pensava-se que os carismas eram para alguns homens e mulheres reconhecidamente santos,
místicos e penitentes.
Os carismas, portanto, não são novidades trazidas pela Renovação Carismática Católica,
a não ser no aspecto do seu exercício nos tempos atuais. Os grupos de oração tornaram possível a
sua manifestação em maior intensidade, percebendo sua qualidade de “dom” para todos os que
crerem, conseqüência normal do batismo no Espírito. “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas
coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem”
(Lc 11,13).
Mas foi o documento conciliar Lumen Gentium que traçou as primeiras diretrizes sobre
carismas para os tempos atuais:

“...O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis (...) dirige-a mediante os diversos
dons hierárquicos e carismáticos. (...) Não é apenas através dos sacramentos e dos ministérios que
o Espírito Santo santifica e conduz o Povo de Deus (...), mas, repartindo seus dons a cada um
como lhe apraz (1 Cor 12,11), distribui entre os fiéis de qualquer classe mesmo graças especiais
(...) Estes carismas, quer eminentes, quer mais simples e mais amplamente difundidos, devem ser
recebidos com gratidão e consolação, pois que são perfeitamente acomodados e úteis às
necessidades da Igreja. Uma vida mais plena no Espírito Santo, a unção carismática do Espírito,
contempla a Igreja com toda uma amplitude de dons.”1

Os carismas estão amparados na doutrina da Igreja, além de serem fundamentados


biblicamente. Esses dons de adoração, louvor e oração aprofundam a dimensão contemplativa da
fé cristã e as dádivas de serviço animam uma vida de santidade. “Todos os carismas trazem nova
docilidade ao Espírito, a fé esperançosa na salvadora intervenção de Deus nas questões humanas,
acentuado zelo pelo Evangelho e o respeito pela autoridade da Igreja.”2
Nesse sentido, é necessário afirmar a atualidade dos carismas e promovê-los como
realidades necessárias à evangelização e ao crescimento pessoal de cada cristão. “A vida
batizada no Espírito é marcada por uma experiência de união dinâmica com Deus e também por
uma experiência de carismas doados pelo Espírito Santo.”3
São Pedro aviva essa esperança: “Pois a promessa é para vós, para os vossos filhos e
para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus” (At 2, 39). A promessa é,
portanto, para todos os tempos. O exercício dos carismas é tanto mais necessário por causa das
dificuldades do tempo presente, marcado pela indiferença religiosa e pelo abandono dos valores
espirituais e morais do cristianismo; esse tempo cobra não só um testemunho autêntico dos

1. N. 4 e 12.
2. CONFERÊNCIA CATÓLICA DOS EUA, Declaração pastoral sobre a RCC, n..
3. Kilian MCDONNELL, George MONTAGUE, Avivar a chama, p. 32.
2

cristãos convictos, como também demonstrações do poder do Espírito.

Convém abalizar dons efusos, que é matéria deste estudo, dos dons infusos, que também
são carismas do Espírito, mas que se distinguem daqueles4:

a) Dons infusos - temor de Deus, fortaleza, piedade, conselho, conhecimento, sabedoria e


discernimento (cf. Is 11, 1-3). Num total de sete, esses dons são concedidos para a pessoa
(infundidos), aprimoram e reforçam as virtudes, constituindo-se em benefícios para o
crescimento pessoal;

b) Dons efusos – línguas, profecia, interpretação, ciência, sabedoria, discernimento dos espíritos,
cura, fé e milagres (cf. 1 Cor 13, 8-10). Num total de nove, esses dons são para o serviço e o bem
comum e são concedidos como manifestações atuais, de acordo com a vontade de Deus.

Aqui serão estudados os carismas efusos, que são realidades manifestas nos grupos de
oração da Renovação Carismática, constituindo-se num dos aspectos de sua identidade 5.

2. Conceito

Os carismas são dons, graças, presentes, dados pelo Espírito Santo, “mas um e o mesmo
Espírito distribui todos esses dons, repartindo a cada um como lhe apraz” (1 Cor 12,11):

“A palavra ‘carisma’ (chárisma) é oriunda da língua grega e significa ‘dom gratuito’. Ela
encontra seu significado fundamental na raiz ‘char’- que indica tudo aquilo que produz bem-estar;
assim é que temos cháris, querendo significar ‘graça’, ‘dom’, ‘favor’, ‘bondade’; charízomai, no
sentido de fazer um dom gratuito, mostrar-se generoso. O sufixo ‘-ma’ exprime na língua grega o
resultado da ação indicada pelo verbo, o seu efeito, o que pode denotar também o caráter objetivo
da concessão e da experiência da graça. Portanto, o significado geral e fundamental de ‘chárisma’
poderia ser: dom concedido por pura benevolência, que é, ao mesmo tempo, o objetivo e o
resultado da graça divina, do presente que Deus faz aos homens” 6

Em sentido restrito, os carismas são manifestações extraordinárias do Espírito Santo para


proveito comum7. Eles exercem papel fundamental na evangelização, ou seja, na expansão do
cristianismo, o que reforça sua importância e dignidade. O padre Luiz Fernando R. Santana
aprofunda o assunto e alerta:

“A maciça presença de chárisma nos escritos de Paulo já é suficiente para mostrar quanto
o termo, em seu significado e conteúdo, era caro para a teologia do apóstolo. Desde o início de
seu apostolado, Paulo tem em alta estima a presença e ação dos dons e carismas do Espírito na
vida da Igreja e dos fiéis batizados, até mesmo exortando a comunidade a que tivesse o cuidado
de não extinguir o Espírito, de não desprezar as profecias, mas de verificar tudo com um
discernimento sábio e sóbrio (Cf. 1 Ts 5, 19-22). Disso inferimos que, para Paulo, os carismas e
os ministérios são os instrumentais privilegiados na edificação do Corpo de Cristo e na realização
do desígnio de Deus na história; ambas as realidades possuem igual importância e dignidade, uma
vez que emanam do mesmo Espírito e estão ordenadas, cada uma naquilo que lhe é específico, a
um mesmo fim. Ainda podemos deduzir que existe uma interdependência no que diz respeito à

4. Essa distinção é didática, mas com fundamento bíblico-teológico; apesar disso, não tem a intenção de
segmentar a ação do Espírito nem de encerrar dentro dela todas as espécies de carismas.
5. Cf. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Identidade da Renovação Carismática Católica, p. 27-
28.
6. Luis Fernando R. SANTANA, Recebereis a força do Espírito Santo, p.77.
7. Cf. A. VAN DEN BORN, Dicionário enciclopédico da Bíblia, p.245.
3

relação ‘carismas-ministérios’, o que faz com que a dimensão carismática da Igreja na teologia
paulina seja um tema de primeira grandeza.”8

Pelo seu próprio caráter, dom não implica santidade. Na verdade, qualquer pessoa pode
receber os presentes de Deus (cf. At 10, 34). Porém, não se pode esquecer que quem não tem
vida espiritual e reta intenção de agradar a Deus, certamente usará mal os carismas, pois não
cultiva a necessária união com Cristo (cf. Jo 15, 4-5), para querer o que Deus quer.

3. Quando utilizar os carismas

É difícil precisar em que momentos utilizar os carismas do Espírito. O seu exercício deve
se dá sempre, notadamente quando as situações o exigirem. Sendo a graça do Espírito uma
realidade perene na vida humana, os carismas por sua vez, tornam-se também profusamente
inseridos na vida daqueles que foram batizados.
No entanto, é preciso dizer que os carismas são realidades atuais e não adquiridas por
posse. É o Espírito que opera tudo em todos (cf. 1 Cor 12, 6-7), a seu querer. Assim, “a um, o
Espírito dá uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de ciência, segundo o mesmo
Espírito; a outro, a fé no mesmo Espírito; a outro, o dom das curas, nesse único Espírito; a outro,
o operar milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o falar
diversas línguas, a outro ainda o interpretar essas línguas” (1Cor 12,8-10). Não seria justo,
portanto, atribuir a uma pessoa ou grupo de pessoas específico a contenção exclusiva de qualquer
manifestação carismática9; nem mesmo se pode dizer que alguém “tem” este ou aquele dom, pois
cada manifestação é única 10, mesmo que se processe com muita freqüência através de
determinadas pessoas. Talvez ao dom de línguas possa se atribuir um caráter mais perene e sob
controle, por se tratar de um dom de oração, mais para edificação pessoal (cf. 1 Cor 14, 4).
Contudo, não se pode cair no equívoco de reduzir os dons do Espírito a algumas ocasiões
especiais. Eles foram dados em profusão nos tempos atuais. Pode ser cultivada uma constante
expectativa em relação à sua manifestação, como para o derramamento do Espírito 11.
Peculiarmente, a ação evangelizadora constitui um momento preciso de vivência dos
dons efusos. A missão da Renovação Carismática Católica é evangelizar a partir do batismo no
Espírito Santo, formando o povo de Deus em santidade e serviço. Para evangelizar o povo de
Deus com unção e poder são necessários os carismas. Quando utilizados de forma livre,
consciente, na hora necessária, levam as pessoas a terem uma experiência da presença real de
Deus, que manifesta o seu infinito amor:

“A ‘força do Espírito Santo’ (At 1, 8) derramada nos corações dos cristãos, manifestação
do amor e do poder de Deus, provoca uma significativa diferença entre a ação evangelizadora de
uma pessoa que se deixa conduzir por ela e uma que age sem ela. Aquele que evangeliza com os
dons carismáticos multiplica as possibilidades humanas. A investidura carismática em
comunidades da Igreja, em todo mundo, tem gerado e sustentado grande número de evangelistas
dedicados e eficientes, com novo vigor, com nova capacitação, nova alegria, novo jubilo, nova
exaltação e louvor, levando em si o poder transformador do Espírito (Cf. 1 Cor 2, 1-5) que toca
crianças, jovens, adultos e idosos de todo tipo de raça e cultura.”12

8. Batizados no Espírito, p. 43-44.


9. Cf. SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Instruções sobre as orações para
alcançar de Deus a cura, p. 14.
10. Cf. Ibid., p. 10.
11. Cf. Ronaldo José de SOUSA, O impacto da Renovação Carismática, p. 23.
12. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, A espiritualidade da RCC, p.43
4

O uso dos carismas não é só um direito, é um dever de todos os fiéis. “Da aceitação
destes carismas, mesmo dos mais simples, nasce em favor de cada um dos fiéis (...) o dever de
exercê-los para o bem dos homens e a edificação da Igreja dentro da Igreja e do mundo”13.
Pode-se constatar na prática apostólica que, quando a evangelização é acompanhada de
carismas, colhem-se frutos abundantes: os carismas fazem diferença e são eficazes na
evangelização, quando exercidos na caridade.

4. Os dons efusos e a caridade

Jesus deu o mandamento do amor: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amo” (Jo 15,
12.17). São Paulo apresenta o trabalho apostólico realizado no amor. Não um amor qualquer,
mas o amor “ágape”, amor doação a Cristo e aos irmãos:

“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade, sou como
o bronze que soa, ou como o címbalo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e
conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de
transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada. Ainda que distribuísse todos os meus
bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver
caridade, de nada valeria! A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita. Quando chegar
o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as
três. Porém, a maior delas é a caridade” (1Cor 13,1-3.9s.13).

Os capítulos 12 a 14 da carta aos Coríntios, que tratam dos carismas e suas


manifestações, são verdadeiros referenciais para se viver a vida nova, guiada pelo Espírito Santo,
exercendo os seus dons de maneira autêntica e frutuosa. Eles contêm regras básicas e orientações
seguras. Outras recomendações podem ser encontradas em Ef 4, 15.30; Rm 12, 6-8; 13, 8-10; e 1
Tess 5, 14-15. 19-21.
Jesus dá a regra para verificar o valor do trabalho: “Pelos frutos os conhecereis” (Mt
7,16). São Paulo também fala: “o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência,
afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança. Contra estas coisas não há lei” (Gl 5,22-
23). Dessa forma, o bom uso dos carismas é garantido pelo amor 14, que é o dom por excelência e
que atribui sentido aos outros dons 15. Os carismas, portanto, são fundamentados na caridade:

“Sejam extraordinários, sejam simples e humildes, os carismas são graças do Espírito Santo
que, direta ou indiretamente, têm uma utilidade eclesial, ordenados que são à edificação da Igreja,
ao bem dos homens e às necessidades do mundo. Os carismas devem ser acolhidos com
reconhecimento por aquele que os recebe, mas também por todos os membros da Igreja. São uma
maravilhosa riqueza de graça para a vitalidade apostólica e para a santidade de todo o Corpo de
Cristo, desde que se trate de dons que provenham verdadeiramente do Espírito Santo e que sejam
exercidos de maneira plenamente conforme aos impulsos autênticos deste mesmo Espírito, isto é,
segundo a caridade, verdadeira medida dos carismas” 16.

5. Os carismas devem ser pedidos com fé e exercidos na humildade

É exatamente por causa do amor que os dons efusos devem ser almejados. “Empenhai-

13. CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, Apostolican Actuositatem, n. 3.


14. Cf., a propósito, Ronaldo José de SOUSA, Pregador ungido, p. 24-25.
15. Cf. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Carismas, p. 39.
16. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 799-800.
5

vos em procurar a caridade”, encoraja São Paulo (cf. 1 Cor 14, 1a); e acrescenta: “aspirai
igualmente os dons espirituais, mas sobretudo ao da profecia” (cf. 1 Cor 14, 1b). A motivação
deve ser o uso em benefício dos outros, para ajudar o povo de Deus a alcançar a santidade.
Por isso, os carismas devem ser pedidos com fé e sem temor. Embora eles sejam
distribuídos conforme apraz ao Espírito, nada impede que o crente aspire e peça os dons, para
que seu testemunho seja permeado de sinais (cf. 1 Cor 2, 4-5). “Só aqueles que reconhecem o
valor dos dons na sua vida cristã e no serviço aos irmãos são impulsionados a pedi-los ao Pai,
como Jesus mesmo nos ensinou: ‘Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á.
Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater se lhe abrirá’ (Lc
11,9-10)”17.
Para o exercício prático dos carismas, não se deve esquecer três coisas fundamentais:

a) Humildade

É preciso vigiar para não cair na tentação de achar que os dons são méritos alcançados,
recompensas de Deus por esforços desmedidos. A humildade faz perceber que o cristão é um
administrador dos bens do Senhor (cf. Lc 16, 1-3) e que nenhum “carismático” se basta a si
mesmo. Deus constituiu a Igreja como um corpo (cf. 1 Cor 12, 12-29), de tal maneira que um
carisma só se plenifica no conjunto da comunidade. “Exercer os carismas na humildade é exercê-
los sem exibicionismo, sem buscar prestígio, honra, poder. (...) É também exercê-los sem auto-
suficiência (cf. Mt 18,3-4), sem individualismo, sabendo que necessitamos da ajuda dos irmãos
para confirmar ou discernir a vontade de Deus para o seu povo...”18.

b) Harmonia

O exercício dos carismas, sobretudo nas reuniões de oração, deve obedecer a um ritmo
harmônico, jamais exaltado ou demasiadamente estrondoso (cf. 1 Cor 14, 26-27). A força de um
carisma não consiste na tonalidade que lhe é imposta ou no tipo de expressão que o acompanha,
mas na utilidade objetiva que tem para a comunidade.
Assim, embora marcados pela espontaneidade e expressividade, os carismas se inserem
na vida cristã sem causar escândalos. “Porquanto, Deus não é Deus de confusão, mas de paz” (1
Cor 14, 33).
O uso dos carismas será tanto mais saudável e útil quanto as pessoas que a eles se abrirem
forem equilibradas emocionalmente e orantes o suficiente para saber distinguir a ação do Espírito
de eventuais devaneios da pessoa humana 19. É necessário ter respeito pelos dons de Deus; “não
podemos exercê-los irresponsável e indiferentemente, com desprezo, de forma inconseqüente,
olhando os nossos próprios interesses, ou dando aos carismas um relevo tão singular e único
como se fossem bens totais e absolutos sobre os quais não há nada mais excelente e primeiro” 20.

c) Ordem

A ordem no exercício dos carismas é uma extensão da harmonia, mas supõe autoridade e
obediência. O cristão pode ser instrumento da manifestação autêntica do Espírito Santo, mas não
deve esquecer que até o espírito dos profetas deve estar-lhes submissos (cf. 1 Cor 14, 32).
São Paulo esclarece nos seguintes termos: “Quanto aos profetas, falem dois ou três e os
outros julguem. Se for feita uma revelação a algum dos assistentes, cale-se o primeiro. Todos,

17. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Carismas, p. 41.


18. Ibid., p. 44.
19. Cf. Ronaldo José de SOUSA, Pregador ungido, p. 21-22.
20. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Carismas, p. 43.
6

um após outro, podeis profetizar, para todos aprenderem e serem todos exortados” (1 Cor 14, 29-
31 – grifos nossos). O mecanismo que garante a ordem na manifestação dos carismas é, portanto,
a confirmação, de maneira que os carismas individuais sejam abonados comunitariamente. Dessa
forma, os dons são ordenados para a obediência, saindo do plano meramente individual,
compondo a realidade conjunta do povo de Deus.
Portanto, os carismas devem ser exercidos na obediência a Cristo e às autoridades
constituídas. “Mas faça-se tudo com dignidade e ordem” (1 Cor 14, 40).

6. Palavra da Igreja

É oportuno destacar algumas asserções do Magistério da Igreja em relação aos carismas e


seu uso:

a) “O Espírito Santo, ao confiar à Igreja-comunhão os diversos ministérios, enriquece-a com


outros dons e impulsos especiais, chamados carismas. Podem assumir as mais variadas formas,
tanto como expressão da liberdade absoluta do Espírito que os distribui, como em resposta às
múltiplas exigências da história da Igreja. A descrição e a classificação que os textos do Novo
Testamento fazem desses dons são um sinal da sua grande variedade...” 21:

b) “Os carismas, sejam extraordinários ou simples e humildes, são graças do Espírito Santo que
têm, direta ou indiretamente, uma utilidade eclesial, ordenados como são à edificação da Igreja,
ao bem dos homens e às necessidades do mundo.Também em nossos dias não falta o florescer de
diversos carismas entre os fiéis leigos, homens e mulheres. São dados ao indivíduo, mas também
podem ser partilhados por outros, e de tal modo perseveram no tempo como uma herança
preciosa e viva, que geram uma afinidade espiritual entre as pessoas 22.

c) “Para exercerem este apostolado (os leigos), o Espírito Santo, que opera a santificação do
povo de Deus por meio do ministério e dos sacramentos, concede também aos fiéis dons
particulares (cf. 1 Cor 12,7), ‘distribuindo-os por cada um conforme lhe apraz’ (1 Cor 12,7-11), a
fim de que ‘cada um ponha em serviço dos outros a graça que recebeu’, e todos atuem ‘como
bons administradores da multiforme graça de Deus’ (1 Pd 4,10), para a edificação, no amor, do
corpo todo. (cf. Ef 4,16). (...) Nenhum carisma está dispensado da sua referência e dependência
dos pastores da Igreja. O Concílio escreve com palavras claras que o juízo acerca da sua (dos
carismas) autenticidade e reto uso pertence àqueles que presidem a Igreja e aos quais compete de
modo especial não extinguir o Espírito, mas julgar tudo e conservar o que é bom (cf. 1Ts 5,12 e
19-21), de modo que todos os carismas concorram, na sua diversidade e complementaridade,
para o bem comum”23.

As palavras da Igreja tiram o medo e as dúvidas quanto à necessidade e utilidade dos


carismas, bem como o direito que os fiéis leigos têm de usá-los para o bem comum. O Catecismo
da Igreja Católica segue a mesma firme orientação:

“O Espírito Santo é o principio de toda ação vital e verdadeiramente salutar em cada uma
das diversas partes do corpo. Ele opera de múltiplas maneiras a edificação do corpo inteiro na
caridade, pela Palavra de Deus (...) pelas virtudes, que fazem agir segundo o bem, e enfim pelas
múltiplas graças especiais (chamadas de ‘Carismas’), através das quais ‘torna os fiéis aptos e

21. JOÃO PAULO II, Christifidelis Laici, n. 24.


22. Ibid., n. 24.
23. Ibid, n. 24. Cf. CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II, Lumen Gentium, n. 12.
7

prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios que contribuem para a renovação e maior
incremento da Igreja”24.

7. Conclusão

É importante tomar consciência de que todo bem, todo dom, todo serviço prestado ao
Reino de Deus em nome de Jesus, acontece sob a ação do Espírito Santo. Sem ele nada é eficaz
para o Reino de Deus. “Nunca será possível haver evangelização sem a ação do Espírito”25.
Em certo sentido, foi a Renovação Carismática que resgatou, no ambiente católico, a
necessidade do uso dos carismas. Por isso, os grupos de oração não devem ter medo nem resistir
aos dons do Espírito, mas procurar conhecê-los cada vez mais para bem utilizá-los.

24. N. 798.
25. PAULO VI, Evangelli Nuntiandi, n. 75.
8

CAPÍTULO SEGUNDO
O dom das línguas
1. Introdução

Neste capítulo serão vistas e estudadas as três modalidades do carisma da variedade das
línguas que são: o orar, o falar e o cantar em línguas. Além disso, serão abordados os principais
aspectos de sua manifestação e o fundamento bíblico e doutrinário.
Algumas pessoas pensam e dizem que o dom das línguas é o menor e o mais
insignificante de todos. Porém, São Paulo escreve: “Aquele que fala em línguas não fala aos
homens, senão a Deus: ninguém o entende, pois fala coisas misteriosas, sob a ação do Espírito”
(1 Cor 14,2). Ora, o Espírito orando no homem será pouca coisa? “Outrossim, o Espírito vem
em auxílio à nossa fraqueza; porque não sabemos o que devemos pedir, nem orar como convém,
mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inefáveis. E aquele que perscruta os
corações sabe o que deseja o Espírito, o qual intercede pelos santos, segundo Deus” (Rm 8, 26-
27).
Talvez o mais difícil, principalmente para alguns, seja abandonar-se para que o Espírito
ore através de sua própria voz com “gemidos inefáveis”. Alguns precisam renunciar a auto-
suficiência e submeter-se à ação do Espírito Santo. Mas vale a pena! O gozo inefável que o
mesmo Espírito traz com sua presença, a paz profunda que só Deus pode dar, a certeza de que
Ele ora da melhor forma, são benefícios certos e imprescindíveis para o crescimento espiritual.
O grande desejo de S. Paulo é manifestado assim: "De minha parte, desejaria que todos
falásseis em línguas..." (1 Cor 14,5). É a esta oração misteriosa, inarticulada, que a pessoa se
une, deixando ao próprio Deus o cuidado de glorificar-se e dar-se graças por um amor que supera
todo o conhecimento. Esta oração contém um caminho de enriquecimento espiritual, um título da
graça. Na medida em que cresce a oração, modifica-se a vida pela ação amorosa e misteriosa de
Deus.
No pentecostes aconteceu a primeira manifestação do dom das línguas de que se tem
conhecimento. São Lucas narrou com muito entusiasmo: “Ficaram todos cheios do Espírito
Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que
falassem” (At 2, 4). Depois do pentecostes, o dom das línguas difundiu-se também entre todos os
cristãos: “Os fiéis da circuncisão, que tinham vindo com Pedro, profundamente se admiraram
vendo que o dom do Espírito Santo era derramado também sobre os pagãos; pois eles os ouviam
falar em outras línguas e glorificar a Deus” (At 10, 46). “E quando Paulo lhes impôs as mãos, o
Espírito Santo desceu sobre eles, e falavam em línguas estranhas” (At 19, 6).

2. Conceito

O dom das línguas é uma oração feita por meio de sons emitidos, movidos por inspiração
e que o Espírito Santo lhes dá o sentido. Não se trata de língua, no sentido que apresenta a
lingüística, porque não há conceitos humanos, mesmo desconhecidos. Consiste em dizer palavras
sem conhecer-lhes o significado. Proferir palavras que não são, propriamente, manifestação de
um pensamento formulado pela mente. Usar a língua, a voz, para expressar ao Senhor os
sentimentos que vêm do Espírito Santo:

“Quanto ao formal deste carisma e ao seu significado profundo, o dom de línguas:


- é, em primeiro lugar, um carisma para glorificar a Deus (cf. At 2, 4.11; 10, 46);
- é um carisma em virtude do qual o crente fala com Deus ao impulso do Espírito (cf. 1 Cor
14,2.28);
- é um carisma de oração e de louvor (cf. 1 Cor 14,14-15);
9

- é um carisma de bênção e ação de graça. (Cf. 1 Cor 14,16-17)”26.

Para se ter uma idéia mais clara acerca do dom de orar em línguas, veja-se como ele
aparece em algumas passagens da Sagrada Escritura: At 2,1-13; 10,44-48; 1 Cor 12,10;
14,4.13.18.39. Ressalte-se, ainda, que em Mc 16, 17 ele está relacionado como um dos milagres
que acompanham os que crêem, como uma grande promessa de Jesus. É um “milagre” porque é
extraordinário, fora do comum da linguagem humana.
A Igreja indica que a oração em línguas é, verdadeiramente, ação do Espírito; é um dom
que provém do Senhor, tem por meta o bem da Igreja e acha-se a serviço da caridade:

“... São, além disso, as graças especiais, designadas também ‘carismas’, segundo a
palavra grega empregada por S. Paulo, e que significa favor, dom gratuito, benefício. Seja qual
for o seu caráter, às vezes extraordinário, como o dom dos milagres ou das línguas, os carismas se
ordenam à graça santificante e têm como meta o bem comum da Igreja. Acham-se a serviço da
caridade, que edificam a Igreja”27.

3. Finalidade do dom de línguas

O dom das línguas é uma oração que se faz a Deus, é uma forma de glorificá-lo. Quem
ora em línguas não ora aos homens, mas a Deus (cf. 1 Cor 14,2); aquele que se abre ao dom das
línguas tem o Espírito Santo orando nele, por ele e com ele (cf. Rm 8, 26-27). O Espírito Santo
sabe do que o orante tem necessidade, faz ao Pai o pedido certo e na hora certa, do jeito que
Deus quer. Por isso pode-se dizer com fundamento que orar em línguas é “orar no Espírito”, pois
é emprestar a mente e a voz para que o Espírito Santo ore. “Assim, ainda que nós não
entendamos os gemidos inefáveis (...), Deus sabe o que deseja o Espírito. Apesar da inteligência
não assimilar nada, de não compreendermos o que falamos, cantamos ou oramos, sentimos que
algo nos toca profundamente (...), sentimos que o mais profundo do nosso ser comunga de
maneira especial com Aquele que nos criou e ao qual pertencemos” 28
O dom das línguas aprofunda a oração e a união com Deus. Trata-se de uma oração
individual, mesmo se feita em assembléia. “Aquele que fala em línguas edifica-se a si mesmo” (1
Cor 14, 4). Uma ou outra vez, porém, pode assumir a forma de mensagem à comunidade; neste
caso necessita da interpretação, como se verá mais adiante, no capítulo quarto. “Segundo
afirmação de 1Cor 14, 4, o dom de línguas é um carisma que o Espírito Santo dá para edificação
pessoal; no entanto, esta não exclui a finalidade comum que têm todos os carismas, a saber: a
edificação mútua, a construção do Corpo de Cristo (cf. 1 Cor 12,7.27-30)29.
O dom das línguas é um dom para a santificação pessoal. Para orar em línguas, muitas
vezes devem-se romper barreiras de medo, dúvidas, incredulidade, respeito humano, influências
negativas de pessoas contrárias, apego à auto-imagem e à boa fama. Embora não se compreenda
o significado, verifica-se uma nova dimensão da oração. Poucas frases bastam para que aquele
que recebe o dom se sinta envolvido pelo mistério e possuído por um profundo sentimento de
alegria e paz. Desta forma, a presença de Deus se torna aconchegante, indiscutível, quase
palpável. O dom das línguas favorece a manifestação dos demais dons.
Ao orar em línguas, a pessoa não fica estática, nem entra em transe, mas continua no
pleno domínio de suas faculdades, sabendo o que está fazendo, podendo perfeitamente controlar
o tom da voz, para estar em harmonia com as demais. A pessoa é livre, podendo começar e
terminar quando quer.

26. Salvador Carrilo ALDAY, A Renovação no Espírito Santo, p. 90


27. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 2003.
28. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Carismas, p. 77.
29. Salvador Carrilo ALDAY, A Renovação no Espírito Santo, p. 90.
10

Esta oração não suprime a oração formal, antes a completa e enriquece. Ela exige a atitude
de render-se ao Espírito Santo; é como uma porta baixa pela qual só passa quem se curva um
pouco. É a esta oração misteriosa, inarticulada, que a pessoa se une, deixando ao próprio Deus o
cuidado de glorificar-se e dar-se graças por um amor que supera todo o conhecimento.

4. Tipos de oração em línguas

Há variedade de manifestações do dom das línguas. Duas delas são:

a) Glossolalia

“Um fenômeno que se deu sobretudo na comunidade cristã de Corinto (1 Cor 12, 10; 14,
2-19), mas também nas de Cesaréia e Éfeso (At 10, 46; 19, 6); não é a mesma coisa que o ‘falar
outras linguas’ (o milagre de Pentecostes), mas consistia nisso que a pessoa (...) proferia sons
ininteligíveis e palavras sem anexo, que se tornavam compreensíveis apenas para quem possuía o
carisma da interpretação (1 Cor 14, 10) (...). Também o milagre de Pentecostes pode ser
interpretado como uma manifestação de g. como indica, p. ex., a impressão que causou nos
presentes (At 2, 13) e a citação de Jl 3,1-5. O próprio S. Pedro identifica os fenômenos com os de
Cesaréia (At 10, 47; 11, 15; 15, 8). (...) S. Lucas vê no milagre um símbolo da universalidade do
evangelho (cf. At 2, 5) que se adapta à natureza de cada um (cf. At 2, 8). Talvez tenha
considerado como o inverso da confusão das línguas em Babel” 30.

b) Xenoglossia

É uma oração em língua desconhecida de quem ora, mas que existe ou já existiu e ainda é
do domínio humano, como o latim, por exemplo. Robert DeGrandis diz que “durante uma
reunião de oração em Nova Orleans, cidade norte-americana, ouviu uma moça orar em latim,
embora não conhecesse esta língua. Ele também registra o fato de uma senhora norte-americana
que ao orar em línguas perto de um padre português, sem conhecer sua língua, nela fez a
seguinte oração: (Ó Maria, que ascendeste ao mais alto dos céus, ajuda-nos a conhecer o teu
Filho)”31.

Quanto à tonalidade, a oração em línguas normalmente se apresente como:

a) Louvor – oração seqüenciada, de palavreado freqüente, onde a pessoa fica “mergulhada”


como criança diante de Deus;
b) Júbilo – oração transbordante, jubilosa e extremamente alegre, quase interminável e sem
pausas;
c) Súplica – oração compassada e em tonalidade penitencial, que leva a frutos de contrição;
d) Canto (cf. 1 Cor 14, 15) – é também uma espécie de louvor, sendo que em tonalidade
musical.

5. A importância do dom das línguas

O dom de línguas tem, portanto, importância fundamental no enriquecimento espiritual.


Ele contribui para a renovação da vida da pessoa, na medida em que se constitui em ação
misteriosa e amorosa de Deus. É possível indicar alguns benefícios do dom de línguas:

30. A VAN DEN BORN, Dicionário enciclopédico da Bíblia, p. 242


31. O dom das línguas, p. 15.
11

a) Favorece a intimidade com Deus, sem necessidade de pensar, formular preces, mas, num
abandono confiante, mergulhar nas profundezas do Espírito. “Outras vezes, ao
começarmos a orar, também não sabemos como devemos pedir ou dizer a Deus (...). O
Espírito Santo, através do dom de línguas, vem em nosso auxílio corrigindo toda esta
imperfeição, que existe em nós pelo nosso pecado...”32.
b) Abre a pessoa para os demais carismas, porque mantém o espírito em alerta para o que
Deus quer falar ou fazer. Geralmente a palavra de profecia ou a interpretação das línguas
vêm durante ou após a oração ou cântico em línguas. Da mesma forma a palavra de
ciência, o dom das curas e assim por diante.
c) Ajuda a orar por determinadas coisas das quais a pessoa foge de colocar na presença de
Deus, problemas interiores nos quais prefere não tocar;
d) É também um dom de unidade entre os cristãos: “Achavam-se então em Jerusalém judeus
piedosos de todas as nações que há debaixo do céu. Ouvindo aquele ruído, reuniu-se
muita gente e maravilhava-se de que cada um os ouvia falar na sua própria língua” (At 2,
5-6).

Acima de tudo, o dom de línguas auxilia no processo de santificação pessoal, pois


submete o espírito ao Espírito, proporcionando uma oração certeira e eficaz.

6. Como receber o dom das línguas

O dom de línguas é para todos os que crêem (cf. Mc 16, 17). Pelo modo como se
manifesta, ele pode apresentar-se sem sentido às mentes mais racionais. Mas na medida em que
se cede ao dom e abre-se o coração e a mente, as dificuldades vão desaparecendo e o dom se
torna um modo a mais de como poder rezar.
Também é necessário que o receptor colabore com o Doador. – o Espírito Santo. A este
cabe a moção e a inspiração das palavras enquanto que àquele, o desejo, a aceitação e a decisão
de orar: abrir a boca, mover a língua, movimentar os lábios, produzir sons. Diante deste dom,
como dos outros, a pessoa deve fazer um ato de fé: ceder à ação do Espírito Santo, pois, sob Sua
ação a língua proferirá palavras ininteligíveis:

“No dom das línguas, você solta os sons, e o Espírito Santo dá o conteúdo. Esta é a sua
parte. Por isso, a melhor maneira de orar em línguas é soltar-se no meio dos outros. Se há um
grupo orando em línguas, faça o mesmo. Não é assim que o passarinho aprende a voar? Não é
assim que aprendemos a nadar? Há muito tempo, peço a Deus que conceda às pessoas a efusão do
Espírito Santo. De que forma? Convido a pessoa a orar comigo, da mesma maneira como estou
orando. Começo a orar, e a pessoa me acompanha. Não se pode imitar. Cada um deve se soltar, a
fim de deixar que o Espírito Santo ore em si. É algo muito fácil e simples” 33.

7. Conclusão

O dom de línguas foi um dom abundante no início da Igreja. É normal um católico


exercê-lo. Ele traz muitos frutos para a vida de oração e de santificação pessoal, favorecendo a
intimidade e a comunhão com Deus.
A oração em línguas pode se manifestar de várias formas; o mais importante não é o que
se diz e sim o que há no coração do orante em relação a Deus. “Ninguém falando sob a ação
divina, pode dizer: ‘Jesus seja maldito’; e ninguém, pode dizer: ‘Jesus é o Senhor’, senão sob a
ação do Espírito Santo” (1 Cor 12, 3).

32. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Carismas, p. 75-76.


33. Jonas ABIB, Aspirai aos dons espirituais, p. 58.
12

CAPÍTULO TERCEIRO
Carisma da Profecia
1. Introdução

O carisma da profecia é um dos meios que o Senhor tem para comunicar-se com o seu
povo, encorajando, exortando, instruindo, dando novo rumo ao trabalho apostólico, indicando a
direção certa e levando à conversão, enfim, manifestando sua santa vontade em tudo (cf. 1 Cor
14, 13)
Deus sempre quer falar, mas nem sempre o seu povo está pronto para escutá-lo. Quando o
faz e, em seguida, Lhe obedece, faz a coisa certa, na hora certa, do jeito certo. Quando faz por
sua própria conta, por sua vontade, algumas vezes acerta, mas na maioria delas erra, sofre ou
fracassa. É necessário ouvir o Senhor sempre (cf. Dt 6, 4).
Que maravilha poder ouvir a Deus e por ele ser orientado. Que povo há, com efeito, que
tenha seu Deus tão próximo de si cada vez que o invoca com sinceridade (cf. Dt 4,7)?

2. Conceito

“A profecia é um carisma em virtude do qual o inspirado, em nome de Deus, é movido


pelo Espírito, fala à assembléia para exortá-la, estimulá-la ou corrigi-la. É um carisma que
contribui muito para edificar a Igreja. Não comunica revelações sensacionais, mas é uma palavra
inspirada que manifesta a vontade de Deus em circunstâncias do momento e manifesta os
sentimentos ocultos do coração. A palavra profética geralmente suscita fortemente um
movimento de conversão, de agradecimento ao Senhor por suas intervenções de amor, um
sentimento de paz. Ocasionalmente o profeta recebe uma luz particular predizendo o futuro (cf.
1Cor 14,3-4.24-25)”34.
Por vezes, confirma-se na profecia o que já se está fazendo, encorajando a continuar.
“Numa noite, o Senhor disse a Paulo em visão: não temas! Fala e não te cales. Porque eu estou
contigo. Ninguém se aproximará de ti para te fazer mal, pois tenho um numeroso povo nesta
cidade” (At 18, 9-10). Ela pode também prever uma missão para a Igreja dentro de algum
tempo: “Enquanto celebravam o culto do Senhor, depois de terem jejuado, disse-lhes o Espírito
Santo: separai-me Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho destinado” (At 13,2).
São Paulo aconselha a aspirar aos dons "mas, sobretudo, ao dom de profecia" (cf. 1 Cor
14, 1); e explica a importância deste dom: "Quem profetiza fala aos homens para edificá-los,
exortá-los e consolá-los" (1 Cor 14,3 ). O dom de profecia “edifica a assembléia" (cf. 1 Cor 14,
4); por isso, o apóstolo manifesta seu desejo: "Ora, desejo que todos faleis em línguas, porém,
muito mais desejo que profetizeis" (1 Cor 14, 5). Este dom "instrui também os outros (ouvintes)"
(cf. 1 Cor 14, 19), e é um sinal "para os fiéis" (cf. 1 Cor 14, 22), quanto para os infiéis, sendo
para estes motivo de adoração e proclamação da presença de Deus em meio à comunidade (cf.
14, 24-25).
É desejo ardente do apóstolo que na comunidade se manifeste este dom do Espírito: “Não
desprezeis as profecias” (1 Tess 5, 20). "Aquele que tem o dom da profecia, exerça-o conforme a
fé” (Rm 12, 6), pois, segundo a medida do dom de Cristo, alguns foram constituídos profetas
para o aperfeiçoamento dos cristãos (cf. Ef 4,7-12).
A profecia pode trazer uma sugestão sobre algo que deve ser mudado; pode trazer uma
confirmação do amor de Deus, do seu poder, um sentido profundo de sua presença. A profecia é
um dom que todos podem ter: "Todos, um após outro, podeis profetizar, para todos aprenderem e
serem todos exortados" (1 Cor 14, 31).

34. Salvador Carrillo ALDAY, A Renovação no Espírito Santo, p.87


13

Em Números 11,29 lê-se: "Prouvera a Deus que todos profetizassem e que o Senhor lhes
desse o seu Espírito". Ora, o profeta Joel predissera que o Senhor iria derramar o seu Espírito
sobre todo o ser vivo: tal profecia, no Novo Testamento, é lembrada pelo apóstolo Pedro, logo no
dia de Pentecostes, como "cumprimento do que foi dito pelo profeta Joel” (cf. At 2, 16-21).
Assim, a profecia é uma conseqüência do derramamento do Espírito Santo na Igreja, pois quem
tem o Espírito do Senhor e se deixa conduzir por Ele, torna-se um instrumento apto do Senhor
para profetizar na assembléia.

3. O exercício do dom de profecia

O dom de profecia é a faculdade de acolher no íntimo (pensamento) e transmitir em


palavras inteligíveis, as revelações de Deus. Está no campo das revelações particulares e, como
tal, não pode contradizer o que foi revelado através da Bíblia e da Tradição e que é explicado
pelo Magistério da Igreja (revelação pública).
A manifestação da profecia deve ser com "dignidade e ordem" (cf. 1 Cor 14, 40), e com
um critério de julgamento sobre a mesma (cf. 14, 29), pois, "Deus não é Deus de confusão, mas
de paz" (1 Cor 14, 33).
Assim sendo, o exercício da profecia acontece quando o profeta fala sob a influência
sobrenatural do Espírito35, abrindo o seu ser para isso, transformando-se em “porta-voz” de
Deus, para a verbalização de Suas palavras.
A profecia não se refere necessariamente ao futuro, muito embora isso tenha sido o caso
em algumas ocasiões, como evidencia a Bíblia. Pela profecia, Deus utiliza-se de alguém para
dizer aos homens o que Ele pensa sobre a situação presente, ou qual é a Sua intenção para o
futuro. Numa reunião de oração, a profecia tem o efeito de aprofundar o senso da presença de
Deus. É um meio eficaz de o povo ser conduzido por Deus. Neste sentido, o profeta transmite o
pensamento de Deus para que se possa agir segundo esse pensamento. E essa transmissão vem
de Deus e não da mente daquele que fala.
O profeta fala sob inspiração divina, sob ação divina, sendo instrumento ativo desta
inspiração e comunicação; o que importa é a mensagem, e não tanto o transmissor da mensagem.
É preciso ter cuidado para não se deixar levar pela fraqueza humana, não aceitando uma profecia
divina porque esta veio por este ou aquele membro da comunidade.
O Espírito Santo é livre para que haja profecia onde, como e quando Ele quiser; nas
reuniões de oração, normalmente, há uma certa seqüência em relação à profecia, como segue:
oração, louvor (cânticos ou preces), oração e cântico em línguas seguidos de breve tempo de
silêncio. Assim se cria o clima favorável para a manifestação do carisma da profecia, que deve
ser desejado por todos (cf. 1 Cor 14, 1). Após acolher a profecia, a comunidade louva e exulta de
alegria pela palavra que o Senhor deu. É importante que haja confirmação da profecia.

3.1. A acolhida da profecia

Ninguém profetiza sem o consentimento da vontade, mas acolhe as palavras de Deus, em


sua mente e, se não as pronunciar por medo, insegurança ou respeito humano, deixa de
profetizar. Deus não violenta, não força a mente humana contra a sua vontade e consentimento;
serve-se sim, de suas faculdades, de maneira que a pessoa é usada por Ele.
É o Senhor quem escolhe, chama e capacita o profeta (cf. Ef 4, 11). É Ele que suscita o
desejo de profetizar, vai derrubando as barreiras que impedem a entrega plena do ser da pessoa
ao seu Espírito, embora respeite o seu livre-arbítrio, sua liberdade. A profecia é geralmente
precedida pela unção, que é um ‘senso da presença do Senhor’, um movimento no íntimo do
espírito, é um impulso para anunciar a mensagem de Deus; com freqüência, a unção é a chave

35. Cf. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Grupo de oração, p. 54.


14

que permite saber que o Senhor quer falar 36.


Assim sendo, são combinadas a ação do Espírito e a adesão da pessoa. O Espírito unge o
profeta, às vezes com sinais sensíveis e inspira-lhe as palavras a serem ditas. A pessoa deve
entregar-se a Deus, acolher as palavras no íntimo e pronunciá-las destemidamente. O profeta não
precisa mudar a voz ou imprimir uma tonalidade discursiva, mas apenas pronunciar o que lhe é
revelado na sua própria maneira de falar. Nesse sentido, Deus se utiliza da cultura e do
vocabulário da pessoa.
O essencial para acolher a profecia e proclamá-la é crer que Deus quer falar
naquele momento e dispor-se a ser seu instrumento. A pessoa recebe em sua mente uma
palavra ou frase e, à medida que as pronuncia, outras se seguirão. Também pode acontecer de ser
dada primeiro em pensamento ou por meio de uma imagem.
Qualquer que seja a forma de receber a profecia, a pessoa deve dar um passo na fé para
pronunciá-la, sem se deixar impregnar por dúvidas e inseguranças. Por vezes, a pessoa se
acostuma a ficar esperando pelos que mais costumeiramente profetizam. Os que agem assim,
dificilmente serão usados com o dom da profecia. Para ouvir o Senhor, é necessário um ato de
entrega ao Senhor e não apenas de passividade.
O profeta deve manter uma expectativa de escuta. A escuta é a capacidade dada pelo
Espírito Santo para ouvir a voz de Deus no coração e discernir, dentre todas as vozes que
chegam, qual é a de Deus (cf. Jo 12,27-29).
A oração do discípulo de Jesus é mais do que falar no vazio, ler no vácuo, sofrer
na solidão, contemplar um túnel sem fim. A oração do discípulo de Jesus Cristo
ressuscitado é muito mais do que tatear na escuridão. Ela não é tampouco um salto no
abismo. O discípulo de Jesus foi elevado à posição de amigo do Mestre (cf. Jo 15,14).
Sendo amigo de uma das Pessoas da Santíssima Trindade, goza, automaticamente, da
amizade das outras. Por isso sua oração é, antes de tudo, aproximar -se de Deus (cf. Hb
11, 6), é um inclinar de ouvido na direção dos lábios da T rindade Santíssima (cf. Is
50,4b-5) para saborear o seu canto de amor.

3.2. O ciclo carismático

Nas reuniões de oração, cria-se assim o que é denominado "ciclo carismático", composto
de louvor, oração e profecia. A assembléia se dirige a Deus pela oração, que é o diálogo com o
Senhor; Ele responde pela profecia, usando as mentes e vontades daqueles que se rendem a Ele
para edificar a comunidade.
No ciclo carismático, encontram-se assim estes elementos: oração, louvor (cânticos ou
preces), orações em línguas, seguido de breve tempo de silêncio, unção (que geralmente precede
a profecia), profecia, após a qual a comunidade louva e exulta de alegria pela palavra que o
Senhor lhe dirigiu. Na medida em que a comunidade se habitua com o ciclo carismático, torna-se
mais aberta ao Senhor e ao cumprimento de sua vontade.
Ocorre, por vezes, que vários membros da comunidade tenham a mesma profecia no
momento; quando a primeira profecia é anunciada, os outros, tendo-a também recebido, podem
confirmá-la, dizendo em bom tom: "eu confirmo". Isto dá certeza da profecia quanto à sua
origem. Deve-se falar o que se recebe, tão logo se recebe. Ao ouvir o anúncio de uma profecia,
toda a assembléia deve louvar o Senhor que ali está se comunicando com ela.

4. Tipos de profecia

Além da profecia verdadeira, pode acontecer de ser proclamada numa reunião de oração
ou fora dela:

36. Cf. Jonas ABIB, Aspirai aos dons espirituaiss, p. 56.


15

a) Não profecia - quando as palavras vêm da mente humana; são sentimentos, às


vezes bastante piedosos, mas que não vêm de Deus e sim da pessoa que, movida
por seus anseios ou mesmo por problemas emocionais, tenta comunicar os
próprios sentimentos como se fossem mensagens do Espírito;
b) Falsa profecia - é uma mensagem influenciada pelo Demônio; pode ocorrer.
Normalmente, ela contradiz a Escritura ou a Tradição e o ensinamento da Igreja. A falsa
profecia é detectada pelos seus frutos: ela causa um mal-estar espiritual junto à
comunidade; vê-se logo que não procede do Espírito Santo pelos efeitos negativos que
produz.

Pode acontecer também que inspirações autênticas se mesclem à subjetividade do


indivíduo que, espontaneamente, vai introduzindo outros elementos e misturando-os com o que
Deus está revelando. Seria o caso de:

a) Profecias longas – a pessoa recebe a inspiração e, depois que fala o que sentiu de Deus,
permanece comentando ou acrescentando coisas que, nas mais das vezes, ela mesma tem
vontade de dizer à comunidade ou a algumas pessoas que ali estão presentes. A profecia
se torna longa e um pouco confusa, dificultando o entendimento dos ouvintes quanto ao
que realmente é mensagem de Deus. Apesar disso, o fato de uma profecia ser um pouco
mais alongada, não quer dizer que estejam sendo feito acréscimos pelo profeta;
b) Profecias repetitivas – a pessoa pronuncia as palavras inspiradas e, na ânsia de continuar
ensinando, continua repetindo as mesmas palavras ou com pequenas variações;
c) Profecias influenciadas por devoções pessoais – quando uma pessoa tem ligação muito
estreita com algum tipo de devoção (Coração de Jesus, Nossa Senhora, algum santo, etc),
poderá se sentir impulsionada a mesclar a profecia com esses sentimentos pessoais; às
vezes, a mensagem é transmitida estritamente com elementos de tais devoções, o que se
constitui numa não-profecia.

É necessário recorrer ao dom do discernimento, pelo qual Deus dá uma convicção interior
da autenticidade ou não da profecia. O discernimento, portanto, torna-se também um exercício
espiritual. No entanto, ao ser proclamada uma profecia, seria oportuno:

a) Observar se ela não contradiz a Bíblia ou a doutrina da Igreja;


b) Perceber as impressões que ela causa da assembléia (paz, alegria, contrição, medo,
angústia, ansiedade, etc);
c) Esperar que ela seja confirmada por outras pessoas.

É bom que se diga que o Demônio não tem poder e autoridade para interferir numa
oração humilde e aberta ao Espírito. Quanto mais louvor, menos espaço para Satanás. Ele
necessita de um tipo de “brecha” para influenciar as pessoas, que pode ser causada por
presunção, desespero, altivez ou algum pecado grave que esteja, de alguma forma, influenciando
fortemente o momento de oração.
Quanto aos destinatários, uma profecia pode ser:

a) Pessoal – dirigida diretamente a uma pessoa, na oração pessoal ou através de alguém


que ora por ela; mais raramente, mas também pode acontecer numa oração
comunitária;
b) Comunitária – dirigida a todas as pessoas reunidas em oração.

Pode-se pedir uma profecia para alguém particularmente, quanto para uma necessidade
16

da comunidade como um todo. Na profecia podem ser revelados planos a se realizar e que já
estão sendo amadurecidos dentro de cada um individualmente ou na comunidade.
Quanto à forma, uma profecia pode ser:

a) Direta – pronunciada em língua compreensível, na primeira pessoa do singular,


como se fosse o próprio Deus falando;
b) Indireta - por meio de visualização, recordação de trechos bíblicos ou fatos
ocorridos, entre outros; nesses casos, o profeta normalmente comunica o que Deus
está falando, como se estive expondo. Também é possível que alguém profetize
enquanto profere uma pregação ou ensino.

Freqüentemente podem ocorrer profecias com substrato bíblico, compostas de frases


bíblicas, justamente porque naquele momento, Deus quer relembrar à comunidade orante, esta ou
aquela mensagem ou verdade da fé contida na Escritura. Neste contexto, a profecia, é "uma ação
de Deus mediante a qual alguém proclama uma mensagem de Deus, a qual focaliza uma verdade
já conhecida, mas que precisa naquele momento, ser lembrada" 37. As passagens bíblicas vêm
ao pensamento naturalmente.
No entanto, é preciso que se diga que a mera recordação de versículos bíblicos sem uma
conotação atual não é profecia. Quando alguém apenas emite supostas mensagens tais como:
“Meus filhos, eu sou o caminho, a verdade e a vida”, não se trata de uma profecia no sentido
estrito; na maioria dos casos, é um pensamento da própria pessoa, porque recordou aquela
palavra naquele momento, motivada ou não pelo clima da oração. Pelo dom do discernimento
é possível saber se as palavras bíblicas têm uma conotação atual.
Por fim, é importante lembrar que “um carisma – sobretudo de ordem profética – não é
infalível e o seu início pode ser marcado pelo fracasso, pelo erro, pela falta de confirmação, sem
que ele tenha de ser imediatamente questionado. Tudo isso é uma fase de ensaios às cegas,
legítima e necessária para assentar esse carisma. Mas ela não deve, obviamente, prolongar-se,
excessivamente...”.38

5. Profecia e obediência

As profecias são dadas como orientações para serem ouvidas. Quando não se presta
atenção e não se vive o que o Senhor fala, Ele pode calar-se. É importante levar bem a sério as
profecias, são palavras de Deus, palavras de vida, que levam a comunidade e as pessoas a terem
vida e vida em abundância (cf. Jo 10,10).
“O grupo deve levar a sério a palavra de profecia, porque, por ela, o Senhor nos fala. Ela
pode mudar o rumo das coisas, o rumo da própria Igreja, e é assim que a Igreja, que somos nós,
se mantém em ação”39.

6. Conclusão

O objetivo da profecia é edificar, exortar, consolar (cf. 1 Cor 14,3). Sua autenticidade
deve ser julgada pelos demais profetas (cf. 1 Cor 14, 29-33). Seu conteúdo deve estar de acordo
com a Bíblia e o ensino da Igreja, levar à glorificação de Deus, ressaltar o crescimento de Cristo
no amor fraterno, na edificação da Igreja e na busca da santidade.
O profeta é o porta-voz de Deus – Deus é o centro – mostrando o Cristo vivo e
ressuscitado agindo, por seu Espírito. São Paulo convida à confiança quando diz: "Todos podeis

37. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Grupo de Oração, p. 55.


38. Philippe MADRE, Aspirai aos carismas, p. 48.
39. Jonas ABIB, Aspirai aos dons espirituais, p. 87.
17

profetizar" (1 Cor 14, 31). A Igreja precisa de profetas que encorajem, animem, instruam e
exortem (cf. Col 3, 16).
18

CAPÍTULO QUARTO
O carisma da Interpretação das Línguas
1. Introdução

Ocorre muitas vezes numa assembléia carismática reunida, a oração ou o canto em


línguas, numa harmoniosa alegria pela presença de Deus naquele lugar. Durante a oração ou
canto em línguas ou no silêncio que se segue, uma voz destaca-se das demais. Outras vozes se
calam porque sentem que o Espírito está agindo, dando uma profecia em línguas (falada, orada
ou cantada). Após a profecia em línguas faz-se silêncio para a escuta da interpretação.
A interpretação pode vir pela mesma pessoa ou por outra, de forma direta 40, como uma
palavra de profecia. Pode ocorrer também a interpretação indireta 41 por meio de visualização,
recordação de versículos bíblicos ou fatos, entre outras formas.
Da mesma maneira que na profecia, o dom da interpretação das línguas pode ocorrer
durante o “ciclo carismático”: louvor – silêncio – profecia em línguas e interpretação – louvor a
Deus42.

2. Conceito

O carisma da interpretação das línguas é a faculdade de perceber o sentido da oração ou


da profecia em línguas. Não se confunde com tradução (ou versão). Nesta, o tradutor entende
cada palavra. É por isso que ele, utilizando palavras de um dos idiomas conhecidos, reescreve o
texto em outra língua qualquer. A tradução é a substituição de palavras, termos ou períodos de
uma língua pelos de outra.
O dom da interpretação das línguas é um impulso, através de uma unção espiritual, por
meio do qual a pessoa capta o sentido da mensagem e comunica-a, para torná-la compreensível
aos membros da comunidade. É, portanto, uma profecia motivada e antecedida pelo dom
das línguas:

“Aquele que fala em línguas não fala aos homens, senão a Deus: ninguém o entende, pois
fala coisas misteriosas, sob a ação do Espírito. Ora, desejo que todos faleis em línguas, muito
mais desejo que profetizeis. Maior é quem profetiza do que quem fala em línguas, a não ser que
este as interprete, para que a assembléia receba edificação. Quem fala em línguas, peça na oração
o dom de interpretar" (1 Cor 14, 2.5.13).

Tanto “o falar” como “o orar” e “o cantar” em línguas só se tornam mensagem profética


quando houver interpretação.

3. O exercício da interpretação das línguas

O exercício do dom de interpretação das línguas segue os mesmos princípios que para o
dom de profecia. De forma pessoal ou comunitária 43,a interpretação ocorre após a emissão de
uma mensagem em línguas.
A mensagem em línguas pode ter duração diferente, podendo ser longa ou breve;
contudo, a interpretação deve ser concisa, anotando com clareza a mensagem do Senhor. Quem
recebe o dom da interpretação percebe que as palavras lhe vêm à mente de forma abundante, e

40. A interpretação direta acontece da mesma maneira que a profecia, já estudada no capítulo anterior.
41. Cf. capítulo anterior o referente à profecia indireta.
42. Cf. capítulo anterior.
43. Cf. capítulo anterior.
19

deve dizer o que o Senhor lhe inspira.


Assim como há uma unção para profetizar, uma mensagem em línguas também é
precedida por uma unção. O intérprete recebe um impulso interior para a interpretação. Aliás, a
unção do Espírito caracteriza o exercício dos dons do Espírito Santo. Quanto mais a pessoa se
habitua com ela, mais facilmente identifica o modo como o Senhor lhe "dita" as palavras.
Por que Deus utiliza o dom das línguas para comunicar sua mensagem quando pode fazê-
lo “diretamente” através da profecia? Dom João Evangelista Martins Terra procura responder:

“Falar em línguas numa assembléia cultual cria uma atmosfera de audição interior e uma
expectação atenta da palavra do Senhor. Esse dom alerta os que profetizam no grupo, a fim de
estarem mais preparados para receber uma inspiração sobre o que o Senhor quer comunicar ao
grupo, e coloca também o grupo inteiro alerta para escutar o que se vai dizer. Essa interpretação
não é uma tradução, mas um carisma diferente que não acontece na oração particular, mas só
quando o Espírito suscita alguém a falar em línguas na assembléia, enquanto todos os outros
guardam silêncio, preparando assim o clima para a intervenção do carisma profético que
interpreta exortando, consolando e corrigindo". 44

Por vezes, acontece que várias pessoas recebem a mesma interpretação da mensagem
ouvida. Neste caso, o senso de que a interpretação ouvida é correta, é ratificado. Como na
profecia, deve-se dizer em voz alta: “eu confirmo!”. Após receber uma mensagem em línguas e
sua interpretação, todos devem proclamar a misericórdia do Senhor, pois, ao receber uma
mensagem do Senhor, através da manifestação dos dons do seu Espírito, deve-se deixar algum
tempo para o louvor. É Ele mesmo que está dirigindo a sua palavra. E quando o Senhor fala, quer
por meio da interpretação das línguas, quer por profecias, sua palavra traz sempre frutos
poderosos sobre todos.
Uma vez interpretada, a manifestação das línguas tem todas as utilidades das
profecias, a saber: edificar, exortar, consolar (cf. 1 Cor 14, 3) 45.

3.1. O acolhimento da interpretação das línguas

O acolhimento do dom de interpretação também segue os mesmos princípios para o


acolhimento da profecia46. Sua dinâmica é semelhante à da profecia, que é colocada diretamente
no coração do profeta por uma ação do Espírito Santo. A interpretação das línguas é também
depositada na mente do intérprete.

4. Tipos de interpretação

A distinção dos tipos de interpretação obedece aos parâmetros atribuídos à


profecia. A interpretação é verdadeira quando vem do Espírito Santo. Não -interpretação
é quando as palavras têm origem na mente humana (não vem de Deus). A falsa
interpretação é influenciada pelo Demônio.
O instrumento que separa um dos outros é o carisma do discernimento dos espíritos. O
discernimento da interpretação é tão necessário quanto para a profecia, pois uma vez que é
proclamada assume todas as características da profecia, bem como seus requisitos e utilidades
(cf. Mt 7,15-23).

44. Os carismas em São Paulo, p.19.


45. Cf. capítulo anterior.
46. Cf. capítulo anterior.
20

Numa assembléia pequena ou numa grande assembléia que esteja em profunda oração,
consciente da presença de Deus, dirigida pelo Espírito Santo, haverá outros profetas para
julgarem ou confirmarem a profecia em línguas e sua interpretação (cf. 1 Cor 14, 32-33).
Aqui, é importante fazer a diferença entre a oração em línguas e a profecia em línguas;
somente esta necessita de interpretação. Quando se ora ou louva em línguas, não há necessidade
de interpretação porque a pessoa está se dirigindo a Deus (cf. 1 Cor 14, 2-4).
Quando existe uma unção profética na assembléia e que se expressa em línguas, aí cabe a
interpretação em vernáculo e a confirmação de outros membros da assembléia (cf. 1 Cor 14, 13).

5. Conclusão

“Por isso quem fala em línguas, peça na oração o dom de as interpsetar” (1Cor 14, 13). O
carisma da interpretação leva ao Pai, por Jesus, no poder do Espírito Santo, orientando os filhos
de Deus a fazer a Sua vontade. Quanto ao seu exercício, obedece aos mesmos princípios da
profecia, com a diferença de haver sempre uma mensagem em línguas antecedente.
“Assim, pois, irmãos, aspirai ao dom de profetizar; porém, não impeçais falar em
línguas. Mas faça-se tudo com dignidade e ordem” (1Cor 14, 39-40). Quem deseja, quem quer,
pede: “Tudo o que pedirdes na oração, crede que o tendes recebido, e ser-vos-á dado” (Mc
11,24).
21

CAPÍTULO QUINTO
O dom carismático da Ciência
1. Introdução

O dom da ciência é uma grande ferramenta de trabalho na edificação do Reino de Deus,


pois leva as pessoas à conversão e à glorificação de Deus. A palavra de ciência é percebida como
uma certeza interior que chega à mente.
Geralmente, após uma oração em línguas, a mente está aberta e livre para receber a
comunicação do Senhor. Por vezes, vem à mente uma palavra somente, ou um quadro, uma cena.
O Senhor mostra, assim, o que está curando, realizando, transformando, que pode ser: uma cura
física ou emocional, uma cura espiritual, ou mesmo um chamado à conversão.

2. Conceito

O carisma da palavra de ciência é uma revelação sobrenatural de algo que Deus conhece.
Ele comunica fatos, acontecimentos, problemas, feridas ou qualquer outra matéria que não é do
conhecimento de quem ora, mas que é necessário saber naquele momento de oração pessoal,
comunitária ou quando se reza por alguém, impondo as mãos. Não depende de informação, de
bagagem cultural, não é filosofia ou teologia: é dom gratuito do Espírito Santo.
O dom de ciência é o diagnóstico de Deus. É o carisma pelo qual o Espírito Santo revela
uma situação, um fato ou uma lembrança dolorosa relativa a acontecimentos passados ou
presentes. Este dom faz com que a mente penetre nas verdades divinas sem que empregue o
esforço do raciocínio (cf. 2 Re 6,8ss). Através do dom da ciência o Espírito Santo faz com que a
pessoa entenda as coisas como Deus entende. Faz com que se penetre na raiz do acontecimento,
fato, sentimento, situação, estado de espírito. É um fragmento da onisciência de Deus.
Pode-se, ainda, dizer que a palavra de ciência "é um conhecimento sobrenatural que se
recebe, devido à graça, por meio da qual a inteligência do homem se ilumina com a ação do
Espírito Santo, para conhecer e ver a raiz de um problema ou o que Deus está fazendo ou vai
fazer entre suas criaturas"47.
Neste mesmo sentido, sobre o dom da ciência, escrevem Emiliano Tardif e José H. Prado
Flores: “É um dos dons carismáticos, muito belo, por meio do qual Deus revela e comunica o
que já houve ou o que está acontecendo na história da salvação das pessoas. Por esta revelação,
pode-se chegar à raiz de um problema ou à causa de um cativeiro (dependência de um trauma)
ou ao conhecimento de uma cura” 48.
Pelo dom de ciência, Deus revela as curas que está realizando no meio da comunidade;
então, comunica-se a toda a assembléia o que o Senhor está realizando.
A palavra de ciência distingue-se da ciência humana e do dom de ciência infuso. Assim:

a) Ciência: desenvolvimento das aptidões naturais da pessoa através do estudo, pesquisa,


conhecimento. Ë a formação adquirida. É também associada a toda tecnologia que o homem
conhece e utiliza para o desenvolvimento humano.

b) Dom de ciência infuso: é um dom crismal que ajuda a julgar de maneira correta as coisas
criadas, em suas relações com Deus e mostra o valor e a importância que têm as criaturas aos
olhos de Deus (cf. Is 11, 2; Hab 2, 14).

47. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Grupo de Oração, p.42


48. Jesus está vivo, p.41.
22

c) Palavra de ciência: revelação particular e momentânea sobre um fato singular e determinado;


é urna revelação interior compreensível por quem a recebe (cf. 1 Cor 12, 8b).

3. O exercício do dom de ciências

A palavra de ciência não é necessariamente uma palavra piedosa (amor, paz, paciência,
etc), mas diz respeito ao que Deus quer revelar. Pode ser palavras simples e corriqueiras. Por
exemplo: tesoura, anel, carta, carro, cabeça, etc.
A palavra vem à mente, sem que a pessoa se tenha preparado ou pensado. O dom de
ciência pode vir acompanhado da palavra de sabedoria. O primeiro revela a situação; o segundo
revela como agir.
O dom de ciência também pode se manifestar por meio de um entendimento, um
sentimento, uma percepção acerca de determinadas realidades. Nesse caso, não seria uma
“palavra” no sentido estrito, mas outro modo de compreensão espiritual: é também dom de
ciência.
Podem ser referidos, a título de exemplo, dois episódios bíblicos:

a) Lc 7, 36-47 – Aqui, Jesus teve um entendimento espiritual acerca da situação daquela


mulher;
b) Mc 5, 25-34 – Nesse episódio, Jesus teve uma percepção da força que dele saira;

Quanto à ocasião, o dom de ciência pode se manifestar principalmente:

a) Na oração pessoal

O “diagnóstico” será referente à própria pessoa ou acontecimento que lhe diz respeito,
fazendo com que ela penetre na raiz do fato, do sentimento, da situação ou estado de espírito
relacionado com o passado ou o presente dela mesma.
Nesse sentido, o dom de ciência ajuda no processo de santificação pessoal. Deus deseja
que o homem compreenda como e porque Ele está agindo de determinada maneira. Deus ensina
ao homem sobre as suas verdades, para que o homem possa ter a liberdade de optar pelo bem.

b) Na imposição de mãos

É comum haver manifestação da palavra de ciência quando se está orando por alguém,
por meio da imposição de mãos. Por exemplo: quando alguém sofre de algum mal cuja causa é
desconhecida, pode-se pedir ao Senhor uma palavra de ciência. Reza-se em línguas por alguns
instantes, e aguarda-se a comunicação do Senhor em silêncio. A pessoa por quem se ora poderá
dar o significado da palavra de ciência, associando-a a algum fato de sua vida.
Após a emissão e compreensão da palavra de ciência, reza-se de acordo com o objeto
revelado.

c) Na reunião de oração

Numa assembléia de oração, uma ou mais pessoas podem receber palavras de ciência,
geralmente relacionadas a uma ação de Deus naquele momento. Em alguns casos, quando se
anunciam curas por meio do dom de ciência, a pessoa pode perceber que a ela se refere a
palavra, por meio de uma sensação física ou sentimento, entre outras coisas. O Espírito Santo
tem diferentes maneiras de se revelar às pessoas.

4. Utilidade do dom de ciência


23

A finalidade primeira deste dom é levar à cura das lembranças dolorosas, que ainda
incomodam as pessoas, fazem sofrer, e tiram a felicidade. O Espírito Santo penetra tudo, mesmo
as profundezas de Deus (cf. 1 Cor 2, 10; Rm 8, 27). Ora, penetra também as profundezas do
homem, revelando-lhe o que deve ser curado, por meio deste dom de ciência.
Este dom, portanto, revela tanto o que o Senhor esta realizando (curando) na comunidade,
quanto o que deve ser curado. O dom da ciência é também, em parte, um dom associado ao dom
de curar doenças (cf. 1 Cor 12,9), e deve ser usado com sabedoria e discernimento. “O carisma
da palavra de ciência está sempre a serviço de outro dom: de cura, palavra de sabedoria, de
profecia”49.

5. Fundamentos bíblicos do dom de ciência

 João 1, 47-51: a palavra de Jesus a Natanael;


 João 4,16-19: revelação da vida da Samaritana;
 João11,11-15: conhecimento da morte de Lázaro;
 Mateus 16,16: definição de fé do apóstolo Pedro, por inspiração do Pai;
 Atos 5,1-11: Pedro denuncia o roubo de Ananias e Safìra;
 Atos 10,9ss: visão de Pedro e a palavra que lhe é comunicada;
 Lc 1,4-45: O Espírito Santo revela a Isabel a gravidez divina de Maria;
 Mt 1,18-25: O anjo revela, em sonhos, a José, a gravidez divina de Maria.

6. A importância do testemunho

Em qualquer hipótese de manifestação do dom de ciência, é importante o testemunho das


pessoas que, através da palavra de ciência, receberam alguma graça. O que é testemunhado,
prova a veracidade da palavra de ciência. Pelos depoimentos se conhece se houve a ação de Deus
ou não, anunciada pela palavra de ciência (cf. Mt 7, 16-20).
Assim, pelos testemunhos se confirmam não somente as curas, mas a própria palavra de
ciência. O importante, após os testemunhos, não é bater palmas: mas deixar a assembléia louvar
e agradecer ao Senhor com espontaneidade.

7. Como rezar por problemas desconhecidos

É muito comum encontrar pessoas com problemas cujas causas não se conhece: sejam
problemas de ordem física, emocional ou mesmo espiritual. A pessoa pode estar vivendo em
estado doentio (depressão, doença física, pânico, etc) e não sabe explicar o por quê de tal estado;
às vezes não há nenhum motivo aparente. Como fazer nestes casos?

a) Tentar o diálogo com a pessoa, procurando reunir todos os elementos possíveis: início da
enfermidade (há quanto tempo), possíveis causas; levar em conta a interdependência dos
campos físico, emocional e espiritual.
b) Ver em que nível a enfermidade se situa: se no campo somático (se é algo simplesmente de
origem biológica); se no campo emocional (das lembranças dos fatos traumatizantes,
conscientes ou inconscientes); se no campo espiritual (se é caso de confissão sacramental,
possíveis contaminações, etc.). Muitos casos de doenças físicas têm sua origem nos
problemas emocionais; em outros casos, os problemas de ordem espiritual-moral repercutem
no psicobiológico.

49. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Carismas, p. 142.


24

c) Pedir ao Senhor que venha em auxílio com o dom da ciência. Neste caso, ora-se em línguas
por alguns minutos; após breve silêncio, aguarda-se a palavra de ciência, comunica-se à
pessoa a mesma palavra. A pessoa expressa a ressonância da palavra em sua vida. Por vezes,
a palavra de ciência corresponde a um fato acontecido há muito tempo; outras vezes, refere-
se a casos acontecidos recentemente. Após a palavra de ciência, reza-se pela cura do que foi
revelado. O processo vai se repetindo, enquanto cheguem palavras de ciência. Por fim, faz-se
um louvor ao Senhor e conclui-se com alguma oração espontânea, ou mesmo bíblica.

Caso não se receba palavras de ciência ou se a pessoa que recebe a oração não associá-la
a nenhum fato de sua vida, mesmo assim deve-se rezar e entregar o caso à misericórdia do
Senhor. Ele que tudo conhece haverá de manifestar, no momento oportuno, o seu amor para com
aquela pessoa.

8. Auxiliares do dom de ciência

a) Sabedoria - dom do Espírito Santo que revela como agir diante daquilo que o dom de
ciência esclareceu.

b) Discernimento – este carisma ajuda a descobrir o sentido das revelações dadas pelo
Espírito Santo através do dom de ciência.

c) Prudência – a prudência ajudará a descobrir o momento e a forma certa de proclamar as


palavras de ciência.

d) Sigilo – quem ora por outra pessoa deve manter sigilo em relação ao que o Senhor revelou
ou curou (casos particulares ou situações secretas), respeitando a privacidade das pessoas.

9. Conclusão

O dom da ciência não depende do conhecimento, de bagagem cultural, não é filosofia ou


teologia: é dom gratuito do Espírito Santo.
Palavra de ciência: diagnóstico de Deus. Faz com que a mente penetre numa verdade (ou
na raiz de um problema) sem esforço humano. Manifesta-se através de: uma palavra ou frase,
imagem (visualização), sensação, sentimento ou sonho. Atitudes cristãs: sigilo; prudência;
sabedoria; discernimento.
25

CAPÍTULO SEXTO
Carisma da Palavra de Sabedoria
1. Introdução

Num mundo tão difícil como este todos precisam urgentemente do carisma da
palavra de sabedoria. A sabedoria que vem do Espírito Santo ilumina o caminho, dá a
direção certa, leva a decisões conforme a vontade de Deus e conduz à santidad e. Como
é importante este carisma!

2. Conceito

A palavra de sabedoria é uma "ação de Deus, movendo uma pessoa a ensinar ou explicar
verdades religiosas, a fim de que a presença e o amor de Deus sejam experimentados, e para que
ela seja movida a procurar Deus”50. Exemplos de palavras de sabedoria: Mt 7, 28-29; Lc 2, 47; 4,
22; 12, 22ss; 24, 32.
Pelo dom de sabedoria, a pessoa sente que o Senhor está lhe guiando para fazer alguma
coisa ou dizer algo em determinado momento. Portanto, palavra de sabedoria é uma palavra,
atitude ou ação a fim de que as pessoas percebam a verdade que antes não conheciam. Inspira o
homem como agir, falar ou se comportar em situações concretas da vida, levando-o a decidir
acertadamente, de acordo com a vontade de Deus (cf 1 Cor 12, 8).
É oportuno fazer a seguinte distinção:

a) Sabedoria humana: adquirida pelo esforço do conhecimento humano e pelas ciências. Ela
depende de esforços, capacidades e tendências pessoais, além de outros fatores externos.

b) Sabedoria diabólica: “Mas, se tendes no coração um ciúme amargo e gosto pelas contendas,
não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Esta não é a sabedoria que vem do alto, mas é
uma sabedoria terrena, humana, diabólica” (Tg 3, 14-15).

c) Sabedoria divina: dom crismal, dom do Espírito Santo para o crismando, para santificação de
sua vida pessoal. Este dom faz aprender as realidades espirituais e suas conseqüências na vida
prática; desperta o sabor das coisas de Deus (cf. Tg 1,5).

d) A palavra de sabedoria: dom carismático do Espírito Santo, dom gratuito de Deus, para
orientar situações concretas; não depende de méritos pessoais, nem é fruto de dedução racional
ou científica: é puro dom da graça divina (cf. 1 Cor 12,8).

3. Utilidade do dom da sabedoria

O dom de sabedoria manifesta a vontade de Deus em situações concretas. É o


socorro de Deus para momentos de crise (o estudo de a lgum tema difícil, debates,
discussões, situações de confusão, etc).
A palavra de sabedoria é, portanto, apropriada para testemunhar a presença de
Deus em momentos difíceis (cf. Mt 22,15-22). O dom da sabedoria tem íntima ligação
com o dom da ciência. O dom da ciência revela uma situação, um problema (dá o
diagnóstico); o dom da sabedoria revela como agir (indica o remédio). A sabedoria
também ilumina a profecia para que seja entendida e vivida.

50. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Grupo de oração, p.41


26

4. A palavra de sabedoria na Escritura

Várias passagens da Sagrada Escritura revelam a utilização do dom da sabedoria


como recurso para mostrar a vontade de Deus ou intervir em situações concretas. Pode -
se, ao exemplificar, distinguir o uso da palavra de sabedoria:

a) Em situações embaraçosas: 1 Rs 3, 16-28; Lc 12, 11-12;


b) Como fonte de entendimento espiritual: Lc 12, 13-21; Lc 12, 22-34;
c) Como atitude: At 9, 23-25;

Sempre que Jesus e os apóstolos davam aos seus ouvintes noções práticas de como viver
segundo Deus, segundo o ideal cristão, transmitiam palavras de sabedoria. Alguns textos
importantes: Mt 10, 5-7; 11, 25-30; Mc 10, 1-31; Lc 6, 20-49; 12, 22ss; Jo 10, 13.34; 15, 12-27;
Cl 3,1-3; Ef 4, 1ss; Gl 5, l6ss; 1 Pd 1, 13-16; Fl 2, 1-16.
A palavra de sabedoria foi usada pelos apóstolos em várias ocasiões, nos momentos de
pregação, como também antes de tomarem decisões práticas para a Igreja (cf. At 2, 14ss; 3, 12ss
e 4, 8ss). Para a eleição dos sete diáconos, os apóstolos pedem à Assembléia que escolha homens
de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria (cf. At 6, 1ss). Os que discutiam com
Estevão, "não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito que o inspirava" (At 6, 10). São Paulo
agiu movido por este dom, quando deixou cego a Élimas o mago, que procurava desviar da fé o
procônsul Sérgio Paulo (cf. At 13,4-12).

5. O exercício do dom de sabedoria

A abertura para o dom da sabedoria obedece aos mesmos princípios que para os
outros dons. Para receber e manifestar o dom da sabedoria ajuda: vida de oração, estudo,
reflexão, humildade e simplicidade (coração de criança).
O dom da sabedoria pode estar vinculado a certos momentos decisivos na vida pessoal e
comunitária, quando o cristão é chamado a tomar decisões importantes, e precisa do auxílio
divino, de uma orientação de Deus sobre este determinado momento ou problema. É o dom
divino que leva a agir corretamente diante de uma situação difícil.
Por este dom, a comunidade sente mais profundamente a presença do Espírito Santo. Os
participantes de uma reunião, ao ouvirem palavras de sabedoria, percebem o próprio Deus a lhes
falar. Por este carisma, Deus se serve de alguém para transmitir um conhecimento mais profundo
da sua palavra ou da direção de Deus sobre a vida deles.
A palavra de sabedoria é freqüentemente dada no aconselhamento de outros, em resposta
a seus problemas, dando-lhes clareza e direção pela ação do Espírito Santo. Todos podem e
devem aspirar a este dom; devem, outrossim, rezar, pedindo-o, desejando-o ardentemente, como
exorta São Tiago em sua carta: "Se alguém de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a
todos dá liberalmente, com simplicidade e sem recriminação, e ser-lhe-á dada. Mas peça-a com
fé, sem nenhuma vacilação" (Tg 1, 5-6; cf. Eclo 6,37; 43,37). Salomão pediu-a assim:

“Deus de nossos pais, e Senhor de misericórdia, que todas as coisas criastes pela
vossa palavra, para ser o senhor de todas as vossas criaturas, governar o mundo na
santidade e na justiça, e proferir seu julgamen to na retidão de sua alma, daí-me a
sabedoria que partilha do vosso trono, e não me rejeiteis com indigno de ser um de
vossos filhos. Sou, com efeito, vosso servo e filho de vossa s erva, um homem fraco,
cuja existência e breve, incapaz de compreender vosso julgamento a vossas leis; porque
qualquer homem, mesmo perfeito, entre os homens, não será nada, se lhe faltar a
sabedoria que vem de vós. Mas, ao lado de vós, está a sabedoria que conhece vossas
obras; ela estava sempre quando fizestes o mundo, ela sabe o que vos é agradável, e o
27

que se conforma às vossas ordens. Fazei-a, pois, descer de vosso santo céu, e enviai-a
do trono de vossa glória, para que, junto de mim, tome parte em meu s trabalhos, e para
que eu saiba o que vos agrada” (Sab 9, 1-6.9-10).

6. Conclusão

A sabedoria é um precioso dom do Espírito Santo que está ao alcance de todos;


basta pedi-la com fé, para vivê-la e levá-la aos irmãos “O mundo necessita de homens
que, iluminados pela sabedoria de Deus, saibam agir e falar inteligentemente,
obedecendo assim a lei de Deus escrita no seu coração, a única lei capaz de elevar sua
dignidade de homem e assim enriquecer o mundo” 51.

51. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Carismas, p. 108.


28

CAPÍTULO SÉTIMO
Discernimento dos Espíritos
1. Introdução

Jesus usou muito o carisma de discernimento dos espíritos e m sua vida diária.
Também os homens e mulheres, pais e mães, servos com grande responsabilidade,
precisam deste carisma para saber distinguir qual espírito está agindo em cada situa ção:
o Espírito de Deus, o espírito humano ou espírito do mal, o diabo.
O carisma do discernimento dos espíritos é um dos dons mais necessários a quem
coordena um grupo de oração, preside uma reunião de oração, ora por alguém, é pai ou
mãe de família, exerce alguma função na comunidade paroquial, ou na RCC. É bom
estudar com carinho este carisma.

2. Conceito

“Dom do Espírito Santo através do qual uma pessoa percebe, intuitiva e


instantaneamente, quais espíritos estão presentes e operantes em uma palavra , ação,
situação ou pessoa (santo, demoníaco, humano, ou a mistura destes)” 52.
Este dom permite identificar qual espírito está impulsionando ou está influenciando uma:
ação, situação, desejo, decisão, palavra, proposta, oferecimento:

“O discernimento é o dom que nos abre os olhos para o mundo invisível, onde agem tanto
os espíritos bons como os maus. O discernimento é luz sobrenatural que nos mostra a origem e a
causa última de certos fenômenos misteriosos, humanamente inexplicáveis. Portanto, não se trata,
em hipótese alguma, de um juízo temerário que fazemos sobre as pessoas. As próprias palavras
‘discernimento dos espíritos’ deixam claro que tratamos dos espíritos e não dos homens e da sua
conduta”.53

3. Tipos de discernimento

a) Reflexivo (bom senso)

É o discernimento conseguido pela inteligência, pelo raciocínio lógico, pe la


experiência de vida, pela experiência que se tem sobre alguma coisa, pelo estudo, pela
formação, pela observação.

b) Doutrinal

É o discernimento adquirido pelo conhecimento da Sagrada Escritura, da Sagrada


Tradição e da doutrina da Igreja; algo que se aprende, se desenvolve. No Evangelho, Jesus
indica: “Pelos seus frutos, os conhecereis” (Mt 7,16-20). Contudo, surgem no mundo os falsos
profetas que vêm disfarçados de ovelhas (e mesmo disfarçados de pastores), mas por dentro são
lobos arrebatadores (cf. Mt 7, 15).

c) Carismático (cf. 1Cor 12, 10)

52. Robert DEGRANDIS, Carismas, dons do amor de Deus, p. 47.


53. S. FALVO, O despertar dos carismas, p. 171

28
29

É a capacidade que o Espírito Santo dá para distinguir, interiormente, por um


movimento do Espírito no íntimo, que espécie de espírit o está movendo uma pessoa ou
uma comunidade.

Os discernimentos: carismático, doutrinal e reflexivo, completam-se um ao outro. O


melhor é caminharem juntos. Em algumas vezes, o discernimento reflexivo, baseado somente na
razão, foge completamente da vontade de Deus.

4. Utilidade do discernimento carismático

a) Aumenta a margem de acerto em tudo o que se faz;


b) Permite a descoberta da vontade de Deus revelada por meio de outros cari smas;
c) É um dom precioso para quem exerce todas as funções, princ ipalmente a de
coordenação, pregação e animação;
d) Protege os outros dons. Assim, por ele é possível saber quando e como orar em línguas,
profetizar, curar, entre outras coisas: "O dom do discernimento, podemos considerá-lo como
protetor dos demais dons. De fato, ele aí está, pronto para proteger a autenticidade dos dons
do Espírito, das possíveis adulterações, inventadas pelo demônio” 54.

5. Dom do discernimento na vida de Jesus

Jesus usou o dom do discernimento para encontrar orientação correta em certas ocasiões.
Este dom parece estar presente na vida de Jesus de forma muito original; alguns exemplos
podem servir de inspiração:
a) Quando atribuíam a Ele um espírito imundo, Ele discerne: "Se Satanás se levanta contra si
mesmo, está dividido e não poderá continuar, mas desaparecerá" (Mc 3, 22-27; Mt 12, 28).
b) Na questão da cura no dia de sábado, Ele concluiu: "É permitido, pois, fazer o bem no dia
de sábado" (Mt 12, 12; Mc 3, 1-16).
c) Na primeira predição de sua Paixão, repreende a Pedro, dizendo que os sentimentos de
Pedro não são de Deus, mas dos homens (cf. Mc 8,31-33).
d) Na discussão sobre a ressurreição (pelos saduceus, os quais a negavam) Jesus orienta:
"Errais não compreendendo as Escrituras e o poder de Deus" (Mt 22, 29; Mc 12, 24).
e) No caso do cego de nascença, Jesus não atribuiu a cegueira nem aos pais, nem ao próprio
homem cego, como perguntavam os discípulos, mas discerniu como ocasião de
manifestação da Glória de Deus (cf. Jo 9,1ss).
f) Diante da atitude de Tiago e João, pedindo fogo do céu para consumir os samaritanos que
lhes negavam pousada, Jesus os orienta, dizendo: "Não sabeis qual espírito vos anima. O
Filho do Homem não veio para perdê-los, mas para salvá-los” (Lc 9, 51 ss).

Alguns trechos da Sagrada Escritura revelam as conseqüências da falta d e


discernimento. Por exemplo:
a) Gn 3,17 – Eva não parou para discernir se a proposta que a Serpente lhe dava era coisa de
Deus ou não;
b) 2 Sm 11, 1-17 – Davi criou, por falta de discernimento, situações desastrosas para ele e
para os outros.

6. Dinâmica da manifestação do discernimento carismático

54. S. FALVO, O despertar dos carismas, p. 173.

29
30

Como fazer para ter discernimento? Não existe receita, pois o discernimento dos espíritos
é um dom. Porém, uma coisa é importante: conhecer Deus e Sua Palavra.

“Uma maneira corretíssima de sabermos se algo vem da vontade de Deus, do inimigo ou


de nós próprios é a Palavra de Deus. Muitas vezes, em discernimento dos espíritos não temos
tempo nem de raciocinar. Daí esta palavra precisar estar tão enraizada em nós que faça parte já do
nosso próprio ser. Desta forma, e alimentados pela oração, nossa vontade e inteligência estarão
sempre abertas à ação do Espírito Santo, que nos revelará, pelo carisma do discernimento dos
espíritos, o que vem de Deus, o que vem de nós, o que vem do maligno” 55

Pedir com fé o Espírito Santo, pedir o dom do discernimento, acolhê-lo, ir


analisando suas manifestações; é, pois, um aprendizado. Sua manifestação se parece
com a intuição. Assemelha-se também com “a voz da consciência”
Discernir segundo Deus gera bons frutos. Jesus dá uma regra infalível: “Toda árvore boa,
dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos. Pelos seus frutos, os conhecereis” (Mt 7, 16-20).
Os que são guiados pelo Espírito Santo, terão frutos espirituais; os que são guiados pela carne, da
carne colherão corrupção (cf. Gal 5, 16-6,9).

7. Conclusão

Jesus discerniu com poder e ensinou a vigiar (cf. Mt 4, 1-10; 7,15). Todos devem pedir a
Deus e buscar com empenho o dom do discernimento dos espíritos. Ele é necessário, importante,
pode-se dizer, indispensável na comunidade que reza, no grupo de oração, na família. Ele
permite distinguir fenômenos, manifestações de todo tipo.
É necessário perseverar nas orações, no grupo de oração, na vida sacramental, no estudo
da Bíblia, na docilidade ao Espírito Santo, na devoção mariana e na doutrina da Igreja para
crescer no conhecimento de Deus e estar cada vez mais aberto ao carisma do discernimento dos
espíritos.
Quão necessário se torna o dom do discernimento nas várias situações da vida pessoal e
comunitária! Esse dom é muito importante na orientação doutrinária, na percepção da ação de
Deus e sua vontade, ajudando enfim, a "examinar se os espíritos são de Deus" (1 Jo 4, 1 ).

55. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Liderança cristã, p.

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CAPÍTULO OITAVO
Carisma da Cura
1. Introdução

Os carismas de cura, fé e milagres podem ser chamados “dons-sinais”, porque sinalizam


algo de extraordinário realizado pelo poder de Deus. São dons que manifestam o poder de Deus
no mundo; são obras do poder do Espírito, agindo nos cristãos e através deles, para confirmar a
verdade da mensagem cristã.
Diante do poder de Deus que se manifestava em Jesus e nos apóstolos, muitos se
converteram à fé, ao presenciarem uma cura, um milagre, um prodígio sobrenatural, uma
ressurreição, etc.
Esses dons continuam sendo manifestos na Igreja. São necessários aos nossos dias,
porque confirmam da palavra do Senhor. Não foram necessários somente no início do
cristianismo, para sua expansão. É próprio da Igreja testemunhar pela manifestação dos dons
carismáticos, a ação poderosa do Senhor em meio a seu povo. Pelos carismas, a evangelização é
confirmada. “Os discípulos partiram e pregaram por toda a parte. O Senhor cooperava com eles e
confirmava a sua palavra com os milagres que a acompanhavam” (Mc 16,20).

2. As enfermidades e a cura

“Enviou-os a pregar o Reino de Deus e curar os enfermos” (Lc 9, 2).

Antes de entrar propriamente no dom da cura convém tecer alguns comentários a respeito
da questão das enfermidades e de sua relação com a vida cristã e o plano da salvação.
O entendimento da Igreja a respeito dessas realidades é de que a enfermidade e o
sofrimento sempre estiveram entre os problemas mais graves da vida humana: “Na doença o
homem experimenta a sua impotência, seus limites e sua finitude” 56.
O Papa João Paulo II, em sua Carta Apostólica Salvifici Doloris – “O sentido cristão do
sofrimento humano” - procura responder ao sentido da dor e do sofrimento. Segundo ele, “poder-
se-ia dizer que o homem sofre por causa de um bem do qual não participa, do qual é, num certo
sentido excluído, ou do qual ele próprio se privou” 57 . No plano inicial de Deus que previa todo
o bem e toda a satisfação das necessidades do homem (físicas, emocionais e psíquicas), se
interpõe o pecado, criando toda a espécie de dor e insatisfação dessas necessidades.

2.1. Conceito de saúde (equilíbrio) x doença (desequilíbrio)

Deus criou o homem em harmonia perfeita com todas as coisas. O Espírito de Deus
governava o espírito do homem; este governava a alma e a alma governava o corpo. E o homem
gozava de um dom chamado imortalidade corporal, além da imortalidade do espírito.
Havia harmonia – equilíbrio – entre o espírito, a alma e o corpo. Quando o homem saiu,
voluntariamente, do plano original de Deus, pelo pecado das origens, entraram no mundo o
sofrimento, a doença (desequilíbrio, desarmonia) e a morte.
A doença (que é um desequilíbrio) pode ter início em um dos elementos constitutivos do
ser humano e atingir os outros, secundariamente. Por exemplo: uma doença que comece no
espírito (pneuma) pode se exprimir na mente (psique) e no corpo (soma). Então é uma doença
pneumopsicossomática, uma doença do homem total. Exemplificando: um pecado, que é uma

56. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 1500.


57. JOÃO PAULO II apud RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Oração pela pura, p.14.

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doença do espírito (ou do pneuma), pode gerar um sentimento de “remorso”58 (na alma ou
psiquê), levando a doenças ósseas (no corpo ou no soma).
O homem em desequilíbrio (doente) precisa ser curado, restaurado, regenerado em todo o
seu ser para voltar à harmonia inicial. A cura é isto: a restauração do equilíbrio, da harmonia do
plano de Deus.

2.2. O exercício do dom de cura

Se a doença é no corpo, precisa-se de cura física; se na mente, é necessária uma cura


psíquica; adoecem as emoções, a carência é de uma cura interior. Caso o problema seja
espiritual, é preciso uma cura espiritual (libertação). Em qualquer hipótese, o dom de cura
geralmente se manifesta por meio da oração de cura.
Para orar por cura, a única prerrogativa é usar o nome de Jesus. É preciso deixar de lado o
medo e os enganos e orar pelos enfermos, sabendo que Deus os cura pelos méritos de Jesus
Cristo e não porque a pessoa sabe orar, tem experiência ou é santa. Todos podem exercitar o dom
de curar as doenças.
O propósito de Deus é que os seus filhos sejam totalmente sadios, curados, restaurados,
regenerados e libertos. Para isso Ele enviou o Seu Filho para morrer pela humanidade. Pelas suas
pisaduras o Filho trouxe a cura total e a libertação (cf. Is 53,4-5).
O Papa João Paulo II diz que “o homem é destinado à alegria, mas todos os dias
experimenta variadíssimas formas de sofrimento e de dor”59. E a Congregação para a Doutrina
da Fé, em recente publicação60 se manifesta dizendo que exatamente por que somos destinados à
alegria, o Senhor, nas suas promessas de redenção, anuncia a alegria do coração ligada à
libertação dos sofrimentos (cf. Is 30, 29; 35, 3-4; Br 4, 29). Por isso, há um anseio legítimo e
profundo do homem de se libertar de todo mal, pois o Senhor é “aquele que liberta de todos os
males” (Sb 16,8).

2.3. Deus quer o homem saudável

Desde a criação do homem, Deus o chamou à felicidade, ao bem-estar, à saúde plena.


Este é o plano de Deus: a felicidade e o bem de suas criaturas. As palavras dos profetas, as
intervenções divinas em favor do povo escolhido testemunham um afeto e uma ternura que
expressam o grande amor de Deus. Se dúvidas ainda houvesse, o mistério da encarnação de Jesus
Cristo as dissiparia por completo. Um Deus que se dá de forma tão apaixonada não poderia ter
pensado ou desejado a dor ou o sofrimento para os seus amados.
No Diálogo61 encontram-se registros primorosos de como Deus vê a separação do
homem e a sua necessária reconstrução:

“Ó filha bondosa e querida, a humanidade não foi leal e fiel para comigo. Desobedeceu à
minha ordem (Gn 2, 17) e achou a morte. De minha parte mantive a fidelidade, conservei a
finalidade para a qual a criara, com a intenção de dar ao homem a felicidade. Uni a natureza
divina, tão perfeita, à mísera natureza humana, resgatei a humanidade, restituí-lhe a graça pela
morte de meu Filho. Os homens sabem de tudo isso mas não acreditam que sou poderoso para

58. O “remorso” distingue-se da “contrição” pelo seu caráter altivo: a pessoa sente-se atingida no orgulho, ao
se deparar com sua imperfeição. A contrição é uma atitude de humildade, por meio da qual a pessoa se reconhece
pecadora e solicita a misericórdia de Deus.
59. Christifideles Laici, 53.
60. CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Instrução sobre as orações para alcançar de Deus a
cura, p 5.
61. Principal obra de Santa Catarina de Sena. Este livro é considerado a obra-prima desta doutora da Igreja.
Foi escrito na forma original de “revelação divina” de Deus Pai à santa por volta do ano de 1.377.

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socorrê-los, forte para auxiliá-los e defendê-los dos inimigos, sábio para iluminar suas
inteligências (...). A natureza divina uniu-se com poder meu (o Pai), com a sabedoria do Filho e
com a clemência do Espírito Santo. Todo o abismo da Trindade, uniu-se à vossa humanidade.”62

O ensinamento da Igreja63 aponta que de Deus vem a cura e a salvação. O desejo de


Deus, conforme o testemunho do próprio Jesus Cristo, é a cura, a vida plena e abundante (cf. Jo
10,10). A Escritura afirma que “Deus não é o autor da morte, e a perdição dos vivos não lhe dá
nenhuma alegria. Ele criou tudo para existência, e as criaturas do mundo devem cooperar para a
salvação. Nelas, nenhum princípio é funesto, e a morte não é a rainha da terra, porque a Justiça é
imortal” (Sl 115,6; Sb 1, 13-15). Ora, Jesus veio ao mundo para dar ao homem vida em
plenitude, manifestando o amor de Deus Pai (cf. Jo 3, 16) e torná-lo participante da natureza (cf.
2 Pd 1, 4) e do amor divino (cf. 1 Jo 4, 9; 5, 11).
Se Jesus deu a vida pelo homem, se “fomos transladados da morte para a vida” (1 Jo 3,
14), Ele o quer cheio de vida, de saúde, de felicidade, pois Ele é o Deus da vida; Ele “é um Deus
que nos cura” (Ex 15, 26), “que sara as nossas enfermidades” (Dt 32, 39; Sl 102, 3; 146, 3). As
doenças encontram sua causa no próprio homem, no seu pecado, orgulho, ambição; em sua
desarmonia consigo mesmo, com os outros, com a natureza e, por fim, com o próprio Criador.
Mas esta é uma verdade bíblica: Deus quer o homem saudável!

2.4. Dom de cura e sofrimento humano

No Antigo Testamento percebe-se que o povo de Israel tinha o entendimento de que as


enfermidades estavam misteriosamente ligadas ao pecado e ao mal; mas elas atingiam também
os justos, o que levava o homem a interrogar-se o porquê64. O Papa João Paulo II esclarece sobre
isso: “Se é verdade que o sofrimento tem um sentido de castigo quando é ligado à culpa, já não é
verdade que todo o sofrimento seja conseqüência da culpa e tenha um caráter de castigo. A
figura de Jó é disso uma prova convincente no Antigo Testamento (...). Se o Senhor permite que
Jó seja provado pelo sofrimento, fá-lo para demonstrar a sua justiça. O sofrimento tem caráter de
prova”65.
Conforme o entendimento expresso pela Congregação para a Doutrina da Fé, a doença
pode ter aspectos positivos de demonstrar fidelidade ou mesmo de reparação, mas continua
sendo sempre um mal e as promessas de Deus vão sempre no sentido de libertação e de cura e
que, em tempos vindouros, não haverá mais desgraças e invalidez e o decurso da vida nunca
mais será interrompido com enfermidades mortais (cf. Is 35, 5-6; 65, 19-20)66.
A partir da vinda de Jesus Cristo é que se encontra uma resposta mais completa para a
questão das enfermidades. Quando Jesus se depara com os enfermos, e isto é uma constante na
narrativa de todos os evangelistas, a sua atitude é sempre de curar e de libertar de todos os males.
A esse respeito diz a Congregação para a Doutrina da Fé: “As curas são sinais de sua ação
messiânica (cf. Lc 7, 20-23). Manifestam a vitória do Reino de Deus sobre todas as espécies de
mal (...), servem para mostrar que Jesus tem o poder de perdoar os pecados (cf. Mc 2, 1-12) e
são sinais dos bens salvíficos”67.
O mesmo sentido pode ser observado no início da evangelização ao longo dos Atos dos
Apóstolos, conforme Jesus havia prometido. São freqüentes as curas e as libertações por meio
dos apóstolos. São Paulo também confirma a continuidade dos sinais e prodígios em sua

62. p. 315
63. Cf., especialmente, CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 1502-1510.
64. Cf. Jo 7, 20.
65. JOÃO PAULO II apud CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ, Instrução sobre as orações
para alcançar de Deus a cura, p. 5.
66. Cf. Instrução sobre as orações para alcançar de Deus a cura, p. 6.
67. Ibid., p. 6.

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evangelização. A Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé acrescenta: “Eram prodígios que


não estavam ligados exclusivamente à pessoa do Apóstolo, mas que se manifestavam também
através dos fiéis.”68

3. Enfermidades no Antigo Testamento

Ao longo do Antigo Testamento, após a narrativa do pecado e das conseqüências que ele
traz para o homem, começa a surgir, especialmente nos salmos e através dos profetas, uma visão
nova da doença diante de Deus. Das lamentações sobre as enfermidades, elas se tornam caminho
de conversão (cf. Sl 38, 5 e 39, 9.12) e o perdão de Deus inaugura a cura 69. Chega-se a
momentos de uma compreensão extraordinária da dor e da redenção a serem manifestadas
plenamente no Cordeiro de Deus, o Justo, o Servo: “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e
carregou com nossos sofrimentos... E ainda: “Por suas chagas, nós fomos curados” (Is 53,
4.5.11).
Foi assim que os profetas viram a chegada do Messias: “Ele mesmo vem salvar-nos; os
olhos dos cegos se abrirão e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; então, o coxo saltará como
um cervo, e a língua do mudo dará gritos alegres” (Is 35, 4b-6a). Os tempos messiânicos foram
vistos como tempos de plenitude espiritual, plenitude de vida física, como tempos nos quais o
poder de Deus se manifestaria com esplendor em Jesus Cristo.
O Messias teria em si a plenitude do Espírito Santo; seria consagrado pela unção, e
“enviado a levar a Boa Nova aos pobres, a curar os corações doloridos, a anunciar aos cativos a
redenção, aos prisioneiros a liberdade...” (Is 61, 1-2). Ele fora prenunciado como o “rebento
justo brotado de Davi” (cf. Jr 23, 5; 33 ,15); como “Gérmen”, segundo o profeta Zacarias (cf. Zc
3,8; 6,12); foi predito ser o Messias, a “Pedra Angular” na construção da Igreja (cf. Zc 10, 4; Is
8, 14; 28, 16; Sl 117, 22; At 4, 11); como alguém que viria “pensar a chaga de seu povo e curar
as contusões dos golpes que recebeu” (Is 30,26). Ele seria o “Emanuel, o Deus conosco, o
príncipe da Paz” (cf. Is 7, 14; 9, 5; Mt 1, 23); seria o “Sol da Justiça, que traz a Salvação em seus
raios” (Ml 3, 20).

4. O Novo Testamento: Jesus e os enfermos

Todos os temas presentes no Antigo Testamento a respeito do Messias dão a idéia de


salvação, presente em Jesus, como uma plenitude de bens, de vida e saúde, de cura das
enfermidades humanas, de esperança e consolo.
No Novo Testamento, vê-se Jesus cumprindo as profecias. Um dos textos claros, neste
sentido, é Lucas 7, 22: “Ide anunciar a João o que tendes visto e ouvido: os cegos vêem, os coxos
andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, e aos pobres é
anunciado o evangelho” (E Jesus acabara de fazer muitas curas: cf. v. 21).
Fundamentalmente, os evangelistas se esforçam por transmitir aos seus leitores e
ouvintes, a verdade que Jesus é o Messias anunciado pelos profetas, o Filho de Deus, que devia
vir a este mundo para realizar o plano do Pai: a salvação dos homens e a manifestação do Reino
definitivo (cf. Mt 1, 21-22; 16, 16; Mc 1, 1-15; 15, 39; Lc 7, 18-23; Jo 4, 25-26; 11 ,27, etc).
Anunciava o Reino de Deus (cf. Lc 9, 11) presente n’Ele e em sua obra (cf. Mt 12, 28; Lc 11,
20).
A Encarnação do Verbo, na plenitude dos tempos, quando “se fez carne, e habitou entre
nós” (cf. Jo 1, 14), é salvífica, pois Ele veio ao mundo “para salvar o povo de seus pecados” (cf.
Mt 1, 21); veio para “expiar os nossos pecados” (cf. 1 Jo 4, 10); veio “para salvar os pecadores”
(cf. 1Tim 1, 15); veio “para nos resgatar de toda a iniquidade e nos purificar” (cf. Tt 2, 14); veio,

68. Ibid., p. 7.
69. Cf. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 1502.

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enfim, para que todos tivessem vida plena (cf. Jo 10, 10).
No início de seu ministério público, “Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas
sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, e curando todas as doenças e enfermidades entre o
povo... e curava a todos” (Mt 4, 23-25). Não somente Jesus curava! Mas dava aos discípulos o
poder que tinha, em forma de mandamento: “Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os
leprosos, expulsai os demônios...” (Mt 10, 8).
Uma palavra pode definir o relacionamento de Jesus com os enfermos: compaixão.
Diversas vezes os evangelistas se referem à sua compaixão. O Catecismo da Igreja Católica diz
que “sua compaixão para com todos aqueles que sofrem é tão grande que ele se identifica com
eles: Estive doente e me visitastes”70. Todos buscavam a Jesus, que a todos recebia. Todos o
queriam tocar e Ele se deixava tocar.
As curas realizadas por Jesus suscitavam a fé em sua Pessoa Divina e levavam os
ouvintes a se tornarem seus discípulos e suas testemunhas. Se Jesus curava, era porque não
aceitava a enfermidade como algo querido normalmente por Deus; mas a cura, a saúde plena,
estas sim, eram desejadas por Deus. Jesus curava porque os via doentes, e porque manifestava,
assim, o seu amor e a sua caridade. O amor de Jesus é sempre curativo! E a ninguém que dele se
aproximasse teria dito: volta para casa com tua enfermidade, porque Deus Pai assim o deseja, e
te abençoa com a doença! Ao contrário: curou a todos os que dele se aproximaram e lhe pediram
com confiança e fé (cf. Mc 6, 56). Jesus quer dar a saúde. Ele é o divino médico quer curar o
homem totalmente (cf. Mt 8, 3; Mc 1, 41; Lc 13, 32).
Deus pode, é certo, permitir que uma doença permaneça em uma pessoa, sendo a mesma
um meio de santificação e purificação para si e para os outros. De modo geral, a vontade de Deus
é que o homem seja curado para poder louvá-Lo com todo o ser. Jesus demonstrou isto em sua
vida pública ao curar os doentes. Compadecia-se dos doentes e manifestava seu amor, sua
caridade, curando-os. Ele mesmo disse: “os sãos não precisam de médicos, mas os enfermos”
(Mc 2, 17). E Jesus ali estava como o médico divino do corpo, da mente e da alma dos homens.

5. A Igreja e o poder de curar doenças

Após a ressurreição, Jesus apareceu aos apóstolos e lhes disse: “Como o Pai me enviou,
assim também eu vos envio” (Jo 20, 21). A missão que Jesus recebeu do Pai, de tornar presente
entre os homens o seu amor salvífico, Ele o transferiu à sua Igreja. A missão de Jesus e da Igreja
é a salvação dos homens, e esta é a vontade do Pai (cf. 1 Tim 2, 4).
Ao se despedir dos apóstolos, Jesus ordenou: “Ide por todo o mundo e pregai o
Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será
condenado. Estes milagres acompanharão aos que tiverem crido: expulsarão os demônios em
meu Nome, falarão novas línguas, manusearão serpentes, e se beberem algum veneno mortal não
lhes fará mal; imporão as mãos sobre os enfermos e eles ficarão curados” (Mc 16, 16-18).
A intenção de Jesus é bem clara: “Estes milagres acompanharão aos que tiverem crido”.
Já mesmo durante a vida pública de Jesus, os apóstolos puderam testemunhar o poder curativo
que Ele lhes dava: pregavam e curavam os doentes (cf. Mc 6, 13; Lc 9, 6).
Nos Atos dos Apóstolos, os milagres acontecem pelo poder do nome de Jesus e do seu
Espírito. Era o Senhor confirmando a pregação apostólica (cf. Mc 16, 20). Eis alguns relatos da
era apostólica:

a) Pedro cura um coxo de nascença, com mais de quarenta anos de idade (cf. At 3,1;
4, 22);
b) A sombra de Pedro, passando por sobre os doentes os curava; Deus fazia milagres
extraordinários por intermédio de Paulo (cf. At 5, 12-16; 19, 11-12);

70. n. 1503.

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c) Na Samaria, com o Diácono Filipe, acontecem prodígios e curas (cf. At 8, 4-8);


d) Pedro, em Lida, cura o paralítico Enéias (cf. At 9, 32-35); este fato trouxe muitas
pessoas à conversão para a fé;
e) Em Jope, Pedro ressuscita a Tabita, o que suscita a fé em muitos corações, que se
voltam ao Senhor (cf. At 9, 36ss);
f) Em Icônio, o Senhor operava prodígios por meio de Paulo e Barnabé (cf. At 14,
1ss);
g) Em Listra, Paulo cura um homem aleijado das pernas, coxo de nascença (cf. At
14,8);
h) Em Trôade, Paulo ressuscita um moço (cf. At 20, 7-10);
i) Em Malta, Paulo cura o pai de Públio, impondo as mãos; e cura os doentes da ilha
(cf. At 28, 8-9).

Se Jesus associou a evangelização aos sinais visíveis de seu poder presente na Igreja, não
se pode separar evangelização e sinais, sem deturpar sua intenção. Após a era apostólica, a Igreja
continuou a exercer estes dons de cura e milagres; é conhecida a fama dos santos, dos místicos,
por seus milagres em favor do povo. Associou-se assim, com o passar do tempo, a santidade ao
fato de se realizarem milagres e curas em benefício dos enfermos. Esta idéia da santidade, unida
a fatos prodigiosos, manteve-se firme por vários séculos na Igreja: ser santo era operar prodígios
e curas.
Depois do Concílio do Vaticano II surgiram na Igreja Católica diversos grupos que
retomaram o uso dos dons carismáticos. Conseqüentemente, os dons de cura começaram a
expressar-se com mais freqüência no meio do povo, como um aspecto da unção do Pentecostes
renovado. A Renovação Carismática Católica, especialmente, contribuiu para isso.
O Catecismo da Igreja Católica atesta essa vontade de Deus em curar o seu povo e
reconhece: “O Espírito Santo dá a algumas pessoas um carisma especial de cura para manifestar
a força da graça do ressuscitado”71. Dessa fonte maravilhosa, os grupos de oração da Renovação
Carismática Católica têm bebido e é possível testemunhar as maravilhas que o Senhor tem feito
neles.

6. E quando as curas não acontecem?

Essa questão é intrigante e inquieta a muitos os que se dedicam a orar pelos enfermos.
Existe sempre um mistério em torno da vontade de Deus. Por que uns são curados e outros não?
Embora seja da vontade de Deus curar o seu povo, é bom lembrar que “mesmo as orações
mais intensas não conseguem obter a cura de todas as doenças” 72. São Paulo teve que aprender
que “basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que minha força manifesta todo o seu poder” (2
Cor 12,9). Ele ensina que alguns sofrimentos devem ser suportados na vida e que eles fazem
parte da caminhada: “Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às
tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (Col 1,24).
Assim, pode-se sempre rezar pela cura, mas cabe ao Senhor curar segundo a Sua vontade.

7. A oração de cura

As orientações expressas a seguir têm um caráter introdutório e servem como um rumo


geral a todos os cristãos. Quando o dom da cura começa a se manifestar com freqüência na vida
do participante do grupo de oração, isto é um sinal que ajuda a caracterizar um serviço específico
ou ministério. Nesse caso torna-se necessária uma formação específica e mais aprofundada.

71. n. 1508.
72. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, n. 1508.

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Jesus assegura que é possível obter o que se pede na oração (cf. Mc 11,24). A oração de
cura está intimamente unida à fé no poder de Deus, a quem nada é impossível. O dom da cura,
ou a graça de curar as doenças no poder do Espírito Santo é tratado na Sagrada Escritura de uma
forma bastante simples, no conjunto dos demais dons carismáticos: “...a outro, a graça de curar
as doenças no mesmo Espírito” (1 Cor 12, 9b); mas “um mesmo Espírito distribui todos esses
dons a cada um como lhe apraz” (1 Cor 12, 11).
É Deus quem cura sempre, servindo-se de instrumentos humanos. Por isso, todo cristão
pode pedir o dom de cura e, na medida em que rezar pelos doentes, começará a constatar que as
curas ocorrem.
Para rezar pela cura, outros dons podem ser usados. Por exemplo, a palavra de ciência,
que fornece um “diagnóstico”, ou causa da doença. Também a orientação sobre como orar e o
que dizer à pessoa por quem se ora, pode ser adquirida através de uma palavra de sabedoria ou
do dom do discernimento.
O padre Dario Betancourt73 usa o texto do Eclesiástico 38, 9-12 para indicar os passos
para a cura:
a) Orar pedindo a cura: v. 9 - “Meu filho, se estiveres doente não te descuides de ti, mas ora
ao Senhor, que te curará”.
b) Arrepender-se e confessar os pecados (confissão sacramental): v.10 – “Afasta-te do
pecado, reergue as mãos e purifica teu coração de todo o pecado”.
c) Ir à missa e oferecê-la pela cura: v. 11 – “Oferece um incenso suave e uma lembrança de
flor de farinha; faze a oblação de uma vítima gorda”.
d) Procurar o médico e tratar-se: v. 12 – “Em seguida dá lugar ao médico, pois ele foi criado
por Deus; que ele não te deixe, pois sua arte te é necessária”.

7.1. A oração de cura interior no grupo de oração74

a) Considerações

Há, com toda certeza, também em seu Grupo, pessoas portadoras de problemas
psicológicos, de feridas psíquicas. Pessoas que passaram por momentos dolorosos e ficaram
marcadas, feridas, abaladas. São portadoras de traumas.
Os traumas podem ser de múltiplas espécies: traumas de rejeição de vida, de amor ou de
sexo, traumas de medos compulsivos e inquietadores; traumas de sexualidade; de experiências
marcantes em doenças graves, acidentes, cirurgias e mortes de entes queridos; traumas de
separações matrimoniais, sempre tão dolorosas; escravidão e vícios; frustrações diversas;
complexos nos relacionamentos humanos e tantos outros.
Coordenador, você não pode omitir-se no cuidado da cura do psiquismo dos
participantes! Ela é necessária e imprescindível para que as pessoas tenham sua natureza interior
sadia e estejam em boas condições psicoemocionais, a fim de que o Espírito santo de Deus possa
nelas realizar a sua obra. A graça de Deus para a santificação supõe a natureza apta e preparada.
Isto é, se a pessoa está ferida, marcada, escravizada, amortecida interiormente, o Espírito terá
dificuldades de agir nela.
A oração de cura não deve ser programada para abranger todo o tempo do grupo de
oração. Ela acontece no decorrer da oração e, conforme a necessidade dos participantes. É

73. Cf., p. 36.


74. O conteúdo desse item, bem como o do item 7.2, foi tomado de Alírio José PEDRINI, Grupos de oração:
como fazer a graça acontecer, passim. O padre Alírio faz uma abordagem prática da oração de cura, tal como deve
ser ministrada nas reuniões de oração. Não se trata de um modelo único e fechado, mas de orientações aplicáveis
total ou parcialmente nas reuniões ou na dinâmica do grupo de oração, de acordo com o discernimento e
planejamento do núcleo de serviço. O leitor observará uma mudança de estilo de linguagem.

37
38

preciso discernimento para enfocar os pontos sensíveis no espírito para aquele momento. As
reuniões específicas para cura física e cura interior em outros momentos poderão ser mais
extensas e detalhadas. No grupo, se houver oração de cura, voltar logo ao louvor.

b) Quando orar para a cura interior

A necessidade de cura interior é evidente. O povo de Deus é ferido. Por isso, a partir da
realidade de seu Grupo, você programa o processo necessário de cura dos seus irmãos. Você
pode utilizar-se de diversas oportunidades como: o transcurso da própria reunião de oração;
uma ou mais reuniões programadas para a oração de cura interior; um retiro de fim de semana
todo dedicado à cura dos participantes; ou ainda um seminário de cinco, sete semanas, todo
dedicado à cura dos participantes.

c) Como orar

Nas oportunidades surgidas durante a reunião de oração pode-se seguir esses passos:

1. Motivação à oração de cura interior


2. Criar clima da presença de Jesus, invocando-o e adorando-o
3. Apresentar e entregar o problema a Jesus
4. Se for necessário, realizar os passos do perdão
5. Orar pela cura interior, interceder, pedir a cura em nome de Jesus, pelo poder do seu
sangue. Orar em línguas
6. Pedir os frutos do Espírito Santo de Deus para criar nova realidade psicológica e
emocional
7. Agradecer e louvar pela cura.

Analise, cada um destes passos e perceba a seqüência lógica e necessária existente entre
eles. Na oração de cura interior não seja imediatista. Não pule degraus. Não passe de imediato a
realizar o passo número cinco, sem preparar os corações feridos. Faça bem feito, com fé viva,
sabedoria e confiança, para que a cura possa acontecer.

d) Oração de cura interior por etapas

Você pode programar uma caminhada de cura interior realizando-a por etapas ou área de
relacionamento. Você reserva vinte a trinta minutos da reunião de oração para fazer a graça
acontecer. Em cada reunião, faz-se oração de cura interior por uma determinada área da vida das
pessoas.
Você pode programar orações de cura interior dos problemas:
1. Da fase da vida intra-uterina, pré-natal,
2. Do nascimento até 3 ou 4 anos,
3. Da meninice, dos 5 aos 10 anos,
4. Da adolescência,
5. Da juventude até o casamento,
6. Da vida matrimonial,
7. Da fase escolar,
8. Do tempo de trabalho.

Nessas etapas, orar sobre todos os possíveis acontecimentos dolorosos ocorridos como:
problemas de relacionamento em família, rejeições, desamores, enfermidade, mortes, traumas de
acidentes, problemas de sexualidade, etc.

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7.2. Oração de cura física no grupo de oração

a) Considerações

Dentre os participantes de seu Grupo de Oração há sempre portadores de problemas de


saúde física, menores ou mais graves. Jesus ressuscitado continua amando e tendo compaixão
dos enfermos e doentes que participam de seu Grupo de Oração. Ele pode curá-los. Faz parte de
sua missão provocar encontros entre os portadores de problemas de saúde do seu Grupo de
Oração e Jesus. Sua missão inclui a tarefa de ser mediador, intermediário e intercessor dos seus
irmãos doentes com Jesus, para que os possa curar.
Nosso povo tão empobrecido, mal-alimentado mal-cuidado, é muito doente. Quem é
doente sofre. Quem sofre necessariamente procura solução para os seus males. É preciso
compreender a realidade de quem sofre. É preciso sentir o que sentem e aliar-se a eles para a
solução de suas doenças e sofrimentos.
Jesus é o mesmo ontem, hoje e sempre. Sabemos do número cada vez maior de pessoas
que são curadas nos nossos grupos de oração. Como coordenador, você deve estar atento e aberto
a fazer a graça da saúde acontecer nos participantes do seu Grupo de Oração.

b) Oportunidades de orar pelos doentes

São diversas as ocasiões e possibilidades de se interceder pelos necessitados de saúde:

- Criar um serviço carismático permanente de oração pelos doentes, um ministério de oração


pelos enfermos, animado por algumas pessoas maduras, esclarecidas e acolhedoras dos carismas,
que se disponham a rezar pelos necessitados de saúde física.

- Grande oração de cura física fora da reunião de oração: realize periodicamente, a cada mês ou
dois meses, uma grande oração de cura física fora da reunião de oração. Nesta reunião
programada, os cantos, a Palavra de Deus escolhida, os testemunhos, tudo seja direcionado para
despertar a fé na presença e poder de Jesus vivo e preparar os corações para receberem as
bênçãos da saúde.

- Oração de cura física nas reuniões de oração: outra oportunidade para rezar pedindo saúde é
aproveitar as chances que se apresentam naturalmente, durante as reuniões de oração. Essa
oportunidade pode ser percebida na oração de um participante que reza pedindo saúde, ou
através de uma profecia na qual o Senhor fala que está a curar, através de palavra de ciência, ou
de outro modo. Ao perceber a oportunidade, o coordenador assume a palavra e deve rezar pela
saúde física, nas necessidades apresentadas.

Para a eficácia da oração pedindo cura física, é útil levar em consideração três passos:
criar clima favorável à oração de cura física, orar ao Senhor pedindo a cura e agradecer e
testemunhar a cura recebida.

8. Motivos que impedem ou dificultam a cura

Sabe-se que Deus quer a cura dos seus filhos; se ela acontece num momento ou noutro,
ou mesmo se não acontece, cabe somente a Deus conhecer os últimos motivos ou razões.
Contudo, observa-se que algumas razões ou motivos podem impedir ou dificultar a cura. Francis

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40

Macnutt75 chega a enumerar 11 dessas causas, admitindo ainda que outras devem existir.
Algumas parecem mais fundamentais e comuns:

a) A falta de fé

Muitos procuram a cura como tal, sem um interesse maior em melhorar sua vida
espiritual, em participar dos sacramentos, da vida comunitária eclesial. Procuram a cura em si, e
não o Senhor que cura. Procuram a cura como um ato pelo qual se livram de suas enfermidade
ou problemas emocionais. Buscam a cura nos grupos de oração, tanto quanto no espiritismo ou
curandeirismo.
Jesus ensina que a fé em sua pessoa, como Filho de Deus, revelador do amor do Pai,
salvador do homem, é necessária para a vida em todos os momentos e não somente por ocasião
das enfermidades. O Evangelho diz: “Estando Jesus em Nazaré, ali não fez milagre algum, por
causa da desconfiança dos que com ele estavam” (Mc 6, 5-6; Mt 13, 58; Jo 12, 37); por vezes,
“ele se contristava com a dureza de seus corações” (Mc 3, 5). Ao convidar Pedro para que este
caminhasse sobre as águas, exigiu dele um ato de fé, e fé firme! E ao estender-lhe a mão e
segurá-lo lhe disse: ”homem de pouca fé, por que duvidaste?” (Mt 14, 31).
Diante do menino epiléptico, não curado pelos discípulos, Jesus os censura dizendo: “Foi
por causa da vossa falta de fé!” (Mt 17, 20). Na travessia do lago de Tiberíades, após ter
acalmado a tempestade, Jesus disse aos discípulos: “Como sois medrosos. Ainda não tendes fé?
(Mc 4, 40). Ao falar da providência do Pai, repreendeu os discípulos: “homens de fé pequenina!”
(Lc 12, 28).
Se por um lado, Jesus notava a falta de fé nos ouvintes, por outro lado, curava porque via
a fé presente nos pedidos de cura: “Vai, seja feito conforme a tua fé” (Mt 8, 13). Ele curou o
paralítico, “vendo a fé daquela gente” (Mt 9, 2). À hemorroíssa Ele disse: “Filha, a tua fé te
salvou. Vai em paz e sê curada do teu mal” (Mc 5, 34). À mulher pecadora, na casa de Simão,
lhe disse: “Tua fé te salvou; vai em paz” (Lc 7, 50).
O cristão de hoje precisa, como sempre, se aproximar de Jesus com toda a fé do coração;
se ainda não a tem, pode rezar pedindo, como fizeram os apóstolos: “Senhor, aumenta-nos a fé”
(Lc 17, 5); pois Jesus é o “autor e consumador da nossa fé!” (Hb 12, 1).

b) A falta de perdão

Jesus parece colocar um acento especial no perdão como condição para a cura; insiste
para que se reze por aqueles que causaram mal a outrem e até que se ame os inimigos (cf. Mt 5,
43-48). A falta de perdão parece ser uma das causas mais constatáveis do porquê de muitos não
receberem a cura. Constata-se que “o ódio e os maus relacionamentos provocam todas as
espécies de enfermidades, e essa enfermidade habitualmente permanece, até que a causa
originária seja removida” 76. Quanto mais se perdoa de coração, mais facilmente acelera-se o
processo curativo. Jesus deu o exemplo, estando pregado na cruz: pediu ao Pai que perdoasse a
seus algozes (cf. Lc 23, 43).
O texto de Lucas 6, 37 “perdoai e sereis perdoados”, pode também ser acomodado assim:
“perdoai e sereis curados”. O perdão é decisão firme da vontade, e não apenas um sentimento
passageiro. Jesus abençoa a decisão do homem e faz fluir o seu amor, capacitando-o para o
perdão. A falta de perdão poderá impedir a cura; o perdão oferecido de coração sincero acelerará
a cura.
Perdoar não é fácil, humanamente falando. É preciso fé, decisão da vontade e confiança

75. É Jesus que cura, p. 245ss.


76. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Carismas no grupo de oração, p.36.

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em Deus! “Orai pelos que vos maltratam e perseguem” (Mt 5, 44). Quando se reza por alguém se
deseja todo o bem. E o perdão virá!

c) O pecado

O pecado bloqueia a comunhão de vida com o Senhor. Se o pecado é transgressão da lei


de Deus (cf.1 Jo 3, 4), o amor a Deus é justamente cumprir seus mandamentos. Quem cumpre os
mandamentos ama a Deus; e, se assim age, não peca e vive em sua graça (cf. Jo 14, 21; 1 Jo 5, 2-
3).
Muitas enfermidades provêm da falta de observância da lei de Deus, da lei do Evangelho,
que é fundamentalmente amor a Deus e aos irmãos. Jesus, ao curar o paralítico, perdoou
primeiro o seu pecado e a seguir o curou de sua paralisia (cf. Lc 5, 17-26). Para Jesus, neste caso,
a paralisia estaria de alguma forma relacionada com o pecado. Em Marcos 11, 25, Jesus
recomenda o perdão antes da oração para que esta seja ouvida. Ele também recomenda a
reconciliação antes da oferta sacrifical (cf. Mt 5, 23-24).
Jesus veio libertar e salvar o homem do pecado. O perdão pode ser adquirido pelo
sacramento da reconciliação. Jesus se tornou “a expiação de nossos pecados” (cf 1 Jo 3,5). “Ele
é justo e fiel para nos perdoar os pecados e para nos purificar de toda iniquidade” (1 Jo 1,9).
A experiência de orar pelos enfermos tem ensinado que muitas vezes as enfermidades
físicas e emocionais têm causas espirituais, isto é, a transgressão de alguma lei de Deus, a
inobservância de seus mandamentos. Certa ocasião, uma pessoa estava desesperada: não dormia,
não se alimentava direito, vivendo sob calmantes. Ao conversar com o sacerdote constatou-se a
violação de uma lei moral. A pessoa foi confortada e recebeu o sacramento da reconciliação. E
ela se refez física, emocional e espiritualmente. O perdão de Deus traz calma, serenidade,
equilíbrio, saúde e cura! O pecado é algo que destrói o equilíbrio da personalidade humana.
Ao rezar por alguém em favor de sua cura, é sempre aconselhável pedir a Jesus que
perdoe seus pecados. E, sendo possível, levá-lo à confissão sacramental.

9. Conclusão

Algumas vezes o caso exige que se ore várias vezes, até que a cura total seja constatada.
Pode acontecer que o empecilho para a cura esteja no ministro e não no “paciente”; por isso,
antes de rezar por alguém, cada um deve verificar suas condições espirituais.
Ocorre também considerar que nem sempre a cura é imediata. O tempo exato em que a
pessoa deve ser curada depende apenas de Deus. O necessário ao cristão é que faça a sua parte,
mantendo-se “na brecha” para que Deus possa agir.

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CAPÍTULO NONO
Carisma da Fé77
1. Introdução

O cristão pode ter ousadia em sua vida sabendo que é uma pessoa de fé. Pode reivindicar
a fé necessária para qualquer situação. Que benção é poder ter certeza que a fé é dom derramado!
“Porque é gratuitamente que fostes salvos mediante a fé. Isto não provém de vossos méritos, mas
é puro dom de Deus” (Ef 2,8).

2. Conceito

A Carta aos Hebreus apresenta em seu capítulo 11 um dos textos mais expressivos a
respeito da fé. Diz o texto sagrado: “A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito
do que não se vê. Foi ela que fez a glória de nossos antepassados. Pela fé reconhecemos que o
mundo foi formado pela palavra de Deus e que as coisas visíveis se originaram do invisível. (...)
Ora, sem fé é impossível agradar a Deus, pois para se achegar a ele, é necessário que se creia
primeiro que ele existe e que recompensa os que o procuram” (Hb 11, 1-3.6).
A fé é, em última análise, um dom que o Espírito Santo colocou à disposição do homem
para que ele possa experimentar concretamente da onipotência de Deus.
A fé, no mundo de hoje, é um grande desafio, pois muitos só crêem em si mesmos, nas
suas próprias capacidades, nos seus próprios talentos, no seu dinheiro, nos seus planos, nas
coisas que são concretas. Já não acreditam nos outros irmãos e a fé em Deus está muito
fragilizada. Algumas vezes trata-se de uma fé tradicional, vaga, confusa, subjetiva, superficial,
fria, indiferente.
A fé é como um raio de luz que parte de Deus para a alma. O Espírito Santo, que é o
autor da fé, vem ao mundo de hoje reavivar, dando assim sentido à vida cristã de muitos
batizados que viviam indiferentes ao seu estado.
Para compreender bem o que é o dom carismático da fé, é necessário fazer a distinção
entre: a fé teologal ou doutrinal, a fé virtude ou fruto do Espírito Santo e o dom carismático da
fé:

a) Fé teologal ou doutrinal (fé que acredita)

Por ela o cristão acredita nas verdades reveladas por Deus sobre si mesmo e sobre o
homem e que são definidas pela Igreja.
A fé teologal faz o homem crer firmemente em Deus como seu Pai, que se importa com
sua vida. Crer em Jesus Cristo como o enviado do Pai, o Filho de Deus, o salvador do mundo.
Crer também no Espírito Santo que edifica a Igreja de Cristo e a santifica. Crer que o Espírito
Santo é o poder de Deus. E porque crê nas três pessoas da Santíssima Trindade, o homem não só
crê intelectualmente, mas adere profundamente às suas verdades, que se tornam luz e amor para
seu caminho. Essa fé teologal é necessária para a salvação (cf. Gl 2, 15s).
A fé teologal vem em conseqüência do batismo, do anúncio de Cristo, do testemunho, da
catequese. É ela que aprofunda a esperança e faz o homem agir na caridade (cf. Gl 5, 6).
Fundamentada na Palavra de Deus, nos sacramentos, na vida de oração e na vida comunitária, a
fé teologal é um grande sustento para o cristão do mundo de hoje, onde os homens “não
suportam a sã doutrina” (cf. 2 Tim 4, 3-4).

77. Este conteúdo foi composto originalmente na Apostila de Grupo de Oração da Escola Paulo Apóstolo
(1999, pp. 28 e 29) e foi adaptado para esta apostila.

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b) Fé virtude (fé que confia)

Leva o homem a confiar plenamente na realização das promessas de Deus. Impulsiona-o


a ir além do ato de aderir às promessas de Deus, conduzindo-o a uma entrega total a Deus e à sua
providência (cf. Mt 6, 25).
Pela fé virtude, o homem se abandona à providência divina, pratica a Palavra de Deus,
vive segundo a mentalidade de Jesus Cristo; não só conhece os mandamentos com sua
inteligência, mas interioriza-os no coração, vive os ensinamentos de Deus não como obrigação,
mas por amor, experimenta e crê na bondade e misericórdia de Deus.
Por esta fé o homem prova a si mesmo e ao mundo que a Palavra de Deus não é uma
utopia, mas forte impulso interior, ao qual adere a sua vontade, uma vez que a fé está gravada no
mais profundo do seu coração (cf. Rm 4, 19-21; 1,17).
Esta fé virtude leva o homem a crer e experimentar a bondade, a misericórdia e o amor de
Deus na sua vida (cf. 1 Jo 4, 16), tornando sua oração um ato de fé confiante: “Se Deus é por
nós, quem será contra nós?” (Rm 8, 31-34).
“Porque nele se revela a justiça de Deus, que se obtém pela fé e conduz à fé, como está
escrito: O justo viverá pela fé. Abrão não vacilou na fé, embora reconhecendo o seu próprio
corpo sem vigor – pois tinha quase cem anos – e o seio de Sara igualmente amortecido. Ante a
promessa de Deus, não vacilou, não desconfiou, mas conservou-se forte na fé e deu glória a
Deus” (Rm 1,17; 4, 19-21).

c) O dom carismático da fé (fé expectante)

A fé carismática se manifesta quando uma pessoa é movida a ter uma confiança íntima de
que Deus agirá de forma atual. Essa confiança leva a uma oração convicta, a uma decisão, a uma
firmeza de atitude ou a algum ato que libera a bênção de Deus78 (cf. Mc 11, 22-23; Mt 11, 24; Ex
14, 13-14; 1 Rs 18, 20-40).
Essa certeza é tão especial que Deus age, e o resultado manifesta a glória de Deus. O
padre Ovila Melançon79 ensina que este dom é dado em vista de ajudar a orar “com absoluta
confiança e sem duvidar”.

3. O dom da fé na Palavra de Deus

Na Palavra de Deus existem vários episódios que descrevem a ação poderosa de Deus
movida pela fé:
 Rom 4,23-24
 Ex 14,10 – Moisés diante das murmurações do povo, ao ver os egípcios se aproximarem.
 Ex 14, 13-14 – resposta de Deus.
 Ex 14, 16-21 – Moisés estende a mão sobre o mar, confiante que Deus irá operar
maravilhas.
 1 Rs 18, 20-40 – Elias e os profetas de Baal – usou Elias o dom carismático, pois agia
com muita autoridade e confiança. A fé dava-lhe a certeza antecipada de que o Senhor
agiria a seu favor.

Milagres realizados por Jesus em razão do dom carismático da fé:


 Mt 8, 5-13 – centurião

78. Cf. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Carismas, p.


79. Cf. Jesus Vive e é o Senhor, n. 68.

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 Mt 15,21-28 – cananéia
 Mc 5,25-34 – hemorroíssa
 Lc 5,21 – paralíticos e os amigos
 Jo 11,1-44 – ressurreição de Lázaro.

4. O exercício do dom carismático da fé

O dom carismático da fé é sempre crer incondicionalmente no poder de Deus; crer é saber


que Ele agirá aqui e agora para o bem do povo, curando, libertado e realizando milagres que
levem à edificação do Reino. Jesus diz: “Se creres, verás a glória de Deus” (Jo 11, 40).
Não é preciso “fazer força” para ter fé, nem “forçar” Deus agir com “palavras de fé”. A fé
é um dom gratuito e o cristão deve, com muita tranqüilidade, sempre crer que Ele faz o melhor e
nunca decepciona aquele que nele confia, como diz Jesus: “Se vós que sois maus sabeis dar boas
coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas ao que lhe pedirem” (Mt
7,11).

5. Conclusão

O dom da fé é um presente que Deus dá para o bem da comunidade, assim como os


demais dons. Nunca é demais notar que esse dom está profundamente associado com a caridade.
Como os dons são dados para o bem comum, sua prática reflete a caridade. Assim também
acontece com o dom da fé.
Portanto, como diz São Paulo, o cristão deve se empenhar em procurar a caridade, mas
deve também aspirar igualmente aos dons espirituais (cf. I Cor 14,1). Assim, é bom e necessário
pedir com insistência ao Pai o dom da fé, para realizar as obras que constroem o Reino e
edificam a Igreja.

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CAPÍTULO DÉCIMO
Dom de Milagres

1. Introdução

O dom de milagres sempre esteve presente na história da salvação, desde o Antigo


Testamento, provando a presença viva de Deus junto ao seu povo eleito. Muitos milagres eram
operados através dos patriarcas (cf. Ex 7, 8-13), dos profetas (cf. 1 Rs 17, 7ss; 1 Rs 18, 20ss; 2
Rs 2, 19ss) e outros tantos narrados na Bíblia.
Os milagres atestavam a divindade do Deus da Aliança, sua predileção por seu povo
escolhido, sua assistência divina, seu poder glorioso. Eram sinais e prodígios que confirmavam a
fé do povo no único Deus verdadeiro.

2. Conceito

O quinto carisma referido em 1 Cor 12 é o “dom de milagres”. Esse dom pode ser
definido como uma ação do poder de Deus intervindo extraordinariamente em determinada
situação. Algumas curas são milagres, mas este dom não se limita à ação de Deus na restauração
da saúde. Em alguns casos, a ação de Deus é súbita e extraordinária. Quando acontece uma cura
instantânea, é milagre porque o fator intervenção de Deus é óbvio a ponto de não ser refutado.
Ou ainda: “O milagre é um acontecimento ou evento sobrenatural, ou a execução de algo que
seja contrário às leis da natureza; é um fenômeno sobrenatural, que desafia a razão e transcende
as leis naturais; este dom é simplesmente a habilidade dada por Deus de cooperar-se com Ele,
enquanto Ele executa os milagres através de um ato cooperativo com os homens” 80.
Todo milagre cristão autêntico aponta para a cruz e a ressurreição, começando com o
milagre inicial da salvação e continuando através de todos os grandes e pequenos milagres
subseqüentes que formam a história de milagres pessoais.
Os milagres são intervenções diretas de Deus na natureza do homem ou na ordem da
criação. Os milagres provam o poder de Deus agindo na vida dos homens, levando-os a uma fé
sempre mais crescente.

3. Jesus e os milagres

Os evangelistas usam três termos ao se referirem à intervenção de Deus em Jesus: falam


de fatos miraculosos, de demonstração de força e de sinais; geralmente, a palavra “milagre” vem
acompanhada de um ou outro termo (revelando ser o milagre uma manifestação de força divina e
sinal de ação de Deus). O que mais se realça nos milagres de Jesus é ser um fato extraordinário:
cura instantânea de doenças incuráveis, ressurreição dos mortos, multiplicação dos pães, o que
faz o povo se maravilhar. O escopo evangélico é o de ressaltar a manifestação da força e o
caráter de sinal. Este é o sentido dos milagres de Jesus: abrir os olhos sobre o mistério de sua
Pessoa!
As curas e milagres estavam profundamente relacionados com a Pessoa Divina de Jesus,
para a abertura da fé e confirmação de sua união com o Pai (cf. Jo 6, 28-29; 11, 40-42; 14, 11);
estavam relacionados com o poder que Ele tinha como Filho de Deus (cf. Mc 2, 10; At 10, 38); e
estreitamente ligados, combinados com a evangelização que proclamava . Evidenciava-se, assim,
sua divindade de Messias, de Ungido do Pai pelo Espírito Santo (cf. Lc 4, 14; 10, 21).
Durante a vida pública, Jesus não apenas operava milagres para suscitar a fé em seus

80. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Grupo de oração, p.37.

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ouvintes; pois, muitas vezes, por causa da sua obstinação, apesar dos milagres os judeus não
acreditavam n’Ele (cf. Mt 13, 58; Mc 6, 4-6; Jo 12, 37). Mas, freqüentemente, Jesus operava
milagres, deixando-se levar pela compaixão diante do sofrimento humano (cf. Mt 9, 36; 14, 14;
Mc 8, 2; Lc 7, 13). Quantos creram por causa dos milagres de Jesus! Quantos creram n’Ele,
vendo seus milagres e ouvindo a sua palavra!
Os milagres eram também um meio do povo glorificar a Deus: ao curar a mulher que
vivia encurvada fazia dezoito anos (cf. Lc 13, 10ss), o povo foi levado ao entusiasmo; ao
presenciar a cura de um cego em Jericó (cf. Lc 18, 35ss), o povo deu glória a Deus; ao curar o
paralítico em Cafarnaum (cf. Mt 9, 1ss), o povo glorificou a Deus por ter dado tal poder aos
homens; ante ao espetáculo dos mudos que falavam, dos aleijados que eram curados, dos coxos
que andavam, dos cegos que viam (cf. Mt 15, 29-31), o povo glorificava o Deus de Israel; ao
suscitar a fé, possibilitava ver a glória de Deus (cf. Jo 11, 40).
Neste sentido, o milagre não apenas revelava a bondade de Deus e sua compaixão pelos
homens ao curá-los, mas “efetuava também a salvação de Deus. É um ato de força, de poder,
para repelir os adversários de Deus: uma irrupção do divino neste mundo, e ao mesmo tempo um
sinal do mundo vindouro”81. Sinalizava-se deste modo a presença salvífica de Deus em meio aos
homens, e a implantação do seu Reino (cf. Mc 6, 7; 7, 26; Lc 7, 22; 9, 1-6; Mt 12, 28; Lc 7,
18ss).
Os milagres de Jesus confirmavam a sua doutrina – é o que os Evangelhos afirmam em
tantos relatos que trazem. A evangelização de Jesus era acompanhada de sinais prodigiosos, de
milagres, confirmando sua eficácia, seu poder. O mesmo aconteceu com os apóstolos na Igreja
Primitiva: “O Senhor cooperava com eles e confirmava a sua palavra com os milagres que a
acompanhavam” (Mc 16, 20).

4. A Igreja e os milagres

Jesus não guardou somente para si este poder que Ele tem como Filho de Deus; nem o
restringiu somente à ação, aos seus gestos e aos anos em que viveu no mundo. Jesus quis que a
Igreja também fosse participante deste seu poder, para continuar a atrair para Ele os homens de
todos os tempos. Assim, após a ressurreição, Ele deu a mesma missão que teve: “Como o Pai me
enviou, assim também eu vos envio” (Jo 20, 21); “Quem vos ouve, a mim ouve” (Lc 10, 10);
“Quem vos recebe, a Mim recebe, e recebe Àquele que Me enviou” (Mt 10, 40).
Ao escolher apóstolos, “confere-lhes o poder de expulsar os espíritos imundos e de curar
todo o mal e toda a enfermidade; de anunciar o Reino de Deus e de curar os doentes; de
ressuscitar, de purificar os leprosos” (Mt 10, 1-8). E os apóstolos “partiram e percorriam as
aldeias, pregando o Evangelho fazendo curas por toda a parte” (Lc 9, 1-6).
O anúncio do Evangelho e os milagres acompanharam os apóstolos, mesmo depois da
ascensão de Jesus ao Pai. Jesus lhes prometera o Espírito Santo, que lhes daria “força” (cf. At 1,
8), que os “revestiria da força do alto” (cf. Lc 24, 49), para cumprimento de suas tarefas, missão
que Jesus lhes dera, de testemunhá-Lo ante os homens de todos os tempos e nações, “até os
confins do mundo”.
A Igreja Primitiva entendeu que a fé em Jesus, tanto dos apóstolos quanto dos seus
ouvintes, provocaria milagres como confirmação da ação de Jesus, pela força do Espírito Santo
(cf. Gl l 3, 5). É o que se ver, por exemplo, na cura do coxo junto à Porta Formosa do Templo
(cf. At 3, 1ss), realizada por Pedro e João.
No Concílio de Jerusalém, Barnabé e Paulo contaram à assembléia quantos milagres e
prodígios Deus fizera por meio deles entre os gentios (cf. At 15, 12). Deus “fazia milagres
extraordinários por intermédio de Paulo, de modo que lenços e outros panos, que tinham tocado
seu corpo, eram levados aos enfermos; e afastavam-se deles as doenças e retiravam-se os

81. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Grupo de Oração, p. 38

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espíritos malignos” (cf. At 19, 11-12).


Assim como Jesus, ao fazer o milagre em Caná, mudando a água em vinho saboroso,
“manifestou sua glória e os discípulos creram n’Ele” (Jo 2, 11), a glória de Deus continuaria
sendo manifestada pelos “sinais miraculosos” edificando e fazendo crescer a fé dos ouvintes.
Na comunidade cujos membros se deixam guiar pelo Espírito Santo (cf. Rm 8,9.14; Gl 5,
16.25), os milagres se tornam presentes, pois são promessas de Jesus a toda sua Igreja: “Quem
crê em mim, fará também as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas, porque eu vou
para o Pai” (Jo 14, 12).
Cabe, pois, a cada cristão, abrir-se sempre mais a este dom que é também necessário nos
dias de hoje. Há, efetivamente, nos tempos atuais, um reflorescimento dos dons carismáticos na
Igreja; o dom de milagres continua sendo necessário para o surgimento e fortalecimento da fé em
Deus.
Assim, “os casos de curas e de milagres são de todos os tempos, e ninguém que tenha fé
em Deus, duvida que Ele tenha operado as curas, os milagres que por meio de pessoas, quer
diretamente, em resposta à oração de seus santos, da Igreja triunfante ou da Igreja militante” 82.

6. Conclusão

O dom de milagres estará sempre presente na Igreja, manifestando a santidade de Deus e


sua ação no mundo, provando seu amor. Deus continuará agindo de forma extraordinária, como
agiu no Antigo Testamento, no Novo Testamento com Jesus e sua Igreja.
Ele quer operar hoje, por meio de cada batizado. Sua vontade não mudou. E quando se
reúnem pessoas para louvar a Deus e proclamar sua glória, não é de estranhar que milagres
aconteçam realmente.
Jesus prometeu sua presença (cf. Mt 18,20): “se dois de vós se reunirem sobre a terra,
para pedir seja o que for, conseguí-lo-ão de meu Pai que está no céu” (Mt 18, 19). Onde está a
Igreja reunida na fé, na esperança, no amor, no louvor, na ação de graças, Jesus se torna presente
como Aquele sobre o qual coloca a sua complacência (cf. Mt 3, 17).
Toda vez que se reúnem em nome do Senhor Jesus, “tendo por Ele acesso junto ao Pai,
no mesmo Espírito” (Ef 2, 18), os milagres podem ocorrer de forma natural, fortalecendo a fé de
todos.
Ainda é preciso acreditar mais e mais neste dom de milagres no coração da Igreja. Por
meio dele, pode-se de forma mais convincente publicar as “maravilhas de Deus” hoje e sempre.
Amém!

82. RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA, Grupo de oração, p.38.

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