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A volta do Chauá
Edição 217 - Nov/03

Quem ouvir uns sons parecidos com "kraa-kraa", "kri-kri" ou "kreu-kreu-


kri" na região da Mata Atlântica que compreende os estados de São Paulo,
Paraná e Santa Catarina pode estar diante de uma raridade: o papagaio-
de-cara-roxa, também conhecido como chauá, quase extinto por causa da
perseguição criminosa de traficantes de animais e o desmatamento de seu
hábitat pela ocupação imobiliária. Desde 1998 esta espécie conta com a
ajuda da SPVS - Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação
Ambiental, uma entidade não-governamental que desenvolveu um projeto
de conservação nas cidades de Guaraqueçaba, Antonina e Paranaguá, no
Paraná. O trabalho colaborou para aumentar a população dos animais. De
acordo com o censo feito em julho deste ano, só no litoral do Paraná
foram encontrados 3.400 indivíduos, mais de 75% da população de
papagaios-de-cara-roxa existentes no país.

Além de realizar ações de educação ambiental junto à população, a ONG


fez um experimento que deu muito certo. Em 2002, os biólogos instalaram
num filhote um radio-colar capaz de monitorá-lo, identificando os locais
onde o animal se alimenta, dorme e se reproduz. Com isso, dá para saber
qual a qualidade do hábitat e fiscalizar a captura ilegal da espécie.
Financiado pelo Fema - Fundo Estadual do Meio-Ambiente, do governo paranaense, e pelo FNMA -
Fundo Nacional do Meio-Ambiente, o projeto custa cerca de 60 mil reais por ano. No total, anualmente,
a SPVS gasta até 200 mil reais para proteger esta espécie.

SENTINELA O papagaio-de-cara-roxa é endêmico e sua sobrevivência depende da preservação do


meio em que vive. Uma vez destruído seu hábitat, a população desta espécie vai diminuindo.
Alimentam-se principalmente de frutos, como araçá e pitanga, e também são importantes na
preservação do ecossistema local, pois espalham sementes de árvores como o guanandi e a
maçaranduba.

Da mesma forma que os tucanos, os papagaios-de-cara-


roxa vivem em bandos. Não formam uma sociedade
organizada, com hieraquias e distribuição de tarefas,
mas ajudam uns aos outros na defesa do grupo. Quando
estão se alimentando, um indivíduo ou um par
permanece como sentinela, só para observar o
ambiente. Se percebem a presença de qualquer
predador, emitem um som para avisar os demais do
risco iminente. Motivos para manter a guarda eles têm
de sobra: além do homem, esta espécie tem vários
predadores, como o gambá, o quati e o gavião.

Um comportamento peculiar do papagaio-de-cara-roxa é


que ele escolhe um parceiro fixo para a vida toda. Se um Radiocolar ajuda a identificar os locais onde o
deles morre, o outro permanece sozinho, não se animal se alimenta, dorme e reproduz
relacionando com outra ave do bando. A reprodução
costuma acontecer nos meses de setembro a março. A média é de dois ovos por postura. A fêmea
permanece a maior parte do tempo no ninho, saindo poucas vezes ao dia. Tanto ela quanto seu
parceiro alimentam e cuidam dos filhotes, que permanecem 56 dias no ninho e ficam com os pais até
completar um ano de vida. Depois disso, demora mais dois anos até chegarem à fase adulta, quando
atingem cerca de 30 centímetros e pesam 500 gramas. Por ser uma espécie selvagem, o
desenvolvimento em cativeiro só é possível com autorização do Ibama.

ESPÉCIE TIPICAMENTE BRASILEIRA

MAURILIO CHELI - NOME CIENTÍFICO: Amazona brasiliensis. A


denominação do gênero Amazona vem do verde
predominante das penas. Além de papagaio-de-cara-
roxa, esta espécie é popularmente conhecida como
chauá, designação tupi que também nomeia a espécie

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Amazona rhodocorytha, comum do estado de Alagoas ao


Rio de Janeiro.

- CLASSIFICAÇÃO: O papagaio-de-cara-roxa pertence


à ordem Psitaciformes e à família Psitacidae, a mesma
das araras, periquitos e outras espécies de papagaios.

- DISTRIBUIÇÃO: Espécie tipicamente brasileira e


endêmica da Mata Atlântica, atualmente a maioria da
população concentra-se no litoral do Paraná. No entanto,
esta ave também pode ser encontrada nos litorais sul de
São Paulo e norte de Santa Catarina.

- DESCRIÇÃO: O nome popular desta espécie vem da cor roxa de sua face, única das 11 espécies do
gênero Amazona com esta distinção. Além disso, estes papagaios têm outras características que
facilitam a identificação, como as penas das costas com bordas amarelas, a testa vermelha e uma
faixa avermelhada na cauda. São conhecidos como aves de bico redondo, devido ao formato alto e
recurvado do mesmo. Graças a uma maxila móvel articulada ao crânio, conseguem aumentar a força
do bico para partir sementes. Assim como os tucanos, possuem pés zigodáctilos, com o quarto dedo
deslocado para trás, o que possibilita a fixação nos galhos de árvores e poleiros.

Fonte: Elenise Angelotti Bastos Sipinski, bióloga, coordenadora do projeto de conservação do


papagaio-de-cara-roxa no litoral do Paraná

Bibliografia: Ornitologia Brasileira, de Helmut Sick, Editora Nova Fronteira

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