ISSN: 1981-8963 DOI: 10.5205/reuol.5876-50610-1-SM.

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Ilha S, Quintana JM, Santos SSC et al. Quedas em idosos: reflexão para os enfermeiros...

ARTIGO ANÁLISE REFLEXIVA

QUEDAS EM IDOSOS: REFLEXÃO PARA OS ENFERMEIROS E DEMAIS
PROFISSIONAIS
FALLS IN ELDERLY PEOPLE: REFLECTION FOR NURSES AND OTHER PROFESSIONALS
CAÍDAS EN LOS ANCIANOS: REFLEXIÓN PARA ENFERMEROS Y OTROS PROFESIONALES
Silomar Ilha1, Julia de Moura Quintana2, Silvana Sidney Costa Santos3, Danielle Adriane Silveira Vidal4, Daiane
Porto Gautério5, Dirce Stein Backes6
RESUMO
Objetivo: refletir sobre as principais alterações que podem facilitar a ocorrência de quedas, bem como as
principais consequências das quedas em idosos e a atuação do enfermeiro. Método: estudo descritivo, tipo
análise reflexiva, desenvolvido a partir da consulta de livros, dissertações e artigos publicados em periódicos
científicos na base de dados LILACS e na biblioteca virtual SCIELO, utilizando os descritores: ‘Acidentes por
quedas’, ‘Idoso’ e ‘Enfermagem’. Foram considerados os critérios de inclusão: artigos disponíveis online na
íntegra, em língua portuguesa e inglesa, publicados entre 2007 a 2012. O tratamento dos dados ocorreu pela
análise textual discursiva. Resultados: emergiram três categorias: <<Alterações relacionadas ao
envelhecimento facilitadoras de quedas em idosos >>, << Principais consequências das quedas em
idosos>> e <<Atuação do Enfermeiro na prevenção de quedas no domicílio>>. Conclusão: há necessidade
de desenvolver estratégias de intervenção com objetivo de modificar a configuração atual que propicia a
ocorrência de quedas em idosos. Descritores: Acidentes por quedas; Idoso; Enfermagem.
ABSTRACT
Objective: to reflect on the main changes that might facilitate the occurrence of falls, as well as on the main
consequences of falls in elderly people and the work of the nursing professional. Method: this is a descriptive
study, reflexive analysis type, developed through consultations to books, dissertations and papers published in
scientific journals on the database LILACS and in the virtual library SCIELO), by using the descriptors:
‘Accidents by falls’, ‘Elderly’ and ‘Nursing’. The considered inclusion criteria were: online available works in
their full versions, in Portuguese and English languages, published between the years 2007 and 2012. The
treatment of data took place by means of discursive textual analysis. Results: Three categories were
developed << Changes related to aging that might facilitate falls in elderly people>>, << Main
consequences of falls in elderly people >> and << Work of the nursing professional in preventing falls at
home >>. Conclusion: there is a need to develop intervention strategies with the purpose of modifying the
current configuration that propitiates the occurrence of falls in the elderly population. Descriptors:
Accidents by falls; Elderly; Nursing.
RESUMEN
Objetivo: reflexionar sobre los principales cambios que pueden facilitar la ocurrencia de caídas, y también
las principales consecuencias de las caídas en los ancianos y la actuación del enfermero. Método: estudio
descriptivo, análisis de tipo reflexiva, desarrollado a partir de la consulta de libros, disertaciones y artículos
publicados en revistas científicas en la base de datos Lilacs y en la biblioteca Scielo, utilizando los
descriptores: ‘Las caídas accidentales’, ‘Anciano’ y ‘Enfermero’. Fueron considerados los criterios de
inclusión: los artículos disponibles en línea en su totalidad, en lengua portuguesa e inglesa, publicados entre
2007-2012. El tratamiento de datos ocurrió por el análisis textual discursivo. Resultados: emergieron tres
categorias: << Alteraciones relacionadas con el envejecimiento facilitadoras de caídas en ancianos; Las
principales consecuencias de las caídas en personas de edad avanzada>>; << Actuación del enfermero
en la prevención de caídas en el hogar >>. Conclusión: existe la necesidad de desarrollar estrategias de
intervención con el fin de modificar la configuración actual que facilita la aparición de caídas en los ancianos.
Descriptores: Caídas accidentales; Ancianos; Enfermería.
1
Enfermeiro, Mestre em Enfermagem, Doutorando em Enfermagem, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal
do Rio Grande/PPGEnf/FURG. Rio Grande (RS), Brasil. E-mail: silo_sm@hotmail.com; 2Enfermeira, Professora Mestre em Enfermagem,
Universidade Federal de Santa Maria/UFSM. Santa Maria (RS), Brasil. E-mail: juliaquintana@hotmail.com; 3Enfermeira, Professora Doutora
em Enfermagem, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande/FURG/PPGEnf. Rio Grande (RS),
Brasil. E-mail: silvanasidney@pesquisador.cnpq.br; 4Enfermeira, Mestranda em Enfermagem, Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande/PPGEnf/FURG. Rio Grande (RS), Brasil. E-mail: daniellesvidal@gmail.com; 5Enfermeira,
Mestre em Enfermagem, Doutoranda em Enfermagem, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio
Grande/PPGEnf/FURG. Rio Grande (RS), Brasil. E-mail: daianeporto@bol.com.br; 6Enfermeira, Professora Doutora em Enfermagem,
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Universidade Federal do Rio Grande/FURG/PPGEnf. Rio Grande (RS), Brasil. E-mail:
backesdirce@ig.com.br

Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 8(6):1791-8, jun., 2014 1791
ISSN: 1981-8963
Ilha S, Quintana JM, Santos SSC et al.
INTRODUÇÃO
O desenvolvimento científico e tecnológico
associado às melhores condições de saúde e
bem-estar social, entre outros fatores, tem
resultado em importante aumento da
expectativa de vida no mundo inteiro. No
Brasil, existem cerca de 21 milhões de pessoas
com mais de 60 anos e estima-se que, em
2025, o país deverá ser o sexto maior do
mundo em relação ao número de idosos.1
O envelhecimento é um processo natural, o
qual pode vir acompanhado por problemas na
saúde física e/ou psíquica, provocados pela
presença de fatores pessoais e contextuais
que favorecem o surgimento de Doenças
Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) e
predispõem a ocorrência de acidentes, entre
eles, podem-se citar as quedas. A queda é
uma mudança de posição acidental, não
intencional que faz com que o indivíduo
permaneça em um nível inferior à posição
inicial.2 Independente da causa, o acúmulo de
alterações no equilíbrio corporal diminui a
capacidade compensatória do indivíduo,
aumentando sua instabilidade e,
3
consequentemente, seu risco de cair.
As quedas se configuram como a maior
causa de trauma em idosos e o risco para que
aconteçam aumenta proporcionalmente ao
número de fatores existentes, pois elas
resultam de uma complexa interação entre
eles.4 Esses fatores são categorizados em
quatro dimensões: biológica, comportamental,
ambiental e socioeconômica. Estudo recente
categorizou tais fatores em: ambientais,
quedas em adultos, cognitivos, fisiológicos e
medicamentosos5, levando em conta os riscos
de quedas segundo o diagnóstico de
enfermagem “Risco de quedas” da North
American Nursing Diagnosis Association
(NANDA).
Uma queda em um idoso pode representar
consequências de ordem física, como lesões
de pele, luxações, fraturas e declínio
funcional, e consequências psicológicas, como
medo e perda de confiança, resultando na
diminuição da autonomia e da independência.
No Brasil, tem-se a estimativa de que 32% das
quedas ocorrem em pessoas de 65 a 74 anos;
35% em pessoas de 75 a 84 anos e 51%, em
pessoas acima de 85 anos. Assim, a queda
torna-se um evento limitante, sendo
considerado um marcador de declínio na
saúde de idosos, fragilidade,
6
institucionalização e morte.
O risco de cair aumenta significativamente
com o avançar da idade, fazendo com que as
quedas sejam consideradas uma síndrome
geriátrica e um grande problema de saúde
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DOI: 10.5205/reuol.5876-50610-1-SM.0806201444
Quedas em idosos: reflexão para os enfermeiros...
pública, devido ao aumento dos gastos e a
demanda por cuidados de longa duração.2
Neste contexto, é imprescindível que os
profissionais de saúde/enfermeiros iniciem e
intensifiquem o estabelecimento de
estratégias de promoção à saúde e prevenção
de quedas em pessoas idosas, estejam estas
hospitalizadas, institucionalizadas ou
domiciliadas.
Tal fato justifica o interesse em
desenvolver este estudo, que poderá fornecer
melhor compreensão sobre as principais
alterações que podem facilitar a ocorrência
de quedas, bem como sobre as principais
consequências das quedas em idosos,
realçando a importância dos profissionais de
saúde, em especial do enfermeiro, possuírem
conhecimentos que venham minimizar o
ocorrência destes acidentes.
Com base no exposto, questiona-se: Quais
são as principais alterações que podem
facilitar a ocorrência de quedas nos idosos?
Quais são as principais consequências das
quedas nos idosos? Como ocorre a atuação do
enfermeiro quanto às quedas em idosos?
Sendo assim, na tentativa refletir sobre os
questionamentos e, na expectativa de
possibilitar olhares interativos e
comprometidos com a saúde dos idosos,
levanta-se o seguinte objetivo:
● Refletir sobre as principais alterações
que podem facilitar a ocorrência de quedas,
bem como as principais consequências das
quedas em idosos e a atuação do enfermeiro.
MÉTODO
Estudo descritivo, tipo análise reflexiva,
desenvolvido por meio de leitura de livros
impressos e materiais disponíveis online, tais
como: dissertação de mestrado, documentos
do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) e da Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia (SBGG). Foram
realizadas, ainda, consultas a periódicos
científicos da enfermagem na base de dados
Literatura Latino Americana em Ciências da
Saúde (LILACS) e na biblioteca virtual
Scientific Electronic Library Online (SCIELO),
por meio dos descritores: ‘Acidentes por
quedas’, ‘Idoso’ e ‘Enfermagem’.
Os critérios de inclusão das publicações
definidos para esta revisão foram: trabalhos
disponíveis online na íntegra, em língua
portuguesa e inglesa, publicados entre os
anos de 2007 e 2012, condizentes ao tema
proposto. Optou-se por esse período de
tempo, por serem artigos referentes aos
últimos cinco anos, representando dessa
forma um referencial com dados
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considerados recentes acerca da temática organismo que pode ser observada em todos
estudada. os sistemas. Essa diminuição pode levar às
Utilizou-se a técnica de análise textual alterações funcionais e perda da
discursiva7 como ferramenta analítica dos adaptabilidade, que podem ocasionar
estudos que atenderam aos critérios de inaptidão física no idoso e dificuldade na
inclusão. Essa técnica consiste em descobrir realização das Atividades da Vida Diária
os núcleos de sentido que compõem uma (AVDs). Logo, existe uma grande necessidade
comunicação, cuja presença ou frequência de compreender as alterações orgânicas,
acrescentem perspectivas significativas ao psíquicas e sociais, tendo em vista que o
objeto de estudo em questão. A noção da cuidado ao idoso já se coloca entre os
temática está associada a uma afirmação que principais problemas de saúde pública, tanto
diz respeito a um determinado assunto, em países desenvolvidos como em
podendo ser apresentada por uma palavra, desenvolvimento, sendo destacado como tema
frase ou ideia.7 de prioridade de pesquisa.8
Para que a prevenção das quedas em idosos
RESULTADOS E DISCUSSÃO
seja efetiva, é necessária a compreensão das
Após análise dos estudos, emergiram as alterações fisiológicas que ocorrem no
categorias << Alterações relacionadas ao processo de envelhecimento. Neste
envelhecimento facilitadoras de quedas em delineamento, apresenta-se a Figura 1, com
idosos >>, << Principais consequências das as principais alterações relacionadas ao
quedas em idosos>> e <<Atuação do processo de envelhecimento que podem
Enfermeiro na prevenção de quedas no ocasionar quedas em idosos.9
domicílio>>.
 Alterações relacionadas ao
envelhecimento facilitadoras de quedas
em idosos
O envelhecimento fisiológico leva a uma
diminuição das reservas funcionais do

Coluna cervical curva-se para frente, aproximando a cabeça do esterno, devido à

lentidão dos movimentos;
Sistema Acentua-se a cifose dorsal (postura fica inclinada para frente);
musculoesquelético e Diminuição das cartilagens intercostais, rigidez musculoesquelética;
atitude postural As cartilagens ficam delgadas e surgem rachaduras, o que as tornam mais frágeis e
provocam redução da mobilidade articular;
O tecido muscular é substituído por colágeno;
Diminuição e lentidão dos movimentos;
Insegurança na marcha (medo de deambular, caminhar).
Coração senil (coração fica mais frágil, envelhecido);
Sistema Arteriosclerose, vasos periféricos sinuosos e endurecidos;
Cardiovascular e aparelho Maior rigidez de válvulas cardíacas;
circulatório Aumento da pressão arterial sistólica;
Diminuição do débito cardíaco em aproximadamente 50%;
Falta de adaptação da bomba cardíaca, insuficiência cardíaca congestiva.
O cérebro perde neurônios, ficando menos eficiente;
Marcha de pequenos passos (diminuição da agilidade, dificultando caminhadas
rápidas);
Sistema nervoso Bradicinesia (movimentos lentos) e tremores;
Hiporreflexia (reflexos diminuídos, lentos);
Agitação, confusão mental e depressão;
Arteriosclerose dos vasos cerebrais (vasos sanguíneos cerebrais tornam-se
endurecidos, rígidos, frágeis);
Diminuição da acuidade visual e audição (dificuldade visual);
Diminuição da memória e da percepção.
Figura 1. Alterações relacionadas ao processo de envelhecimento que poderão ocasionar quedas nos idosos. 9

O envelhecimento é um processo equilíbrio, lentificação do tempo de reação,

biopsicossocial que acomete o indivíduo como
um todo, embora cada aparelho ou sistema do
organismo se modifique em velocidade e
forma diferente. As perdas que acontecem ao
longo do tempo podem estar relacionadas aos
cuidados dedicados à saúde geral ou a falta
deles. O envelhecimento acarreta alterações
fisiológicas que favorecem a ocorrência das
quedas, como declínio da força muscular,
alterações na massa óssea, déficit de
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Rev enferm UFPE on line., Recife, 8(6):1791-8, jun., 2014
aumento do balanço do corpo, declínio dos
reflexos, redução do controle postural, da
coordenação motora, da flexibilidade, além
de deficiências de visão, propriocepção,
vibração e do sistema vestibular.9
A maior suscetibilidade dos idosos para
sofrerem lesões decorrentes de uma queda se
deve à sua fragilidade, a qual é desencadeada
pela alta prevalência de comorbidades e
associada ao declínio funcional decorrente do
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processo de envelhecimento e a diminuição
das reservas fisiológicas.10 Em idosos, uma
queda leve pode tornar-se um evento
potencialmente perigoso.
Os fatores relacionados às quedas de idosos
são múltiplos e comumente classificados em
intrínsecos e extrínsecos. Os fatores
intrínsecos incluem as diversas doenças,
alterações fisiológicas do envelhecimento e
consumo de medicamentos, dentre outros. Os
fatores extrínsecos são circunstâncias sociais e
ambientais que oferecem desafios ao idoso,
como iluminação inadequada, superfícies
escorregadias, obstáculos, calçados e roupas
inadequadas e irregularidades no solo, dentre
outros. A participação dos fatores de risco
ambientais pode estar presente em até 50%
das quedas entre os idosos da comunidade.3,6
A influência dos fatores ambientais no risco
de quedas associa-se ao estado funcional e à
mobilidade prejudicada da pessoa idosa.
Dessa forma, algumas manobras posturais e
obstáculos ambientais que em geral não
oferecem risco podem transformar-se em
sérias ameaças à segurança e a saúde dos
idosos com alterações sensoriais.11 Em estudo
realizado com 120 idosos, de ambos os sexos,
atendidos em um ambulatório de geriatria de
um hospital universitário do município de João
Pessoa/PB, Nordeste do Brasil, verificou-se
que um grande número de idosos caiu no
próprio domicílio (57%), sendo muitas dessas
quedas decorrentes de ambiente físico
inadequado (44,9%), demonstrando a
12
importância da adequação.
O Conselho Regional de Enfermagem do Rio
Grande do Sul (COREN/RS) define como
competência do enfermeiro requisitar
infraestrutura adequada nas instituições que
atendam ao idoso, no intuito de que fazer
com que essas instituições contemplem as
necessidades específicas dessas pessoas.13 É
essencial que os enfermeiros possuam
conhecimento específico para atuar com
idosos frente à necessidade de avaliação das
condições deles e do ambiente em que
residem, visando a identificação dos fatores
de risco para quedas e elaboração de ações
com objetivo de prevenir estas acidentes e/ou
minimizar suas consequências.11
Compreender as alterações relacionadas ao
processo de envelhecimento torna-se
imprescindível para que os profissionais de
saúde/enfermeiros possam direcionar o
cuidado específico aos idosos, identificando as
suas necessidades a fim de possibilitar a
prevenção de quedas e a manutenção da
funcionalidade e da qualidade de vida.11
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Quedas em idosos: reflexão para os enfermeiros...
 Principais consequências das quedas
em idosos
Em decorrência do aumento da expectativa
de vida e das quedas em idosos, é de vital
importância atentar para as consequências
desses eventos e para condutas profissionais
que contemplem a prevenção dos agravos à
saúde dos idosos. Cerca de 40% a 60% das
quedas levam a ferimentos, sendo 30% a 50%
ferimentos leves, 5% a 6% de lesões mais
graves, excluindo fraturas, e 5% de fraturas.14
Em estudo realizado com 121 prontuários
de idosos institucionalizados, que objetivou
verificar a prevalência de quedas em idosos
residentes de Instituições de Longa
Permanência para Idosos (ILPIs), se identificou
que 11,4% de lesões ocorreram na região da
cabeça, o que poderia resultar em graves
lesões cerebrais, com prejuízo às funções
vitais e risco à vida.14
Quanto às fraturas, as mais comuns foram
na região do quadril (25%). Esse tipo de
fratura é mais prevalente em indivíduos acima
de 75 anos, sendo decorrente da lentificação
dos reflexos e do prejuízo na habilidade de
proteger o quadril durante a queda.
Aproximadamente 25% dos idosos com esse
tipo de fratura morrem após seis meses do
evento e 60% apresentam incapacidade de
realizar suas funções habituais.14
As fraturas mais comuns na velhice são
aquelas ligadas ao desequilíbrio e às quedas,
provocando fraturas no colo do fêmur, quadril
ou vértebras lombares. Essas lesões fazem
com que o idoso fique imobilizado por muito
tempo em leitos hospitalares, fato que pode
ocasionar a piora do seu quadro geral e,
consequentemente, a morte.10
Nesse sentido, as alterações ocorridas após
as quedas, segundo relatos de idosos e de seus
familiares foram o aumento da dificuldade e
da dependência para a realização das
Atividades da Vida Diária (AVDs). As AVDs mais
acometidas foram: deitar/levantar-se da
cama, deambular em superfície plana e
irregulares fora de casa, tomar banho, cuidar
das finanças, fazer compras, usar transporte
coletivo e subir escadas.15
Além de fraturas e lesões físicas, as quedas
podem gerar medo constante de cair,
limitando progressivamente a participação dos
idosos em atividades cotidianas. Em estudo
realizado com idosos, de ambos os sexos,
atendidos no ambulatório de geriatria de um
hospital universitário localizado em João
Pessoa/PB, dos 120 idosos analisados, 101
(84,17%) já caíram, e desses, 48 (40%) no
último ano. Dentre aqueles idosos que já
haviam caído, 85 (84,16%) evidenciaram medo
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de uma nova queda; e dentre os idosos que estimulando aumento da mobilidade,

não possuíam histórico de quedas, 12 (63,16%) alimentação saudável e ambiente seguro.
referiram medo de cair.16 O enfermeiro, por ser o profissional
A queda pode assumir significados de responsável pelo gerenciamento do cuidado,
decadência e fracasso para o idoso, devido à deve agir preventivamente com os idosos,
perda de capacidades do corpo, procurando atuar sobre os fatores que podem
desencadeando sentimentos de desencadear o acidente por queda. Ressalta-
vulnerabilidade, constrangimento e culpa; a se que a ação dos profissionais junto ao idoso
resposta depressiva subsequente é um implica em um diálogo permanente, sendo
resultado esperado. Aqueles que sofrem uma experiência intersubjetiva, que tem
quedas apresentam um grande declínio como lócus central o idoso, a família e o
funcional nas AVDs e nas atividades sociais. A profissional de enfermagem.18 A ação do
ruptura com o cotidiano e a estranheza da enfermeiro deve estar alicerçada nas
nova situação de cuidados pode radicalizar a necessidades do idoso e a atuação desse
dissolução da identidade, desencadeando ou profissional deve centrar-se na
agravando alterações psicológicas.9 (re)organização da moradia, tornando o
Em longo prazo, surgem prejuízos também ambiente seguro. Igualmente importante é o
para a família e para os serviços de saúde, conhecimento do condicionamento físico do
que precisam se mobilizar para o tratamento idoso, para fortalecimento do sistema motor.
e recuperação da saúde do idoso. A A orientação de medidas práticas podem
reabilitação pós-queda pode ser demorada e, ser implementadas para minimizar a
no caso de imobilidade prolongada, pode ocorrência de quedas (Figura 2), não sendo
ocorrer complicações como tromboembolismo necessários grandes gastos ou mudanças
venoso, úlceras por pressão e incontinência radicais no âmbito da família.15
urinária. Tornando-se dependente, a vítima da
queda pode demandar mais tempo do seu
cuidador, podendo acarretar problemas
sociais, como o afastamento de familiares,
amigos, dentre outros.6
Deve-se detectar os fatores de risco físicos
e ambientais e modificá-los, contribuindo para
a prevenção de quedas e possíveis
complicações aos idosos e para a manutenção
de sua autonomia.4 Dessa forma, os
profissionais de saúde/enfermeiros devem ter
em mente que atuar com medidas preventivas
é o melhor a ser feito para modificação das
estatísticas das quedas e, principalmente,
para melhoria das condições de vida e de
saúde dos idosos.
 Atuação do Enfermeiro na prevenção de
quedas no domicílio
Os fatores ambientais são os que
proporcionam maior risco de queda e, quando
associados aos problemas físicos dos
indivíduos, são ainda mais agravantes. Essa
associação pode ocasionar comprometimento
funcional e das atividades físicas ocasionando
não somente prejuízo no equilíbrio em si,
como também limitações da força muscular,
da mobilidade e da marcha. Por isso, nas
situações de assistência a saúde, esses fatores
devem ser avaliados.17 É imprescindível que a
equipe de saúde/enfermagem saiba identificar
e diagnosticar os indivíduos propensos a
sofrerem quedas, no intuito de minimizar esse
grave e frequente acontecimento. Os
profissionais de saúde/enfermeiros podem
auxiliar o idoso a prevenir as quedas,

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Manter iluminação adequada;

Utilizar cama que não ultrapasse 50 cm de altura;
Quarto Manter móveis de fácil acesso e altura apropriada para o idoso, que tenham formatos arredondados e
sem pontas;
Evitar tapetes, fios ou qualquer outro objeto no acesso a portas, corredores e ao redor da cama.
Manter iluminação adequada;
Utilizar no box do chuveiro ou banheira tapetes emborrachados e antiderrapantes;
Manter barra de segurança no box e ao lado do assento sanitário;
Banheiro
Manter sabonetes em saboneteira fixa, evitar segurá-lo, para não cair ou escorregar;
Manter um pequeno banco no box, caso decida por banhar-se sentado;
Elevar o vaso sanitário para cerca de 50 cm, o que facilita sentar e levantar.
Manter iluminação adequada;
Manter cabos de panelas para dentro do fogão;
Evitar vestimentas largas que podem ficar presas a cabos de panelas;
Cozinha
Manter a cozinha bem iluminada com lâmpadas de pelo menos 60 watts;
Organizar materiais e produtos mais utilizados em ambientes de fácil alcance;
Manter bancada de pia e fogão em altura correspondente.
Manter iluminação adequada;
Fixar estantes e manter aparelhos de som e televisão com controle remoto;
Sala
Manter sofás e poltronas com altura em torno de 50 cm;
Manter mesas, cadeiras e outros móveis com cantos arredondados.
Evitar tapetes soltos e objetos espalhados pelo chão;
Manter iluminação adequada;
Chão
Evitar pisos lisos, utilizar preferivelmente antiderrapante, evitar ceras ou quaisquer produtos
brilhosos e escorregadios.
Manter iluminação adequada;
Fixar corrimão de ambos os lados, estendê-los um pouco além do começo e fim dos degraus;
Escadas
Colocar tarjas emborrachadas em cada degrau;
Colocar fita colorida na borda do topo e do final dos degraus.
Figura 2. Estratégias de orientação para prevenir a ocorrência de quedas nos idosos no domicílio. 15

A síntese apresentada na Figura 2 reflete a
importância de ambiente doméstico seguro e
adequado às condições individuais essenciais
para que o idoso possa realizar as atividades
de vida diária.15 Para se compreender as
demandas assistenciais dos idosos, faz-se
necessária, além da avaliação de sua
capacidade funcional, a análise das condições
sociodemográficas, dos problemas de saúde e
dos fatores de risco aos quais estão
susceptíveis.12
Há necessidade dos enfermeiros
conhecerem e compreenderem a realidade da
vida diária dos idosos e dos
cuidadores/familiares, recuperando valores de
vida, condições sociais e maneiras de adequar
o ambiente, visando uma maior autonomia.
Isso exige a percepção de que a mudança de
hábitos e do domicílio pode não ser simples
para o idoso e família, visto que esse local,
bem como suas características, faz parte da
construção da história e da cultura do
indivíduo.
CONCLUSÃO
Considera-se satisfatória a realização deste
estudo, pois foi possível refletir sobre as
principais alterações decorrentes do processo
de envelhecimento que podem facilitar a
queda, as consequências destas nos idosos e a
atuação dos enfermeiros na prevenção de
quedas no domicílio.
Como limitação deste estudo, há o amplo
número de publicações relacionadas às quedas
em idosos publicadas em outras bases de
dados, além das escolhidas como critérios de
inclusão, existindo a possibilidade de que
estudos relevantes podem não ter sido
contemplados.
A queda deve ter seu foco de prevenção no
ambiente seguro e nos hábitos e atitudes do
idoso que podem representar riscos. Dessa
forma, a autonomia, a capacidade funcional,
a independência e o ambiente são aspectos
importantes a serem analisados na
determinação das quedas. É necessário que
ocorra uma conscientização populacional para
que esse evento tão frequente não seja
tratado somente após a sua ocorrência, e a
ênfase esteja centrada na promoção da saúde
e implementação de ações preventivas.
Ademais, é necessário ampliar o saber dos
profissionais de saúde, principalmente dos
enfermeiros, acerca do cuidado à saúde do
idoso.
É importante que a sociedade entenda que
as quedas em idosos não são apenas um
problema particular de quem sofre esses
acidentes, mas também um problema de
saúde pública, o qual requer consideráveis
investimentos em programas e políticas
públicas de atenção e promoção da qualidade
de vida dos idosos e de seus familiares. Há a
necessidade de desenvolver estratégias de
intervenção com objetivo de modificar a
configuração atual que propicia a ocorrência
de quedas em idosos.
Espera-se com este estudo que os
profissionais de saúde, em especial os
enfermeiros, sintam-se sensibilizados quanto à
prevenção de quedas e suas consequências,
contribuindo para a manutenção de um
envelhecimento ativo e participativo. Para
que esse cuidado seja possível, é importante

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Rev enferm UFPE on line., Recife, 8(6):1791-8, jun., 2014 1796
ISSN: 1981-8963
Ilha S, Quintana JM, Santos SSC et al.
considerar o preparo e o compromisso
profissional para um cuidado integral,
reconhecendo aspectos individuais e coletivos
da população em questão, visando à promoção
de saúde de forma ampliada e Saúde). [cited 2013 Jan 20]. Available from:
contextualizada.
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Estatística (IBGE). Projeção da População do
Brasil por sexo e idade (1980-2050): Revisão
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Submissão: 17/02/2014
Aceito: 07/04/2014
Publicado: 01/06/2014
Correspondência
Silomar Ilha
Rua Maria Noal, 8
CEP 97020-510 ― Santa Maria (RS), Brasil
Português/Inglês
Rev enferm UFPE on line., Recife, 8(6):1791-8, jun., 2014 1798