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Beckett Companhia
Beckett Companhia
C OMPANHIA E
OUTROS TEXTOS
tradução
Ana melena Souza
prefácio
lábio de Souza Andrade
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Copyright © 20ir by The Estale of Samuel Becketeig8o, ig8r
rg8z,ig83, ig86, ig88, ig8g, t99o, i999, zoom,Zoo9
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida -
em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrõnico. fotocópia, gravação etc. - nem
apropriada ou estocada em sistema de bancos de dados, sem a expressaautorização da editora.
previsibilidade. Ao polo da ordem soma-sesorrateiramen- paí, evitando testemunhar o parto difícil de seu filho, passa
te o da indeterminação. A rachadura fundamental está no o dia caminhando pêlo campo; o aborto da namorada grávi-
dispositivo que o próprio texto batizou de "última pessoa da seguidopor uma ruptura; os mergulhos que uma crian-
narrativa" (análoga,num texto em que a ruptura de gêne- ça arrisca, apavorada e incentivada pelo pai, do alto de um
ros é tão essencial, ao sujeito lírico fora de si ou à falsa rochedo para um mar revolto; o caso do ouriço que, vítima
da boa vontade equivocada de um menino, morre sufocado
pessoalidade da lírica contemporânea, estudada por crí-
CONIPANHI'\ E OUTROS 'TEXTOS I3
i2 ScimzleZ Bec;ut!
0
e faminto numa caixade sapatos;a caminhada difícil de um Beckett renunciou em traduzir para o francês (a tradu-
velho deixando rastro efêmero na neve branca. ção de Edith Fourníer, intitulada Cap aa pira, é póstuma).
O que parece plano ordenado se converte, aos poucos, Neles, narra-se o avanço dificultoso da criação poética:
em confusão de papéis. Saltos e sobressaltos passam a con- falha de berço, tocada por recomeços e tentativas de falhar
duzir a narrativa, quando a segunda pessoa se prova ambi- melhor, a linguagem segue, hesitante, sob o lema anagra-
valente: sozinho, no escuro, está também o leitor que ouve/ mático e paradoxaldo "nohow on", o "de nenhum modo
lê um.texto desconcertante;solitário também é o trabalho adiante", que deve, ela própria, dizer.
da imaginação que dita o ritmo, talvez nem tão sereno, do Ecoando o paradoxo shakepeariàno ,"The worst is not
narrador em terceira pessoa. as lona as one can say, This is the Worst" (Ki7tg tear, Ato
A descrição do sujeito deitado no escuro vai perdendo 4, Cena i),: Pra.Renteo pior forja um léxico e uma sintaxe
seu caráter impassível e se revela também busca angustia- próprias. Tomado de pausas providenciais, despido da pon-
da do narrador-narrado, solitário, talvez se multiplicando tuação convencional, explorando ao máximo a "penumbra
em vários para, como a criança qué brinca, ganhar campa' desemsombrada"da linguagem, a última tentativa de fôlego
nhia. Aos poucos, tudo que era dado por certo se instabili- da narrativa becl<ettiana faz as palavras flutuarem gramati-
za e as repetições não são mais seguras:voz exterior, possí- calmente, indecisas entre funções substantivas, adverbiais
veis outros ouvintes no escuro, lembranças, tudo se revela e adjetivas, a serviço do esboço e da anulação subsequente
de realidadese criaturas. Mas, como diria Drummond, de
parte de uma mesma cena originária da criação, da fantasia
fabulando para se sentir acompanhada no escuro, sozinha. tudo fica um pouco: a poética da .indigência em Beckett é
A ancoragem num tempo e espaço específicos, numa também uma poética da persistência de vestígios, de restos
fonte determinável, que o contar de toda e qualquer histó- recalcitrantes, "jd)o mínimo inanulável" em que se encon-
ria envolve, é o nó dos nós do impasse tratado, contaminan- tram e desafiam mundo e sujeito.
do a linguagem narrativa de um-teor de ambiguidade (tanto
O vazio também. Fora. Sem mãos no --. Não. Salvo por pior
gramatical, quanto semântica) e elipse que estamos acos-
tumados a conceder apenas à lírica, assim mesmo, apenas a dizer. De algum modo pior de algum modo a dizer. Dizer
em suaversão moderna mais hermética: por ora ainda vistas. Sombriamente vistas. Branco som-
brio. Duasmãosvazias. de um branco sombra.o. No vácuo
Esta fenomenologia da percepção a serviço de uma
sombrio.
"literatura da despalavra", escavatória e corrosiva, se inten-
sifica ainda mais em Pra yiemte o pior, texto inc]assificáve],
"0 pior ainda não veio, enquanto se pode dizer; eis o pior'
compostode g6 parágrafos,cuja complexidadeo próprio 2.
dependendo para sua confirmação da performance vocal, ainda janelas inestimáveis para a aporia e a impossibilida-
os temas se desdobram em novas famílias lexicais, produ- de como matérias-primas do processo compositivo na obra
zidas pelo mecanismo das repetições e variações, mínimas, tardia de Beckett e na ficção contemporânea.
I:KBIODE SOUZAANDRADE
As TRADUÇÕES aqui reunidas abrangemquase todo o con-
junto dos últimos textos em prosa de Samuel Beckett, escri-
tos entre i977, data do início da relação de Companhia,e
ig87, ano de conclusão de Sobressaltos.O livro organizado
por Dirk Van Hulle serviu de fonte para a tradução e para
as informações sobre datas e circunstâncias de publicação'
No Brasil, à parte Companhia, publicado no início dos anos
ig8o, os outros textos desta colêtânea nunca haviam sido
editados. Há traduções portuguesas, salvo de O caminlzo e
neto. Publiquei uma tradução de Sobressaltos no SwpZemen-
to l,iterádo de Minas Gerais em março de zoo7, mas a que
apresento agora foi totalmente refeita para esta edição; as
demais são inéditas.
E por se tratar de uma prosa muito especialque con-
vém fazer alguns comentários sobre suas características e
as escolhas de tradução a que me conduziram. Não preten-
do justificar minhas opções, apenasindicar como a leitura
Beckett, Samuel. Cotn7alzyetc. Dirk Van Hulle (ed.). London: Faber and caber.
do original apontou caminhos,.no sentido de tentar recons- citadas por repetições sequentes, que ajudam o leitor a se
truir em português as sutílezas da escrita de Beckett. Utili- situar, sobretudo quando experimenta a sonoridade do texto ,
zei como texto.de partida o inglês, sem descuidar, no entan- seguindo assim as pistas para a construção de uma voz. E
esta voz, mesmo na escuridão, emite alguma luz.
to, de compara-lo ao texto em francês do próprio autor,
No trecho abaixo; as passagensgritadas pretendem
como nos casos de Compan7/Compag7aie. e Stirdngs stiZZ/
qn4/LI'o cn Jtç destacar como Beckett trabalha a sintaxe em Companhia,
A pontuaçãodo original foi mantida, o que implica antecipando e isolando o objeto de uma frase posterior;
envolver o leitor na construção das frases de uma maneira repetindo motivos que ao serem introduzidos causam estra-
muito mais atavado que geralmente ocorre. Apenas quatro nheza, como o de "fechar/ como se para a ]uz/ os olhos",
sinais de pontuação são usados em Companlzia: o ponto, mas que se esclarecem depois, quando se fala em fechar
a vírgula e os pontos de interrogação e exclamação. O pri- os olhos para a "escuridão visível", e mais ainda no parágra-
meiro é o mais empregado,para marcar as pausasmaiores. fo seguinte:
O segundo só é utilizado para introduzir a reprodução de
Os raros sons. Que bênção tef isso para se apegar. Uma vez
uma fala direta; cumpre assim um papel duplo, o de um
ou outra. No escuro e no silêncio fechar como sepczraa !tlz
sinal de dois pontos e de um travessão ou, alternativamen-
os olhos e ouvir um som. Algum objeto se movendo do seu
te, de aspas, quando usadas para indicar o discurso direto.
A maioria das frases exige que o leitor aprenda a orientar-se lugar para o seu último lugar. Alguma coisa suave suavemen-
te se mexendo para logo não mais se mexer. Para a esctthdão
pela sintaxe beckettiana, carregada de inversões e elipses.
Muitas vezes, encontramos a antes.ipação do sqeito ou do visível fechar os olhos e ouvir ao menos isso. Alguma coisa
suave suavemente se mexendo para logo não mais se mexer.
objeto. Ou, ao contrário, a supressãode um dos dois, que
só vai aparecer duas ou três frases adiante.
Pelavoz uma luz fraca é emitida. A escuridão clarezaenquan-
Os pontos de .interrogação e exclamação constituem,
no discurso contido de Companhia, recompensas para o lei- to soa.Aprofunda-se quando reflui. Clareia com o refluxo
tor, ao assinalar com clareza a melodia e a entoação das fra- até o fraco total. É completa outra vez quando ela cessa.
Você está deitado de costas no escuro. Estivessem os olhos
ses, ainda que a pergunta seja apenas retórica e a exclama-
abertos então teriam notado uma mudança.
ção irónica. Sinais melódicos por excelência, os pontos de
interrogação e exclamação emprestam uma intensidade ao
texto que o aproxima muito da oralidade. Mesmo as inver- Portanto, a 'escuridão em Com?anhia nunca é total. A
sões, de certo modo, o fazem, porque são retomadas e expli- yoz, que implica a participação do leitor, depende de uma
COMPANHIA E OUT'ROS TEXTOS 21
zo Saque! Bec;utt
.1
séi ie de elementos: pontuação escassa e vivamente expres- va na produção dessa peça para a televisão alemã em ig8i.
siva, inversões, elipses, repetições, além dos intervalos, A descrição da paisagem, do tempo e do caminhante pos-
espaços em branco entre os parágrafos. Inclui também, suem a marca profunda de Beckett, bem como a sintaxe
claro, tom e ritmo. O tom se mostra às vezes imperativo, às por vezes sinuosa, mas sempre seguindo adiante.
vezes monótono e melífluo. O ritmo, na maior parte lento, bato fala da vida e da morte, do olho e da visão, da
cauteloso, é consequência das inversões e elipses já comen- perda de consciência e de sua retomada, empregando um
tadas.-Em algumaspartes, ele torna-se rápido e cómico, ritmo lento, feito igualmente.de retomadase interrupções
devido à pontuação com várias perguntas -eexclamações. É de frases. Foi escrito em inglês, em ig8i, como contribui-
o que acontece no trecho em que são levantadas hipóteses ção de Beckett para um livro sobre o pintorAvigdor Arikha.
a respeito de como o ouvinte, com sua percepção embota- Em Sobressaltos, a última prosa de Beckett, composta
da, l;oderia dar-se conta da presença do criador. entre ig83 e íg87, as frases mais longas obrigam-nos a deci-
Foram esses tons, ritmos e recursos que procuramos dir onde fazer as pausas e como modulá-las. Novamente, as
reproduzir, sem facilitar e, espero, sem dificultar para o repetiçõesde palavrase motivos, de todo um vocabulário
leitor. Isso porque é sempre possível encontrar clareza na e uma imagística cara a Beckett -- os pares luz/escuro,. em
prosa de Samuel Beckett, não importa do quanto de escu- cima/embaixo, aparecer/desaparecer,o silêncio e os sons, os
ridão ela se origine. A propósito, outros dois textos desta relógios, o chapéu e o sobretudo, as estudas ermas, a pos-
coletânea, que se encontram no apêndice, são exatamen- tura à mesa, as palawas mal-entendidas,. o eu negado/assu-
te intitulados Ou?ido no escuro i e Ouvido no escuro ii. São mido -- nos guiam, literalmente; até o fim ("Oh all to emd").
dois dos parágrafos mais longos de Companhia -- o 39 e o 4o Sobre PraJie,2üe o pior (Wors ard Ho), faz-se necessá-
-- e foram publicados primeiro em New WHting ózndWHters rio comentar a recusa de Beckett em traduzi-lo. A tradução
i7 (Calder, rg8o) e noloumaZ ofBeckft Stwdies5 (Autumn, francesa é de Edita Fournier, com o título de Cap aa pira,
i979), respectivamente. Há poucas diferenças entre esses escolhido pelo escritor a partir de uma lista que a traduto-
parágrafos e os que se-encontram no texto de Companhia. ra Ihe apresentara. Beckett, ao que parece, não quis fazer o
Em O caminho, os símbolos do infinito que precedem "trabalho de luto" a que todo o tradutor deve se submeter,
os dois parágrafos, se combinados, formariam um quin- de acordo com a apropriação de Paul Ricoeur dos termos
cwllce;, como o formado pela movimentação das figuras rk: freudianos. Esse "trabalho" corresponde à renúncia a uma
em Qwad. O texto foi escrito enquanto Beckett colabora- t7.Mação ?eleita, absoZwta.Praticamente todas as autotra-
duções beckettianas são lidas assim, como pares perfeitos
Grupo de cinco elementos, organizadosde modo equidistante num quadrado,
com um deles no centro, dos textos "originais" (em francês ou inglês). Mas Beckett
ANA .HELENASOUZA
z4 SamwZBecÀett
l
C OM PANH IA
z8 Satntlet Becheit
Se a voz não está falando com ele deve estar falando com
montanha e um pouco para o norte para contraforte e pla-
um outro. Assim com o tanto de razãoque resta ele racio-
nície. O parteiro foi ninguém menos que um dr. Hadden
cina. Para um outro daquele outro. Ou dele. Ou de um
ou Haddon. Bigode grisalho em desalinho e olhaisacuado.
outro ainda.Paraum outro daquele.outroou dele ou de
Sendo feriado o seu paí saiu de casa logo depois do café
um outro ainda. Paraalguém deitado de costas no escuro
com uma uisqueira e um pacote dos seus sanduíchesde
em todo caso. De alguém deitado de costas no escuro se o
ovo preferidos para uma caminhada pelas montanhas. Não
mesmo ou um outro. Assim com o tacto de razão que resta
havia nada de estranho nisso. Mas naquela manhã em par-
ele raciocina e raciocina mal. Pois estivesse a voz falando
ticular seu amor por caminhadase cenáriosselvagensnão
não para ele mas para um outro então deveria ser daque- era o único móvel. Mas ele era movido também a afastar-
le outro que está falando e não dele ciu de um outro ainda.
-se e sair do caminho por aversão às dores e desagrado geral
Uma vez que fala na segunda pessoa.Não estivessefalando
dos trabalhos e do parto. Daí os sanduíchesque saboreou
dele para quem está falando mas de :um outro não falaria
ao meio-dia olhando o mar ao abrigo de um rochedo no pri-
na segunda pessoa mas na terceira. Por exemplo, Ele viu a
meiro pico que escalou.Você pode imaginar os pensamen-
luz primeiro em tal e tal dia e agora está deitado de costas
tos dele antes e depois ao transpor tojos e urzes. Quando
no escuro. E claro portanto que se não é para ele que a voz
voltou ao anoitecer soube com desânimo pela empregada
está falando mas para um outro também não é dele mas
na porta dos fundos que o trabalho de parto ainda estava
daquele outro e nenhum outro àquele outro. Assim com o em curso. Apesar de ter começado antes de sair de casa
tanto de razão que resta ele raciacina mal. Para ser compa- pelo menos dez horas mais cedo. Ele imediatamente correu
nhia ele deve exibir uma certa atividade mental. Mas não
para a cocheira a uns vinte metros de distância onde abri-
precisa ser de um alto teor. Na verdade pode-se argumen- gava o seu De Dion Bouton. Fechou as portas atrás de si e
tar que quanto mais baixo melhor. Até certo ponto. Quanto
subiu para o assentodo motorista. Você pode imaginar os
mais baixo o teor de ativídade mental melhor a companhia. pensamentos dele ao sentar ali no escuro sem saber o que
Até certo ponto.
pensar. Mesmo exausto e com os pés machucados estava a
ponto de sair novamente atravésdos campos à luz do jovem
Vocêvíu a luz primeiro no quarto em que muito provavel- luar quando a empregada veio correndo Ihe dizer que tinha
mente foi concebido. A grande janela abobadada dava para acabado afinal. Acabados
oeste para a montanha. Sobretudo oeste. Pois sendo abo-
badada dava também um pouco para o sul e um pouco para Você é um velho se arrastandopor uma estrada estreita do
o norte. Necessariamente. Um pouco para o sul para mais interior. Você está fora desde o falar dodia e agora anoitece.
3o Sa} z el Bec/w t
COMI PAN II IA E OUTROS TEXTOS 31
União som no silêncio seus passos.Muito únicos sons pois do que ele com essadeixa o torne seu. Para confessar, Sim
eu me l.mbro. Talvez até ter uma voz. Murmurar, Sim eu
variam de um para o seguinte. Você escuta cada um e o
me lembro. Que acréscimo à companhia isso ia seráUma
adiciona de cabeça à soma crescente dos que foram antes.
voz na primeira pessoa do singular. Murmurando aqui e ali,
Você para com a cabeça baixa na beira de uma vala e con-
Sim eu me lembro..
verte em metros. Na base agora de dois passos por metro.
Tantos desde a madrugada para somar com os de ontem.
Uma velha mendiga está remexendo no portão de um jar-
Os do ano passado.Dos anospassados.Dias outros que
dim. Meio cega. Você conhece bem o lugar. Surda como
não hoje e tão parecidos. O total imenso em quilómetros.
uma porta e sem o seu juízo perfeito a dona da casa é ínti-
Em léguas. Quantas vezesjá ao redor da Terra. Parada tam-
ma de sua mãe. Uma vez ela teve certeza de que poderia
bém a seu lado durante essescálculos a sombra de seu pai.
Nos seus velhos trapos de andarilho. Finalmente adiante voar pelos ares. Então um dia se jogou de uma janela do
primeiro andar. A caminho de casa do jardim de infância na
lado alado do zero de novo.
0
sua bicicletinha você vê a pobre mendiga tentando entrar.
Você desce e abre o portão para ela. Ela o abençoa. Quais
A voz chega até ele ora de um canto ora de outro. Ora fraca
foram as suas palavras?Deus Ihe pague senhorzinho. Umas
ao longe ora um murmúrio em seu ouvido. No curso de
uma única frase ela pode mudar de lugar e de tom. Assim palawas assim. Deus o proteja senhorzinho.
por exemplo clara acima do seu rosto voltado para cima, Uma voz fraca na altura máxima. Ela reflui devagar até ficar
Vocêvíu a luz primeiro na Páscoae agora.Então um mur-
múrio em seu ouvido, Você está deitado de costas no escu- quase inaudível. Então volta devagar para o seu máximo
ro. Ou é claro vice-versa. Outro traço os seus longos silên- fraco. A cada refluxo lento a esperança desponta lentamen-
te de que ela esteja morrendo. Ele deve saber que ela flui-
cios quando ele quase ousa esperar que ela esteja no fim.
rá outra vez. E entretanto a cada refluxo lento a esperança
Assim para dar o mesmo exemplo clara acima do seu rosto
despontalentamente de que ela estejamorrendo.
voltado para cima, Você viu primeiro a luz do dia no dia em
que Crista morreu e agora.Então muito depoispor sobrea
Lentamente ele entrou no escuro e no silêncio e se deitou
sua esperança nascente o murmúrio, Você está deitado de
costas no escuro. Ou é claro vice-versa. lá por tanto tempo que com o juízo que restavajulgou-os
finais. Até que um dia a voz. Um dualAté que por âm a voz
dizendo, Você está.deitado de costas no escuro. Essasas
Outro traço a sua repetitividade. Repetidamente com ape'
nas variantes menores o mesmo passado. Como se queren- suas primeiras palawas. Pausa longa para ele acreditar.nos
34 Sannlel.Becluí.t
O globo. Todo pupila. Encarando acima. Coberto. Desco-
berto. Coberto outra vez. Descoberto outra vez.
36 Sa7?nlet BecheEF
Pois por quê ou? Por que num outro escuro ou no mesmo? Inventor da voz e do seu ouvinte e dei si mesmo. Inventor
E a voz de quem perguntando isso> Quem pergunta, A voz de si mesmo por companhia.Deixar.assim.Ele fala de si
de quem perguntando isso? E responde, A dele quem quer mesmo como de um outro. Ele diz falando de si mesmo,
que seja que imagina tudo isso. No mesmo escuro que a Ele fala de si mesmo como de um outro. A si mesmo ele
sua criatura ou num outro. Por companhia. Quem pergunta inventa também por companhia. Deixar assim. Confusão
no fim, Quem pergunta? E no üm responde como acima} E também é companhia até certo ponto Melhor esperança
i'
acrescenta mtlito depois para si mesmo, A menos que um adiada que nenhuma. Até certo ponto Até o coração come'
outro ainda. Em lugar nenhum a ser encontrado. Em lugar çar a desgostar-se.Companhia também até certo ponto
nenhum a ser procurado. O impensávelúltimo de todos. Melhor um coração desgostoso que nenhum. Até come-
Inominável. última pessoa. Eu. Depressa deixa-lo. çar a partir-se. Então falando de si mesmo ele conclui por
enquanto, Por enquanto deixar assim.
A luz que havia então. Deitado de costasno escuro a luz
que havia então. Claridade sem sol nem nuvens. Você No mesmo escuro que a sua criatura ou num outro ainda
escapole ao raiar do dia e sobe para o séu esconderijo nà não imaginado. Nem em qual posição. Se em pé ou senta
encosta. Uma toca no tolo. A leste além do mar o contor- do ou deitado ou em alguma outra posição no escuro. Estes
no vago de montanhas altas. A setenta milhas de distância estão entre os assuntos ainda a ser imaginados. Assuntos
segundo o seu Longman. Pela terceira ou quarta vez em dos quais até agora nenhum esboço. O teste é companhia.
sua vida. Da primeira vez você contou para eles e zom- Qual dos dois escuros é melhor companhia. Qual de tocas
bavam.Tudo o que tinha visto eram nuvens. Então agora as posições imagináveis tem mais a oferecer quanto a com-
você guarda isso no coraçãocom o resto. De volta para panhia. E similarmente para os outros assuntos alnaa a b'-
casa ao cair da noite sem jantar para a cama. Você se deita
no escuro e está de volta naquela luz. Forçando do seu
ninho no tojo os olhos atravésda águaaté doerem.Você
os fecha enquanto conta cem. Então sabree força outra
vez. Outra e outra vez.Até que afinal elb está lá. Azul mais
pálido contra o céu pálido. Você se deita no escuro e está
de volta naquelaluz. Adormecenaquelaluz sem sol nem
nuvens. Dorme até a luz da manhã.
CONIPANnIA E OUTROSTEXTOS 39
38 Só277neZBecheti
alguma outra forma de movimento. Os encontros possíveis.
Um rato morto. Que acréscimoà companhia isso ia será
Um rato morto há tempo.
mento então de tê-las suscitado e problema como disper- se algum em alguma parte. Reservar por enquanto. Basalto
sa-las. Finalmente o que significa a sua própria sem alívío} é uma tentação. Basalto preto. l\4as reservar por enquanto.
Que alívio possível? Deixar assim por enquanto. Assim ele imagina para si mesmo quando a voz e o ouvinte
enfadam. Mas um pouco mais de imaginação mostra-lhe
Que o ouvinte se chame H. Aspirado. Haêá. Você Hagá está que imaginou mal. Pois com que direito afirmar de uln som
deitado de costas no escuro. E que saiba seu nome. Não fraco que é um menos fraco tornado mais fraco pelo afasta-
mais qualquer questão sobre ouvir sem querer. Sobre não mento e não um mais fraco verdadeiro bem à mão? Ou de
ser o visado. Embora logicamente nenhuma em todo caso. um fraco enfraquecendopara mais fraco que régua e não
Sobre-palawas murmuradas no seu ouvido perguntar-se se diminui ali mesmo. Se com nenhum então nenhuma luz
pala elesAssim é ele. Assim aquela vagainquietação perdi- desde a voz no lugar onde nosso velho ouvinte está deitado.
da. Aquela vagaesperança. Para alguém êom tão poucas oca- No escuro incomensurável. Sem contornos. Deixar assim
siõespara sentir. Tão inapto para sentir. Não pedindo nada por enquanto.Acrescentandoapenas,Que tipo de imagi-
melhor na medida em que pode pedir alguma coisa do que nação é essa tão dominada pela razão? Um tipo próprio-
Da última vez que você saiu havia neve no chão. Você agora
deitado de costas no escuro está em pé naquela manhã
na soleira tendo fechado a porta suavementeatrás de"si.
Você se encosta na porta com a cabeça baixa preparando-
CAMPÂNULA E OUTROS TEXTOS 45
44 Sa?ntlel Bechetl
Pela simples razão de que dão todo dia o mesmo número. sobretudo repousando na neve. Na velha cabeça baixa no
Média entra día sai dia a mesma. O caminho sendo sem- velho chapéu redondo aflição muda. No meio do pasto em
pre o mesmo. Você mantém a contagem dos dias e a cada sua linha regapara o vão. Os pés precisos fixos. Você olha
décimodía multiplica. E soma.A sombrade seupai não para trás como não poderia então e vê o rastro deles. Unl
está mais com você. Debandou há muito tempo. Você não grande desvio. Anta-horário. Quase como se de uma só vez
ouve mais suas passadas.Sem ouvir sem ver você vai no o coração pesado demais. No fim pesado demais.
seu caminho. Dia após dia. O mesmo caminho. Como se
não houvesse mais nenhum outro. Para você não há mais Flor da idade. Imaginar um bafejo disso. Deitado de costas
nenhum outro. Você não costumavaparar nunca exceto no escuro você se lembra. Ah você você se lembra. Dia de
para fazer seu cômputo. De modo a arrastar-sedo zero maio sem nuvens. Ela sejunta a você no pequeno caraman-
de novo. Essa necessidade eliminada como vimos não há chão. Um ]aexaedrorústico. Todo de madeira. Tanto abeto
mais nenhuma teoricamente de parar. Salvo talvez por um quanto lanço. Diâmetro dois metros.Altura três. Super-
momento no ponto mais distante. Para se recompor para fície do solo cerca de três metros quadrados. Duas luzi-
o retorno. E no entanto você para. Como nunca antes. nhas multicoloridas vis-à-vis. Pequenas vidraças coloridas
Não por cansaço. Você não está mais cansado agora do em forma de losango. Embaixo de cada uma um rebordo.
que sempre esteve. Não por causa da idade. Você não está Ali nos domingos de verão depois do almoço seu pai adora-
]naísvelho agorado que semprefoi. E no entanto você va recolher-se com a Pwnch e uma almofada. O cós das cal-
para como nunca antes. De modo que os mesmos cem ças desaboatoado ele se sentava num dos rebordos virando
metros que você costumava cobrir em questão de três a as páginas. Você no outro com os pés balançando. Quando
quatro minutos podem levar agora algo em torno de quinze ele casquinavavocê tentava casquinar também. Quando a
a vinte. O pé cai por conta própria a meio passoou o pró- casquinadadele morria a sua também. Que você tentasse
ximo a subir prega-seno chão levando o corpo à imobilida- imitar a casquinadadele o agradavae titulavamuitíssimo
de. Então um discurso mudo cujo essencial, Eles podem e às vezes ele casquinava sem razão só para ouvi-lo tentar
continuar? Ou melhor, Devem continuar? O estritamente casquinar também. Às vezesvocê vira a cabeça e olha para
essencial. Imobilizados quando finalmente como sempre fora atravésda vidraça vermelho-rosa. Você aperta seu nari-
até aqui eles continuam. Você está deitado no escuro de zinho contra a vidraça e tudo lá fora fica rosado. Os anos
olhos fechados e vê a cena. Como não pôde na época. O voaram e ali no mesmo lugar de antes você se senta na flor
manto escuro do céu. A terra deslumbrante. Você imóvel da idade banhado na luz irisada olhando fixo à sua fren-
no meio. As boticas afundadas até as bordas. As abas do te. Ela está atrasada.Você fecha os olhos e tenta calcular
semana. Por mês. Por ano. E supondo um certo tempo de pélvica. Como você era.dado tanto em movimento quanto
vida por tempo de vida. Até o último batimento. Mas por em repouso ao olho fechado nas horas despertas! De ala e
enquanto com pouco mais de setecentos milhões atrás de de noite Àquele escuro perfeito. Aquela luz sem sombras.
si você se senta no pequeno caramanchãocomputando o Simplesmente para ir-se. Ou num caso como agora. Uma
volume. Sete metros cúbicos aproximadamente. Isso por única perna aparece. Vista de cima. Você separa os segmen'
alguma razão Ihe parece improvável e você começa os cál- tos e os coloca lado a lado. É quase como você presumiu. A
culos de novo. Mas você não tinha avançadomuito quan- superior é a mais comprida e a perda sentado maior quando
do seu passoleve foi ouvido. Leve para uma mulher do o assento está no nível do joelho. Você deixa os pedaços lá
tamanho dela. Você abre os olhos com o pulso acelerado e abre os olhos para encontra-la sentada à sua frente. Tudo
e um instante depois que parece uma eternidadeo rosto parado quieto. Os lábios de rubi não retribuem seu sorriso
dela aparece na janela. Principalmente azul nessaposição Seu olhar desce para os seios. Você não se lembra deles tão
a palidez natural que você tanto admira como de fato dali grandes. Para o ventre. Mesma impressão. Dissolve-se para
sem dúvida totalmente azul o seu. Pois palidez natural é o seu pai lutando com o cós desabotoado. Será que ela está
uma propriedade que vocês têm em comum. Os lábios vio- grá\lida sem que você tenha sequer pedido a sua mão? Você
leta não retribuem seu sorriso. Agora essajanela ficando na volta à sua mente. Ela também você desconfia fechou os
altura dos seus olhos de onde você se senta e o piso pratica- olhos. Assim vocês ficam sentados face a face no pequeno
mente no mesmo nível do terreno lá fora você não pode dei- caramanchão. De olhos fechados e mãos nos seus púbis.
xar de se perguntar se ela não caiu de joelhos. Sabendo por Naquela luz irisada. Naquela quietude.
experiência que a altura ou comprimento que vocês têm em
comum é a soma de segmentos iguais. Pois quando total- Esgotado por tanto esforço de imaginação ele para.e tudo
mente eretos ou completamente estendidos vocês se colam pam. Até que sentindo a necessidade de companhia outra
face a face então seus joelhos se encontram e os púbis e vez ele diz a si mesmo para chamar o ouvinte de M pelo
os cabelos da cabeça se confundem. Pode-se concluirdaí menos. Para mais rápida referência. Ele mesmo algum
que a perda de altura do corpo que se senta é a mesma outro personagem. W. Inventando isso tudo ele mesmo
Inventor inventado inventando isso tudo por companhia. Você está deitado de costas aos pés de um álamo. Na sua
No mesmo escuro fingido que os seus fingimentos. Em sombra tremulante. Ela em ângulo Feto apoiada nos coto-
que postura e se sim ou não como o ouvinte na sua de velos cabeça entre as mãos. Seus olhos abertos e fechados
uma vez por todas ainda não imaginado. Um não é imó- olharam nos dela olhando nos seus. No seu escuro voce
vel o bastante?Por que duplicar esseconsolo específico. olha neles de novo. Ainda. Você sente no rosto as pontas de
Então que se mova. Dentro do razoável.De quatro. Um seus longos cabelos pretos balançando no ar parado. Den-
rastejar moderado torso bem afastado do chão olhos em tro da tenda de cabelo seusrostos escondem-sede vista.
frente alertas. Se isso não for melhor que nada cancelar. Ela murmura, Escute as folhas. Olhos nos olhos um do
Se possível. E no vácuo reconquistado um outro movimen- outro você escuta as folhas. Na sua sombra tremulante
to. Ou nenhum. Deixandoapenasa postura mais útil para
ser inventada. Mas para seguir adiante corri isso deixa-lo Rastejando e caindo então. Rastejando de novo e caindo de
rastejar. Rastejar e cair. Rastejar de novo e cair de novo. novo. Se isso finalmente não melhorar em nada ele sempre
No mesmo escuro fingido que os seus outros fingimentos. pode cair de vez. Ou nunca ter se erguido nos joelhos .Con-
ceber como um rastejamentodessesao contrário da voz
Tendo se estendido pelos quatro cantos como numa busca pode servir para mapear a área. Grosseiramente que sqa.
a voz chega ao repouso e à fraqueza constante. Repousar Primeiro qual é a unidade de rastejamento? Corresponden-
onde? Imaginar com cautela. te ao passo da locomoção ereta. Ele se ergue de quatro e
se prepara para começar. Mãos e joelhos nos ângulos de
lar-
Acima.do rosto voltado para cima. Tangencíando o cocu- um retângulo oblongo de dois pés de comprimento e
ruto. De modo que na fraca luz que ela emite se houvesse aura inele«nte. Fi-almente dizer que o joelho esquerdo
uma boca para ser vista ele não a veria. Revirasseos olhos se move seis polegadas para a frente cortando assim pela
o quanto pudesse. Altura do chão? metade a distância entre ele e a mão homóloga. Que en.tão
no curso devido por sua vez se move para a frente o mesmo
tanto. Oblongo agora romboide. Mas apenas pelo tempo
0
l
que leva para o joelho e a mão direita seguirem o exemplo. A queda. O erguer-se de quatro de novo. O rastejamento
Oblongo restaurado. Assim por diante até arriar. De todos retomado. E perguntar-se o que na face da terra sons assim
os modos de rastejar esse a andadura rasteira é possivel- podiam significar. Reservarpara um momento mais enfa-
mente o menos comum. E assim possivelmente de todos o donho. O que a não ser o som poderia pâr a sua mente em
mais divertido. movimento? A visão?A tentação é grande de decretar que
não há nada para ver. Mas'tarde demais para o momento.
Assim enquanto rasteja contagem muda. Grão em grão na Pois ele vê uma mudança de escuro quando abre e fecha
naente.Um dois três quatro um. Joelho mão joelho mão os olhos. E ele pode ver a luz fraca que a voz imaginou emi-
dois. Um pé. Até digamos depois de cinco ele cair. Então tir. Imaginouprecipitadamente.A luz infinitamente fracaé
mais cedo ou mais tarde do zero de novo. Um dois três qua- verdade já que agora não mais que mero murmúrio. Aqui
tro um. Joelho mão joelho mão dois. Seis.Assim por dian- de repentevisto colho seusolhos se fecham assim que a
te. No que ele quer que sejauma linha reta. Até que não voz soa. Se por acaso estivessem abertos na hora. Assim a
tendo encontrado nenhum obstáculo desanimado ele refaz luz fica sendo a mais fraca luz percebida apenaspelo tempo
o caminho em que veio. Do zero de novo. Ou numa dire- que a pálpebra leva para cair. Gosto? O gosto na sua boca?
ção completamente diferente. No que ele espera seja uma Há muito embotado. Tatd O empurrão do solo contra seus
linha rega.Até de novo sem nenhum beco sem saídapara as ossos.Tudo incluído desde o calcâneo até a bossa filopro-
suas penas ele renunciar e embarcar ainda em outro rumo. genitiva. Não poderia a ideia de mexer-se eriçar sua apatia?
Do zero de novo. Bem consciente ou duvidando pouco Virar-se de lado. De bruços. Para variar. Que esse mhimo
que a escuridão possa defletir. No sentido anel-horário por de necessidade seja concedido. Com o consequente alívio
causa do coração. Ou inversamente para a trilha mais curta de já terem acabadoos dias em que podia contorcer-seem
converter uma guinada deliberada. Seja como for e rasteje vão. Olfato? Seu próprio cheiro? Há muito embotado. E
como rastejar nenhum termo até agora. Até agora.imaginá- uma barreira para outros se houver algum. Tal como o que
vel. Mão joelho mão joelho à vontade. Escuro sem termo. uma vez poderia exalar uln rato há ]nuito mordo. Ou algu-
ma outra carniça. Ainda a ser imaginada. A menos que o
Seria razoável imaginar o ouvinte em perfeita inércia men- rastejador fede. A-hal O criador rastejante. Seria razoável
tal? Exceto quando ouve. Isto é quando a voz soa. Pois o imaginar o criador rastejante a feder} Até mais que a sua
que a não ser isso e a sua respiração há para ele ouvir? A-hal criatura. Levando de vez em quando a se perguntar espan'
O rastejamento. Ele ouve o rastejamento} A' quedar Que fada aquela mente tão avessaao espanto- A se perguntar
acréscimo a companhia se ele ouvisse só o .rastejamento. o que na face da terra pode estar causandoaquele cheiro
56 SattztteJ Bec&et&
tão desanimado raramente por muito tempo. Pois pouco ços?A cabeça? De bruços no escuro ele se esforça para ver
a pouco enquanto está deitado a âqsía por companhia se como pode deitar-se melhor de bruços. Como mais propen-
reaviva. Na qual escapar da sua própria. A necessidade de so a companhia.
ouwr aquela voz de novo Que seja ilpenas a dizer de novo,
Você está deitado de costas no escuro. Ou apenas, Você Ver ouvinte com mais clareza. Qual de todas as maneiras de
üu a ]uz primeiro e gritou no fim dp dia em que na escu- se deitar de costas a menos passível a longo prazo de enfa-
ridão Cristo na nona hora gritou e morreu. A necessidade dar? Depois de se esforçar muito olhos fechados de bruços
olhos fechadospara melhor ouvir de ver aquecelampejo no escuro a seguinte. Mas primeiro nu ou coberto? Fosse
emitido. Ou com a adjunção de alguma fraquezahumana apenascom um lençol. Nu. Fantasmagóricano lampejo da
melhorar o ouvinte. Por exemplo uma doceira fora do alcan- voz aquela carne branca como osso por companhia. Cabe-
ce da mão ou melhor ainda dentro mas a mão inerte. Uma ça repousando sobretudo na mossa occipital supracitada.
coleira incoçáve]. Que acréscimo a companhia isso ia será Pernasunidas na posição de sentido. Pés esparramadosa
Ou colmo último senão máximo recurso perguntar-se o que noventa graus. Mãos invisivelmente algemadas cruzadas
exatamente ele quer dizer quando fala de si mesmo impre- sobrepúbis. Outros detalhes conforme sentir necessidade.
cisamente como deitado. Qual em outras palavras de todas Deixa-lo assim por enquanto.
as inumeráveis maneiras de estar deitado é passível de se
provar a longo prazo a mais cativante..Se tendo rastejado Entorpecido pelas desgraçasda sua espécie você levanta
da maneira descrita ele câí seria normalmente de bruços. todavia a cabeça das mãos e abre os olhos.Você acende sem
De fato dado seu grau de fadiga e desânimo nesse momen- se mexer do lugar a luz acima de sua cabeça. Seus olhos
to é difící! ver como ele poderia fazer de outra forma. Mas pousam no relógio embaixo deles. Mas em vez de ler a hora
uma vez caído e deitado de bruços não há razãopor que da noite eles seguem as rotações do ponteiro de segundos
não devessevirar-se de um ou outro dos seus lados ou de ora seguido ora precedido pela sua sombra. Horas depois
costas e assim ficar deitado se alguma dessas três posturas parece a você o seguinte. Aos 6o segundos e aos 3o segun-
oferecessemelhor companhia que qualquer das outras três. dos a sombrafica escondidapelo ponteiro. De 6o a 3o a
A de costasemboraa mais tentadoraele deveânalmente sombra precede o ponteiro a uma distância crescente de
rejeitar por já ser fornecida pelo ouvinte. Com relação à zero em 6o à máxima em i5 e daí decresce até novo zero
lateral uma olhada basta para descartar ambas. Deixando- em 3o. Dé 3o a 6o a sombra segue o ponteiro a uma distân-
-o sem outra escolha que não a de bruços. Mas como de cia crescente de zero em 3o à máxima em 45 e daí decresce
bruços? De bruços como? Como dispor as pernas? Os bra- até ]lovo zero em 6o. Inclinar a luz agora para o mostrador
6o Satllltei Beclwtt
;'1
6z Sa 7 zieZ 13eclwtí
C O MPAN HIA E OUTROS TEXTOS Ó3
PRA FRENTE O PIOR
Dizer por ser dito. Dito mal. Desde agora dizer por ser dito
mal.
I CONIPANHIA E OUTROS.TEXTOS 65
laenhum.Até farto de lá. Vomitar e de volta. O corpo de plesmente dor. Simplesmente pra cima. Um tempo qual'
do tentar como. Tentar ver. Tentar dizer. Como primeiro
novo. Onde nenhum. O lugar de novo. Onde nenhum. Ten-
se deitava. Então de algum modo se ajoelhou. Pedaçopor
tar de novo. Falhar de novo. Melhor de novo. Ou melhor
pedaço. Então adiante dali. Pedaço por pedaço. Até que pra
pior. Falhar pior de novo. Ainda pior de novo. Até farto de
vez. Vomitar de vez. Ir de vez. Onde nenhum deles de vez. cima afinal. Não agora.Falhar melhor pior agora.
tão mal.
Oitde então exceto lá ver
Ver por ser visto. Visto mal. Desde agoraver por ser visto
mal.
68 Satnzle! Bec;wtt
pior ajoelhado. Dizer agora ajoelhado. Desde agora ajoelha- Primeiro os ossos.Adiante de volta a eles. Remoendo desde
do. Poderia erguer-sesó sobre os joelhos. Súbita ída súbi- primeiro ditos os supraditosrestos. O solo. A dor. Nenhum
ta volta inalterado costas voltadas cabeça afundada sombra osso. Nenhum solo. Nenhuma dor. Por que pra cima não
escura sobrejoelhos invisíveis. Parada. sabido.A todo custo não sabido. Se alguma vez pra baixo.
Sem escolha exceto pra cima se alguma vez pra baixo. Ou
Próxima súbita ida o par. Próxima súbita volta. Inalterado. nunca pra baixo. Sempre ajoelhado. Melhor sempre ajoe-
Dizer agora inalterado. Até aqui inalterado. Costas volta- lhado. Melhor pior sempre ajoelhado. Dizer desde agora
das. Cabeças afundadas. Cabelos sombrios. Branco som- sempre ajoelhado. Até aqui desde agora sempre ajoelhado.
brio e cabelos tão claros que naquela luz sombria branco Até aqui.
sombrio. Casacos pretos até os calcanhares. Preto sombrio.
Calcanharesde batinas. Ora os dois direita. Ora os dois O vácuo. Diante dos olhos fixos. Fixar onde puderem.
esquerda. Como adiante no mesmo passo se vão. Nenhum Longe e perto. Alto a baixo. Esse campo estreito. Não mais
solo. Arrastar-se como .no vácuo. Mãos sombrias. Bran- saber. Não mais ver. Não mais .dizer. Esse só. Esse pouco
co sombrio. Duas livres e duas como uma. Assim súbita tanto de vácuo só.
ida súbita volta inalterados como uma sombra escura a se
arrastar seú retrocesso adiante. Adiante de volta para desdizer o vácuo pode ir. O vácuo não
pode ir. Salvo se a penumbra for. Então todos se vão. Todos
A pellumbra. De longe e de perto a mesma. De alto a baixo. já não se foram. Até a penumbra de volta. Então todos de
Inalterável. Dizer agora inalterável. Donde não se sabe. volta. Todos ainda não se foram. O um pode ir. O par pode
Não se diz. Dizer somenteluz de penumbra assim como ir. A penumbra pode ir. O vácuo não pode ir. Salvo se a
nunca. Em tudo. Dizer uma gruta nessevácuo. Um golfo. penumbra for. Elltão todos se vão.
Então nessagruta ou golfo luz mais sombriaassim como
nunca. Donde não se sabe.Não se diz. Adiante de volta melhor pior para falhar a cabeçadita
sedede tudo. Germe de tudo. 'tudo Se de tudo dela tam-
O vácuo. Inalterável. Dizer agora inaltelíável. Vácuo não fosse bém. Onde senão ali ela também? Ali na cabeça afunda-
o um. O par. Até aqui não fossem o um e o par«Até aqui. da a cabeça afuiadada. As mãos. Os olhos. Sombra com as
outras sombras. Na mesma penumbra. No mesmo vácuo
O vácuo. Como tentar dizer? Como tentar falhar? Não ten. estreito. Diante dos olhos fixos. Onde ela também senão ali
tar não falhar. Dizer apenas --
também?Não perguntar.Não. Perguntarem vão. Melhor criança ai e tomar coragem. Ou melhor pior dizer ainda um
pior assim. turno da noite ai por vir. Um resto de último turno por vir.
E tomar coragem.
A cabeça. Não perguntar se ela pode ir. Dizer não. Não
perguntáve]não. Ela não pode ir. Salvose a penumbra for.
Então todos se vão. Oh a penumbra ir. Ir de vez. Todos de
vez. Vez por todas.
Algo não errado com um. Ent.ãocom dois. Então com três.
Assim por diante. Algo não errado com todos. Longe de
errado. Longe longe de errado.
\
CONIPANnIAE OUI'ROSTEX'rOS 73
7z Sa? ltteZ Bechett
Próximo baixo. Dizer um cano naquele vácuo. Um tubo. Ladrado.
penam'
Então naquele cano ou tubo aquela mesmíssima
mais r
Primeiro como todos de uma vez. Naquele olhar fixo. O um bra. Velha penumbra. Quando se alguma vez o que
piorado. O dois piorando. E o que ainda para piorar. Para Onde tudo semprea ser visto. Do nada a ser visto. Som-
tentar piorar. O próprio isso. A penumbra. O vácuo. Todos briamente visto. Nada nunca invisível. Do nada a servisto
de uma vez naquele olhar fixo. Olhos cerrados grudados Sombriamente visto. Piorar isso?
em todos.
Próximo o assim dito vácuo. O assim dito mal.. Aquele
Próximo dois. De mau para piorar. Tentar piorar. De mera- campo estreito. Repleto de sombras. Bem assim dito mal.
mente mau. Acrescentar --. Acrescentar? Nunca. As bati- Vácuo dominado por sombras. Como melhor pior assim
nas. Melhor pior sem boticas. Calcanhares descalços. dizer mal?
Ora os dois direita. Ora os dois esquerda.Esquerda dírei-
[a esquerda direita adiante. Pés descalços sem retrocesso Acrescentar outros. Acrescentar? Nunca. Até se preciso for.
adiante. Melhor pior assim.Um pouco melhor pior que Nada para aqueles até aqui. Sombriamente até aqui. Eles
nada assim. nas diminuir. Mas com eles enquanto eles diminuem
74 Sanztíe! Beco ÊÊ
CObIPANnIAE OUTROSTENTAS 75~.
dois. Ou primeiro dois. Então um. Ou juntos. Então todos
de novo juntos. As costas curvadas. O par se arrastando. O
crânio. O olhar fixo. Tudo de volta no crânio junto. Inalte-
rado. Olhar fixo grudado em tudo. No vácuo sombrio.
dos. Pior melhor depois. i
Os olhos. Hora de
último pior vista. Esquerdadireita esquerdadireita pés rondo segurados. Colmo quando primeiro ditas. Indesditas
descalçossem retrocesso adiante. Elas então as palavras. quando pior ditas. Fora. Mãos segurando seguradasl
De volta a elas agora por falta de melhor adiante e melhor
falhar. Mais pior falhar que talvez de todas a menos. A O vazio também. Fora. Sem mãos no --. Não. Salvo por pior
menos pior falhada de todas as piores falhadas sombras. a dizer. De algum modo pior de algum modo a dizer. Dizer
Branco som-
Menos pior que as costas curvadassó. O crânio e o olhar por ora ainda vistas. Sombriamentevistas.
brio. Duas mãos vazias de um branco sombrio. No vácuo
fixo sem pálpebras. Embora elas também para pior. Mas o
sombrio.
que não para pior. Verdade. VerdadesE todavia dizer pri-
meiroa pior talvez pior de todas o velho e a criança. A pior
na necessidade de pior. Pior na --
CanaPANH IA E OUVI\OS TEXTOS 79
78 Sa7}zz4eZ
Bec;ui&
Assim pro mínimo adiante. Até quando ainda penumbra.
Penumbra desensombrada. Ou ensombrada para mais som-
bria ainda. Para a mais sombria penumbra. Minimáxímo na
mais sombria penumbra. Penumbra máxima. Minimáximo
na penumbra máxima. Impíorável pior.
Assim pouco pior o velho e a criança. Foram-semãossegu- algum modo desensombradamais pior ainda.
rando seguradosse arrastam apartados. Esquerda direita
Vazaradiante de volta não para desdizer mas dizer de novo
pés descalços sem retrocessoadiante. Não piorar ainda a
fenda. Salvo por algum depois de nenhum modo de algum os vastos apartados. Dizer vistos de novo. Nenhum pior
de novo. Os vastosde vácuo apartados.De tudo até aqui
modo mais pior adiante.
ito mal essepior dito mal. Até aqui. Não até de nenhum
Adiante de volta para desdizer grudado em tudo o olhar modo pior dizer mal dizer pior dito mal. Não até de vez de
nenhum modo adiante o p.obrepior dito mal.
fixo. Não mas desdeagoraora nisso e ora naquilo. Como
agora do par piorado até o próximo para pior só. Até crânio
e olhar fixo só. Dos dois pior na falta o crânio remoendo Ansiando a mente assim dita há muito alheia ao anseio.
Assim dita mal. Até aqui assim dita mal. Mercê de muito
desde que desafundado.Agora dizer a fronte s6. Nenhum
doma. Fonte a fonte só. Grudada nela e no olhar fixo só o ansiar alheio ao anseio. Muito anseio vão. E ansiando ainda.
Vazarde volta tentar piorar brancos. Aqueles então quan- De volta desdizer sombraspodem ir. Ir e voltar. Não. Som-
do de nenhum modo adiante. Desdizer então tudo se foi. bras não podem ír. Muito menos voltar. Nem costas curva-
Tudo não se foi. S6 de nenhum modo adiante. Tudo não se das da velha. Nem velho e criança. Nem frente do crânio
foi e de nenhum modo adiante. Tudo lá como agora quando e olhar fixo. Desfocar-se sím. Sombras É'odemdesfocar-se.
COMPANHIA E OUI'ROSTEXTOS 85
84 Sannle! Bechet8
Pra fora do macio pelo crânio. Boquiaberto no rosto invi- Nada e todavia uma mulher. Velha e todavia velha. Sobre
sível. Essaa falha?A falta de falha? Tentar melhor pior joelhos invisíveis.Inclinada como saudosamemória algu-
incrustadosno crânio. Dois buracospretos na frente do mas lápides velhas se inclinam. Naquele cemitério velho.
crânio. Ou um. Tentar melhor ainda pior um. Um buraco Nomes se foram e de quando a quando. Inclinada muda
preto sombriono meio da frente do crânio. Pra dentro do sobre os túmulos de ninguém.
inferno de tudo. Pra fora do infernode tudo. Assim melhor'
que nada pior dizer olhar fixo desde agora. Mesma inclinação para todos. N/lermosvastos apartados.
Tal último estado.O último estado.Até de algummodo
menos em vão. Pior em vão. Tudo roendo para ser nada.
Olhar fixo subjugadoa olhar ao longe para o tronco tra-
Nunca ser nada.
seiro do velho sem retrocesso adiante. Tentar melhor pior
ajoelhado. Pernasse foram dizer melhor pior ajoelhado.
Não mais se alguma vez adiante. Dizer nunca. Dizer nunca C) quê se o crânio se fosse? Bem dizer se fosse. Pra dentro
adiante. Sempre ajoelhado. Pernas se foram do olhar fixo então de que buraco preto? Pra fora do quê então? O quê
dizer melhor pior sempre ajoelhado. Olhar 6xo ao longe para por que de tudo? N/melhor
pior assim? Não. Crânio melhor
criança e mesma piora. Vastovácuo apartadosvelho e crian- pior O quesobroudo crânio.Do macio.O pior porquede
ça sombras sombrias sobre joelhos invisíveis. Uma desfoca- todos de tudo. Assim crânio não se vai. O que sobrou do
da. Uma clara. Claro sombrio. Ora uma. Ora a outra. crânio não se vai. Dentro dele ainda o buraco. Pra dentro
do que sobrou do macio. Pra fora do pouco que sobrou.
Nada a mostrar que uma criança e todavia uma criança.
Um homem e todavia um homem. Velho e todavia velho. Basta.De repentebasta.De repentetudo longe. Nenhum
Nada exceto vazar como nada e todavia. Um costas curva- movimento e de repente tudo longe. Tudo mínimo Três
das todavia de um velho. O outro todavia de uma criança.
Uma criança pequena. brio. Vastos apartados. Nos confins do vácuo sem confins.
Donde nenhum mais além. O melhor pior nenhum mais
De algum modo de novo e tudo no olhar fixo de novo. Tudo além. De nenhum modo menos. De nenhum modo pior.
De nenhum modo nada. De nenhum modo adiante
de vez como umâ vez. Melhor pior tudo. Os três curvados
pra baixo. O olhar fixo. Todo o vácuo estreito. Nenhum des-
Dito de nenhum modo adiante
locamento. Tudo claro. Claro sombrio. Buraco preto boquia-
berto para tudo. Deixando entrar tudo. Deixando sair tudo.
COMPANHIA E OUTROSTEXTOS 87
86 Sqlmie]. Beclwt.t.
SOBRESSALTOS
se iria ou não. Deixa-lo ou não sozinho de novo esperando de parede a parede no esc.uro.O então fugidio escuro da
por nada de novo. noite. Agora como se estranho a ele visto levantar-se e par'
tir. Desaparecer e reaparecer em outro lugar. Desaparecer
Visto sempre por trás aonde quer que fosse.Mesmos cha- de novo e reaparecer de novo em outro lugar de novo. Ou
péu. e casaco de outrora quando caminhava pelas estudas. no mesmo. Nada a mostrar que não o mesmo. Nenhuma
As estudas ermas. Agora como alguém num lugar estra- parede para a qual ou da qual. Nenhuma mesa de volta à
nho procurandoa saída.No escuro. Num lugar estranho qual ou mais além de. No 1nesmolugar de quando andava
às cegasno escuroda noite ou do dia procurandoa saída. de parede a parede todos os lugares como o mesmo. Ou em
Uma saída. Paraas estudas. As estudas armas. outro. Nada a mostrar que não outro. Onde nunca. Lgvan-
Até tantas badaladas e gritos desde que ele fora visto por
último que talvez não fosseser visto de novo. Então tan-
gosgritos desde que as badaladas foram ouvidas por últi-
mo que talvez não fossem ser ouvidas de novo. Então tal
silêncio desde que os gritos ouvidos por último que talvez
mesmo eles não fossem ser ouvidos de novo. Talvez desse
modo o âm. A menos que apenasmera bonança. Então
tudo como antes.As badaladase os gritos como antes e
ele.como antes ora ali ora sumido ora ali de novo ora sumi-
do de novo. Então a bonança de DOVO. Então tudo como
antes de novo.Assim de novo e de novo. E paciência até
o único fim verdadeirodo tempo e do pesar e do eu e do
segundo eu seu próprio
gz ScEtntteZBec;wtt
relva no coração mesmo do qual nenhum limite de nenhum 3
tipo pudesse ser descoberto mas sempre em algum canto
ou outro algum fim à vista como uma cerca ou outra forma
Assim por diante até se deter quando para seus ouvidos
de termo do qual retornar. Nem ao olhar mais de perto para do fundo desdedentro oh como e aqui uma palawa que
piorar as coisas era essaa relva verde curta que ele pare- ele não pôde apanhar fosse para ter fim onde nunca até
cia se lembrar ser comida por manadas.e rebanhos mas então. Descansoentão antes de outra vez desde não mais
comprida e de cor cinza-claroberrandoaqui e ali o bran- até até mais que talvez nunca outra vez e então outra vez
co. Então buscou ajuda no pensamento de que sua memó- fraco do fundo desde dentro oh como e aqui aquela pala-
ria do exterior estivessetalvez falha e nele não encontrou vra perdida outra vez fosse para ter fim onde nunca até
nenhuma. Assim todo olhos de mal a pior até no fim ces- então. Em todo caso o que quer que fossepara ter fim e
sar se não de ver de olhar (à sua volta ou mais de perto) e assim por diante já não estavaele enquanto Êcavaem pé
pâr-se a entreter pensamentos. Com este âm por falta de ali todo curado e para seusouvidosfraco do fundo desde
uma pedra onde sentar-secomo Walther ecruzar aspernas dentro outra e outra vezoh como algo e assim por diante já
o melhor que podia fazer era ficar parado e quieto feito um não estava ele até onde podia ver lá onde nunca até então?
cepo o que depois.de um momento do hesitação ele fez e Pois como poderia mesmo alguém assim como ele tendo
é claro baixar a cabeça como alguém em profunda medita- uma vez se encontrado em tal lugar não estremecer por se
ção o que depois de outro momento d$ hesitação ele tam- encontrar nele de novo o que não fizera nem tendo estre-
bém fez. Porém logo cansado de vasculhar em vão aqueles mecido buscar ajuda em vão no pensamento assim chama-
restos moveu-se adiante através da coúprída relva esbran- do de que tendo de algum modo saído dele então poderia
quiçada resignado a não saber onde el;tava ou como che- de algum modo sair dele de novo o que também não fizera.
garalá ou aonde estavaindo ou como voltar de onde não Lá então todo esse tempo onde nunca até então e até onde
sabia como viera. Assim por diante sem saber e nenhum ele podia ver em todas as direções quando levantava a cabe-
fim à vista. Sem saber e ainda por cima nenhum desejo de ça e abria os olhos nenhum perigo ou esperança conforme
saber nem sequer qualquer desejo de qualquer tipo nem fosse o caso de ele jamais sair dali. Era então para ele agora
portanto qualquer tristeza salvo que ele teria desejadoque prosseguirindiferente ora numa direção ora noutra ou por
as badaladas cessassem e os gritos de vez e lamentava que outro lado não mais se mexer conforme fosse o caso isto é
não tivessem. As badaladasora fracas ora claras como se conforme aquela palavra perdida que se fosse para advertir
carregadaspelo vento mas nem um sopro e os gritos ora como mal ou mau por exemplo então claro que apesar de
fracos ora claros. tudo um e se o reverso então claro o outro isto é não mais
CONIPANHIA E OUTROSTEXTOS 97
g6 SarFzttei Becltett
os pés. Assim nenhum sinal de restos nenhum sinal que
ninguém antes. Nem um nunca antes assim --
TEÇO
De ida e volta cruzando uma terra estéril mesmo caminho
de mão única serpenteando. Baixo no oeste ou no leste o
sol imóvel. Como se a terra em repouso. Sombras compri- Para Ázzígdor
das na frente e atrás. Mesmo passoe tempo sem conta. Setembro ig8i
Mesma ignorância de qual distância. Mesma folga uma vez
em ambos os âns para pautar ou não. Em ambos fim infun- Ao voltar a si a primeira visão é de branco.Algum tempo
dado.Antes de voltar de ida ou volta. Atravésdo vazio os depois de voltar a si a primeira visão é de branco opaco
caminhos batidos tão fixos como se cercados. Se o olho Por algum tempo depois de voltar a si os olhos continu-
girasse vácuo infinito. Na luz começando ou findando am fechados. Quando por fim se abrem são saudados por
infinita. Leito rochoso sob os pés. Assim nenhum sinal de essebranco opaco. Olhos da consciência fechados de ter
restos nenhum sinal que ninguém antes. Nem um nunca voltado a si. Quando por fim se abrem são saudadospor
antes assim-- essebranco opaco- Olhos da consciência obscura obrigados
a se fechar de ter parcialmente voltado a si. Quando por
fim obrigados se abrem eles são saudados por esse bran-
co opaco- Olhos da consciência obscura desobrigados de
se fechar de ter parcialinenee voltado a si. Quando por fim
desobrigados se abrem-neles são saudados por esse branco
opaco. Mais além não se pode.
Adiante
g8 Sapo.Traz
DecIBEl CONtPAWtiiAE OUTROSTCX'rOS 99
obscuramentede ter voltado a si. Parcialmentea si. Com
temor de ser de novo. Parcialmente de novo. Em algum
lugar de novo. De algum modo de novo. Alguém de novo.
Temor obscuro nascido primeiro da consciência só. Cons-
ciência obscurasó. Confirmado quando por fim os olhos
APÊNDICE
desobrigadosabertos. Para esse branco opaco' Mais além
não se pode
Adiante
Adiante
Adiante
Da última vez que você saiu havia neve no chão. Você agora
deitado de costas no escuro está em pé naquela manhã na
soleira tendo fechado a porta suavemente atrás de si. Você
se encosta na porta com a cabeça baixa preparando-se para
partir. Quando você abre os olhos seus pés desapareceram
e as abas do sobretudo repousam na superfície da neve. A
cena escura parece iluminada de baixo. Você se vê naquela
última saída encostado na porta de olhos fechados espe-
rando uma palavra sua para ir. Você? Para Eerido. Então
a cena iluminada pela neve. Você está deitado no escuro
de olhos fechados e se vê lá como descrito preparando-se
para ir embora e para longe através da expansãode luz.
Você ouve outra vez o clique da porta fechada suavemente
e o silêncio antes que os passospossam começar. A seguir
você está a caminho através do pasto branco festivo corri
cordeiros na primavera e salpicado de placentas verme-
lhas. Você toma o rumo que sempre toma que é uma linha
netapara o vão ou ponto esgarçado na cerca viva que forma
a margem ocidental. Até lá desde a sua entrada no pasto
você normalmente necessita de míl e oitocentos a dois mil
passos dependendo do seu humor e do estado do terreno.
'd
q
i
CRONOLOGIA
dos, num abrigo nada acolhedor. l tos em prosa que indicam a tendência da prosa final,
breve, condensada e complexa. Eh Joe, peça televi-
i958. Escreve a peça Krappk Zasttape (A Última gravaçãode
siva, vaÍ ao ar pela BBCZno ano seguinte. Começa a
Krapp), reflexão sobre o tempo, a memória e o hábito,
escrever O despovoados,narrativa distópica sobre uma
que se arma a partir de diálogos entre um atar e regis-
comunidade de seres residualmente humanos, aprisio-
tros de sua voz em gravadores de rolo. Estreia em Lon-
nados num espaçofechado, em busca de uma impro-
dres. Começa o romance Como é.
vávelsaída
í959. Escreve Cinzas, peça radiofónica que vai ao ar em
ig66. Traduz os sextospara naók para o inglês e colabora na
outubro pela BBC,e Ato sempalavrasil.
tradução de Watt para o francês.
ig6o. Muda-se para o apartamento do Boulevard St. Jac-
ig67. Publicação de Nok knife, coletânea de textos curtos
ques, em Montparnasse, onde viverá até a morte.
em inglês, e 7Ztes-Ímanes,volume análogo em francês.
Estreia francesa de Z.a&miêre banda (A tíZlima g7'afia-
ig68. Dirige EndspieZ(HH2de pa7'tiób),no Schiller Theater
ção de Krapp).
de Berlim.
ig6i. Escreve a peça Dias jeZizese divide com Jorre Leis
ig6g. Escreve Sa?zs,que traduz em seguida para o inglês
Borges o Prix Internacional des Editeurs. Escreve uma
como Lessvless.
Durante férias na Tunísia, recebe a
peça radiofónica em francês, Cascczndo.Estreia na Ale-
notícia de que ganhou o prêmio Nobel de Literatura.
manhaóperade Marce] Mihalovici baseadaemA últi-
No Brasil, Esperando Godos é encenado por Cacilda
ma gravação de Krapp. -.
Becker e Walmor Chagas,dirigidos por Flávio Rangel,
ig6z. Compõe Pala?rase música, peça radiofónica com
em temporada interrompida pela morte da atroz.
música original de John Beckett, depois retomada em
i97o. Autoriza a primeira publicação de Mercier et calmier e
peça musical do compositor americano Morton Feld-
Pünleiro amlor, ambos escritos em r946. '
man. Elabora a versão inglesa de Con20é.
i97i. Dirige GZüc;eZicheZage (DiasjeZizes) no Schiller Thea-
ig63. Conclui o roteiro de F{Zm,curta-metragemprota- ter de Berlim. Beckett atuou como diretor também em
gonizadopor Buster Keaton, que codirigiu com Alain
Londres, Stuttgart e Paria.
Schneider, em Nova York, no aho seguinte, premiado
com a\ Palma de Ouro para os médias-metragensem
COMIPANHIA E OUTROSTEXTOS II9
íi8 Sn l el Bec;wtt
fada em colóquio em sua homenagem. Escreve o volu-
í97z- Escreve em inglês a peça Ezl não. Traduz Prim7eÍro
me anal da sua segunda trilogia, Worsttpczrd ho (Pjorcz-
amor para o inglês.
va?'te «arche).
i973 Traduz Eu não para o francês e Adere er et camier para
ig8z. Escreve e traduz Cadastro?lze.
Publica A prece of
o inglês.
monoZogae(gozo), escrita para o atou irlandês David
i974. Escreve a peça 'í7zat time.
Warrilow. EscreveNacht w d Tràun?e(título original
i975 Dirige EsperczndoGodosno Schiller Theater de Ber-
em alemão: Noites e son;zos)para a televisão, comis-
lim. Começa a miniatura dramática FootáaZZs.
Dirige Etl
não em Pauis. Escreve Powr.emirencore. Escreve Glzost sionado pela emissora alemã Süddeutsche Rundfunk
(Stuttgart).
tdo, peça televisiva inspirada na peça musical de Bee-
thoven. ig8g. Em julho, morre sua mulher, Suzanne.Em 22 de
dezembro, morre Samuel Beckett.
i976 Escreve a peça televisiva . . . but file cZowds. . . . Estreia
londrina de 'í'hat time, com Patrick Magee (para quem
foi escrita), e nooçáaZZs,
com Billie Whitelaw (idem), no X
Ficção
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