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MINISTÉRIO DA SAÚDE

Política Nacional de Educação


Popular em Saúde
PNEP-SUS

Brasília – DF
2013
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa
Departamento de Apoio a Gestão Participativa

Política Nacional de Educação


Popular em Saúde
PNEP-SUS

Série B. Textos Básicos de Saúde

Brasília – DF
2013
 2012. Ministério da Saúde.
Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou
qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da área técnica. A coleção institucional
do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde:
<http://www.saude.gov.br/bvs>.

Tiragem: 1ª edição – 2012 – 40.000 exemplares

Elaboração, distribuição e informações


MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa
Departamento de Apoio a Gestão Participativa
Coordenação-Geral de Apoio À Educação Popular e à Mobilização Social
Setor de Administração Federal SAF Sul, Quadra 2, Lotes 5 e 6,
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CEP 70.070-600 – Brasília/DF
Tel.: (61) 3315.8886
Fax: (61) 3315.8840
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Coordenação geral
Reginaldo Alves das Chagas

Equipe Técnica

Esdras Daniel Pereira da Silva


José Ivo dos Santos Pedrosa
Osvaldo Peralta Bonetti
Theresa Cristina de Albuquerque Siqueira

Colaboração

André Carlos de Oliveira Rocha


Antonio Alves de Souza
Antônio Alves Ferreira
Artur Custodio Moreira de Sousa
Damiana Neto
Denise Rinehart
Dorian Chim Smarzaro
Ena de Araújo Galvão
Ernande Valentin do Prado
Eymard Mourão Vasconcelos
Francisca Américo dos Reis
Gislei Siqueira Knierim
Helena Maria Scherlowski David
Iracema Moura
Jorge Tadeu Teixeira Senna
José Carlos da Silva
José Eri Borges de Medeiros
José Marmo da Silva
Lanusa Terezinha Gomes Ferreira
Maria de Fátima Marques
Maria Waldenez de Oliveira
Noemi Margarida krefta
Onivaldo Coutinho
Paulo Roberto de Abreu Bruno
Pedro José Santos Carneiro Cruz
Renata Pekelman
Ricardo Sparapan Pena
Rosinete Fatima f. Neto
Selvino Heck
Simone Clair Wendling
Simone Maria Leite Batista
Suely Corrêa de Oliveira
Vanderléia Laodete Pulga Daron
Vera Lúcia de Azevedo Dantas

Projeto gráfico, diagramação, capa e arte-final


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Editora MS
Coordenação de Gestão Editorial
SIA, Trecho 4, lotes 540/610
CEP: 71200-040 – Brasília/DF
Tels.: (61) 3315-7790 / 3315-7794
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E-mail: editora.ms@saude.gov.br

Normalização: Daniela Ferreira Barros da Silva


Revisão: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Ficha Catalográfica
_________________________________________________________________________________________________________________
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa.
Política Nacional de Educação Popular em Saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa, Departamento
de Apoio a Gestão Participativa. – Brasília: Ministério da Saúde, 2012.
xx p. : il. – (Série B. Textos Básicos de Saúde)

ISBN xxx-xx-xxx-xxxx-x

1. Legislação em Saúde. 2.Educação popular em Saúde. 3. Políticas públicas em saúde. 3. I. Título. II. Série.

CDU 614:37.014.53
_________________________________________________________________________________________________________________
Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2012/0435

Títulos para indexação:


Em inglês: National Policy of Popular Education in Health
Em espanhol: Política Nacional de Educación Popular en Salud
Sumário
APRESENTAÇÃO

1 CAMINHOS DE FORMULAÇÃO DA PNEP-SUS


1.1 Contextualização histórica da Educação Popular em Saúde e sua institucionalização como
política
1.2 Algumas dimensões da Educação Popular em Saúde

2 FUNDAMENTAÇÃO LEGAL

3 PRINCIPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA PNEP-SUS

4 EIXOS ESTRATÉGICOS E PERSPECTIVAS PARA O SUS

5 OBJETIVOS
5.1 Objetivo Geral
5.2 Objetivos Específicos

6 RESPONSABILIDADES E ATRIBUIÇÕES RELACIONADAS À GESTÃO DO SUS


6.1 Ministério da Saúde e órgãos vinculados
6.2 Secretarias Estaduais de saúde
6.3 Secretarias Municipais de Saúde

REFERÊNCIAS
APRESENTAÇÃO

O Ministério da Saúde por meio da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa


(SGEP/MS) apresenta a Política Nacional de Educação Popular em Saúde no Sistema Único
de Saúde (PNEP-SUS). Com a PNEP-SUS, reafirmamos os princípios do SUS e o
compromisso com a garantia do direito à saúde mediante a implementação de políticas que
contribuam para a melhoria da qualidade de vida e diminuição das desigualdades sociais,
alicerçadas na ampliação da democracia participativa no setor saúde.
No contexto de inovações no marco regulatório do SUS, inaugurado pelo Decreto No.
7.508 esta política apresenta-se como uma contribuição do setor saúde aos esforços do
governo federal para a erradicação da pobreza no Brasil reafirmando que, para a conquista de
um país sem miséria, é imprescindível o fortalecimento do protagonismo popular na defesa
dos direitos e garantias sociais.
Diversas ações foram desenvolvidas por intermédio de políticas conquistadas pela
população na busca da transformação da cultura organizacional do setor saúde, qualificando
os modos de gestão, os processos de trabalho e a participação popular no SUS1. Contudo,
ainda se faz necessário investir em ações e políticas capazes de intensificar a mobilização e o
protagonismo popular na defesa do direito à saúde, valorizar a diversidade de saberes e
culturas integrando os saberes populares ao cotidiano dos serviços de saúde.
O processo histórico da Educação Popular se constitui como elemento inspirador de
formas participativas, críticas e integrativas de pensar e fazer saúde, seus conhecimentos
técnicos, metodológicos e éticos são significativos para o processo de consolidação do SUS.
Na área da saúde, movimentos e coletivos vêm promovendo reflexões, construindo
conhecimentos e ações num processo de diálogo entre serviços, movimentos populares e
espaços acadêmicos, para contribuir com consolidação de um projeto de sociedade e de saúde
mais justo e equânime.
Nesta Política é apresentado o histórico e o referencial teórico da Educação Popular,
contextualizando esse modo de pensar e produzir saúde e sua relação com as práticas do SUS.
Apresenta objetivos, pressupostos teórico-metodológicos e eixos estratégicos, por fim,
estabelece responsabilidades e atribuições, nas quais a educação popular em saúde é
apresentada como referência prática e estratégia política e metodológica para as ações e
serviços de saúde.
Considerando seu histórico de experiências, reflexões e conhecimentos, a Educação
Popular em Saúde apresenta-se como um caminho capaz de contribuir com metodologias,
tecnologias e saberes para a constituição de novos sentidos e práticas no âmbito do SUS.
Interage não apenas no que diz respeito à educação em saúde, mas, sobretudo no
delineamento de princípios éticos orientadores de novas posturas no cuidado, na gestão, na
formação e na participação social em saúde.

1
Dentre estas, podemos destacar a Política Nacional de Gestão Estratégica e Participativa (ParticipaSUS), Política Nacional
de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), o Pacto pela Saúde, Política Nacional de Humanização (HumanizaSUS),
Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), Política Nacional de Promoção da Saúde, Política Nacional de Saúde Integral
da População Negra, Política Nacional de Saúde Integral da População LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais), Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo e da Floresta (em construção), dentre outras.
1 CAMINHOS DE FORMULAÇÃO DA PNEP-SUS

1.1 Contextualização histórica da Educação Popular em Saúde e sua institucionalização


como política

A Educação Popular se constitui inicialmente no Brasil como um movimento libertário


trazendo uma perspectiva teórico-prática ancorada em princípios éticos potencializadores das
relações humanas forjadas no ato de educar mediadas pela solidariedade e pelo
comprometimento com as classes populares.
O referencial político-pedagógico da Educação Popular começa a ser delineado e
consolidado na década de 1950, com raízes motivadoras ligadas à história de luta social, de
resistência dos setores populares da América Latina, conjugando várias concepções.
Como teoria do conhecimento no campo da educação a Educação Popular foi
constituída a partir de sucessivas experiências entre intelectuais e as classes populares,
desencadeando iniciativas de alfabetização de jovens e adultos camponeses, nas décadas de
1950 e 1960, quando grupos de educadores buscavam caminhos alternativos para o modelo
dominante de alfabetização. Estes grupos ansiavam constituir tecnologias educativas capazes
não apenas de ensinar as pessoas a ler as palavras, mas sim empreender uma visão crítica do
mundo, para então construir caminhos, com autonomia e alteridade, na perspectiva da
emancipação social, humana e material. Buscavam inspiração no humanismo cristão e no
pensamento socialista (Marx, Gramsci, Lênin, dentre outros), compondo um quadro teórico
orientador de diversas metodologias educativas, as quais eram constantemente elaboradas,
avaliadas e re-elaboradas em uma construção orientada pela práxis (PALUDO, 2001).
No final dos anos de 1950 e meados de 1960, destacou-se o trabalho do Serviço de
Extensão Cultural da recém-criada Universidade de Recife, no qual professores como Paulo
Freire qualificaram a sistematização da Educação Popular e impulsionaram a promoção de
diversas experiências no campo da alfabetização e da cultura popular. A partir da observação
e análise construíram este processo pedagógico junto às populações campesinas em uma
perspectiva emancipatória. No final da década de 60 é publicada a obra “Pedagogia do
Oprimido” de Paulo Freire, embasada nessas experiências. As ações de promoção da
educação e da cultura popular, orientadas por esta nova perspectiva educativa, objetivavam a
transformação da cultura brasileira e, por meio desta, transformar a ordem das relações de
poder e a própria vida do país (FÁVERO, 1983).
Segundo Vasconcelos e Oliveira (2009), com o Golpe Militar de 1964, o movimento
da Educação Popular sofreu um grande impacto e muitos dos intelectuais e políticos que
compactuavam com sua ideologia foram perseguidos, presos ou exilados. Apesar disso, a
partir deste período, a Educação Popular foi adquirindo sentido enquanto forma de resistência
ao regime ditatorial, inspirando o surgimento e o desenvolvimento de inúmeras experiências
educativas, não apenas no Brasil, mas, em toda América Latina. A articulação destas
experiências ocorreu de forma progressiva, concomitante à ampliação da participação dos
movimentos populares e de muitos grupos religiosos inspirados na linha renovadora surgida
em Medellín e na Teologia da Libertação.
O papel de setores progressistas da igreja foi decisivo na busca por formas
democráticas de educação e de alternativas à repressão política que ocorria em diferentes
países da América Latina (PARRA et al., 1984). Da mesma forma, dentro das próprias
organizações populares, surgiram espaços e experiências de Educação Popular, tais como
bibliotecas populares, centros de formação de trabalhadores, grupos de teatro e música
populares, cursos sindicais, jornais e boletins de informação classistas (JARA, 1994). Nestes
espaços a Educação Popular, enquanto perspectiva ética, orientadora da educação e da ação
cultural, social e política se aprimorou ao longo dos anos 1970.
No Brasil, com o inicio do processo de redemocratização instaurado nos anos de 1980,
a Educação Popular vai se afirmando de modo mais aberto e ampliado, configurando-se não
apenas nos movimentos de resistência, mas passa a ser incorporada a trabalhos sociais de
muitas organizações não-governamentais, bem como, por órgãos de governo e experiências
institucionais em escolas, universidades e alguns serviços de saúde e assistência social.
Assim, a Educação Popular é compreendida como perspectiva teórica orientada para
a prática educativa e o trabalho social emancipatórios, intencionalmente direcionada à
promoção da autonomia das pessoas, à formação da consciência crítica, à cidadania
participativa e à superação das desigualdades sociais. A cultura popular é valorizada pelo
respeito às iniciativas, ideias, sentimentos e interesses de todas as pessoas, bem como na
inclusão de tais elementos como fios condutores do processo de construção do trabalho e da
formação.
Dentre as experiências de incorporação da Educação Popular na gestão pública,
destacam-se as administrações municipais das prefeituras de Recife (2000-2004) e
Camaragibe (1996-2004), Porto Alegre (1988-2004), São Paulo (1989-1993), Santo André
(1989-1993), além do governo estadual de Pernambuco (1994-1998) e do Rio Grande do Sul
(1999-2002). Como também, na esfera federal a partir de 2003, várias iniciativas foram
concebidas apresentando como marco a instituição do Programa Fome Zero junto ao
Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar (MESA) que apresentava um Setor de
Mobilização Social, para o qual a Educação Popular foi o referencial, contribuindo inclusive
para a instituição da Rede Nacional Cidadã (RECID). Atualmente a Secretaria Nacional de
Articulação Social da Presidência da República apresenta a Educação Popular como
referencial para a articulação das relações políticas do governo federal com os diferentes
segmentos da sociedade civil. A partir destas experiências houve acúmulo de um saber
significativo sobre caminhos políticos, estratégicos e administrativos para o emprego da
Educação Popular como instrumento de gestão de políticas sociais.
Em seu percurso de mais de cinqüenta anos de história, a Educação Popular tornou-se
um referencial importante aos movimentos sociais e coletivos interessados na transformação
social, assim como, para gestões que apresentam a ampliação da democracia e do
protagonismo dos setores populares como princípios básicos de suas políticas, na perspectiva
da ampliação do espaço público.
No campo da saúde, a emergência da Educação Popular ocorre especialmente a partir
da década de 1970, no contexto da inacessibilidade das camadas populares aos precários
serviços públicos, da inserção marginal no mercado de trabalho que excluía os trabalhadores
dos benefícios da seguridade social (previdência, assistência social e saúde), bem como das
péssimas condições de renda, moradia e alimentação. As organizações populares que
conseguiam algum nível de organicidade apresentavam-se como focos de resistência social,
além de representar coletivos de luta e mobilização contra a opressão política e o cerceamento
das liberdades civis. Diante desta realidade foi desencadeado um processo de mobilização
política paralelo ao processo de resgate da cultura popular como afirmação desses sujeitos,
demarcando a emergência de novos movimentos sociais (PEDROSA, 2007).
Nesse mesmo período, intensifica-se a criação dos Departamentos de Medicina
Preventiva e Social e os projetos de Medicina de Família e Comunidade nas universidades
brasileiras. Assim como, a constituição e fortalecimento do campo da Saúde Coletiva e de
experimentação de projetos de extensão universitária aderentes ao movimento ideológico da
Saúde/Medicina Comunitária, estratégia norte americana criticada por promover a atenuação
das tensões sociais e a inserção de comunidades como grupos de consumidores de serviços de
saúde. Tais projetos, influenciados pelos princípios da Medicina Preventiva, mas,
introduzindo conceitos inovadores como participação comunitária, regionalização e
integração docente-assistencial abriram espaços nos quais a discussão sobre saúde se
processava tendo como referência a expropriação da força de trabalho pelo capitalismo como
determinação essencial da doença (PAIM, 2006).
Destes processos, estrutura-se uma aliança entre intelectuais, trabalhadores e técnicos
da saúde, lideranças e ativistas populares, que questionam o modelo vigente de atenção à
saúde, buscando organizar os serviços de modo alternativo, fazendo avançar a luta pelo direito
à saúde.
Muitos profissionais, não raro, por demanda do movimento social, se engajam em
experiências de atenção à saúde que emergem do meio popular, passando a conviver com os
seus movimentos e sua dinâmica interna. O olhar para os serviços de saúde vai se tornando
mais crítico, a partir dessa convivência, evidenciam-se lacunas entre os serviços e a população
e novos modos de atenção são pensados e experimentados, dialogando-se com a cultura e
interesses populares (STOTZ; DAVID; WONG UN, 2005).
Destaca-se neste momento a criação do Movimento Popular de Saúde (MOPS), que
agregava militantes de várias concepções ideológicas de esquerda, assim como, lideranças
populares que se constituíram na luta por moradia, transporte, custo de vida e outras questões.
A partir de muitas práticas comunitárias e reflexões de cunho teórico e acadêmico,
foram surgindo as bases do que hoje se constitui Educação Popular em Saúde, isto é, uma
conjunção de saberes, vivências e práticas que se opõem à situação de opressão e exclusão
social existente, apostando na construção do inédito viável. Esse processo imprime
direcionalidade política às práticas de educação popular em saúde para um projeto de
sociedade, no qual a saúde se insere como direito de cidadania e dever do Estado. Com esses
acúmulos a educação popular em saúde vai se constituindo no cenário político por meio de
movimentos populares que se integram como atores políticos ativos no Movimento da
Reforma Sanitária (FALEIROS et al., 2006).
Nas rodas de conversa realizadas nesse período formadas por trabalhadores e usuários
se construía o sentido/significado da integralidade da saúde e da equidade, posteriormente
incorporados como princípios do SUS, assim como, a afirmação da participação popular
como força política do sistema de saúde, operado por meio de modelos organizacionais
descentralizados, em que o nível local é à base do sistema. Logo, a Educação Popular em
Saúde se fez presente em todo movimento político de formulação dos marcos históricos da
Reforma Sanitária, nos antecedentes da VIII Conferência Nacional de Saúde, na Assembléia
Constituinte, no texto Constitucional e na organização do SUS, principalmente na
participação e controle social (FALEIROS et al., 2006).
Além de prática pedagógica constante nos movimentos sociais populares, a Educação
Popular em Saúde ganha dinâmica própria a partir da organização de espaços agregadores,
sistematizadores e produtores de conhecimentos, conceitos e visões de mundo, atuando como
dispositivos fundamentais para as lutas populares. Tais espaços se localizam nas
universidades, nos serviços de saúde e nos movimentos sociais populares.
Em 1990, foi constituída uma articulação nacional no sentido de ampliar a
participação dos sujeitos comprometidos com o tema e contribuir com a mobilização e
realização de espaços presenciais, com a criação de grupos acadêmicos e publicações. Em
dezembro de 1998, profissionais de saúde e algumas lideranças populares criaram a Rede
Nacional de Educação Popular em Saúde, contando com apoio institucional da Escola
Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz. Apresentava como objetivos a
formação ampliada de trabalhadores da saúde na perspectiva da Educação Popular; a apuração
da metodologia adequada à conjuntura; a busca de integração mais intensa entre os diversos
profissionais e lideranças populares envolvidos em práticas educativas espalhadas na América
Latina e a luta pela reorientação das políticas sociais para torná-las mais participativas.
(VASCONCELOS, 2000)
Em 2002, os atores que compõem essa Rede, encaminharam ao Presidente recém-
eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, uma carta na qual expressaram a intencionalidade política do
movimento em participar do SUS. Evidenciava-se a Educação Popular em Saúde como
prática necessária à integralidade do cuidado, à qualificação da participação e do controle
social na saúde e às mudanças necessárias na formação dos profissionais da área. Como
consequência em 2003, é instituída a Coordenação Geral de Ações Populares de Educação na
Saúde na estrutura do Ministério da Saúde, integrando a nova Secretaria de Gestão do
Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES). Esta Coordenação tinha como finalidade o
fortalecimento e a qualificação do controle social na saúde e o diálogo com os movimentos
populares na perspectiva de ampliar a esfera pública de participação da sociedade civil,
buscando também, inserir o referencial da EPS na formação profissional da área da saúde.
Uma das estratégias implementadas neste momento foi o apoio à constituição de um
espaço de interlocução entre os movimentos sociais populares e a gestão do sistema, a
Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde (ANEPS).
Para tanto, se desencadeou um processo participativo de mobilização e de reconhecimento das
entidades, movimentos e práticas de educação popular em saúde. A realização de encontros
estaduais de movimentos e práticas de educação popular em saúde identificou uma série de
iniciativas e atores que se articulavam na luta por saúde. Tem contribuído também, para o
processo de educação permanente para o controle social na saúde e com outras ações
relacionadas às políticas de saúde.
A proposta articuladora orientada pela construção de redes solidárias apresentada pela
ANEPS tem favorecido, além da agregação entre movimentos do campo e cidade, a
constituição de novos coletivos como a ANEPOP (Articulação Nacional de Extensão
Popular), relacionada aos processos de formação de profissionais, particularmente a política
de extensão universitária.
Em 2005, em meio às mudanças ocorridas na gestão federal, a Educação Popular em
Saúde (EPS) foi realocada na Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa (SGEP), onde
foi instituída a Coordenação-Geral de Apoio à Educação Popular e à Mobilização Social,
apresentando uma direcionalidade maior para a promoção da participação popular na saúde. A
EPS constituiu-se como elemento significativo da Política Nacional de Gestão Estratégica e
Participativa no SUS (ParticipaSUS).
Durante a implementação da ParticipaSUS, além do apoio aos coletivos e movimentos
populares que atuam referenciados pela educação popular em saúde, foram desencadeadas
ações de fortalecimento do processo instituinte da EPS. Dentre estas, destaca-se a publicação
da Portaria GM/MS No. 3060 de 2007, que dispõe sobre o repasse fundo a fundo dos recursos
desta política, viabilizando o apoio às gestões estaduais nos processos de educação popular
em saúde, para ampliar e qualificar a participação social no SUS. Em 2009, a SGEP criou o
Comitê Nacional de Educação Popular em Saúde (CNEPS) com a missão de qualificar a
interlocução com os coletivos e movimentos de EPS, bem como, acompanhar o processo de
formulação desta Política no contexto do SUS (BRASIL, 2009).
Logo, o processo de institucionalização vivenciado pela EPS nestes últimos anos
provocou o desenvolvimento de várias ações referenciadas, sobretudo, na reflexão sobre a
importância e significado que as práticas de educação popular em saúde possuem no contexto da
gestão participativa e do cuidado integral em saúde. Tal processo mostra-se determinante para
construção das bases políticas para a instituição do CNEPS, que foi o espaço de apoio à
sistematização e formulação Política Nacional de Educação Popular em Saúde no SUS
(PNEPS-SUS). Formado por representantes de movimentos sociais populares, das práticas
populares de cuidado, de instituições de ensino e pesquisa e de áreas técnicas do governo
federal, constituição esta, que reflete a diversidade de atores implicados com a implementação
desta Política.
Assim, a Política Nacional de Educação Popular em Saúde foi pauta das reuniões deste
coletivo a partir da problematização da realidade vivenciada na saúde por estes atores sociais
construindo um processo de trabalho democrático e participativo em sua formulação.
Compreendendo a formulação da PNEP-SUS enquanto processo vivo, foram pactuadas
estratégias no âmbito deste Comitê, dentre estas, a realização de seis Encontros Regionais de
Educação Popular em Saúde a fim de garantir a escuta-ampliada e a formulação
compartilhada desta Política. Destaca-se também o papel das Tendas de Educação Popular em
Saúde, Tendas Paulo Freire, que tem contribuído na realização de eventos da área, como
congressos científicos, conferências e seminários, incorporando o referencial da Educação
Popular e seus atores na construção do saber em saúde. Inspiradas nas formulações dos
coletivos e movimentos de educação popular em saúde*, as Tendas são articuladas na
mobilização em defesa do direito à saúde e do SUS, buscando a articulação com parceiros
locais, inauguram um novo jeito de fazer na realização dos eventos da área da saúde, a
exemplo de conferências, congressos e seminários.

___________________________________________________________________
*Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde; Rede de Educação Popular em Saúde;
Articulação Nacional de Extensão Popular em Saúde; Grupo de Trabalho de Educação Popular e Saúde da Associação
Brasileira de Saúde Coletiva; Movimento Popular de Saúde; Movimento dos Trabalhadores Sem Terra; Movimento das
Pessoas Atingidas pela Hanseníase e Central de Movimentos Populares.
1.2 Algumas dimensões da Educação Popular em Saúde
A PNEP-SUS concebe a Educação Popular como práxis político-pedagógica
orientadora da construção de processos educativos e de trabalho social emancipatórios,
intencionalmente direcionada à promoção da autonomia das pessoas, a horizontalidade entre
os saberes populares e técnico-científicos, à formação da consciência crítica, à cidadania
participativa, ao respeito às diversas formas de vida, à superação das desigualdades sociais e
de todas as formas de discriminação, violência e opressão. No campo da saúde a característica
de práxis da Educação Popular, no sentido da ação-reflexão-ação, coloca-a como estratégia
singular para os processos que buscam o cuidado, a formação, produção de conhecimentos, a
intersetorialidade e a democratização do SUS.
A Educação Popular não se faz ‘para’ o povo, ao contrário, se faz ‘com’ o povo, tem
como ponto de partida do processo pedagógico o saber desenvolvido no trabalho, na vida
social e na luta pela sobrevivência e, procura incorporar os modos de sentir, pensar e agir dos
grupos populares, configurando-se assim, como referencial básico para gestão participativa
em saúde.
Por meio da conjunção de saberes, vivências e práticas que se opõem à situação de
opressão e exclusão social existente, a Educação Popular em Saúde busca identificar situações
limites, entendidas como as que exigem transformação no contexto local por dificultarem a
concretização dos sonhos de uma vida digna e ética, para o coletivo das populações. Para
Freire (1997), é a partir do contexto concreto/vivido que se pode chegar ao contexto teórico, o
que requer curiosidade, problematização, criatividade, o diálogo, a vivência da práxis e o
protagonismo dos sujeitos na busca da transformação social. As situações limites, não são
pontos de estagnação da luta social, ao contrário instigam mudanças, a partir do momento em
que o trabalho crítico se instaura na ação humana, propondo os atos limites que subvertem a
dominação e estabelecem o inédito viável. Esse processo imprime direcionalidade política às
práticas de educação popular em saúde para um projeto de sociedade no qual a saúde esteja
inserida como prioridade no modelo de desenvolvimento, a partir do enfrentamento de seus
determinantes sociais, como direito de cidadania e dever do Estado.
A Educação Popular em Saúde pressupõe o conhecimento como produção histórico-
social dos sujeitos construído a partir do diálogo. “O diálogo é o encontro dos homens
mediatizados pelo mundo para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto na relação eu/tu”
(FREIRE, 1978, p.79) e por seu inacabamento o sujeito está sempre se construindo
mediatizado pelo mundo. O diálogo pressupõe o amor ao mundo e às pessoas, a crença na
natureza de ser mais do ser humano, a esperança e o reconhecimento das diferenças sem negá-
las, contudo promovendo sua compreensão.
A problematização é elemento central que pressupõe a leitura crítica da realidade com
todas as suas contradições buscando explicações que ajudem a transformá-la. Sua ênfase é no
sujeito práxico, que se transforma na ação de problematizar, possibilitando a formulação de
conhecimento com base na vivência de experiências significativas como potências de
transformação do contexto vivido, produzindo conhecimento e cultura.
A Educação Popular em Saúde tem construído sua singularidade a partir da
contraposição aos saberes e práticas autoritárias, distantes da realidade social e orientadas por
uma cultura medicalizante imposta à população. Contudo, não se contrapõem nem
ambicionam sobrepor o saber técnico-científico e sim agir compartilhada e dialogicamente
com as práticas profissionais de saúde instituídas no SUS.
O jeito de fazer saúde acumulado tradicionalmente nas formas populares de cuidar,
denominadas práticas populares de cuidado, tem desvelado possibilidades de construção de
processos de cuidado dialogados, participativos e humanizados, acolhedores da cultura e do
saber popular. Configuram-se em um processo de criação e aprimoramento de caminhos para
um fazer em saúde capaz de reconhecer o ser humano em sua totalidade, comprometida com a
transformação da sociedade, o enfrentamento das iniquidades e com a emancipação dos
sujeitos.
As práticas populares de cuidado, enquanto práticas sociais ocorrem no encontro entre
diferentes sujeitos e se identificam com uma postura mais integradora e holística que
reconhece e legitima crenças, valores, conhecimentos, desejos e temores. Constituem-se por
meio da apropriação e interpretação do mundo pelas classes populares, a partir da sua
ancestralidade, de suas experiências e condições de vida, contemplando a escuta e o saber do
outro na qual o sujeito é percebido em sua integralidade e pertencente a um determinado
contexto sociocultural. Estas práticas são desenvolvidas por diversos atores em distintos
espaços, desde o espaço familiar, comunitário e mesmo institucional. Entre os muitos
exemplos das práticas populares de cuidado e de seus atores podem ser citados raizeiros,
benzedeiras, erveiros, curandeiros, parteiras, práticas dos terreiros de matriz africana,
indígenas dentre outros. Os valores e princípios presentes nas práticas populares de cuidado
contribuem significativamente para a promoção da autonomia do cidadão no que diz respeito
à sua condição de sujeito de direitos, autor de seus projetos de saúde e modos de andar a vida.
A PNEP-SUS enquanto política compreende essas práticas como importantes elementos
na mediação entre os saberes técnico-científicos e populares. Reconhece atores historicamente
invisibilizados nos territórios pelos serviços de saúde sem a pretensão de torná-los oficiais,
nem tão pouco profissionalizá-los, buscando visibilizá-los junto à sociedade e aos serviços de
saúde no SUS.
Uma dimensão importante presente nas práticas de educação popular em saúde é a
espiritualidade, entendida como a motivação profunda que orienta e dá sentido às opções de
vida mais fundamentais das pessoas, que pode se assentar em valores e perspectivas religiosas
ou não. Está fortemente presente na luta dos movimentos e nas práticas populares de cuidado.
Refere-se a dimensões da subjetividade, nem sempre conscientes, que são fundamentais na
estruturação desta motivação e precisam ser consideradas e valorizadas nas práticas de saúde.
A consideração da dimensão espiritual permite que motivações subjetivas, profundas
para o trabalho e para a luta pela saúde, possam ser elaboradas e ampliadas coletivamente
através do diálogo. Traz para o cotidiano do trabalho em saúde emoções, sentimentos e
disposições que fortalecem o vinculo entre as pessoas, entre as comunidades e destas com o
planeta, promovendo a solidariedade local e a integração da luta pela vida com a dinâmica
ecológica. Permite também que a elaboração, não claramente consciente das pessoas em
sofrimento desencadeado pelos problemas de saúde, possa ser trazida para as ações educativas
e para a construção de novas práticas de saúde. Contribui assim, para o aprofundamento da
integralidade em saúde por permitir que os projetos pessoais e coletivos sejam considerados
na estruturação do cuidado (VASCONCELOS, 2011).
A valorização da espiritualidade significa uma inovação epistemológica da educação
popular em saúde, na medida em que supera a usual redução das ações educativas e das
práticas de cuidado ao que é compreendido e orientado de forma racional e lógica. A mística
desenvolvida por muitos movimentos sociais em suas reuniões e encontros é uma estratégia
pedagógica da valorização da espiritualidade e cria condições para que o diálogo educativo
inclua também a linguagem simbólica da sensibilidade, emoção e intuição. Para que a
espiritualidade em saúde se torne importante nas ações de promoção e de cuidado em saúde é
preciso uma escuta sensível e de dinâmicas educativas que permitam sua manifestação e
elaboração de forma respeitosa aos valores e escolhas das pessoas.
A Educação Popular em Saúde referencia a arte como processo no qual as pessoas,
grupos e classes populares expressam e simbolizam sua representação, recriação e re-
elaboração da realidade, inserindo-as em uma prática social libertadora, cujas expressões não
se separam da vida cotidiana. Portanto, considera que trabalhar com a arte é a possibilidade de
se vivenciar o fazer, onde o processo criativo que se instaura agrega outras dimensões, que
não só a racional, trazendo também a estética popular capaz de produzir sentidos e
sentimentos.
Considera a arte como dimensão dos sujeitos que potencializa o diálogo, capaz de
realizar a problematização de forma criativa, onde se promove a reflexão das ações em saúde,
superando a perspectiva simplista da arte como mero veículo ou instrumento. Nessa
perspectiva de arte, grupos e indivíduos podem exercitar seu potencial criativo vivenciando de
forma lúdica, e problematizadora, questões relativas ao seu cotidiano, constituindo-se sujeitos
desse processo. O trabalho com a arte na Educação Popular em Saúde é alinhado às
dimensões da amorosidade, da espiritualidade, da criatividade, do diálogo e da construção
coletiva, trazendo para o agir em saúde a possibilidade de novas práticas e novas relações.
O sentido de pertencimento presente nas práticas de educação popular em saúde
contribui para o fortalecimento de identidades e do espírito de coletividade, como é expresso
nas redes construídas pelos coletivos, movimentos, articulações de nível nacional e local,
necessários para ampliação da qualidade da saúde das populações. O apoio social construído
nestas redes tem se manifestado importantes na promoção, prevenção, manutenção e
recuperação da saúde.

2 FUNDAMENTAÇÃO LEGAL
No campo internacional a implementação de uma Política Nacional de Educação Popular
em Saúde, por seu objeto e intencionalidades, legitima-se desde que a participação social é
expressa como uma diretriz consensuada pelos países articulados a Organização Mundial da
Saúde, conforme manifestado na Declaração da Conferência de Atenção Primária em Saúde
de Alma-Ata (1978), e que também teve como um de seus objetivos a incorporação de
práticas de cuidado e cura da chamada medicina tradicional ou popular nos diversos sistemas.

Posteriormente reafirma-se a participação popular pela Carta de Ottawa (1986) oriunda


da I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, na qual é apontado que para atingir
um estado de completo bem-estar físico, mental e social os indivíduos e grupos devem saber
identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente.
Tal carta explicita a necessidade de haver “capacitação, empoderamento de indivíduos/grupos
a fim de promover a emancipação e responsabilidade dos cidadãos de todos os setores e em
todos os contextos”.

Já na Declaração de Santa Fé de Bogotá (1992), a autonomia das populações é


destacada indicando o compromisso em fortalecer a capacidade da população nas tomadas de
decisões que afetem sua vida e para optar por estilos de vida saudáveis, assim como, estimular
o diálogo entre diferentes culturas de modo que o processo de desenvolvimento da saúde se
incorpore ao conjunto do patrimônio cultural da região.

No Brasil a participação social é uma conquista constitucional, pois a Constituição de


1988 expressa em seu artigo No. 198 a participação da comunidade como uma diretriz do
Sistema Único de Saúde, perspectiva aprimorada na Lei 8.080/90 e 8.142/90.

No contexto do controle social instituído no SUS as Conferências Nacionais de Saúde


(CNS) são relevantes por seu papel de formular diretrizes para a qualificação das políticas de
saúde. Destaca-se as deliberações da 12ª CNS (2004) que, em seu eixo temático Educação
Popular em Saúde, apresentou uma série de deliberações contemplando estratégias e ações a
serem implementadas nos três níveis de gestão do SUS, a fim de fortalecer a Educação
Popular em Saúde no trabalho com o controle social, gestão, cuidado e formação em saúde. Já
na 13ª CNS (2008) tais propostas foram reafirmadas e foi adensada a proposta de inserção da
Educação Popular em Saúde nos processos de ensino-aprendizagem realizados nas escolas do
ensino fundamental. A 14ª CNS, ocorrida em 2011, dentre outras ações relativas, expressou a
demanda pela implementação de uma Política Nacional de Educação Popular em Saúde.

Em 2007, por meio da Portaria nº 3.027, de 26 de novembro foi instituída a Política


Nacional de Gestão Estratégica e Participativa que dentre seus eixos e ações expressa:
fortalecer os movimentos e as práticas de Educação Popular e Saúde (EPS) no Sistema Único
de Saúde (SUS), conforme o Decreto No 5.974, de 29 de novembro de 2006 da Presidência da
República em seus Artigos 26 e 272.

Em 2005 o Ministério da Saúde definiu a Agenda de Compromisso pela Saúde que


agrega três eixos: o Pacto em Defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), o Pacto em Defesa
da Vida e o Pacto de Gestão. Destaca-se o Pacto em Defesa do SUS que envolve ações
concretas e articuladas pelas três instâncias federativas no sentido de reforçar o SUS como
política de Estado mais do que política de governos e de defender os princípios basilares
dessa política pública, inscritos na Constituição Federal.
Para efetivar este Pacto apresenta-se a necessidade de um movimento de repolitização
da saúde, com clara estratégia de mobilização social envolvendo o conjunto da sociedade
brasileira, extrapolando os limites do setor e vinculada ao processo de instituição da saúde
como direito de cidadania, tendo o financiamento público da saúde como um dos pontos
centrais.
Em 2009 o Ministério da Saúde institui por meio da Portaria No 1.256, de 17 de junho
o Comitê Nacional de Educação Popular em Saúde, espaço colegiado com a participação de
representantes da gestão do SUS e dos movimentos populares cujo objetivo primeiro é
participar da formulação, acompanhamento da implementação e da avaliação da Política
Nacional de Educação Popular em Saúde no SUS (BRASIL, 2009).

3 PRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS DA PNEP-SUS


A PNEP-SUS reafirma o compromisso com a universalidade, a equidade, a
integralidade e a efetiva participação popular no SUS. Propõe uma prática político-
pedagógica que perpassa as ações voltadas para a promoção, proteção e recuperação da saúde,
a partir do diálogo entre a diversidade de saberes valorizando os saberes populares, a
ancestralidade, o incentivo à produção individual e coletiva de conhecimentos e a sua inserção
destes no SUS.
Os pressupostos teórico-metodológicos ou diretrizes como convencionalmente são
denominados, contemplam dimensões filosóficas, políticas, éticas e metodológicas que dão
sentido e coerência à práxis de educação popular em saúde. A apresentação demarcada desses
elementos busca promover a melhor compreensão em uma perspectiva didática. Destaca-se
porém que são componentes de um todo, são partes articuladas de um processo integral e
único e como tal configuram-se em pressupostos da Política Nacional de Educação Popular
em Saúde.

2
Decreto 5974/06 Art.26 incisos VI - apoiar estratégias para mobilização social, pelo direito à saúde e em
defesa do SUS, promovendo a participação popular na formulação e avaliação das políticas públicas de saúde e
Art. 27 (incisos: VI- apoiar estratégias para mobilização social, pelo direito à saúde e em defesa do SUS,
promovendo a participação popular na formulação e avaliação das políticas públicas de saúde;.
 Diálogo
O ser humano está em constante construção e aprendizado, não há quem tudo saiba
assim como não há quem nada saiba. Diálogo é o encontro de conhecimentos construídos
histórica e culturalmente por sujeitos, portanto, o encontro desses sujeitos na
intersubjetividade.
O diálogo acontece quando cada um, de forma respeitosa, coloca o que sabe à
disposição para ampliar o conhecimento crítico de ambos acerca da realidade contribuindo
com os processos de transformação e de humanização. Contrapõe-se assim, à visão de mundo
estática e pessimista, ao afirmar que o mundo e os sujeitos que dele fazem parte e o constroem
estão em permanente transformação.
Os sujeitos em diálogo volta-se para a realidade que nos desafia, a problematizam e
contribuem com a elaboração de estratégias para superação dos desafios, ampliando nossa
capacidade crítica sobre a própria realidade. O diálogo, portanto implica escuta interessada,
humildade para aprender, amorosidade para o encontro, esperança na mudança de si, do outro
e da realidade. O diálogo é colaboração, troca, interação e se faz em relação horizontal Ana
qual a confiança de um no outro é consequência. Implica respeito mútuo que o autoritarismo
não permite que se constitua. O pensamento crítico de um, não anula o processo de
construção do pensamento crítico do outro e os conflitos são explicitados e não silenciados.
Não nivela, não reduz um ao outro, não é bate-papo ou conversa desinteressada; a palavra traz
a riqueza da história de vida de cada um e seu posicionamento, avaliação e coerência entre o
pensar e o agir frente à realidade.
Trata-se de perspectiva crítica de construção do conhecimento, de novos saberes, que
parte da escuta do outro e da valorização dos seus saberes e iniciativas, contrapondo-se à
prática prescritiva. O diálogo não torna as pessoas iguais, mas possibilita nos reconhecermos
diversos e crescermos um com o outro; pressupõe o reconhecimento da multiculturalidade e
amplia nossa capacidade de perceber, potencializar e conviver na diversidade.

 Amorosidade

A valorização da amorosidade significa a ampliação do diálogo nas relações de


cuidado e na ação educativa pela incorporação das trocas emocionais e da sensibilidade,
propiciando ir além do diálogo baseado apenas em conhecimentos e argumentações
logicamente organizadas. Permite que o afeto torne-se elemento estruturante da busca pela
saúde. No vínculo afetivo criado na relação educativa em saúde surge uma emoção que
influencia simultaneamente a consciência e o agir das pessoas envolvidas, ampliando o
compromisso, a compreensão mútua e a solidariedade, não apenas pela elaboração racional.
A amorosidade aciona um processo subjetivo de elaboração, não totalmente consciente, que
traz importantes percepções, motivações e intuições sobre a realidade para o processo de
produção da saúde.
Por meio do vínculo afetivo, se fortalece o reconhecimento e o acolhimento do outro
enquanto sujeito portador de direitos e construtor de saberes, cultura e história. Ensejando um
clima de confiança e acolhimento entre as pessoas, possibilita a explicitação de dimensões
ainda pouco elaboradas ou que são consideradas socialmente inadequadas, mas importantes
para a estruturação dialogada de práticas de cuidado que incorporam aspectos mais sutis da
realidade subjetiva e material da população. A amorosidade é, portanto, uma dimensão
importante na superação de práticas desumanizantes e na criação de novos sentidos e novas
motivações para o trabalho em saúde.
O afeto e a humildade, constituintes da amorosidade, diferenciam-se das situações de
submissão presentes nas relações de dependência emocional, não podendo ser confundidos
com sentimentalismo ou infantilização das relações de cuidado. Ao contrário, fortalece o
compromisso com a superação de situações de sofrimento e injustiça. Enquanto referência
para a ação política, pedagógica e de cuidado, a amorosidade amplia o respeito à autonomia
de pessoas e de grupos sociais em situação de iniquidade, por criar laços de ternura,
acolhimento e compromisso que antecedem às explicações e argumentações. Assim, traz um
novo significado ao cuidado em saúde, fortalecendo processos inovadores já em construção
no SUS como a humanização, o acolhimento, a participação social e o enfrentamento das
iniquidades em saúde.

 Problematização

A problematização implica a existência de relações dialógicas. Enquanto um dos


princípios da PNEP-SUS propõe a construção de práticas em saúde alicerçadas na leitura e na
análise crítica da realidade. A experiência prévia dos sujeitos é reconhecida e contribui para a
identificação das situações limite presentes no cotidiano e das potencialidades para
transformá-las por meio de ações.
Problematizar é discutir os problemas surgidos nas vivências com todas as suas
contradições. O sujeito, por sua vez, também se transforma na ação de problematizar e passa a
detectar novos problemas na sua realidade. Nesse sentido, a problematização emerge como
momento pedagógico, como práxis social, como manifestação de um mundo refletido com o
conjunto dos atores, possibilitando a formulação de conhecimentos com base na vivência de
experiências significativas. Contudo, não apenas identifica problemas, mas sim, no processo
de superação das situações limite vivenciadas pelos sujeitos, são resgatadas potencialidades e
capacidades para intervir.
A ampliação do olhar sobre a realidade com base na ação-reflexão-ação e o
desenvolvimento de uma consciência crítica que surge da problematização permite que
homens e mulheres se percebam sujeitos históricos, configurando-se em um processo
humanizador, conscientizador e de protagonismo na “busca do ser mais”.

 Construção compartilhada do conhecimento

Conhecer é um processo histórico e cultural socialmente construído. Construção


compartilhada do conhecimento consiste em processos comunicacionais e pedagógicos entre
pessoas e grupos de saberes, culturas e inserções sociais diferentes, na perspectiva de
compreender e transformar de modo coletivo as ações de saúde desde suas dimensões
teóricas, políticas e práticas.
O processo de conhecimento incorpora sonhos, esperanças e visões críticas e os
direciona para produção de propostas de enfrentamento e superação dos obstáculos
historicamente constituídos em situações limites para a vida cotidiana de forma a desenvolver
novas práticas, procedimentos e horizontes.
Como resultado do diálogo, envolve a construção de práticas e conhecimentos de
forma participativa, protagonista e criativa para a conquista da saúde, considerando a
integração e a articulação entre saberes, práticas, vivências e espaços, no sentido de promover
o cuidado e a construção dialógica, emancipadora, participativa, criativa nos processos
educativos, de gestão e cuidado em saúde.
O compartilhamento de um grupo ou coletivo na produção de idéias, intenções, planos
e projetos na esfera da teoria, da técnica ou da sabedoria prática tem como base a prática do
diálogo que acontece no encontro com formas diferentes de compreender os diversos modos
de andar a vida, nas rodas de conversa com os coletivos sociais, na complementaridade entre
as tecnologias científicas e populares e nos amplos sentidos que a saúde apresenta.
A construção compartilhada como recurso para compreender e transformar as ações
de saúde desde suas dimensões epistemológicas, teóricas, conceituais, políticas e práticas, tem
como ponto de partida o conhecimento e as exigências normativas que são produzidas e
acumuladas pela vivência subjetiva de cada um, tornando-se evidentes no encontro entre os
sujeitos diversos.

 Emancipação:

É um processo coletivo e compartilhado no qual pessoas e grupos conquistam a


superação e a libertação de todas as formas de opressão, exploração, discriminação e violência
ainda vigentes na sociedade e que produzem a desumanização e a determinação social do
adoecimento.
Fortalece o sentido da coletividade na perspectiva de uma sociedade justa e
democrática na qual as pessoas e grupos, sejam protagonistas por meio da reflexão, do
diálogo, da expressão da amorosidade, da criatividade e da autonomia, afirmando que a
libertação somente acontece na relação com outro.
Ter a emancipação como referencial no fazer cotidiano da saúde, pressupõe a
construção de processos de trabalho nos quais os diversos atores possam se constituir sujeitos
do processo de saúde e de doença, contrapondo-se às atitudes autoritárias e prescritivas e
radicalizando o conceito da participação nos espaços de construção das políticas da saúde em
busca do inédito viável.

 Compromisso com a Construção do Projeto Democrático e Popular

A PNEP-SUS reafirma o compromisso de construção de uma sociedade justa,


solidária, democrática, igualitária, soberana e culturalmente diversa que somente será
construída por meio da contribuição das lutas sociais e da garantia do direito universal à saúde
no Brasil, tendo como protagonistas os sujeitos populares, seus grupos e movimentos, que
historicamente foram silenciados e marginalizados.
A construção desse projeto democrático e popular pressupõe a superação da distância
entre o país que temos e o que queremos construir. Requer superar as diversas formas de
exploração, alienação, opressão, discriminação e violência ainda presentes na sociedade que
desumanizam as relações, produzem adoecimento e injustiças, visando à transformação da
realidade, com vistas à emancipação.
O projeto democrático e popular promotor de vida e de saúde caracteriza-se por
princípios como a valorização do ser humano em sua integralidade, a soberania e
autodeterminação dos povos, o respeito à diversidade étnico-cultural, de gênero, sexual,
religiosa e geracional; a preservação da biodiversidade; o protagonismo, a organização e o
poder popular; a democracia participativa; organização solidária da economia e da sociedade;
acesso e garantia universal aos direitos, reafirmando o SUS como parte constitutiva desse
projeto.

4 EIXOS ESTRATÉGICOS
A análise da sociedade atual na qual se inscreve o Sistema Único de Saúde, marcada
por valores individualistas e mercantilistas, aponta a necessidade de fortalecimento do
Sistema de acordo com o ideário do Movimento da Reforma Sanitária, ou seja: como projeto
coletivo que compõe um dos pilares para a conquista de uma sociedade justa e democrática.
Embora nos últimos anos diversos esforços tenham sido realizados por meio de
políticas públicas de saúde marcadas pela valorização de princípios como equidade,
participação e humanização, a mudança do modelo de atenção em saúde ainda é um desafio.
As ações de saúde ainda são marcadas pela busca obsessiva da cura das doenças, consistindo
em uma perspectiva de cuidado que preserva a racionalidade biomédica, identificando as
pessoas como “meros pacientes” portadores de patologias, em detrimento de uma concepção
ampliada do cuidado e negando seu papel enquanto sujeito de saberes, vivências, direitos e
detentores de poder de decisão.
Situações como essas expressam a necessidade de reorientação nas formas de cuidado
e promoção da saúde, assim como de descentralização e democratização da gestão, da
participação e controle social, da formação, da comunicação, da produção de conhecimento e
da intersetorialidade das políticas públicas.
Diante das contribuições da Educação Popular em Saúde à superação dos desafios
apresentados na atual conjuntura do Sistema Único de Saúde apresentam-se como Eixos
Estratégicos para implementação da PNEP-SUS:

 Participação, Controle Social e Gestão Participativa

A Educação Popular em Saúde enfatiza a necessidade de criar espaços de reflexão,


aprendizado e criatividade capazes de promover condições para o fortalecimento da
consciência crítica e organizativa, criação e ampliação de diálogos, troca de experiências e
saberes, possibilitando leituras sobre a vida que apreendam a realidade social como
determinante do processo saúde-doença.
Nesse sentido, apresenta metodologias e tecnologias que colaboram com a ampliação
da participação popular e do controle social na perspectiva da gestão participativa no SUS,
tanto no que diz respeito ao reconhecimento e defesa do direito à saúde, quanto ao
compartilhamento do poder institucional em todos os níveis do Sistema. Apresenta princípios
éticos significativos para o desenvolvimento das práticas de cuidado e da gestão em saúde.
Pretende-se fomentar, fortalecer e ampliar o protagonismo popular, por meio do
desenvolvimento de ações que envolvam a mobilização pelo direito à saúde e a qualificação
da participação nos processos de formulação, implementação, gestão e controle social das
políticas públicas.

 Formação, Comunicação e Produção de Conhecimento

O eixo Formação, Comunicação e Produção de Conhecimento compreende a


ressignificação e a criação de práticas que oportunizem a formação de trabalhadores e atores
sociais em saúde na perspectiva da educação popular, a produção de novos conhecimentos e a
sistematização de saberes com diferentes perspectivas teóricas e metodológicas, produzindo
ações comunicativas, conhecimentos e estratégias para o enfrentamento dos desafios ainda
presentes no SUS.
Destacam-se entre as estratégias as ações de formação, produção de materiais didático-
pedagógicos no âmbito acadêmico, dos movimentos populares e no cotidiano dos serviços;
ênfase na aprendizagem significativa de novos conhecimentose na educação permanente dos
atores sociais envolvidos no SUS; e no diálogo para as trocas e integração de saberes.
A Política Nacional de Educação Popular em Saúde visa o fortalecimento da
produção, sistematização e socialização de conhecimentos; qualificação de informações para
o enfrentamento participativo dos determinantes sociais da saúde, construção e
compartilhamento de tecnologias de comunicação pautadas pelo respeito à sabedoria popular
e pela valorização da diversidade cultural. Nessa perspectiva fomenta-se o protagonismo de
comunicadores populares no SUS, fortalecendo a temática da saúde nas diversas linguagens e
formas de comunicação.
 Cuidado em saúde

A Educação Popular em Saúde compreende o cuidado em saúde numa perspectiva


integral do ser humano, sendo a religiosidade, ancestralidade e cultura construídas na relação
com a natureza e seu contexto social, entendidos como elementos fundantes. Aponta a
construção de horizontes éticos para o cuidado em saúde não apenas como ação sanitária, mas
social, política, cultural, individual e coletiva, inserida na perspectiva da produção social da
saúde, na qual se integram a diversidade de saberes e práticas de cuidado permeadas pela
amorosidade, pelo diálogo, pela escuta, pela solidariedade e pela autonomia.
A fim de fomentar a compreensão ampliada do cuidado em saúde a PNEP-SUS
reforça o reconhecimento e a convivência dos modos populares de pensar, fazer e gerir a
saúde, promovendo o encontro e o diálogo desses com os serviços e ações de saúde.
Fortalecer as práticas populares de cuidado implica apoiar sua sustentabilidade,
sistematização, visibilidade e comunicação, no intuito de socializar tecnologias e perspectivas
integrativas, bem como, de aprimorar sua articulação com o SUS.

 Intersetorialidade e diálogos multiculturais

Considerando o conceito ampliado de Saúde e a importância do enfrentamento aos


determinantes sociais de saúde, a PNEP-SUS ao referenciar a Educação Popular em Saúde
promove o encontro e a visibilidade dos diferentes setores e atores em sua diversidade,
visando o fortalecimento de políticas e ações integrais e integralizadoras.
Nesse contexto, os territórios locais são ambientes estratégicos nos quais se faz
necessária a identificação, o reconhecimento e a articulação entre os dispositivos e forças
sociais existentes, conectando as necessidades e desejos da população às respostas
institucionais.
O desafio posto está na possibilidade da construção dialogada e compartilhada dessas
repostas, na articulação e mobilização social nos diferentes níveis (local, regional, nacional e
internacional) e na perspectiva de fortalecer o referencial da Educação Popular nas políticas
públicas.

5 OBJETIVOS

5.1 Objetivo Geral

Implementar a Educação Popular em Saúde no âmbito do SUS, contribuindo com a


participação popular, com a gestão participativa, com o controle social, o cuidado, a formação
e as práticas educativas em saúde.

5.2 Objetivos Específicos

1. Promover o diálogo e a troca entre práticas e saberes populares e técnico-científicos no


âmbito do SUS, aproximando os sujeitos da gestão, dos serviços de saúde, dos
movimentos sociais populares, das práticas populares do cuidado em saude e das
instituições formadoras;
2. Fortalecer a gestão participativa nos espaços do SUS;

3. Reconhecer e valorizar as culturas populares, especialmente as várias expressões da


arte, como componentes essenciais das práticas do cuidado em saúde, gestão,
formação dos trabalhadores em saúde, controle social e práticas educativas em saúde;

4. Fortalecer os movimentos sociais populares, os coletivos de articulação social e as


redes solidárias de cuidado e promoção da saúde na perspectiva da mobilização
popular em defesa do direito universal à saúde;

5. Incentivar o protagonismo popular para responsabilização e auto cuidado diante dos


determinantes e condicionantes em saúde;

6. Apoiar a sistematização, a produção de conhecimentos e o compartilhamento das


experiências originárias do saber, da cultura e das tradições populares que atuam na
dimensão do cuidado, da formação e da participação popular em saúde;

7. Contribuir com a implementação de estratégias e ações de comunicação e de


informação em saúde identificadas com a realidade, linguagens e culturas populares.

8. Contribuir para o desenvolvimento de ações intersetoriais nas políticas públicas


referenciadas na Educação Popular em Saúde;

9. Apoiar ações de Educação Popular na Atenção Primária em Saúde, fortalecendo a


gestão compartilhada entre trabalhadores e comunidades, tendo os territórios de saúde
como espaços de formulação de políticas públicas

10. Contribuir com a educação permanente dos trabalhadores, gestores, conselheiros e


atores dos movimentos sociais populares, incorporando aos seus processos os
princípios e as práticas da educação popular em saúde;

11. Assegurar a participação popular no planejamento, acompanhamento, monitoramento


e avaliação das ações e estratégias para a implementação da PNEPS-SUS.

6 RESPONSABILIDADES E ATRIBUIÇÕES RELACIONADAS À


GESTÃO DO SUS

6.1 Ministério da Saúde e Órgão Vinculados

 Implementar as ações da PNEP-SUS incorporando-as nos Planos Plurianual e


Nacional de Saúde;
 Estabelecer estratégias e ações de planejamento, monitoramento e avaliação da
PNEP-SUS construídas no âmbito do CNEPS;
 Garantir financiamento de forma integral da PNEP-SUS de forma integral;
 Promover a articulação intrasetorial permanente para a implementação da PNEP-SUS;
 Promover a intersetorialidade entre as políticas públicas que apresentam interface com
a PNEP-SUS.
 Apoiar tecnicamente as Secretarias Estaduais de Saúde na implementação da PNEP-
SUS;
6.2 Secretarias Estaduais de Saúde

 Garantir a inclusão dessa Política em seu Plano de Saúde e no Plano Plurianual (PPA);
 Estabelecer estratégias e ações de planejamento, monitoramento e avaliação da PNEP-
SUS construídas de forma participativa com atores da sociedade civil implicados com
a Educação Popular em Saúde;
 Apoiar tecnicamente as Secretarias Municipais de Saúde (SMS) implementação da
PNEP-SUS;
 Participar do financiamento tripartite para a implantação da PNEP-SUS;
 Promover a articulação intra-setorial permanente no âmbito estadual para a
implementação da PNEP-SUS;
 Promover a intersetorialidade entre as políticas públicas que apresentam interface com
a PNEP-SUS.

6.3 Secretarias Municipais de Saúde

 Garantir a inclusão dessa política no Plano de Saúde e no PPA, em consonância com


as realidades, demandas e necessidades locais;
 Estabelecer e implementar estratégias e ações de planejamento, monitoramento e
avaliação da PNEP-SUS construídas de forma participativa com atores da sociedade
civil implicados com a Educação Popular em Saúde;
 Implementar o Plano Operativo da PNEP-SUS;
 Participar do financiamento tripartite para a implantação da PNEP-SUS;
 ;
 Promover a articulação intrasetorial permanente no âmbito estadual para a
implementação da PNEP-SUS;
 Promover a intersetorialidade entre as políticas públicas que apresentam interface com
a PNEP-SUS.
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