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Besouro Mangangá

Manoel Henrique Pereira (Santo Amaro - Ba, 1895 — Santo Amaro - Ba, 1924), mais


conhecido como Besouro Mangangá foi um capoeirista baiano que no início do século
XX tornou-se o maior símbolo da capoeira baiana. Sua fama chegou ao nível nacional a
partir dos anos 1930 e, com a expansão da capoeira para outros continentes,
internacionalizou-se.[1]

História
Besouro Mangangá era filho de Maria José e João Matos Pereira, nascido em 1895, e foi
assassinado no arraial de Maracangalha, local que foi imortalizado pelas letras de Dorival
Caymmi, na Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro onde faleceu em 1924. [2]Era
natural do recôncavo baiano e viveu naquela região, em um período nas florescências dos
canaviais em Santo Amaro, tinham importante papel no cenário produtivo, através dos
saveiros pelo rio subaé levavam as mercadorias que iam e chegavam até o cais de
Salvador.[3]
Manoel Henrique que, desde cedo, aprendeu os segredos da capoeira com o Mestre Alípio
no Trapiche de Baixo, foi batizado como Besouro Mangangá por causa da crença de
muitos que diziam que quando ele entrava em alguma embrulhada e o número de inimigos
era grande demais, sendo impossível vencê-los, então ele se transformava em besouro e
saía voando.[4][5] Várias lendas surgiram em torno de Besouro para justificar de seus feitos,
a principal atribui-lhe o “corpo fechado” e que balas e punhais não podiam feri-lo. Devido
aos seus supostos poderes Besouro Mangangá tornou-se um personagem mitológico para
os praticantes da capoeira, tendo sua identidade relacionada aos valentões, capadócios,
bambas e malandros.
Especula-se que não gostava da polícia e que teria praticado de vários confrontos com as
força policiais, às vezes levando vantagem nos embates, porém, segundo Antonio Liberac
Cardoso Simões Pires[6]: “Suas práticas não podem ser associadas ao banditismo, pois
Besouro sempre se caracterizou como um trabalhador por toda sua vida, nunca sendo
preso por roubo, furto ou atividade criminal comum. Suas prisões foram relacionadas às
ações contra a polícia, principalmente no período em que esteve no exército”. Algumas
documentações históricas registram os confrontos entre Besouro Mangangá e a polícia,
como o ocorrido em 1918, no qual Besouro teria se dirigido a uma delegacia policial no
bairro de São Caetano, em Salvador, para recuperar um berimbau que pertencia ao seu
grupo. Com a recusa do agente em devolver o objeto apreendido, Besouro partiu para o
ataque com ajuda de alguns companheiros. Eles não conseguiram recuperar o berimbau
desejado, pois foram vencidos pelos policiais, os quais receberam ajuda de um grupo de
moradores locais[7]:
Aos dez dias de setembro de mil novecentos e dezoito,
nesta capital do estado da Bahia (…) Argeu Cláudio de Souza,
com vinte e três anos de idade, solteiro, natural deste estado,
praça do primeiro batalhão da brigada policial (…)
foi interrogado pelo doutor delegado que lhe perguntou o seguinte:
como foi feita a agressão de que foi vítima no posto policial
de São Caetano? (…) Ali apareceu um indivíduo mal trajado,
e encostando-se a janela central do referido posto,
durante uns cinco minutos, em atitude de quem observava alguma coisa,
que decorrido este tempo, o dito indivíduo interpelando o respondente,
pediu-lhe um berimbau que se achava exposto juntamente com armas
apreendidas….[8]
Estilo de luta
A capoeira praticada no recôncavo baiano no final do século XIX e início do século
XX apresentava aspectos próprios, tinha em seus traços lúdicos a inserção de
instrumentos de cordas - possivelmente houve a mescla entre a prática do samba e da
capoeira - e nos treinamentos de luta envolvia técnicas em torno do uso de armas
como a faca e a navalha; o chapéu era um importante elemento na defesa das
investidas de mão armada.[9] Os praticantes de capoeira desse período desenvolveram
uma técnica de ataque com faca e navalha que consistia no fato do lutador amarrar
sua arma e um elástico e treinar o ato de lançar a arma, ferir o adversário e retornar a
mão novamente.[10]

Morte de Besouro
As circunstâncias de sua morte são contraditórias. Há versões que afirmam que
Besouro morreu em um confronto com a polícia; outras, que foi traído, com um ataque
de faca pelas costas. Esta última é muito cantada e transmitida oralmente
na capoeira conta que um fazendeiro, conhecido por Dr. Zeca, após seu filho Memeu
ter apanhado de Besouro, armou uma cilada. O fazendeiro tinha um amigo que era
administrador da Usina de Maracangalha, de nome Baltazar. Besouro não sabia ler,
então mandaram uma carta para Baltazar, pelo próprio Besouro, pedindo ao
administrador que desse fim dele por lá mesmo. Baltazar recebeu a carta, leu, e disse
a Besouro que aguardasse a resposta até o dia seguinte. Besouro passou a noite por
lá; no outro dia foi buscar a resposta. Quando chegou na porta foi cercado por uns 40
homens, que o iam matar. As balas nada lhe fizeram; um homem o feriu a traição com
uma faca de tucum (ou ticum), um tipo de madeira, tida como a única arma capaz de
matar um homem de corpo fechado.[4][5]
O atestado de óbito relata da seguinte forma:
Manoel Henrique, mulato escuro, solteiro, 24 anos, natural de Urupy,
residente na Usina Maracangalha, profissão vaqueiro, entrou no dia 8
de julho de 1924 às 10 e meia horas do dia, falecendo às sete horas da noite,
de um ferimento perfuro-inciso do abdômen.[11]

História de besouro Mangangá -


(Manuel Henrique Pereira 1897-
1924)
- Categories : Capoeira News

Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa o homem apelidado de besouro


mangangá, realmente existiu.  Infelizmente muito pouco se sabe sobre essa figura envolta
em lendas e mistérios que permanecem desde seu nascimento até a sua morte e que os
mais velhos ainda lembram em suas histórias.

Nascido em 1897 em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, filho dos ex-escravos João
Grosso e Maria Aifa, Manuel Henrique Pereira (seu nome de batismo), teve toda sua vida
permeada por muito misticismo. Não se sabe quando, mas iniciou seus primeiros passos
na capoeira com Mestre Alípio, também ex-escravo, mais precisamente na Rua do
Trapiche de Baixo. Diziam que besouro era um negro alto e muito forte e na capoeira
possuía uma agilidade sem igual. O que provavelmente fez com que recebesse o apelido
de ”besouro”, ou “besouro mangangá"  (gênero de besouro venenoso).  

Outros dizem que seu apelido se deve ao fato de uma vez tendo armado uma confusão, e
vendo-se cercado de policiais, besouro simplesmente “sumiu”. Um policial atordoado com
a cena, disse para o parceiro: “Você viu pra onde foi aquele negro? E o outro respondeu:
“Vi sim. Ele virou um besouro e saiu voando”. Era exímio jogador de capoeira, assim como
no manejo do facão e da navalha. Incluindo o jogo de “santa-maria”. Jogo violento onde os
capoeiristas jogavam com uma navalha presa aos pés.

Esses são somente alguns dos “causos” contados sobre a figura baiana.

Muitos também afirmam ter algum parentesco com o capoeirista, mas somente um tem
isso comprovado. Rafael Alves França, (1917 – 1983) também conhecido como Mestre
Cobrinha Verde, era seu primo legítimo. Iniciado na capoeira com seu primo aos 4 anos de
idade, sob uma única condição: Nunca ganhar dinheiro com a capoeira. Promessa que foi
mantida durante sua vida inteira.

Muitas são as lendas que permeiam a vida de besouro. Diziam que quando acontecia
alguma confusão, o capoeirista se transformava num besouro e saia voando, ou então se
transformava simplesmente num toco de pau. Diziam também que tinha o corpo fechado,
que possuía poderes mágicos e que sabia orações milagrosas.

Apesar da sua fama de valentão - nunca se deu bem com a polícia - os mais antigos
contam que besouro, não suportava injustiças, era um defensor do povo pobre e fazia
justiça com as próprias mãos. Sempre que via alguma coisa desse tipo, ele se metia e
defendia o oprimido. Seguem então aqui algumas historias que os antigos da Bahia ainda
contam.

Soldado do exército

Besouro teria servido ao exército em determinada época de sua vida. Certo dia viu entre
os objetos confiscados pelo exército um berimbau, pois a capoeira ainda era proibida
naquela época. Besouro, que já era iniciado na capoeira, tentou com sua patente de
soldado, resgatar o instrumento, mas não teve êxito, pois seu superior alegou que aquilo
era uma ferramenta de vagabundos e vadios e que um soldado nada tinha que ver com o
instrumento. O resultado foi uma briga entre besouro e seu superior que precisou de vários
outros soldados para prender besouro e deixá-lo em observação. Depois disso besouro foi
expulso do exército e passou a trabalhar nas fazendas do recôncavo baiano.

Presente de amigo

Era costume besouro presentear seus amigos mais chegados com penas de pavão
arrancadas dos chapéus dos valentões do recôncavo baiano
Hoje é feriado

Diziam que besouro era tão respeitado que às vezes chegando à cidade, mandava que os
comerciantes fechassem as portas, pois “ele” havia decretado feriado. E ai de quem não
obedecesse.

A barraca de amendoim

Certo dia passeando no mercado, besouro resolve experimentar um amendoim em uma


das barracas, mas recebeu do comerciante, um tapa na mão e ainda falou que estaria
proibido de pegar os amendoins. Besouro então disse para o comerciante:

- Você não sabe com quem está falando.

Então besouro virou para os clientes do mercado e simplesmente convidou a todos para
se servirem dos amendoins do comerciante. Sabendo então de que se tratava do temido
besouro mangangá, o comerciante ficou assistindo aos clientes comerem toda sua
mercadoria. Quando acabaram os amendoins, besouro perguntou quanto devia e pagou
para o comerciante.

Quebrou para São Caetano

Uma história contada pelo primo Mestre Cobrinha Verde era a de que uma vez besouro
conseguiu emprego em uma usina em Santo Amaro, onde o patrão tinha fama de não
pagar aos funcionários. Diziam que quando era chegado o dia do pagamento o patrão
simplesmente dizia que o salário “quebrou pra São Caetano”. Essa era uma expressão
usada na região que significava que não haveria salário. Além do mais dizia que quem
contestasse o patrão era surrado e amarrado a uma árvore até o final do dia. Besouro já
tendo tomado conhecimento disso, ficou esperando sua vez de receber. Quando foi
chamado, o patrão disse a frase: seu salário “quebrou pra São Caetano”. Mas acontece
que ele não estava falando com qualquer um. Besouro pegou o patrão pelo cavanhaque e
disse “Pague o dinheiro de Besouro Cordão de Ouro. Paga ou não paga?” O patrão
morrendo de medo pagou besouro que pegou o dinheiro e foi embora.

No pé da cruz

Certa vez besouro, depois de tomar sua arma, obrigou o soldado a beber uma grande
quantidade de cachaça no Largo da Santa Cruz, um dos principais de Santo Amaro. O
soldado, depois disso se dirigiu até a delegacia e comunicou o ocorrido ao seu superior, o
cabo José Costa, que decidiu mobilizar dez homens para capturar besouro morto ou vivo.
Besouro vendo os soldados chegando, saiu do bar e se encostou a uma cruz que havia no
largo e com os braços abertos  disse que não se entregava. Então os soldados abriram
fogo e só pararam quando besouro estava caído no chão. Cabo José Costa chegou perto
do corpo e deduziu que estava morto, quando de repente, besouro se levantou, tomou sua
arma e ordenou que levantasse as mãos, depois mandou que os outros soldados fizessem
o mesmo e mandou que todos fossem embora e cantou os seguintes versos:

Lá atiraram na cruz/ eu de mim não sei/ se acaso fui eu mesmo/ ela mesmo me perdoe/
Besouro caiu no chão fez que estava deitado/ A polícia/ ele atirou no soldado/ vão brigar
com caranguejos/ que é bicho que não tem sangue/ Polícia se briga/ vamos prá dentro do
mangue.                                  

A estranha morte de besouro

Muitas também são as histórias sobre a sua morte, mas uma delas é até hoje cantada em
todas as rodas de capoeira.

Besouro havia conseguido trabalho como vaqueiro na fazenda do Dr. Zeca, fazendeiro da
região. Dr. Zeca tinha um filho, cujo apelido era Memeu, que tinha fama de valentão e
certa vez besouro teve uma discussão com o filho de fazendeiro e acabou batendo nele.
Temendo pela vida do filho, Dr. Zeca procurou logo acabar com besouro. Para isso,
mandou que besouro fosse trabalhar em outra de suas fazendas. Mais precisamente na
fazenda de Maracangalha.  Mas primeiro entregou uma carta a besouro que deveria ser
entregue por ele ao administrador da fazenda. Mal sabia ele que aquela carta era a sua
sentença de morte. A carta mandava simplesmente que o portador fosse morto por ali
mesmo. Besouro, que era analfabeto, nada sabia sobre o conteúdo da carta achando se
tratar de uma simples recomendação. Quando o administrador recebeu a carta, mandou
que besouro esperasse até o dia seguinte para saber a resposta e que esperasse ali
mesmo na fazenda. Assim no dia seguinte, besouro ao se apresentar foi cercado por
quarenta homens, que abriram fogo contra ele mas as balas nada fizeram. Então um
homem conhecido como Eusébio da Quibaca, provavelmente conhecedor das
“mandingas”, atacou besouro pelas costas com uma faca de “tucum”, faca feita da madeira
de uma árvore que dizem ter poderes mágicos e que era a única coisa capaz de ferir um
homem de corpo fechado. Besouro morreu jovem aos 27 anos de idade, no dia 8 de julho
de 1924, mas deixou um legado vivo até hoje. Contam ainda que besouro mesmo ferido
conseguiu fugir de canoa e chegar até a Santa Casa de Misericórdia em Santo Amaro,
mas devido ao ferimento não resistiu. E o mais incrível. Consta um documento nos autos
do processo (PEREIRA 1920 –1927: 21) movido por Caetano José Diogo contra Manoel
Henrique dizendo:

Besouro é Manoel Henrique Pereira - vaqueiro, mulato escuro, natural de Urupy, residente
na usina de Maracangalha; dava entrada na Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro
da Purificação – Bahia, com um ferimento perfuro-inciso do abdômen. Veio a falecer no dia
8 de julho de 1924 às 7 horas da noite, conforme registro na folha 42 v. do livro n° 3, linha
16, leito 418, de entrada e saída de doentes.

Existem tantas outras histórias sobre como aconteceu a morte de besouro, seria
necessário uma postagem inteira dedicada a esse assunto, mas o mais importante é que
devemos ter besouro como um herói brasileiro. Um homem que com sua própria força
sempre lutou contra as injustiças praticadas contra um povo menos favorecido.
 Suas proezas são lembradas em todas as rodas de capoeira em suas várias cantigas.
Suas lendas são contadas e cantadas até os dias de hoje pelos mais antigos mestres da
capoeira na Bahia.

Existem também, muitas outras lendas sobre besouro, muitas delas já caíram no
esquecimento ou se perderam no tempo. E em meio à contradições é que a figura de
besouro continua viva não só para os jogadores de capoeira, mas também na cabeça de
todos os amantes da cultura de nosso país.

Quilombo
Quilombo (também chamada de Comunidade remanescente de Quilombo) é o nome
dado aos espaços e as comunidades criadas por populações que se formaram a partir de
situações de resistência territorial, social e cultural no Brasil, com funcionamento baseado
na cultura e tradição (normalmente em comum) das pessoas que neles habitavam;
[1]
 surgiram no período colonial formadas por pessoas negras escravizadas, que fugiam em
busca de liberdade e resgatarem a cosmovisão africana e os laços de família, se
organizando em comunidades autônomas (século XVI - XIX), como a mais conhecido
deles o Quilombo dos Palmares. Ocorrendo um aumento com o enfraquecimento do
sistema aristocrático no país e, pela crescente do movimento abolicionista na década
de 1761.
Com o fim da escravidão no país, o conceito de quilombo foi redefinido ao longo do tempo,
pois continuavam a existir fora do contexto histórico no qual surgiram.[2][3][4] Modernamente,
quilombo é um espaço de resistência com o direito à propriedade de suas terras e
manutenção de sua cultura própria. É um tipo de organização de pessoas que faz
a ocupação da terra na forma de uso comum, com seu uso obedecendo a sazonalidade
ambiental.
Os moradores do quilombo denominam-se quilombolas, reconhecidos desde 2007 pelo
Governo Federal do Brasil como comunidade tradicional; comunidades que realizam
práticas diárias de produção com desenvolvimento sustentável,[5] possuem modo de vida
ligado ao meio-ambiente e, que possuem uma cultura diferenciada da cultura
predominante local.[6]

Conceituação
Os quilombos, no passado, constituíram-se em locais de refúgio de africanos escravizados
e afrodescendentes em todo o continente americano.[7] Na visão do Conselho
Ultramarino do Governo português em 1740 como todo "agrupamento de negros fugidos
que passe de cinco, ainda que não tenham ranchos levantados em parte despovoada nem
se achem pilões neles". Após diversos estudos acadêmicos, especialmente das áreas da
História e Antropologia, percebeu-se que restringir os quilombos à situação de fuga não dá
conta das dinâmicas sociais que esses grupos passaram. Alguns quilombos se formaram a
partir de compra de muitas terras de escravizados alforriados, alguns receberam áreas por
meio de herança, outros grupos se mantiveram em fazendas decadentes. Ainda, a
concepção de que os quilombos apenas se conformaram de forma isolada não reflete o
que ocorreu em muitos lugares, assim como houve diversos quilombos urbanos.[8][9][10][11]
Os avanços em termos de
estudos historiográficos, geográficos e antropológicos demonstraram que conceito do
Império português situava-se longe da realidade fática vivenciada pelos quilombos. Apesar
do Estado Colonial e Imperial ter considerado crime a fuga e não punia outras formas de
aquilombamento, isso não significa que elas não existiram. Os estudos e pesquisas
acadêmicos realizados apresentaram essas outras formas de organização e apossamento
da terra. Baseada nessa produção, a Associação Brasileira de Antropologia foi capaz de
apresentar uma definição ressemantizada do termo quilombo, visando dar conta de uma
realidade desconhecida.
Conforme a Associação Brasileira de Antropologia, o termo quilombo tem assumido novos
significados na literatura especializada e também para grupos, indivíduos e organizações.
Ainda que possua um conteúdo histórico, este vem sendo ‘ressemantizado’ designando a
situação presente dos segmentos negros em diferentes regiões e contextos do Brasil.
Contemporaneamente, o termo não refere-se a resíduos ou resquícios arqueológicos de
ocupação temporal ou de comprovação biológica, não se trata de grupos isolados ou de
uma população estritamente homogênea e, nem sempre foram constituídos a partir de
uma referência histórica comum. Neste sentido, o termo quilombo constitui grupos étnicos
conceitualmente definidos pela Antropologia como: um tipo organizacional que confere
pertencimento através de normas e meios empregados para indicar afiliação ou exclusão.
No que diz respeito a territorialidade desses grupos, a ocupação da terra é predominando
o uso comum (não são lotes individuais), com seu uso obedecendo a sazonalidade das
atividades, sejam agrícolas, extrativistas e outras, baseadas em laços de parentesco e
vizinhança, assentados em relações de solidariedade e reciprocidade.[12]

Etimologia
A palavra "quilombo" tem origem nos termos "kilombo" (Quimbundo) e "ochilombo"
(Umbundo), estando presente também em outras línguas faladas ainda hoje por diversos
povos Bantus que habitam a região de Angola, na África Ocidental. Originalmente,
designava apenas um lugar de pouso, utilizado por populações nômades ou em
deslocamento; posteriormente passou a designar também as paragens e acampamentos
das caravanas que faziam o comércio de cera, escravizados e outros itens cobiçados
pelos colonizadores. Significava também "acampamento guerreiro",[13] "capital, povoação,
união".[14] Porém foi só no Brasil que o termo "quilombo" ganhou o sentido
de comunidades autônomas de escravizados fugitivos.[15]

História
Mapa da Capitania de Pernambuco com representação do Quilombo dos Palmares,
confeccionado pelo pintor e gravurista holandês Frans Post em 1647. Palmares foi o maior
quilombo do Brasil colonial.
No período colonial, o quilombo era uma reconstrução e elaboração concreta no espaço
geográfico de um tipo de organização territorial existente na África Meridional. Nos quase
quatro séculos de tensões e confrontos de culturas e de classes, os quilombos
funcionaram como uma verdadeira válvula de escape para diluir a violência da escravidão,
particularmente das agressões no cotidiano das senzalas. A introdução das populações
africanas e suas matrizes culturais e tecnológicas no Brasil vão ocorrer simultaneamente à
implementação da agroindústria do açúcar, baseada na monocultura e no latifúndio (1540).
Os primeiros quilombos vão surgir nesse contexto de expansão da atividade econômica
colonial da cana-de-açúcar na Região Nordeste, tendo a resistência como característica
básica. O isolamento geográfico foi uma possibilidade escolhida em muitos contextos, mas
muito próximos dos núcleos urbanos, com quem mantinham relações comerciais e uma
complexa rede de informações. (ANJOS, R.S.A.,2009).[16]
No Brasil, abrigavam também minorias indígenas e brancas. Ao longo da América, tinham
diversas denominações: cimarrones em algumas partes da América
espanhola; palenques em Cuba (1677, 1785 e 1793)
e Colômbia (1600); Maroons na Jamaica (1685) e Suriname (1685 com a fuga do seu
fundador); marrons no Haiti (1665, independente em 1804); Cumbes na Venezuela (1552,
1763, 1765) (CARVALHO, 1996); quilombos e mocambos no Brasil.[17]
Os escravizados africanos fugiam das fazendas entre os séculos XVI e XIX, e se
abrigavam nos quilombos para se defenderem do sistema escravista e resgatarem
a cosmovisão africana e os laços de família perdidos com a escravização. Neles, existiam
manifestações religiosas e lúdicas, como a música e a dança. O mais famoso deles
na história do Brasil foi o de Palmares. Denominam-se "quilombolas" os habitantes dos
quilombos. Atualmente, as comunidades quilombolas passam por um processo de
reconhecimento legal de sua existência por parte dos governos nacionais e das
organizações internacionais.[18][19]
Mesmo passados mais de 130 anos da sanção da Lei Áurea pelo regime imperial, a
historiografia e o sistema brasileiro ainda continuam associando a população afrobrasileira
a uma imagem de escravidão, uma mentalidade social de que os negros melhoraram, mas
ainda são inferiores, se referindo aos quilombos sempre no passado, como se estes não
constituíssem um fato da nossa historicidade e territorialidade contemporânea. Mesmo não
sendo ainda assumida devidamente pelo Estado, a situação precária dos descendentes de
quilombos no Brasil é uma das questões estruturais da sociedade, uma vez que, além da
falta de visibilidade territorial e social, essa questão é agravado pelo esquecimento
histórico proposital verificado no processo educacional (ANJOS, R.S.A, 2011).[20]
O Brasil é apontado como a segunda maior nação do planeta com população de
ascendência na África e, é com relação a esse povo que são computadas as estatísticas
mais discriminatórias e de depreciação socioeconômica ao longo do século XX e XXI. Nos
piores lugares da sociedade e do território, com algumas exceções, estão as populações
afrobrasileiras. Dessa maneira, ser descendente do continente africano no Brasil,
secularmente continua sendo um fator de risco, um desafio para manutenção da
sobrevivência humana, um esforço para ter visibilidade no sistema dominante e,
sobretudo, colocar uma energia adicional para ser – estar inserido no território. Dentro da
“Geografia Africana Invisível no Brasil Contemporâneo”, destacamos o esquecimento
proposital dos territórios descendentes de antigos quilombos. As ações do setor decisório,
se mostram conflitantes e contraditórias. Apesar das disposições constitucionais (1988) e
da obrigatoriedade de alguns organismos oficiais para resolverem as demandas dos
quilombos contemporâneos, é possível constatar, de uma forma quase que estrutural, que
a situação tem apresentado um tratamento caracterizado por ações episódicas e
fragmentárias (ANJOS, R.S.A.).[21]

Moradores da comunidade quilombola de São Domingos,


em Paracatu, em Minas Gerais, no Brasil

Legislação
Ver também: Terras quilombolas no Brasil

As comunidades quilombolas, de acordo com certos critérios, podem pleitear ao Estado


brasileiro:
 A titulação da propriedade da terra (conforme Constituição de 1988, art. 68);[22]
 O tombamento de seus documentos e territórios (conforme CF88, art. 216, § 5º)[22] e
consequente acesso, através do IPHAN, aos projetos de sustentabilidade,
preservação e valorização de seus patrimônios histórico-culturais (conforme CF88, art.
214-216).
 O reconhecimento oficial como comunidade quilombola, pela Fundação Cultural
Palmares.[23]

Características
Tradicionalmente, os quilombos eram das regiões de grande concentração de
escravizados, afastados dos centros urbanos e em locais de difícil acesso. Os quilombos
da Confederação Quilombola do Campo Grande, em Minas Gerais, conhecida
como Quilombo do Campo Grande, alteram em muito esse conceito generalizante, pois, a
partir de 1735, se formaram e se fortaleceram com pretos forros e seus escravizados,
brancos pobres e seus escravizados, além de escravizados fugidos da escravidão. Todos
eles fugiam do sistema tributário da capitação que vigorou nas Minas no período de 1735 a
1750.[24]
Em alguns casos, os quilombos mostraram alto grau de organização como foi o caso
do Mola, liderado por figuras como Felipa Maria Aranha. Formado inicialmente por 300
negros,[25] na altura de 1750, no passado foi uma cidade-estado, aos moldes de
uma república, que contava com um elevado nível de organização para a época, tendo
para tal um código civil, uma força policial e um sistema de representação direta.[26] A
Confederação do Itapocu, formada por cinco quilombos, tendo como capital virtual o Mola,
[27]
 empreendeu severas derrotas às forças portuguesas e aos capitães do mato, nunca
sendo derrotada.[28]
Embrenhados nas matas, selvas ou morros, esses núcleos se transformaram em aldeias,
dedicando-se à economia de subsistência e às vezes ao comércio, alguns tendo mesmo
prosperado. Existem registros de quilombos em todas as regiões do país, com destaque
ao estado de Alagoas, na região do atual município de União dos Palmares, onde surgiu o
principal e maior quilombo que já existiu: o Quilombo dos Palmares, na então Capitania de
Pernambuco, quando Alagoas era ainda comarca pernambucana.[29][30] Segundo os
registros, existem quilombos nos seguintes estados
brasileiros: Maranhão, Pernambuco, Espírito Santo, Bahia, Goiás, Mato
Grosso, Pará, Amapá, Acre, Rio Grande do Norte, Amazonas, Rio de Janeiro, São
Paulo, Sergipe, Ceará, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do
Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, Tocantins, Piauí, Paraíba e Ceará.

Quilombolas no lançamento da Agenda Social


Quilombola e do Plano Nacional de Promoção da Igualdade Racial, no Palácio do Planalto,
em Brasília. Foto: Antônio Cruz/ABr
Os seus habitantes,[31] denominados de "quilombolas", eram, originalmente, agrupamentos
de ex–escravizados fugidos de seus senhores desde os primeiros tempos do período
colonial. Em algumas épocas e locais, tentaram reproduzir a organização social africana,
[32]
 inclusive com a escolha de reis tribais.
Quanto à violência praticada pelos quilombos e quilombolas, Luiz Gonzaga da Fonseca,
no seu livro "História de Oliveira", na página 37, descreve o caos provocado no Caminho
de Goiás, a Picada de Goiás, pelo quilombolas do Quilombo do Ambrósio, o principal
quilombo de Minas Gerais:

Não há dúvida que esta invasão negra, fora provocada por aquele
“ escandalosa transitar pela picada, e que pegou a dar na vista
demais. Goiás era uma Canaã. Voltavam ricos os que tinham ido pobres.
Iam e viam mares de aventureiros. Passavam boiadas e tropas. Seguiam
comboios de escravos. Cargueiros intérminos, carregados de mercadorias,
bugigangas, minçangas, tapeçarias e sal. Diante disso, negros foragidos de
senzalas e de comboios em marcha, unidos a prófugos da justiça e mesmo
a remanescentes dos extintos cataguás, foram se homiziando em certos
pontos da estrada ("Caminho de Goiás" ou "Picada de Goiás"). Essas
quadrilhas perigosas, sucursais dos quilombolas do Rio das Mortes,
assaltavam transeuntes e os deixavam mortos no fundo dos boqueirões e
perambeiras, depois de pilhar o que conduziam. Roubavam tudo. Boiadas.
Tropas. Dinheiro. Cargueiros de mercadorias vindos da Corte (Rio de
Janeiro). E até os próprios comboios de escravos, matando os comboeiros
e libertando os negros trelados. E com isto, era mais uma súcia de
bandidos a engrossar a quadrilha. Em terras oliveirenses, açoitava-se
grande parte dessa nação de 'caiambolas organizados' nas matas do Rio
Grande e Rio das Mortes, de que já falamos. E do combate a essa praga é
que vai surgir a colonização do território (de Oliveira (Minas Gerais) e
região). Entre os mais perigosos bandos do Campo Grande, figuravam o
quilombo do negro Ambrósio e o negro Canalho.[33] ”
Embora a escravidão no Brasil tenha sido oficialmente abolida em 13 de maio de 1888,
alguns desses agrupamentos chegaram aos nossos dias, graças ao seu isolamento, como,
por exemplo, Ivaporunduva, próximo ao rio Ribeira de Iguape, no estado de São Paulo.
A maioria dos quilombos tinha existência efêmera, pois uma vez descobertos, a sua
repressão era marcada pela violência por parte dos senhores de terras e de escravizados,
com o duplo fim de se reapossar dos elementos fugitivos e de punir exemplarmente alguns
indivíduos, visando a atemorizar os demais cativos.

Escravidão nos Quilombos


Apesar de representar uma resistência à escravidão, muitos quilombos contavam com a
escravidão internamente. Esta prática levou vários teóricos a interpretarem a prática dos
quilombos como um conservadorismo africano, que mantinha as diversas classes sociais
existentes na África, incluindo reis, generais e escravizados.[34][35]
Contudo, a escravidão nos quilombos em nada se assemelhava à escravidão dos brancos
sobre os negros, sendo os escravizados considerados como membros das casas dos
senhores, aos quais deviam obediência e respeito.[36] Semelhante à escravidão entre
brancos, comum na Europa na Alta Idade Média.[37]
Assim, a prática da escravidão nos quilombos tinha dupla finalidade:[36]

 a primeira, de aculturar os escravizados recém-libertos às práticas do quilombos, que


consistiam em trabalho árduo para a subsistência da comunidade, já que muitos dos
escravizados libertos achavam que não teriam mais que trabalhar; e
 a segunda, que visava a diferenciar os ex-escravizados que chegavam aos quilombos
pelos próprios meios (escravizados fugidos, que se arriscavam até encontrar um
quilombo. Sendo, neste trajeto, perseguidos por animais selvagens e pelos antigos
senhores, e ainda, correndo o risco de serem capturados por outros escravistas)
daqueles trazidos por incursões de resgates (escravizados libertados por quilombolas
que iam às fazendas e vilas para libertar escravizados).

Estudos genéticos
Estudos genéticos realizados em quilombos têm revelado que a ancestralidade africana
predomina na maioria deles, embora seja bem significativo a presença de elementos de
origem europeia e indígena nessas comunidades. Isso mostra que os quilombos não foram
povoados apenas por africanos, mas também por pessoas de origem europeia e indígena
que foram integradas nessas comunidades. Os estudos mostram que a ancestralidade dos
quilombolas é bastante heterogênea, chegando a ser quase que exclusivamente africana
em alguns, como no quilombo de Valongo, no Sul, enquanto em outros a ancestralidade
europeia chega até a predominar, como no caso do quilombo do Mocambo, na Região
Nordeste do Brasil, mas isso é a exceção.[38]

Ancestralidade genética de habitantes de quilombos[38]

Nome do quilombo Africana Europeia Indígena

Cametá (Norte) 48% 17,9% 34,1%

Cajueiro (Nordeste) 67,4% 32,6% 0%

Curiaú (Norte) 73,6% 26,4% 0%

Paredão (Sul) 79,2% 2,8% 18,1%

Trombetas (Norte) 62% 27% 11%

Valongo (Sul) 97,3% 2,7% 0%


Mimbó (Nordeste) 61% 17% 22%

Sítio Velho (Nordeste) 72% 12% 16%

Remanescentes
Ver também: Lista de comunidades remanescentes de quilombos

Comunidades Remanescentes de Quilombos (CRQ). Com a criação da Constituição


Brasileira de 1988, os quilombos foram reconhecidos como espaço de resistência e
consagrando-as com o direito à propriedade de suas terras, bem como manutenção de
sua cultura própria.[39][40]

Presença de Quilombos no estado de Goiás


Em meados do fim do século XVIII, a existência de quilombos era bastante frequente de
forma a ser presente na maioria dos arraiais.[41] Estes quilombos foram sendo formados
devido ao enfraquecimento do sistema aristocrático local, e também pela crescente
tendência abolicionista do fim do século[42] (desenvolvido durante o iluminismo do século
XVIII) No estado foram registrados pela Fundação Palmares a existência de 33 quilombos
em Goiás, sendo que ainda existem alguns em processo de reconhecimento pela
instituição.[41][43]
Estes quilombos muitas vezes possuem grande potencial turístico, a exemplo do
quilombo Calunga, localizado no interior da cidade de Cavalcante, quilombo este que é
reconhecido como Patrimônio Natural Mundial da Unesco e Patrimônio Histórico e Cultural
do Brasil.[44] Os quilombos do estado têm sua existência marcada pela divergência entre
defensores do tombamento e opositores, que muitas vezes defendem o não tombamento
por motivos imobiliários.[41][45][46]

Entorno sul de Brasília


No entorno sul de Brasília a existência de quilombos é bastante recorrente, resultante da
mineração que ocorrera na região por volta do século XVIII, na cidade de Luziânia. Esta
cidade é cercada por várias comunidades remanescentes de quilombo, sendo elas o
Quilombo Mesquita, Quilombo do Almeida e a Fazenda Quilombo, que hoje é reconhecida
como território quilombola.[41]

Quilombo Mesquita
Dentre estas comunidades temos o Mesquita, que foi oficialmente reconhecida como área
remanescente de quilombo por volta de 2011, através da RTD, publicada no Diário Oficial
da União. A comunidade tem como principais atividades a agricultura familiar, sendo que
os excedentes são vendidos nas feiras locais de regiões vizinhas, principalmente
em Cidade Ocidental.[47][48]
Esta sofreu com diversas pressões sociais e políticas nos últimos cem anos, dentre os
acontecimentos que perturbaram a ordem estabelecida do local, destacam-se: a Missão
Cruls, esta ocorrida ainda no fim do século XVIII; a Coluna Prestes; a construção
de Brasília e de Cidade Ocidental, que está localizada imediatamente em seu entorno; e
por fim as novas pressões imobiliárias que surgiram com o crescimento da nova capital.[49]
Fruto da pressão imobiliária destaca-se a recorrente perda do seu território original. Parte
deste território foi vendido ou ocupado ainda na construção da nova capital, pois havia a
crença de ser um local sem dono. Originalmente o seu território compreendia toda a região
onde encontram-se os condomínios do Lago Sul, as Ra’s de São Sebastião, Jardim
Botânico, a Reserva da Marinha do Brasil, boa parte da Ra de Santa Maria, todo o Lago
Paranoá, os Bairros Lago Sul e Lago Norte, se estendendo ao Paranoá e parte da cidade
de Planaltina do DF. Toda essa área é comprovada ter sido parte do território quilombola,
segundo documentos históricos encontrados nos últimos anos.[50]).

Comunidades quilombolas no Maranhão


As comunidades quilombolas no Maranhão surgem a partir da formação de quilombos,
considerados um local de refúgio dos africanos e seus descendentes escravizados, bem
como de sua reorganização com a abolição da escravidão. No Maranhão, a história da
formação das comunidades quilombolas está relacionada a expansão da lavoura de
algodão e de arroz no final do século XVIII, com a criação da Companhia Geral do
Comércio do Grão-Pará e Maranhão, bem como ao abandono de terras por proprietários
rurais, com a decadência econômica no final do século XIX.[51]
No ano de 2018, existiam 713 comunidades quilombolas reconhecidas no Maranhão, com
518 certidões fornecidas pela Fundação Cultural Palmares, concentradas especialmente
na Baixada Maranhense e nos vales do Itapecuru e do Mearim.[52]

Zumbi, também conhecido como Zumbi dos Palmares (Serra da Barriga, 1655 – Serra


Dois Irmãos, 20 de novembro de 1695), foi um líder quilombola brasileiro, o último dos
líderes do Quilombo dos Palmares, o maior dos quilombos do período colonial. Zumbi
nasceu na então Capitania de Pernambuco, em região hoje pertencente ao município
de União dos Palmares, no estado de Alagoas.

Etimologia
A palavra Zumbi ou Zambi, vem do termo zumbe, do idioma africano quimbundo, e
significa fantasma, espectro, alma de pessoa falecida.[1]

Biografia

Pátio do Carmo, no Recife, capital de Pernambuco, local


onde a cabeça de Zumbi dos Palmares ficou exposta até completa decomposição. [2]

O Quilombo dos Palmares, localizado na Capitania de Pernambuco, atual região de União


dos Palmares, Alagoas, era uma comunidade, um reino formado por escravos negros que
haviam escapado das fazendas, prisões e senzalas brasileiras. Ele ocupava uma área
próxima ao tamanho de Portugal. Naquele momento sua população alcançava por volta de
trinta mil pessoas.[3]
Zumbi nasceu na Serra da Barriga, Capitania de Pernambuco, atual União dos Palmares,
Alagoas, livre, no ano de 1655, mas foi capturado e entregue ao
padre missionário português Antônio Melo quando tinha aproximadamente seis anos.
Batizado 'Francisco', Zumbi recebeu os sacramentos, aprendeu português e latim, e
ajudava diariamente na celebração da missa.
Por volta de 1678, o governador da Capitania de Pernambuco, cansado do longo conflito
com o Quilombo de Palmares, se aproximou do líder de Palmares, Ganga Zumba, com
uma oferta de paz. Foi oferecida a liberdade para todos os escravos fugidos se o quilombo
se submetesse à autoridade da Coroa Portuguesa; a proposta foi aceita pelo líder, mas
Zumbi rejeitou a proposta do governador e desafiou a liderança de Ganga Zumba.
Prometendo continuar a resistência contra a opressão portuguesa, Zumbi tornou-se o novo
líder do quilombo de Palmares.
Quinze anos após Zumbi ter assumido a liderança, o bandeirante paulista Domingos Jorge
Velho foi chamado para organizar a invasão do quilombo. Em 6 de fevereiro de 1694 a
capital de Palmares foi destruída e Zumbi ferido. Apesar de ter sobrevivido, foi traído por
António Soares, e surpreendido pelo capitão Furtado de Mendonça em seu reduto (talvez
a Serra Dois Irmãos). Apunhalado, resiste, mas é morto com vinte guerreiros quase dois
anos após a batalha, em 20 de novembro de 1695. Teve a cabeça cortada, salgada e
levada ao governador Melo e Castro. Em Recife, foi exposta a cabeça em praça pública
no Pátio do Carmo, visando desmentir a crença da população sobre a lenda da
imortalidade de Zumbi.[2]
Em 14 de março de 1696, o governador de Pernambuco Caetano de Melo e
Castro escreveu ao Rei:[4]

Determinei que pusessem sua cabeça em um poste no lugar mais público


“ desta praça, para satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e
atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam Zumbi um imortal,
para que entendessem que esta empresa acabava de todo com os
Palmares. ”
Polêmicas

Monumento ao Zumbi em Salvador, Bahia.

Placa da estátua de Zumbi dos Palmares


Alguns autores levantam a possibilidade de que Ganga Zumba, e não Zumbi, tenha sido o
verdadeiro herói do Quilombo dos Palmares:
"Os escravos que se recusavam a fugir das fazendas e ir para os quilombos eram
capturados e convertidos em cativos dos quilombos. A luta de Palmares não era contra a
iniquidade desumanizadora da escravidão. Era apenas recusa da escravidão própria, mas
não da escravidão alheia. As etnias de que procederam os escravos negros do Brasil
praticavam e praticam a escravidão ainda hoje, na África. Não raramente capturavam seus
iguais para vendê-los aos traficantes. Ainda o fazem. Não faz muito tempo, os bantos, do
mesmo grupo linguístico de que procede Zumbi, foram denunciados na ONU por
escravizarem pigmeus nos Camarões".[5]
De acordo com José Murilo de Carvalho, em "Cidadania no Brasil" (pág. 48),
"os quilombos mantinham relações com a sociedade que os cercavam, e esta sociedade
era escravista. No próprio quilombo dos Palmares havia escravos. Não existiam linhas
geográficas separando a escravidão da liberdade".
Segundo alguns estudiosos Ganga Zumba teria sido assassinado, e os negros de
Palmares elevaram Zumbi a categoria de chefe:
"Depois de feitas as pazes em 1678, os negros mataram o rei Ganga-Zumba,
envenenando-o, e Zumbi assumiu o governo e o comando-em-chefe do Quilombo." [6]
Seu governo também teria sido caracterizado pelo despotismo: De acordo com Edison
Carneiro, em O Quilombo dos Palmares, Ed. Civilização Brasileira,
"Nina Rodrigues esclarece que nos Palmares havia ‘um governo central despótico’
semelhante aos da África na ocasião", e complementa: "Se algum escravo fugia dos
Palmares, eram enviados negros no seu encalço e, se capturado, era executado pela
severa justiça do quilombo."[7] "Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa
história. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, lutou pela liberdade de culto,
religião e prática da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte, 20 de
novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da
Consciência Negra."[8]
Escravidão no Quilombo dos Palmares
Apesar de ser vista por alguns movimentos e setores da sociedade como representantes
da resistência à escravidão, muitos quilombos contavam com a escravidão internamente.
Esta prática levou vários teóricos a interpretarem a prática dos quilombos como um
conservadorismo africano, que mantinha as diversas classes sociais existentes na África,
incluindo reis, generais e escravos.[9]
Autores apontam a existência de uma escravidão até mesmo predatória por parte dos
habitantes de Palmares, que realizavam incursões nos territórios vizinhos, de onde traziam
à força indivíduos para trabalharem como escravos em suas plantações, desenvolvendo
assim uma espécie de "escravismo dentro da própria 'república'".[10][11] Escravos que se
recusavam a fugir das fazendas e ir para os quilombos também eram capturados e
convertidos em cativos dos quilombolas.[12]
Para Décio Freitas, autor do livro Palmares: a guerra dos escravos, ao qual foi o primeiro
trabalho capaz de apresentar dados concretos sobre a identidade do líder negro Zumbi e a
formação social de Palmares, em entrevista para a "Folha de S. Paulo", confessou que
depois das pesquisas, ele tem hoje uma visão diferente do líder negro Zumbi.
‘Acho que, se ele tivesse sido menos radical e mais diplomático, como foi seu tio Ganga-
Zumba, teria possivelmente alterado os rumos da escravidão no Brasil.’ [13]
Para outros autores, no entanto, a escravidão nos quilombos em nada se assemelharia à
escravidão dos brancos sobre os negros, sendo os escravos considerados como membros
das casas dos senhores, aos quais deviam obediência e respeito.[14] Semelhante
à servidão entre brancos, comum na Europa na Alta Idade Média.[15] Para estes autores, a
prática da escravidão teria dupla finalidade:[14] aculturar os escravos recém-libertos às
práticas do quilombos, que consistiam em trabalho árduo para a subsistência da
comunidade, já que muitos dos escravos libertos achavam que não teriam mais que
trabalhar, e diferenciar os ex-escravos que chegavam aos quilombos pelos próprios meios
(escravos fugidos, que se arriscavam até encontrar um quilombo. Sendo, neste trajeto,
perseguidos por animais selvagens e pelos antigos senhores, e ainda, correndo o risco de
serem capturados por outros escravistas), daqueles trazidos por incursões de resgates
(escravos libertados por quilombolas que iam às fazendas e vilas para libertar escravos).
Cronologia

Busto de Zumbi dos Palmares em Brasília.

 Por volta de 1580: africanos de diversas etnias escravizados nos engenhos de


açúcar das capitanias de Pernambuco e Bahia no então Estado do Brasil,
acompanhados de seus filhos nascidos na América (e que nunca tiveram contato com
as culturas e as terras natais de seus pais e avós, exceto por relatos e histórias dos
mesmos), fundam na região da Serra da Barriga, após fugir do cativeiro ao qual eram
submetidos, o Quilombo dos Palmares. A população de Palmares em pouco tempo já
contava com mais de 3 mil habitantes. As principais funções dos quilombos eram a
subsistência e a proteção dos seus habitantes, e eram constantemente atacados por
exércitos e milícias.
 1630: Começam as invasões holandesas em Pernambuco, o que desorganiza a
produção açucareira e facilita as fugas dos africanos escravizados e negros
descendentes de africanos trazidos algumas gerações antes. Em 1644, houve uma
grande tentativa holandesa de aniquilar o Quilombo de Palmares que, como nas
investidas portuguesas anteriores, foi repelida pelas defesas dos quilombolas.
 1654: Os holandeses deixam o nordeste brasileiro.
 1655: Nasce Zumbi, num dos mocambos de Palmares.
 1670: Ganga Zumba, um ex-escravo que possivelmente chegou ao Brasil por volta de
1665 e que supostamente tinha nascido na nobreza do Reino do Congo na África, com
um suposto parentesco com uma princesa chamada Aqualtune, assume a chefia do
quilombo, então com mais de trinta mil habitantes.
 1675: Na luta contra os soldados portugueses comandados pelo Sargento-mor Manuel
Lopes, o jovem Zumbi revela-se um grande guerreiro e organizador militar. Neste ano,
a tropa portuguesa comandada pelo Sargento-mor Manuel Lopes, depois de uma
batalha sangrenta, ocupa um mocambo com mais de mil choupanas. Depois de uma
retirada de cinco meses, os negros contra-atacam, entre eles Zumbi com apenas vinte
anos de idade, e após um combate feroz, Manuel Lopes é obrigado a se retirar para
Recife. Palmares se estendia então da margem esquerda do São Francisco até o
Cabo de Santo Agostinho e tinha mais de duzentos quilômetros de extensão, era uma
república com uma rede de onze mocambos, que se assemelhavam as cidades
muradas medievais da Europa, mas no lugar das pedras havia paliçadas de madeira.
O principal mocambo, o que foi fundado pelo primeiro grupo de escravos foragidos,
ficava na Serra da Barriga e levava o nome de Cerca do Macaco. Duas ruas
espaçosas com umas 1 500 choupanas e uns oito mil habitantes. Amaro, outro
mocambo, tem 5 000. E há outros, como Sucupira, Tabocas, Zumbi, Osenga,
Acotirene, Danbrapanga, Sabalangá, Andalaquituche.
 1678: A Pedro de Almeida, governador da capitania de Pernambuco, mais interessava
a submissão do que a destruição de Palmares, após inúmeros ataques com a
destruição e incêndios de mocambos, eles eram reconstruídos, e passou a ser
economicamente desinteressante, os habitantes dos mocambos faziam esteiras,
vassouras, chapéus, cestos e leques com a palha das palmeiras. E extraiam óleo da
noz de palma, as vestimentas eram feitas das cascas de algumas árvores, produziam
manteiga de coco, plantavam milho, mandioca, legumes, feijão e cana e
comercializavam seus produtos com pequenas povoações vizinhas, de brancos e
mestiços. Sendo assim o governador propôs ao chefe Ganga Zumba a paz e a alforria
para todos os quilombolas de Palmares. O realista e pragmático Ganga Zumba aceita,
mas o idealista Zumbi é contra, não admite que alguns negros sejam libertos e outros
continuem escravos. Além do mais estes negros tinham suas próprias crenças e
quando chegaram ao Brasil tinham que abrir mão de sua cultura.
 1680: Zumbi assume o lugar de Ganga Zumba em Palmares e comanda a resistência
contra as tropas portuguesas. Ganga Zumba morre assassinado com veneno.
 1694: Domingos Jorge Velho e Bernardo Vieira de Melo comandam o ataque final
contra a Cerca do Macaco, principal mocambo de Palmares e onde Zumbi
supostamente nasceu, cercada com três paliçadas cada uma defendida por mais de
200 homens armados, após 94 anos de resistência, sucumbiu ao exército português, e
embora ferido, Zumbi consegue fugir.
 1695, 20 de Novembro: Zumbi, então aos 40 anos, foi traído e denunciado por um
antigo companheiro (Antonio Soares). Localizado pelo capitão Furtado de Mendonça,
foi preso e morto, e sua cabeça foi cortada, salgada e levada ao governador Melo e
Castro.[16] Ainda no mesmo ano, D. Pedro II de Portugal premia com cinquenta mil réis
o capitão Furtado de Mendonça por "haver morto e cortado a cabeça do negro dos
Palmares do Zumbi".[17]

Tributo
Em 1995, a data de sua morte foi adotada como o dia da Consciência Negra. Em 2003 foi
incluída no calendário nacional escolar, e em 2011 a Lei nº 12 519 instituiu oficialmente o
Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, data comemorada em 832 dos 5 570
municípios brasileiros, portanto em menos de 15% dos municípios.[18][19] O dia tem um
significado especial para os negros brasileiros que reverenciam Zumbi como o herói que
lutou pela liberdade e como um símbolo de liberdade. A data também consta do calendário
de santos da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.[20]
Hilda Dias dos Santos incentivou a criação do Memorial Zumbi dos Palmares.
Várias referências nas artes fazem tributo a seu nome:

 Canção composta por Edu Lobo e Vinicius de Moraes e popularizada por Elis Regina;


 Mencionado em diversas letras da banda Soulfly;
 Mencionado na canção "Ratamahatta", da banda Sepultura;
 Mencionado na canção "Apesar de Cigano", composta por Altay Veloso e Aladim
Teixeira, e interpretada por Jorge Vercillo no álbum "Leve ";
 Seu nome é dado a um lutador no jogo feito em Adobe Flash: Capoeira Fighter 2;
 Quilombo, 1985, filme de Carlos Diegues sobre o Quilombo dos Palmares, ASIN
B0009WIE8E;
 Gilberto Gil lançou um CD chamado "Z300 Anos de Zumbi";
 A banda de nome Chico Science & Nação Zumbi (atualmente é chamada somente
de Nação Zumbi, após a morte do vocalista Chico Science);
 Canção de Jorge Ben Jor também cantada por Caetano Veloso nos CDs Noites do
Norte e Noites do Norte Ao Vivo;
 Canção "300 anos" gravada por Alcione em 2007 (composta por Altay Veloso e Paulo
César Feital);
 Nome do aeroporto de Maceió, Alagoas (Aeroporto Internacional Zumbi dos
Palmares);
 Canção "Palmares 1999" feita por Natiruts;
 Canção da banda Vibrações — 1655-Zumbi;
 Homenageado em 2015 pela escola de samba Fusão do Samba, de Joinville, com o
enredo "A Consciência Negra Volta a Sorrir: Valeu Zumbi!".

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