TURMA: E1 CURSO: ENGENHARIA ELÉTRICA 2022.2 PROFESSOR: JOÃO PAULO FERNANDES
AVALIAÇÃO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
A comunicação dialógica e as alterações do espaço associadas à figura do
engenheiro eletricista
A comunicação é indissociável a nossa espécie enquanto “animal essencialmente
sociável por natureza” –nas palavras de Aristóteles-, portanto ela está relacionada a todos os aspectos do desenvolvimento humano. O processo comunicativo, no entanto, é complicado, porque as pessoas, na medida que estão sujeitas a condicionamentos socioculturais distintos, possuem uma maneira particular de pensar e expressar o mundo ao seu redor, sendo, portanto, crucial para a perfeita comunicação, um diálogo que busque aproximar os sujeitos comunicantes do objeto cognoscível de maneira mutuamente engajada, e mais colaborativa. Da mesma forma que a comunicação dialógica, a relação indivíduo-espaço-sociedade demonstra certas complexidades. A percepção subjetiva dos indivíduos com relação ao espaço onde se encontra é tão importante quanto o ato de comunicar, pois é através dessa subjetividade que se pode abstrair os objetos que nos rodeiam, compreender a composição do espaço onde estamos inseridos, e na tentativa melhorá-lo, construir alguma coisa, produzindo efeitos no meio social. No sentido oposto dessa mesma relação observa-se que os elementos físicos espaciais resultantes da manipulação antrópica da natureza, colocados na sociedade e defronte a subjetividade humana, são também responsáveis por moldar a visão de mundo dos indivíduos. Nesse contexto a comunicação dialógica é muito importante para o engenheiro eletricista, enquanto personagem simbólica do conhecimento tecnocientífico. Da mesma forma, é crucial para o engenheiro desenvolver uma noção refinada de espaço e das transformações que nele vai operar em prol da sociedade. O engenheiro é um profissional cuja função é atender às demandas da sociedade com soluções concretas para seus problemas, necessitando em toda a amplitude do seu trabalho, análises e obtenções de dados com o fim de criar a solução ideal para os problemas com que se depara. Todavia, a função dos engenheiros não deve se limitar à simples tarefa de remediar ou sanar problemas, como se fosse um medicamento para enxaqueca, mas ir além disso, permitindo, através da comunicação dialógica, se tornar uma ferramenta elucidativa dos objetos que pertencem ao seu domínio de conhecimento, colaborando com a melhor compreensão do seu coparticipante comunicativo e consequentemente enriquecendo-o com novas competências e capacidades. Aprofundando nas nuances da comunicação dialógica dentro do papel de engenheiro, vale ressaltar o aspecto sígnico do ato comunicativo. Paulo Freire enfatiza em seu ensaio “Extensão ou Comunicação?” que a linguagem utilizada deve abarcar um quadro significativo comum a todos os sujeitos comunicantes. Haverá momentos no exercício da profissão que será necessário a função instrutiva do engenheiro, e nesses casos o uso de uma linguagem exaustivamente técnica do nicho da engenharia, talvez, pudesse caracterizar um risco para o êxito do ato comunicativo. Exemplificando numa situação concreta: supondo que, eu, como engenheiro eletricista responsável por uma equipe de obra, precisasse explicara a ela os detalhes da execução de um projeto de iluminação predial e a fizesse utilizando termos ainda não tão familiares aos trabalhadores, poderia eu estar comprometendo o resultado do projeto, com grande probabilidade, ao não considerar o alcance do escopo de significação dos meus subordinados. Em situações como a do exemplo é preciso garantir a compreensão plena de toda a equipe sobre o objeto da explicação, conduzindo a instrução em termos mais significativos e palpáveis àquelas pessoas, caso contrário haveria confusões acerca do real propósito do que se pretendia e poderia vir a prejudicar o andamento da obra. Colocando agora o engenheiro eletricista em um contexto fora do âmbito profissional, é possível atribuí-lo o papel de professor, pois como um indivíduo conhecedor dos porquês, da técnica e que utiliza a ciência como ferramenta de trabalho, ele tem total condições de educar os que estão em seu convívio social, valendo-se das suas capacidades e competências somadas ao seu conhecimento de mundo. Para isso, entender a comunicação dialógica é imprescindível. A pessoa do engenheiro, por ser naturalmente um ente inserido no meio social, poder ser alvo de perguntas, dúvidas e questionamentos em seu cotidiano (e quando não for, deve se predispor a isso), por parte de leigos, em relação às transformações no mundo que são resultantes da aplicação tecnológica. Num palco desses, o engenheiro, que detém conhecimento de causa especializado, tem a oportunidade de “conectar” aqueles estão a sua volta com os fatos e as tendências sociais ligados ao contexto tecnocientífico, atuando, de certa forma, como um educador, que usufrui da sua casualidade para aproximar as pessoas de conceitos complexos da engenharia envolvidos na transformação da sociedade.
O homem como um ser consciente e capaz de amarrar sentimentos com aquilo
que está a sua volta, mediante subjetividade e impressões adquiridas pelos sentidos do corpo físico, é completamente influenciado pelos espaços onde se encontra, conferindo qualidades negativas e positivas aos elementos desses lugares conforme sua concepção, e isso vai além da relação entre as pessoas e o ambiente em que se inserem, afetando também as relações sociais em geral. Atualmente, numa sociedade tão dependente da tecnologia para uma vida mais dinâmica, não é difícil perceber a nossa ligação íntima aos inventos e obras concebidos pela engenharia elétrica que permeiam nossa rotina, costumes e hábitos, atribuindo a esses objetos até mesmo valores culturais. As máquinas e ferramentas que usamos para trabalhar, os dispositivos eletrônicos que usamos para nos comunicar, entreter e aprender, os eletrodomésticos que servem ao nosso bem-estar, os meios de transporte com os quais nos deslocamos, as linhas de transmissão de energia e tantas outras criações da quais dependemos e que nasceram da aplicação da engenharia elétrica, compõem as paisagens do espaço e hoje estão substancialmente presentes em toda e qualquer atividade humana. Diante dessa realidade, é razoável concluir que a engenharia elétrica é um propulsor de transformações na sociedade por meio da modelação do espaço físico. A noção de espaço, em engenharia elétrica, pode ser estendida para as tecnologias de telecomunicações, que possibilitam às pessoas, através da conectividade, experimentar e perceber o espaço e as distâncias de uma forma divergente da noções geográficas. Antes do nascimento dessas tecnologias, a comunicação entre pessoas distantes era limitada a recursos como cartas e telegramas, levando muito mais tempo no câmbio de informações. No entanto, com o advento de avanços científicos no campo do eletromagnetismo e os empreendimentos inovadores da engenharia elétrica, originou-se as telecomunicações. Então, a partir do aperfeiçoamento desta, vieram os serviços de telefonia, a internet e as redes sociais afetando massivamente as relações e os fenômenos sociais. Portanto, a interatividade e a dinamicidade que marcam a sociedade dos tempos modernos, podem ser compreendidas como resultados da contribuição do engenheiro eletricista. Em suma, o engenheiro eletricista prova ser uma peça fundamental no desenvolvimento da sociedade, sendo extremamente necessário que ele valorize a comunicação dialógica e a considere uma ferramenta para espalhar o conhecimento de forma socialmente comprometida. Fica claro também a sua importância para a promoção do bem-estar social e melhoria da nossa qualidade de vida, por meio da distribuição de soluções inteligentes baseadas na busca pela reforma e conversão do espaço físico em nosso entorno. No entanto, para otimizar o que esse profissional tem a oferecer, algumas medidas podem ser tomadas por parte dele. É uma medida pertinente a elaboração de workshops e palestras, onde o engenheiro eletricista, de posse do seu conjunto de habilidades e especialidades, pode compartilhar exemplos práticos, projetos e aplicações reais da engenharia, dando oportunidade de contato com conceitos mais técnicos e teóricos, e nesse movimento estimular o interesse das pessoas a explorar o mundo da ciência e tecnologia. Assim o engenheiro eletricista reforça ainda mais seu comprometimento social coma disseminação do conhecimento. Sob o viés do aprimoramento próprio, no sentido de desejar enxergar melhor no espaço as potenciais aplicações do seu conhecimento, o profissional deve se dispor a atividades variadas, como exercitar a observação, analisar minuciosamente os ambientes, procurar instigar sua percepção espacial e desenvolver a criatividade. Bem como deve, com coragem para reinventar-se e inovar, buscar participação em diferentes tipos de projetos que abracem outras áreas e especializações da engenharia. Numa visão panorâmica, o engenheiro eletricista, como fornecedor dos recursos para ultrapassar os obstáculos da natureza, ajuda a humanidade a dar passos na jornada da sua evolução, sendo assim um grande responsável pelo nosso futuro. Referências bibliográficas: DE BOTTON, Alain; Arquitetura da felicidade: a importância da arquitetura; Rio de Janeiro: Rocco, 2006.
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