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Artigo

[Resenha] 12 anos de escravidão


 by Dmitry
  2 Comentários
 20 de fevereiro de 2014

Quando fui apresentado ao trailer deste filme e soube que se tratava de uma história
real* imediatamente coloquei 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave – 2013) no topo
da minha lista de filmes mais esperados. Com estreia marcada para o dia 18 de
outubro de 2013 nos EUA, eu acreditava com convicção que a distribuidora brasileira
aproveitaria o Dia da Consciência Negra (20 de novembro) para lançar o filme no
Brasil, mas como a produção tem um grande potencial para arrecadar indicações ao
Oscar eles resolveram esperar pela semana anterior ao evento.
Decepções e pequenos mimimis a parte, vamos aos fatos. Para entender o sentido do
filme é preciso saber mais ou menos como funcionavam os EUA em 1841. Naquele
tempo haviam estados onde a abolição da escravatura era uma realidade e outros
que mantinham vivo o comércio de escravos. Se quiser ver como isso foi um
problema político para o país recomendo o excelente filme Lincoln**.
Nós começamos a saga conhecendo Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um negro livre
que vivia feliz com sua família no estado de Nova Iorque, onde não existia escravidão
desde que a pessoa possuísse papéis provando sua liberdade. Certo dia ele é
apresentado a duas pessoas que pretendem contratá-lo como violinista para algumas
apresentações em outros estados onde também não havia escravidão.
Durante um jantar ele é drogado e traficado para o sul, onde foi vendido como
escravo. Naquela parte do país um negro não tinha direitos, voz ou qualquer
simpatizante. Ele não podia provar ser quem era, não podia escrever para ninguém
ou sequer chamar a polícia, que o acusaria de ser um fugitivo mentiroso.

Os 12 anos citados no título mostram o quão desesperadora é a situação de


Solomon. Ele não pode lutar pela própria liberdade. Ele não pode simplesmente
mandar uma carta para sua família pedindo um resgate pois era contra a lei ensinar
um negro a ler e escrever. E a pena para este crime era a morte.

Desde o momento que Solomon acorda como escravo, o diretor Steve Mcqueen (Shame)


não poupa a plateia de toda a barbárie que os negros sofriam neste tempo. E o
elenco faz um estupendo trabalho fazendo com que você sinta cada pedacinho de
sofrimento ao qual os negros eram submetidos.
Por falar no elenco vou tirar um tempo para elogiar todo mundo pois Chiwetel
Ejiofor (Filhos do Amanhã) já se mostrava uma promessa faz tempo, mas neste filme
ele se supera, dando uma humanidade ao personagem que foge da armadilha de
tornar Solomon um santo. Michael Fassbender (Shame) está sempre excelente em
qualquer filme que apareça, mas aqui ele rouba a cena como um senhor de escravos
cruel que beira a loucura. Benedict Cumberbatch (Sherlock) está no filme para mostrar
que nem mesmo os senhores de escravos bonzinhos são santos e que aquela
realidade de E O Vento Levou só era bonitinha para os brancos. O elenco ainda traz
nomes como Brad Pitt  (Clube da Luta), Paul Dano (Os Suspeitos), Paul Giamatti (Sideways)
e Sarah Pulson (Amor Bandido).
Mas eu não podia deixar de dar destaque para Lupita Nyong’o, que faz o primeiro
grande papel de sua carreira e torna Patsy uma personagem tão cativante quanto
trágica. Suas cenas são extremamente pesadas e uma em particular deixará até
mesmo os fãs da série Jogos Mortais se contorcendo na cadeira. Sua atuação é
merecedora de todos os prêmios aos quais ela está sendo indicada.
O tema da escravidão em si renderia uma série de posts não só pela brutalidade que
representou como pelo roubo da dignidade humana que todo aquele período forçou
em uma grande parcela da população. A simples legalidade da posse de uma pessoa
por outra fazia com que os escravos não fossem vistos sequer como seres humanos e
desta forma o sofrimento destes indivíduos não representava absolutamente nada
para aqueles que o presenciaram. Isso foi mostrado com brilhantismo pelo diretor
em pelo menos duas cenas.

Até agora não vi um filme em 2014 que se assemelhasse a 12 Anos de Escravidão. Ele é
psicologicamente devastador e tecnicamente impecável. Sei que este fim de semana
marca a estreia do Robocop do Padilha (outro na minha lista de mais esperados) mas
seria extremamente injusto recomendar outro filme.

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