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A Torre de Babel,

quadro
de Breughel

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A língua pura
na teoria
da tradução
de Walter
Benjamin
HAROLDO DE
CAMPOS é poeta,
ensaísta e tradutor.
É autor, entre outros
livros, de A Arte no
Horizonte do Provável
(Perspectiva)
e A Educação dos Cinco
H A R O L D O D E C A M P O S Sentidos (Brasiliense)

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E
m seu ensaio de 1921 sobre der Sprachen), ou seja, “o grande motivo
“A Tarefa do Tradutor” (“Die da integração das muitas línguas na única
Aufgabe des Uebersetzers”), língua verdadeira”. Revestindo de termos
Walter Benjamin, depois de mallarmianos as noções de Benjamin, dirí-
proclamar que a tradução, como amos que a “língua suprema”, pelo menos
a filosofia, não tem Musa, afirma a existên- como prenúncio ou anunciação, seria res-
cia de um “engenho filosófico” (“ein gatável, por força da operação tradutória,
philosophisches Ingenium”), cuja “carac- da “língua imperfeita” de partida. Só que,
terística mais íntima está na saudade para Mallarmé, essa tarefa de remissão,
[Sehnsucht] daquela língua que se anuncia salvífica, não caberia ao tradutor, mas ao
na tradução”. E cita, então, uma em- poeta, pois – como a seguir se lê no texto a
blemática passagem, não de um filósofo, que recorre Benjamin – o verso é que “re-
mas de um poeta, Mallarmé (“Crise de munera” (supre) o “defeito” (carência) das
Vers”, 1886-96): línguas. E o poeta ajunta: “filosoficamen-
te”, qual um “complemento superior”.
“Les langues imparfaites en cela que Se submetermos o texto de Mallarmé a
[plusieurs, um escrutínio mais detido, concluiremos
(As línguas imperfeitas por isso que são que a cisão entre a “língua suprema” e as
[muitas,) múltiplas “línguas imperfeitas” resulta da
manque la suprême: penser étant écrire condição babélica, da precária condição da
(falta a suprema: pensar sendo escrever) humanidade dispersa e dividida entre múl-
sans accessoires, ni chuchotement mais tiplas línguas não inteligíveis entre si. O
[tacite pano-de-fundo de tudo o que até aqui se
(sem acessórios nem murmúrio mas tácita) expôs é o episódio bíblico da “Torre de
encore l’immortelle parole, la diversité, Babel” (Bere’shith/Gênese, XI, 1-9).
(ainda a palavra imortal, a diversidade,) Que esse era o pensamento de W. Ben-
sur terre, des idiômes empêche personne de jamin, fica bastante claro se tivermos pre-
(na terra, dos idiomas impede que se) sente um seu ensaio anterior, de 1916,
proférer les mots qui, sinon se trouveraient, “Ueber Sprache ueberhaupt und ueber die
(profiram as palavras que, senão haveriam Sprache des Menschen” (“Sobre a Língua
[de encontrar,) em Geral e sobre a Língua dos Homens”).
par une frappe unique, elle-même Nesse trabalho, a nomeação adâmica é dada
[matériellement como fonte da língua pura: “Der Mensch
(por um ato único de cunhagem, ela mesma ist der Nennende, daran erkennen wir, dass
[materialmente) aus ihm die reine Sprache spricht” (“O
la verité. homem é aquele que nomeia, donde se põe
(a verdade.)” de manifesto que através dele a língua pura
fala”). E Benjamin ajunta, reportando-se à
No contexto do ensaio benjaminiano, a Bíblia (Bere’shith/Gênese, II, 19: “E to-
“língua suprema”, na qual se deixaria es- das/como as chamasse o homem/almas-de-
tampar a “verdade”, corresponde à “língua vida / assim seu nome”): o homem é o
pura” (die reine Sprache), “língua da ver- “Dador-dos-Nomes” (der Namen-
dade” (Sprache der Wahrheit) ou, ainda, Gebende). A isso chama um “conhecimen-
“língua verdadeira” (wahre Sprache), aque- to metafísico” (metaphysische Erkenntnis)
la que, ao tradutor de uma obra de arte recluso nas várias línguas. O mesmo tema
verbal, ao Umdichter (“transcriador”), in- de Adão-Nomenclator é retomado por Ben-
cumbe resgatar de seu cativeiro no idioma jamin no “Prefácio Epistemo-crítico” a seu
original (uma das muitas “línguas imper- livro de 1925, Ursprung des deutschen
feitas” referidas no excerto de Mallarmé), Trauerspiels (Origem do Auto Fúnebre
anunciando-a e deixando assim entrever “a Barroco Alemão). Adão é aí apresentado,
afinidade das línguas” (die Verwandtschaft em lugar de Platão, como “pai da filosofia”,

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e a “nominação adâmica” (das adamitische os descendentes de Adão, os terráqueos,
Namengeben) é vista como uma confirma- cessaram “livnoth ha’ ir”/de construir a ci-
ção do “estado paradisíaco”, para o qual dade, face à babelização – multiplicação e
(como para a “tarefa do tradutor” no ensaio confusão das línguas – promovida pela in-
de 1921) não releva o “conteúdo comunica- tervenção divina). O gesto punitivo de
tivo” (mitteilende Bedeutung) das palavras. YHVH equivale a uma virtual “operação
Assim, “o verdadeiro pecado original desconstrutora”, já que se passa de um es-
[Sündenfall] do espírito lingüístico” e, con- tágio de “construção” (con-structio) para
seqüentemente, “a ruína” (der Verfall) des- outro de “destruição” (de-structio), que
se “bem-aventurado espírito lingüístico arruína o primeiro. Essa “desconstrução” –
adâmico” manifesta-se, “à maneira de uma a essa “incompletude de constructura”, no
paródia”, na palavra “exteriormente comu- dizer de Derrida (1) – fica assinalada no
nicativa”. Isso ocorre quando o homem “de- original hebraico, ademais, por um jogo
cai do status paradisíaco, que conhecia uma etimológico: a palavra bnê (XI, 5, bnê ha’
única língua apenas”. É uma conseqüência adam) vem do mesmo verbo baná, “cons-
– prossegue Benjamin, citando a Bíblia – da truir”; ou seja, o vocábulo que se verte por
“expulsão do Paraíso”. “filho” guarda, no idioma bíblico, o senti-
Voltemos, pois, ao episódio da “Torre do originário de “constructo”, razão pela
de Babel”, que completa, no plano da apli- qual, em minha tradução do sintagma, para
cação da pena, a sentença expulsória com não deixar passar essa relevante conotação,
que YHVH desterrou o homem do Paraíso optei por “filhos-constructos do homem”.
auroral que lhe fora reservado (Bere’shith/ A conotação se estampa de modo tanto mais
Gênese, III, 29). A construção da cidade (’ visível quando se sabe que, sendo o Livro
ir) e da torre (migdal) cujo topo se eleva- de Livros que se denomina Tanakh (Bíblia
ria até o céu, cidade comunitária onde a hebraica) eminentemente intra-e-
humanidade se congregaria, vinculada por intertextual (pois contém remissões ou “ri-
uma “língua-lábio una” (safá’ehad), seria mas” semânticas dentro de cada volume e
uma garantia para os humanos contra a entre os vários volumes do todo), a expres-
“dispersão” (nefutzá) e lhes permitiria são bnê ha’adam recorda, desde logo, que
outorgar-se um “nome” (shem). Essa res- se trata dos descendentes de Adão e Eva,
tituição à unidade da língua edênica se esta última, Havá (“Vida”), a “mãe de to-
realizaria, ademais, por iniciativa desafi- dos os viventes” (III, 20), também “confi-
adora do homem, sem o beneplácito da gurada” – ou, mais literalmente,
graça divina. A retaliação do YHVH (O “construída” – pelo Criador de uma costela
Nome/ Ha-Shem) não se fez esperar. A do homem (II, 22: vayyven / “E Ele cons-
“babelização” (do verbo hebraico bilbbêl, truiu”...).
levalbbêl, XI, 7, venavelá / “e babelize- A cidade da torre que afrontaria os céus,
mos”; XI, 9, balal/“babelizou”) da “lín- produto da hybris humana, como resulta-
gua-lábio una” dos atrevidos rebentos do dessa reversão “desconstrutora” ope-
adâmicos e sua dispersão pela face da ter- rada por YHVH, “Ele-O Nome”, passa
ra foi a represália divina, restauradora da então a denominar-se Babel (Bevel), de-
eficácia da pena de banimento do Jardim signação que procede do mesmo verbo
1iiiiJacques Derrida, “Des Tours
do Éden (III, 23; XI, 8-9). bilbbêl, levalbbêl (XI, 7, venavelá; XI, 9, de Babel”, ensaio incluído em
L’Art des Confins, 1985 (pu-
Na cena bíblica, o tema da “construção” balal), que significa “misturar”, “confun- blicado antes em italiano na
é introduzido como um leitmotiv em XI, 4 dir” e que assinala, nos versículos citados, revista aut-aut, maio-agosto
1982, pp. 189-90), fala de
(nivnê, “construamos”, forma do verbo o processo de “babelização” (“mistura”, uma “coerência de
constructo”, de “sistema em
hebraico baná), e pontua, a seguir, os “confusão”) das línguas, agora múltiplas, desconstrução” e afirma ain-
versículos 5 (no qual YHVH desce para ver “imperfeitas”, porque já não mais reuni- da, a certa altura, “Deus
desconstrói”. Não recorre,
a cidade e a torre “’asher banú bnê ha’ das na “língua-lábio” (safá, etimologi- porém, em apoio dessa re-
adam”/que construíam os filhos-constructos camente “lábio”, em hebraico, significa, flexão, à matriz etimológica
hebraica dilucidada em meu
do homem) e 8 (no qual se descreve como em acepção translata, “língua”) una, ou texto.

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Na página ao seja, na langue suprême, com seu mot to- ria” (o “Dia do Juízo” ou da “Cólera Divi-
lado, o filósofo tal (Mallarmé); na reine Sprache (Benja- na”, “iom evrá / dies irae”, I, 15), Sofonias
min), portadora da “verdade” na unicidade. acena com uma reconciliação através da
Walter Benjamin
Babel (Bevel) é o contrário do onomástico promessa divina:
ou patronímico celebratório ambicionado
pela prole adâmica em sua arrogância que “Ki-az [pois assim]’eheppókh [gratifi-
buscava igualar os humanos aos deuses carei]’el- ammim [os povos] verurá safá
(XI, 6: “E disse Ele-O Nome / um povo [com uma língua-lábio pura; labium
uno / e uma língua-lábio una / para todos electum é a tradução dessa expressão no
// e isto / só o começo do seu afazer /// E latim hebraizado da Vulgata] liqerô [para
agora / nada poderá cerceá-los // no que que clamem] khullám [todos] veshém [pelo
quer / que eles maquinem fazer”; III, 5: “E nome de] YHVH le’avdô [para o servir]
sereis / como deuses // sabedores / do bem shekhém’ehad [de ombro uno; ombro a
e do mal”; III, “E disse / O-Nome-Deus / ombro, como um só homem; humero uno
eis que / o homem / ficou sendo / como um na Vulgata].”
de nós // sabedor / do bem e do mal /// e
agora / se no impulso de sua mão / tomar Uma hipótese legítima – até onde sei,
/ também / da árvore-da-vida / e comer / e não levantada pelos comentadores de
viver para o eterno-sempre?”) (2). Trata- Walter Benjamin – consistiria em admitir
se de um nome dissuasório, negativo, um que a reminiscência bíblica dessa “língua-
antinome, um des-nome, que expressava, lábio pura” ou “purificada”, contida na
na balbúrdia nominativa das línguas con- promessa divina, anunciada por Sofonias,
fusamente múltiplas, o seu próprio teria sido fonte de inspiração para a con-
cancelamento (3). Adão, o Homem- cepção benjaminiana da “língua pura” (die
Húmus, o Terráqueo, aquele que dá no- reine Sprache), juntamente com a noção
mes por outorga divina (II, 19), o mallarmiana da “língua suprema” e aque-
Namengeber, o Nomenclator, encontra no la, extraída do episódio da torre de Babel,
caos multilíngüe de Babel o limite, im- da “língua-lábio una” (safá’ehad).
posto por decisão punitiva de YHVH, à Por outro lado, essa “língua pura”, que
transparência universal de seu nomear Benjamin poderia ter encontrado no vaticí-
paradisíaco, interdito agora na “condição nio de Sofonias (verurá safá), essa língua
babélica” que sobrevém ao desterro do reconciliada do fim messiânico dos tem-
homem. Só a graça divina, através de uma pos, parece coincidir com a “língua silen-
apokatástasis redentora, de uma “recon- ciosa” do filósofo-teólogo existencial ju-
ciliação messiânica”, que revogue a sen- deu-alemão Franz Rosenzweig (1886-
tença expulsória de sinete divino, poderia 1929), amigo de Gershom Scholem e cola-
restituir, à humanidade decaída por força borador de Martin Buber na etapa inicial da
da culpa original (Sündenfall), a sua bem- “transgermanização” (Verdeutschung) da
aventurada “condição edênica” e, com ela, Bíblia hebraica.
a língua pura da verdade. Benjamin recebeu de Scholem o livro
2iiiiReporto-me ao meu ensaio Na própria Bíblia hebraica há um ace- fundamental de Rosenzweig, Der Stern
“A Astúcia da Serpente” e à no a esse retorno “gratificante” ao “estado der Erloesung (A Estrela da Redenção),
tradução dos Capítulos II e III
do Gênese, correspondentes edênico”, a essa intervenção reconci- em 1921, no mesmo ano em que foi pu-
à chamada “segunda história
da Criação”; cf. suplemento liadora da graça divina. Trata-se da “Pro- blicado em Frankfurt (4). A obra chegou-
“Mais!”, Folha de S. Paulo, 7/5/ fecia de Sofonias” (Tzefaniá, em he- lhe às mãos no mês de julho, no momento
95.
braico), visionário apocalíptico que conhe- em que estava elaborando seu ensaio
3iiiiVer, a propósito, as observa-
ções de Henri Meschonnic,
ceu a queda de Nínive em 612 antes de sobre a tarefa do tradutor (escrito entre
“L’Atelier de Babel”, na obra nossa era e, possivelmente, os dois cercos março e novembro de 1921 e só publica-
coletiva Les Tours de Babel,
1985. de Jerusalém (597 e 587-586) e sua toma- do em 1923, como prefácio à tradução
da à época do domínio assírio. Depois de benjaminiana dos Tableaux Parisiens, de
4iiiiCf. Briefe I, carta de 20/7/1921
a G. Scholem. proclamar uma espécie de “fim da histó- Baudelaire). Rosenzweig, aliás, faz expres-

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sa menção à profecia de Sofonias. Para o o silêncio da compreensão completa e con-
filósofo-teólogo, a antecipação, o prenún- sumada [des vollendenten Verstehens]”.
cio daquele “lábio purificado” (geläuterte Para o filósofo: “A pluralidade das línguas
Lippe), com o qual, segundo o profeta, se- é o indício mais claro de que o mundo não
riam agraciados por YHVH “os povos sem- está redimido. Entre homens que falam uma
pre divididos pela língua” (“den allzeit língua comum, basta um olhar para que se
sprachgeschiedenen Völkern”), estaria no compreendam; justamente porque têm uma
“gesto litúrgico” (“in der liturgischen língua comum, é que estão dispensados da
Gebärde”). Benjamin, por seu turno, en- linguagem”. Dessa verdadeira “telepatia”
tende que essa tarefa “anunciadora” (fun- paradisíaca, por meio da qual se comunica-
ção “angelical”, como a chamei em meu ria instantaneamente a comunidade, afinal
livro Deus e o Diabo no Fausto de Goethe) redenta, dos homens, parece participar outra
(5) incumbe ao tradutor e à “forma” tradu- idéia fundamental contida na teoria
ção. No Livro II da Parte III de seu opus benjaminiana do traduzir. Na “língua pura”
magnum, O Caminho Eterno (Der ewige – “língua da verdade” ou “língua verdadei-
Weg), Rosenzweig vincula a profecia do ra”, objeto da “saudade” dos filósofos e da
“lábio purificado” com o “pensamento “incumbência” (Aufgabe) anunciadora de
messiânico” (messianischer Gedanken). que o tradutor se deve desincumbir, “os
Recorde-se que Benjamin acena para o “fim segredos últimos, para os quais todo o pen-
messiânico da história”, como o horizonte samento se empenha em convergir, con-
no qual se dará a anelada harmonização do servam-se isentos de tensão [spannungslos
“modo de significar” ou “de intencionar” / dis-tensos] e em silêncio [selbst
(Art des Meinens, Art der Intentio), oculto schweigend / espontaneamente silentes]”.
nas “línguas individuais, não integradas”, Nessa língua suprema, “que nada mais sig-
mas afinal totalizáveis na “língua pura” da nifica [meint / intenciona] e nada mais ex-
“revelação” (Offenbarung). A tradução, se prime”, mas que é, antes, o perfazimento e
não pode encurtar a distância em que estamos a consumação do significado e intenciona-
desse ponto messiânico de desvelamento do do (das Gemeinte) nas várias línguas im-
“oculto” nas línguas des-integradas (ihr perfeitas, “toda comunicação, todo signifi-
Verbogenes), faz com que o encoberto se cado e toda intenção [alle Mitteilung, aller
presentifique no conhecimento dessa distân- Sinn und alle Intention] alcançam um está-
cia, apontando, pelo menos, “de maneira gio em que estão destinados a extinguir-
admiravelmente percuciente, para algo como se”. Nesse estágio – ultimação messiânica
o reino predestinado e negado da reconcili- do “sacro evoluir das línguas”, maturação
ação e da completude das línguas”. nelas da “abscôndita semente de uma lín-
Em outros pontos se tocam a obra de gua mais alta” – estão destinadas a unir-se
Rosenzweig (cuja influência sobre a teoria “sem tensão” (spannungslos) a língua e a
benjaminiana do auto-fúnebre / Trauerspiel revelação, fundidas na “língua da verdade”
barroco é reconhecida) e o ensaio de Ben- onde, como já se viu, “os últimos segre-
jamin sobre a missão cometida ao tradutor. dos” (die letzte Geheimnisse) se conservam
No livro de Rosenzweig, a “língua pura” “dis-tensos”.
corresponde a uma forma de silêncio Discordo aqui da estudiosa italiana
(“tacite encore l’immortelle parole” / “tá- Antonella Moscati, que, numa “Nota su
cita ainda a palavra imortal”, lê-se – mera Rosenzweig e Benjamin” (6), enfoca o pro-
coincidência? – no excerto de Mallarmé). blema da “língua divina” nos dois autores.
Considerando “o eterno sobremundo” (“die Moscati estabelece uma discutível oposi-
ewige Ueberwelt” ), habitáculo da humani- ção entre a “língua silenciosa” (o “início
dade redenta, Rosenzweig expõe: “Aqui há silencioso” da Criação) no caso de
5iiiNa seção III – “Translucife-
ração Mefistofáustica”, 1980. um silêncio [Schweigen] que não é como o Rosenzweig e a “língua pura”, benjami-
mutismo [die Stummheit] do pré-mundo niana, auto-referencial ao invés de simples-
6iiiiNo mesmo número de aut-
aut, cit. na nota 1. [Vorwelt], o qual ainda não tem palavra. É mente comunicativa, “porém sempre ver-

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bal, palavra criadora”. Reporta-se, para uma “antropologia negativa, perigosamente
tanto, ao ensaio de 1916 (“Sobre a Língua próxima do anti-humanismo e do
em Geral...”), já aqui comentado. Mas pa- impersonalismo de Heidegger” (7). Tam-
rece que lhe escapam as alusões decisivas, bém Henri Meschonnic, embora subscreva
no posterior ensaio sobre o encargo do tra- mais de uma proposição benjaminiana,
dutor (1921-23), ao silêncio sem tensão da acusa o caráter “ainda idealista” que im-
“língua da verdade”, por onde Benjamin se pregnaria a abordagem da “tarefa do tradu-
acerca de Rosenzweig, sem prejuízo dos tor” no ensaio de Walter Benjamin (8).
traços diferenciais sem dúvida existentes Tenho-me colocado, em mais de um
entre o pensamento de ambos. Outro termo trabalho, numa posição diferente (9). En-
de aproximação entre os dois pensadores, tendo que não se pode perder de vista a
no que respeita à concepção da “língua idéia de “ironia” – de jogo irônico – que
pura”, poderá encontrar-se no comum inte- irrompe, significativamente, num momen-
resse de ambos pela filosofia do Romantis- to particularmente relevante do ensaio
mo alemão: Rosenzweig faz expressa refe- benjaminiano. Justamente quando Benja-
rência à Naturphilosophie de Novalis no min assinala que a tradução “transplanta o
Livro II da Parte I de sua obra, intitulado original para um domínio lingüístico mais
“O Mundo e seu Sentido ou Metalógica”; definitivo”, modalizando essa asserção com
Benjamin, em 1919, escreveu sobre o tema a ressalva: “pelo menos, até onde possível
sua tese de láurea, publicada em 1920, Der – ironicamente” (“wenigstens insofern –
Begriff der Kunstkritik in der deutschen ironisch”). E a seguir surge uma referência
Romantik (O Conceito de Crítica de Arte expressa ao “modo de pensar
nos Românticos Alemães). Pois bem, em [Gedankengänge] dos românticos”, não
seu texto de 1798, “Die Lehrlinge zu Sais” obstante o fato, reconhecido no texto, de
(“Os Discípulos em Sais”), que retoma um eles não se terem dedicado à teoria da tra-
tema abordado por Schiller num poema de dução, mas antes à crítica. No livro sobre o
1795, o célebre “Das verschleierte Bild zu conceito romântico de “crítica de arte”
Sais” (“A Imagem Velada em Sais”), (Kunstkritik), Benjamin releva um “mo-
Novalis se refere a uma “escritura prodigi- mento objetivo” na concepção romântica
osa” (Wunderschrift), ao “sânscrito verda- de “ironia”. Um momento de “ironização
deiro” (die echte Sanskrit), às “runas da forma”, que envolve o “elemento
excelsas” (die hohe Rune), expressões, to- destrutivo na crítica” (das Zerstörende in
das essas, para designar “a sagrada escritu- der Kritik). Essa “destruição da forma é a
ra” (die Heilige Schrift), que “não necessi- tarefa [die Aufgabe] da instância objetiva,
ta de explicação” (keiner Erklärung na arte, da crítica”. A “ironia formal”, por
bedarf). Descrita como “um acorde na sin- seu turno, “representa a tentativa parado-
fonia do universo” (ein Akkord aus des xal de, no produto, construir ainda que atra-
Weltalls Symphonie), essa escritura entre- vés da demolição”.
teria uma “miraculosa afinidade com os De fato, Benjamin desconstitui e
verdadeiros mistérios” (wunderbar desmistifica a ilusão da fidelidade ao con-
verwandt mit echten Geheimnisse). teúdo referencial e o dogma da servitude
Um teórico da tradução, Jean-René imitativa da teoria tradicional da tradução.
Ladmiral, confrontado com os aspectos Para isso se vale da metáfora da “língua
7iiiiCf. “Entre les Lignes, entre
esotéricos do ensaio sobre a tarefa pura” e do paradigma da nomeação les Langues”, in Revue
tradutória, escrito por um Benjamin pré- adâmica, advertindo, no entanto, desde o d’Esthétique, nouvelle série,
1, 1981 (número especial so-
marxista, fascinado pela cabala e pela seu ensaio de 1916, “Sobre a Língua em bre W. Benjamin).
hermenêutica bíblica, indigita a “metafísica Geral...”, que o recurso à fonte escritural 8iiiiCf. Pour la Poétique II, 1973.
do inefável”, supostamente infiltrada nas “não se punha como escopo uma interpre-
9iiiiVer “Da Transcriação: Poéti-
concepções benjaminianas. Sob a forma de tação da Bíblia, nem visava propor, nessa ca e Semiótica da Operação
Tradutora”, in Semiótica da
um “literalismo anticomunicacionalista”, instância, a Bíblia objetivamente como Literatura, Cadernos PUC-SP,
essas concepções estariam impregnadas de verdade revelada com fundamento na re- 28, 1987.

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flexão”. O que lhe interessava, no paragão
bíblico, era o que dele se poderia auferir
para a perquirição da natureza da língua
mesma. O que Benjamin extrai do
paradigma é a noção de que “a língua não
é jamais apenas comunicação do comuni-
cável [Mitteilung des Mitteilbaren], mas
também símbolo do não-comunicável”.
Transpondo esse conhecimento para a teo-
ria da “forma” tradução, relativa à “obra de
arte verbal” (Dichtung), Benjamin pôde
formular o seu axioma só na aparência
paradoxal: “A tradução que visa a transmi-
tir [vermitteln] nada mais poderá mediar
senão a comunicação [die Mitteilung], por-
tanto o inessencial. E é esta, com efeito, a
marca distintiva da má tradução”, já que o
“essencial” numa obra poética se situa para
além da mera comunicação.
Sob a roupagem rabínica, midrashista,
da irônica “metafísica” do traduzir
benjaminiana, um poeta-tradutor, longa-
mente experimentado em seu ofício, pode,
sem dificuldade, depreender uma “física”
(uma práxis) tradutória efetivamente ma-
terializável. Essa “física” – como venho
sustentando de muito (10) – é possível
reconhecê-la in nuce nos concisos teo-re-
mas de Roman Jakobson sobre a “auto-
referencialidade da função poética” e so-
bre a tradução de poesia como creative
transposition (“transposição criativa”)
(11). A esses teoremas fundamentais da
poética lingüística, os “teologemas” benja-
minianos conferem, por sua vez, uma pers-
pectiva de vertigem.
Para converter a “metafísica”
benjaminiana em “física” jakobsoniana,
10 Pelo menos desde 1975, ano
em que ministrei, no primei-
basta repensar em termos laicos a “língua
ro semestre, meu curso inau- pura” como o “lugar semiótico” – o espaço
gural, em nível de pós-gradu-
ação (PUC-SP) sobre Estéti- operatório – da “transposição criativa”
ca da Tradução. No progra- (Umdichtung, “transpoetização” para W.
ma desse curso já estavam
enunciados os tópicos “A Fí- Benjamin; “transcriação”, na terminologia
sica da Tradução” (a tradu-
ção como produção de in- que venho propondo). O “modo de signifi-
formação estética) e “A car” (Art des Meinens) ou de “intencionar”
Metafísica da Tradução” (so-
bre W. Benjamin). (Art der Intentio) passa a corresponder a
11 R. Jakobson, “On Linguistic
um “modo de formar” no plano sígnico, e
Aspects of Translation”, na sua “libertação” ou “remissão” (Erloesung,
obra coletiva On Translation,
1959; “Linguistics and no vocábulo salvífico de Benjamin) será
Poetics”, na obra, também agora entendida como a operação
coletiva, Style in Language,
1960. metalingüística que, aplicada sobre o ori-

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ginal ou texto de partida, nele desvela o lucidíssima: “A tradução é a transposição
percurso da “função poética”. Essa função, [Ueberführung] de uma língua na outra
por sua natureza, opera sobre a mediante um continuum de transforma-
“materialidade” dos signos lingüísticos, ções”. No capítulo inicial, “Origem. Ori-
sobre “formas significantes” (fono- ginal. Tradução”, de seu livro de 1994,
prosódicas e gramaticais), e não prima- História e Narração em W. Benjamin, J.-
cialmente sobre o “conteúdo comuni- M. Gagnebin volta-se contra as “interpre-
cacional”, a “mensagem referencial”. As tações redutoras” do pensamento
“formas significantes”, por sua vez, cons- benjaminiano, insistindo que “o recurso
tituem um “intracódigo semiótico” virtual teórico à teologia (que não é sinônimo de
(outro nome para a “língua pura” de Ben- invocação à religião) não significa neces-
jamin), exportável de língua a língua, sariamente a afirmação de um fundamento
extraditável de um idioma para outro, quan- absoluto que seria a garantia de um sentido
do se trata de poesia. O tradutor-transcriador transcendente e definitivo” (12). Salienta,
como que “desbabeliza” o stratum por outro lado, a autora que a referência à
semiótico das línguas interiorizado nos Bíblia, no entendimento de Benjamin, não
poemas (neles “exilado” ou “cativo”, nos tem por escopo “a descrição de um passa-
termos de Benjamin), promovendo assim a do hipotético, mas possibilita pensar uma
reconvergência das divergências, a har- concepção não-instrumental da linguagem,
monização do “modo de formar” do poema concepção centrada na nomeação e não na
de partida com aquele reconfigurado no comunicação” (ou, como eu gostaria de
poema de chegada. Essa reconstrução (que dizer, em termos de Jakobson, na auto-
sucede a “desconstrução” metalin-güística referencialidade da “função poética”, não
de primeira instância) dá-se não por na transitividade da “função referencial”
Abbildung (“afiguração imitativa”, “có- ou “comunicativa”). Outro aporte muito
pia”), mas por Anbildung (“figuração jun- significativo de J.-M. Gagnebin está na
to”, “parafiguração”), comportando a trans- ênfase da dimensão histórica do pensamen-
gressão, o “estranhamento”, a irrupção da to de W. Benjamin, no qual discerne “um
diferença no mesmo. laço essencial entre língua e história”. No
A esta altura, cabe referir a importante conceito de Ursprung (origem não como 12 De minha parte, entendo que
há um resíduo “substan-
contribuição de Jeanne-Marie Gagnebin gênese, mas como salto vertiginoso), no cialista” na teoria da tradu-
sobre a função da teologia na teoria da “confronto da origem com a história”, vê o ção exposta por Benjamin.
Este ocorre na “subs-
tradução e na filosofia da história de Ben- “tema-chave” dessa filosofia. Para a auto- tancialização idealizante do
jamin. Já em sua tese doutoral de 1978 ra, o Ursprung “não é simples restauração original”, quando o ensaísta
judeu-alemão introduz uma
(Zur Geschichtsphilosophie Walter do idêntico esquecido, mas igualmente, e “distinção categorial”
(Rangunterschied) entre
Benjamins), a autora sustentava o caráter de maneira inseparável, emergência do di- Dichtung (poesia) e
“não-substancialista do conceito de ori- vergente”; assim também, “não preexiste Umdichtung (tradução de
poesia, “transpoetização),
gem” na reflexão benjaminiana, à história, numa atemporalidade preservando assim a hierar-
quia do original em relação à
colacionando esse conceito com a idéia de paradisíaca, mas, pelo seu surgimento, tradução e afirmando um
“transformação” que pervade o ensaio inscreve no e pelo histórico a recordação e outro dogma, não conva-
lidável na prática: o da impos-
sobre a “tarefa do tradutor”. De fato, o a promessa de um tempo redimido”. sibilidade da tradução da tra-
tema da “transformação” (Wandlung) e da Em meu ensaio “Tradução e Recon-fi- dução, argumento de mani-
festa coloratura ontológica.
“renovação” (Erneuerung), nesse ensaio, guração do Imaginário: o Tradutor como Ver, a propósito, minha con-
tribuição ao dossiê sobre W.
afeta o original, em sua “pervivência” Transfingidor” (13), detive-me sobre essa Benjamin no no 15 desta Re-
(Fortleben), como também a tradução, na dimensão de historicidade, rastreável na vista USP (1992): “O que é
Mais Importante: a Escrita ou
medida em que “se transmuda a língua teoria benjaminiana da tradução, começan- o Escrito? (Teoria da Lingua-
gem em W. Benjamin)”.
materna do tradutor” e que na tradução “a do por lembrar a idéia de “provisoriedade”
vida do original” se desdobra “sempre de (“toda tradução é apenas um modo algo 13 Estampado no no 3, março de
1989, da revista 34 Letras;
modo renovado”. No ensaio de 1916 (“So- provisório de discutir com a estranheza das republicado na coletânea or-
bre a Língua em Geral...”), essa idéia já línguas”), ligada aos conceitos de “trans- ganizada por Malcolm e Car-
men Rosa Coulthard, UFSC,
tinha alcançado uma formulação formação” e “renovação”, de “desdobra- 1991.

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mento” (Entfaltung) do original no estágio Antígone no texto de Hoelderlin, musicado
do seu perviver”. por Carl Orff, entreteve uma conversa ani-
Que se possa deduzir da “metafísica” mada com Heidegger sobre as várias tra-
da tradução benjaminiana uma “física”, duções de Sófocles em alemão. A discus-
uma pragmática do traduzir, e que o ato são acabou por fixar-se no verso “’O
tradutório, tal como Benjamin o concebe, koinòn autádelphon Ismenes kára”. Se-
tenha por horizonte a transformação e a gundo o filósofo, esse verso, se traduzi-
renovação (marcas de historicidade), são do literalmente para o alemão, deveria
aspectos, entre outros, que permitem refu- rezar: “O Haupt, das du gemeinsam mit
tar a assertiva de J.-R. Ladmiral sobre a mir den Bruder hast, Ismene ” (“Ó
aproximação entre Benjamin e Heidegger. primacial, tu que em comum comigo par-
Embora essa refutação demande um ensaio tilhas o irmão, Ismene”). Isso não pode-
autônomo, gostaria, desde logo, de subli- ria ser transposto para o alemão; sobretu-
nhar uma divergência básica entre o “teó- do não o poderia ser da maneira efetuada
logo” irônico, de uma parte, e o grave por Hoelderlin, com a expressão compos-
“ontólogo fundamental”, de outra. O que ta gemeinsamschwesterliches (“em
Heidegger considera “uma tradução essen- sororidade comum”), teria argumentado
cial” (“eine wesentliche Uebersetzung”), Heidegger. Pois no verso sofocliano está
num texto como Der Satz vom Grund, de em jogo a relação comum das irmãs com
1957, envolve uma idéia de retificação de o irmão – “uma relação crucial para a tra-
um falso traslado, uma busca do “autênti- gédia toda”. Perguntado sobre a tradução
co” e do “original” no arcaico. Como ex- que proporia, Heidegger, depois de algu-
põe George Joseph Seidel (14), “a tradução ma reflexão, escreveu num pedaço de
se refere também ao percurso através do papel (que Petzet diz guardar) o seguin-
qual a tradição, ela própria, tem traduzido te: “Oh auch mitbrüderliches oh Ismenes
ou passado adiante, de maneira falsa ou au- Haupt!” (“Ó tu também confraterna ó
têntica, os conceitos dos antigos pensado- Ismene Primacial!”). Isso não seria ale-
res”. Um exemplo estaria na maneira pela mão, teria acrescentado o filósofo, mas,
qual “a tradução do autêntico logos grego em som e sentido, seria quase exatamente
no termo latino ratio serviu para falsificar o que Sófocles diz. A restauração corre-
o original”. Assim, a re-tradução ou tradu- tiva do sentido grego exato, original, en-
ção restauradora – uma “tradução pensante” coberto na transposição alemã de
(denkende Uebersetzung) – visa a “libe- Hoelderlin, esbarra num problema, ao que
rar” (liefern) o “sentido verdadeiro origi- me parece. A relação que a tragédia expõe
nal”, obscurecido pela “tradição” não é binária, mas triádica. Não está em
(Ueberlieferung) falsificadora. jogo apenas o vínculo irmã-irmão, mas a
Um curioso exemplo do empenho reti- conexão mais complexa irmã-irmã-irmão
ficador presente na concepção (das irmãs entre si e de cada uma delas
heideggeriana da “tradução essencial” com o irmão comum). Trata-se, portanto,
pode ser encontrado, de modo quase de um vínculo tanto fraternal
anedótico, na tradução do primeiro verso (brüderliches ) quanto sororal
da Antígone de Sófocles proposta por (schwesterliches). Donde a tradução
Heidegger em lugar daquela de Hoelderlin retificadora de Heidegger, em sua busca
(poeta favorito do filósofo de O Ser o do sentido autêntico, poder, tanto como a
Tempo, cujas “transpoetizações” de tra- de Hoelderlin, ser tachada de redutora e
gédias sofoclianas são exaltadas por Ben- desviante... Pelo menos segundo o dicio-
jamin como um “arquétipo” da “forma” nário Bailly, que se abona em Ésquilo e
tradução). Sófocles, autádelphos, os, on, é um adje-
Relata H. W. Petzet (Encounters and tivo ambíguo, que pode tanto se referir ao
Dialogues with Martin Heidegger, 1929- próprio irmão como à própria irmã.
14 Martin Heidegger and the Pre-
Socratics, 1964. 76) que, após uma apresentação da

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