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Panthera onca (Linnaeus, 1758)

Ronaldo Gonçalves Morato, Beatriz de Mello Beisiegel, Emiliano Esterci Ramalho, Cláudia Bueno de
Campos & Ricardo Luiz Pires Boulhosa

Foto: Adriano Gambarini


Ordem: Carnivora
Família: Felidae

Nomes comuns: onça-pintada, onça-preta,


jaguaretê, yaguaretê, tigre, jaguar, canguçu

Categoria de risco de extinção e critérios


Vulnerável (VU) A2bcd+3cd; C1

Panthera onca está distribuída em quase todos os biomas brasileiros, com exceção do Pampa, sendo

distribuição, o tamanho populacional efetivo estimado é menor do que 10.000 indivíduos. As principais
ameaças à espécie são a perda e fragmentação de habitat associadas principalmente à expansão agrícola,
mineração, implantação da matriz energética hidrelétrica, ampliação da malha viária e a eliminação
de indivíduos por caça ou retaliação por predação de animais domésticos. A diminuição iminente dos

representa uma ameaça à subpopulação de onça-pintada no Brasil. O declínio populacional da espécie


em decorrência de perda de habitat associada ao abate de indivíduos foi estimado em aproximadamente

27 anos. Portanto, a espécie é categorizada como Vulnerável (VU), pelos critérios A2bcd+3cd; C1.

Outras avaliações
Avaliação nacional anterior31,1450 VU A4c
Pará: VU
Minas Gerais: CR
Espírito Santo: CR
Listas estaduais de espécies Rio de Janeiro: VU
ameaçadas176,684,685,686,687a,688,688a,689 São Paulo: Ameaçada
Paraná: CR
Santa Catarina: CR
Rio Grande do Sul: CR
Avaliação global391 NT
Amazônia: VU C1
Caatinga: CR C2ai; D1
Avaliação por bioma Cerrado: EN C2ai; D1
Mata Atlântica: CR A4bcd; C2a(i)
Pantanal: VU D1

Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção ICMBio 353


Outros nomes aplicados ao táxon
Felis onca Linnaeus, 1758.

Notas taxonômicas
Até recentemente, com base em estudos morfológicos, a onça-pintada estava subdividida em oito
subespécies2086. No entanto, uma revisão das características morfológicas de crânios de onça-pintada
1138
. De forma semelhante,

666
. Por outro lado, foram reconhecidas quatro

Sul (ao norte do rio Amazonas) e sul da América do Sul (ao sul do rio Amazonas)666.

No início do século passado, a onça pintada podia ser encontrada desde o sul dos Estados Unidos
até o centro-sul da Argentina e Uruguai946
2015
. A espécie é
atualmente considerada extinta no Uruguai e em toda área dos Pampas . As onças pintadas também
946

foram consideradas extintas nos Estados Unidos, porém indivíduos oriundos do México parecem entrar
continuamente no país656,1553. No Brasil, a espécie ocorria em todos os biomas, porém não há mais relatos
da sua presença nos Pampas995.

História natural

desérticas656,1816,1927,2015 ou mesmo desertos1553. A espécie parece evitar áreas com elevada altitude, apesar
de haver registros de ocorrência de onça-pintada em áreas com 3.800 metros2345. Além disso, a espécie
evita áreas com atividade humana68,1814. Em áreas rurais, próximas a ambientes naturais da espécie, elas
podem atacar rebanhos domésticos1770

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de que onças pintadas possam se adaptar a ambientes alterados pela ação humana, porém alguns animais

com. pess., 2011).


A onça pintada é o maior felino das Américas e o único representante do gênero Panthera nesse
continente. Apesar de ser uma espécie amplamente estudada, inúmeros aspectos da sua biologia ainda
não são totalmente conhecidos. O desenvolvimento de novas tecnologias, como por exemplo os
sistemas de telemetria GPS ou GPS-Satélite, tem permitido um melhor entendimento da história natural
da espécie, porém aspectos como longevidade, sucesso reprodutivo e dispersão, entre outros, ainda são
pouco compreendidos. Até recentemente, a espécie era considerada territorialista e solitária. No entanto,
Cavalcanti e Gese405 sugerem um certo grau de sociabilidade, além disso não observaram exclusividade
de área de uso uma vez que há grande sobreposição de áreas de vida. As estimativas de área de vida
2
e outros até 260
km 2
. Diversos fatores podem estar relacionados a estas variações, tais como disponibilidade
de presas, disponibilidade de habitat adequado e variações sazonais. A onça-pintada possui hábitos
crepusculares405
como de hábito noturno1554. Na Mata Atlântica é ativa tanto de dia quanto à noite (B.B. Beisiegel,
dados não publicados). Alguns autores reportam sazonalidade reprodutiva para a espécie946,1815, porém
1475,2374
,
concordando com os resultados obtidos por Ewer e Nowell e Jackson
694 1557 1455

sugerem que a maturidade sexual das fêmeas se dá por volta dos 2-3 anos de idade, mas Viau2374 relatou
fêmeas entrando em estro aos 11 meses, sugerindo que a maturidade sexual pode ser anterior aos 2 anos.
Os machos parecem atingir maturidade sexual aos 3-4 anos de1455, porém há necessidade de estudos
694
e, de forma geral,
885
. Não há informações quanto ao sucesso reprodutivo, ou seja, quantos

anos e que podem se reproduzir durante toda a vida603. Portanto, a duração de uma geração é de 9 anos.
Mais de 85 espécies têm sido registradas como presas das onças-pintadas2086, desde pequenos mamíferos
e répteis com menos de 2 kg até antas e bovinos com mais de 200 kg.

População

estimam 10,3 ± 1,53 indivíduos/100 km2 no Pantanal2174, 0,45 a 0,79 indivíduos/100 km2 e 2,22 ± 1,33
indivíduos/100 km2 na Mata Atlântica162,544 respectivamente, 2,0 indivíduos/100 km2 no Cerrado2157, 2,67
± 1,06 na Caatinga2148 e 10,0 indivíduos/100 km2 na Amazônia1824. Recentemente, Sollmann 2177

realizaram uma estimativa de tamanho populacional de onça-pintada para todo o Brasil, considerando as
densidades estimadas e áreas protegidas para cada bioma, sugerindo cerca de 55.000 indivíduos.
Para o cálculo da população que estaria contribuindo efetivamente para o pool genético da espécie,
população efetiva (Ne), foi utilizado o estimador proposto por Frankham787,788, onde Ne = 0,1N. Este
fator de correção populacional leva em consideração fatores genéticos aplicados a grandes felinos e
outros predadores de topo. O tamanho da população total (N), quando levamos em consideração o risco
de extinção, deve ser considerado através da quantidade de indivíduos que efetivamente contribuem ao
pool genético, ou seja, a população efetiva (Ne)787,788. Desta forma, o tamanho populacional efetivo no
Brasil foi estimado em cerca de 5.500 indivíduos.

ter ocorrido nos últimos 40 anos, quando se acelerou a degradação do Cerrado e da Amazônia. Panthera
onca precisa de grandes remanescentes de vegetação natural para sua sobrevivência68,544, portanto a perda
populacional da espécie é muito mais acelerada do que a perda de remanescentes naturais. Além disto,
a espécie é ativamente perseguida por motivos de retaliação a abate de criações domésticas e motivos
culturais, e o desmatamento aumenta o acesso humano às áreas utilizadas pelas onças. Desta forma, a
diminuição da subpopulação de onças-pintadas no Brasil nos últimos 27 anos ou três gerações é estimada

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27 anos. Resumindo, a diminuição das subpopulações de onças-pintadas é muito mais veloz do que a
perda de remanescentes naturais, uma vez que o desmatamento e fragmentação contínuos implicarão em
menor quantidade de remanescentes com presença de populações da espécie, maior acesso à área destes
remanescentes pelas populações humanas, maior contato das onças com as populações do entorno, com

de subpopulações, com consequente depressão endogâmica. Desta forma, uma redução populacional de

declinando.

Ameaças
A perda e a fragmentação de habitat, associadas principalmente à expansão agrícola, mineração,
implantação da matriz energética hidrelétrica e ampliação da malha viária, são sem dúvida as principais
ameaças à conservação das onças pintadas. De forma geral, a espécie evita áreas degradadas527,547,620,1054,2157
e aquelas com uso intensivo por atividades humanas68
com produtores rurais ao atacar rebanhos domésticos. Nestes casos, muitos destes proprietários rurais

sobrevivência da espécie.

Ações de conservação

Dentre as ações de conservação existentes podemos destacar o Plano de Ação Nacional para a
Conservação da Onça-Pintada1688. Nesse documento estão listadas 46 metas e 167 ações relacionadas a
solucionar os problemas que ameaçam a sobrevivência da espécie. Nesse sentido, por exemplo, áreas

Caatinga1474. De forma semelhante, estudos em andamento no Pantanal (Panthera Foundation; Instituto


Pró-Carnívoros e ICMBio/CENAP), no Cerrado (Jaguar Conservation Fund; Instituto Biotrópicos) e na
Mata Atlântica (ICMBio/CENAP; Instituto de Pesquisas Ecológicas: Instituto Pró-Carnívoros) estão

para Conservação dos Grandes Felinos (ICMBio, em preparação). A espécie também está inserida no
Plano de Ação Nacional para a Conservação das Espécies Endêmicas e Ameaçadas de Extinção da
Fauna da Região do Baixo e Médio Xingu

Necessárias
• Redução do impacto da ocupação humana dentro de áreas prioritárias para a conservação da espécie;
• Redução do impacto ambiental nas áreas prioritárias para a conservação da espécie atingidas por grande
empreedimentos;

• Estabelecer programas de educação ambiental com foco em onça-pintada;

• Reduzir o número de espécimes retirados da natureza.

Presença em unidades de conservação


A onça-pintada está presente em pelo menos 43 unidades de conservação de proteção integral
federais1528, 22 unidades de proteção integral estaduais1000 e 26 unidades de conservação de
desenvolvimento sustentável1000. Obviamente há necessidade de investigação da presença da espécie em
outras unidades, visto que as fontes disponíveis não indicam a ocorrência de onça-pintada em unidades
do estado do Acre, por exemplo, região compreendida em sua área de distribuição. As UCs de proteção

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integral federais onde a espécie ocorre são:
Amapá: ESEC Maracá-Jipioca2369, PARNA do Cabo Orange, REBIO do Lago Piratuba1357, PARNA
Montanhas do Tumucumaque (CENAP, dados não publicados);
: PARNA Campos Amazônicos (CENAP, dados não publicados);
: PARNA da Amazônia (CENAP, dados não publicados);
Amazonas: PARNA de Anavilhanas2258, PARNA do Jaú2147;
: PARNA do Juruena (CENAP, dados não publicados);
Pará: ESEC da Terra do Meio Itatiaia, PARNA da Serra do Pardo, PARNA do Jamanxim;
Rondônia: REBIO do Guaporé38, REBIO do Jaru (CENAP, dados não publicados);
Roraima: ESEC de Maracá2147;
: PARNA Nascente do Rio Parnaíba2147, ESEC Serra Geral do Tocantins, PARNA do Araguaia
(CENAP, dados não publicados);
Goiás: PARNA da Chapada dos Veadeiros2147, PARNA das Emas (CENAP, dados não publicados);
Mato Grosso: ESEC de Taiamã, PARNA do Pantanal Matogrossense2147, ESEC Serra das Araras, PARNA
Chapada dos Guimarães (CENAP, dados não publicados);
Mato Grosso do Sul: PARNA da Serra da Bodoquena (CENAP, dados não publicados);
: PARNA de Ilha Grande2147;
Maranhão: REBIO do Gurupi (CENAP, dados não publicados);
Piauí: PARNA da Serra da Capivara2147, ESEC Uruçuí-Una, PARNA da Serra das Confusões (CENAP,
dados não publicados);
Bahia: PARNA da Chapada Diamantina2147, ESEC do Raso da Catarina (CENAP, dados não publicados);
: PARNA Grande Sertão Veredas (CENAP, dados não publicados);
: PARNA do Caparaó2147;
: REBIO de Sooretama2147;
Minas Gerais: PARNA Cavernas do Peruaçu, PARNA das Sempre-Vivas (CENAP, dados não publicados);
: PARNA do Itatiaia (CENAP, dados não publicados);
: PARNA da Serra da Bocaina2147;
: PARNA da Serra dos Órgãos (CENAP, dados não publicados);
São Paulo: ESEC Mico Leão Preto (P.R. Machado & IPÊ, com. pess., 2011);
Paraná: PARNA do Iguaçu (CENAP, dados não publicados).

Pesquisas
São inúmeras as pesquisas, em desenvolvimento, que visam elucidar aspectos biológicos da espécie
assim como subsidiar estratégias de conservação; desta forma, apenas algumas das instituições que
atuam em pesquisa e conservação da onça-pintada e seus são listados abaixo.
• Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (ICMBio/CENAP): www.
icmbio.gov.br/cenap
• Instituto para a Conservação dos Carnívoros Neotropicais (Pró-Carnívoros): www.procarnivoros.org.br
• Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ): www.ipe.org.br
• Instituto Onça-Pintada (IOP): www.jaguarfund.org.br
• Instituto Biotrópicos: www.biotrópicos.org.br
• Instituto de Pesquisas Cananeia (IPeC);
• Panthera Foundation: www.panthera.org.br
• Laboratório de Biologia Molecular da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

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