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Placenta e

membranas
fetais
SUMÁRIO
1. Placenta......................................................................................................................... 3
1.1. Introdução............................................................................................................... 3
1.2. Desenvolvimento.................................................................................................... 5
1.3. Composição........................................................................................................... 7
1.4. Cordão umbilical ................................................................................................. 11
1.5. Circulação placentária......................................................................................... 12

2. Membranas fetais....................................................................................................... 14
2.1. Introdução............................................................................................................. 14
2.2. Córion.................................................................................................................... 14
2.3. Âmnio e líquido amniótico................................................................................... 14
2.4. Vesícula umbilical ............................................................................................... 15
2.5. Alantoide .............................................................................................................. 16
2.6. Gravidez gemelar e membranas fetais............................................................... 17

Referências....................................................................................................................... 19

Bibliografia consultada..................................................................................................... 20
1. PLACENTA

1.1. Introdução
A placenta e as membranas fetais são responsáveis por fazer a interface entre o
feto e a camada mais interna da parede do útero, o endométrio. Ao mesmo tempo que
possui essa função de separação, a placenta também se constitui como o órgão respon-
sável por possibilitar as trocas de nutrientes e oxigênio entre as correntes sanguíneas
da mãe e do feto, uma vez que durante o desenvolvimento embrionário não existem
vasos comunicantes entre as circulações materna e fetal, de forma que todas as trocas
são exercidas através da placenta e do cordão umbilical. A passagem de nutrientes
e oxigênio da mãe para o feto, assim como a passagem de resíduos metabólicos e
dióxido de carbono do feto para a mãe, para que possam ser eliminados, permitem o
desenvolvimento do embrião através da fisiologia materna.
A placenta também vai participar da síntese de glicogênio, contribuindo para a nutrição
fetal e realizar uma importante função endócrina através da produção de hormônios
como a gonadotrofina coriônica, prostaglandinas, progesterona e estrógeno que vão
regular o metabolismo materno e o crescimento e desenvolvimento fetal.
É um órgão maternofetal composto por duas partes: a parte fetal e a parte materna.
A parte fetal se desenvolve a partir do saco coriônico e representa a membrana fetal
mais externa, enquanto a parte materna deriva da decídua que é uma parte do endo-
métrio, ou seja, a camada mais interna da parede uterina.

PLACENTA

Figura 1. Estrutura da placenta e circulação.


Fonte: Sakurra/Shutterstock.com1.

Placenta e membranas fetais   3


Em uma mulher grávida o endométrio do útero vai ser a decídua. É a parte funcional
do endométrio que será dissociada do útero após o nascimento do bebê. É dividida em
três regiões nomeadas com base nas relações com o local de implantação:

• A decídua basal representa a parte da decídua que se localiza mais distante do


embrião, formando a parte materna da placenta.
• A decídua capsular, por sua vez, representa a parte que recobre o feto.
• A decídua parietal vai representar a parte restante da decídua correspondendo à
camada uterina que não é ocupada pelo concepto (embrião/feto).

Decídua parietal

Decídua capsular
Decídua basal

Figura 2. Divisões da decídua uterina.


Fonte: Fascija/Shutterstock.com2.

A reação decidual representa as mudanças ocorridas no endométrio a partir do


momento que acontece a implantação do blastocisto. As células chamadas deciduais
resultam do aumento de tamanho das células do tecido conjuntivo, por acúmulo de
glicogênio e lipídio no citoplasma, após elevação dos níveis de progesterona no san-
gue materno. Muitas dessas células deciduais vão se degenerar nas proximidades do
saco coriônico, região do sinciciotrofoblasto (a camada externa do trofoblasto) e em
conjunto com o sangue materno e as secreções advindas do útero irão possibilitar uma
fonte de nutrição rica ao embrião. Além das funções já citadas, as células deciduais
tem sido associadas a proteção do tecido materno da invasão do sinciciotrofoblasto
e à produção hormonal.

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Citotrofoblasto

Sinciciotrofoblasto

Figura 3. Implantação do blastocisto e desenvolvimento do sinciciotrofoblasto e citotrofoblasto.


Fonte: Fascija/Shutterstock.com3.

As regiões deciduais observadas durante o exame ultrassonográfico vão ter grande


importância no diagnóstico inicial da gestação.

1.2. Desenvolvimento
A parte inicial do desenvolvimento placentário caracteriza-se pela proliferação
acelerada do trofoblasto juntamente com o desenvolvimento do saco coriônico e
das vilosidades coriônicas. As vilosidades coriônicas irão cobrir o saco coriônico por
completo, mas a partir do crescimento progressivo do saco coriônico, as vilosidades
relacionadas com a decídua capsular vão sendo comprimidas a ponto de ter o seu
suprimento sanguíneo diminuído e levando as vilosidades a degeneração, produzindo
uma região praticamente sem vasos, chamada de córion liso. Quando essas vilosidades
desaparecem, as vilosidades que se relacionam com a decídua basal aumentam em
quantidade e em tamanho, formando o córion viloso, uma área espessa.

Vilosidades coriônicas cobrem o saco coriônico por completo

Vilosidades relacionadas à Vilosidades relacionadas à


Saco coriônico
decídua capsular decídua basal

Saco coriônico liso Saco coriônico viloso

Quadro 1. Diferenciação em saco coriônico liso e saco coriônico viloso.


Fonte: Elaborado pela autora.

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A decídua basal recobre o córion viloso enquanto é a decídua capsular que fica sobre
o córion liso. A partir do crescimento da vesícula coriônica ocorre o alongamento da
decídua capsular e, posteriormente, sua degeneração, fazendo com que o córion liso
fique em contato com a parede uterina de lado oposto do útero, onde ocorrerá a fusão
com a decídua parietal causando progressivamente a obliteração da cavidade uterina.
Dessa forma, apenas o córion viloso, que em conjunto com a decídua basal vai formar
a placenta, participa do processo de trocas.
Dessa forma o córion viloso formará a parte fetal da placenta na qual as vilosida-
des coriônicas vindas do córion serão projetadas para o espaço que contém sangue
materno, o espaço interviloso. Já a parte materna da placenta é formada pela decídua
basal que ao final do 4º mês estará quase que completamente substituída pela parte
fetal da placenta.

Placenta

Placenta

Vilosidade

Membrana
placentária

Cordão umbilical

Espaço interviloso

Vasos
Cordão umbilical sanguíneos
Vasos sanguíneos fetais maternos
Figura 4. Anatomia da placenta.
Fonte: udaix/Shutterstock.com4.

Se liga!  O desenvolvimento do saco coriônico entre a 5ª e 10ª semana


é extremamente veloz, permitindo que, por meio da dimensão do saco coriônico
possa ser determinada a idade gestacional em pacientes com histórico menstrual
irregular. Aparelhos modernos de ultrassom, em especial os que são equipados
com transdutores endovaginais, permitem a visualização do saco coriônico entre
2 e 3 mm que é o tamanho correspondente a idade gestacional entre 31 e 32 dias,
ou seja, cerca de 18 dias após a fecundação ocorrer.

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Figura 5. Feto de 6 a 7 semanas visualizado em ultrassom.
Fonte: Allo4e4ka/Shutterstock.com5.

A espessura e diâmetro da placenta continuam rapidamente até a 18ª semana de


gestação e, quando completamente desenvolvida (no terceiro trimestre gestacional),
chega a cobrir cerca de 15 a 30% da decídua do endométrio do útero e a pesar em torno
de um sexto do peso do embrião.

1.3. Composição
Como já foi dito, a placenta divide-se em duas partes: a parte materna e a parte fetal.
A parte materna sendo formada pelo córion viloso enquanto a parte fetal é formada
pela decídua basal.
O espaço interviloso é composto de sangue materno e é separado em comparti-
mentos pelos septos placentários que não alcançam a placa coriônica permitindo que,
apesar da divisão, os compartimentos possuam comunicação livre. É desenvolvido a
partir das lacunas que crescem no sinciciotrofoblastos e que coalescem e aumentam
de tamanho. A decídua basal vai permitir o intercâmbio do sangue materno na região
do espaço interviloso.

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Artéria materna
Veia materna

Arteríola fetal
Espaço
interviloso
com sangue Vênula fetal
materno
Porção materna
da placenta

Artéria umbilical Septo


placentário
Córion
viloso

Veia umbilical Córion viloso maduro


(coberto com sinciciotrofoblasto)
Figura 6. Anatomia detalhada da placenta.
Fonte: logika600/Shutterstock.com6.

Saiba mais!  O espaço interviloso de uma placenta madura possui


cerca de 150mL de volume sanguíneo que é reposto em torno de 3 a 4 vezes por
minuto.

A capa citotrofoblástica permite a ligação entre a parte fetal e materna da placenta,


composta pela camada externa de células trofoblásticas que se encontram na parte
materna da placenta. A capa citotrofoblástica é voltada para o lado materno e possui
fendas que permitem a passagem dos vasos endometriais que adentram o espaço
interviloso. O formado discoide da placenta se dá, além da convexidade uterina, pela
distribuição das vilosidades coriônicas da região.
Os septos placentários que dividem o espaço interviloso surgem a partir da invasão
das vilosidades coriônicas na decídua basal, o que provoca erosão do tecido decidual,
com o objetivo de aumentar o espaço interviloso, e essa erosão, por sua vez, produz
as diversas áreas na decídua que são os septos placentários. Os septos se projetarão
em direção a placa coriônica formando espaços de formatos irregulares e convexos,
chamados cotilédones. Os cotilédones irão abarcar duas ou mais vilosidades-tronco
e várias ramificações dessas vilosidades, até que no fim do 4º mês, a decídua basal
estará quase que completamente substituída pelos cotilédones.

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A decídua parietal é a camada mais externa, sendo seguida pelo córion liso que,
por ser uma área avascular, vai funcionar como uma membrana de proteção. A junção
do córion liso com o âmnio vai dar origem a membrana amniocoriônica que conferirá
proteção ao embrião/feto durante a gestação.

Figura 7. Membranas fetais.


Fonte: Moore et al7.

Se liga!  É a membrana amniocoriônica que se rompe durante o tra-


balho de parto liberando líquido.

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A vilosidade-tronco representa a unidade funcional de troca do feto e é gerada pela
ramificação dos troncos gerados pelos vasos umbilicais. Perifericamente a vilosidade-
-tronco vai atuar como capilar de troca permitindo a troca entre sangue fetal e materno
pela membrana placentária.
A placenta a termo tem formato discoide e diâmetro variando entre 15 e 25cm, com
uma espessura aproximada de 3cm e chega a pesar cerca de 500 a 600 g. Durante o
parto, a placenta vai se desprender da parede uterina para ser expelida logo após o
nascimento do bebê. É possível identificar os septos deciduais e os cotilédones, cerca
de 15 a 20, quando vista pelo lado materno. Já a superfície fetal da placenta vai estar
completamente coberta pela placa coriônica e é possível observar o âmnio e os vasos
coriônicos abaixo.

Figura 8. Ilustração de placenta – superfície fetal.


Fonte: Morphart Creation/Shutterstock.com8.

Figura 9. Placenta pós-parto – superfície materna.


Fonte: nata-lunata/Shutterstock.com9.

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1.4. Cordão umbilical
Possuindo cerca de 1 a 2 cm de diâmetro e uma média de 55 cm, o cordão umbilical
é de importância fundamental para o crescimento e desenvolvimento fetais adequados
já que é através dele que o feto receberá nutrientes e oxigênio da circulação materna e
também liberará restos metabólicos e dióxido de carbono. O cordão umbilical se adere
a placenta normalmente na região central da superfície fetal, mas isso não é uma regra;
assim o cordão pode estar aderido em qualquer região.

Se liga!  Quando o cordão umbilical adere-se à placenta próxima à


sua margem, a placenta passa a apresentar um formato de raquete.

Saiba mais!  Os cordões umbilicais podem variar entre 30 a 90 cm


e cordões muito maiores ou muito menores que isso não são comuns, mas os
cordões excessivamente longos apresentam maiores riscos de prolapso e também
de se enrolar ao redor do feto, gerando um risco gestacional.

São compostos normalmente por duas artérias e uma veia umbilical que são circun-
dadas por tecido conjuntivo mucoso conhecido como geleia de Warthon. Por conta de
o tamanho dos vasos umbilicais geralmente ser maior do que o tamanho do cordão,
torções e flexões são relativamente comuns, no entanto, a ocorrência de nós verdadei-
ros (que ocorrem em cerca de 1% das gestações) é uma complicação grave que pode
levar à morte fetal por anóxia. O mais comum é que os nós se formem durante o parto
quando o feto passa através de algum laço.

NÓ VERDADEIRO EM CORDÃO UMBILICAL


Veia umbilical

Artéria umbilical
Cordão umbilical
Figura 10. Ilustração de um nó verdadeiro em cordão umbilical.
Fonte: Betty Ray/Shutterstock.com10.

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Um a cada cem neonatos possui uma artéria umbilical e uma veia ao invés de duas,
essa alteração está relacionada com anormalidades genéticas e pode estar associada
à incidência de problemas cardiovasculares do feto. A existência de apenas uma artéria
umbilical ao invés de duas pode ser detectada ainda no período gestacional através de
exames de ultrassonografia.

Artéria umbilical Geleia de Warthon

Veia umbilical
Figura 11. Anatomia do cordão umbilical.
Fonte: Betty Ray/Shutterstock.com11.

1.5. Circulação placentária


A circulação placentária envolve toda troca de substâncias que ocorre entre o corpo
materno e o feto e vai acontecer através da membrana placentária, uma membrana
muito delgada que é composta por tecidos extrafetais e que estará interposta entre
as circulações materna e fetal. Graças as vilosidades coriônicas, uma grande área de
superfície permite que essas substâncias sejam trocadas e é através das ramificações
das vilosidades, originadas das vilosidades-tronco, que vai acontecer o principal cami-
nho de troca entre mãe e feto.
Durante as primeiras 20 semanas de gestação a membrana placentária possui quatro
camadas, sendo elas o sinciciotrofoblasto, o citotrofoblasto, o tecido conjuntivo das
vilosidades e o endotélio dos capilares. Depois da vigésima semana, com o amadure-
cimento placentário, as trocas vão passar a ocorrer nas ramificações das vilosidades
que compõem o ocitotrofoblasto.
As células citotrofoblásticas vão sumir ao longo das grandes áreas de vilosidades,
mantendo-se somente as células sinciciotrofoblásticas. Em decorrência disso, a mem-
brana terá apenas três camadas na maior parte dos locais, ficando mais delgada em
alguns lugares. Nesses lugares de membrana mais delgada, o sinciciotrofoblasto fica
em contato direto com o endotélio dos capilares fetais formando a membrana placen-
tária vasculosincicial.

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Produtos residuais MEMBRANA PLACENTÁRIA Oxigênio e nutrientes

Dióxido de carbono Água

Água FETO
MÃE Carboidratos

Ureia Veias Aminoácidos


Artérias da

ESPAÇO INTERVILOSO
via umbilical endometriais
Ácido úrico Lipídios

Bilirrubina Eletrólitos

Outras substâncias Hormônios


Veia da via Artérias
umbilical espiraladas
Antígenos de hemácias endometriais Vitaminas

Hormônios Ferro

Oligoelementos

Substâncias nocivas

Algumas drogas Rubéola

Venenos Citomegalovírus
Monóxido de
Toxoplasma gondii
carbono
Figura 12. Trocas na circulação maternofetal pela placenta.
Fonte: Elaborada pela autora.

A circulação placentária fetal será composta por artérias umbilicais que levarão san-
gue pobre em oxigênio enquanto a veia umbilical carreará o sangue rico em oxigênio
e nutrientes.

Se liga!  Isso ocorre porque, assim como ocorre no coração em que


o sangue pobre em oxigênio sai pela artéria pulmonar e retorna rico em oxigênio
pelas veias pulmonares, é chamado de artéria tudo que possui um fluxo de saída
e de veia tudo que possui um fluxo de entrada, independente do conteúdo carre-
gado pelo sangue.

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No local em que se ligam cordão umbilical e placenta, as artérias umbilicais se
dividirão em várias artérias coriônicas que se ramificam na placa coriônica antes de
adentrarem as vilosidades coriônicas. Esses vasos vão formar uma teia extensa possi-
bilitando uma ampla área de superfície para troca de substâncias e metabólitos entre
a corrente sanguínea materna e a corrente sanguínea fetal.
O sangue da circulação materna entra no espaço interviloso através de cerca de 80 a
100 artérias espiraladas endometriais da decídua basal que passam através das fendas
da capa citotrofoblástica. É importante destacar que o sangue materno contido no es-
paço interviloso é considerado temporariamente fora do sistema circulatório materno.
O desenvolvimento adequado e crescimento do embrião/feto possui uma intrínseca
dependência de uma irrigação eficaz do sangue materno nas ramificações das vilosi-
dades. Problemas na circulação uteroplacentária resultam em hipóxia fetal, restrição
de crescimento intrauterino e se for mantida pode ocasionar morte fetal.

2. MEMBRANAS FETAIS

2.1. Introdução
As membranas fetais são responsáveis pela separação entre feto e o corpo materno
ao mesmo tempo que permite uma conexão que supra as necessidades do embrião/
feto através da mãe. Como já foi discutido, a conexão maternofetal é de fundamental
importância para o desenvolvimento e crescimento adequado do feto e precisa ser
cuidadosamente seletiva.

2.2. Córion
É a membrana fetal responsável pelo estabelecimento de uma rede vascular complexa
entre mãe e embrião entre a semana 3 e 4. Já abordado na parte de desenvolvimento
placentário, o córion se divide em duas partes: córion liso e córion viloso.
O córion liso é praticamente avascular e vai ter uma função protetora em junção
com as outras membranas. O córion viloso, por sua vez, vai compor a parte fetal da
placenta com suas vilosidades coriônicas que irão se projetar em direção ao espaço
interviloso permitindo a entrada da árvore de ramificação dos vasos fetais.

2.3. Âmnio e líquido amniótico


O âmnio é fino, porém resistente e forma um saco amniótico que será preenchido
por líquido amniótico circundando o embrião e posteriormente o feto. É a membrana

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mais interna, possuindo contato íntimo com o feto. O crescimento progressivo do
âmnio vai levar a obliteração da cavidade coriônica e cobrirá o cordão umbilical com
tecido epitelial.
Inicialmente uma parte do líquido amniótico é produzido pelo âmnio, mas a maior
parte é proveniente do tecido materno e do líquido intersticial que se difunde pela
membrana amniocoriônica na decídua parietal, mas com o avanço do desenvolvimento
embrionário o líquido passa a ser produzido também pelo trato urinário fetal que se torna
produtor da maior parte do líquido amniótico. É uma solução aquosa com materiais não
dissolvidos em suspensão, possuindo componentes orgânicos e inorgânicos em iguais
proporções. Metade dos componentes orgânicos é proteína e a outra metade divide-se
entre carboidratos, gorduras, enzimas, hormônios e pigmentos. Essa composição sofre
alterações durante o decorrer da gestação.
O líquido amniótico vai ser absorvido pelos tratos respiratórios e gastrointestinal do
feto, permitindo que se estabeleça um ciclo de renovação do líquido amniótico com
consequente equilíbrio das substâncias de proteção da pele. O líquido absorvido pelo
feto vai para a corrente sanguínea fetal e os produtos residuais atravessarão a mem-
brana placentária e chegarão no sangue materno do espaço interviloso. O excedente
de água presente no sangue fetal será excretado pelo sistema urinário fetal retornando
ao saco amniótico pelo trato urinário.
A quantidade de líquido amniótico se altera durante a gestação com o objetivo de
acompanhar as necessidades do feto em crescimento.

2.4. Vesícula umbilical


A vesícula umbilical é desenvolvida durante as primeiras 4 a 5 semanas de gestação
e se degenera até a 10ª semana, quando é reduzida a um vestígio de formato seme-
lhante a uma pera que possui em torno de 5mm de diâmetro e permanece conectada
ao intestino médio através do ducto onfaloentérico, ou saco vitelino, que precisa involuir
juntamente com a vesícula umbilical.
A vesícula umbilical executa diversas funções que a tornam essencial e em resumo
ela é a responsável por executar as funções fisiológicas do embrião até que os sistemas
estejam prontos para executá-las.
É responsável pela transferência de nutrientes para o embrião enquanto a circulação
uteroplacentária ainda está em desenvolvimento durante a segunda e terceira semanas,
assim como é no mesoderma extraembrionário e muito vascularizado que recobre a
sua parede é que ocorre o desenvolvimento das células sanguíneas até o início da
atividade hematopoiética do fígado em torno da sexta semana.
Além do mesoderma, o endoderma também participa diretamente do desenvolvimento
embrionário. É o endoderma da vesícula umbilical que vai dar origem ao epitélio traque-
al, pulmonar, dos brônquios e do canal alimentar. É no endoderma de revestimento da
parede vesicular onde surgem as células germinativas primordiais que irão se deslocar
para as gônadas onde serão diferenciadas em oogônias ou espermatogônias.

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Saiba mais!  O divertículo de Meckel é a anomalia congênita mais
comum do trato gastrointestinal e ocorre quando o ducto onfaloentérico não é
obliterado por completo, sendo mantido como um divertículo na porção ileal que
pode causar sangramentos, obstruções, diverticulite, perfurações ou um tumor.

2.5. Alantoide
Surge em torno do 16º dia como uma evaginação da vesícula umbilical, mais espe-
cificamente da parede caudal e se estende até o pedículo de conexão.
A partir da evolução da gestação a porção extraembrionária vai involuir enquanto a
parte interna vai constituir o úraco.
Uma parte do alantoide, o mesoderma, vai participar da formação dos vasos que
serão utilizados pela placenta. As artérias umbilicais são formadas pelos vasos san-
guíneos do alantoide.

Figura 13. Ilustrações do desenvolvimento e destino normal da alantoi-


de. Em A, um embrião de 3 semanas. Em B, um feto de 9 semanas.
Fonte: Moore et al7.

Saiba mais!  O ligamento umbilical mediano é a representação, nos


adultos, do que embriologicamente se chama úraco, que é a porção proximal do
divertículo do alantoide original que vai desde a bexiga até a região umbilical.

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Apesar de não ser diretamente funcional para embriões humanos é na parede do
alantoide que ocorre a formação de células sanguíneas no período entre a semana 3
e a semana 5.

2.6. Gravidez gemelar e membranas fetais


Gestações múltiplas possuem maiores riscos de mutações cromossômicas e mor-
bidade e mortalidade quando comparada à gestações únicas, mesmo com o avanço
tecnológico torne a gravidez gemelar cada vez mais comum devido ao acesso às
terapias de fertilidade, quanto maior o número de fetos, ainda temos um maior risco
progressivamente.
Gêmeos podem ser originados a partir de zigotos distintos e, portanto, serem dizi-
góticos ou serem originados a partir de um mesmo zigoto, chamados monozigóticos.
Essa origem vai impactar diretamente na formação das membranas fetais.
Os gêmeos dizigóticos não dividem o mesmo material genético e podem, inclusive,
ser de sexo diferente. No caso dos gêmeos dizigóticos, o funcionamento das mem-
branas fetais é individualizado, cada um possui seu âmnio e seu córion, sendo que os
córions e as placentas podem se fundir.
Derivados do mesmo zigoto, os gêmeos monozigóticos vão dividir o mesmo material
genético, sendo, portanto, muito parecidos em aparência e possuindo o mesmo sexo.
A divisão costuma ocorrer ainda na fase de blastocisto, na primeira semana, gerando
dois embriões, cada um com seu saco amniótico, mas crescendo dividindo o mesmo
saco coriônico e a placenta, chamada de gemelar diamniótica monocoriônica.
Não é comum, mas é possível que gêmeos originários do mesmo oócito apresentem
dois âmnions, dois córions e duas placentas como se fossem dizigóticos e a determi-
nação do tipo de gemelaridade é impossível de ser realizada apenas pela membrana.

DIZIGÓTICO MONOZIGÓTICO
Placentas Placentas
separadas compartilhada

Genetically Genetically
distinct (1/2) identical

Zygote
splits

Ovum
splits

Figura 14. Placenta em gêmeos dizigóticos e monozigóticos.


Fonte: Sakura/Shutterstock.com12.

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Líquido amniótico

Produz

Membrana
Saco coriônico amniocoriônica

Córion rugoso Córion liso Âmnio MEMBRANAS


FETAIS

Vesícula umbilical

Porção materna Porção fetal da


Alantoide
da placenta placenta

PLACENTA

Decídua basal

Decídua capsular

Decídua parietal

Endométrio

Fluxograma 1. Resumo da placenta e membranas fetais.


Fonte: Elaborado pela autora.

Placenta e membranas fetais   18


REFERÊNCIAS
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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[acesso em: 14 abr. 2022]. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/
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Sadler TW. Langman, embriologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,
2016. ISBN 978-8-5277-2916-1.
Townsend Jr CM, et al. Sabiston tratado de cirurgia. Tradução Alexandre Maceri Midão
et al. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015. ISBN 978-85-352-5767-0.

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