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EUROCÓDIGO 7 :

PROJECTO GEOTÉCNICO
QUESTÕES ESSENCIAIS
EUROCÓDIGO 7 : PROJECTO GEOTÉCNICO. QUESTÕES ESSENCIAIS

O Eurocódigo 7: Projecto geotécnico - Parte 1: Regras Gerais foi


aprovado como Norma Europeia em 2004 (ENV 1997-1:1994).

Lista dos Eurocódigos Estruturais

Eurocódigo 0 Bases do Projecto Estrutural

Eurocódigo 1 Acções sobre Estruturas

Eurocódigo 2 Estruturas de Betão

Eurocódigo 3 Estruturas de Aço

Eurocódigo 4 Estruturas Mistas de Aço e Betão

Eurocódigo 5 Estruturas de Madeira

Eurocodigo 6 Estruturas de Alvenaria

Eurocodigo 7 Estruturas Geotécnicas

Eurocódigo 8 Estruturas Resistentes aos Sismos

Eurocódigo 9 Estruturas de Alumínio


EUROCÓDIGO 7 : PROJECTO GEOTÉCNICO. QUESTÕES ESSENCIAIS

A nível nacional o processo é da responsabilidade do Instituto


Português da Qualidade, que a transferiu para o Laboratório Nacional
de Engenharia Civil.

HISTÓRICO:
…nos anos 90 do século XX, e que constituíram Pré-Normas
Europeias. A correspondente ao EC 7 foi aprovada a nível europeu
em 1993 e a tradução portuguesa (Norma Portuguesa, ENV 1997-1,
1999) foi aprovada em 1999.
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A nova Norma Portuguesa corresponde ao novo Eurocódigo7 (EC 7) e


deve ser aprovada ainda em 2007 e tem a seguinte organização.

Capítulo 1 Generalidades
Capítulo 2 Bases do dimensionamento geotécnico
Capítulo 3 Caracterização geotécnica
Controlo da construção, observação e
Capítulo 4
manutenção
Materiais de aterro, rebaixamentos aquíferos,
Capítulo 5
melhoramento e reforço do terreno
Capítulo 6 Fundações superficiais
Capítulo 7 Fundações em estacas
Capítulo 8 Ancoragens
Capítulo 9 Estruturas de suporte
Capítulo 10 Rotura hidráulica
Capítulo 11 Estabilidade global
Capítulo 12 Aterros
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LIMIT STATE DESIGN


DIMENSIONAMENTO BASEDO NOS ESTADOS LIMITES

Há que distinguir entre os chamados:

• Estados Limites Últimos, associados ao colapso ou outras formas


de rotura – e,

• Estados Limites de Utilização - estados dominados por requisitos


de funcionamento da estrutura.
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Estados limites

Devem ser considerados os seguintes estados limites e deve ser feita uma
compilação apropriada dos estados
limites a considerar:
– perda de estabilidade global;
– rotura por insuficiência de capacidade resistente do terreno ao
carregamento, rotura por punçoamento, esmagamento;
– rotura por deslizamento;
– rotura conjunta do terreno e da estrutura;
– rotura estrutural devida a movimentos da fundação;
– assentamentos excessivos;
– empolamento excessivo devido à expansão, ao gelo intersticial ou a
outras causas;
– vibrações inadmissíveis.
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valores de cálculo, Fd e Xd:


Fd = F Frep
Frep = ψ Fk
Xd = Xk / M

em que:
- Frep é o valor representativo da acção,
- Fk é o valor característico da acção,
- ψ é factor que converte o valor característico da acção em
valor representativo (dado pelo EC 1),
- F é o coeficiente parcial de segurança para a acção, que tem
em conta possíveis desvios desfavoráveis do valor da mesma,
- Xk é o valor característico da propriedade do material,
- M é o coeficiente de segurança parcial para o material, que
tem em conta possíveis desvios desfavoráveis em relação ao
valor característico.
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NOTA:

Nos casos em que desvios nos parâmetros definidores da


geometria têm um efeito significativo no desempenho da
estrutura, os valores de cálculo daqueles parâmetros, ad,
intervêm na abordagem referida.
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Os valores de cálculo das acções, das propriedades dos materiais e


dos dados geométricos, como o próprio nome indica, são aqueles
que vão intervir nos cálculos de dimensionamento da estrutura,
ou, usando a terminologia apropriada, nas verificações de
segurança.

Essencialmente,

trata-se de comparar dois tipos de forças generalizadas:


as forças resistentes e as associadas ao efeito das acções
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Usando a simbologia comum a todos os eurocódigos, terá que


cumprir-se:

Ed  Rd

Ed corresponde ao valor de cálculo dos efeitos das acções e Rd


representa o valor de cálculo da resistência.

Em obras geotécnicas, podem estar representadas grandezas físicas


muito diversas, tais como:

• a força tangencial instabilizadora e a força tangencial resistente na


base de um muro gravidade, numa verificação em relação a um
estado limite por escorregamento pela base do muro;
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• o momento do peso do terreno e o momento da resistência do


terreno ao longo de uma superfície potencial de deslizamento,
tomados em relação ao centro desta superfície - verificação de
estabilidade global de um talude;
• a componente vertical da acção sobre uma fundação e a
capacidade resistente às acções verticais do terreno, numa
verificação em relação à rotura de uma fundação por
insuficiente capacidade resistente do terreno;
• o momento flector actuante e o momento flector resistente, numa
verificação em relação a uma rotura por flexão numa dada
secção de uma estaca ou de uma cortina de aço ou de betão
armado.
NOTA:
…por vezes, as acções ou os efeitos das acções dependem das
propriedades resistentes dos materiais e as resistências, por vezes,
dependem das acções…
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Por exemplo, o impulso do terreno sobre um muro de suporte


depende das propriedades resistentes do próprio terreno

Ed
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Ou, na verificação de estabilidade global de um talude a resistência


do terreno ao longo da superfície de deslizamento depende, no caso
geral, do peso da massa potencialmente instável.

wi

Rd
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De facto, as grandezas Ed e Rd são, no caso mais geral, funções dos


valores de cálculo das acções (permanentes e variáveis), das
características resistentes dos materiais e dos parâmetros
geométricos:

Ed = E (Fd, Xd, ad)


Rd = R (Fd, Xd, ad)
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Abordagens de Cálculo e Combinações


Abordagem de Cálculo 1
Exceto no cálculo de estacas carregadas axialmente e de ancoragens, deve ser feita a
verificação de que não ocorre um estado limite de rotura ou de deformação excessiva para
qualquer das seguintes combinações de conjuntos de coeficientes parciais:
Combinação 1: A1 “+” M1 “+” R1
Combinação 2: A2 “+” M2 “+” R1
em que “+” significa: “combinado com”.

No cálculo de estacas carregadas axialmente e de ancoragens deve ser feita a verificação


de que não ocorre um estado limite de rotura ou de deformação excessiva para qualquer
das seguintes combinações de conjuntos de coeficientes parciais:
Combinação 1: A1 “+” M1 “+” R1
Combinação 2: A2 “+” (M1 ou M2) “+” R4
Abordagem de Cálculo 2
Deve ser feita a verificação de que não ocorre um estado limite de rotura ou de
deformação excessiva para a seguinte combinação de conjuntos de coeficientes parciais:
Combinação: A1 “+” M1 “+” R2
Abordagem de Cálculo 3
Deve ser feita a verificação de que não ocorre um estado limite de rotura ou de
deformação excessiva para a seguinte combinação de conjuntos de coeficientes parciais:
Combinação: (A1* ou A2†) “+” M2 “+” R3 (* nas acções estruturais; † nas acções geotécnicas)
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AS ABORDAGENS DE CÁLCULO
Os valores de cálculo das acções e das propriedades dos materiais
são calculados utilizando os coeficientes de segurança parciais
referentes aos parâmetros de resistência do terreno (M) e às acções
(neste caso usando-se os símbolos G e Q para as acções
permanentes e variáveis, respectivamente).

No código estão previstas três Abordagens de Cálculo, que diferem


no que respeita aos valores previstos para aqueles coeficientes de
segurança.

A Abordagem de Cálculo 1 é, no essencial, aquela (única) que


estava prevista na Pré-Norma Europeia de 1993, sob o nome de
casos B e C, agora designados, no âmbito da Abordagem de Cálculo
1, como Combinações 1 e 2, respectivamente.
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Abordagens de Cálculo e Combinações


Os coeficientes parciais do Anexo A utilizados nas expressões (2.6) e (2.7) são agrupados
em conjuntos denominados A (para as acções ou para os efeitos das acções), M (para os
parâmetros do solo) e R (para as capacidades resistentes).

Coeficientes parciais para a verificação de estados limites de rotura estrutural


(STR) ou de rotura do terreno (GEO)
Coeficientes parciais para as ações (F) ou para os efeitos das acções (E)
Na verificação de estados limites de rotura estrutural (STR) ou de rotura do terreno
(GEO) deve ser aplicado um dos conjuntos A1 ou A2 dos seguintes coeficientes
parciais para as ações (F) ou para os efeitos das ações (E):
– EG para as ações permanentes desfavoráveis ou favoráveis;
– Q para as ações variáveis desfavoráveis ou favoráveis.
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Abordagens de Cálculo e Combinações


Coeficientes parciais para os parâmetros do solo (M)
Na verificação de estados limites de rotura estrutural (STR) ou de rotura do terreno
(GEO) deve ser aplicado um dos conjuntos A1 ou A2 dos seguintes coeficientes
parciais para as acções (F) ou para os efeitos das acções (E):
– ’ para a tangente do ângulo de atrito interno em tensões efectivas;
– c’ para a coesão em tensões efectivas;
– cu para a resistência ao corte não drenada;
– qu para a resistência à compressão uniaxial;
– qu para o peso volúmico
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Abordagens de Cálculo e Combinações


Coeficientes parciais para as capacidades resistentes para fundações superficiais

Na verificação de estados limites de rotura estrutural (STR) ou de rotura do terreno


(GEO) relativos a fundações superficiais deve ser aplicado um dos conjuntos R1,
R2 ou R3 dos seguintes coeficientes parciais para as capacidades resistentes (R):
– R;v para a capacidade resistente do terreno ao carregamento;
– R;h para a capacidade resistente do terreno ao carregamento
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Tal como já acontecia com a Pré-Norma, para cada estado limite


deve, em princípio, ser efectuada a verificação de segurança
segundo as duas combinações.
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AS DUAS COMBINAÇÕES DA ABORDAGEM DE


CÁLCULO 1
A necessidade de fazer a verificação através de dois conjuntos
(combinações) de coeficientes parciais de segurança, resulta de
estarem envolvidos problemas de muito grande diversidade.

Como exemplo:

• um talude natural em que existem apenas (praticamente) acções


permanentes e o terreno não interactua com elementos estruturais;
ou,
• um grupo de estacas sob a acção de um carregamento
generalizado incluindo forças horizontais na cabeça – problema
onde as acções variáveis são as mais relevantes para o
dimensionamento estrutural e a interacção das estacas com o solo
é a chave dos esforços de flexão e corte mobilizados…
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wi

Rd

Não é fácil que um único conjunto de coeficientes de segurança parciais


para as acções e para as características resistentes dos materiais permita
tratar problemas tão díspares, sem sobredimensionamento ou o contrário.
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Na Abordagem de Cálculo 1 e Combinação 2 o coeficiente de


segurança às acções permanentes é unitário.
Em numerosos problemas de Geotecnia, as acções permanentes
são essencialmente devidas ao peso próprio do terreno (taludes,
muros…), sendo difícil distinguir qual a zona do maciço cujo
peso é favorável da zona cujo peso é desfavorável.
O peso de determinada massa de solo pode ser desfavorável devido
à sua localização mas ser ao mesmo tempo favorável devido à
resistência friccional que proporciona (ex: Taludes…).
Por isso, pode ser inconveniente afectar as acções permanentes
de coeficientes parciais diferentes da unidade, pela dificuldade
em controlar o “efeito” desse factor na segurança (o peso volúmico
de um dado terreno é “bem” conhecido...)
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Assim, a Abordagem de Cálculo 1 e Combinação 2 é aplicada


com o objectivo de fornecer um dimensionamento que acautele
substanciais desvios dos parâmetros de resistência do terreno!

É pois, digamos, a “combinação geotécnica”, condicionando o


chamado dimensionamento externo, conduzindo à geometria geral
da estrutura ou do elemento estrutural em contacto com o solo:

por exemplo,
as dimensões em planta de uma sapata, o comprimento de
uma estaca, a altura enterrada de uma cortina autoportante (tipo
cantilever), etc.
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A Abordagem de Cálculo 1 e Combinação 1 é tipicamente aquela


que condiciona o chamado dimensionamento interno da estrutura, os
estados limites essencialmente dependentes da resistência dos
elementos estruturais. Conduziria, assim, para as estruturas dos
exemplos precedentes, à secção e à armadura da sapata e da
estaca, ao perfil de aço adequado para a cortina.

Note-se que os coeficientes de segurança às acções da


Combinação 1 são os tradicionalmente usados na Engenharia
de Estruturas, enquanto os coeficientes de segurança das
propriedades do solo são unitários, tendo o objectivo de fornecer
um dimensionamento que acautele desvios substanciais das acções
em relação aos valores característicos (os parâmetros de resistência
do solo são iguais aos seus valores característicos).
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Embora a Combinação 1 raramente condicione o dimensionamento


externo das fundações, ao impor o seu uso o código pretende
garantir que na solução encontrada para cada fundação estejam em
equilíbrio os valores de cálculo das resistências e acções, calculados
com os factores de majoração usados no dimensionamento da
superestrutura, havendo coerência em termos de forças no
dimensionamento da superestrutura e das fundações.

Se não fosse feita, poderiam surgir situações, embora pouco


correntes, em que a força obtida do cálculo da superestrutura
não intersectaria a fundação dimensionada de acordo com a
Combinação 2.
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1.35 G + 1.50 Q
acções da Combinação 1

fundação satisfazendo
a Combinação 2
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A QUESTÃO DO VALOR CARACTERÍSTICO DE UMA


PROPRIEDADE RESISTENTE DO TERRENO

O valor característico de uma propriedade de um material é definido


no Eurocódigo 0 como “o valor dessa propriedade
correspondente a determinada probabilidade de não ser atingido
numa hipotética série ilimitada de ensaios; esse valor corresponde
geralmente a um percentil especificado da distribuição estatística
admitida para essa propriedade”.
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O EC 7 refere que “se se usarem métodos estatísticos, o valor


característico da propriedade de um terreno pode ser obtido de
tal forma que a probabilidade de ocorrência de um valor mais
desfavorável para um estado limite não deve ser superior a 5%”.
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A clarificação do conceito de valor característico de um parâmetro


resistente de um solo envolveu uma prolongada discussão
e análise no sub-comité responsável pelo EC 7 !…
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É compreensível a controvérsia dado que é geralmente reduzido o


número de determinações experimentais das propriedades
resistentes do solo, mesmo em obras de responsabilidade,
contrastando com o que se passa com os parâmetros referentes aos
materiais estruturais, para os quais a noção de valor característico
tem significado e determinação estatísticos bem conhecidos
(inclusivamente determinado em fábrica ou laboratório...)
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Nas obras geotécnicas o valor característico de um parâmetro do


terreno usado na verificação da segurança em relação a um estado
limite NÃO É SÓ determinado pela variabilidade desse parâmetro
mas também pela estrutura e estado limite em causa.

A sua selecção não dispensa uma cuidada ponderação do


Projectista.

Se tal ponderação for auxiliada por estudos estatísticos tanto


melhor. Mas não é essencial!

O mais importante é que o Projectista tenha em consideração, para


além da variabilidade dos parâmetros resistentes do terreno, os outros
aspectos referentes à estrutura, ao maciço e à interacção estrutura-
maciço, relevantes para o problema.
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Como exemplo:

considere-se um determinado terreno onde se pretende construir uma


série de estruturas reticuladas com fundação directa, de dois tipos:
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uma estrutura de baixa rigidez, sem grande capacidade de


redistribuição de cargas entre pontos de apoio em caso de rotura ou
deformação excessiva do solo subjacente a uma das fundações

a)
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uma estrutura muito rígida, onde as possibilidades de redistribuição


de cargas entre os pontos de apoio são muito consideráveis
a)

b)
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É expectável que, para a estrutura mais rígida, tendo em conta a


sua capacidade de transferência de cargas entre apoios, o
volume de solo condicionante da ocorrência de um possível
estado limite é maior,…

correspondendo à envolvente dos volumes respeitantes a cada


fundação caso não exista possibilidade de redistribuição.
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Suponha-se que se fez um grande número de determinações


experimentais em toda a área a construir, que permitiram obter um
número elevado de estimativas pontuais do(s) parâmetro(s) de
resistência do solo - o ângulo de resistência ao corte, por exemplo.
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Com a curva de
distribuição
estatística das
determinações
experimentais,
Xk(1) é o valor que
limita os 5% de
resultados
mais desfavoráveis.

(3) (2) (1)

X k (1) X k (2) X k (3)


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De acordo com o EC 7, deverá Xk(1) ser tomado como valor


característico para a verificação da segurança em relação ao estado
limite de rotura do solo de fundação para as estruturas das figuras?
a)

a) b)

(a) (b)
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A resposta é “OBVIAMENTE” negativa, porque as zonas do terreno


susceptíveis de condicionar esse estado limite em qualquer das
estruturas são maiores ou muito maiores do que o volume interessado
por cada determinação experimental.
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Sejam as curvas 2 e 3 (da mesma figura) representativas da


distribuição estatística dos valores médios das determinações
experimentais em volumes da ordem de grandeza dos que vão
condicionar o estado limite das fundações das estruturas (a)
a)
e (b).

a)

b)

(3) (2) (1)


b)

X k (1) X k (2) X k (3)


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Os valores médios das curvas 2 e 3 coincidem com o da curva 1, mas


os respectivos desvios padrão são menores, tanto menores quanto
maior é o volume considerado.

Por seu turno, os valores que limitam cada distribuição, para os 5% de


resultados mais desfavoráveis, são tanto maiores quanto maior for o
volume em causa.
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Assim, no contexto do EC 7,

para as estruturas da Figura (a),


o valor característico deverá ser Xk(2),
enquanto que

para as estruturas da Figura (b),


o valor característico apropriado será Xk(3).
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Ainda mais um exemplo muito simples, referente a obras de grande


desenvolvimento linear, muito correntes em Geotecnia:

o muro de suporte gravidade representado ->


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(s)
E d (> R d )
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Se numa dada secção transversal (s) do muro onde, por hipótese, os


parâmetros de resistência do solo sejam bastante inferiores à média,
o efeito do impulso de terras ultrapassar o efeito do peso do muro (!),
não implica necessariamente a ocorrência de um estado limite último
PORQUE esse deficit de resistência pode ser facilmente compensado
com o superavit em secções vizinhas, onde os parâmetros de
resistência do terreno sejam mais elevados.
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LOGO, aquilo que condiciona o estado limite de uma fundação ou


obra geotécnica é normalmente o valor médio da resistência do
solo num determinado volume, maior ou menor, do terreno.

Não é isto que normalmente acontece com os valores característicos


dos materiais estruturais (aço e betão…) - o valor característico da
resistência do betão a adoptar no dimensionamento seria Xk(1).

Nas estruturas reticuladas um estado limite pode ser


condicionado por uma única secção de uma única barra.
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Assim, em contraste com as estruturas convencionais (reticuladas),


em que a ocorrência de um estado limite pode ser condicionada pela
resistência de uma secção de uma barra, nas obras ou estruturas
geotécnicas a zona do maciço determinante para um dado estado
limite é em regra muito maior, pelo que o parâmetro que governa a
resposta do terreno tende para o valor médio numa região do maciço.

O valor característico é uma pois uma estimativa


cautelosa desse valor médio.

Pode assim considerar-se que na prática tradicional de projecto pelo


método dos coeficientes globais de segurança, os valores dos
parâmetros do terreno são, no contexto do EC 7, característicos.

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