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PÓS-GRADUAÇÃO EM LICITAÇÕES E CONTRATOS COM ÊNFASE NA LEI N.

14.133/2021 E HABILITAÇÃO PARA PREGOEIRO.

HELENA BEATRIZ SOARES DE SÁ

O DIÁLOGO COMPETITIVO COMO MEIO DE HARMONIZAÇÃO ENTRE O


PÚBLICO E O PRIVADO A LUZ DA TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA DE
JURGEN HABERMAS

TERESINA - PI
2022
HELENA BEATRIZ SOARES DE SÁ

O DIÁLOGO COMPETITIVO COMO MEIO DE HARMONIZAÇÃO ENTRE O


PÚBLICO E O PRIVADO A LUZ DA TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA DE
JURGEN HABERMAS

Trabalho de Conclusão de Curso - Artigo


Científico - apresentado como pré-requisito
para a obtenção do título de Especialista
em Licitações e Contratos pela ESA –
Escola Superior de Advocacia do Piauí.

TERESINA – PI
2022
O DIÁLOGO COMPETITIVO COMO MEIO DE HARMONIZAÇÃO ENTRE O
PÚBLICO E O PRIVADO A LUZ DA TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA DE
JURGEN HABERMAS

HELENA BEATRIZ SOARES DE SÁ (aluna)

RESUMO

O presente estudo é uma análise de três aspectos do novo dispositivo do


diálogo competitivo estabelecido na nova Lei de Licitações (14.133/21). São
observados, a partir da implantação da modalidade que permite as empresas e a
administração pública uma conversação para juntas procurarem a melhor solução
para alguma demanda, as bases evolutivas da história e filosofia política e social que
possibilitaram a inserção destes novos artigos e para completar o aprendizado será
visto como isso efetivamente foi realizado em uma complexa obra na Suécia, do Túnel
Kvarnholmen em Stockholm.
PALAVRAS-CHAVE: Diálogo competitivo, licitações, administração pública

ABSTRACT

This present article is an analysis of three aspects of the new dispositive that
is called competitive dialogue of the New Law of Bidding Process (14.133/21). From
the implementation of the modality that allows companies and public administration to
have a conversation so that together they can look for the best solution for some
demand, the evolutionary bases of history and political and social philosophy that
made possible the insertion of these new articles and to complete the learning will be
seen how this was effectively carried out in a complex work in Sweden, of the
Kvarnholmen Tunnel in Stockholm.
KEY WORDS: Competitive dialogue, bidding process, public administration.
O diálogo competitivo como ferramenta de harmonização entre o público e o
privado a luz da teoria da ação comunicativa de Jurgen Habermas

1. O AMADURECIMENTO DA DEMOCRACIA ATÉ O


DESENVOLVIMENTO DO DIÁLOGO COMPETITIVO NAS LICITAÇÕES

O desenvolvimento da resolução de impasses nos negócios públicos é tarefa


de relevante utilidade na melhoria de tomada de decisões, e consequentemente na
execução dos objetivos constitucionais administrativos. Integrar todas as partes do
processo licitatório, que, embora envolvam setores que possuam naturezas
diferentes, é um processo deveras necessário para o melhor funcionamento do
atendimento das demandas dos diversos órgãos, empresas e servidores envolvidos
nos processos. Há teorias que enxergam que o estado deve ser soberano em tudo
numa sociedade para melhor atender aos anseios do povo, e outras que o estado
deve se abster para que as iniciativas individuais possam criar melhores alternativas,
porém diante da praticidade do momento presente é necessário priorizar o
atendimento das demandas materiais coletivas, ao invés de disputar por maior
controle do sistema administrativo e para isso a lei 14133 de 1º de Abril de 2021 criou
mecanismos como o dialogo competitivo onde as empresas como iniciativa privada
podem participar ativamente oferecendo soluções para o setor público. Essa visão de
parceria e simbiose do funcionamento administrativo como um organismo dinâmico
que pode satisfazer todas as partes do sistema pode proporcionar uma melhor
eficiência e consecução das metas sociais, inclusive um dos objetivos da licitação,
que é a promoção do desenvolvimento nacional sustentável.
Pensando nessa otimização da tomada de decisões dentro do processo
licitatório o presente estudo analisará um novo dispositivo da nova Lei 14.133 de 1º
de Abril de 2021, o diálogo competitivo que é uma ferramenta que permite uma
“conversa” entre o setor privado e a administração pública na tomada de decisões
complexas que não tenham, em uma primeira análise, uma solução adequada. Esta
análise se dará com base nas teorias de Jurgen Habermas de que o desenvolvimento
da sociedade passa pelo diálogo e comunicação entre os diversos setores com vistas
a uma maior satisfação dos envolvidos. Além dos estudos propostos, também será
usado para melhor ilustração do instituto observado o exemplo de sua aplicação na
solução para construção do Túnel de Stockholm na Suécia, que era de difícil
execução, como se deu a sua negociação e concretização, já que é uma modalidade
criada e usada primeiramente na Europa, com poucos exemplos no Brasil.
A metodologia usada será a pesquisa bibliográfica da história das licitações e
das teorias filosófico políticas de Jurgen Habermas que contribuíram para a evolução
do diálogo na construção democrática da administração pública e como isso culminou
em casos práticos como o Túnel de Stockholm na Suécia.
Primeiramente situaremos os fundamentos licitatórios nas sociedades,
explicando como surgiram as licitações e como no decorrer das necessidades o
instituto foi se aprimorando até chegar no diálogo competitivo em si, onde será
explicado sobre seus incisos e exposto como funciona na prática, embora seja novo
e não tenha muitos exemplos. E por fim será estudada a Teoria da Ação Comunicativa
de Jurgen Habermas que fala sobre a importação do diálogo na evolução do direito
mundial.

2. ORIGEM E DESENVOLVIMENTO DAS LICITAÇÕES

As aglomerações urbanas foram formadas devido ao excedente produtivo que


proporcionou a formação de proprietários de recursos naturais, que logo depois para
maior comodidade da vida humana formaram os feudos, com o passar do tempo
aqueles que acumulavam maior poder material, econômico e militar desequilibraram
o convívio que aqueles que não possuíam tanto criando poderes tirânicos e despóticos
gerando muitas revoltas que acabou resultando em instituições para promover a
pacificação social como o direito, o estado e diversas legislações sobre gestão
pública. (ENGELS)
Dentre as ferramentas criadas para melhor gerir a coisa pública, uma dela é
a licitação que foi conceituada por Hely Lopes Meirelles (2015, p. 302-303) como o
procedimento administrativo “mediante o qual a Administração Pública seleciona a
proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse, inclusive o da promoção do
desenvolvimento econômico sustentável e fortalecimento de cadeias produtivas de
bens e serviços domésticos”.
Apontam os estudos que o procedimento licitatório começou na Idade Média,
nos estados medievais, com a modalidade de prego e vela, que consistia em
apregoar-se a obra desejada e, enquanto ardia uma vela, os construtores
interessados faziam suas ofertas, quando se extinguia a chama, adjudicava-se a obra
a quem houvesse oferecido o melhor preço para o Estado.1 Tal procedimento
começou a existir devido a necessidade da sociedade de estabelecer um método mais
justo possível para os negócios entre a administração pública e as pessoas privadas
que produziam bens ou serviços que podem servir a necessidade coletiva. Ou seja, é
um processo que envolve vários setores da organização civil e portanto demanda
muito diálogo para que se possa proporcionar o entendimento entre os diversos
interesses. Não se deve conceber os institutos e procedimentos jurídicos apartados
de seus fins sob o risco de se tornar uma atividade burocrática, com entraves
desnecessários para alguma parte ou ambas, porém, toda ação deve ser pautada
conscientemente com base no objetivo que se almeja que é a justiça nos negócios
públicos e privados para bem satisfação da comunidade envolvida, conseguindo
assim os objetivos constitucionais de construção de uma sociedade livre, igualitária e
plural.
Ou seja, se de um lado temos a necessidade de realizar a contratação de
compras públicas, do outro temos o artigo 37, inciso XXI, da Constituição Federal, que
exige para as obras, serviços, compras e alienações, contratados mediante licitação,
cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas
da proposta, determinando que deve sempre se manter o equilíbrio econômico-
financeiro do contrato. Isso para cumprir o objetivo da licitação, que doutrinariamente
seria de viabilizar que o Estado firme o negócio mais vantajoso. Tem-se, outrossim, a
garantia de que os interessados em disputar o objeto serão tratados de forma
isonômica durante o procedimento seletivo. É essa isonomia que fundamenta a
criação de muitas leis para que as partes das ações tenham segurança para negociar
seus interesses.

1
Disponivel em: <Origem da Licitação - Licitacao.net>
Então, para promover essa isonomia na jurisdição brasileira a lei 14.133 de
2021 criou alguns dispositivos que possibilitam a maior participação da iniciativa
privada na proposição de soluções para o setor administrativo público como o diálogo
competitivo e o PMI – Procedimento de Manifestação de Interesse (art.80).

2.1. O DIÁLOGO COMPETITIVO COMO EVOLUÇÃO DEMOCRÁTICA

A lei 14.133, apesar de recebida como não muito diferente da anterior (8.666
de 18 de junho de 89) trouxe a especificação de procedimentos que requeriam
maiores detalhamentos, daí o aumento de sua extensão, sendo, portanto, mais
completa e trazendo mais estabilidade nos negócios governamentais. Porém existe
nas discussões políticas mundiais a questão do relacionamento entre o setor público,
compreendendo isto como a coisa pública, a república, o patrimônio público resultante
da construção dos seus contribuintes e beneficiários; e o setor privado que seria as
empresas, as pessoas jurídicas de direito privado e afins.
Remonta a história que o Estado foi criado com fins de equilibrar essa relação,
evoluindo do sistema monárquico que confundia o público e o privado transferindo o
patrimônio público privativamente entre seus descendentes, para o sistema
republicano que estabelecia a divisão dos três poderes, sistematizada por Charles
Montesquieu, em Espírito das Leis, que é um princípio desenvolvido pelo estado
moderno para equilibrar as diferentes esferas da sociedade formando um sistema
contrabalanceado. Diante da existência de múltiplos pontos de vista e interesses são
criadas essas normas para administrar melhor as relações sociais, estes os fins que
almejam as legislações e como tal também a nova lei de licitações. Isso é importante
sempre ser lembrado para que não se perca o propósito para o qual foi criado os
instrumentos licitatórios, pois esta dicotomia contraditória dos interesses públicos e
privados cria diversos tipos de interpretações sobre as intenções dos legisladores. Por
isso é imperativo que se busque sempre os fundamentos e princípios constitucionais
para evitar informações confusas sobre uma causa.
Ao estudar essa maravilha moderna chamada estado é de se admirar em
como as grandes cabeças tiveram a magnificência de instituir esse esquema de
administração pública para favorecer a cooperação entre os diversos setores sociais,
dentre eles a legislação licitatória para fornecer igualdade de condições a todos que
queiram obter contratos com o poder público, possibilitar a contratação de empresas
que ofereçam a melhor qualidade de serviços ou produtos pelos menores custos e
administrar os recursos públicos de forma que atenda aos que realmente necessitam
e cumpram os requisitos. Ou seja, o principal objetivo do processo licitatório é garantir
a igualdade de condições a todos que desejem obter contrato com o Poder Público e
possibilitar a contratação de empresas que ofereçam melhor qualidade de serviços ou
produtos pelos menores custos.
O novo dispositivo do diálogo competitivo, mesmo diante da mútua
desconfiança que existe desde os primórdios do estado de que este seria muito
controlador e teria muitas vantagens em relação a iniciativa privada o que causaria
um impedimento ao desenvolvimento do setor privado, e em contrapartida, os
defensores do estado alegam que a iniciativa privada e suas organizações tentam a
todo momento explorar a máquina pública indevidamente sob a prerrogativa de que
deve-lhe ser assegurado suporte para seu crescimento. Porém, afortunadamente, o
dispositivo do diálogo competitivo em sua redação mostra como é interessante investir
nessa comunicação entre os diversos setores, como já nos traz o filosofo Jurgen
Habermas ao dizer que a esfera pública se encontra instituída no domínio privado, já
que é constituída por pessoas privadas, ou seja, a administração pública não
representa somente o governo, mas também cada ente que existe no corpo social.
(HABERMAS, 1984)
O diálogo competitivo consiste nos termos da Lei nº 14.133/2021, que assim
dispôs, em seu artigo 6º, inciso XLII:
"(...) Diálogo competitivo: modalidade de licitação para contratação de obras,
serviços e compras em que a Administração Pública realiza diálogos com licitantes
previamente selecionados mediante critérios objetivos, com o intuito de desenvolver
uma ou nosmais alternativas capazes de atender às suas necessidades, devendo os
licitantes apresentar proposta final após o encerramento dos diálogos". (Lei 14.133,
2021)
Mais adiante no artigo 32, da mesma lei estatui as limitações para seu uso:
"Artigo 32. A modalidade diálogo competitivo é restrita a contratações em que a
Administração:
I - vise a contratar objeto que envolva as seguintes condições:
a) inovação tecnológica ou técnica;
b) impossibilidade de o órgão ou entidade ter sua necessidade satisfeita sem a
adaptação de soluções disponíveis no mercado; e
c) impossibilidade de as especificações técnicas serem definidas com precisão
suficiente pela Administração;
II - verifique a necessidade de definir e identificar os meios e as alternativas que
possam satisfazer suas necessidades, com destaque para os seguintes aspectos:
a) a solução técnica mais adequada;
b) os requisitos técnicos aptos a concretizar a solução já definida;
c) a estrutura jurídica ou financeira do contrato;".
(Lei 14.133 de 2021)

O diálogo competitivo possui inspiração na Diretiva 2014/24 da União


Europeia e nas práticas de diálogo e aberturas procedimentais existentes no FAR
(Federal Acquisition Regulation) dos Estados Unidos (artigo 1 sobre licitações). A
forma brasileira apresenta maior quantidade de restrições em comparações aos
modelos que lhe deram origem, porém já promove um alargamento da comunicação
entre o público e o privado de forma significativa. (BURNET, 2009)
A nova modalidade licitatória, segundo Irene Nohara (2018), possibilitará à
Administração saber das soluções inovadoras ou das possibilidades que o mercado
dispõe para gerar uma contratação técnica ou com distinta metodologia, que melhor
atenda às suas necessidades, pois a Administração nem sempre possui
conhecimentos suficientemente atualizados para tanto, dada a dinamicidade própria
do mercado, ou, ainda, aqueles de domínio restrito para formulação de contratações
complexas ou inovadoras customizadas.
O diálogo competitivo visa a transpor as dificuldades enfrentadas pelo Poder
Público nas contratações de objetos complexos e inovadores, sendo que a
Administração Pública, por meio da modalidade, define suas necessidades e os
critérios da pré-seleção dos licitantes e, a partir disso, inicia diálogos com os licitantes
selecionados, de forma a obter informações alternativas de soluções, estendendo-se
o diálogo até que seja possível definir a solução mais adequada e, a partir de então,
todos os licitantes selecionados podem apresentar suas propostas (ZAGO;
RODRIGUES, 2019).
Rodrigo Augusto Lazzari Lahoz (2021, p. 75-76), ao comentar o Projeto de Lei
que deu origem à Lei 14.133/2021, afirma que o rito procedimental do diálogo
competitivo estabelecido pelo § 1º do art. 32 do Projeto (texto esse mantido em linhas
gerais no § 1º do art. 32 da Lei 14.133/2021), pode ser dividido em duas etapas, a
primeira consistente no diálogo entre a Administração e os particulares, e a segunda,
correspondente à fase competitiva:
a) inicialmente, deve-se instaurar uma comissão que conduzirá a contratação,
integrada por pelo menos três servidores efetivos ou empregados públicos, podendo
ser contratados profissionais técnicos especializados para assessorar tecnicamente a
comissão (inciso XI), profissionais esses que assinarão termo de confidencialidade e
não poderão participar de atividades que impliquem em conflito de interesses (§ 2º);
b) a fase do diálogo tem início com a publicação do edital, apresentando as
necessidades e exigências da Administração, bem como estabelecendo um prazo
mínimo de 25 dias úteis para manifestação dos interessados em participar da licitação;
o edital deverá apresentar os critérios para pré-seleção dos interessados (incisos I e
II), sendo vedada no curso do diálogo a divulgação de informações que importem em
vantagem para um ou mais licitantes e das soluções propostas pelos licitantes (incisos
III e IV);
c) ao final da fase de diálogo, a Administração indicará as soluções que
atendam às suas necessidades (incisos V, VI e VII), sendo que a solução desejada
poderá partir de um ou mais licitantes, inclusive através da combinação das propostas
apresentadas;
d) encerrada a fase do diálogo, passa à fase de competição, prevista nos
incisos VIII, IX e X, devendo a Administração deflagrar um novo edital para contratar
a solução desejada apresentada na fase do diálogo, edital esse que conterá as
especificações da solução a ser encontrada e os critérios objetivos para a seleção da
proposta mais vantajosa. Comentado [Rc1]: Ao final de cada tópico vc deve fechar
as ideias com um parágrafo final, como se fosse uma mini
conclusão das ideias do tópico.

3. A TEORIA DA AÇÃO COMUNICATIVA DE JURGEN HABERMAS

Jürgen Habermas debruçou-se muito na observação da relação entre o setor


público e privado, onde desenvolveu uma teoria que professa que com a contínua
comunicação entre o público e o privado, o primeiro acabaria por abarcar o segundo,
transformando assim todas as relações em públicas pois o estado e a sociedade
acabariam por se interpenetrar.
Essa interpenetração pode ser observada em dispositivos inovadores postos
na Nova Lei de Licitações (14.133/2021) que proporcionam a iniciativa privada a
parceria com a administração pública na busca de soluções para suas necessidades.
Portanto o objetivo do presente trabalho será em demonstrar em como o Diálogo
Competitivo cumpre a função de harmonização entre o setor público e privado usando
para isso a Teoria da Ação Comunicativa, observando esta comunicação entre os
espaços públicos e privados da sociedade, observando também como isso se deu nos Comentado [Rc2]: Quanto ao aspecto formal é preciso
que vc alinhe os parágrafos, para que as linhas fiquem retas.
casos em que foi aplicado como por exemplo, no caso do Diálogo Competitivo da nova
Lei de Licitações.
Habermas se debruçou principalmente na caracterização do capitalismo
maduro, de que a sobrevivência das sociedades de capitalistas depende da crescente
intervenção do estado na estrutura econômica, possibilitando a manutenção da
infraestrutura material e social e investimentos diretos em empresas de alto custo e
baixo rendimento. Ou seja, antes da chegada da ferramenta do diálogo, já se
imaginava algo que pudesse promover essa relação de forma que contemplasse as
partes envolvidas.
O modelo da pragmática Habermasiano inclui as relações que se estabelecem
entre os sujeitos que se comunicam para referir-se ao mundo, fazendo com que a
relação sujeito-objeto, antes monológica, passe a ser uma relação dialógica,
intersubjetiva e que permite as diferenças de perspectivas dos falantes (Habermas,
1989). Assim, o filósofo mostra na ação social o protagonismo da comunicação, não
na forma reducionista dos axiomas kantianos, mas na dinâmica do diálogo e das
interpretações que estão se formando e mudando continuamente no decorrer dos
debates o que realmente ocorre no diálogo competitivo. (KANT, 2001)
Em Habermas, o consentimento é a base para o respeito a integridade do
sujeito público e privado. Se não houver a consideração a vontade individual não há
como falar em democracia, e este consentimento está presente no diálogo competitivo
já que o procedimento contempla a iniciativa da troca de ideias entre as partes e o
acordo mútuo para fechamento dos acordos. As pessoas, ao proferirem sentenças,
estão também realizando ações e não apenas se reportando a eventos ou a estados
de coisas, o que podem gerar contratos e execuções, e é nessa dinâmica dialógica
que se dá o desenvolvimento do diálogo competitivo, se revelando como uma
ferramenta que aponta no sentido do desenvolvimento democrático.

4. ESTUDO DO TÚNEL DE KVARNHOLMEN

O Diálogo Competitivo foi estabelecido na Europa em 2004, apenas em casos


complexos. O objetivo formal do novo procedimento era promover “um procedimento
flexível que preserva não apenas a competição entre os operadores econômicos, mas
também a necessidade das autoridades contratantes discutirem todos os aspectos do
contrato com cada candidatos.” ([18/EC, (2004), recital 31]). Ele foi criado a partir de
uma comissão designada pelo Parlamento Europeu para estudar qual seria a maneira
mais adequada para resolver “casos complexos”.
A utilização do Diálogo Competitivo é muito desigual entre os Estados-
Membros da UE, com 80,4% dos casos em que o Diálogo Competitivo foi utilizado
dividido entre França (40,9%) e Reino Unido (39,5%). Outros três Estados-Membros,
Alemanha, Polónia e Países Baixos, representam 9,3% do número de anúncios de
concurso, sendo os restantes 22 Estados-Membros e outros organismos, incluindo
instituições e agências europeias, responsáveis por pouco mais de 10% do total
número de (BURNET, 2009). Devido o dispositivo ser usado apenas em casos
excepcionais sua jurisprudência é escassa, para ilustrar o objetivo do presente
trabalho que é a harmonização promovida pelo diálogo competitivo entre o setor
público e privado a luz da teoria comunicacional de Habermas o caso mais adequado
para exemplificação é o de uma construção de um túnel na Suécia, um projeto de
larga infraestrutura, ligando a cidade de Kvarholmen e Stockholm. A entrada do túnel
é protegida por uma tecnologia que impede a queda de pedras, congelamento e
alagamento foi aberto em 2016 a pedestres, ciclistas, carros e ônibus. (LEE LANN
ROOS, 2012)
A lei sueca de contratos públicos, Lag om ofentlig upphandling (LOU), define
os contratos públicos da seguinte forma: “Os contratos públicos compreendem as
medidas tomadas por uma entidade adjudicante com o objetivo de adjudicar um
contrato ou um acordo-quadro relativo a bens, serviços e contratos de construção” (2
cap. 13 § LOU). A aquisição é sempre um processo, seguindo um determinado
caminho. A primeira parte consiste em uma análise pela autoridade contratante que
definirá qual modalidade será aplicada. Depois vem a parte em que as necessidades
da autoridade contratante serão estabelecidas. A lei sueca de contratos públicos
estabelece duas maneiras de conceder o contrato, seja pela escolha da proposta
economicamente mais vantajosa ou a proposta que tiver o preço mais baixo (12 cap.
1 § LOU). A diferença é que quando for escolhida a proposta economicamente mais
vantajosa, vários parâmetros são levados em conta, não só o preço.
Um anúncio de concurso deve então ser publicado para chamar a
concorrência, convidando fornecedores para se candidatar a concurso no jornal oficial
da União Europeia e no Diário Eletrônico de Licitações (TED) com os requisitos
necessários.
Os contratos públicos tradicionais têm sido criticados por causarem
desentendimentos entre empreiteiro e cliente, levando a atrasos, aumento de custos,
qualidade inferior e insatisfação, principalmente nos contratos de infraestrutura
complexa. (LEE ANN ROOS, 2012)
O setor de construções sueco é caracterizado por uma produtividade mais
baixa do que outras indústrias, segundo estudiosos. A concorrência é limitada devido
ao pequeno número de fornecedores com capacidade de lidar com grandes contratos.
Para aumentar a concorrência, um contrato pode ser dividido em vários outros
menores. Isto, no entanto, implica uma maior necessidade de coordenação. Quanto
maior o contrato, mais difícil é estimar os custos finais, necessitando de uma margem
de alteração. Diante desses problemas, há a necessidade de desenvolvimento de
outros tipos de contrato para construções de larga infraestrutura. (LEE ANN ROOS,
2012)
A lei sueca de contratos públicos define o diálogo competitivo da seguinte
forma:
“O diálogo competitivo é um procedimento que todos os fornecedores podem
solicitar para participar e onde a entidade adjudicante dialoga com os candidatos que
tenham sido convidados a participar no processo” (2 CH. 9 b§ LOU). Comentado [Rc3]: Não entendi que fonte é essa. Acredito
que não esteja correta.
O procedimento é concebido para ser flexível e para garantir uma
concorrência suficiente, a fim de criar condições de compra benéficas para o setor
público. Acredita-se que o diálogo competitivo pode dar origem a inovações técnicas,
uma vez que deixa que o mercado, e não a autoridade, encontre as soluções. Um dos
principais objetivos da modalidade é satisfazer a necessidade da autoridade
contratante para discutir todos os aspectos do contrato com os proponentes antes da
apresentação da proposta final para licitações de contratos complexos. (LEE ANN
ROOS, 2012)
” É para ser usado quando o for considerado “particularmente complicado”,
seja tecnicamente, financeiramente ou legalmente. O cliente pode saber qual
resultado ou função é necessária, mas não exatamente qual a melhor. Em casos
complicados não se pode esperar que a autoridade contratante tenha a competência
para encontrar qualquer solução. Em vez disso, o mercado pode ser convidado para
encontrar uma solução para o cliente.” (LEE ANN ROOS, 2012)
O significado de “particularmente complicado” ainda não foi definido na
jurisprudência. No momento, não está completamente claro em quais aquisições
permite-se a aplicação do diálogo competitivo. Os princípios da contratação pública
devem ser todos respeitados na aplicação do diálogo competitivo. Mesmo que o exato
resultado da aquisição não seja desde o início, é de grande importância que o
processo seja aberto e previsível para todos os fornecedores. Os diálogos são então
executados como uma forma de avaliar a solução mais adequada, com o objetivo de
investigar se ela pode ser melhorada. Ao final da fase de diálogo, os fornecedores
terão suas próprias soluções que serão avaliadas conforme o modelo de avaliação.
Depreende-se do itinerário percorrido na negociação da construção do túnel
sueco, como foi importante a nova ferramenta, e como essa nova modalidade facilitou
a construção dessa necessária infraestrutura para o povo da localidade. A base da
ponte pousaria na beira da água o que poderia causar problemas geológicos, também
graças ao Diálogo feito de forma competitivo para desenvolver a melhor solução para
a questão, foi desenvolvido um produto menos custoso e mais eficaz. Comentado [Rc4]: Ao final de cada tópico vc deve fechar
as ideias com um parágrafo final, como se fosse uma mini
conclusão das ideias do tópico.

5. CONCLUSÃO
Depreende-se da interação destes elementos analisados que a evolução
jurídica com os fins de pacificação social tem levados os operadores e legisladores a
levar em conta os diversos discursos e promover debates dialógicos que resultaram
no aperfeiçoamento do modo de fazer a democracia mundial e satisfazer as
demandas populacionais.
A administração pública é o setor que executa as decisões
governamentais e democráticas, sendo assim a motriz do funcionamento estatal e
centro de ação das medidas políticas. O modo como isso funciona exprime o grau de
amadurecimento das relações públicas de um povo. A licitação foi o modo
desenvolvido para administrar os bens públicos no decorrer da história, até chegar a
ferramenta do Diálogo Competitivo foi preciso que houvesse um contínuo diálogo
entre os envolvidos nessa atividade, formando realmente o que observou Habermas
uma ação comunicativa, ou seja, como o autor constatou:
“Aos poucos, afirma Habermas, a organização da produção de bens e a
burocracia estatal se desligam da normatividade assegurada por visões de
mundo compartilhadas e passam a ser coordenadas por ações racionais
orientadas ao sucesso, isto é, orientadas à otimização de cada uma dessas
atividades, cuja execução se torna cada vez mais independente de normas
sociais. Como afirma ele, “a racionalização do mundo da vida torna possível
converter a integração social para medias independentes da linguagem e
separar domínios de ação formalmente organizados”.(HABERMAS apud
PINZANI, 2016)

Ou seja, com o diálogo competitivo a rigidez da burocracia estatal se flexibilizou


usando como fundamento a necessidade maior que é o sucesso das ações sociais,
resultado do amadurecimento do fazer jurídico proporcionado pela evolução da
comunicação entre os diversos setores demonstrando assim a vantagem de se utilizar
a cooperação com confiança de que cada elemento das execuções licitatórias, o setor
público, o setor privado e os operadores e servidores, tem sua função adequada e
satisfatória que quando devidamente incorporadas e realizadas agregam a todos
participantes os seus respectivos valores.

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