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A EBD e Sua Influência Na Sociedade.

Carlos Kleber Maia

Na sociedade brasileira, neste início do século XXI, uma palavra tem sido apontada como solução ao
caos social: EDUCAÇÃO. Há problemas com a criminalidade? “A EDUCAÇÃO resolve”, dizem. As pessoas
dirigem imprudentemente? “Falta EDUCAÇÃO no trânsito”. Muitos jovens envolvidos nas drogas? “Só se
resolve com EDUCAÇÃO e não cadeia”. Vemos tanta miséria nas ruas, com crianças pedindo esmolas? “Lugar
de criança é na escola”. Um cidadão foi mal tratado por alguém? “Essa pessoa não tem educação” E por aí
vai. Tudo acaba sendo culpa da falta de EDUCAÇÃO. De fato, a educação tem exercido papel primordial no
desenvolvimento da sociedade atual.
A pergunta que surge, então, é esta: O que a educação cristã, exercida primordialmente através da
Escola Bíblica Dominical (EBD), tem a oferecer neste processo de melhoria da sociedade em que vivemos?
Em que ela pode contribuir para influenciar positivamente o mundo que nos cerca? Certamente há muita
coisa que a EBD pode fazer para exercer o seu papel de agente transformador da sociedade.
Podemos verificar esta influência social da EBD deste a sua criação, em 1780. Aliás, foi com o
propósito de transformar a sociedade e por causa desta necessidade é que foi criada a escola dominical.

A História da EBD

A Escola Dominical do nosso tempo nasceu da visão de um homem, Robert Raikes (14/09/1735-
05/04/1811), que, compadecido com as crianças de sua cidade, quis dar-lhes um novo e promissor
horizonte.
Raikes era o editor do jornal da família, o Diário de Gloucester e se interessava pela reforma prisional
inglesa, por causas das condições terríveis a que os presos eram submetidos e acreditava que a solução
estava na transformação dos indivíduos pela educação. Certo dia, procurando um jardineiro no bairro de
Sooty Alley, encontrou um grupo de crianças maltrapilhas brincando na rua. A esposa do jardineiro disse,
então, que aos domingos a situação era pior, pois as crianças que trabalhavam nas fábricas, de segunda a
sábado, durante muitas horas, ficavam desocupadas nesse dia, quase abandonadas, passando o tempo
brincando, brigando e aprendendo toda espécie de vícios. Elas extravasavam toda sorte de violência nesse
dia. Essas crianças, constatou Raikes, estavam a um passo do mundo do crime e ele chegou a ver o destino
de muitas delas, ao visitar as prisões de Gloucester.
Raikes resolveu estabelecer uma escola gratuita para esses meninos de rua. Então, contratou uma
equipe de quatro mulheres do bairro para lecionar. Com a ajuda do Rev. Thomas Stock, ministro anglicano,
Raikes pôde logo reunir cem crianças nesta escola dominical. Seu objetivo principal não era apenas ensinar a
Bíblia, mas alfabetizar os alunos e ministrar aulas de religião com o propósito de reformar a sociedade. O
objetivo último era modificar-lhes o caráter usando os ensinamentos bíblicos.
Assim, a EBD nasceu como um instituto bíblico infantil, operando de forma independente das igrejas,
alfabetizando e ensinando Bíblia às crianças carentes. As aulas começavam às 10 horas da manhã e iam até
as duas da tarde, com lições de matemática, história e inglês, com um intervalo de uma hora para o almoço.
Eles eram levados então à igreja para serem instruídos no catecismo até as 17h30min.
Depois de um período experimental, Raikes divulgou suas ideias e os resultados em seu jornal, no dia
3 de Novembro de 1783, data em que se comemora, na Grã-Bretanha, o dia da Fundação da EBD. Esta
experiência foi transcrita em outros jornais e líderes religiosos tomaram conhecimento do movimento que
se espalhava.
A taxa de criminalidade de Gloucester caiu, com o advento da EBD de Raikes, de forma que em 1792
não houve um só caso julgado pela comarca de Gloucester. Seu trabalho foi saudado com entusiasmo, e em
breve, EBDs já estavam sendo criadas em todo o Reino Unido e exportadas para os Estados Unidos. Seu
trabalho foi assessorado pelo comerciante William Fox (1736-1826), que chamou Raikes para formar uma
associação para promoção e criação de escolas dominicais. Foi criada, então em 1785, a Sociedade da Escola
Dominical da Grã-Bretanha. Essa sociedade foi ajudada por muitos filantropos, podendo abrir cerca de
trezentas escolas dominicais, suprindo-as com livros, material didático e professores. Em 1787, 200 mil
crianças eram alunas da EBD em toda a Inglaterra. Em 1788 a EBD já possuía, só na Inglaterra, mais de 250
mil alunos matriculados.
Houve, no entanto, uma forte oposição ao movimento de Raikes, que era considerado por alguns
líderes religiosos como um movimento diabólico, porque era aparte das Igrejas e dirigido por leigos. O
Arcebispo de Canterbury reuniu os bispos para considerar o que deveria ser feito para exterminar o
movimento. Chegou-se a pedir que o Parlamento, em 1800, aprovasse um decreto para proibir o
funcionamento da EBD. Achavam que este movimento levaria à desunião da Igreja e que profanava “o dia do
Senhor”. Tal decreto nunca foi aprovado. Em 1802, Raikes se aposentou, e, em 1811, após um ataque de
coração, veio a falecer. Neste ano, 400 mil alunos estavam matriculados nas diversas escolas dominicais
britânicas. Nesse ano ocorreu a divisão em classes, possibilitando alfabetização de adultos.
Nos EUA, a primeira EBD reconhecida foi a fundada por William Elliot em 1802, em sua fazenda, em
Oak Grave, no condado de Accomac, Virgínia. No começo do século XIX, foram fundadas muitas EBDs nos
mais diversos lugares dos EUA e o crescimento delas foi nada menos que fenomenal. Várias uniões formais
de Escolas Dominicais foram organizadas, para ensino tanto de crianças quanto de adultos. Não demorou
para que as igrejas evangélicas entendessem que era necessário ensinar a Bíblia a seus membros, em regime
semanal, o que poderia ser feito, através da EBD. Em 1824, a União Americana de EBD contava com escolas
em 17 dos 34 estados americanos então existentes. Mesmo assim, a EBD continuava nas mãos de leigos em
sua maioria, embora já contassem com profissionais do magistério então.
A partir de 1820, os propósitos das EBDs americanas passaram a ser instrução e evangelismo; elas
transmitiam valores cristãos e o espírito democrático da nova nação. Era um trabalho não denominacional
ou, como se dizia na época, uma “associação voluntária”, reunindo pessoas de diferentes igrejas. Em 1824
foi fundada a União Nacional de EBD, que organizou os líderes, publicou literatura e criou milhares de
escolas no interior do país. Na mesma época, muitas denominações começaram a criar as suas próprias
uniões de escolas dominicais.
Até a década de 1870, existiram dois tipos de EBD: (a) missionárias, que evangelizavam crianças em
áreas rurais e bairros pobres das grandes cidades; (b) eclesiásticas, que educavam os filhos dos membros das
igrejas. No final do século XIX, 80% dos novos membros ingressavam nas igrejas através da EBD.
Assim, vemos que, originalmente, a EBD foi criada para ser agente transformador da sociedade,
transformando as pessoas, pelo evangelho de Cristo e pela educação pessoal. Hoje, contudo, a
evangelização deixou de ser um elemento primordial e passou a ser secundário na EBD, mas ela pode voltar
a ser o que era: um projeto evangelístico e discipulador.

Como a EBD pode transformar a sociedade

Através da Evangelização e Discipulado – A EBD pode ser um local onde a evangelização deve ser levada a
sério por todas as classes, pois o ensino bíblico transforma as pessoas e estas, transformadas, transformarão
a sociedade. Evangelizar é uma ordem do Senhor à sua igreja (Mc 16.15), que deve ser cumprida por todos
os crentes. O ensino da Palavra de Deus não tem apenas o objetivo de informar, mas o de transformar vidas:
transformar não crentes em crentes e crentes em verdadeiros seguidores de Cristo, que levam outros a
segui-lo também. Muitos alunos da EBD não tem esta consciência evangelizadora, ou não colocam isto em
prática na EBD. A maioria também não discipula novos convertidos, pois credita este papel a um
departamento ou a uma classe específica da EBD.

Ensinando os valores cristãos – Nestes últimos dias, há um verdadeiro ataque aos princípios da “moral
cristã”, notadamente contra a família. Dissemina-se a prática do divórcio, ataca-se violentamente a
instituição do casamento, com a legalização e aumento crescente das uniões sem casamento entre as
pessoas, sem se falar na chamada “liberação sexual”, que deu guarida e conivência a todo o tipo de prática
sexual condenada pelas Escrituras Sagradas, com especial enfoque no homossexualismo. E por falar em
homossexualismo, antes era um assunto que gerava polemica e rejeição. Todavia, a TV e o meio artístico,
como formadores de opinião tanto para o bem quanto para o mal, colocaram homossexuais em programas e
novelas, que são vistos por milhões de pessoas, difundindo a ideia de que ser homossexual é perfeitamente
normal, e não uma inversão de valores. Dessa forma, com o afrouxamento moral e das convicções antes
tidas por certas, alarga-se a permissividade social e moral.
Esta permissividade no campo da família atingiu a sociedade como um todo, até porque a formação das
gerações futuras ficou completamente comprometida, ante a instabilidade surgida com a multiplicidade de
casamentos, com as uniões informais e com o aumento da promiscuidade sexual, que leva a outros pecados,
como a prática do aborto.
A Igreja existe para anunciar o Evangelho, para proclamar a verdade e, como tal, não pode, em
absoluto, se omitir quando medidas, atos e decisões forem tomadas em desacordo com a sã doutrina, que
venham desestimular os valores cristãos, mas deve exercer seu papel de transformação da sociedade
ensinando os valores morais e éticos cristãos e formando genuínos discípulos de Cristo, que vivam de acordo
com os valores do Reino de Deus, usando para isto sua principal reunião de ensino, a EBD. Muitos cristãos
tem na EBD sua principal fonte de ensino cristão e ela precisa estar consciente de seu papel apologético e
preventivo contra as heresias e todos os ataques à doutrina cristã.
Ensinar é uma ferramenta para que a igreja cumpra o plano de Deus. Ele concede a esta os dons
espirituais para capacitá-la a cumprir esta missão. O ensino na igreja é uma atividade de primeira linha, com
importância profilática e estratégica. Não podemos investir apenas em “pronto-socorro”, mas muito mais
em “ambulatório” de almas, “vacinando-as” contra os males pregados pelo mundanismo.

Pela Ação Social – A proclamação do evangelho não está restrita ao aspecto verbal, mas inclui ações
concretas que expressem o amor de Deus pelas pessoas (Tg 2.14-17; 1 Jo 3.16-18). A pregação do Evangelho
torna-se mais real quando demonstrada pelo serviço cristão que é motivado pelo amor ao próximo.
A EBD pode realizar atividades de assistência social, com serviço voluntário, arrecadação e
distribuição de materiais (alimento, brinquedos, gêneros de primeira necessidade, etc) e projetos que
atendam às necessidades básicas dos indivíduos e da sociedade (limpeza de áreas públicas, melhoria de
condições de habitação, etc). Muitas vezes realizamos obras de ação social apenas como um modo de atrair
as pessoas para ouvirem a pregação do evangelho, sem estarmos interessados em realmente atender às
suas necessidades materiais. Encontramos na Bíblia muitas passagens nos advertindo para atender a estas
necessidades como demonstração de amor, não apenas como uma “isca” para a evangelização (Mt 14.15,16;
25.34-40; Rm 12.20).

Como Meio de Capacitação do Cidadão – A EBD deve promover uma educação religiosa integral,
preparando os crentes para uma vida equilibrada, dentro e fora da igreja. Ela os prepara para conhecer a
Palavra de Deus, saber a Sua vontade e cumpri-la (compreensão teológica). Também os habilita a cumprir a
sua missão como igreja do Senhor, alcançando a comunidade (compreensão social). Ainda os capacita para o
ministério cristão, utilizando os dons e talentos para o trabalho no Reino de Deus (compreensão ministerial)
e ainda os prepara para ter uma vida equilibrada na família e no trabalho (compreensão existencial).
O conteúdo aplicado na EBD oferece aos crentes uma formação ética e teológica, com conhecimento
sobre cultura geral, história, liderança e outras áreas, de forma a complementar o ensino geral e dar aos
crentes uma capacitação para viverem como cristãos e cidadãos destacados na sociedade, com maior
compreensão do propósito e significado de sua vida.
A EBD é um ambiente de capacitação dos seus alunos e professores, dando-lhes oportunidade de
desenvolver seus talentos e treinando-os nas habilidades de comunicação e no exercício de seus dons, além
de formar cidadãos comprometidos com Cristo e seu evangelho.

Conclusão

A EBD têm muitas maneiras de alcançar a sociedade em que está inserida a igreja, promovendo,
como sal da terra e luz do mundo, a transformação dos indivíduos, a preservação dos valores morais e éticos
do reino de Deus, ajudando aos carentes e capacitando os crentes a serem melhores cidadãos da terra e do
céu.
Carlos Kleber Maia é casado com Dione e têm dois filhos: Álvaro e Diana. Pastoreia atualmente a
congregação da Assembleia de Deus no bairro de Cidade Satélite, em Natal/RN. Graduado em Teologia com
Especialização em Teologia do Novo Testamento, é ministro da IEADERN.

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