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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

REPRESENTAÇÃO N. 912318
Representante: Vander Oliveira Borges - Coordenador-Geral de Operacionalização do
FUNDEB e de Acompanhamento e Distribuição da Arrecadação do
Salário-Educação
Representado: Município de Monte Azul
MPTC: Marília Cecília Borges
RELATOR: CONSELHEIRO GILBERTO DINIZ

EMENTA

REPRESENTAÇÃO. FALTA DE PAGAMENTO DA FOLHA DOS SERVIDORES DE


DEZEMBRO DE 2012 E INSCRIÇÃO EM RESTOS A PAGAR SEM DISPONIBILIDADE
FINANCEIRA DA REFERIDA DESPESA. AUSÊNCIA DE IRREGULARIDADE NO
PROCEDIMENTO. DESVIO DE FUNÇÃO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. FALTA
DE PLANEJAMENTO NA GESTÃO DO FUNDEB. EXAMES PREJUDICADOS.
OMISSÃO NO RELATÓRIO DE CONTROLE INTERNO DE INFORMAÇÃO
DETALHADA DOS RESTOS A PAGAR DA EDUCAÇÃO. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO
AO EXERCÍCIO DO CONTROLE EXTERNO. OMISSÃO DE PAGAMENTO DA FOLHA
DOS SERVIDORES. FATO SUPERADO. DANO AO ERÁRIO. AUSÊNCIA DE
ELEMENTOS PROBATÓRIOS. IMPROCEDÊNCIA. ARQUIVAMENTO DOS AUTOS.
1. A ausência de pagamento da folha dos servidores de dezembro de 2012 no próprio
exercício e a inscrição da correspondente despesa em restos a pagar sem disponibilidade
financeira não configuram procedimento contábil irregular, porquanto a despesa com pessoal
é classificada como de caráter continuado, não havendo elementos suficientes que permitam
inferir que tais compromissos tenham sido assumidos a partir de 1º/5/2012.
2. A omissão no relatório de controle interno de informação detalhada sobre os restos a pagar
da educação não trouxe prejuízo ao exercício do controle externo, pois a municipalidade
encaminhou, juntamente com a prestação de contas, o Memorial de Restos a Pagar.
3. A ausência de elementos probatórios de pagamento de pessoal em desvio de função com
recursos do FUNBEB torna prejudicado o exame da matéria.
4. A ausência de elementos probatórios de que o Prefeito tenha praticado ato de gestão
antieconômico, que resultasse em prejuízo ao erário, em razão de eventual pagamento de juros
e correção monetária, para quitação da folha de salários do mês de dezembro de 2012, torna o
exame dessa questão prejudicada.
5. Superados os motivos da representação, em virtude da quitação da folha de pagamento.
6. Determina-se o arquivamento dos autos, após cumpridas as disposições regimentais.

Segunda Câmara
21ª Sessão Ordinária − 01/08/2017
I – RELATÓRIO
Cuidam os autos da representação originada do ofício encaminhado a este Tribunal pelo Sr.
Vander Oliveira Borges, Coordenador-Geral de Operacionalização do FUNDEB e de
Acompanhamento e Distribuição da Arrecadação do Salário-Educação, noticiando possíveis
irregularidades na aplicação dos recursos do FUNDEB, com supedâneo na denúncia

Documento assinado por meio de certificado digital, conforme disposições contidas na Medida Provisória 2200-2/2001, na Resolução n.02/2012 e na Decisão Normativa
n.05/2013. Os normativos mencionados e a validade das assinaturas poderão ser verificados no endereço www.tce.mg.gov.br, código verificador n. 1342172
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apresentada àquele órgão pelo Sr. Damastor Alves de Souza, Vereador do Município de
Monte Azul, o qual relatou que a folha de pagamento do mês de dezembro de 2012 não teria
sido paga, e que os recursos vinculados estariam sendo utilizados para pagamento de pessoas
em desvio de função.
À fl. 3, a então Presidente, Conselheira Adriene Andrade, encaminhou a representação à
Unidade Técnica, que elaborou o relatório de fls. 04 a 06 e concluiu que o Poder Executivo,
no exercício de 2012, durante a gestão do Sr. Joaquim Gonçalves Sobrinho, inscreveu
R$407.630,13 em restos a pagar vinculados ao FUNDEB, sem disponibilidade financeira.
Informou, ainda, que, com base nos dados apresentados no SIACE/PCA/2012, o valor
recebido do FUNDEB naquele exercício foi R$2.704.309,36 e que as despesas com o referido
Fundo alcançaram R$2.892.565,65, dos quais 67,65% foram gastos com a remuneração dos
Profissionais do Magistério. Por fim, a Unidade Técnica manifestou-se pela necessidade de
realização de diligência ao então Prefeito, ao controlador geral, ao Presidente do Conselho do
FUNDEB e ao atual Prefeito, os quais foram devidamente intimados para que apresentassem
esclarecimentos.
O Sr. José Edvaldo Antunes de Souza, Prefeito de Monte Azul em 2014, falando por si e
pelos demais intimados, Srs. Joaquim Gonçalves Sobrinho e Haroldo Gonçalves Dias,
respectivamente, ex-Prefeito em 2012 e controlador do Município, apresentou a
documentação de fls. 38 a 105 e pastas anexas 01 a 12, compostas dos comprovantes das
despesas custeadas com os recursos do FUNDEB referentes ao exercício de 2012, notas de
empenho, transferências bancárias, folhas de pagamentos, razões das contas 42 e 280, razão
da receita da conta 91, e os extratos bancários da conta corrente nº 13.225-X e das aplicações
de janeiro a dezembro de 2012. Informou que os recursos transferidos do FUNDEB no valor
de R$2.776.058,22 foram insuficientes para custear as despesas empenhadas no valor de
R$3.689.527,56, e, portanto, a ausência de pagamento da folha dos professores da rede
municipal de ensino se deveu à falta de recursos.
A Unidade Técnica, às fls. 107 a 111, manifestou-se pela necessidade de intimação do
Prefeito para que comunicasse a esta Corte quando se efetivou o pagamento da folha do mês
de dezembro de 2012, com o encaminhamento do respectivo comprovante de quitação, tendo
sugerido que a documentação acostada aos autos fosse devolvida ao Município, ficando sob a
guarda desta Casa os demais expedientes que pudessem compor a matriz de risco para
subsidiar futuras ações de fiscalização na Prefeitura.
Em 26/3/2014, a Conselheira Presidente determinou a autuação dos documentos como
representação (fl. 128), que foi distribuída à minha relatoria.
Instada a manifestar-se, a 5ª Coordenadoria de Fiscalização Municipal, às fls. 133 e 134,
reiterou a necessidade de o então Prefeito comprovar o pagamento da folha de servidores da
educação e concluiu que:
Tais despesas, conforme se apresentam nos documentos constantes dos autos, Memorial
de Restos a Pagar, fls. 11 a 17, e Movimentação dos Restos a Pagar, fls. 112 a 126, são
com folha de pagamento de professores e funcionários, portanto, de caráter continuado.
Com relação à suposta utilização dos recursos vinculados para pagamento de pessoas em
desvio de função, não se tem elementos para confirmar a existência do fato denunciado.
Em 7/5/2014, o José Edvaldo Antunes de Souza informou a este Tribunal que a folha de
dezembro de 2012 ainda não havia sido quitada e que a Administração anterior não deixou
recursos financeiros para tal pagamento, tendo apresentado a documentação de fls. 154 a 165,
noticiando sobre a Ação de Interpelação Judicial promovida contra o ex-Prefeito Joaquim
Gonçalves Sobrinho.

Documento assinado por meio de certificado digital, conforme disposições contidas na Medida Provisória 2200-2/2001, na Resolução n.02/2012 e na Decisão Normativa
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O Ministério Público junto ao Tribunal, às fls. 178 a e 179, requereu que os autos fossem
encaminhados à Unidade Técnica competente para novo exame, diante dos documentos
juntados ao processo.
A Unidade Técnica, no relatório de fls. 181 a 191, concluiu nos seguintes termos:
Isto posto, considerando que não compete a esta Corte exigir do atual gestor que seja feito
o pagamento da folha do pessoal do magistério do exercício de 2012, a que se refere a
denúncia, e que perderá o objeto com o respectivo pagamento, este Órgão Técnico
sugere, s.m.j., que o atual gestor, Sr. José Edvaldo Antunes de Souza seja advertido de
que a folha de pagamento tem caráter alimentar e que eventuais acréscimos decorrentes
de seu pagamento em atraso pode ser interpretado como dano ao Erário, sujeito a sanções.
No que tange à irregularidade de inscrição de restos a pagar, com relação ao Fundeb, sem
disponibilidade financeira, verificado em virtude da denúncia, considerando os critérios
de materialidade, relevância e risco, haja vista que se trata de gestão finda, sendo acatada
pelo Exmº Senhor Relator, esta Coordenadoria sugere, s.m.j., intimar o ex-prefeito,
Senhor Joaquim Gonçalves Sobrinho, prefeito de Monte Azul, exercício de 2012, e o
Senhor Haroldo Gonçalves Dias, controlador-geral do município, em 2012, para
apresentarem defesa, no prazo de 15 (quinze) dias, nos termos do artigo 307 da Resolução
nº 12/2008 – Regimento Interno – deste Egrégio Tribunal de Contas do Estado de Minas
Gerais.
Esta Unidade Técnica não encontrou, nos autos, elementos que comprovam despesas com
servidores em desvio de função, como foi denunciado pelo representante.
Às fls. 193 e 194, o Parquet de Contas aditou a denúncia, por entender que a Administração
não teria informado corretamente o número de alunos matriculados na rede municipal, o que
teria resultado no recebimento de recurso a menor do FUNDEB e opinou pela citação dos
responsáveis.
Citados, o Prefeito José Edvaldo Antunes de Souza encaminhou a defesa de fls. 206 e 207, e o
Sr. Haroldo Gonçalves Dias, Controlador-Geral, à época, a manifestação de fls. 211 e 212. Na
oportunidade, informou o falecimento do ex-Prefeito, Sr. Joaquim Gonçalves Sobrinho,
conforme certidão de óbito acostada à fl. 213.
No reexame, às fls. 216 a 220-v, a Unidade Técnica entendeu que continuaram pendentes de
solução os fatos apresentados na denúncia, e que deveria ser imputada responsabilidade e
multa aos seguintes agentes:
- Sr. Joaquim Gonçalves Sobrinho, ex-Prefeito de Monte Azul em 2012, pela falta de
planejamento na adequação das despesas ao limite dos recursos a receber e pela existência de
Restos a Pagar sem disponibilidade financeira, conforme preceitua o § 1º do art. 1º da LRF; e
- Sr. Haroldo Gonçalves Dias, responsável pelo Controle Interno do Município, por deixar de
acompanhar e analisar a adequação do orçamento às necessidades municipais e por deixar de
fiscalizar o cumprimento das metas de resultados entre receitas e despesas, além de não
mencionar no seu relatório anual as irregularidades ocorridas, desrespeitando o caput do art.
12 da INTC nº 12, de 2011;
- Sr. José Edvaldo Antunes de Souza, Prefeito em 2014, pelo ato de gestão antieconômico, se
eventualmente ocorrer pagamento de juros e correção monetária, no momento da quitação da
folha de salários do mês de dezembro de 2012, no caso de ser promovida ação cível obrigando
o feito.
Todavia, considerando o falecimento do ex-Prefeito, Sr. Joaquim Gonçalves Sobrinho, em
29/4/2015, consoante Certidão de Óbito acostada à fl. 213, a Unidade Técnica entendeu estar
excluída a pretensão punitiva do ex-gestor, porquanto, segundo a jurisprudência deste

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Tribunal, “o falecimento do gestor responsável por bens e valores públicos inviabiliza a


aplicação de penalidades, como multa, por esta Corte.”
O Ministério Público junto ao Tribunal opinou pela procedência parcial dos apontamentos
objeto desta ação de controle externo e pela aplicação de multa aos responsáveis, sem prejuízo
das demais sanções legais cabíveis. Opinou, ainda, pela emissão de determinação aos
responsáveis para que não mais pratiquem as condutas tidas como irregulares, devendo haver
a intimação dos gestores, conforme fundamentação, para adoção das providências cabíveis,
além de este Tribunal providenciar o monitoramento do cumprimento dessa determinação,
conforme parecer de fls. 222 a 226-v.
É o relatório, no essencial.
II – FUNDAMENTAÇÃO
Apreciados os autos, extrai-se que foram lançados como apontamentos de irregularidades
pagamento de servidores em desvio de função, ausência de pagamento da folha dos servidores
de dezembro de 2012 (gestão do Sr. Joaquim Gonçalves Sobrinho), inscrição em restos a
pagar sem disponibilidade financeira para quitação da referida despesa, falta de planejamento
na gestão do FUNDEB, falhas no controle interno e omissão de pagamento da folha dos
servidores de dezembro de 2012 (gestão do Sr. José Edvaldo Antunes de Souza), os quais
passo a analisar no mérito.
1. Desvio de Função
Segundo o representante, os recursos vinculados do FUNDEB estariam sendo utilizados para
pagamento de pessoas em desvio de função.
A Unidade Técnica, despois de examinar a documentação encaminhada pelo Prefeito, às fls.
181 a 191, informou que não encontrou nos autos elementos que comprovem despesas com
servidores em desvio de função, como noticiado pelo representante.
Assim, diante da ausência de comprovação da irregularidade delatada, considero prejudicado
o exame nesse particular.
2. Ausência de pagamento da folha dos servidores de dezembro de 2012, inscrição em
restos a pagar sem disponibilidade financeira para quitação da referida despesa e falta
de planejamento na gestão do FUNDEB, no período de responsabilidade do Sr. Joaquim
Gonçalves Sobrinho:
De acordo com o denunciante, existiriam irregularidades na aplicação dos recursos do
FUNDEB, uma vez que o município teria deixado de pagar o salário dos professores do mês
de dezembro de 2012, época em que era Prefeito o Sr. Joaquim Gonçalves Sobrinho.
A 5ª Coordenadoria de Fiscalização dos Município às fls. 04 a 06 apontou que, ao final do
exercício de 2012, foram inscritas em restos a pagar despesas do FUNDEB no valor de
R$407.630,12, relativas à remuneração dos servidores do magistério, sem disponibilidade
financeira suficiente para sua cobertura, o que teria contrariado o disposto no art. 42 da Lei
Complementar nº 101, de 2000, e poderia ensejar a aplicação de multa ao Sr. Joaquim
Gonçalves Sobrinho.
Informou, ainda, a Unidade Técnica que, de acordo com os dados enviados na prestação de
contas anual do Prefeito de Monte Azul, por meio do SIACE/PCA, em 2012, o Município
recebeu repasse do FUNDEB no valor de R$2.704.309,36, tendo aplicado na manutenção e
desenvolvimento do ensino a quantia de R$2.892.565,65, dos quais R$1.829.476,35 foram
aplicados para remuneração dos profissionais do magistério, o que corresponde a 67,65% da
receita recebida.

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Quanto à irregularidade na gestão do montante de recursos recebidos do FUNDEB e sua


alocação, em afronta ao art. 8º da Lei nº 11.494, de 2007, apontado pelo Ministério Público
em razão do número de alunos matriculados na rede de ensino, a Unidade Técnica, no estudo
complementar à fl. 190, informou não ter sido verificado qualquer irregularidade na
distribuição e alocação desses recursos. Informou, ainda, que os documentos enviados pelo
Prefeito Municipal, fls. 38 a 105 e 154 a 165, comprovam que a receita recebida foi menor do
que as despesas realizadas com o FUNDEB, o que demonstra que o gestor não compatibilizou
seus gastos aos recursos que iria receber durante o exercício de 2012, indicando falta de
planejamento durante a sua gestão.
No que tange à suposta divergência entre os valores recebidos a título de transferências
multigovernamentais e os aplicados no FUNDEB, e os valores apresentados na prestação de
contas municipal, enviados a este Tribunal mediante o SIACE/PCA, a Unidade Técnica
entendeu não haver divergência.
Em 6/2/2014, o Sr. José Edvaldo Antunes de Souza, Prefeito sucessor do denunciado,
informou que os recursos transferidos ao FUNDEB foram insuficientes para custear as
despesas empenhadas no valor de R$3.689.527,56.
A Unidade Técnica, às fls. 133 e 134, reiterou a necessidade de o atual Prefeito comprovar o
pagamento dessas despesas e, se for o caso, aplicar aos intimados as sanções previstas nos
arts. 83 a 85 da Lei Orgânica do TCEMG, e, ainda, caso fosse comprovado o pagamento,
sugeriu o arquivamento do processo.
Novamente intimado, o Sr. José Edvaldo Antunes de Souza, em 7/5/2014, informou a
quitação somente da folha do setor de Obras e Serviços Urbanos, não tendo sido paga a folha
dos demais setores, justificando que a Administração anterior não havia deixado recursos
financeiros suficientes para a sua quitação.
Devidamente citado, o Sr. Haroldo Gonçalves Dias, Controlador-Geral, à época, alegou que a
inscrição da despesa em restos a pagar ocorreu devido à queda nas transferências do
FUNDEB.
Na oportunidade, informou o falecimento do ex-Prefeito, Sr. Joaquim Gonçalves Sobrinho,
conforme certidão de óbito acostada à fl. 213.
No reexame de fls. 216 a 220-v, a Unidade Técnica manifestou-se pela imputação de
responsabilidade e multa ao Sr. Joaquim Gonçalves Sobrinho, ex-Prefeito de Monte Azul,
pela falta de planejamento para compatibilização das despesas ao limite dos recursos a receber
e pela existência de restos a pagar sem disponibilidade financeira.
Inicialmente, cabe enfatizar que o art. 42 da Lei Complementar nº 101, de 2000, Lei de
Responsabilidade Fiscal, assim dispõe:
Art. 42. É vedado ao titular de Poder ou órgão referido no art. 20, nos últimos dois
quadrimestres do seu mandato, contrair obrigação de despesa que não possa ser
cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha parcelas a serem pagas no exercício
seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para este efeito.
Parágrafo único. Na determinação da disponibilidade de caixa serão considerados os
encargos e despesas compromissadas a pagar até o final do exercício. (g.n)
À luz do preceptivo transcrito, denota-se que a vedação dirigida ao titular de Poder se
concentra especificamente no caput do dispositivo legal e se restringe à contratação de
despesa nos dois últimos quadrimestres do respectivo mandato.
No caso em exame, a irregularidade apontada pela Unidade Técnica baseou-se no Memorial
de Restos a Pagar anexado às fls. 11 a 17, no qual se verifica despesas de caráter continuado

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referentes a folha de pagamento dos servidores do magistério do mês de dezembro de 2012,


que, por sua natureza, não estariam alcançadas pelas disposições do art. 42 da Lei de
Responsabilidade Fiscal, conforme o entendimento pacificado nesta Corte de Contas.
Conclui-se, do exposto, que não há nos autos elementos suficientes que permitam inferir que
as despesas referentes à folha de servidores da educação do mês de dezembro de 2012,
inscritas em restos a pagar, sejam obrigações novas assumidas a partir de 1º de maio de 2012,
tipificação essencial para que seja comprovado o descumprimento da vedação contida no
transcrito art. 42, pelo que considero que não há como aferir ter havido descumprimento do
comando inserto no transcrito dispositivo legal.
Entendimento semelhante foi adotado pelo Colegiado da Segunda Câmara, na Sessão de
7/5/2009, nos autos do Processo Administrativo nº 726.312, decorrentes da inspeção realizada
no Município de Rio Vermelho, ocasião em que foi aprovado, à unanimidade, o voto do
Relator, Conselheiro Eduardo Carone Costa, nos seguintes termos:
Examinando os autos, verifiquei que não há na documentação supracitada a data da
realização das despesas, e ainda, que a maioria das despesas relacionadas se referem a
pagamento de pessoal, (ativo, pensionistas e inativos), Cemig, Copasa, Telemar e
Embratel, que a meu ver só se enquadram no disposto do art. 42, parágrafo único da LC
101 se decorrentes de obrigações contraídas nos últimos oito meses do mandato do
prefeito a época.
(...)
Voto: À vista de todo o exposto, e considerando que não há nos autos elementos que
me permitem concluir que as despesas no montante de R$ 258.122,08, tratam de
obrigações novas assumidas a partir de 1º de maio de 2000, que se enquadrariam no
disposto do art. 42 da Lei 101/00, bem como, que as despesas no valor total de R$
358.708,17, foram realizadas no 1º semestre e empenhadas no 2º semestre do exercício de
2000, o que implicaria no descumprimento do art. 60 da Lei 4320 não vejo como
responsabilizar o gestor. (g.n.)
Dessa forma, considero que o apontamento, nestes autos, referente à inscrição de restos a
pagar sem disponibilidade financeira, não é alcançado pelas disposições do art. 42 da Lei
Complementar nº 101, de 2000.
Ademais, neste caso, faz-se necessário salientar o falecimento do Sr. Joaquim Gonçalves
Sobrinho, Prefeito de Monte Azul nos exercícios de 2009 a 2012, ocorrido em 29/4/2015,
conforme se depreende da certidão de óbito acostada à fl. 213, apresentada pelo Sr. Haroldo
Gonçalves Dias, Controlador-Geral, à época.
Relativamente à falta de planejamento na gestão do FUNDEB, faço as seguintes ponderações:
A morte como fato jurídico acarreta consequências no julgado do Colegiado desta Corte de
Contas.
Nesse sentido, calha colacionar escólio da doutrina de Guilherme de Souza Nucci, sobre a
morte do agente como causa extintiva da punibilidade, nestes termos:
Aplica-se a esta causa extintiva da punibilidade o princípio geral de que a morte tudo
resolve (mors omnia solvit). A Constituição Federal cuida, também, da matéria,
mencionando no art. 5º, XLV, 1ª parte, que a pena não deverá passar da pessoa do
delinquente, embora o perdimento de bens possa atingir os sucessores nos casos
legalmente previstos. Aliás, justamente por isso é que a pena de multa, ainda que
considerada uma dívida de valor, como estipula o art. 51 do Código Penal, com sua nova
redação, morrendo o sentenciado antes do pagamento, deve ser extinta, jamais
transmitindo-se aos herdeiros a obrigação de quitá-la. É natural que somente os efeitos

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civis subsistam a cargo dos sucessores. (Código Penal Comentado, 3. ed., São Paulo: Ed.
Revista dos Tribunais, 2003, p. 347).
Como é cediço, a multa objeto de decisões emanadas desta Corte de Contas configura pena,
que, em face dessa especificidade, não pode passar da pessoa do apenado com a sanção
pecuniária, em homenagem ao princípio da intransmissibilidade, também conhecido como
princípio da intranscendência ou da pessoalidade da pena.
Esse princípio está consubstanciado no inciso XLV do art. 5º da Constituição da República
que prescreve, in verbis: "nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei,
estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio
transferido”.
Oportuno transcrever, também, o art. 84 da Lei Complementar nº 102, de 2008 (Lei Orgânica
do Tribunal de Contas), que estabelece: “a multa será aplicada, de forma individual, a cada
agente que tiver concorrido para o fato, sendo o pagamento da multa de responsabilidade
pessoal dos infratores”.
A aplicação do princípio da pessoalidade da pena é pacífica na jurisprudência do Tribunal de
Contas da União – TCU, consoante se verifica, por exemplo, neste trecho da decisão proferida
no Processo TC 649072/94-4, de relatoria do Ministro Homero Santos:
Não é demais lembrar que não se está tratando aqui de imputação de débito, o qual, nos
termos do art. 5º, VIII, da Lei 8.443/92, recairia nos sucessores do ex-Prefeito, até o
limite do valor do patrimônio transferido. Trata-se, sim, de possível irregularidade sujeita
à aplicação de multa, cuja responsabilidade pelos atos é pessoal e intransferível.
Também a jurisprudência deste Tribunal é remansosa nesse sentido, a teor do entendimento
cristalizado no enunciado da Súmula nº 121, nestes termos:
“A multa aplicada ao agente público, em decorrência de atos de gestão irregulares, não
alcança os seus sucessores no caso de falecimento”.
Pelas razões expendidas, considerando o falecimento do Sr. Joaquim Gonçalves Sobrinho e,
ainda, o caráter personalíssimo da penalidade de multa, entendo prejudicado o exame da
irregularidade relativa a falta de planejamento na gestão do FUNDEB.
3. Controle interno
A Unidade Técnica apontou que o responsável pelo controle interno, Sr. Haroldo Gonçalves
Dias, teria infringido o disposto no inciso IV do § 1º do art. 12 da Instrução Normativa
TCEMG nº 12, de 2011, e, portanto, estaria sujeito à ação punitiva deste Tribunal, nos termos
do § 3º do art. 12 da mencionada instrução.
O defendente, às fls. 211 e 212, alegou que entendeu desnecessário que tal informação
constasse do relatório, porquanto a relação dos restos a pagar inscritos no exercício constou
em relatório próprio enviado ao Tribunal.
No reexame, a Unidade Técnica asseverou que o responsável pelo controle interno, à época,
deveria ser responsabilizado em razão de não ter mencionado no seu relatório anual as
irregularidades ocorridas, mantendo o apontamento de que teria sido desrespeitado o caput do
art. 12 da INTC nº 12, de 2011. Justificou também a necessidade de responsabilização do
agente público pelo fato de que ele teria deixado de acompanhar e analisar a adequação do
orçamento às necessidades municipais, bem como por ter deixado de fiscalizar o cumprimento
das metas de resultados entre receitas e despesas.
Nota-se que, com essa alteração de entendimento, surgiu nova irregularidade.

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Relativamente à suposta omissão no relatório de controle interno, acostado às fls. 20 a 24, por
não terem sido detalhados os valores inscritos em restos a pagar, entendo que, tendo sido
encaminhado o Memorial de Restos a Pagar, anexado às fls. 11 a 17, não há falar em prejuízo
ao controle externo. Assim, considero insubsistente o apontamento.
Ademais, a inscrição em restos a pagar de despesa de caráter continuado constitui
procedimento contábil previsto no art. 36 da Lei nº 4.320, de 1964, não caracterizando
irregularidade que pudesse ser objeto de ação dos órgãos de controle interno ou externo.
No que tange ao apontamento de que o responsável pelo controle interno teria deixado de
acompanhar e analisar a adequação do orçamento às necessidades municipais, e de fiscalizar o
cumprimento das metas de resultados entre receitas e despesas, considero que tais
apontamentos não constaram do relatório técnico de fls. 181 a 191, não tendo sido
franqueado, portanto, o direito ao contraditório e à ampla defesa, sendo patente a insuficiência
de requisito indispensável para apreciação da matéria.
Todavia, ao examinar os autos, pude verificar que, no relatório do órgão de controle interno
de fls. 20 a 24, constam informações acerca da execução orçamentária e do cumprimento das
metas previstas no PPA e na LDO, motivo pelo qual entendo que não há elementos materiais
indicativos da nova irregularidade apontada para justificar nova citação do agente público.
4. Omissão de pagamento da folha dos servidores de dezembro de 2012, na gestão do Sr.
José Edvaldo Antunes de Souza
A Unidade Técnica, às fls. 185 a 187, embora considere que não compete ao Tribunal exigir o
cumprimento da obrigação relativa ao pagamento dos servidores, entendeu que, caso se
concretize dano ao erário em decorrência de ações judiciais trabalhistas, esta Corte poderia
considerar a omissão de pagamento da folha do pessoal do magistério, de dezembro de 2012,
como ato de gestão antieconômico, pela não adequação do orçamento municipal às
necessidades de cumprimento de suas obrigações patronais, ficando o Sr. José Edvaldo
Antunes de Souza sujeito à aplicação de multa, nos termos do art. 86 da Lei Complementar nº
102, de 2008.
O defendente alegou, às fls. 206 e 207, que a ausência de pagamento da folha dos professores
da rede municipal de ensino decorreu da falta de recursos.
Verificando, contudo, os dados do Sistema Informatizado de Contas dos Municípios –
SICOM, por meio do qual são prestadas as contas dos entes municipais a esta Corte, cópias
anexas, constatei que, no exercício de 2016, foram inteiramente quitadas as pendências
inscritas em restos a pagar do FUNDEB em 2012, no valor de R$407.583,23, além de
R$46,90, inscritas na fonte 101, perfazendo o total de R$407.630,13, informado pela Unidade
Técnica à fl. 5. Dessa forma, não mais existe a pendência que deu origem à representação,
embora tenha sido regularizada de forma serôdia.
III – DECISÃO
Nos termos da fundamentação, julgo que não mais persiste o apontamento delatado pelo
representante referente à irregularidade na aplicação dos recursos do FUNDEB, tendo em
vista que, embora de forma serôdia, a folha de pagamento de servidores da educação do mês
de dezembro de 2012 foi integralmente quitada no exercício de 2016. Além disso, julgo
improcedentes os apontamentos referentes à inscrição em Restos a Pagar sem disponibilidade
financeira para quitação da referida despesa e à omissão do órgão de controle interno.
Ademais, à vista da ausência de provas, julgo prejudicado o exame do pagamento de despesas
com servidores em desvio de função com recursos do FUNDEB, bem como a possível prática
de ato de gestão antieconômico pelo Sr. José Edvaldo Antunes de Souza, que resultasse em

Documento assinado por meio de certificado digital, conforme disposições contidas na Medida Provisória 2200-2/2001, na Resolução n.02/2012 e na Decisão Normativa
n.05/2013. Os normativos mencionados e a validade das assinaturas poderão ser verificados no endereço www.tce.mg.gov.br, código verificador n. 1342172
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

prejuízo ao erário, em razão de eventual pagamento de juros e correção monetária, por


ocasião da quitação da folha de salários do mês de dezembro de 2012, em processo judicial, e
prejudicado, também, o apontamento relativo à falta de planejamento na gestão do FUNDEB.
Por fim, para o devido acompanhamento da gestão municipal, nos termos do que dispõe o art.
74 da Constituição da República, recomendo ao responsável pelo Órgão de Controle Interno,
que, ao tomar conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, deverá dar ciência ao
Tribunal de Contas, sob pena de responsabilidade solidária.
Intimem-se também os representantes do inteiro teor desta decisão. Transitada em julgado a
decisão, arquivem-se os autos.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM os Exmos. Srs. Conselheiros da


Segunda Câmara, por unanimidade, na conformidade da Ata de Julgamento e diante das
razões expendidas no voto do Relator, em: I) julgar que não mais persiste o apontamento
delatado pelo representante referente à irregularidade na aplicação dos recursos do FUNDEB,
tendo em vista que, embora de forma serôdia, a folha de pagamento de servidores da educação
do mês de dezembro de 2012 foi integralmente quitada no exercício de 2016; II) julgar
improcedentes os apontamentos referentes à inscrição em Restos a Pagar sem disponibilidade
financeira para quitação da referida despesa e à omissão do órgão de controle interno; III)
julgar prejudicado o exame do pagamento de despesas com servidores em desvio de função
com recursos do FUNDEB, bem como a possível prática de ato de gestão antieconômico pelo
Sr. José Edvaldo Antunes de Souza, que resultasse em prejuízo ao erário, em razão de
eventual pagamento de juros e correção monetária, por ocasião da quitação da folha de
salários do mês de dezembro de 2012, em processo judicial, e prejudicado, também, o
apontamento relativo à falta de planejamento na gestão do FUNDEB, à vista da ausência de
provas; IV) recomendar ao responsável pelo Órgão de Controle Interno, para o devido
acompanhamento da gestão municipal, nos termos do que dispõe o art. 74 da Constituição da
República, que, ao tomar conhecimento de qualquer irregularidade ou ilegalidade, deverá dar
ciência ao Tribunal de Contas, sob pena de responsabilidade solidária; V) determinar a
intimação dos representantes do inteiro teor desta decisão; VI) determinar o arquivamento dos
autos, após transitada em julgado a decisão.
Votaram, nos termos acima, o Conselheiro José Alves Viana e o Conselheiro Presidente
Wanderley Ávila.
Presente à Sessão o Procurador Glaydson Santo Soprani Massaria.
Plenário Governador Milton Campos, 01 de agosto de 2017.

WANDERLEY ÁVILA GILBERTO DINIZ


Presidente Relator
(assinado eletronicamente)
Jc/RB CERTIDÃO
Certifico que a Súmula desse Acórdão foi
disponibilizada no Diário Oficial de Contas de
___/___/______, para ciência das partes.
Tribunal de Contas, ___/___/_____.
_________________________________
Coord. Sistematização, Publicação das
Deliberações e Jurisprudência

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