Docente: Prof. Dr. Rafael Navarro Costa Discente: Gabriel Pires Machado Corrêa Disciplina: História do Brasil IV
RESENHA DO TEXTO “HISTÓRIA E IDEOLOGIA: A PRODUÇÃO
BRASILEIRA SOBRE A GUERRA DO PARAGUAI”
O presente trabalho tem por objetivo analisar o texto História e Ideologia: a
produção brasileira sobre a Guerra do Paraguai do historiador brasileiro Francisco Fernando Monteoliva Doratioto, apresentando os principais tópicos tratados e sua relevância para o debate.
O texto "História e Ideologia: a produção brasileira sobre a Guerra do Paraguai"
de Francisco Fernando Monteoliva Doratioto é uma análise crítica sobre a produção historiográfica brasileira em relação à Guerra do Paraguai. O autor destaca a tendência ideológica presente em muitos trabalhos, que buscavam justificar a participação do Brasil no conflito e apresentar os paraguaios como inimigos, em uma espécie de maniqueísmo, tendo como tirano a figura de Francisco Solano Lopez. Além disso, Doratioto discute a importância de uma abordagem mais objetiva e imparcial na pesquisa histórica, evitando o uso da história como instrumento de propaganda política. O texto é uma importante reflexão sobre a relação entre história e ideologia, e a necessidade de uma análise crítica e rigorosa dos fatos históricos.
Doratioto (2009, p. 2) inicia o texto caracterizando as diversas formas nas quais
a o conflito é intitulado. Apresenta uma reflexão sobre as diferentes denominações utilizadas para se referir à Guerra do Paraguai, destacando sua importância histórica e suas consequências políticas e econômicas para os países envolvidos. O autor ressalta que a designação "Guerra Grande" é a que mais se aproxima da realidade, tendo em vista sua duração e impacto humano e social. No entanto, também são mencionadas outras denominações, como "Guerra do Paraguai" e "Guerra da Tríplice Aliança", que fazem referência a aspectos específicos do conflito. O autor enfatiza ainda que a Guerra do Paraguai é objeto de diversas interpretações e releituras ao longo do tempo, sendo utilizada por diferentes atores políticos e intelectuais para justificar suas posições e interesses.
Ademais, o autor aponta que uma interpretação predominante no Brasil era de
que o Paraguai agrediu o Império brasileiro sem ter motivos diretos para tanto, responsabilizando Francisco Solano López pela agressão. O historiador aborda as diferentes consequências políticas, econômicas e sociais da guerra para o Brasil, incluindo a mobilização de recursos e a acirrada luta pelo poder (DORATIOTO, 2009, p. 3). Em seguida, demonstra a evolução das críticas à atuação do Império do Brasil na Guerra do Paraguai, desde a validade da política do Gabinete Conservador até a condenação da guerra pelos positivistas após a instauração da República. O autor destaca a guerra ideológica travada entre intelectuais adeptos do novo regime republicano e defensores da antiga ordem monárquica. Além disso, há diferentes interpretações sobre a guerra, desde a visão de André Rebouças e Joaquim Nabuco de que a guerra era um instrumento de civilização e liberdade, até a versão que se impôs no Brasil de que Francisco Solano López era responsável pelo início da guerra (DORATIOTO, 2009, p. 3-4).
Os positivistas buscavam defender Francisco Solano López e enaltecer sua
figura como herói/vítima da guerra, enquanto os críticos questionavam a responsabilidade do Paraguai no conflito. A Comissão Benjamin Constant, formada por positivistas, tinha como objetivo devolver os troféus conquistados pelo Império no conflito e obter o perdão da dívida de guerra paraguaia para com o Brasil. Essa entidade também tinha um caráter revisionista, buscando reavaliar a história da guerra e enaltecer a figura de López. No Primeiro Congresso de História, em 1910, foram apresentadas quatro dissertações sobre a Guerra do Paraguai, todas escritas por militares afastados da censura positivista à guerra (DORATIOTO, 2009, P. 5). Importante destacar a visão consolidada partir das obras de Baptista Pereira e Augusto Tasso Fragoso. Essa interpretação opõe a Civilização, representada pelos Aliados, à Barbárie, representada pelo Paraguai de López. Tasso Fragoso, embora fosse um general, buscou contextualizar as origens do conflito e avaliar as críticas feitas às decisões dos comandantes dos exércitos em luta. A erudição e qualidade da análise de Tasso Fragoso fizeram com que seu trabalho persistisse como “a última palavra” sobre a Guerra do Paraguai. Após 1964, o tema Guerra do Paraguai foi praticamente monopólio de militares interessados em História, que produziram trabalhos pontuais sobre batalhas e aspectos organizacionais, enquanto historiadores civis interessados em temas militares voltaram sua atenção para a participação militar brasileira na II Guerra Mundial (DORATIOTO, 2009, p. 6-7).
Doratioto (2009, p. 7-8), em seguida, realiza uma crítica à corrente
historiográfica revisionista brasileira que defende a ideia de que a Guerra do Paraguai foi resultado da ação do imperialismo britânico. Em contraposição, a Interpretação Sistêmica Regional propõe uma análise crítica e imparcial dos personagens envolvidos no conflito, a partir de uma pesquisa sólida em fontes primárias. Destaca-se a importância de trabalhos pioneiros como o de Luiz Alberto Moniz Bandeira, que propôs uma nova perspectiva sobre a atuação do Brasil na bacia do Prata. Além disso, são citados outros autores que desenvolveram estudos semelhantes sobre as origens da guerra e os personagens envolvidos. A crítica à corrente revisionista tem como base a falta de correspondência entre suas ideias e os fatos históricos. Cabe ressaltar, ainda, a Nueva Historiografia ou Interpretação Sistêmica Regional, que teve início em 1985 com a tese de doutorado de Luiz Alberto Moniz Bandeira. Segundo o autor (DORATIOTO, 2009, p. 8), a Nueva Historiografia propõe uma análise crítica e imparcial dos fatos, distanciando-se do revisionismo simplificador. O texto destaca que a produção intelectual carrega valores da época em que foi escrita e do seu autor, mas enfatiza a importância da redemocratização dos países que vivenciaram a Guerra do Paraguai para a superação do revisionismo. Além disso, o trecho apresenta uma lista de obras que seguem a metodologia histórica e realizam uma pesquisa extensa em fontes primárias, sem aprofundar no debate sobre as causas da guerra.
Francisco Doratioto (2009, p. 8-9) conclui o seu artigo apontando para a
importância de uma interpretação histórica livre de influências ideológicas e fundamentada em pesquisas que seguem o método histórico. A Interpretação Sistêmica Regional é considerada mais válida do que a revisionista, que era militante e tinha como objetivo confirmar uma visão do mundo presente e futuro. A sociedade paraguaia da época dos López foi apresentada de forma deturpada pelo revisionismo, que ignorou a ruptura das relações diplomáticas entre o Império brasileiro e a Grã-Bretanha no início da Guerra do Paraguai. A crítica conclui que a interpretação histórica deve ser crítica e imparcial, livre de influências ideológicas e fundamentada em pesquisas que seguem o método histórico, para garantir a validade e a precisão dos fatos históricos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DORATIOTO, Francisco. História e Ideologia: a produção brasileira sobre a Guerra