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Construção Histórica do Conceito de Seguridade Social

“Welfare State é, então, uma expressão cunhada pelos ingleses para designar
uma perspectiva nova de solidariedade social, qual seja: a sociedade se
solidariza com o indivíduo quando este se encontra em situação de risco
pessoal ou social. Os problemas sociais passam a ter caráter coletivo e, neste
sentido, ganha fôlego a idéia de Estado com forte papel de regulação social.
(...) “ (p.104)

“(...) final do século XIX, o desenvolvimento dos sistemas de proteção social


está associado ao contexto da Revolução Industrial e ao reconhecimento da
pobreza, entendida como conseqüência das mudanças ocasionadas nas
condições de vida e trabalho das populações e, por conseguinte, como questão
social a ser enfrentada pelo Estado (...)”( p.104)

“A despeito das diversas abordagens teóricas5 sobre a natureza do Welfare


State, é consenso que o crescimento das economias capitalistas avançadas e
a redefinição do papel do Estado criaram as bases para ampla oferta de
serviços públicos voltados para a proteção social (...)” (p.105)

“Boschetti (2003) demonstra que o termo seguridade social tem sido usado nos
Estados Unidos da América desde 1935, e na Europa desde o fim da Segunda
Guerra Mundial para fazer referência a um conjunto de políticas públicas de
corte social. (...)” (p107)

“Considerando a expressividade das circunstâncias históricas, Boschetti (2003)


destaca o fato de que o Welfare State, antes de ser uma concepção européia
de bem-estar, é, pode-se assim dizer, uma invenção inglesa propriamente dita.
Contudo, a maioria das análises sobre os sistemas de proteção social parece
demasiadamente genérica.” (p108-109)

“(...)Neste sentido, Boschetti (2003) destaca que Alemanha e França não


importaram o termo Welfare State para se referirem aos próprios sistemas de
proteção social, pois entendem as diferenças e especificidades de cada
experiência.(...)”(p109)

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“(...)com objetivo de comparar a origem dos sistemas de proteção nos três
países, vale reafirmar, em primeiro lugar, que a terminologia Welfare State está
associada, do ponto de vista da intervenção social do Estado, à experiência
inglesa, nos anos 40 do último século, de constituição de um sistema de
proteção social de cunho universalista. (...)” (p.109)

“(...)Os franceses valorizam bastante a historicidade do conceito, mas, de toda


forma, o conceito Etat- Providence se assemelha à idéia de Welfare State
porque dá ênfase ao papel do Estado interventor, tanto na economia quanto
nas questões sociais. (...) (p.110)

Breve Histórico das Políticas Sociais no Brasil Breve Histórico das


Políticas Sociais no Brasil

“(...) e o sistema de proteção brasileiro apresenta características fortemente


associadas à interdição de uma perspectiva de universalização da cidadania
que só foi revista, ao menos do ponto de vista legal, na Constituição de 1988,
com a adoção do conceito de seguridade social.(...)” (p.112)

A emergência da proteção social no Brasil

“(...) a emergente industrialização gera um conjunto de trabalhadores


organizados em sindicatos com grande poder de vocalizar suas reivindicações;
por outro, provoca, associada ao êxodo rural, uma situação na qual parcela
considerável de trabalhadores fica excluída do mercado formal, ocasionando
aumento da pobreza notadamente nas grandes cidades industriais.(...)” (p.113)

“Entre os anos 30 e 40 do último século, afirma-se, portanto, que em razão das


questões sociais anteriormente descritas, o sistema brasileiro de proteção
social se constrói assentado nos ‘modelos assistencial e de seguro social’(...)
“Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), em substituição às Caixas de
Aposentadorias e Pensões (CAPs); Legião Brasileira de Assistência (LBA);
Ministério da Educação e Saúde e o Serviço Especial de Saúde Pública (Sesp)
(Fleury, 2006).1” (p113)

”A rigor, esse modelo de previdência social promove uma dada hierarquização


social, em virtude de apenas uma parcela da população (somente as
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categorias inseridas no mercado de trabalho e reconhecidas legalmente pelo
Estado) ter acesso à proteção previdenciária.(...)” ( p115)

“(...) Cabe ressaltar que o financiamento tripartite (contribuições da União,


empregadores e empregados) criado por Vargas não é cumprido a risca, fato
que se configura na crescente dívida da União e dos empregadores com o
sistema previdenciário.(...)”(p.117)

“(...) as mudanças na previdência social brasileira não são fruto apenas das
pressões internacionais, pesando bastante o contexto político interno que se
inaugura com a queda do Estado Novo e a redemocratização do país, em
1945.(..)” ( p119)

A consolidação do sistema de proteção social no Brasil no pós-64

“(...) Tais condições antecedem o golpe militar de 1964, cujas características


centrais são o fechamento dos canais de participação dos trabalhadores e a
centralização das decisões políticas e administrativas, tudo em nome de uma
racionalidade técnica e do saneamento financeiro do Estado.(...)” (p.122)

”(...) mesmo numa circunstância de aumento dos custos da assistência médica,


o governo federal não altera as formas de financiamento da previdência social
– que continua tendo como principal fonte de recursos a contribuição dos
trabalhadores – e restringe ainda mais a sua forma de participação no custeio
da previdência, agora reduzida aos gastos administrativos.(...)” ( p.123)

“A primeira iniciativa é, então, a criação, em 1974, do Ministério da Previdência


e Assistência Social (MPAS), que define as diferentes atribuições dos
Ministérios da Saúde e Assistência e Previdência Social.(...) já o MPAS
responsabiliza-se pelo atendimento médico-assistencial individualizado.
Interessa notar que nesse contexto é revogado o dispositivo legal que define o
MS como a instituição responsável pela formulação da política nacional de
saúde.(...)” ( p.125)

A Constituição Federal de 1988 e a Inscrição da Seguridade Social no


Campo dos Direitos de Cidadania no Brasil Social no Campo dos Direitos
de Cidadania no Brasil
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“A Constituição brasileira de 1988 representou um marco importante na
consagração dos direitos sociais no país. Resultante de um intenso processo
de mobilização social que marcou a redemocratização da sociedade brasileira
nos anos 80(...)” (p.127)

“(...)A inclusão da previdência, da saúde e da assistência como integrantes da


seguridade social introduziu, conforme ressalta Fleury, a noção de direitos
sociais universais como parte da condição de cidadania, antes restrita apenas
aos beneficiários da previdência social.(...)” (p.129)

“Se avanços significativos podem ser computados no plano do reconhecimento


legal dos direitos de cidadania e no desenho das políticas sociais, o que se
observa, contudo, é que, passados mais de 15 anos da promulgação da
Constituição de 1988, a seguridade social no Brasil não foi ainda de fato
implantada.(...)” (p.133)

O Desmonte da Noção de Seguridade Social Brasileira: questões para


debate

“Outra justificativa para o chamado ‘rombo da previdência’ é a alteração do


padrão demográfico, já que o aumento da expectativa de vida da população
eleva o quantitativo de beneficiários da previdência sem o correspondente
aumento das contribuições.(...)” (p.139)

”A utilização dos recursos financeiros da seguridade para pagamento da dívida


e manutenção do superavit primário também é responsável pela tão propalada
‘crise da previdência(...)” (p.139)

“(...) o governo Lula inicia com promessas de fortes mudanças na área social,
principalmente no que se refere à área assistencial. A primeira iniciativa é a
criação do Ministério da Assistência e Promoção Social e do Gabinete de
Segurança Alimentar da Presidência da República.(...)”(p.142)

“A criação do MDS confere um novo estatuto à política de assistência, com


reforço da perspectiva de profissionalização da área. Isso significa que, pela
primeira vez na história da constituição da seguridade no país, há um

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movimento concreto para romper com o legado clientelista e assistencialista
que marca esta arena setorial.” (p.144)

Saúde e Seguridade Social: questões para debate

“(...)A partir de então, a atenção à saúde – e em especial a assistência médica


– deixa de ser uma prerrogativa exclusiva dos contribuintes da previdência
social e passa a ser reconhecida como direito universal.(...)” (p.145)

“Vale lembrar que a institucionalização do SUS e sua inscrição na Constituição


Federal de 1988 foram resultantes de uma intensa mobilização social ao longo
dos anos 80, envolvendo profissionais de saúde, movimentos sociais, partidos
políticos de orientação progressista, intelectuais e gestores da área da saúde.
(...)” (p.145)

“Durante o governo Collor de Mello, momento em que se iniciava a


descentralização da saúde e a efetiva implantação do SUS, o montante de
recursos destinados à saúde atingiu patamares ínfimos, só voltando a
recuperar-se parcialmente com a instituição da Contribuição Provisória sobre
Movimentação Financeira (CPMF)(...)” (p.147)

“O fato é que a implantação do SUS e a operacionalização de suas diretrizes


básicas – descentralização, integralidade da atenção e participação social49 –
têm remodelado o perfil da atenção à saúde historicamente consolidado no
país, provocando significativas alterações no seu desenho organizacional.(...)”
(p.148)

“(...) boom nos anos 90 da institucionalização de conselhos municipais de


saúde. A emergência destes conselhos está grandemente associada a
estratégias de incentivo por parte do MS, na medida em que a instituição
destas instâncias era condição necessária ao repasse de recursos financeiros
para os municípios.(...)” ( p.149)

“(...)O resgate do conceito de seguridade social teria assim um importante


potencial de mobilização política no sentido de garantir lutas conjuntas – entre
os setores que a integram – em defesa de avanços na área social e na
minimização da histórica subordinação da política social à política econômica.
(...)” (p.150)
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Referência bibliografia

MONNERAT,G.L & SENNA.M.A Seguridade Social Brasileira: dilemas e


desafios In: Morosini, M.V.G.C e Reis, J.R.F Sociedade, Estado e Direito a
Saúde Fiocruz/ Escola Politécnica de Saúde Joaquin Venâncio, 2007 ( p.103-
153)

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