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Brasília – DF
2013
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa
Departamento de Apoio a Gestão Participativa
Brasília – DF
2013
2012. Ministério da Saúde.
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do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde:
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Coordenação geral
Reginaldo Alves das Chagas
Equipe Técnica
Colaboração
Editora MS
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Ficha Catalográfica
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Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa.
Política Nacional de Educação Popular em Saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento
de Apoio a Gestão Participativa. – Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
xx p. : il. – (Série B. Textos Básicos de Saúde)
ISBN xxx-xx-xxx-xxxx-x
1. Legislação em Saúde. 2.Educação popular em Saúde. 3. Políticas públicas em saúde. 3. I. Título. II. Série.
CDU 614:37.014.53
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Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2012/0435
2 FUNDAMENTAÇÃO LEGAL
5 OBJETIVOS
5.1 Objetivo Geral
5.2 Objetivos Específicos
REFERÊNCIAS
APRESENTAÇÃO
1
Dentre estas, podemos destacar a Política Nacional de Gestão Estratégica e Participativa (ParticipaSUS), Política Nacional
de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), o Pacto pela Saúde, Política Nacional de Humanização (HumanizaSUS),
Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), Política Nacional de Promoção da Saúde, Política Nacional de Saúde Integral
da População Negra, Política Nacional de Saúde Integral da População LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais), Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta (em construção), dentre outras.
1 CAMINHOS DE FORMULAÇÃO DA PNEP-SUS
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*Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde; Rede de Educação Popular em Saúde;
Articulação Nacional de Extensão Popular em Saúde; Grupo de Trabalho de Educação Popular e Saúde da Associação
Brasileira de Saúde Coletiva; Movimento Popular de Saúde; Movimento dos Trabalhadores Sem Terra; Movimento das
Pessoas Atingidas pela Hanseníase e Central de Movimentos Populares.
1.2 Algumas dimensões da Educação Popular em Saúde
A PNEP-SUS concebe a Educação Popular como práxis político-pedagógica
orientadora da construção de processos educativos e de trabalho social emancipatórios,
intencionalmente direcionada à promoção da autonomia das pessoas, a horizontalidade entre
os saberes populares e técnico-científicos, à formação da consciência crítica, à cidadania
participativa, ao respeito às diversas formas de vida, à superação das desigualdades sociais e
de todas as formas de discriminação, violência e opressão. No campo da saúde a característica
de práxis da Educação Popular, no sentido da ação-reflexão-ação, coloca-a como estratégia
singular para os processos que buscam o cuidado, a formação, produção de conhecimentos, a
intersetorialidade e a democratização do SUS.
A Educação Popular não se faz ‘para’ o povo, ao contrário, se faz ‘com’ o povo, tem
como ponto de partida do processo pedagógico o saber desenvolvido no trabalho, na vida
social e na luta pela sobrevivência e, procura incorporar os modos de sentir, pensar e agir dos
grupos populares, configurando-se assim, como referencial básico para gestão participativa
em saúde.
Por meio da conjunção de saberes, vivências e práticas que se opõem à situação de
opressão e exclusão social existente, a Educação Popular em Saúde busca identificar situações
limites, entendidas como as que exigem transformação no contexto local por dificultarem a
concretização dos sonhos de uma vida digna e ética, para o coletivo das populações. Para
Freire (1997), é a partir do contexto concreto/vivido que se pode chegar ao contexto teórico, o
que requer curiosidade, problematização, criatividade, o diálogo, a vivência da práxis e o
protagonismo dos sujeitos na busca da transformação social. As situações limites, não são
pontos de estagnação da luta social, ao contrário instigam mudanças, a partir do momento em
que o trabalho crítico se instaura na ação humana, propondo os atos limites que subvertem a
dominação e estabelecem o inédito viável. Esse processo imprime direcionalidade política às
práticas de educação popular em saúde para um projeto de sociedade no qual a saúde esteja
inserida como prioridade no modelo de desenvolvimento, a partir do enfrentamento de seus
determinantes sociais, como direito de cidadania e dever do Estado.
A Educação Popular em Saúde pressupõe o conhecimento como produção histórico-
social dos sujeitos construído a partir do diálogo. “O diálogo é o encontro dos homens
mediatizados pelo mundo para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto na relação eu/tu”
(FREIRE, 1978, p.79) e por seu inacabamento o sujeito está sempre se construindo
mediatizado pelo mundo. O diálogo pressupõe o amor ao mundo e às pessoas, a crença na
natureza de ser mais do ser humano, a esperança e o reconhecimento das diferenças sem negá-
las, contudo promovendo sua compreensão.
A problematização é elemento central que pressupõe a leitura crítica da realidade com
todas as suas contradições buscando explicações que ajudem a transformá-la. Sua ênfase é no
sujeito práxico, que se transforma na ação de problematizar, possibilitando a formulação de
conhecimento com base na vivência de experiências significativas como potências de
transformação do contexto vivido, produzindo conhecimento e cultura.
A Educação Popular em Saúde tem construído sua singularidade a partir da
contraposição aos saberes e práticas autoritárias, distantes da realidade social e orientadas por
uma cultura medicalizante imposta à população. Contudo, não se contrapõem nem
ambicionam sobrepor o saber técnico-científico e sim agir compartilhada e dialogicamente
com as práticas profissionais de saúde instituídas no SUS.
O jeito de fazer saúde acumulado tradicionalmente nas formas populares de cuidar,
denominadas práticas populares de cuidado, tem desvelado possibilidades de construção de
processos de cuidado dialogados, participativos e humanizados, acolhedores da cultura e do
saber popular. Configuram-se em um processo de criação e aprimoramento de caminhos para
um fazer em saúde capaz de reconhecer o ser humano em sua totalidade, comprometida com a
transformação da sociedade, o enfrentamento das iniquidades e com a emancipação dos
sujeitos.
As práticas populares de cuidado, enquanto práticas sociais ocorrem no encontro entre
diferentes sujeitos e se identificam com uma postura mais integradora e holística que
reconhece e legitima crenças, valores, conhecimentos, desejos e temores. Constituem-se por
meio da apropriação e interpretação do mundo pelas classes populares, a partir da sua
ancestralidade, de suas experiências e condições de vida, contemplando a escuta e o saber do
outro na qual o sujeito é percebido em sua integralidade e pertencente a um determinado
contexto sociocultural. Estas práticas são desenvolvidas por diversos atores em distintos
espaços, desde o espaço familiar, comunitário e mesmo institucional. Entre os muitos
exemplos das práticas populares de cuidado e de seus atores podem ser citados raizeiros,
benzedeiras, erveiros, curandeiros, parteiras, práticas dos terreiros de matriz africana,
indígenas dentre outros. Os valores e princípios presentes nas práticas populares de cuidado
contribuem significativamente para a promoção da autonomia do cidadão no que diz respeito
à sua condição de sujeito de direitos, autor de seus projetos de saúde e modos de andar a vida.
A PNEP-SUS enquanto política compreende essas práticas como importantes elementos
na mediação entre os saberes técnico-científicos e populares. Reconhece atores historicamente
invisibilizados nos territórios pelos serviços de saúde sem a pretensão de torná-los oficiais,
nem tão pouco profissionalizá-los, buscando visibilizá-los junto à sociedade e aos serviços de
saúde no SUS.
Uma dimensão importante presente nas práticas de educação popular em saúde é a
espiritualidade, entendida como a motivação profunda que orienta e dá sentido às opções de
vida mais fundamentais das pessoas, que pode se assentar em valores e perspectivas religiosas
ou não. Está fortemente presente na luta dos movimentos e nas práticas populares de cuidado.
Refere-se a dimensões da subjetividade, nem sempre conscientes, que são fundamentais na
estruturação desta motivação e precisam ser consideradas e valorizadas nas práticas de saúde.
A consideração da dimensão espiritual permite que motivações subjetivas, profundas
para o trabalho e para a luta pela saúde, possam ser elaboradas e ampliadas coletivamente
através do diálogo. Traz para o cotidiano do trabalho em saúde emoções, sentimentos e
disposições que fortalecem o vinculo entre as pessoas, entre as comunidades e destas com o
planeta, promovendo a solidariedade local e a integração da luta pela vida com a dinâmica
ecológica. Permite também que a elaboração, não claramente consciente das pessoas em
sofrimento desencadeado pelos problemas de saúde, possa ser trazida para as ações educativas
e para a construção de novas práticas de saúde. Contribui assim, para o aprofundamento da
integralidade em saúde por permitir que os projetos pessoais e coletivos sejam considerados
na estruturação do cuidado (VASCONCELOS, 2011).
A valorização da espiritualidade significa uma inovação epistemológica da educação
popular em saúde, na medida em que supera a usual redução das ações educativas e das
práticas de cuidado ao que é compreendido e orientado de forma racional e lógica. A mística
desenvolvida por muitos movimentos sociais em suas reuniões e encontros é uma estratégia
pedagógica da valorização da espiritualidade e cria condições para que o diálogo educativo
inclua também a linguagem simbólica da sensibilidade, emoção e intuição. Para que a
espiritualidade em saúde se torne importante nas ações de promoção e de cuidado em saúde é
preciso uma escuta sensível e de dinâmicas educativas que permitam sua manifestação e
elaboração de forma respeitosa aos valores e escolhas das pessoas.
A Educação Popular em Saúde referencia a arte como processo no qual as pessoas,
grupos e classes populares expressam e simbolizam sua representação, recriação e re-
elaboração da realidade, inserindo-as em uma prática social libertadora, cujas expressões não
se separam da vida cotidiana. Portanto, considera que trabalhar com a arte é a possibilidade de
se vivenciar o fazer, onde o processo criativo que se instaura agrega outras dimensões, que
não só a racional, trazendo também a estética popular capaz de produzir sentidos e
sentimentos.
Considera a arte como dimensão dos sujeitos que potencializa o diálogo, capaz de
realizar a problematização de forma criativa, onde se promove a reflexão das ações em saúde,
superando a perspectiva simplista da arte como mero veículo ou instrumento. Nessa
perspectiva de arte, grupos e indivíduos podem exercitar seu potencial criativo vivenciando de
forma lúdica, e problematizadora, questões relativas ao seu cotidiano, constituindo-se sujeitos
desse processo. O trabalho com a arte na Educação Popular em Saúde é alinhado às
dimensões da amorosidade, da espiritualidade, da criatividade, do diálogo e da construção
coletiva, trazendo para o agir em saúde a possibilidade de novas práticas e novas relações.
O sentido de pertencimento presente nas práticas de educação popular em saúde
contribui para o fortalecimento de identidades e do espírito de coletividade, como é expresso
nas redes construídas pelos coletivos, movimentos, articulações de nível nacional e local,
necessários para ampliação da qualidade da saúde das populações. O apoio social construído
nestas redes tem se manifestado importantes na promoção, prevenção, manutenção e
recuperação da saúde.
2 FUNDAMENTAÇÃO LEGAL
No campo internacional a implementação de uma Política Nacional de Educação Popular
em Saúde, por seu objeto e intencionalidades, legitima-se desde que a participação social é
expressa como uma diretriz consensuada pelos países articulados a Organização Mundial da
Saúde, conforme manifestado na Declaração da Conferência de Atenção Primária em Saúde
de Alma-Ata (1978), e que também teve como um de seus objetivos a incorporação de
práticas de cuidado e cura da chamada medicina tradicional ou popular nos diversos sistemas.
2
Decreto 5974/06 Art.26 incisos VI - apoiar estratégias para mobilização social, pelo direito à saúde e em
defesa do SUS, promovendo a participação popular na formulação e avaliação das políticas públicas de saúde e
Art. 27 (incisos: VI- apoiar estratégias para mobilização social, pelo direito à saúde e em defesa do SUS,
promovendo a participação popular na formulação e avaliação das políticas públicas de saúde;.
Diálogo
O ser humano está em constante construção e aprendizado, não há quem tudo saiba
assim como não há quem nada saiba. Diálogo é o encontro de conhecimentos construídos
histórica e culturalmente por sujeitos, portanto, o encontro desses sujeitos na
intersubjetividade.
O diálogo acontece quando cada um, de forma respeitosa, coloca o que sabe à
disposição para ampliar o conhecimento crítico de ambos acerca da realidade contribuindo
com os processos de transformação e de humanização. Contrapõe-se assim, à visão de mundo
estática e pessimista, ao afirmar que o mundo e os sujeitos que dele fazem parte e o constroem
estão em permanente transformação.
Os sujeitos em diálogo volta-se para a realidade que nos desafia, a problematizam e
contribuem com a elaboração de estratégias para superação dos desafios, ampliando nossa
capacidade crítica sobre a própria realidade. O diálogo, portanto implica escuta interessada,
humildade para aprender, amorosidade para o encontro, esperança na mudança de si, do outro
e da realidade. O diálogo é colaboração, troca, interação e se faz em relação horizontal Ana
qual a confiança de um no outro é consequência. Implica respeito mútuo que o autoritarismo
não permite que se constitua. O pensamento crítico de um, não anula o processo de
construção do pensamento crítico do outro e os conflitos são explicitados e não silenciados.
Não nivela, não reduz um ao outro, não é bate-papo ou conversa desinteressada; a palavra traz
a riqueza da história de vida de cada um e seu posicionamento, avaliação e coerência entre o
pensar e o agir frente à realidade.
Trata-se de perspectiva crítica de construção do conhecimento, de novos saberes, que
parte da escuta do outro e da valorização dos seus saberes e iniciativas, contrapondo-se à
prática prescritiva. O diálogo não torna as pessoas iguais, mas possibilita nos reconhecermos
diversos e crescermos um com o outro; pressupõe o reconhecimento da multiculturalidade e
amplia nossa capacidade de perceber, potencializar e conviver na diversidade.
Amorosidade
Problematização
Emancipação:
4 EIXOS ESTRATÉGICOS
A análise da sociedade atual na qual se inscreve o Sistema Único de Saúde, marcada
por valores individualistas e mercantilistas, aponta a necessidade de fortalecimento do
Sistema de acordo com o ideário do Movimento da Reforma Sanitária, ou seja: como projeto
coletivo que compõe um dos pilares para a conquista de uma sociedade justa e democrática.
Embora nos últimos anos diversos esforços tenham sido realizados por meio de
políticas públicas de saúde marcadas pela valorização de princípios como equidade,
participação e humanização, a mudança do modelo de atenção em saúde ainda é um desafio.
As ações de saúde ainda são marcadas pela busca obsessiva da cura das doenças, consistindo
em uma perspectiva de cuidado que preserva a racionalidade biomédica, identificando as
pessoas como “meros pacientes” portadores de patologias, em detrimento de uma concepção
ampliada do cuidado e negando seu papel enquanto sujeito de saberes, vivências, direitos e
detentores de poder de decisão.
Situações como essas expressam a necessidade de reorientação nas formas de cuidado
e promoção da saúde, assim como de descentralização e democratização da gestão, da
participação e controle social, da formação, da comunicação, da produção de conhecimento e
da intersetorialidade das políticas públicas.
Diante das contribuições da Educação Popular em Saúde à superação dos desafios
apresentados na atual conjuntura do Sistema Único de Saúde apresentam-se como Eixos
Estratégicos para implementação da PNEP-SUS:
5 OBJETIVOS
Garantir a inclusão dessa Política em seu Plano de Saúde e no Plano Plurianual (PPA);
Estabelecer estratégias e ações de planejamento, monitoramento e avaliação da PNEP-
SUS construídas de forma participativa com atores da sociedade civil implicados com
a Educação Popular em Saúde;
Apoiar tecnicamente as Secretarias Municipais de Saúde (SMS) implementação da
PNEP-SUS;
Participar do financiamento tripartite para a implantação da PNEP-SUS;
Promover a articulação intra-setorial permanente no âmbito estadual para a
implementação da PNEP-SUS;
Promover a intersetorialidade entre as políticas públicas que apresentam interface com
a PNEP-SUS.
______. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Disponível em:
<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/lei8080.pdf>. Acesso em: 03 de out 2012.
FÁVERO, O. (Org.) Cultura popular, educação popular: memória dos anos 60. Rio de
Janeiro: Edições Graal, 1983.
JARA, O. El reto de teorizar sobre la práctica para transformarla. In: GADOTTI, M.;
TORRES, C. A. Educação popular: utopia latino-americana. São Paulo: Cortez Editora;
Editora da Universidade de São Paulo, 1994.
PAIM, J. Desafios para a saúde coletiva no século XXI. Salvador: EDUFBA, 2006.
______. Da articulação nacional à rede de educação popular e saúde. Jornal nós da rede:
boletim da Rede de Educação Popular e Saúde, Recife, n. 3, p. 3-10. 2000.