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Maurice Halbwachs:

dos quadros sociais à memória coletiva

Lucas Graeff e Cleusa Maria Gomes Graebin

Se eu cito esses testemunhos, não é por vaidade – mas para


que os que lerão estas linhas, se forem meus descendentes,
saibam que se dava um pouco de atenção ao que eu escrevia
no ano da graça de 1942 (HALBWACHS, Diário Íntimo,
apud MUCCHIELLI e PLUET-DESPATIN, 2001).

Apresentação do estudo

Este excerto citado por Mucchielli e Pluet-Despatin (2001) foi extraído de um


caderno de Maurice Halbwachs. Iniciado em julho de 1940, este integra um conjunto
de quatro cadernos, cada um com 200 páginas, denominado por seu autor como
“Diário íntimo”. À época, Halbwachs não imaginava a repercussão de suas reflexões
nas décadas que se seguiriam. No Brasil, o trabalho pioneiro evocando Halbwachs
como referência incontornável nos estudos em memória social é de autoria de Ecléa
Bosi: Memória e sociedade: lembranças de velhos, publicado em 1979.1 Nele, a autora
revisita São Paulo a partir das memórias de oito idosos que participaram de momentos
da construção da cidade. Desde então, a obra de Bosi é referência para os estudos em
memória social no Brasil, assim como o são as obras de Maurice Halbwachs.
Cerca de duas décadas mais tarde, os estudos sobre memória se
institucionalizaram na pós-graduação brasileira. Em 1996, foi criado o Programa de
Pós-Graduação em Memória Social na Universidade Federal do Estado do Rio de
Janeiro; em 2006, na Universidade Federal de Pelotas/RS, foi fundado o Programa
de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural; no ano seguinte, a
Universidade Estadual do Sudeste da Bahia gerou o Programa de Pós-Graduação
em Memória, Linguagem e Sociedade; e, em 2009, a Universidade La Salle iniciou o
Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Bens Culturais.
Neste ano da graça de 2018 - parafraseando Halbwachs -, propomos aqui,
um exercício de leitura de duas de suas obras: Les Cadres Sociaux de la Mémoire
[1925] e La Mémoire Collective (edição post mortem em 1950). A primeira é uma

1
Na sua 13ª edição em 2013.
obra completa; a segunda, uma compilação de escritos realizados pelo autor entre
1925 e 1944 e organizados pela filósofa Jeanne Halbwachs Alexandre, irmã do autor.
Publicado originalmente em 1948 com o título de Mémoire et Société, na revista
L´Année Sociologique, os escritos foram republicados em 1950, desta vez em formato
de livro e com o título La Mémoire Collective (BECKER, 2003; CORDEIRO, 2015).
Para os fins de nossa exposição, vale sublinhar que Les Cadres Sociaux de
la Mémoire não dispõem de uma tradução em português. No caso de La Mémoire
Collective, temos duas traduções: uma de Laurent Léon Schaffter (1990), pela Editora
Vértice, e outra de Beatriz Sidou (2006), pela Editora Centauro. Para além dessas
duas obras, Maurice Halbwachs dispõe de uma longa lista de publicações, das quais
destacamos os livros Les Causes du Suícide [1930], Morphologie Sociale [1938] e La
topographie légendaire des Évangiles en Terre Saint [1941].
Este capítulo está organizado em três seções: na primeira, apresentamos
alguns dados biográficos de Maurice Halbwachs. A ideia é familiarizar o leitor e a
leitora com o percurso do sociólogo francês. Em seguida, discutimos a obra Les Cadres
Sociaux de la Mémoire, a primeira obra sistemática do autor visando à definição da
memória em termos sociológicos. Por fim, retomamos o livro La mémoire Collective
a fim de esclarecer a frase mais conhecida do autor: “nunca estamos sozinhos”.
Como veremos, nunca estamos sozinhos porque incorporamos os quadros sociais
da memória e, sobretudo, porque o ato de lembrar se dá sempre no presente e em
interlocução com nossas relações e preocupações sociais imediatas.

Maurice Halbwachs: elementos biográficos e precursores

Em 2003, Annette Becker publicou uma biografia, intitulada Maurice


Halbwachs.Un intellectual en guerres mondialles, 1914-1945 - a primeira dedicada a
este autor -, na qual o coloca no cenário de uma França marcada pelos horrores da
Primeira Guerra; pelo que denomina como cultura de guerra que envolveu soldados
e não soldados; pelo esforço de alguns intelectuais em favor do pacifismo; pela
Segunda Guerra; pela invasão da França pelos alemães; e a ascensão do nazismo no
país, concorrendo para o trágico fim de Halbwachs em Buchenwald.2
2
Campo criado em julho de 1937, voltado para a produção de armamentos, localizado no centro-
leste da Alemanha na atual Turíngia. Está localizado a oito km da cidade de Weimar. A maioria
dos detidos era de presos políticos, considerados inimigos do nazismo, como Testemunhas de
Jeová, ciganos, homossexuais, comunistas, prisioneiros de guerra, desertores militares alemães,
combatentes da resistência. Funcionou até 1945. Apesar de não ser considerado como campo de
extermínio, estima-se que ali pereceram em torno de 50.000 pessoas, vítimas de fome, doenças,
de experiências médicas, como o teste de vacinas contra o tifo, e ou assassinadas pelos soldados
das SS. Os prisioneiros que adoeciam eram levados para o que os nazistas chamavam de “instalações
de eutanásia”, onde eram vitimados com gás tóxico ou com injeção de fenol (ENCICLOPÉDIA

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A seguir, trazemos alguns dados biográficos sobre Maurice Halbwachs,
coletados de Mucchielli e Pluet-Despatin (2001), Becker (2003) e Grandmougin
(2011). Halbwachs nasceu em 11 de março de 1877, em Reims. Estudou no Liceu
Henrique IV (Paris), onde foi aluno de Henri Bergson. Nasceu aí sua inclinação para
a filosofia, na qual graduou-se em 1901, na Escola Normal Superior, também em Paris
onde, novamente, teve Bergson como professor. Na École, fez amizade com o Diretor
da Biblioteca - Lucien Herr -, o qual foi pioneiro no movimento socialista francês e
mentor da nova geração de políticos, escritores e líderes da época. Por sua influência,
Halbwachs aderiu ao socialismo.
Em 1904 foi para a Universidade de Göttingen continuar seus estudos, desta
vez em filosofia alemã. Ali, trabalhou na catalogação do acervo do filósofo Gottfried
Leibniz, publicando obra sobre seus estudos em 1907.3 Sua carreira abrangeu diferentes
áreas do conhecimento: Psicologia, Sociologia, Direito, Matemática, Letras e Ciências
Políticas e Econômicas. Os estudos empreendidos para a sua tese de doutoramento
em Direito, Classe Ouvrière et les niveaux de vie (1912), levaram-no a refletir sobre os
problemas da classe operária e, em obra decorrente (1933), Halbwachs apontava sobre
a importância do viver em grupo, pelos operários, salientando a família, os grupos de
rua e aqueles relacionados ao trabalho.
Halbwachs foi professor em vários pequenos colégios e, no ano de 1908,
exerceu a docência no Liceu de Reims. Entre 1919 e 1935 lecionou na Faculdade de
Sociologia e Psicologia na Universidade de Estrasburgo. Junto com outros intelectuais,
também professores, reformularam a universidade, na época em território ocupado
pelos franceses, conquistado da Alemanha durante a Primeira Guerra. Foi ali que se
relacionou intelectualmente com Lucien Febvre, Marc Bloch e Charles Blondel (estes
dois últimos foram seus críticos em relação à noção de memória coletiva). Neste
processo, professores lecionavam cursos em parceria, o que favoreceu um diálogo
interdisciplinar, bem como assistiam às aulas ministradas por seus colegas. Halbwachs
auxiliou os historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre, na criação da revista Annales
d’histoire économique et sociale em 1929.
Foi a partir desse ano que se colocou em campanha para concorrer ao Collège de
France. Em seu “Diário Íntimo” (op. cit.), revelou uma rede de relações com intelectuais
e amigos, analisa a carreira destes, como também dos seus adversários, sem economizar
na crítica a uns e outros. Em 1930, foi professor visitante da Universidade de Chicago e,
em 1935, lecionou na Sorbonne, trabalhando com Marcel Mauss. Presidiu o Instituto
Francês de Sociologia e foi diretor da L´Année Sociologique (revista fundada por
Émile Dürkheim). Só conseguiu obter a tão sonhada cátedra de Psicologia social no

do Holocausto. Buchenwald. Disponível em: <https://www.ushmm.org/wlc/ptbr/article.


php?ModuleId=10007979>.
3
HALBWACHS, Maurice. Leibniz. Paris: Mellottée, 1907.

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Collège de France em 1944, mas não chegou a assumir, tendo em vista sua prisão e
deportação para Buchenwald.

Como intelectual, Halbwachs inspirou-se em alguns autores que discutiram o


tema da memória (Ilustração 1).

Ilustração 1. Quadro “Pensadores sobre memória (1881-1928)”

Autor/ano Obra Síntese da abordagem


Memória como fato biológico.
Cérebro armazena as memórias.
Dois tipos de memória: orgânica
(repetição, ato mecânico) e
Mémoire comme un fait
RIBOT (1881) autobiográfica ou psíquica (fatos da
biologique
consciência, localização de eventos,
pontos de referência no tempo).
Os eventos dizem respeito aos
indivíduos.
Primeiras pesquisas experimentais
sobre a memória. Elaborou as
ideias de curva de aprendizado e
Über das Gedächtnis.
HERMANN curva de esquecimento. Dentre
Untersuchungen
EBBINGHAUS suas estratégias de experimentação,
zur experimentellen
(1885) ele trabalhava com sílabas
Psychologie
formando palavras sem sentido
a fim de evitar a lembrança por
associação de ideias.
Representations Início das reflexões sobre memória.
individuelles et Emergência da vida simbólica;
DURKHEIM (1898)
representations possibilidade de convergência das
colectives consciências individuais isoladas.
William James descreve os
processos memoriais por termos
próprios (presente especioso e
The principles of
JAMES (1904) memória primária e secundária,
psychology
por exemplo). Sua psicologia é
considerada pragmatista, estando
em voga até os dias de hoje.

58
Consciências individuais isoladas
não se comunicam a não ser por
Les formes elementaires meio de símbolos, que são gerados
DURKHEIM (1912)
de la vie religieuse e mantidos em momentos de
efervescência coletiva (sagradas) e
interações cotidianas (profanas).
Trata-se de um livro que busca
solucionar o problema das relações
entre corpo e alma. A memória, em
Bergson, será a mediadora dessas
Matiére et Mémoire:
duas dimensões do humano. A
BERGSON (1914) essai sur la relation du
memória-lembrança é a própria
corps a l´esprit
fonte do espírito, enquanto que
a memória-hábito reúne os
automatismos necessários para o
agir no mundo.
Debate ideias de Bergson e de
Ribot. Em Bergson, Russel aceita
RUSSEL (1921) The analysis of mind
a proposta da dupla memória
(lembrança e hábito).
Eine reise durch Caráter universal da memória;
das Geblet der transmissão de símbolos
WARBURG (1922)
Puebro indianer in expressados em obras de arte;
Nordamerika ontologia simbólica.
A partir de estudos de casos
L´evolution de la
clínicos individuais de afasia, faz
JANET (1928) memóire et de la notion
assunção sobre o caráter social da
du temps
memória.
Fonte: Produzido pelos autores (2018), a partir de Becker (2003).

Observando a Ilustração 1, o que talvez passe à revelia em uma primeira leitura


é a importância do conceito de memória para a fundação das Ciências Humanas,
notadamente da Psicologia e da Sociologia. Em uma perspectiva moderna, o humano
é um indivíduo-cidadão livre, igual e autônomo, que se movimenta em (ou entre)
Estados-Nação (DUARTE, 2004); trata-se de um ser que se move em um mundo aberto,
cujos limites temporais e espaciais são dados não pela natureza, mas pelas interações e
instituições sociais; de um ser que, enfim, compreende esse mundo aberto através de
um diálogo interno entre a razão e a empiria, “por intermédio da experiência sensorial
e sentimental humana” (DUARTE, 2004, p. 6). Nesse quadro, estudar a memória é

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compreender como se processa a aprendizagem e, ao mesmo tempo, como o ponto de
vista de cada indivíduo se projeta na - e ajuda a projetar a - sociedade em que vive. Em
uma frase, o contexto histórico em que Maurice Halbwachs se insere é pautado pela
emergência e problematização das relações entre subjetivismo e objetivismo, entre a
ação e a natureza humanas, entre os humanos e o planeta que passaram a domesticar.

Ilustração 2. Mapa mental “Contexto histórico de inserção de Maurice Halbwachs”

Fonte: Elaboração de Lucas Graeff.

A Ilustração 2 apresenta algumas relações de temáticas que compunham o


contexto histórico-ideológico no qual se inscreve o percurso de Maurice Halbwachs.
Trata-se de um pensador interessado pelos debates maiores do seu tempo: as tensões
entre os impérios coloniais europeus, que redundou nas duas grandes guerras
de sua geração; a busca por uma compreensão de um mundo em processo de
“desencantamento”, como diria Max Weber (2004), isto é, que promove o culto da
razão em detrimento de cosmologias religiosas e místicas; reunindo o colonialismo
e o desencantamento, a emergência do evolucionismo natural e social, que se
propunha a classificar e a hierarquizar as “raças” humanas e, com isso, justificar as
mais diferentes formas de dominação e aniquilação de grupos humanos; e, é claro,
a aceleração da passagem do mundo rural para o urbano, com as consequentes
discussões sobre a perda dos laços tradicionais e desagregação comunitária. É nesse
contexto que Halbwachs introduz a noção de memória coletiva em 1925.

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Les Cadres Sociaux de la Mémoire / Os quadros sociais da memória

Da memória individual à coletiva:


necessidade da mediação dos quadros sociais

Em sua obra Les Cadres Sociaux de la Mémoire [1925], Halbwachs afirma pela
primeira vez sua posição contra o subjetivismo bergsoniano. Para ele, por mais que
nossas lembranças pareçam estar plenas de sentimentos e formas de pensar estritamente
individuais, elas não existem fora dos contextos sociais em que se produzem. Como
se sabe, o projeto da criação de uma escola de Sociologia por Émile Durkheim, que
contou com intensa colaboração de Maurice Halbwachs, visou, antes de tudo, à
criação de um objeto de pesquisa próprio - o que implicou em uma contraposição à
Psicologia, que se institucionalizava na França em torno do nome de Théodule Ribot
(MUCCHIELLI, 2001). Os tratados de psicologia da época operavam a passagem
tipicamente moderna da ideia de alma para a de indivíduo (HACKING, 1998), o que
implicava em uma diferenciação fundamental entre o indivíduo e seu contexto social.
Mais ainda: em meados do Século XIX, na França, Alemanha e Inglaterra, a memória já
se impunha como um conceito científico fundante das novas teorias da personalidade.
As patologias da memória traziam à tona a discussão sobre possessões, experiências
extra-corpóreas, traumas de guerra, hipnose, relações corpo-alma e personalidades
múltiplas (HACKING, 1998). Portanto, afrontar a tese do caráter eminentemente
individual da memória pode ser considerado como um desafio último para a fundação
de uma ciência da sociedade e das configurações sociais.
É nesse contexto que Halbwachs escreve que “é em sociedade que, normalmente,
o homem adquire suas lembranças, que ele se recorda delas e, como se diz, ele as
reconhece e as localiza” (1998[1925], p. 6).4 A ênfase no normal, aqui, remete à
oposição entre o normal e o patológico, de um lado, e entre a vida isolada e a vida em
sociedade, do outro. No que se refere ao normal e ao patológico, Halbwachs evita temas
como o trauma, a histeria e a psicose, que conformavam o domínio da Psicologia e da
Psiquiatria nascentes. Quanto à vida isolada e à vida em sociedade, os estudos sobre o
suicídio feitos por Halbwachs e Durkheim exemplificam a importância das relações e
instituições sociais para a constituição de indivíduos ou cidadãos plenos.
Aliás, é por isso que o diálogo - e, em muitos casos, a confrontação - com
a Psicologia deve ser considerado de primeira importância quando se trata de
compreender Les Cadres Sociaux de la Mémoire. Tomemos por exemplo a passagem
em que Halbwachs convoca Ribot para apresentar os quadros como um “ponto de

4
“Cependant c’est dans la société que, normalement, l’homme acquiert ses souvenirs,
qu’il se les rappelle, et, comme on dit, qu’il les reconnaît et les localise.” Na edição
eletrônica, tradução e grifo nossos).

61
referência” para as lembranças. Citando o psicólogo francês, lemos em Halbwachs
que esses pontos de referência são “estados de consciência que, por sua intensidade,
lutam melhor que outros contra o esquecimento ou [que], por sua natureza complexa,
suscitam diversas relações e aumentam as chances de reavivamento [de lembranças].
Eles não são escolhidos arbitrariamente, mas se impõem a nós” (RIBOT apud
HALBWACHS, [1925], p. 94).
O funcionamento dos quadros sociais é semelhante a esses “pontos de
referência” descritos por Ribot. Mas as semelhanças da reflexão de Halbwachs com as
de Ribot terminam aí. Em Halbwachs, os quadros sociais são muito mais que pontos
de referência para as lembranças: eles são a própria condição da vida em sociedade,
consistindo nas categorias de entendimento que enquadram toda a experiência
humana: a linguagem, o tempo e o espaço. Um exemplo: Halbwachs sugere que, ao
recordarmos, a lembrança é organizada e sustentada por grupos de pertencimento
(2018, [1925], p. 175-210): a família, o grupo religioso, a classe social. É na família que,
segundo Halbwachs, os indivíduos se vinculam pelo nome e parentesco (linguagem)
e eventos memoráveis e comemorações (tempo e espaço). No grupo religioso, os fiéis
organizam suas recordações a partir dos ritos (tempo e espaço), dogmas, doutrinas e
verdades fundantes (linguagem).
Em Halbwachs, a realidade é reconstruída a partir desses três quadros
fundamentais. É sobre o real - a matéria - que a sociedade representa para si a sua própria
realidade. Mas esse processo é bilateral: das representações coletivas se instalam novas
realidades materiais, que por sua vez conformam novamente as relações linguísticas,
espaciais e temporais. Então, os quadros sociais não são da ordem do “espírito” ou da
memória lembrança, como queria Bergson, mas das interações sociais.
A reconstrução da realidade por meio dos quadros sociais da memória,
portanto, se inscreve no presente. Essa é uma das teses fortes de Halbwachs, que implica
em desfazer a ideia de memória como um fundo de imagens passadas que são revividas
em momentos de devaneio ou de busca intencional de informações. Há imagens do
passado que vem ao espírito, reconhece Halbwachs, mas elas não são a substância da
memória coletiva ou da memória individual. A memória organiza-se por meio de toda
a realidade: das relações com os outros, com as coisas, com os marcos temporais, com
os movimentos e com as palavras e sons. As imagens do passado se conformam a essas
dimensões da realidade; elas são enquadradas socialmente pelo espaço, pelo tempo e
pela linguagem.
Nesse sentido, os quadros sociais da memória - espaço, tempo e linguagem -
são categorias a priori no sentido kantiano. Eles impõem-se aos indivíduos e definem
os contornos de suas experiências sensíveis e de sua percepção. Diferentemente de
Immanuel Kant, porém, os quadros não são naturais, mas sociais. Isso significa dizer

62
que operam por meio de processos sociais e que são incorporados inconscientemente
pelos indivíduos. Em nossos dias, essa tese ainda não está bem definida, ainda que
haja uma tendência de considerar as categorias de espaço, tempo e linguagem como
próprias ao aparato sensório-cognitivo humano. Isto é: pode-se dizer hoje, com
Halbwachs, que os conteúdos do espaço, do tempo e da linguagem variam conforme
as interações e instituições sociais, mas não que elas têm origem em processos sociais;
porém, é mais difícil defender, na sequência do sociólogo francês, a tese da formação
social das categorias do entendimento.5

Les Cadres Sociaux de la Mémoire são a primeira obra sistemática realizada


por Maurice Halbwachs com vistas a fazer da memória um conceito sociológico. Ela
representa uma etapa do pensamento do autor e deve ser relida à luz do seu contexto
histórico e, é claro, da obra subsequente: La mémoire collective.

La Mémoire Collective / A Memória Coletiva


Nunca estamos sozinhos

Não é necessário que outros homens estejam lá, que se


distingam materialmente de nós: porque temos sempre
conosco e em nós uma quantidade de pessoas que não se
confundem (HALBWACHS, 1990, p. 26).

Os quadros sociais da memória são claros: espaço, tempo e linguagem.


Mas em que consiste a memória coletiva, afinal? E em que medida o conceito de
memória coletiva transforma-se entre a obra de 1925 e a de 1950, publicada após a
morte do autor? Se o leito ou a leitora procurar nas mais diferentes bibliotecas e bases
de dados, dificilmente encontrará uma definição de memória coletiva caucionada
por uma citação direta de Maurice Halbwachs. Quer seja na edição brasileira ou na
francesa, não há como encontrar essa definição. Resta a nós, leitores de Halbwachs,
reconstituir o conceito.
Um primeiro ponto de partida: no Dicionário de Expressões da Memória
Social, dos Bens Culturais e da Cibercultura, editado por Zilá Bernd e Patrícia Kayser

5
A referência mais forte da hipótese de uma formação social das categorias de entendimento
ainda é a obra clássica de Émile Durkheim, as formas elementares da vida religiosa (DURKHEIM,
2003). Para o leitor ou leitora interessada pelo campo da memória social, uma leitura atenta
dessa obra é fundamental para compreender como se dá, para Halbwachs, a formação dos
quadros sociais da memória. Aproveitamos a oportunidade para recomendar a leitura do livro
A Antropologia do Tempo, de Alfred Gell (2014), que desconstrói a tese da construção social da
categoria tempo em Durkheim. Lucas Graeff (2016) faz uma resenha dessa obra importante e
ainda pouco conhecida do público brasileiro.

63
Vargas Mangan (2017), lê-se no verbete Memória Coletiva:
Nos dois livros clássicos de Halbwachs sobre memória,
o conceito de memória coletiva jamais é enunciado. Por
vezes, o autor remete a uma corrente de experiências que,
do exterior, atravessam o pensamento dos indivíduos; por
outras, ele se refere a quadros – que são representações
coletivas, no sentido durkheimiano – que influenciariam
a memória individual. No primeiro caso, não haveria
memórias individuais, cabendo ao grupo armazenar e
recordar; no segundo, as relações atuais, “enquadradas”
pelas representações coletivas, operariam como gatilho
das lembranças individuais. Logo, a memória coletiva seria
o conjunto de lembranças individuais compassadas pelas
representações coletivas. (GRAEFF, 2017, p. 106).

Como vimos, as representações coletivas ou quadros sociais de tempo, espaço


e linguagem esclarecem a dimensão categórica que Halbwachs assume para sua
hipótese da reconstrução social da realidade - hipótese que lhe permite, em parceria
com Durkheim, em fundar uma ciência da sociedade. Mas o que são essas lembranças
“encompassadas pelas representações coletivas” (GRAEFF, ibidem), afinal?
Suponha que você está viajando em sua cidade natal, que não visitava desde
a juventude. Talvez uma rua, igreja ou praça lhe traga recordações da época, como
um grupo de amigos que costumava se reunir ali ou algum evento significativo que
tomou lugar naquele espaço. Partindo de Halbwachs, o que veio à sua consciência não
é uma imagem completa que emergiu dos confins da memória, mas uma imagem que
foi completada a partir de referências atuais, no instante da evocação, e adquiridas no
decorrer de sua vida - isto é, no âmbito de suas interações sociais, de seus processos de
socialização e de suas relações de interdependência com outros indivíduos, os eventos
e ritmos sociais, as palavras e coisas.
Esse processo de reconstrução de recordações traz à tona duas dimensões
fundamentais da memória coletiva: em primeiro lugar, a da atualidade das lembranças;
e, em segundo, a da incorporação dos quadros sociais que já comentamos na seção
sobre Les Cadres. A atualidade das lembranças implica em afirmar o protagonismo
do presente nos processos memoriais e, por consequência, em rejeitar a suposição de
que as imagens lembradas são cópias exatas do passado ou conjuntos de imagens que
ficam armazenadas na matéria ou no espírito – a crítica fundamental de Halbwachs
da fenomenologia da memória de Bergson – ainda não é a principal contribuição de
Halbwachs para os estudos de sociologia da memória. A segunda dimensão consiste
em afirmar que é impossível conceber o problema da evocação e da lembrança sem
considerar os quadros sociais como pontos de referência para a memória e, sobretudo,

64
que os quadros sociais não são algo construído pelos indivíduos, mas incorporados por
eles. Como escreve Halbwachs,
Era preciso mostrar, por outro lado, que os quadros
coletivos da memória não se constituem a posteriori, por
combinações de lembranças individuais, e que eles não são
tampouco simples formas vazias nas quais as lembranças,
vindas de fora, viriam se inserir. Ao contrário, eles são
precisamente os instrumentos dos quais a memória se utiliza
para recompor uma imagem do passado de acordo com cada
época e com os pensamentos dominantes de cada sociedade
(HALBWACHS, 2018[1925], p. 7, tradução nossa).6

Nessa passagem, a atualidade das lembranças e a incorporação dos quadros


se reúnem para tornar claro a tese fundamental de La Mémoire Collective: jamais
nos lembramos sozinhos. Afinal, os quadros sociais incorporados são categorias
de entendimento sem as quais a percepção do presente, do passado e do futuro é
impraticável e, por outro lado, no presente, a percepção é atualizada pelas preocupações
de indivíduos imiscuídos em suas relações sociais. Ao mesmo tempo, essa passagem
encaminha uma perspectiva sociológica de pesquisa que é fundadora do campo de
estudos em Memória Social, a saber: se a lembrança é um ponto de referência que
permite situar o indivíduo em meio ao fluxo contínuo de suas experiências individuais,
a observação de suas práticas e o seu testemunho sobre qualquer questão de pesquisa
permitem localizar não apenas quem ele é ou a sua opinião sobre si mesmo e os outros,
mas os grupos de referência e a sociedade em que esse indivíduo se inscreve. Em
outras palavras, ao compreendermos que a memória é simultaneamente reconstruída
e enquadrada, nós podemos nos servir de qualquer atividade humana para pensar
a sociedade em que vivemos - ou a sociedade nas quais vivem outros indivíduos
diferentes de nós - no campo de estudos da memória social.
Ora, como escreve Halbwachs, uma imagem reconstruída, para ser lembrança,
precisa “partir de dados ou de noções comuns que se encontram tanto em nosso
espírito com no dos outros, porque elas passam incessantemente dessas para aquele e
reciprocamente, o que só é possível se fizeram e continuam a fazer parte de uma mesma
sociedade” (HALBWACHS, 1990, p. 34). O trabalho de evocação dependerá dos
quadros sociais compartilhados no instante da recordação, pois o indivíduo reconstrói
as imagens do passado a partir deles. Ao mesmo tempo, suas lembranças não têm
sentido senão em relação aos grupos e sociedade do qual faz parte. Portanto, se um
6
No original, “Il fallait montrer, d’autre part, que les cadres collectifs de la mémoire ne sont
pas constitués après coup par combinaison de souvenirs individuels, qu’ils ne sont pas non plus
de simples formes vides où les souvenirs, venus d’ailleurs, viendraient s’insérer, et qu’ils sont au
contraire précisément les instruments dont la mémoire collective se sert pour recomposer une
image du passé qui s’accorde à chaque époque avec les pensées dominantes de la société”.

65
pesquisador ou pesquisadora em Memória Social se interessa por um acontecimento
passado e deseja compreendê-lo a partir de depoimentos de pessoas que os viveram
diretamente ou “por tabela” (POLLAK, 1992), esse acontecimento será significado
tanto pelos quadros sociais - tempo, espaço e linguagem - quanto pela perspectiva
particular de cada uma das pessoas pesquisadas. E, em todos os casos, a memória é
coletiva - no sentido halbwachsiano - porque ela resulta do protagonismo particular
de cada um dos indivíduos pesquisados e da incorporação, por parte desses mesmos
indivíduos, de categorias de entendimento: o tempo, o espaço e a linguagem.
É nessa esteira o trabalho de evocação, de lembrar, nunca é individual em
Halbwachs: uma pessoa não lembra de algo por um desejo subjetivo ou uma inclinação
espiritual, mas porque os quadros sociais e a sua condição em sociedade convocam
suas lembranças. Portanto, se as lembranças de cada indivíduo não são e não podem
ser idênticas, não é porque a imaginação ou a vontade de se lembrar tal ou tal coisa são
idiossincráticas, mas fundamentalmente porque a posição que cada indivíduo ocupa em
sociedade é única e particular. Posto que essa posição não é dada independentemente
de suas relações em sociedade e dos quadros sociais - tempo, espaço e linguagem -,
a memória individual é um ponto de vista particular que expressa as “correntes de
memória coletiva” (HALBWACHS, 1990).
Ilustração 3. Mapa mental “A Memória Coletiva”

Fonte: elaboração de Lucas Graeff, a partir de HALBWACHS (1990)

66
A Ilustração 3 sintetiza as relações entre a consciência (intuição sensível)
e as categorias de entendimento (espaço, tempo e linguagem). Acima, à esquerda,
percebe-se o papel das relações sociais para o ato de lembrar, que é tanto um “acordo
preliminar” a respeito do sistema de signos (linguagem), quanto uma reiteração
desse sistema, que se espacializa e se inscreve no tempo em cada ato de lembrar.
Portanto, se o depoimento ou testemunho individual não cessa de concordar com
os depoimentos ou testemunhos de outros indivíduos, isso se dá pelo fato que
nossa capacidade de lembrar é sempre um ponto de vista sobre a memória coletiva
enquadrado pelos quadros sociais da memória.

Conclusões e encaminhamentos

O campo de estudos em memória social emerge na Europa e nos Estados Unidos


vocacionado pelas políticas de memória (GENSBURGER, 2016). Isso significa dizer
que boa parte dos pesquisadores preocupavam-se com os usos políticos do passado
- e, por consequência, da História - para a (re)construção de identidades nacionais
e crítica destrutiva da ideologia colonial. Nesse âmbito, não é de se estranhar que a
memória tenha sido confundida sistematicamente com imagens, representações ou
comemorações “do passado”. A ênfase nos seus usos políticos contribuiu para reificá-la,
isto é, tratá-la não como um processo, mas como um objeto manipulável por grupos e
pesquisadores.
Em nossas aulas no Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Bens
Culturais da Universidade La Salle, nós confrontamos a reificação da memória com
uma frase: “não se resgata a memória”. Porque a memória não está lá, como uma pessoa
perdida em uma ilha deserta ou um objeto esquecido em depósito, aguardando para ser
recuperada e trazida à luz. A memória não é um objeto que traz justiça aos oprimidos
como uma relíquia que retorna ao solo sagrado. A memória, enfim, não é um objeto a
ser promovido em monumento ou bandeira que, exibido e recolocado no seu devido
lugar, promoverá acertos no presente e correções do passado.
O que é a memória para nós, então? Antes de tudo, é uma noção que se
generaliza nas sociedades modernas em que vivemos porque consegue, em uma única
operação mental, conjugar tempo, espaço e linguagem. Como conceito, ela nos permite
compreender os processos sociais e individuais de estar no mundo, a busca existencial
incessante de cada um de nós pela construção de sentidos e pela duração social. A
memória, portanto, não é uma natureza ou um conteúdo, mas um tópos de introversão
e extroversão de uma linguagem arbitrária de símbolos (ECKERT; ROCHA, 2000)
e, por consequência, de um espaço-tempo eminentemente humano, eminentemente
social.

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Mas é como base de um campo de estudos e de uma maneira de fazer pesquisa
que a memória nos apaixona e encaminha questões; questões que vão muito além do
“passado”, do “acontecimento”, das “representações” ou das lições que cada um desses
termos pode trazer para as pessoas no presente. Para nós, a memória nos faz questionar:
por que as pessoas lembram do que lembram e esquecem o que esquecem? Como os
grupos fazem circular suas lembranças e como rompem a circulação e promovem o
esquecimento? Qual o papel das mídias e dos suportes no armazenamento, transferência,
transformação e reconstrução significados, valores e práticas individuais e coletivas?
Em que medida os ritmos sociais e os marcos temporais concatenam a vida coletiva e
como eles se implicam na construção do mundo e das coisas que nos rodeiam? Quais as
relações entre as recordações e a percepção do mundo ou entre depoimentos e tomadas
de decisão? Como a memória se distingue da cultura? Qual o papel das organizações e
instituições sociais para a lembrança e o esquecimento?

Parafraseando mais uma vez o Diário Íntimo de Maurice Halbwachs (apud


MUCCHIELLI e PLUET-DESPATIN, 2001), se nós estudamos memória, não é por
vaidade – mas para que os que lerão estas linhas, se forem nossos descendentes, saibam
que se dava um pouco de atenção aos estudos em memória social no ano da graça de
2018. E que saibam, sobretudo, que jamais estarão sozinhos neste campo interdisciplinar
que permite investigar as mais diferentes dimensões da experiência humana.

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