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História
Besouro Mangangá era filho de Maria José e João Matos Pereira, nascido em 1895, e foi
assassinado no arraial de Maracangalha, local que foi imortalizado pelas letras de Dorival
Caymmi, na Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro onde faleceu em 1924. [2]Era
natural do recôncavo baiano e viveu naquela região, em um período nas florescências dos
canaviais em Santo Amaro, tinham importante papel no cenário produtivo, através dos
saveiros pelo rio subaé levavam as mercadorias que iam e chegavam até o cais de
Salvador.[3]
Manoel Henrique que, desde cedo, aprendeu os segredos da capoeira com o Mestre Alípio
no Trapiche de Baixo, foi batizado como Besouro Mangangá por causa da crença de
muitos que diziam que quando ele entrava em alguma embrulhada e o número de inimigos
era grande demais, sendo impossível vencê-los, então ele se transformava em besouro e
saía voando.[4][5] Várias lendas surgiram em torno de Besouro para justificar de seus feitos,
a principal atribui-lhe o “corpo fechado” e que balas e punhais não podiam feri-lo. Devido
aos seus supostos poderes Besouro Mangangá tornou-se um personagem mitológico para
os praticantes da capoeira, tendo sua identidade relacionada aos valentões, capadócios,
bambas e malandros.
Especula-se que não gostava da polícia e que teria praticado de vários confrontos com as
força policiais, às vezes levando vantagem nos embates, porém, segundo Antonio Liberac
Cardoso Simões Pires[6]: “Suas práticas não podem ser associadas ao banditismo, pois
Besouro sempre se caracterizou como um trabalhador por toda sua vida, nunca sendo
preso por roubo, furto ou atividade criminal comum. Suas prisões foram relacionadas às
ações contra a polícia, principalmente no período em que esteve no exército”. Algumas
documentações históricas registram os confrontos entre Besouro Mangangá e a polícia,
como o ocorrido em 1918, no qual Besouro teria se dirigido a uma delegacia policial no
bairro de São Caetano, em Salvador, para recuperar um berimbau que pertencia ao seu
grupo. Com a recusa do agente em devolver o objeto apreendido, Besouro partiu para o
ataque com ajuda de alguns companheiros. Eles não conseguiram recuperar o berimbau
desejado, pois foram vencidos pelos policiais, os quais receberam ajuda de um grupo de
moradores locais[7]:
Aos dez dias de setembro de mil novecentos e dezoito,
nesta capital do estado da Bahia (…) Argeu Cláudio de Souza,
com vinte e três anos de idade, solteiro, natural deste estado,
praça do primeiro batalhão da brigada policial (…)
foi interrogado pelo doutor delegado que lhe perguntou o seguinte:
como foi feita a agressão de que foi vítima no posto policial
de São Caetano? (…) Ali apareceu um indivíduo mal trajado,
e encostando-se a janela central do referido posto,
durante uns cinco minutos, em atitude de quem observava alguma coisa,
que decorrido este tempo, o dito indivíduo interpelando o respondente,
pediu-lhe um berimbau que se achava exposto juntamente com armas
apreendidas….[8]
Estilo de luta
A capoeira praticada no recôncavo baiano no final do século XIX e início do século
XX apresentava aspectos próprios, tinha em seus traços lúdicos a inserção de
instrumentos de cordas - possivelmente houve a mescla entre a prática do samba e da
capoeira - e nos treinamentos de luta envolvia técnicas em torno do uso de armas
como a faca e a navalha; o chapéu era um importante elemento na defesa das
investidas de mão armada.[9] Os praticantes de capoeira desse período desenvolveram
uma técnica de ataque com faca e navalha que consistia no fato do lutador amarrar
sua arma e um elástico e treinar o ato de lançar a arma, ferir o adversário e retornar a
mão novamente.[10]
Morte de Besouro
As circunstâncias de sua morte são contraditórias. Há versões que afirmam que
Besouro morreu em um confronto com a polícia; outras, que foi traído, com um ataque
de faca pelas costas. Esta última é muito cantada e transmitida oralmente
na capoeira conta que um fazendeiro, conhecido por Dr. Zeca, após seu filho Memeu
ter apanhado de Besouro, armou uma cilada. O fazendeiro tinha um amigo que era
administrador da Usina de Maracangalha, de nome Baltazar. Besouro não sabia ler,
então mandaram uma carta para Baltazar, pelo próprio Besouro, pedindo ao
administrador que desse fim dele por lá mesmo. Baltazar recebeu a carta, leu, e disse
a Besouro que aguardasse a resposta até o dia seguinte. Besouro passou a noite por
lá; no outro dia foi buscar a resposta. Quando chegou na porta foi cercado por uns 40
homens, que o iam matar. As balas nada lhe fizeram; um homem o feriu a traição com
uma faca de tucum (ou ticum), um tipo de madeira, tida como a única arma capaz de
matar um homem de corpo fechado.[4][5]
O atestado de óbito relata da seguinte forma:
Manoel Henrique, mulato escuro, solteiro, 24 anos, natural de Urupy,
residente na Usina Maracangalha, profissão vaqueiro, entrou no dia 8
de julho de 1924 às 10 e meia horas do dia, falecendo às sete horas da noite,
de um ferimento perfuro-inciso do abdômen.[11]
Nascido em 1897 em Santo Amaro da Purificação, na Bahia, filho dos ex-escravos João
Grosso e Maria Aifa, Manuel Henrique Pereira (seu nome de batismo), teve toda sua vida
permeada por muito misticismo. Não se sabe quando, mas iniciou seus primeiros passos
na capoeira com Mestre Alípio, também ex-escravo, mais precisamente na Rua do
Trapiche de Baixo. Diziam que besouro era um negro alto e muito forte e na capoeira
possuía uma agilidade sem igual. O que provavelmente fez com que recebesse o apelido
de ”besouro”, ou “besouro mangangá" (gênero de besouro venenoso).
Outros dizem que seu apelido se deve ao fato de uma vez tendo armado uma confusão, e
vendo-se cercado de policiais, besouro simplesmente “sumiu”. Um policial atordoado com
a cena, disse para o parceiro: “Você viu pra onde foi aquele negro? E o outro respondeu:
“Vi sim. Ele virou um besouro e saiu voando”. Era exímio jogador de capoeira, assim como
no manejo do facão e da navalha. Incluindo o jogo de “santa-maria”. Jogo violento onde os
capoeiristas jogavam com uma navalha presa aos pés.
Esses são somente alguns dos “causos” contados sobre a figura baiana.
Muitos também afirmam ter algum parentesco com o capoeirista, mas somente um tem
isso comprovado. Rafael Alves França, (1917 – 1983) também conhecido como Mestre
Cobrinha Verde, era seu primo legítimo. Iniciado na capoeira com seu primo aos 4 anos de
idade, sob uma única condição: Nunca ganhar dinheiro com a capoeira. Promessa que foi
mantida durante sua vida inteira.
Muitas são as lendas que permeiam a vida de besouro. Diziam que quando acontecia
alguma confusão, o capoeirista se transformava num besouro e saia voando, ou então se
transformava simplesmente num toco de pau. Diziam também que tinha o corpo fechado,
que possuía poderes mágicos e que sabia orações milagrosas.
Apesar da sua fama de valentão - nunca se deu bem com a polícia - os mais antigos
contam que besouro, não suportava injustiças, era um defensor do povo pobre e fazia
justiça com as próprias mãos. Sempre que via alguma coisa desse tipo, ele se metia e
defendia o oprimido. Seguem então aqui algumas historias que os antigos da Bahia ainda
contam.
Soldado do exército
Besouro teria servido ao exército em determinada época de sua vida. Certo dia viu entre
os objetos confiscados pelo exército um berimbau, pois a capoeira ainda era proibida
naquela época. Besouro, que já era iniciado na capoeira, tentou com sua patente de
soldado, resgatar o instrumento, mas não teve êxito, pois seu superior alegou que aquilo
era uma ferramenta de vagabundos e vadios e que um soldado nada tinha que ver com o
instrumento. O resultado foi uma briga entre besouro e seu superior que precisou de vários
outros soldados para prender besouro e deixá-lo em observação. Depois disso besouro foi
expulso do exército e passou a trabalhar nas fazendas do recôncavo baiano.
Presente de amigo
Era costume besouro presentear seus amigos mais chegados com penas de pavão
arrancadas dos chapéus dos valentões do recôncavo baiano
Hoje é feriado
Diziam que besouro era tão respeitado que às vezes chegando à cidade, mandava que os
comerciantes fechassem as portas, pois “ele” havia decretado feriado. E ai de quem não
obedecesse.
A barraca de amendoim
Então besouro virou para os clientes do mercado e simplesmente convidou a todos para
se servirem dos amendoins do comerciante. Sabendo então de que se tratava do temido
besouro mangangá, o comerciante ficou assistindo aos clientes comerem toda sua
mercadoria. Quando acabaram os amendoins, besouro perguntou quanto devia e pagou
para o comerciante.
Uma história contada pelo primo Mestre Cobrinha Verde era a de que uma vez besouro
conseguiu emprego em uma usina em Santo Amaro, onde o patrão tinha fama de não
pagar aos funcionários. Diziam que quando era chegado o dia do pagamento o patrão
simplesmente dizia que o salário “quebrou pra São Caetano”. Essa era uma expressão
usada na região que significava que não haveria salário. Além do mais dizia que quem
contestasse o patrão era surrado e amarrado a uma árvore até o final do dia. Besouro já
tendo tomado conhecimento disso, ficou esperando sua vez de receber. Quando foi
chamado, o patrão disse a frase: seu salário “quebrou pra São Caetano”. Mas acontece
que ele não estava falando com qualquer um. Besouro pegou o patrão pelo cavanhaque e
disse “Pague o dinheiro de Besouro Cordão de Ouro. Paga ou não paga?” O patrão
morrendo de medo pagou besouro que pegou o dinheiro e foi embora.
No pé da cruz
Certa vez besouro, depois de tomar sua arma, obrigou o soldado a beber uma grande
quantidade de cachaça no Largo da Santa Cruz, um dos principais de Santo Amaro. O
soldado, depois disso se dirigiu até a delegacia e comunicou o ocorrido ao seu superior, o
cabo José Costa, que decidiu mobilizar dez homens para capturar besouro morto ou vivo.
Besouro vendo os soldados chegando, saiu do bar e se encostou a uma cruz que havia no
largo e com os braços abertos disse que não se entregava. Então os soldados abriram
fogo e só pararam quando besouro estava caído no chão. Cabo José Costa chegou perto
do corpo e deduziu que estava morto, quando de repente, besouro se levantou, tomou sua
arma e ordenou que levantasse as mãos, depois mandou que os outros soldados fizessem
o mesmo e mandou que todos fossem embora e cantou os seguintes versos:
Lá atiraram na cruz/ eu de mim não sei/ se acaso fui eu mesmo/ ela mesmo me perdoe/
Besouro caiu no chão fez que estava deitado/ A polícia/ ele atirou no soldado/ vão brigar
com caranguejos/ que é bicho que não tem sangue/ Polícia se briga/ vamos prá dentro do
mangue.
Muitas também são as histórias sobre a sua morte, mas uma delas é até hoje cantada em
todas as rodas de capoeira.
Besouro havia conseguido trabalho como vaqueiro na fazenda do Dr. Zeca, fazendeiro da
região. Dr. Zeca tinha um filho, cujo apelido era Memeu, que tinha fama de valentão e
certa vez besouro teve uma discussão com o filho de fazendeiro e acabou batendo nele.
Temendo pela vida do filho, Dr. Zeca procurou logo acabar com besouro. Para isso,
mandou que besouro fosse trabalhar em outra de suas fazendas. Mais precisamente na
fazenda de Maracangalha. Mas primeiro entregou uma carta a besouro que deveria ser
entregue por ele ao administrador da fazenda. Mal sabia ele que aquela carta era a sua
sentença de morte. A carta mandava simplesmente que o portador fosse morto por ali
mesmo. Besouro, que era analfabeto, nada sabia sobre o conteúdo da carta achando se
tratar de uma simples recomendação. Quando o administrador recebeu a carta, mandou
que besouro esperasse até o dia seguinte para saber a resposta e que esperasse ali
mesmo na fazenda. Assim no dia seguinte, besouro ao se apresentar foi cercado por
quarenta homens, que abriram fogo contra ele mas as balas nada fizeram. Então um
homem conhecido como Eusébio da Quibaca, provavelmente conhecedor das
“mandingas”, atacou besouro pelas costas com uma faca de “tucum”, faca feita da madeira
de uma árvore que dizem ter poderes mágicos e que era a única coisa capaz de ferir um
homem de corpo fechado. Besouro morreu jovem aos 27 anos de idade, no dia 8 de julho
de 1924, mas deixou um legado vivo até hoje. Contam ainda que besouro mesmo ferido
conseguiu fugir de canoa e chegar até a Santa Casa de Misericórdia em Santo Amaro,
mas devido ao ferimento não resistiu. E o mais incrível. Consta um documento nos autos
do processo (PEREIRA 1920 –1927: 21) movido por Caetano José Diogo contra Manoel
Henrique dizendo:
Besouro é Manoel Henrique Pereira - vaqueiro, mulato escuro, natural de Urupy, residente
na usina de Maracangalha; dava entrada na Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro
da Purificação – Bahia, com um ferimento perfuro-inciso do abdômen. Veio a falecer no dia
8 de julho de 1924 às 7 horas da noite, conforme registro na folha 42 v. do livro n° 3, linha
16, leito 418, de entrada e saída de doentes.
Existem tantas outras histórias sobre como aconteceu a morte de besouro, seria
necessário uma postagem inteira dedicada a esse assunto, mas o mais importante é que
devemos ter besouro como um herói brasileiro. Um homem que com sua própria força
sempre lutou contra as injustiças praticadas contra um povo menos favorecido.
Suas proezas são lembradas em todas as rodas de capoeira em suas várias cantigas.
Suas lendas são contadas e cantadas até os dias de hoje pelos mais antigos mestres da
capoeira na Bahia.
Existem também, muitas outras lendas sobre besouro, muitas delas já caíram no
esquecimento ou se perderam no tempo. E em meio à contradições é que a figura de
besouro continua viva não só para os jogadores de capoeira, mas também na cabeça de
todos os amantes da cultura de nosso país.
Quilombo
Quilombo (também chamada de Comunidade remanescente de Quilombo) é o nome
dado aos espaços e as comunidades criadas por populações que se formaram a partir de
situações de resistência territorial, social e cultural no Brasil, com funcionamento baseado
na cultura e tradição (normalmente em comum) das pessoas que neles habitavam;
[1]
surgiram no período colonial formadas por pessoas negras escravizadas, que fugiam em
busca de liberdade e resgatarem a cosmovisão africana e os laços de família, se
organizando em comunidades autônomas (século XVI - XIX), como a mais conhecido
deles o Quilombo dos Palmares. Ocorrendo um aumento com o enfraquecimento do
sistema aristocrático no país e, pela crescente do movimento abolicionista na década
de 1761.
Com o fim da escravidão no país, o conceito de quilombo foi redefinido ao longo do tempo,
pois continuavam a existir fora do contexto histórico no qual surgiram.[2][3][4] Modernamente,
quilombo é um espaço de resistência com o direito à propriedade de suas terras e
manutenção de sua cultura própria. É um tipo de organização de pessoas que faz
a ocupação da terra na forma de uso comum, com seu uso obedecendo a sazonalidade
ambiental.
Os moradores do quilombo denominam-se quilombolas, reconhecidos desde 2007 pelo
Governo Federal do Brasil como comunidade tradicional; comunidades que realizam
práticas diárias de produção com desenvolvimento sustentável,[5] possuem modo de vida
ligado ao meio-ambiente e, que possuem uma cultura diferenciada da cultura
predominante local.[6]
Conceituação
Os quilombos, no passado, constituíram-se em locais de refúgio de africanos escravizados
e afrodescendentes em todo o continente americano.[7] Na visão do Conselho
Ultramarino do Governo português em 1740 como todo "agrupamento de negros fugidos
que passe de cinco, ainda que não tenham ranchos levantados em parte despovoada nem
se achem pilões neles". Após diversos estudos acadêmicos, especialmente das áreas da
História e Antropologia, percebeu-se que restringir os quilombos à situação de fuga não dá
conta das dinâmicas sociais que esses grupos passaram. Alguns quilombos se formaram a
partir de compra de muitas terras de escravizados alforriados, alguns receberam áreas por
meio de herança, outros grupos se mantiveram em fazendas decadentes. Ainda, a
concepção de que os quilombos apenas se conformaram de forma isolada não reflete o
que ocorreu em muitos lugares, assim como houve diversos quilombos urbanos.[8][9][10][11]
Os avanços em termos de
estudos historiográficos, geográficos e antropológicos demonstraram que conceito do
Império português situava-se longe da realidade fática vivenciada pelos quilombos. Apesar
do Estado Colonial e Imperial ter considerado crime a fuga e não punia outras formas de
aquilombamento, isso não significa que elas não existiram. Os estudos e pesquisas
acadêmicos realizados apresentaram essas outras formas de organização e apossamento
da terra. Baseada nessa produção, a Associação Brasileira de Antropologia foi capaz de
apresentar uma definição ressemantizada do termo quilombo, visando dar conta de uma
realidade desconhecida.
Conforme a Associação Brasileira de Antropologia, o termo quilombo tem assumido novos
significados na literatura especializada e também para grupos, indivíduos e organizações.
Ainda que possua um conteúdo histórico, este vem sendo ‘ressemantizado’ designando a
situação presente dos segmentos negros em diferentes regiões e contextos do Brasil.
Contemporaneamente, o termo não refere-se a resíduos ou resquícios arqueológicos de
ocupação temporal ou de comprovação biológica, não se trata de grupos isolados ou de
uma população estritamente homogênea e, nem sempre foram constituídos a partir de
uma referência histórica comum. Neste sentido, o termo quilombo constitui grupos étnicos
conceitualmente definidos pela Antropologia como: um tipo organizacional que confere
pertencimento através de normas e meios empregados para indicar afiliação ou exclusão.
No que diz respeito a territorialidade desses grupos, a ocupação da terra é predominando
o uso comum (não são lotes individuais), com seu uso obedecendo a sazonalidade das
atividades, sejam agrícolas, extrativistas e outras, baseadas em laços de parentesco e
vizinhança, assentados em relações de solidariedade e reciprocidade.[12]
Etimologia
A palavra "quilombo" tem origem nos termos "kilombo" (Quimbundo) e "ochilombo"
(Umbundo), estando presente também em outras línguas faladas ainda hoje por diversos
povos Bantus que habitam a região de Angola, na África Ocidental. Originalmente,
designava apenas um lugar de pouso, utilizado por populações nômades ou em
deslocamento; posteriormente passou a designar também as paragens e acampamentos
das caravanas que faziam o comércio de cera, escravizados e outros itens cobiçados
pelos colonizadores. Significava também "acampamento guerreiro",[13] "capital, povoação,
união".[14] Porém foi só no Brasil que o termo "quilombo" ganhou o sentido
de comunidades autônomas de escravizados fugitivos.[15]
História
Mapa da Capitania de Pernambuco com representação do Quilombo dos Palmares,
confeccionado pelo pintor e gravurista holandês Frans Post em 1647. Palmares foi o maior
quilombo do Brasil colonial.
No período colonial, o quilombo era uma reconstrução e elaboração concreta no espaço
geográfico de um tipo de organização territorial existente na África Meridional. Nos quase
quatro séculos de tensões e confrontos de culturas e de classes, os quilombos
funcionaram como uma verdadeira válvula de escape para diluir a violência da escravidão,
particularmente das agressões no cotidiano das senzalas. A introdução das populações
africanas e suas matrizes culturais e tecnológicas no Brasil vão ocorrer simultaneamente à
implementação da agroindústria do açúcar, baseada na monocultura e no latifúndio (1540).
Os primeiros quilombos vão surgir nesse contexto de expansão da atividade econômica
colonial da cana-de-açúcar na Região Nordeste, tendo a resistência como característica
básica. O isolamento geográfico foi uma possibilidade escolhida em muitos contextos, mas
muito próximos dos núcleos urbanos, com quem mantinham relações comerciais e uma
complexa rede de informações. (ANJOS, R.S.A.,2009).[16]
No Brasil, abrigavam também minorias indígenas e brancas. Ao longo da América, tinham
diversas denominações: cimarrones em algumas partes da América
espanhola; palenques em Cuba (1677, 1785 e 1793)
e Colômbia (1600); Maroons na Jamaica (1685) e Suriname (1685 com a fuga do seu
fundador); marrons no Haiti (1665, independente em 1804); Cumbes na Venezuela (1552,
1763, 1765) (CARVALHO, 1996); quilombos e mocambos no Brasil.[17]
Os escravizados africanos fugiam das fazendas entre os séculos XVI e XIX, e se
abrigavam nos quilombos para se defenderem do sistema escravista e resgatarem
a cosmovisão africana e os laços de família perdidos com a escravização. Neles, existiam
manifestações religiosas e lúdicas, como a música e a dança. O mais famoso deles
na história do Brasil foi o de Palmares. Denominam-se "quilombolas" os habitantes dos
quilombos. Atualmente, as comunidades quilombolas passam por um processo de
reconhecimento legal de sua existência por parte dos governos nacionais e das
organizações internacionais.[18][19]
Mesmo passados mais de 130 anos da sanção da Lei Áurea pelo regime imperial, a
historiografia e o sistema brasileiro ainda continuam associando a população afrobrasileira
a uma imagem de escravidão, uma mentalidade social de que os negros melhoraram, mas
ainda são inferiores, se referindo aos quilombos sempre no passado, como se estes não
constituíssem um fato da nossa historicidade e territorialidade contemporânea. Mesmo não
sendo ainda assumida devidamente pelo Estado, a situação precária dos descendentes de
quilombos no Brasil é uma das questões estruturais da sociedade, uma vez que, além da
falta de visibilidade territorial e social, essa questão é agravado pelo esquecimento
histórico proposital verificado no processo educacional (ANJOS, R.S.A, 2011).[20]
O Brasil é apontado como a segunda maior nação do planeta com população de
ascendência na África e, é com relação a esse povo que são computadas as estatísticas
mais discriminatórias e de depreciação socioeconômica ao longo do século XX e XXI. Nos
piores lugares da sociedade e do território, com algumas exceções, estão as populações
afrobrasileiras. Dessa maneira, ser descendente do continente africano no Brasil,
secularmente continua sendo um fator de risco, um desafio para manutenção da
sobrevivência humana, um esforço para ter visibilidade no sistema dominante e,
sobretudo, colocar uma energia adicional para ser – estar inserido no território. Dentro da
“Geografia Africana Invisível no Brasil Contemporâneo”, destacamos o esquecimento
proposital dos territórios descendentes de antigos quilombos. As ações do setor decisório,
se mostram conflitantes e contraditórias. Apesar das disposições constitucionais (1988) e
da obrigatoriedade de alguns organismos oficiais para resolverem as demandas dos
quilombos contemporâneos, é possível constatar, de uma forma quase que estrutural, que
a situação tem apresentado um tratamento caracterizado por ações episódicas e
fragmentárias (ANJOS, R.S.A.).[21]
Legislação
Ver também: Terras quilombolas no Brasil
Características
Tradicionalmente, os quilombos eram das regiões de grande concentração de
escravizados, afastados dos centros urbanos e em locais de difícil acesso. Os quilombos
da Confederação Quilombola do Campo Grande, em Minas Gerais, conhecida
como Quilombo do Campo Grande, alteram em muito esse conceito generalizante, pois, a
partir de 1735, se formaram e se fortaleceram com pretos forros e seus escravizados,
brancos pobres e seus escravizados, além de escravizados fugidos da escravidão. Todos
eles fugiam do sistema tributário da capitação que vigorou nas Minas no período de 1735 a
1750.[24]
Em alguns casos, os quilombos mostraram alto grau de organização como foi o caso
do Mola, liderado por figuras como Felipa Maria Aranha. Formado inicialmente por 300
negros,[25] na altura de 1750, no passado foi uma cidade-estado, aos moldes de
uma república, que contava com um elevado nível de organização para a época, tendo
para tal um código civil, uma força policial e um sistema de representação direta.[26] A
Confederação do Itapocu, formada por cinco quilombos, tendo como capital virtual o Mola,
[27]
empreendeu severas derrotas às forças portuguesas e aos capitães do mato, nunca
sendo derrotada.[28]
Embrenhados nas matas, selvas ou morros, esses núcleos se transformaram em aldeias,
dedicando-se à economia de subsistência e às vezes ao comércio, alguns tendo mesmo
prosperado. Existem registros de quilombos em todas as regiões do país, com destaque
ao estado de Alagoas, na região do atual município de União dos Palmares, onde surgiu o
principal e maior quilombo que já existiu: o Quilombo dos Palmares, na então Capitania de
Pernambuco, quando Alagoas era ainda comarca pernambucana.[29][30] Segundo os
registros, existem quilombos nos seguintes estados
brasileiros: Maranhão, Pernambuco, Espírito Santo, Bahia, Goiás, Mato
Grosso, Pará, Amapá, Acre, Rio Grande do Norte, Amazonas, Rio de Janeiro, São
Paulo, Sergipe, Ceará, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do
Sul, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, Tocantins, Piauí, Paraíba e Ceará.
Não há dúvida que esta invasão negra, fora provocada por aquele
“ escandalosa transitar pela picada, e que pegou a dar na vista
demais. Goiás era uma Canaã. Voltavam ricos os que tinham ido pobres.
Iam e viam mares de aventureiros. Passavam boiadas e tropas. Seguiam
comboios de escravos. Cargueiros intérminos, carregados de mercadorias,
bugigangas, minçangas, tapeçarias e sal. Diante disso, negros foragidos de
senzalas e de comboios em marcha, unidos a prófugos da justiça e mesmo
a remanescentes dos extintos cataguás, foram se homiziando em certos
pontos da estrada ("Caminho de Goiás" ou "Picada de Goiás"). Essas
quadrilhas perigosas, sucursais dos quilombolas do Rio das Mortes,
assaltavam transeuntes e os deixavam mortos no fundo dos boqueirões e
perambeiras, depois de pilhar o que conduziam. Roubavam tudo. Boiadas.
Tropas. Dinheiro. Cargueiros de mercadorias vindos da Corte (Rio de
Janeiro). E até os próprios comboios de escravos, matando os comboeiros
e libertando os negros trelados. E com isto, era mais uma súcia de
bandidos a engrossar a quadrilha. Em terras oliveirenses, açoitava-se
grande parte dessa nação de 'caiambolas organizados' nas matas do Rio
Grande e Rio das Mortes, de que já falamos. E do combate a essa praga é
que vai surgir a colonização do território (de Oliveira (Minas Gerais) e
região). Entre os mais perigosos bandos do Campo Grande, figuravam o
quilombo do negro Ambrósio e o negro Canalho.[33] ”
Embora a escravidão no Brasil tenha sido oficialmente abolida em 13 de maio de 1888,
alguns desses agrupamentos chegaram aos nossos dias, graças ao seu isolamento, como,
por exemplo, Ivaporunduva, próximo ao rio Ribeira de Iguape, no estado de São Paulo.
A maioria dos quilombos tinha existência efêmera, pois uma vez descobertos, a sua
repressão era marcada pela violência por parte dos senhores de terras e de escravizados,
com o duplo fim de se reapossar dos elementos fugitivos e de punir exemplarmente alguns
indivíduos, visando a atemorizar os demais cativos.
Estudos genéticos
Estudos genéticos realizados em quilombos têm revelado que a ancestralidade africana
predomina na maioria deles, embora seja bem significativo a presença de elementos de
origem europeia e indígena nessas comunidades. Isso mostra que os quilombos não foram
povoados apenas por africanos, mas também por pessoas de origem europeia e indígena
que foram integradas nessas comunidades. Os estudos mostram que a ancestralidade dos
quilombolas é bastante heterogênea, chegando a ser quase que exclusivamente africana
em alguns, como no quilombo de Valongo, no Sul, enquanto em outros a ancestralidade
europeia chega até a predominar, como no caso do quilombo do Mocambo, na Região
Nordeste do Brasil, mas isso é a exceção.[38]
Remanescentes
Ver também: Lista de comunidades remanescentes de quilombos
Quilombo Mesquita
Dentre estas comunidades temos o Mesquita, que foi oficialmente reconhecida como área
remanescente de quilombo por volta de 2011, através da RTD, publicada no Diário Oficial
da União. A comunidade tem como principais atividades a agricultura familiar, sendo que
os excedentes são vendidos nas feiras locais de regiões vizinhas, principalmente
em Cidade Ocidental.[47][48]
Esta sofreu com diversas pressões sociais e políticas nos últimos cem anos, dentre os
acontecimentos que perturbaram a ordem estabelecida do local, destacam-se: a Missão
Cruls, esta ocorrida ainda no fim do século XVIII; a Coluna Prestes; a construção
de Brasília e de Cidade Ocidental, que está localizada imediatamente em seu entorno; e
por fim as novas pressões imobiliárias que surgiram com o crescimento da nova capital.[49]
Fruto da pressão imobiliária destaca-se a recorrente perda do seu território original. Parte
deste território foi vendido ou ocupado ainda na construção da nova capital, pois havia a
crença de ser um local sem dono. Originalmente o seu território compreendia toda a região
onde encontram-se os condomínios do Lago Sul, as Ra’s de São Sebastião, Jardim
Botânico, a Reserva da Marinha do Brasil, boa parte da Ra de Santa Maria, todo o Lago
Paranoá, os Bairros Lago Sul e Lago Norte, se estendendo ao Paranoá e parte da cidade
de Planaltina do DF. Toda essa área é comprovada ter sido parte do território quilombola,
segundo documentos históricos encontrados nos últimos anos.[50]).
Etimologia
A palavra Zumbi ou Zambi, vem do termo zumbe, do idioma africano quimbundo, e
significa fantasma, espectro, alma de pessoa falecida.[1]
Biografia
Tributo
Em 1995, a data de sua morte foi adotada como o dia da Consciência Negra. Em 2003 foi
incluída no calendário nacional escolar, e em 2011 a Lei nº 12 519 instituiu oficialmente o
Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, data comemorada em 832 dos 5 570
municípios brasileiros, portanto em menos de 15% dos municípios.[18][19] O dia tem um
significado especial para os negros brasileiros que reverenciam Zumbi como o herói que
lutou pela liberdade e como um símbolo de liberdade. A data também consta do calendário
de santos da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.[20]
Hilda Dias dos Santos incentivou a criação do Memorial Zumbi dos Palmares.
Várias referências nas artes fazem tributo a seu nome: