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John Wesley e o Movimento Metodista

Reverendo Natanael Garcia Marques

"Se teu coração é como meu, dá-me tua mão." - John Wesley

Imagine um país numa profunda crise social, operários e mineiros trabalhando 16 horas
por dia por um salário de fome.

Imagine milhares de crianças em idade escolar, trabalhando e morrendo de chagas e


frio.

Imagine, por outro lado, uma casta de nobres a quem se outorgou o poder sobre os
meios de produção e sobre seres humanos...e sobre todos esses, o poder de conceder e
privar todos os seres viventes dos meios de subsistência: direito único do Rei...

Nesse contexto foi que surgiu o Movimento Metodista. Deu-se na Inglaterra, no começo
do século XVIII, quando um grupo de estudantes da Universidade de Oxford, sob a
liderança dos irmãos e professores John e Carlos Wesley, passaram a se reunir para o
cultivo da piedade cristã, através da leitura da Bíblia, da prática da oração, do jejum, da
visita aos presos e aos enfermos. João Wesley iniciou o Metodismo com o intuito de
fortalecer e renovar o espírito cristão daqueles que comungavam junto à religião oficial
Anglicana. Esse grupo, conhecido inicialmente como "Clube Santo", marcou sua
identidade pelo método: dias fixos para praticar o jejum, hora certa para a leitura da
Bíblia e oração, dia de visitar os presos, etc...Por causa dessa organização, esse grupo
foi "apelidado" de Metodistas, quer dizer, aqueles que têm método.

Profundamente comprometido com os fundamentos da fé Cristã, John Wesley dedicou


todos os dias de sua vida aos estudos da Bíblia, relacionando-os a sua própria
experiência com Cristo. Por isso sua teologia é uma experiência de Deus, antes de um
"entendimento" deste. Para ele o amor e a misericórdia são inseparáveis do viver santo.

"O evangelho de Cristo não conhece religião, que não seja religião social; Não conhece
santidade, que não seja santidade social.". (John Wesley)

John Wesley tentou sempre vivenciar na prática o que dizia. Esse compromisso o levou
a renunciar aos poucos trocados que tinha para se aquecer no inverno, visando pagar
uma professora que educava crianças de rua.

John Wesley registrou em seu diário, na data de 24 de maio de 1738, a experiência


religiosa de ter seu coração estranhamente aquecido, ou seja, uma manifestação
emocional sinalizadora de sua comunhão com Deus. Essa data tem servido como
referência para os metodistas, em geral, por demonstrar que a integração entre
religiosidade individual e desenvolvimento de ações concretas na sociedade é entendida
como a proposta de Deus para sua Igreja.

O envolvimento do metodismo com as questões relevantes da sociedade é uma marca


que o acompanha desde seu início. A humanização dos presídios, o combate à
escravidão, a luta por salários dignos para os operários, o fornecimento de ensino básico
para as crianças pobres, distinguiram os metodistas quando ocorreu a assim chamada
Revolução Industrial, na Inglaterra.

Por ter surgido num ambiente universitário, o metodismo compreendeu cedo a


importância de se promover a educação como instrumento para a melhoria da qualidade
de vida, tanto do indivíduo quanto da sociedade. Assim é que, em 1748, John Wesley
fundou a Kingswood School, que foi a primeira expressão formal metodista de seu
cuidado por atender às necessidades educacionais das crianças.

Várias famílias que se instalaram nas 13 Colônias da América do Norte, levaram os


valores do metodismo para a terra que veio a ser os Estados Unidos da América.
Quando estes conquistaram a sua independência política, acharam por bem se
desvincular também da chefia religiosa exercida pelo monarca britânico. Assim foi
criada a Igreja Metodista Episcopal, em 1784. Na Inglaterra, somente após a morte de
John Wesley, o metodismo se constituiu como denominação independente em relação à
Igreja Anglicana.

Os primeiros metodistas que vieram ao Brasil foram os missionários norte americanos


Fountain Pitts, em 1835, e Justin Spaulding, em 1836. No entanto, essa primeira
tentativa de estabelecimento em terras brasileiras não foi coroada de sucesso. Apenas a
partir de 1867, novos missionários foram enviados, marcando uma nova época e a
certeza de que o metodismo veio para ficar. Escolas passaram a ser criadas.
Primeiramente em Piracicaba - SP, depois em Juiz de Fora - MG, Rio de Janeiro - RJ, e
em várias cidades do Rio Grande do Sul, pelo Brasil a fora, enfim. A compreensão
daqueles homens e mulheres era que, pela via da educação, o metodismo estaria
contribuindo para a formação das elites brasileiras. Estas, por sua vez, estenderiam
aquela influência a outras parcelas da sociedade.

No dia 24 de maio se comemora o Dia do Metodismo Mundial em alusão a experiência


religiosa de John Wesley que aconteceu na Rua Aldersgate, em Londres quando ele
sentiu o "coração estranhamente aquecido". Certamente a emoção fez parte dessa
experiência, nesse momento, segundo ele, houve uma íntima ligação entre sua
experiência religiosa e a sua doutrina.

Daquele tempo pra cá o Movimento (hoje Igreja) Metodista cresceu ao redor do mundo,
sua doutrina está mais próxima do coração e sua ação nutre-se na certeza da salvação.
Sua mensagem vem da comunhão de todos os corações e vai, junto ao Evangelho,
trabalhar para a construção do Reino de Deus.

Bibliografia: REILY, Duncan Alexander. A influência do metodismo na reforma social


na Inglaterra no século XVIII.. s.l.: Junta Geral de Acao Social da Ig. Metod., 1953.
18p., il. ______. Fundamentos doutrinários do metodismo brasileiro. Sao Paulo:
Exodus, 1997. 56p. ______. Igreja metodista em 3 tempos. s.l.: COGEIME, s.d. 2p.
______. Metodismo brasileiro e wesleyano: Reflexões históricas sobre a autonomia. S.
Bernardo Campo: Metodista, 1981. ______. Momentos Decisivos do Metodismo, São
Bernardo do Campo, Imprensa Metodista, 1991.

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