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O Uso Progressivo Da Força - A Aplicação Da Norma Jurídica Através Da Coerção

Legítima Do Estado Brasileiro. 2019.

FERREIRA, André Da Silva. Bacharel em Direito; Tecnólogo em Gestão Pública /


Especialista em Direito Internacional Humanitário e Direito dos conflitos Armados
pelo Peace Operations Training Institute – ONU.

RESUMO

O presente trabalho apresenta um estudo jurídico sobre os prismas jurídico científico


e empírico sobre o Uso Progressivo da Força pelo Estado como ferramenta legítima,
necessária e exclusiva de aplicação da Norma Jurídica, num panorama onde todas
as possibilidades de resolução através de dinâmicas de comunicação sucumbem,
onde a retórica se mostra ineficaz. Nesse ínterim se faz necessário considerar o
fator humano, ou seja, o Agente Responsável pela Aplicação da Lei que imbuído de
seus deveres de ofício corporifica o Estado e portando devem agir pautado em
protocolos que parametrizem as ações reais nos casos concretos de acordo com a
letra da lei e dos princípios que regem a Administração Pública elencados no “caput”
do art. 37 da CRFB/88. Diante da problemática em tela surge o Objetivo Geral de
proporcionar à institucionalização comportamental do Agente do Estado através de
uma mudança comportamental positiva e necessária em situações onde a Aplicação
da Força como ferramenta de Aplicação da Norma Jurídica se faz imprescindível por
meio de padronização de procedimentos à luz da letra da lei. Em termos gerais
foram utilizadas: Técnica do Referente ou referencial, Técnica do Conceito
Operacional, Técnica da Categoria e Técnica da Pesquisa Bibliográfica, esta última
lança mãos de buscas preferencialmente em livros oriundos de acervo particular e
biblioteca pública, e “Portal Domínio Público” do Governo Federal. Na fase
Investigativa prevaleceu o Método Indutivo, na fase de Tratamento de Dados o
Método Cartesiano, na compilação geral a Base Lógica Indutiva. Os resultados mais
significativos foram a identificação de lacuna procedimental “strictu sensu” na esfera
Penitenciária e a respectiva compilação de um Modelo de Uso Progressivo da Força
para Aplicações em Ambientes Carcerários. As conclusões são de que em todo o
território nacional ainda há muito que se adequar no que tange à pesquisa,
adequação, estudo, treinamento e aplicação dos meios técnicos adequados de
aplicação coercitiva da norma jurídica.
Palavras-chave: Uso Progressivo da Força; Coerção; Norma Jurídica.
O Uso Progressivo Da Força - A Aplicação Da Norma Jurídica Através Da Coerção
Legítima Do Estado Brasileiro. 2019.

FERREIRA, André Da Silva. Bacharel em Direito; Tecnólogo em Gestão Pública /


Especialista em Direito Internacional Humanitário e Direito dos conflitos Armados
pelo Peace Operations Training Institute – ONU.

ABSTRACT

This paper presents a legal study on the scientific and empirical legal prism on the
Progressive Use of Force by the State as a legitimate tool, the norm and the
exclusive application of the Legal Standard, in a panorama where all possibilities of
resolution through communication dynamics, where rhetoric is ineffective. This is
responsible for the application of the Law in which it is inserted from its corporate
departments. The State and transportation are in conformity with the protocols that
parameterize as real actions in the concrete cases according to a letter of the law
and the principles governing the Public Administration listed not "caput" of art. 37 of
the CRFB / 88. Faced with the problematic on the screen the General Objective of
More the creation of a behavioral institutionality of Agent of the State through a
positive behavioral change and the necessity of changes in a application of the force
like tool of Application of the Legal Standard is made indispensable by means of
standardization of travel in light of the letter of the law. In general terms, they are
used: Technique of the referent or reference, Technique of the Operational Concept,
Technique of the Category and Technique of the Bibliographic Research, this last
one launches hands of bus preferentially in books coming from private collection and
public library, and "Portal Public Domain" of the Federal Government. In the
Investigatory phase the Inductive Method prevailed, in the Data Processing or
Cartesian Method phase, in the general compilation the Inductive Logic Base. The
most significant results were the identification of a procedural gap "strictu sensu" in
the penitentiary sphere and a straightforward composition of a Progressive Use
Model of the Force for Applications in Prisons. As conclusions are from all over the
national territory, there is still much to be done with regard to research, adequacy,
study, training and application of adequate technical means of enforcement of the
legal norm.
Keywords: Progressive Use of Force; Coercion; Legal Standard.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Modelo Canadense de Uso Progressivo da Força..................................15


Figura 2 – Modelo Básico de Uso Progressivo da Força..........................................15
Figura 3 – Gráfico de Uso Progressivo da Força para Aplicação em Ambiente
Penitenciário...............................................................................................................16
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CCEAL - Código de Conduta para os Encarregados da Aplicação da Lei


ONU - Organização das Nações Unidas
PBUFAF - Princípios Básicos do Uso da Força e Arma de Fogo
SENASP – Secretaria Nacional de Segurança Pública
UPF – Uso Progressivo da Força
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO......................................................................................................06

1.1 O PROBLEMA.......................................................................................................06

1.2 OBJETIVOS..........................................................................................................07

1.3 METODOLOGIA...................................................................................................07

CAPÍTULO 1 - Fundamentação histórica, conceitual, filosófica e jurídica para


aplicação legítima da Força pelo Estado....................................................................08

CAPÍTULO 2 - Os Agentes Responsáveis pela Aplicação da Lei e o Uso Progressivo


da Força......................................................................................................................10

CAPÍTULO 3 - Os Modelos de Uso Progressivo da Força.........................................13

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................15

REFERÊNCIAS...........................................................................................................17

APÊNDICE..................................................................................................................19

ANEXO........................................................................................................................22
1 INTRODUÇÃO

Vez por outra, um membro da sociedade apresenta um comportamento não


condizente com os parâmetros estabelecidos pelo respectivo pacto social,
traduzidos e previstos em letra de lei e passivos de sanções previamente
cominadas. Nesse ínterim, quando todas as possibilidades de advertência
sucumbem e a retórica se mostra ineficaz, se faz necessário aos agentes
responsáveis pela aplicação da lei, lançar mãos de meios técnicos adequados para
a aplicação da norma jurídica através da coerção.
Muito se discute a respeito de quais seriam esses “meios técnicos
adequados” para a aplicação da força, haja vista, a terminologia força remeter
inevitavelmente à violência, e este é um preconceito perigoso, haja vista ser este um
dos fatores influenciadores de textos legais que visam o controle da violência
através da intervenção restritiva às ações protocolares das instituições e agentes
responsáveis pela Aplicação da Norma Jurídica através da Coerção.
Ademais, insta salientar, que a própria expressão “violência” é mal aplicada
neste caso, sendo a “força” ferramenta indispensável para o Controle Social pleno e
eficaz, legitimadamente direito exclusivo do Estado, sendo assim, rotular “força” tal
qual sinônimo de “violência” é improcedente e perigoso, mesmo diante da
“agressividade” necessária à sua aplicação.
O presente texto pretende desmistificar o tema e demonstrar de maneira
clara e técnica os referidos parâmetros e protocolos de uso legítimo da força nas
ações do Estado nas diversas possibilidades de aplicação da norma jurídica.

1.1 O PROBLEMA
Dirimidas as ‘questões semânticas’, o problema maior estava em definir
padrões aceitáveis de aplicação da força por parte do Estado aos olhos da
sociedade como um todo, bem como, das instituições responsáveis pela fiscalização
das ações estatais e da letra da lei, uma vez que a aplicação da força esbarra
diretamente nos princípios de Liberdade e Dignidade da Pessoa Humana.
Além da definição de parâmetros e protocolos adequados e aceitáveis de
aplicação da força, observa-se que os próprios agentes responsáveis pela aplicação
da lei, são em grande maioria desconhecedores desses referidos conceitos e
parâmetros, uma vez que as respectivas academias e escolas de formação não
priorizam o tema como matéria indispensável e imprescindível para fundamentar as
ações protocolares no campo prático, dessa forma, apresenta-se uma gigantesca
dicotomia entre as ações práticas protocolares de uma força estatal para outra.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 OBJETIVO GERAL OU PRIMÁRIO - Definir e demonstrar parâmetros e


protocolos de uso da força do estado como ferramenta justa e necessária
para aplicação da norma jurídica à luz da letra da lei.

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS OU SECUNDÁRIOS - O presente projeto visa


compreender e demonstrar o papel do estado e seus agentes na aplicação da
norma jurídica através da coerção, bem como identificar os territórios de
abrangência da coerção diante da letra da lei, princípios, conceitos,
parâmetros e protocolos de maneira seccionada conforme segue:
 A fundamentação histórica, conceitual, filosófica e jurídica para a aplicação
legítima da força pelo Estado;
 Os Agentes Responsáveis pela Aplicação da Lei e o Uso Progressivo da Força;
 Os Modelos de Uso Progressivo da Força;

1.3 METODOLOGIA
A Metodologia se baseou preferencialmente em Pesquisa Bibliográfica e
Revisão Narrativa/Textual dos autores e doutrinadores consagrados. Na fase
Investigativa prevaleceu o Método Indutivo, na fase de Tratamento de Dados foi
aplicado o Método Cartesiano, por fim, na compilação geral foi aplicada Base Lógica
Indutiva.
Uma vez que o assunto é amplo no que tange às diversas áreas das Ciências
Jurídicas e Sociais, o período das publicações pesquisadas variou em séculos,
entretanto, no que diz respeito a artigos, serão preferencialmente revisados os
trabalhos publicados nos últimos vinte anos.
Em termos gerais foram utilizadas: Técnica do Referente ou referencial,
Técnica do Conceito Operacional, Técnica da Categoria e Técnica da Pesquisa
Bibliográfica, esta última lança mãos de buscas preferencialmente em livros oriundos
de acervo particular e biblioteca pública, e “Portal Domínio Público” do Governo
Federal. Os parâmetros de busca variaram de acordo com as possibilidades e
necessidades do período de confecção do trabalho em tela.

2 A FUNDAMENTAÇÃO HISTÓRICA, CONCEITUAL, FILOSÓFICA E JURÍDICA


PARA A APLICAÇÃO LEGÍTIMA DA FORÇA PELO ESTADO.

A Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988 em seu artigo 1º


apresenta o estado democrático de direito como instrumento de efetivação e
manutenção da cidadania, onde os membros operam a partir de um conjunto de
normas jurídicas que expressam os valores morais, culturais, políticos e religiosos
da sociedade.

A característica predominante deste modelo de estado é a defesa do bem-


estar coletivo com a primazia da lei e a observância da legalidade, bem como, o
reconhecimento e garantia de direitos fundamentais que são pertinentes a todos os
seres humanos, sem qualquer distinção.

Desde os primórdios da criação do estado, em razão de um pacto social


natural, necessário e subjetivo, quando os homens decidiram viver em comunhão,
ou seja, em sociedade, os limites deste referido pacto passaram a ser estabelecidos
de acordo com a necessidade e realidade desta nova forma de viver em
comunidade, sob a égide da letra da lei. (ROUSSEAU, 2014).

Lei esta que nasceria a princípio dos conceitos de moral e ética que
emanavam da religião e do próprio convívio social com a finalidade principal de criar
parâmetros aceitáveis de comportamento coletivo em busca da plenitude da paz
social.

Os respectivos parâmetros legais por sua vez demandavam a fiscalização de


um ente autônomo, maior e munido de autoridade para fiscalizar e punir àqueles
indivíduos, membros da sociedade, que viessem a desobservar ou transgredir as
regras emanadas da letra da lei, uma vez serem estas regras, imprescindíveis para
promover a padronização comportamental da sociedade e sua respectiva
preservação e manutenção através dessa ferramenta de controle social, a lei.

O Estado é de fato uma entidade com poder soberano de governo sobre uma
determinada sociedade ou povo em um delimitado território sob sua égide,
organizado política, social e juridicamente com a responsabilidade maior de
organização e controle social, pois detém, segundo Weber (2003), o monopólio da
violência legítima, a coerção, especialmente a legal.

O Estado passa a ser visualizado como uma autoridade que domina e tutela o
direito dos homens, coagindo-os a praticar um determinado conjunto de
comportamentos socialmente aceitáveis, modelo este, diametralmente oposto ao
estado de natureza contratualista, onde os homens faziam o que queriam de acordo
com suas próprias necessidades sem vislumbrar os efeitos de suas ações arbitrárias
no plano coletivo. 

Segundo Trotsky (1918 apud WEBER 2003, p.1), “todo estado se fundamenta
na força”, ou seja, onde não há a força do estado prevalece a anarquia. Evidente
que a comunidade científica se divide em relação a afirmação de Trotsky, bem como
a declaração de weber quanto ao monopólio da violência.

Nesse ínterim, Hobbes (2014) escreveu “os pactos sem a espada são apenas
palavras e não tem a força para defender ninguém” em sua obra prima, Leviatã,
onde defende um Estado com um governo forte, que impeça a anarquia.

A tradução literal da célebre frase “gewaltmonopol des states” parece ser um


tanto tendenciosa, uma vez que a palavra alemã “gewalt” pode ser traduzida
também como "força" ou "coerção", enfim, constrangimento físico legítimo, em um
determinado território, para aplicação da norma jurídica.

Fato é que por se tratar de um estado de direito, o conjunto de normas


jurídicas que expressam os valores morais, culturais, políticos e religiosos da
sociedade é organizado em um ordenamento jurídico.

Especificamente no que tange as regras de conduta, Bobbio (1999) apresenta


três modalidades normativas que afirmam o posicionamento do direito na estrutura
do estado, presentes no ordenamento jurídico, que são: do obrigatório; do proibido;
e do permitido.

Bobbio (1999), em sua obra teoria do ordenamento jurídico, defende que não
há que se falar em ordenamento jurídico sem o exercício da força, e reconhece que
ela é indispensável para a aplicação da norma jurídica, e ressalta:
“as regras para o exercício da força são,
num ordenamento jurídico, aquela parte de regras que serve
para organizar a sanção e, portanto, para tornar mais eficazes
as normas de conduta e o próprio ordenamento em sua
totalidade. o objetivo de todo legislador não é organizar a
força, mas organizar a sociedade mediante a força.”

Nesse sentido, Goyard-Fabre (2002) em sua obra “Os Princípios Filosóficos


Do Direito Político Moderno”, ressalta que governar não consiste simplesmente em
reduzir as relações de poder a relações de força, entretanto, exige um sistema de
representações e mecanismos para alcançar os fins do estado, o que pressupõe
uma ordem de coerção normativa, legítima e eficaz vinculada ao ordenamento
jurídico.

Nesse momento é que se faz necessário debruçar com maior afinco na


questão, uma vez que o estado é mera criação intangível e depende de seus
agentes para corporificá-lo e fazer cumprir dessa forma suas determinações, ou
seja, os Agentes Responsáveis pela Aplicação Da Lei.

A aplicação do estudo em tela na formação e aperfeiçoamento dos referidos


Agentes Responsáveis Pela Aplicação Da Lei proporcionam ainda uma mudança
comportamental importante diante das ações onde o uso da força é imprescindível,
uma vez que, promove o escalonamento ou a progressão lógica, técnica e
responsável de forma a preservar as integridades, física, moral e psíquica da pessoa
humana sujeita a referida coerção física legítima, justa e necessária.

3. OS AGENTES RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI E O USO


PROGRESSIVO DA FORÇA.

Conforme abordado no capítulo anterior, o Estado intangível em sua essência


necessita de seus agentes para corporificá-lo em suas ações de aplicação da letra
da lei, e nesse ínterim, de acordo com Meirelles (2005) "o atributo da coercibilidade
do ato de polícia justifica o emprego da força física".
Segundo Pinto e Valério (2002), com o objetivo de preservar os direitos
humanos na esfera da coerção legítima do Estado, foi criada através da resolução
34/169 da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1979, o Código de Conduta
para Encarregados da Aplicação da Lei – CCEAL, no intuito de parametrizar e
orientar a conduta dos agentes que corporificam o Estado na aplicação coercitiva
das Normas Jurídicas.

No que tange especificamente à aplicação da coerção desempenhada pelo


agente público, o artigo terceiro do Código De Conduta Para Encarregados Da
Aplicação Da Lei da Organização Das Nações Unidas (1979), traz à luz o conceito
de Uso Progressivo Da Força quando trata da aplicação gradual dessa força por
seus agentes:

“Os funcionários responsáveis pela aplicação da


lei só podem empregar a força quando estritamente necessária e na
medida exigida para o cumprimento do seu dever”.

“O emprego da força por parte dos funcionários


responsáveis pela aplicação da lei deve ser excepcional. Embora se
admita que estes funcionários, de acordo com as circunstâncias,
possam empregar uma força razoável, de nenhuma maneira ela
poderá ser utilizada de forma desproporcional ao legítimo objetivo a
ser atingido. O emprego de armas de fogo é considerado uma medida
extrema; devem-se fazer todos os esforços no sentido de restringir
seu uso, especialmente contra crianças. Em geral, armas de fogo só
deveriam ser utilizadas quando um suspeito oferece resistência
armada ou, de algum outro modo, põe em risco vidas alheias e
medidas menos drásticas são insuficientes para dominá-lo. Toda vez
que uma arma de fogo for disparada, deve-se fazer imediatamente
um relatório às autoridades competentes.”
Cunha (2004), referindo-se ao Código de Conduta para Encarregados da
Aplicação da Lei, ONU (1979), diz que "esse código visa regulamentar o uso da
força pela polícia e estabelecer parâmetros e limites efetivos para a ação policial".
Cunha (2004) afirma ainda:

“A intenção do Código é estabelecer normas que


evitem o uso da força excessiva e atenuem o potencial de
abuso presente no desempenho da atividade policial, dever de
equipar e treinar os policiais no uso de armas não letais e
munições especiais, de forma a garantir que o uso da força
letal só se dará após esgotados todos os demais recursos.
Existe, ainda, a previsão expressa de acompanhamento
psicológico para os policiais envolvidos em situações em que
tenham sido utilizadas a força e as armas de fogo.”

Em 1990 ocorre o Oitavo Congresso das Nações Unidas para a Prevenção


do Crime e o Tratamento dos Delinquentes realizado em Havana, Cuba, de 27 de
Agosto a 7 de Setembro de 1990, com o objetivo principal de implementar e garantir
a implementação do Código de Conduta para Encarregados da Aplicação da Lei –
CCEAL. Nesse Congresso foi apresentada a Resolução 45/166, embasada no
referido código com o tema: "Princípios Básicos para o Uso da Força e das Armas
de Fogo pelos Policiais" – PBUFAF. O texto legal que passou a incorporar nosso
Ordenamento Jurídico, responsabiliza diretamente os governos a punir, de acordo
com a letra da lei, o uso arbitrário da arma de fogo como delito criminal, enfatizando
que o uso da arma de fogo deveria ser aplicado com “Ultima Ratio”, ou seja, como
uma "medida extrema".

Na apostila Uso Legal da Força, confeccionada pelo Ministério da Justiça


(2006), ocorre a seguinte reflexão:

“Ao fazer o uso da força o policial deve ter o conhecimento


da lei, deve estar preparado tecnicamente, através da formação
e do treinamento, bem como ter princípios éticos solidificados
que possam nortear sua atuação. Ao ultrapassar qualquer
desses limites não se esqueça de que você estará igualando-
se às ações de criminosos. Você deixa de fazer o uso legítimo
da força para usar a força e se tornar um criminoso”.

A regra básica número cinco do Código de Conduta para os Funcionários


Responsáveis pela Aplicação da Lei - CCEAL, se refere ao emprego da força,
principalmente ao uso da força letal: "Não se deve usar a força com consequências
letais, a não ser que seja estritamente necessária para proteger a sua própria vida
ou a vida de outros". O CCEAL, em seu artigo terceiro afirma ainda que: "Os
funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a força quando
tal se afigure estritamente necessário e na medida exigida para o cumprimento do
seu dever".
Nesse ínterim, admite-se o uso da força, no entanto coloca-o como exceção,
autoriza somente respeitando-se o princípio da proporcionalidade uma vez que a
aplicação de arma de fogo é “ultima ratio”, se faz necessário aplicar um modelo de
progressão gradual de aplicação de força legítima e necessária que apresente
possibilidades menos que letais que abranjam todas as possibilidades de menor
potencial ofensivo às integridades física, moral e psíquica.

4. OS MODELOS DE USO PROGRESSIVO DA FORÇA.

No Capítulo “Habilitação, formação e aconselhamento” do Código de


Conduta dos Encarregados da Aplicação da Lei, - ONU 1979, no artigo 20, o
legislador frisou a importância da inserção destes conceitos e princípios na formação
dos agentes do Estado encarregados da aplicação da lei:

“Na formação dos policiais, os Governos e os


organismos de aplicação da lei devem conceder uma atenção
particular às questões de ética policial e de direitos do homem,
em particular no âmbito da investigação, às alternativas para o
uso da força ou de armas de fogo, incluindo a resolução
pacífica de conflitos, ao conhecimento do comportamento de
multidões e aos métodos de persuasão, de negociação e
mediação, bem como aos meios técnicos, visando limitar a
utilização da força ou de armas de fogo. Os organismos de
aplicação da lei deveriam rever o seu programa de formação e
procedimentos operacionais à luz de casos concretos.”.

Por força dessa letra de lei e dos novos conceitos inseridos no arcabouço
jurídico brasileiro em relação ao uso legítimo e necessário da força do Estado surge
a necessidade de formação específica dos agentes públicos, municipais, estaduais
ou federais, ou seja, agentes responsáveis pela segurança pública, quando no uso
da força sobre os cidadãos, livres ou tutelados do Estado. A partir do surgimento
dessa necessidade específica de formação, as escolas e academias de formação
dos agentes responsáveis pela aplicação da lei passaram a embasar suas doutrinas
nos diversos modelos de uso progressivo da força aplicados no mundo.
De acordo com a Apostila Uso Legal da Força do Ministério da Justiça
(2006), "força é a intervenção ‘compulsória’ sobre alguém ou sobre algumas
pessoas a fim de reduzir ou eliminar sua capacidade de autodecisão". A apostila
afirma ainda que “objetivando delimitar estas graduações do uso da força para
orientar, a partir das reações de pessoas flagradas cometendo um delito ou mesmo
em atitudes suspeitas, foram criados modelos de uso progressivo da força.”
Geralmente os modelos criados recebem o nome daqueles que o criaram.

O Ministério da Justiça (2006), lista alguns destes modelos, bem como sua
origem:

- Modelo Flect, aplicado pelo Centro de Treinamento da Polícia Federal de


Glynco, na Geórgia, Estados Unidos da América;

- Modelo Gillespie, presente no livro Police – Use of Force – A line officer’s


guide, 1988;

- Modelo Remsberg, presente no livro The Tactical Edge – Surviving High –


Risk Patrol, 1999;

- Modelo Canadense, utilizado pela Polícia Canadense;

- Modelo Nashville, utilizado pela Polícia Metropolitana de Nashville, EUA;

- Modelo Phoenix, utilizado pelo Departamento de Polícia de Phoenix, EUA.

O Ministério da Justiça na apostila Uso Legal da Força (2006), salienta que


três dos modelos apresentados podem ser utilizados pela polícia brasileira, por
possuírem conteúdo completo e reproduzirem a realidade operacional, os quais são:
Canadense, Flect e Gillespie. Entretanto, o Modelo Canadense é considerado o
modelo mais apropriado diante da facilidade de aprendizagem e aplicação, bem
como a riqueza de conteúdo em sua formulação gráfica. A referida apostila traz a
representação gráfica deste modelo, resumidamente adaptada e traduzida.

Figura 1 - Modelo Canadense de Uso Progressivo da Força:


Fonte: Ministério da Justiça. Apostila de Uso Legal da Força, (2006).

A apostila de Uso Legal da Força, fornecida pelo Ministério da Justiça


(2006), analisa diversos tipos de modelos de uso da força, e recomenda o modelo
canadense propondo a adoção de um modelo básico de uso progressivo da força:

Figura 2 - Modelo Básico de Uso Progressivo da Força:

Fonte: Ministério da Justiça. Apostila de Uso legal da Força, (2006).

O modelo proposto pela apostila Uso Legal da Força do Ministério da Justiça


(2006), denominado Modelo Básico, baseado na progressão do modelo Canadense
e representado graficamente em analogia ao modelo Flect, apresenta em seus
níveis de aplicação do uso progressivo da força, três dos cinco níveis apresentados,
diretamente relacionados e embasados em técnicas desenvolvidas com a prática de
artes marciais, minimizando as possibilidades de aplicação de arma de fogo.

Os modelos apresentados, inclusive o recomendado - Modelo Canadense -


e o proposto pelo Ministério da Justiça (2006) - Modelo Básico - destacam a
utilização de técnicas de menor potencial ofensivo antes da utilização da arma de
fogo.
Na esfera da tutela legal de direitos, ou seja, no Cárcere não é diferente,
entretanto, em razão de necessidades específicas em relação à natureza do
ambiente foram desenvolvidas adequações embasadas no modelo proposto pelo
Ministério da Justiça com fins de suprir a específica necessidade conforme segue o
modelo proposto pela Escola de Administração Penitenciária “Dr. Luiz Camargo
Wolfmann” da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo
conforme segue:

Figura 3 - Gráfico de Uso Progressivo da Força para Aplicações em


Ambiente Penitenciário:

Fonte: Secretaria de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo. Apostila


do Curso de Técnicas de Algemação e Condução de Presos, (2015).

O Gráfico acima tem por objetivo traduzir de forma clara e sucinta os


parâmetros estabelecidos pela Norma Jurídica de acordo com a realidade do
Sistema Penitenciário Brasileiro, mais especificamente no que diz respeito ao
Estado de São Paulo. Evidente que existem diversas vertentes possíveis a serem
abordadas entre os momentos da linha do tempo do Gráfico, uma vez que o modelo
em tela é de aplicação genérica e pode sofrer adequações de acordo com as
necessidades reais inerentes ao teatro de operações à luz dos Protocolos de
Atuação e da Letra da Lei.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente Trabalho teve seu escopo pautado em fundamentar o Uso
Progressivo da Força pelo Estado através de seus Agentes Encarregados da
Aplicação da Lei, de forma a servir de elemento norteador para pesquisas e
desenvolvimento de parâmetros de atuação eficientes nas diversas possibilidades
apresentadas pelo caso concreto.
Outro fator motivador do trabalho em tela foi a identificação de lacunas
procedimentais no que tange a padronização para ações de Uso Progressivo da
Força nas diversas instituições que atuam na Segurança Pública e Penitenciária em
todo o território brasileiro. As pesquisas abrangeram as esferas física,
procedimental, interdisciplinar e dinâmica concentradas nos três temas que
sustentam a fundamentação jurídica pretendida que abrangeram a Fundamentação
Histórica, Conceitual, Filosófica e Jurídica para a Aplicação Legítima da Força pelo
Estado; Os Agentes Responsáveis pela Aplicação da Lei e o Uso Progressivo da
Força; e Os Modelos de Uso Progressivo da Força;
As temáticas abordadas foram devidamente fundamentadas nos planos
jurídico cientifico, sintetizadas e organizadas cartesianamente de forma a
proporcionar parâmetros bem definidos de aplicação prática no caso concreto a
partir da mudança comportamental provocada pelo conhecimento técnico jurídico
necessário e imprescindível para formação dos Agentes Responsáveis pela
Aplicação da Lei.

O presente trabalho motivou e serviu de fonte material e formal principal de


projeto inscrito e selecionado nas bancas do Prêmio Mário Covas 2017 - 12ₐ edição
e Prêmio Innovare 2017 - 14ₐ edição, com a intenção de promover a disseminação
das informações aqui inseridas ao maior número de Agentes Responsáveis pela
Aplicação da Lei e seus respectivos gestores, bem como à Administração Pública,
legisladores, juristas e população, cumprindo dessa forma seu objetivo principal.

REFERÊNCIAS
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. 6ª ed. (São Paulo: Revista Dos
Tribunais, 2015).

BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. 10ª ed. (Brasília: editora


Universidade de Brasília, 1999).

BRASIL, Portaria Interministerial Nº 4.226, de 31 de Dezembro de 2010 Estabelece


diretrizes sobre o uso da força pelos agentes de segurança pública. Diário Oficial
da União, Brasília, DF, 03 de janeiro de 2011, Seção 1, pt. 2, p. 27.

CUNHA, Milmir. A Eficácia das Aulas de Defesa Pessoal do Curso de Formação


de Oficiais. Polícia Militar de Minas Gerais. Centro de Ensino de Graduação. Belo
Horizonte, 2004.

FERREIRA. André Da Silva - SAP/SP – Secretaria da Administração Penitenciária


do Estado de São Paulo – Apostila do Curso de Algemação e Condução de
Presos - Escola de Administração Penitenciária do Estado de São Paulo (2015)

GOYARD-FABRE, Simone. Os Princípios Filosóficos Do Direito Político


Moderno. (São Paulo: Martins Fontes, 2002).

HOBBES, Thomas. Leviatã. 2ª ed. (São Paulo: Martin Claret, 2014).

ONU. Organização das Nações Unidas. Código de Conduta para os Funcionários


Responsáveis pela Aplicação da Lei. Assembleia Geral das Nações Unidas,
resolução 34/169, de 17 de Dezembro de 1979. Disponível em:
https://flitparalisante.wordpress.com/2010/06/10/resolucao-onu-n%C2%BA-34169-
de-17121979-codigo-de-conduta-para-os-policiaiscode-of-conduct-for-law-
enforcement-officials-os-policiais-que-tiverem-motivos-para-acreditar-que-se-
produziu-ou-ir/. Acesso em: 28 de setembro de 2017.

ONU. Organização das Nações Unidas. Princípios Básicos sobre o Uso da Força


e Armas de Fogo. Oitavo Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do
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setembro de 1990. Disponível em: http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-
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principios_basicos_arma_fogo_funcionarios_1990.pdf. Acesso em: 28 de setembro
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PINTO, Jorge Alberto Alvorcem; VALÉRIO, Sander Moreira. Defesa Pessoal: Para


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ROUSSEAU, Jean Jacques. Do Contrato Social. 4ª ed. (São Paulo: Revista dos
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WEBER, Max. A Política como Vocação – Politik als Beruf. Tradução de Maurício
Tragtenberg (Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2003).

APÊNDICE
O texto a seguir é de autoria deste autor e foi publicado na revista eletrônica
da International Auxiliary Police Association - News IAPA - Edição IV - Agosto/2014,
como forma de difundir os conceitos essenciais do Uso Progressivo da Força aos
policiais e demais agentes encarregados da aplicação da lei, público alvo da revista
em tela. Saliento que o referido texto está transcrito “ipsis líteris” e, portanto, contém
terminologias de uso específico de conhecimento pleno dos profissionais do meio,
entretanto, inteligíveis num contexto geral e imprescindíveis à fundamentação deste
trabalho.

Uso Progressivo da Força – Uma Abordagem do Tutor Legal de Direitos.

É impossível falar em Segurança sem abordar o tema “Uso da Força”, ademais, é


preciso definir o Uso da Força.

O termo FORÇA remete inevitavelmente à VIOLÊNCIA, entretanto, este é um


preconceito perigoso, haja vista ser este um dos fatores influenciadores de textos
legais que visam o controle da violência. Ademais, insta salientar, que a própria
expressão “VIOLÊNCIA” é mal aplicada neste caso, sendo a FORÇA ferramenta
indispensável para o controle pleno e eficaz, legitimadamente direito exclusivo do
Estado, ou seja, só o Estado possui a legitimidade do USO da FORÇA, sendo
assim, portanto, rotular FORÇA tal qual sinônimo de VIOLÊNCIA é improcedente
mesmo diante da AGRESSIVIDADE necessária à sua aplicação.

Mesmo dirimidas as ‘questões semânticas’, por assim dizer, independente do


conceito gerado pela palavra aplicada, a verdade esta fundamentada na
expressão monopólio da violência e refere-se à definição de Estado exposta por Max
Weber na conferência proferida na Universidade de Munique em 1918, e
publicada 1919 intitulada “A política como vocação”.

Neste ensaio, Weber fundamenta a definição de Estado que se tornou clássica para


o pensamento político ocidental, atribuindo-lhe o monopólio do uso legítimo da força
física dentro de um determinado “território da coerção”. E eis que surge o tema a ser
abordado pelo prisma dos Profissionais de Alto Rendimento, o “Território da
Coerção”.

O Uso da Força principia-se muito antes do controle de contato ou combate corpo a


corpo, o Estado por sua presença impõe naturalmente a coerção emanada da Letra
da Lei da qual é detentor Mor. O Agente representante legal do Estado, imbuído de
suas funções legítimas sob Regime Especial de Trabalho Policial, deve expressar o
Estado através de sua presença, sendo este o primeiro degrau da “Pirâmide do Uso
da Força”, ou, o primeiro “Território de Coerção”.

O Segundo Território de Coerção abrange a Verbalização ou Comunicação Gestual.


Toda e qualquer declaração falada pelo Agente deve estar embasada no texto legal,
sendo este, a única fonte de todo o teor de suas declarações sob a Égide dos
princípios elencados pela sigla “LIMPE” – Legalidade, Impessoalidade, Moralidade,
Publicidade e Eficiência, este último discutível, haja vista ser ÉTICA um ‘E’ mais
urgente que Eficiência, mas sejamos éticos por natureza e eficientes por força da
Lei.

No segundo degrau da Pirâmide encontram-se o Poder de Persuasão, a Dialética, o


Discurso, o Gestual, a Postura, entre outros fatores diversos que influenciam
diretamente os Interlocutores na esfera comportamental. O resultado objetivado é
sempre a solução do conflito sem a necessidade de avançar a outros Territórios de
Coerção. Deve-se estudar nas minúcias as técnicas e apurá-las antes de aplicá-las
“IN-LOCO”, não há melhor academia que o empirismo, entretanto, o mau uso do
discurso pode desencadear o efeito inverso tornando-se fator desestabilizador e
gerador de conflito.

O Terceiro Território de Coerção abrange Técnicas de Controle de Contato e


Imobilização, Combate Corpo a Corpo e Contenção de Movimentos por
Algemamento e outros Meios Ortodoxos Disponíveis. Neste degrau a Aplicação da
Força demanda de meios físicos, com o objetivo de dirimir o ímpeto agressivo do
Indivíduo Desestabilizador. É notório que todo e qualquer combate é passível de
lesões decorrentes, sendo contrassensual por ser o Estado guardião natural do
Direito de todos indistintamente, cidadãos e tutelados, no que tange a integridade
física, moral e psíquica. Exatamente por ser contraponto que este degrau deve ser
evitado e somente acessado depois de esgotadas todas as possibilidades de
negociação.

A partir do terceiro degrau já não existe espaço para amadorismo, somente


especialistas altamente treinados devem atuar nesta esfera. Lançar mãos de
técnicas e ferramentas, sejam quais forem, no intuito de imobilizar outro indivíduo
pode ocasionar lesão permanente e morte. Deve-se observar se as técnicas
treinadas encontram embasamento no texto legal, devem ser reconhecidas e
chanceladas pela respectiva Escola ou Academia e transmitidas em Curso Oficial
através de Docentes Capacitados e Cadastrados. A Especialização por sua vez é
inversamente negativa ao Operador que em hipótese extrema não terá a seu favor
as possibilidades de excludente por serem incabíveis a um Especialista as condutas
de Negligência, Imprudência e Imperícia.

Aos Operadores, o único caminho para a aplicação eficiente de todo e qualquer


protocolo de “USO da FORÇA” é a busca da excelência através de aperfeiçoamento
contínuo, treinamento constante, estudos e pesquisas específicas, laboratório e
aplicação prática. Tarefas árduas que demandam extrema dedicação e disciplina,
aos mais extremos aproxima-se de um sacerdócio, eis a essência das “Operações
Especiais”, mas, este é tema de texto futuro, voltemos ao tema, o “USO
PROGRESSIVO DA FORÇA”.

Neste momento já se pode compreender os fundamentos que levam ao conceito do


tema central, o “USO PROGRESSIVO DA FORÇA”, que assim é por progredir
escalonadamente de forma crescente da PRESENÇA à COMUNICAÇÃO VERBAL
e/ou GESTUAL. Da COMUNICAÇÃO ao CONTROLE DE CONTATO, e dessa forma
segue o próximo degrau.

O Quarto Território de Coerção trata-se da linha limítrofe que separa a Preservação


da Vida da Aplicação de Protocolos Extremos de Neutralização de Ameaça, que são
passíveis de lesão corporal grave e morte. Com a finalidade de evitar o uso de Meio
Letal foram desenvolvidas diversas tecnologias denominadas a princípio como “Não
Letais”, e após evoluções e adequações passaram a ser denominadas
TECNOLOGIAS MENOS QUE LETAIS.

A Aplicação de Técnicas e Tecnologias Menos que Letais abrange ações com


aplicação de munições de contaminação química de ambientes, elastômero e
variantes, explosivos de efeito moral, bastões PR-24 (tonfa), entre outras inúmeras
ferramentas de aplicação com o fim de retomada de ordem.

Aprofundar-se nos pormenores deste tema, bem como discorrer sobre demais
Territórios de Coerção cabe apenas aos Profissionais Agentes de Segurança e
Policiais cujo escopo das funções engloba as tarefas descritas bem como os demais
degraus da Pirâmide. Cabe informar que, mesmo os Territórios de Coerção sobre os
quais discorro em tela são abordados de maneira superficial apenas com o fim de
ilustrar a complexidade intrínseca ao trabalho do Profissional de Alto Rendimento.
Aos demais profissionais e entusiastas deixo a recomendação de que mergulhem no
assunto e surpreendam-se com as infinitas possibilidades técnicas que podem
potencializar as Ações de Segurança através de Estratégias e Diretrizes Lógicas e
acima de tudo À LUZ DA LETRA DA LEI.

FERREIRA. André Da Silva – GIR4 – COREMETRO/SAP-SP. News IAPA – Ed. IV


(2014)

ANEXO
ANEXO 1.

PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 4.226, DE 31 DE DEZEMBRO DE 2010


Estabelece Diretrizes sobre o Uso da Força pelos Agentes de Segurança Pública.
O MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA e o MINISTRO DE ESTADO CHEFE
DA SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA,
no uso das atribuições que lhes conferem os incisos I e II, do parágrafo único, do art.
87, da Constituição Federal e, CONSIDERANDO que a concepção do direito à
segurança pública com cidadania demanda a sedimentação de políticas públicas de
segurança pautadas no respeito aos direitos humanos; CONSIDERANDO o disposto
no Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei,
adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas na sua Resolução 34/169, de 17
de dezembro de 1979, nos Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de
Fogo pelos Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, adotados pelo Oitavo
Congresso das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e o Tratamento dos
Delinquentes, realizado em Havana, Cuba, de 27 de Agosto a 7 de setembro de
1999, nos Princípios orientadores para a Aplicação 
Efetiva do Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela Aplicação
da Lei, adotados pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas na sua
resolução 1989/61, de 24 de maio de 1989 e na Convenção Contra a Tortura e
outros Tratamentos ou penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotado pela
Assembleia Geral das Nações Unidas, em sua XL Sessão, realizada em Nova York
em 10 de dezembro de 1984 promulgada pelo Decreto nº 40, de 15 de fevereiro de
1991; CONSIDERANDO a necessidade de orientação e padronização dos
procedimentos da atuação dos agentes de segurança pública aos princípios
internacionais sobre o uso da força; 
CONSIDERANDO o objetivo de reduzir paulatinamente os índices de
letalidade resultantes de ações envolvendo agentes de segurança pública; e, 
CONSIDERANDO as conclusões do Grupo de Trabalho, criado para elaborar
proposta de Diretrizes sobre Uso da Força, composto por representantes das
Polícias Federais, Estaduais e Guardas Municipais, bem como com representantes
da sociedade civil, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
e do Ministério da Justiça, resolvem: 
Art. 1º Ficam estabelecidas Diretrizes sobre o Uso da Força pelos Agentes de 
Segurança Pública, na forma do Anexo I desta Portaria. Parágrafo único. Aplicam-se
às Diretrizes estabelecidas no Anexo I, as definições constantes no Anexo II desta
Portaria. 
Art. 2º A observância das diretrizes mencionadas no artigo anterior passa a
ser obrigatória pelo Departamento de Polícia Federal, pelo Departamento de
Polícia Rodoviária Federal, pelo Departamento Penitenciário Nacional e pela Força
Nacional de Segurança Pública. 
§ 1º As unidades citadas no caput deste artigo terão 90 dias, contados a partir
da publicação desta portaria, para adequar seus procedimentos operacionais e
seu processo de formação e treinamento às diretrizes supramencionadas. 
§ 2º As unidades citadas no caput deste artigo terão 60 dias, contados a partir
da publicação desta portaria, para fixar a normatização mencionada na diretriz nº 9 e
para criar a comissão mencionada na diretriz Nº 23. 
§ 3º As unidades citadas no caput deste artigo terão 60 dias, contados a partir
da publicação desta portaria, para instituir Comissão responsável por avaliar sua
situação interna em relação às diretrizes não mencionadas nos parágrafos
anteriores e propor medidas para assegurar as adequações necessárias. 
Art. 3º A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e o Ministério
da Justiça estabelecerão mecanismos para estimular e monitorar iniciativas que
visem à implementação de ações para efetivação das diretrizes tratadas nesta
portaria pelos entes federados, respeitada a repartição de competências prevista no
art. 144 da Constituição Federal. 
Art. 4º A Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça levará
em consideração a observância das diretrizes tratadas nesta portaria no repasse
de recursos aos entes federados. 
Art. 5º Esta portaria entra em vigor na data de sua publicação. 
LUIZ PAULO BARRETO 
Ministro de Estado da Justiça 
PAULO DE TARSO VANNUCHI 
Ministro de Estado Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República.
ANEXO 2.

CÓDIGO DE CONDUTA PARA OS FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA


APLICAÇÃO DA LEI

Adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas, no dia 17 de dezembro de


1979, através da Resolução nº 34/169.

Artigo 1º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem sempre cumprir


o dever que a lei lhes impõe, servindo a comunidade e protegendo todas as pessoas
contra atos ilegais, em conformidade com o elevado grau de responsabilidade que a
sua profissão requer. Comentário O termo "funcionários responsáveis pela aplicação
da lei" inclui todos os agentes da lei, quer nomeados, quer eleitos, que exerçam
poderes policiais, especialmente poderes de detenção ou prisão. Nos países onde
os poderes policiais são exercidos por autoridades militares, quer em uniforme, quer
não, ou por forças de segurança do Estado, será entendido que a definição dos
funcionários responsáveis pela aplicação da lei incluirá os funcionários de tais
serviços.

Artigo 2º No cumprimento do dever, os funcionários responsáveis pela aplicação da


lei devem respeitar e proteger a dignidade humana, manter e apoiar os direitos
humanos de todas as pessoas.
Artigo 3º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei só podem empregar a
força quando estritamente necessária e na medida exigida para o cumprimento do
seu dever. Comentário O emprego da força por parte dos funcionários responsáveis
pela aplicação da lei deve ser excepcional. Embora se admita que estes
funcionários, de acordo com as circunstâncias, possam empregar uma força
razoável, de nenhuma maneira ela poderá ser utilizada de forma desproporcional ao
legítimo objetivo a ser atingido. O emprego de armas de fogo é considerado uma
medida extrema; devem-se fazer todos os esforços no sentido de restringir seu uso,
especialmente contra crianças. Em geral, armas de fogo só deveriam ser utilizadas
quando um suspeito oferece resistência armada ou, de algum outro modo, põe em
risco vidas alheias e medidas menos drásticas são insuficientes para dominá-lo.
Toda vez que uma arma de fogo for disparada, deve-se fazer imediatamente um
relatório às autoridades competentes.

Artigo 4º Os assuntos de natureza confidencial em poder dos funcionários


responsáveis pela aplicação da lei devem ser mantidos confidenciais, a não ser que
o cumprimento do dever ou necessidade de justiça estritamente exijam outro
comportamento.

Artigo 5º Nenhum funcionário responsável pela aplicação da lei pode infligir, instigar
ou tolerar qualquer ato de tortura ou qualquer outro tratamento ou pena cruel,
desumano ou degradante, nem nenhum destes funcionários pode invocar ordens
superiores ou circunstâncias excepcionais, tais como o estado de guerra ou uma
ameaça de guerra, ameaça à segurança nacional, instabilidade política interna ou
qualquer outra emergência pública, como justificativa para torturas ou outros
tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes. Comentário A Convenção
contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes define tortura como: “... qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos
agudos, físicos ou mentais são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de
obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por
ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido, ou seja, suspeita de ter
cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer
motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou
sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de
funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou
aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam
consequência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais
sanções ou dela decorram.”.

Artigo 6º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem garantir a


proteção da saúde de todas as pessoas sob sua guarda e, em especial, devem
adotar medidas imediatas para assegurar-lhes cuidados médicos, sempre que
necessário.

Artigo 7º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei não devem cometer


quaisquer atos de corrupção. Também devem opor-se vigorosamente e combater
todos estes atos. Comentário Qualquer ato de corrupção, tal como qualquer outro
abuso de autoridade, é incompatível com a profissão dos funcionários responsáveis
pela aplicação da lei. A lei deve ser aplicada com rigor a qualquer funcionário que
cometa um ato de corrupção. Os governos não podem esperar que os cidadãos
respeitem as leis se estas também não foram aplicadas contra os próprios agentes
do Estado e dentro dos seus próprios organismos.

Artigo 8º Os funcionários responsáveis pela aplicação da lei devem respeitar a lei e


este Código. Devem, também, na medida das suas possibilidades, evitar e opor-se
com rigor a quaisquer violações da lei e deste Código. Os funcionários responsáveis
pela aplicação da lei que tiverem motivos para acreditar que houve ou que está para
haver uma violação deste Código, devem comunicar o fato aos seus superiores e, se
necessário, a outras autoridades competentes ou órgãos com poderes de revisão e
reparação.

Comentário: As disposições contidas neste Código serão observadas sempre que


tenham sido incorporadas à legislação nacional ou à sua prática; caso a legislação
ou a prática contiverem disposições mais limitativas do que as deste Código, devem
observar-se essas disposições mais limitativas. Subentende-se que os funcionários
responsáveis pela aplicação da lei não devem sofrer sanções administrativas ou de
qualquer outra natureza pelo fato de terem comunicado que houve, ou que está
prestes a haver, uma violação deste Código; como em alguns países os meios de
comunicação social desempenham o papel de examinar denúncias, os funcionários
responsáveis pela aplicação da lei podem levar ao conhecimento da opinião pública,
através dos referidos meios, como último recurso, as violações a este Código. Os
funcionários responsáveis pela aplicação da lei que cumpram as disposições deste
Código merecem o respeito, o total apoio e a colaboração da sociedade, do
organismo de aplicação da lei no qual servem e da comunidade policial.

ANEXO 3.

PRINCÍPIOS BÁSICOS SOBRE O USO DA FORÇA E ARMAS DE FOGO PELOS


FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI

Adotados por consenso em 7 de setembro de 1990, por ocasião do Oitavo


Congresso das Nações Unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento dos
Delinquentes.

Considerando o Plano de Ação de Milão, adotado pelo Sétimo Congresso das


Nações unidas sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes e
aprovado pela Assembleia Geral através da Resolução 40/32 de 29 de novembro de
1985; Considerando também a Resolução do Sétimo Congresso pela qual o Comitê
de Prevenção e Controle do Crime foi solicitado a considerar medidas visando tornar
mais efetivo o Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela
Aplicação da Lei; Tendo em conta, com o devido reconhecimento, o trabalho
realizado em conformidade com a Resolução 14 do Sétimo Congresso, pelo Comitê,
pela reunião inter-regional preparatória do Oitavo Congresso das Nações Unidas
sobre a Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes, relativamente às
normas e diretrizes das Nações Unidas sobre prevenção do crime, justiça e
execução penal e às prioridades referentes ao posterior estabelecimento de
padrões, e pelas reuniões regionais preparatórias do Oitavo Congresso;

1. ADOTA os Princípios Básicos sobre o Uso da Força e Armas de Fogo pelos


Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei contidos no anexo à presente
resolução;

2. RECOMENDA os Princípios Básicos para adoção e execução nacional, regional e


inter-regional, levando em consideração as circunstâncias e as tradições políticas,
econômicas, sociais e culturais de cada país;

3. CONVIDA os Estados membros a ter em conta e respeitar os Princípios Básicos


no contexto da legislação e das práticas nacionais;
4. CONVIDA TAMBÉM os Estados membros a levar os Princípios Básicos ao
conhecimento dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei e de outros
agentes do Executivo, magistrados, advogados, legisladores e público em geral;

5. CONVIDA AINDA os Estados membros a informar o Secretário-Geral, de cinco


em cinco anos, a partir de 1992, sobre o progresso alcançado na implementação
dos Princípios Básicos, incluindo sua disseminação, sua incorporação à legislação, à
prática, aos procedimentos e às políticas internas; sobre os problemas encontrados
na aplicação dos mesmos à nível nacional, e sobre a possível necessidade de
assistência da comunidade internacional, solicitando ao Secretário-Geral que
transmita tais informações ao Nono Congresso das Nações Unidas sobre a
Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes;

6. APELA a todos os governos para que promovam seminários e cursos de


formação, a nível nacional e regional, sobre a função da aplicação das leis e sobre a
necessidade de restrições ao uso da força e de armas de fogo pelos funcionários
responsáveis pela aplicação da lei; UNITED NATIONS UNIES;

7. EXORTA as comissões regionais, as instituições regionais e inter-regionais


encarregadas da prevenção do crime e da justiça penal, as agências especializadas
e outras entidades no âmbito do sistema das Nações Unidas, outras organizações
intergovernamentais interessadas e organizações não governamentais com estatuto
consultivo junto ao Conselho Econômico e Social, para que participem ativamente
da implementação dos Princípios Básicos e informem o Secretário-Geral sobre os
esforços feitos para disseminar e implementar tais Princípios e sobre o grau em que
se concretizou tal implementação, solicitando ao Secretário Geral que inclua essas
informações no seu relatório ao Nono Congresso;

8. APELA à Comissão de Prevenção e Controle do Crime para que considere, como


questão prioritária, meios e formas de assegurar a implementação efetiva da
presente resolução;

9. SOLICITA ao Secretário-Geral: (a) Que tome medidas, conforme for adequado,


para levar a presente resolução à atenção dos governos e de todos os órgãos
pertinentes das Nações Unidas, e que se encarregue de dar aos Princípios Básicos
a máxima divulgação possível; (b) Que inclua os Princípios Básicos na próxima
edição da publicação das Nações Unidas intitulada Direitos Humanos: Uma
Compilação de Normas Internacionais (publicação das Nações Unidas, número de
venda E.88.XIV.1); (c) Que forneça aos governos, mediante pedido dos mesmos,
serviços de especialistas e consultores regionais e inter-regionais para prestação de
assistência na implementação dos Princípios Básicos, e que apresente relatório ao
Nono Congresso sobre a assistência e a formação técnicas prestadas; (d) Que
relate à Comissão, quando da realização da sua décima segunda sessão, as
providências tomadas visando implementar os Princípios Básicos.

10. SOLICITA ao Nono Congresso e respectivas reuniões preparatórias que


examinem o progresso obtido na implementação dos Princípios Básicos.

ANEXO 4.

PRINCÍPIOS BÁSICOS SOBRE O USO DA FORÇA E ARMAS DE FOGO PELOS


FUNCIONÁRIOS RESPONSÁVEIS PELA APLICAÇÃO DA LEI

Considerando que o trabalho dos funcionários encarregados da aplicação da lei (*)


é de alta relevância e que, por conseguinte, é preciso manter e, sempre que
necessário, melhorar as condições de trabalho e estatutárias desses funcionários; (*)
De acordo com as observações relativas ao artigo 10 do Código de Conduta para os
Funcionários Responsáveis pela Aplicação da Lei, a expressão encarregados da
aplicação da lei" refere-se a todos os executores da lei, nomeados ou eleitos, que
exerçam poderes de natureza policial, especialmente o poder de efetuar detenções
ou prisões. Nos países em que os poderes policiais são exercidos por autoridades
militares, uniformizadas ou não, ou por forças de segurança do Estado, a definição
de encarregados da aplicação da lei" deverá incluir os agentes desses serviços.
Considerando que qualquer ameaça à vida e à segurança dos funcionários
responsáveis pela aplicação da lei deve ser encarada como uma ameaça à
estabilidade da sociedade em geral; Considerando que as Regras Mínimas para o
Tratamento de Prisioneiros preveem as circunstâncias nas quais é aceitável o uso
da força pelos funcionários das prisões, no cumprimento das suas obrigações;
Considerando que o artigo 30 do Código de Conduta para os Funcionários
Responsáveis pela Aplicação da Lei prevê que os funcionários encarregados da
aplicação da lei somente podem fazer uso da força quando estritamente necessário
e no grau em que for essencial ao desempenho das suas funções; Considerando
que a reunião preparatória para o Sétimo Congresso das Nações Unidas sobre a
Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinquentes, realizada em Varena, Itália,
chegou a um acordo sobre os elementos a serem considerados nos trabalhos
posteriores sobre as limitações ao uso da força e de armas de fogo pelos
funcionários responsáveis pela aplicação da lei; Considerando que o Sétimo
Congresso, através da 14ª Resolução, salientou, entre outras coisas, que o uso da
força e de armas de fogo pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei deve
ser aferido pelo devido respeito aos direitos humanos; Considerando que o
Conselho Econômico e Social, na sua Resolução 1986/10, seção IX, de 21 de maio
de 1986, recomendou aos Estados membros darem uma especial atenção, por
ocasião da implementação do Código, ao uso da força e de armas de fogo pelos
funcionários responsáveis pela aplicação da lei, e que a Assembleia Geral, na sua
Resolução 41/149, de 4 de dezembro de 1986, dentre outras coisas corroborou
aquela recomendação do Conselho; Considerando ser justo que, com a devida
consideração pela segurança pessoal desses funcionários, seja levado em conta o
papel dos responsáveis pela aplicação da lei em relação à administração da justiça,
à proteção do direito à vida, à liberdade e à segurança da pessoa humana, à
responsabilidade desses funcionários por velar pela segurança pública e pela paz
social e à importância das habilitações, da formação e da conduta dos mesmos, Os
Princípios Básicos enunciados a seguir, que foram formulados com o propósito de
assistir os Estados membros na tarefa de assegurar e promover a adequada missão
dos funcionários responsáveis pela aplicação da lei, devem ser tomados em
consideração e respeitados pelos governos no âmbito da legislação e da prática
nacionais, e levados ao conhecimento dos funcionários responsáveis pela aplicação
da lei e de outras pessoas, tais como juízes, agentes do Ministério Público,
advogados, membros do Executivo e do Legislativo, bem como do público em geral.
Disposições gerais

1. Os governos e entidades responsáveis pela aplicação da lei deverão adotar e


implementar normas e regulamentos sobre o uso da força e de armas de fogo pelos
responsáveis pela aplicação da lei. Na elaboração de tais normas e regulamentos,
os governos e entidades responsáveis pela aplicação da lei devem examinar
constante e minuciosamente as questões de natureza ética associadas ao uso da
força e de armas de fogo.
2. Os governos e entidades responsáveis pela aplicação da lei deverão preparar
uma série tão ampla quanto possível de meios e equipar os responsáveis pela
aplicação da lei com uma variedade de tipos de armas e munições que permitam o
uso diferenciado da força e de armas de fogo. Tais providências deverão incluir o
aperfeiçoamento de armas incapacitantes não-letais, para uso nas situações
adequadas, com o propósito de limitar cada vez mais a aplicação de meios capazes
de causar morte ou ferimentos às pessoas. Com idêntica finalidade, deverão equipar
os encarregados da aplicação da lei com equipamento de legítima defesa, como
escudos, capacetes, coletes à prova de bala e veículos à prova de bala, a fim de se
reduzir a necessidade do emprego de armas de qualquer espécie.

ANEXO 5.

CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS


CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES.

DECRETO Nº 40, DE 15 DE FEVEREIRO DE 1991

Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VIII,
da Constituição, e. Considerando que a Assembleia Geral das Nações Unidas, em
sua XL Sessão, realizada em Nova York, adotou a 10 de dezembro de 1984, a
Convenção Contra a tortura e outros Tratamentos ou penas Cruéis, Desumanas ou
Degradantes; Considerando que o Congresso Nacional aprovou a referida
Convenção por meio do Decreto Legislativo nº 04, de 23 de maio de 1989;
Considerando que a carta de Ratificação da Convenção foi depositada em 28 de
setembro de 1989; Considerando que a Convenção entrou em vigor para o Brasil em
28 de outubro de 1989, na forma de seu artigo 27, inciso 2; DECRETA: Art. 1° A
Convenção Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes, apenas por cópia ao presente Decreto, será executada e cumprida tão
inteiramente como nela se contém. Art. 2° Este decreto entra em vigor na data de
sua publicação. Brasília, em 15 de fevereiro de 1991; 170º da Independência e 103°
da República. FERNANDO COLLOR Francisco Rezek ANEXO AO DECRETO QUE
PROMULGA A CONVENÇÃO A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU
PENAS CRUÉIS, DESUMENOS OU DEGRADANTES. Ministério das Relações
Exteriores CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU
PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES Os estados partes da
presente Convenção, Considerando que, de acordo com os princípios proclamados
pela Carta das Nações unidas, e reconhecimento dos direitos iguais e inalienáveis
de todos os membros da família humana é o fundamento da liberdade, da justiça e
da paz no mundo, Reconhecendo que estes direitos emanam da dignidade inerente
à pessoa humana, considerando a obrigação que incumbe aos Estados, em virtude
da carta, em particular do artigo 55, de promover o respeito universal e a
observância dos direitos humanos e liberdade fundamentais, Levando em conta o
Artigo 5º, da declaração universal dos Direitos do homem e o Artigo 7° do Pacto
Internacional sobre a tortura ou a pena ou tratamento cruel, desumano ou
degradante, Levando também em conta a Declaração sobre a Proteção de Todas as
Pessoas contra a Tortura e outros Tratamentos ou penas Cruéis, Desumanos ou
Degradantes, aprovada pela Assembleia Geral em 9 de dezembro de 1975,
Desejosos de tornar mais eficaz a luta contra a tortura e outros tratamentos ou
penas cruéis, desumanos ou degradantes em todo o mundo, Acordam o seguinte:

ARTIGO 1º 1. Para os fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa


qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são
infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira
pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato cometido; de intimidar ou
coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em
discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimento são infligidos
por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por
sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará
como tortura as dores ou sofrimentos consequência unicamente de sanções
legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram.

2. O presente Artigo não será interpretado de maneira a restringir qualquer


instrumento internacional ou legislação nacional que contenha ou possa conter
dispositivos de alcance mais amplo.

ARTIGO 2° 1. Cada Estado Parte tomará medidas eficazes de caráter legislativo,


administrativo, judicial ou de outra natureza, a fim de impedir a prática de atos de
tortura em qualquer território sob sua jurisdição.

2. Em nenhum caso poderão invocar-se circunstâncias excepcionais tais como


ameaça ou estado de guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra
emergência como justificação para tortura.

3. A ordem de um funcionário superior ou de uma autoridade pública não poderá ser


invocada como justificação para a
tortura. ...........................................................................................................................
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