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ESCOLA DO LEGISLATIVO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU em GESTÃO NO PODER LEGISLATIVO

A nova trilogia dos Direitos Fundamentais


inseridos na Teoria Geracional

Antonio Paulo da Conceição


Turma 2

Direito Constitucional
Maristela Dias
Análise e paralelismo dos chamados étimos da democracia: liberdade, igualdade
e fraternidade, valores fundamentados pela Revolução Francesa, no século XVIII, com
a contribuição do alemão Erhard Denninger1, através de sua tríade de paradigmas
constitucionais – segurança, diversidade e solidariedade, diante da consolidação de
novos parâmetros, em que possivelmente rompe com a perspectiva de continuidade,
exposta por Peter Häberle em sua obra Libertad, Igualdad, Fraternidad: 1789 como
história, actualidad y futuro del Estado Constitucional, bem como Karel Vasak, que
criou uma outra maneira de distribuição dos direitos humanos, em primeira, segunda
e terceira geração, conforme veremos a seguir.
Não podemos passar ao largo de que os direitos humanos são construídos
através de diferentes contextos históricos, se moldando às necessidades de cada
época. Isso dá a eles, uma noção de evolução que ocorre a cada geração.
Quando os direitos humanos se estabelecem como direitos naturais garantidos
a todos os indivíduos, independente de classe social, etnia, gênero, nacionalidade ou
posicionamento político, eles protegem os indivíduos e grupos contra ações ou
omissões dos governos que atentem contra a dignidade humana, gerando assim,
segundo Vasak, 1979, a chamada teoria geracional.

Nova trilogia dos Direitos Fundamentais


Segundo FILHO e NETO, não podemos nos limitar tão somente a verificar o
surgimento de novos referenciais para repensar o Estado Constitucional proposto por
Denninger, mas avaliar uma provável ruptura paradigmática de modelos significativos
do constitucionalismo ocidental.
A trilogia de valores saída da revolução francesa fez o seu curso na esfera estatal
e internacional e constituiu a matriz das várias correntes democráticas (social-
democracia, liberalismo etc.). De resto, foi repetidamente instrumentalizada, servindo
de base para as maiores atrocidades sob a ótica da democracia, desde o capitalismo
selvagem (que pregava a liberdade) até ao comunismo burocrático (que sacralizava a

1
Erhard Denninger, professor da Universidade de Frankfurt, Professor Emérito de Direito Público
e Filosofia do Direito na Johann Wolfgang Goethe-Universität em Frankfurt am Main. Suas publicações
são voltadas para a Teoria do Estado, a Filosofia do Direito e a teoria geral dos direitos
fundamentais. De sua obra, juntamente com seu já clássico manual Staatsrecht (1973/1979), vale
destacar as compilações dos artigos Der gebändigte Leviathan (1990) e Recht in globaler
Unordnung (2005), bem como o livro Menschenrechte und Grundgesetz (1994). ). Também se destaca
como editor da revista Kritische Vierteljahresschrift für Gesetzgebung und Rechtswissenschaft e
do Alternativ-Kommentar à Lei Fundamental.
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igualdade). Existia nesse triângulo de valores, uma historicidade de absolutismo
político, regado a falta de liberdade, pela desigualdade de nascimento e por uma
miséria generalizada.
Com o passar dos anos, essa trilogia adquiriu uma densidade simbólica, que
acabou se mostrando com uma grande necessidade de atualização, tendo em vista
novas referências que se apresentavam ao longo dos anos e a novos estudos
desenvolvidos por instituições sérias e preocupadas em informar e provocar nas
novas gerações, situações de desconforto e inquietude, levando aos questionamentos
e possibilidade de adequação daqueles valores aos dias de hoje.
Essa evolução das estruturas estabelecidas pelos franceses no século XVIII,
surgiu muito em função das demandas sociais daquela época.
Ao captar e perceber esses novos problemas, Denninger não propõe uma trilogia
necessariamente contraditória com a anterior: segurança, diversidade e solidariedade,
onde se proclamava antes, liberdade, igualdade e fraternidade. A proposta é pensada
no contexto controverso constitucional alemão, mas tem virtualidades que claramente
extravasam essa contingência.
Para captar estes novos problemas, parece singularmente conseguida a
formulação de Erhard Denninger, quando propõe uma trilogia não necessariamente
contraditória com a anterior: diversidade, solidariedade, segurança, lá onde antes se
proclamava liberdade, igualdade, fraternidade. A proposta é pensada no contexto da
controversa constituicão alemã, mas tem virtualidades que claramente extravasam
essa contingência (RANGEL, 2002).
A segurança superaria a simples certeza quanto à liberdade individual dos
cidadãos, representando, antes, o anseio por uma ilimitada e interminável atividade
do estado, voltada à proteção dos indivíduos relativamente aos danos sociais,
técnicos e ambientais, assim como àqueles decorrentes da criminalidade.
A diversidade viria não apenas para superar a mera igualdade formal,
promovendo a igualdade material, mas representaria uma mudança de paradigma no
que concerne ao tratamento das minorias, não mais pretendendo absorvê-las dentro
de uma cultura predominante, mas respeitando-as em suas peculiaridades de um
modo solidário, buscando promover-lhes a integração, mas também a identidade
étnica, cultural e linguística em um processo de valorização do pluralismo, do

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multiculturalismo e de estimulo à tolerância voltada a uma cooperação ativa e
generosa em favor dos diferentes e mais fracos
A solidariedade, por sua vez, fundamentou essa diversidade exatamente por
consideração às diversas minorias, seja de natureza individual, por alguma
característica peculiar, seja por questões relacionadas a gênero ou por diversidade de
expressão social, como nas várias formas de estruturação familiar, mas também por
identidade étnica, racial, religiosa, cultural, linguística ou de opinião, dentre outras,
seria mais adequada às exigências democráticas e aos princípios da justiça quando
comparada à simples fraternidade, porquanto esta teria um forte sentimento de
pertencimento a um grupo e adotaria uma política de assimilação das diferenças,

Gerações de Direitos
No entanto, em 1979, um jurista chamado Karel Vasak2, criou uma classificação
de gerações de direitos, sem maiores pretensões científicas, mas para ajudar a situar
as diferentes categorias de direitos no contexto histórico em que surgiram. Ainda que
largamente utilizado, não é ele, contudo, um conceito aceito sem ressalvas. A mais
importante delas é, sem dúvida, a que sustenta que a ideia de gerações de direitos
poderia ser erroneamente compreendida com base no raciocínio de que uma geração
supera a geração anterior. Esse não é o caso, pois, como se sabe, as gerações, a
despeito de potenciais colisões, são complementares. Por isso, muitos autores
preferem o termo "dimensões" dos direitos fundamentais (DA SILVA, apud Karel
Vasak, 2005).
A palestra foi fruto de uma conferência no Instituto Internacional de Direitos
Humanos de Estrasburgo (França). A base de sua teoria são os princípios
da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. Esses três conceitos são
utilizados para dividir, de forma didática, os direitos humanos em três perspectivas
históricas de entendimento.
Através da teoria geracional de Vasak é possível, portanto, distribuir os direitos
humanos em: primeira geração (liberdade), segunda geração (igualdade) e terceira
geração (fraternidade).

2
Karel Vasak - Jurista tcheco, naturalizado francês, desenvolveu a teoria das gerações de
direitos.

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Em 1780, direitos humanos de primeira geração: o elemento principal é a ideia
de liberdade individual, expressa nos direitos civis e políticos. Direitos civis – para
proteger a integridade humana (liberdade de expressão; proteção à vida privada;
presunção de inocência...). Direitos políticos – para assegurar a participação popular
(direito ao voto; direito de ser votado; direito de ocupar cargos públicos...). O marco
histórico foi a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Em 1919, direitos humanos de segunda geração: o elemento principal é a ideia
de igualdade, expressa nos direitos sociais, econômicos e culturais. Direitos sociais –
para assegurar a dignidade da pessoa humana (direito à educação; direito à
alimentação; direito à previdência social...). Direitos econômicos – para valorizar o
trabalho humano e a livre iniciativa (direito à propriedade privada; defesa do
consumidor; princípios de livre concorrência...). Direitos culturais – para proteger,
valorizar e difundir a cultura nacional (direito à preservação do patrimônio histórico e
cultural; direito de acesso à cultura; direito à diversidade cultural...), o marco histórico
foi o fortalecimento do Estado de Bem-Estar Social.
Em 1960, direitos humanos de terceira geração: Os elementos principais são os
ideais de fraternidade e solidariedade, expressos nos direitos difusos e coletivos. São
direitos extensos, estendem-se a toda sociedade humana e não apenas ao indivíduo.
Os direitos de terceira geração também são conhecidos como direitos transindividuais.
São direitos transindividuais: direito ao progresso sustentado; direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado; direito à autodeterminação dos povos; direitos
da pessoa idosa. O marco histórico foi a reação aos grandes conflitos mundiais do
século XX.

Conclusão
Adotando os conceitos gerais da Revolução Francesa, de liberdade, igualdade
e fraternidade, pilares da dignidade humana; associados aos conceitos da nova
trilogia dos direitos fundamentais de Denninger, de segurança, diversidade e
solidariedade; agregados à classificação de direitos de Vasak, de primeira, segunda
e terceira geração, onde os princípios da Revolução Francesa são divididos em três
perspectivas históricas de clareza, podemos concluir que:
A primeira geração seriam os direitos de liberdade, individuais, civis, políticos e
de segurança, ou seja, um direito vocacionado às prestações negativas, abstendo-se

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o Estado (dever de proteger a esfera de autonomia do indivíduo). É possível também
um papel ativo desses mesmos direitos, pois há de se exigir ações do estado para
garantia da segurança pública, administração da justiça, entre outras.
Por conseguinte, a segunda geração consiste nos direitos voltados à igualdade
(econômicos, sociais e culturais - próprios de um vigoroso papel ativo do Estado).
Nestes, podemos identificar algumas espécies, respeito à diversidade, direitos sociais
essencialmente prestacionais e os direitos sociais de defesa, no qual o Estado deve
se abster de interferir de modo indevido.
E, para ficar claro, a terceira geração trata dos direitos de titularidade da
comunidade, direitos de solidariedade/fraternidade, respeito ao meio ambiente, a uma
vida digna.
Será que temos motivos que evidenciam a exigência de se criar uma quarta
geração? Será que o direito de participação democrática, o direito ao pluralismo, o
direito à bioética, decorrente do avanço da biotecnologia e da engenharia genética,
além da manipulação do código genético, o direito à transmissão de dados através de
meios eletrônicos e interativos e a solução de problemas que envolvem o comércio
virtual, a pirataria, a invasão de privacidade, direitos autorais e propriedade industrial,
já não seriam fundamentos robustos na defesa da dignidade da pessoa humana,
contra intervenções abusivas de particulares ou do Estado? Ainda falta sedimentação
para que a perspectiva de função social se expanda para uma quarta geração?

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REFERÊNCIAS

- DUARTE, Fernanda; VIEIRA, José Ribas. Segurança, Diversidade e Solidariedade ao


invés de Liberdade, Igualdade e Fraternidade. In Revista Brasileira de Estudos Políticos,
vol.88, dezembro de 2003, pp. 21-45. Teoria da mudança constitucional. Rio de Janeiro:
Renovar, 2005.

- FILHO, Rafael M. Iorio; NETO, Francisco da Cunha e Silva. Solidariedade, Diversidade e


Segurança: os novos paradigmas do constitucionalismo ocidental. Disponível em:
<http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/XIVCongresso/056.pdf>
Acesso em: 17 de mar de 2022.

- RANGEL, Paulo Castro. Diversidade, Solidariedade e Segurança. Artigo Revista da


Ordem dos Advogados Portugueses, Ano 62 – Vol. III – Dez 2002. Disponível em:
<https://portal.oa.pt/publicacoes/revista/ano-2002/ano-62-vol-iii-dez-2002/artigos-
doutrinais/paulo-castro-rangel-diversidade-solidariedade-e-seguranca/>
Acesso em: 17 de mar de 2022.

- DA SILVA, Virgílio Afonso. A evolução dos Direitos Fundamentais. Revista Latino-


Americana de Estudos Constitucionais 6. 2005. Disponível em:
<https://constituicao.direito.usp.br/wp-content/uploads/2005-RLAEC06-Evolucao.pdf>
Acesso em: 18 de jan de 2022.

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