Você está na página 1de 1

Norbert Elias e a visão do nazismo

A percepção de Elias parte de uma conjugação de diversos fatores e áreas do


conhecimento a respeito, não somente do nazismo em si, mas da elaboração sócio-histórica
que convergiu processos identitários, de violência e de massas para a construção de uma
filosofia supremacista e genocida. Um ponto interessante, aliás, é a de que Norbert bebe das
obras de Freud, que era de berço judaíco e teve contato direto com o nazismo logo nos
primeiros anos de sua ascensão.
Elias, tal como Freud em Psicologia de Grupo e Análise do Ego (Freud, 1987), irá
trabalhar numa perspectiva de quais combinações sociais irão promover a dissolução de uma
individualidade na massa a ponto de ideais como o nazismo, sejam aceitos e validados por
um grupo de tal forma que a violência em suas diversas manifestações seja banalizado e
tornado algo do cotidiano, não por imposição, mas por afinidade de ideais compartilhadas por
um determinado grupo. Numa perspectiva histórica, Elias mostra que a identidade germânica,
que inicialmente era poderosa, passa por eventos ao longo do tempo que vai apagando cada
vez mais sua identidade, um processo de inferiorização que foi impulsionado sobretudo pelo
Tratado de Versalhes.
Ele parte então da compreensão de indivíduo e sociedade como processos dinâmicos,
e não estáticos, e de que a sociedade alemã estava despedaçada quando o assunto era
identidade. Hitler não precisou então da utilização da força para a implantação de seus ideais,
mas de unir o povo germânico numa visão de retomada de sua identidade, naquilo que unia
cada individualidade ao todo social. Ele passa a caracterizar o que é ser alemão e, por
conseguinte, o que é não ser alemão, buscando num ideal biológico a representação do
“homem alemão” e que, para retomada de uma identidade que vinha sendo humilhada pelos
demais povos, a reconstrução dessa identidade deveria trazer a supremacia dela perante as
demais identidades, assim sendo, processos sociais de violência e exclusão tornaram-se, não
apenas justificáveis na perspectivas nazista, mas necessários para a consolidação da
identidade germânica.
O surgimento da exclusão, da violência, da opressão contra judeus, homossexuais,
pessoas com deficiência e todo aquele que se mostrava contrário a ideia de “homem alemão”
e, portanto, superior, foi-se uma “necessidade” nazista na retomada de sua própria identidade.
Hitler não criou o nazismo, assim como nenhum ditador/autoritarista cria sua “filosofia” de
opressão, ele apenas foi um representante de ideais que já estavam em uma parcela da
população alemã, que apenas necessitava de um modelo concreto de seus ideais e, assim,
ansiava por libertar a barbárie que neles já estava contida, necessitando apenas de alguém que
desse voz a ela.

Referências
Sigmund Freud, Psicologia de grupo e análise do ego. 2ª ed.: Rio de Janeiro, Imago, 1987, p.
82.

Você também pode gostar