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A BLASFÊMIA CONTRA O ESPIRITO SANTO


Estudo preparado por: Bp. Valdivino Rodrigues.
Introdução.
Este é um dos assuntos que chama muito a tenção de estudiosos
bíblicos e de cristãos em geral.
Porém, também é um assunto que demanda um aprofundamento
teológico maior, por isso são várias as teorias para se explicar o que de fato é
a blasfêmia contra o Espirito Santo.
Este assunto está relatado nos evangelhos em (Mateus 12:24-31;
Marcos 3;28-29 e Lucas 12:10)
No contexto em Mateus, Jesus está sendo acusado de expulsar demônios
por Belzebu. (maioral dos demônios). O contexto de Marcos, é o mesmo de
Mateus, expulsar demônios por Belzebu. O de Lucas é v1, é a hipocrisia dos
fariseus, v5. o de não temer aos homens, e v8. testemunho de confissão de fé
em Jesus.
Ao que parece, no capitulo 11 de Lucas, registra que Jesus atacou
fortemente a hipocrisia dos fariseus, e eles se dispuseram a atacar a Jesus de
forma bem agressiva. É a partir dessa situação que vamos ver Jesus falar aos
fariseus sobre a blasfêmia contra o Espirito Santo.
Se olharmos por esse contexto poderíamos dizer que a blasfêmia seria
atribuir ao diabo aquilo que estava sendo feito por Jesus, expulsar demônios.
Por essa interpretação, uma visão restrita, pode se chegar a esse
entendimento. Porem, não podemos considerar uma interpretação perfeita se
não relacionarmos a uma visão maior, ou seja, levando em conta um contexto
mais abrangente como o teológico, sobre a essência do ser de Deus que é
composta pela tri-unidade. O canônico, ou seja, como esse mesmo assunto ou
semelhante, está disposto nos demais livros do cânon bíblico. O histórico, que
seria a composição dos relatos, nesse caso, especialmente nos evangelhos.

1) Uma forma de interpretação, e a mais conhecida (é interpretada no


sentido isolado), é de que, tal blasfêmia é atribuir um feito de Deus ao Diabo
ou a Belzebu como diz o texto. E olhando o texto, (Mateus 12.26-28) pode nos
parecer que essa interpretação é a mais correta.
Mas teologicamente essa interpretação estaria adequada com a doutrina
do subordinacionismo, que ensina que o Pai é o único Deus, o Filho e o Espírito
Santo são criaturas subordinadas, que não se deve prestar a mesma honra do
Pai ao Filho e ao Espírito Santo. E nesse caso, seria a subordinação do Pai e do
Filho ao Espirito.
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Se seguirmos este raciocínio, de que, se pecarmos contra o Espírito Santo


não teremos perdão, mas se pecarmos contra o Pai e o Filho podemos ser
perdoados, logo, tal interpretação é injusta, pois declara que o Espirito Santo é
maior do que o Pai e o Filho. E ainda nos transparece que o Espirito Santo seria
mais rigoroso, ou pior ainda, seria mal e desarmonioso com o Pai e o Filho,
sendo que, a salvação é uma obra Trinitariana.
Essa interpretação, levada ao crivo da ortodoxia doutrinaria, doutrinas
tradicionais da igreja durante toda a história, é plenamente rejeitada. Pois na
doutrina da Trindade, sabemos que não há subordinação e nem hierarquia entre
as deidades.

Por isso, como afirmei, a princípio, poderíamos aceitar essa


interpretação, que nos parece a certa, dentro de uma visão estreita, que a
blasfêmia contra o Espirito Santo seria a atribuição da obra de Deus ou de Jesus
ao Diabo. Mas, contudo, levando em conta uma visão teológica, mais
abrangente, teremos um maior foco de luz sobre o assunto e esses equívocos
desaparecerão, o que pretendo apresentar ao final.

2) Uma segunda interpretação seria a apostasia. Que blasfêmia seria um


pecado consciente, ou voluntario. Alguém já conhecendo o que é pecado, mas
voluntariamente peca assim mesmo. E uma vez o homem virando as costas para
o Espirito Santo, que é o agente convencedor para a salvação estaria assim
fechada a porta para se obter o perdão.

Essa interpretação começa a se aproximar de um entendimento mais


coerente com as Escrituras. Porém, dizer que é um pecado consciente seria
muito vago, qual seria esse pecado?
Outra dificuldade dessa interpretação é que apostasia seria alguém que
já esteve salvo, conhecedor do caminho da salvação e se afasta. Mas o texto em
questão, não fala de uma pessoa com esse perfil, pois os personagens são os
fariseus, e não salvos em por Cristo.
De outra forma, também, o que dizer das pessoas que nunca foram
esclarecidas, nem iluminadas pelo Espirito Santo, mas mesmo assim o rejeitam
e até mesmo blasfemam, como é o caso do próprio Paulo, mas que veio a
converter?
“ainda que outrora eu era blasfemador, perseguidor e injuriador; mas
alcancei misericórdia, porque o fiz por ignorância, na incredulidade (1
Timóteo 1.13).

Como vemos o assunto não é fácil, e nem encontra unanimidade. Porém,


muitas das divergências poderiam desaparecer se fizermos uma interpretação
sem pressa e com mais abrangências sobre o assunto, como disse antes, olhando
o contexto teológico, canônico e histórico.
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3) Aqui apresento uma interpretação que, penso, trazer um melhor


entendimento do assunto, fazendo justiça a natureza de Deus, sua essência e
sua tri-unidade.

Primeiro algumas das interpretações mais antigas sobre este assunto:


Agostinho associava, esse pecado imperdoável, a falta de
arrependimento, quando alguém perseverava no pecado mortal até a morte. É
cometido contra o Espirito Santo, porque se opõe à remissão dos pecados
operada pelo Espirito Santo, que é o amor do Pai e do Filho.
Diferentemente do que algumas pessoas poderiam pensar, portanto, a
blasfêmia contra o Espirito Santo torna-se imperdoável não por um defeito da
misericórdia divina, sempre pronta a perdoar o homem, consiste mais em um
endurecimento do coração humano, e é por sua própria culpa que o estado de
alma em que se encontra torna-se irremediável.
Se Jesus diz que o pecado contra o Espirito Santo não pode ser perdoado
nem nesta vida, nem na futura, é porque esta “não remissão” está liga à causa,
o não arrependimento, isto é, à recusa radical a converter-se.
A interpretação que julgo mais coerente sobre esse assunto.
Toda blasfêmia cometida pelos homens a Deus pode ser perdoada.
Toda blasfêmia cometida conta o filho, também será perdoada.
Mas, a blasfêmia cometida contra o Espirito santo não será perdoada.

Se estamos nos referindo ao ser de Deus, a essência de Deus, ao Ser


supremo, que é uno, em essência, Pai, Filho e Espirito Santo
Porque quando se comete blasfêmia contra o Pai e contra o Filho tem
perdão e contra o Espirito não tem perdão?
A explicação é que no plano da economia da obra de Deus, o pai ama, o
Filho é a oferta. O Pai requer; o Filho paga.
O pecado contra o Pai e contra o filho há perdão. E o Espírito Santo? Não
é Deus também em essência? Porque não há perdão aqui?
Será que o sentimento do Pai e do Filho é diferente do Espirito? Deus é
uno! Repito! Isso nos mostra que o problema do perdão não é de Deus, mas do
homem.
Deus já providenciou o caminho. O homem é que não quer acessar essa
graça gloriosa.
Uma vez que o Pai é o criador e o Filho a oferta, o Espirito Santo é o
aplicador e convencedor desse plano. Porque haveria divergência?
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É porque quando alguém, no plano da salvação, e não da essência de


Deus, rejeita esse convite, rejeita essa oportunidade, no sentido da obra
salvadora aplicada pelo Espirito, não tem perdão para ele. Ele se priva do
perdão que o Filho proveu e que o Espirito Santo está lhe convencendo. Por
isso ele não tem perdão.
Conclusão
Não ter perdão não é que o Espirito não dá o perdão, mas é que a pessoa
se priva da recepção dessa graça salvadora.
Porque sendo Deus um ser uno, em sua essência, e se Deus o Pai perdoa,
o Filho perdoa e o Espirito Santo não perdoa, não há perdão. Logo essa
blasfêmia, que não tem perdão, só pode ser na economia de Deus no plano da
salvação e em relação aquele que rejeita esse perdão.
A bíblia não apresenta um Deus bom, um Filho bom e Espirito mal.
A queda do homem foi uma tragedia! Mas, o maior erro de alguém é de
não receber a graça de Deus. Quando o homem caiu, a graça se manifestou,
houve perdão. Mas ao rejeitar a graça acaba-se a oportunidade! Não haverá
perdão!
Por isso quando diz que não há perdão, não quer dizer que o Espírito
Santo não é capaz de perdoar, mas, que alguém ao privar-se da graça salvadora,
não terá perdão, pois o único meio que o pai providenciou para dar esse perdão
é pela graça do Espirito atuando para nos convencer e nos levar ao Salvador.
A blasfêmia contra o Espirito Santo, que não há perdão, consiste
exatamente em se fechar para o único que pode trazer perdão, O Espirito Santo.
Que convence o homem do juízo, do pecado e da justiça de Deus. Não é um
ato, uma atitude, uma palavra, uma atribuição de algo de Deus ao Diabo, mas
o privar-se da graça salvadora, que consiste em não haver perdão. Não há outro
que possa oferecer esse perdão. Não haverá outra oportunidade, nem aqui e
nem no por vir.
Obs. Até porque a palavra blasfêmia tem muitos significados, e não exatamente
e unicamente o de atribuir algo de Deus ao Diabo.

1- Concordância Exaustiva de Strong.


blasfêmia, falar mal, criticar.
De blasfêmia; difamação (especialmente contra Deus) - blasfêmia, calúnia, injúria.

2- Léxico Grego de Thayer.


a) universalmente, calúnia , difamação, linguagem prejudicial ao bom nome de
outra pessoa : Mateus 12:31 ; Mateus 15:19 ; Marcos 3:28 ; Marcos 7:22 ; Efésios
4:31 ; Colossenses 3: 8 ; 1 Timóteo 6: 4 ; Judas 1: 9
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b. especificamente, linguagem ímpia e reprovadora prejudicial à majestade


divina : Mateus 26:65 ; Marcos 2: 7 ( R G );; Lucas 5:21 ; João 10:33; Apocalipse 13: 5

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