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Volume 5 – Edição 1 - 2021

PREVENÇÃO PRIMÁRIA NAS DERMATOSES OCUPACIONAIS: UMA


ATUALIZAÇÃO DA DERMATITE DE CONTATO OCUPACIONAL

Patrick de Abreu Cunha Lopes¹; Vanessa Simões Paixão²; Silvia Maria Araújo Moraes³; Ana
Luiza Leal Correa Lima4; Pedro Henrique Matos Monteiro5; Paulo Roberto Hernandes Júnior6;
Márcia Célia Galinski Kumschilies7

¹ Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Discente do curso de Medicina.
patrick.abreu33@gmail.com

² Universidade Metropolitana de Santos, Santos, São Paulo. Discente do curso de Medicina.


vanessanpaixao@gmail.com

³ Hospital da Criança (PRONTOBABY). Rio de Janeiro, Brasil. Médica no serviço de Residência


Médica em Pediatria. silviamariaaraujomoraes@gmail.com
4
Centro universitário de Belo Horizonte (UniBH). Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Discente do
curso de Medicina. analuizalealcl1150319@gmail.com
5
Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Discente do curso de Medicina.
riquebetta@gmail.com
6
Universidade de Vassouras (UV). Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil. Discente do curso de Medicina.
paulorh.med@gmail.com
7
Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Guarujá, São Paulo, Brasil. Coordenadora do Núcleo de
Pesquisa Fernando Lee. mgalinski@unaerp.br

Seção: Saúde.

Formato: Artigo de Atualização.

RESUMO

A Dermatite de Contato Ocupacional é uma doença ocupacional comum que afeta


uma variedade de grupos de trabalhadores. Programas de treinamento em proteção
e prevenção de doenças na pele têm se mostrado promissores para melhorar as
práticas de prevenção e reduzir a incidência das dermatoses ocupacionais. O objetivo
desta revisão é fornecer uma atualização sobre a dermatite de contato ocupacional,
analisar o número de casos notificados no Brasil e detalhar os recursos dos programas
de treinamento para prevenção primária da Dermatite de Contato Ocupacional. Além
de identificar lacunas na literatura sobre a doença de pele ocupacional mais comum.
A análise epidemiológica por meio dos dados do Sinan encontrou 6930 casos de
Dermatites Ocupacionais notificadas entre 2007 a 2018. Doze estudos foram
identificados para uma revisão aprofundada: muitos estudos incluíram trabalhadores

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úmidos empregados em cuidados da saúde, cabeleireiro, limpeza e preparação de


alimentos; um programa contou com trabalhadores da manufatura. Poucos programas
forneceram conteúdo sobre Dermatite Alérgica de Contato e apenas um estudo foi
avaliado quanto à eficácia a longo prazo. Sabendo das limitações do conhecimento
sobre prevenção primária e identificando lacunas na prática poder-se-á criar iniciativas
para atender às necessidades da pesquisa, da prática e melhorar a prevenção das
dermatoses ocupacionais. A partir disso, a eficácia a longo prazo, o impacto na cultura,
saúde, segurança no local de trabalho e difusão de programas no contexto global,
representam áreas para pesquisas futuras.
PALAVRAS-CHAVE: Saúde Ocupacional; Dermatite Ocupacional; Dermatite Irritante;
Dermatite de contato alérgico.

ABSTRACT
Occupational Contact Dermatitis is a common occupational disease that affects a
variety of groups of workers. Training programs in the protection and prevention of skin
diseases have shown promise to improve prevention practices and reduce the
incidence of occupational dermatoses. The purpose of this review is to provide an
update on occupational contact dermatitis, analyze the number of reported cases in
Brazil and detail the resources of the training programs for primary prevention of
Occupational Contact Dermatitis. In addition to identifying gaps in the literature on the
most common occupational skin disease. Epidemiological analysis using data from
Sinan found 6930 cases of Occupational Dermatitis reported between 2007 and 2018.
Twelve studies were identified for an in-depth review: many studies included wet
workers employed in health care, hairdressing, cleaning and food preparation; a
program featured manufacturing workers. Few programs have provided content on
Allergic Contact Dermatitis and only one study has been evaluated for long-term
effectiveness. Knowing the limitations of knowledge about primary prevention and
identifying gaps in practice, initiatives can be created to meet the needs of research,
practice and improve the prevention of occupational dermatoses. Based on this, long-
term effectiveness, impact on culture, health, safety in the workplace and
dissemination of programs in the global context, represent areas for future research.
KEY WORDS: Occupational Health; Dermatitis Occupational; Dermatitis, Irritant;
Dermatitis, Allergic Contact.

1 INTRODUÇÃO
Conceitualmente, a Dermatite Ocupacional (DO) é definida como alterações
na pele, mucosas e anexos, direta ou indiretamente, causadas, condicionadas,
mantidas ou agravadas na atividade profissional ou no ambiente de trabalho. Para
Johansen et al. (2015), os agentes etiológicos são variados e classificados em
biológicos, físicos ou químicos. A Dermatite de Contato Ocupacional (DCO) é a mais

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comum Doença de Pele Ocupacional (DPO) em muitos países desenvolvidos e será


o foco desta revisão. Conforme Holness et al. (2019), a Dermatite de Contato (DC) é
definida como uma “condição inflamatória da pele induzida pela exposição a um
irritante ou alérgeno externo”. Existem dois tipos de DC: irritante e alérgica. A
Dermatite de Contato Irritante é a mais comum e é causada pelo irritante que afeta
diretamente a pele. Os irritantes causam interrupção da função de barreira da pele.
Segundo Diepgen et al. (2015), a Dermatite de Contato Alérgica (DCA), também
conhecida como hipersensibilidade de contato é uma das dermatopatias inflamatórias
mais frequentes, sendo caracterizada por eritema, pápulas e vesículas, seguidas de
ressecamento e descamação.

Os estudos sobre o assunto são escassos no Brasil, e os reais fatores de risco


e a prevalência da doença no país são desconhecidos. No entanto, sabe-se que a
doença é subnotificada e que muitos trabalhadores afetados não procuram
tratamento. De fato, a qualidade de vida e a produtividade dos trabalhadores podem
ser afetadas por doenças de pele, aumentando a alocação de recursos, seja pelo
empregador, empregado e pelo sistema de saúde como um todo.

A partir de 2002, dentro da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do


Trabalhador (RENAST), no Brasil, foi estabelecido que todos os casos de DO devem
ser notificados por meio do preenchimento de formulários de notificação obrigatória,
orientação regulamentada pela Portaria 777, em 28 de abril de 2004, para todos os
casos tratados em ambiente hospitalar ou em unidades de saúde. A medida visa
aumentar o conhecimento sobre os principais danos à saúde dos trabalhadores.
Todavia, a plataforma online não disponibiliza dados atualizados. Assim, o SINAN -
Sistema de Informação de Agravos de Notificação - é alimentado, principalmente, pela
notificação e investigação de casos de doenças e agravos que constam da lista
nacional de doenças de notificação compulsória (Portaria de Consolidação nº 4, de 28
de Setembro de 2017, anexo V - Capítulo I).

O trabalho constante com solventes, caracterizado como “trabalho úmido” por


Lachapelle et al. (2018), é um importante fator de risco para desenvolver DCO, uma
doença que é mais comum entre os que trabalham em cuidados de saúde,
cabeleireiro, preparação de alimentos e limpeza. Na DCO, segundo o trabalho de Curti

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et al. (2018), sintomas recorrentes são comuns e muitos trabalhadores sofrem apesar
do tratamento, tempo e mudança de trabalho. Como o prognóstico varia amplamente,
as principais medidas de prevenção são de maior importância. A prevenção do DCO
inclui uma hierarquia de medidas que envolvem estratégias primárias, secundárias e
terciárias. Sendo que intervenções de treinamento estão incluídas a nível da
prevenção primária para evitar o desenvolvimento da doença.

O treinamento de prevenção primária deve fornecer informações relevantes


sobre identificação de perigos e buscar conscientizar sobre o reconhecimento de
sinais precoces. Além disso, para Lastovkova et al. (2018), a prevenção secundária
concentra-se no reconhecimento precoce de trabalhadores com doenças, e as
intervenções são projetadas para impedir a progressão da doença. Intervenções no
nível terciário de prevenção se aplica a trabalhadores com casos graves e crônicos
de DCO que resultam em comprometimento significativo; essas intervenções
envolvem a educação sobre reintegração de trabalho, continuação de trabalho e
prevenção da incapacidade. As análises focaram-se na ampla prevenção da DCO.

Nesse contexto, considera-se a necessidade da disponibilidade de informações


consistentes sobre o perfil dos trabalhadores e a ocorrência das DOs relacionadas ao
trabalho para orientar ações e intervenções em saúde no ambiente e condições de
trabalho. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi fornecer uma atualização sobre a
DCO e analisar os recursos de programas de treinamento para prevenção primária,
tendo em vista que ela é a doença de pele ocupacional mais comum.

Foi realizada uma revisão da literatura, considerada uma ferramenta única no


campo da saúde por possibilitar a síntese das evidências disponíveis sobre um
determinado tema e direcionar a prática clínica a partir do conhecimento científico. A
questão norteadora da pesquisa foi: “Quais trabalhadores estão mais expostos a
DCO, quais atualizações e recursos de treinamento para prevenção primária da DCO,
conforme relatado na literatura?”. Além disso, realizou-se uma coleta observacional,
descritiva e transversal dos dados disponíveis do SINAN, um Sistema de Informações
de registro contínuo de dados sobre doenças e agravos de notificação compulsória do
Ministério da Saúde – do mês de dezembro de 2007 a dezembro de 2018. Os dados

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foram extraídos do órgão de domínio público, sendo analisados por meio da variável
número de casos notificados de DO por ano.

A revisão da literatura foi desenvolvida seguindo a estratégia de busca PICO,


que é um acrônimo para Paciente ou problema, Intervenção, Controle ou comparação
e Resultado (do inglês “outcome”) ; definindo-se os quesitos da seguinte maneira: “P”
– pacientes com dermatite de contato ocupacional; “I” - intervenções realizadas por
profissionais com trabalhadores; “C” - não aplicável, pois não foi estabelecida
intervenção para comparação; e “O” – prevenção primária da DCO.

A realização da pesquisa se deu nas seguintes etapas: estabelecimento da


hipótese e objetivo; estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de artigos
(seleção da amostra); definição das informações a serem extraídas dos artigos
selecionados; análise de resultados; apresentação e discussão de resultados;
elaboração do texto final. Sendo que, a seleção dos estudos, a avaliação dos títulos e
resumos obtidos com a estratégia de busca nas bases de informação consultadas foi
conduzida de forma independente pelo próprio autor.

Para a seleção dos artigos, foram utilizadas as seguintes bases de dados com
acesso na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS): Medline (Medical Literature Analysis
and Retrieval Sistem on-line) e LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde).

Os critérios de inclusão foram: artigos primários publicados em inglês com os


textos completos disponíveis nas bases de dados selecionadas, publicados entre
2000 e 2019; artigos cuja metodologia demonstrou intervenções relacionadas às
práticas dos profissionais da equipe de saúde (em conjunto ou individualmente) de
treinamento para a prevenção primária da DCO.

Nessa perspectiva, as palavras-chave, em inglês, utilizadas


foram:“Occupational contact dermatites”, “Irritant contact dermatites”, “Allergic contact
dermatites”AND “Prevention”, (“Occupational Diseases” OR “Occupational Disease”
OR “Occupational Illnesses” OR “Occupational Illnesse”) AND (“contact dermatitis’’,
‘‘hand dermatoses’’, ‘‘eczema’’, ‘‘skin disease’’, ‘‘education’’, ‘‘training’’, ‘‘occupational
exposure’’, ‘‘prevention’’, ‘‘occupational health’’, ‘‘work-related’’, ‘‘program’’. Sendo que

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para a tabela 1 das bases de informação de dados foram pesquisados


especificadamente: “Occupational Disease” AND “Occupational contact dermatites”.

A busca online encontrou 1908 artigos; após a aplicação dos critérios de


inclusão, a amostra final para a confecção dos resultados foi composta por 12 artigos,
conforme apresentado na Tabela 1 e Figura 1, em anexo.

2 RESULTADOS
A pesquisa bibliográfica revisada rendeu 57 artigos, 47 de MEDLINE e 10 das
bases de dados LILACS. Após a remoção dos estudos de prevenção secundária e
terciária e artigos duplicados, 5 artigos foram incluídos na pesquisa inicial. A Pesquisa
manual rendeu 7 artigos adicionais para um total de 12 estudos incluídos para revisão
aprofundada. Além disso, foram encontrados 6930 casos das DOs em trabalhadores
do país. A evolução temporal das notificações no país passou de 0,018%, em 2007,
para 0,05%, em 2018, e em 2012 houve acréscimo para 0,14%, sendo que, os dados
em número de notificações por ano foram expressos conforme apresentado na figura
2. As intervenções de treinamento em prevenção primária foram localizadas apenas
para trabalhadores em ambiente úmido e manufatureiros: os estudos incluíram
profissionais de saúde, cabeleireiros e trabalhadores envolvidos principalmente na
indústria de alimentos e limpeza. Um dos 12 estudos contou com trabalhadores da
indústria química. Os desfechos primários incluíram avaliação clinicamente
morfológica de alterações cutâneas e sintomas autorreferidos para determinar a
frequência e gravidade da dermatite de contato. Outra medida de doença de pele foi
a função de barreira indicada pela perda transepidérmica de água.

Na Alemanha, cursos interdisciplinares foram desenvolvidos para educar os


trabalhadores com DCO ensinando teoria e exercícios práticos para melhorar o
prognóstico e prevenir progressão da doença. Segundo o trabalho de Agner et al.
(2002), na Dinamarca, revela que os programas que apresentam mais ensino sobre
estratégias de prevenção primária foram desenvolvidos em torno de evidências
clínicas, recomendações, reconhecimento precoce dos sintomas e práticas de
instruções para promover a proteção da pele. A exposição às condições de trabalho

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úmidas são um importante fator de risco para DCO. Dois estudos usaram a diretriz
alemã para definir trabalho úmido: mais de 2 horas de exposição da pele ao líquido
por dia, uso de luvas por mais de 2 horas por dia ou lavagem da mão frequente (920
vezes por dia), enquanto os demais usaram o termo em que as ocupações em trabalho
úmido abrangem cuidados de saúde, limpeza, preparação de alimentos e outras
configurações em que as mãos estão frequentemente em contato com a água.
Conforme Weisshaar et al. (2006), os profissionais de saúde correm o risco de
desenvolver DCO devido a lavagem frequente das mãos, uso de luvas oclusivas e
exposição a desinfetantes, borracha, látex e medicamentos tópicos. Quatro estudos
apresentaram intervenções direcionadas aos profissionais de saúde.

Duas intervenções foram introduzidas entre os enfermeiros estagiários durante


treinamento clínico [Held et al. (2001) and Loffler et al. (2006)]. Os outros 2 estudos
foram implementados entre trabalhadores estabelecidos em asilos, hospitais e
consultório odontológico [Dulon et al. (2009) and Van Der Meer et al. (2015)]. O
treinamento foi realizado principalmente por enfermeiros, médicos, farmacêuticos e
especialistas em reabilitação ocupacional também atuaram como treinadores. As
estratégias de ensino incluíram palestras pessoais; vídeos informativos, livros de
trabalho e grupos de debate; exercícios práticos para cuidados e proteção da pele,
fornecimento de cuidados com a pele e recursos de proteção, como cremes, produtos
de limpeza e luvas foi destaque na maioria dos programas. Um programa incluía
participantes da gerência, enquanto os outros visavam trabalhadores da linha de
frente. As sessões de treinamento variaram em duração de 20 minutos, sessões de
18 a 2 horas oferecidas regularmente a cursos de dia inteiro para enfermeiros chefes.
Um programa foi repetido três vezes no primeiro ano de treinamento de enfermagem
e duas vezes por ano, durante o período de treinamento de três anos, ensinando
diretrizes baseadas em evidências, recomendações de seguro de remuneração de
trabalhadores específicas para profissionais de saúde, ou recomendações de
medicina ocupacional para proteção da pele.

Dois programas incluíam conteúdo sobre a fisiologia da pele e etiologia da


DCO. Os resultados clínicos de 2 estudos indicaram efeitos positivos da intervenção
de treinamento, além de evidenciar melhorias na clínica. Além disso, avaliou-se

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também, a condição da pele e a redução da frequência de doenças da pele. Todos os


estudos demonstraram resultados variados para mudança de comportamento de
prevenção autorreferida, embora efeitos positivos no comportamento tenham sido
demonstrados pela redução da frequência de lavagem das mãos, aumento do uso de
luvas para trabalhos úmidos, aumento do uso de hidratantes, uso de desinfetantes
nas mãos, lavagem e uso mais frequente de luvas de algodão. Segundo o ensaio
clínico randomizado, Van Der Meer et al. (2015), mudanças organizacionais foram
indicadas por um aumento significativo no fornecimento de luvas e creme de barreira
nos locais de trabalho de intervenção. Os resultados desses 4 estudos indicam que
as intervenções de ensino ancoradas por diretrizes práticas apoiam a prevenção de
DCO entre profissionais de saúde.

Em outra perspectiva, para profissões como o cabeleireiro, o contato frequente


com substâncias irritantes, incluindo água, xampus, condicionadores e produtos de
limpeza, além de alérgenos em corantes capilares, água sanitária e produtos
permanentes, coloca os cabeleireiros em risco de desenvolver DCO, segundo Nixon
et al. (2006). Dois estudos investigaram o efeito de programas de treinamento para
prevenção de DPO no comércio de cabeleireiros. Ambas as intervenções foram
entregues aos cabeleireiros estagiários durante a sua formação profissional e o
conteúdo do programa foi entregue por especialistas educadores ou supervisores de
escolas de cabeleireiro treinados na prevenção das DOs.

Conforme o estudo Bregnhoj et al. (2012), a duração do treinamento variou de


15 horas, 6 sessões, a 2 dias de treinamento para instrutores, seguidos pelo aluno. O
conteúdo variava de instruções muito amplas sobre a pele, gestão de cuidados e
prevenção das Dos. Além disso, abordou a fisiologia da pele, alergia, eczema e
prevenção de eczema específico para cabeleireiro. Esses supervisores contribuíram
para o desenvolvimento de recomendações baseadas em evidências específicas para
cabeleireiro que foi posteriormente entregue ao cabeleireiro estagiário por meio de
apresentações orais, panfletos informativos, exercícios em grupo e ensino de medidas
práticas de proteção. Ambas as intervenções incluíram o fornecimento de cuidados
com a pele e recursos de proteção, incluindo hidratantes e luvas de proteção; a
intervenção ofereceu consultas no local de trabalho. Os resultados indicaram efeitos

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positivos das intervenções evidenciado pela mínima alteração cutânea avaliada


clinicamente e desenvolvimento de eczema no grupo intervenção. Esses resultados
indicam que a escola profissional pode ser um ambiente apropriado para o
treinamento de prevenção de doenças de pele, sobretudo a DCO, na indústria de
cabeleireiro.

Além disso, os trabalhadores da área de alimentos também estão expostos ao


desenvolvimento da DCO, pois além da lavagem frequente das mãos, os cozinheiros
podem ser expostos a irritantes e alérgenos encontrados na cozinha. Assim como
profissionais que mantém contato com produtos de limpeza também correm risco
devido à exposição a detergentes, desinfetantes, produtos de limpeza e luvas de
borracha. Cinco artigos detalham abordagens de treinamento para prevenir o DCO
em trabalhadores da indústria de alimentos e produtos de limpeza, Diepgen et al.
(2015). As abordagens variaram em configuração de locais de trabalho reais; lares de
idosos, matadouros, laticínios e um hospital; a uma escola profissional para padeiros.
Três programas usaram uma abordagem participativa em que equipes de
trabalhadores da linha de frente foram treinados para fornecer informações sobre
proteção da pele a seus colegas de trabalho.

A característica central da maioria das intervenções [Flyvholm et al. (2005) and


Clemmensen et al. (2015)] foram diretrizes baseadas em evidências para proteção
com 2 programas com recomendações personalizadas para trabalho úmido,
trabalhadores constantemente em contato com solventes no geral, Sell et al. (2005).
As intervenções de treinamento variaram de sessões de 1 hora oferecidas uma vez
ou duas vezes, a duas sessões de 2 horas com 2 semanas de intervalo, ou 2 dias
úteis completos 1 mês. Todos os programas apresentavam apresentações orais.
Outras estratégias de ensino incluíram discussões em grupo e registro em diário,
instruções e exercícios práticos, ilustrações e vídeos informativos. A maioria das
intervenções incluiu a provisão de recursos para o cuidado da pele.

Os provedores de treinamento eram enfermeiros, estudantes de medicina,


consultores de saúde ocupacional e membros da equipe de pesquisa e todos os
programas que foram implementados nos locais de trabalho envolvidos na gestão por
meio da participação, planejamento ou monitoramento do programa do gerente. O

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estudo Flyvholm et al. (2015) ainda demonstrou resultados positivos para o


conhecimento da prevenção primária, para melhora da condição da pele e para
diminuição dos sintomas, além da redução na frequência de eczema nas mãos. Os
resultados para mudança de comportamento foram variados; no entanto, resultados
positivos foram demonstrados para redução de horas de trabalho com substância
úmida, uso reduzido de desinfetantes e aumento do uso de luvas de algodão, produtos
para cuidados com a pele e cremes de barreira. Estes resultados indicam que as
equipes participativas de trabalhadores da linha de frente podem efetivamente
fornecer informações para prevenir o eczema entre seus colegas de trabalho.

Conforme o relato da literatura, existe um terceiro grupo com predisposição ao


desenvolvimento de DCO: trabalhadores da área de fabricação. Dependendo da
indústria, de acordo com Diepgen et al. (2003, 2015), os trabalhadores da manufatura
podem estar em risco ao desenvolvimento das DOs pela exposição a solventes,
conservantes, resinas e lubrificantes, além de pós, gases, vapores, fumos e produtos
químicos. Apenas 1 programa apresentou treinamento para trabalhadores da
manufatura. A intervenção foi entregue no local aos trabalhadores de uma fábrica. O
conteúdo incluía uma introdução geral a DCO, um pequeno vídeo intitulado "Dermatite
e você" e regularmente cartazes atualizados mostrando informações sobre doenças
de pele, proteção pessoal e dermatite. O programa foi apresentado por formadores do
departamento de saúde ocupacional do local. Todos os trabalhadores relataram
problemas de pele ao centro médico no local durante todo o período do estudo, e a
incidência de DO foi avaliada 1 ano antes e após a intervenção. Sendo que, os
resultados indicaram um declínio significativo em novos casos de DCO no ano após a
intervenção. Novos casos caíram de 70 de 1277 trabalhadores para 27 de 1277
trabalhadores. Depois de ajustar os produtos químicos manipulados, o observador
realizou mudanças nos relatórios, o declínio da DCO foi atribuído a intervenção na
educação do trabalhador. Esse resultado indica que pode ser fornecido treinamento
no local para trabalhadores de indústrias de fabricação.

1 DESENVOLVIMENTO
Em primeira instância, sabendo as áreas de atuação dos trabalhadores que
estão mais predispostos a desenvolver a DCO, torna-se necessário aprofundar o

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estudo sobre as atualizações de estratégias de prevenção primária. De acordo com


os dados do SINAN, observou-se 6930 casos de notificação das DOs no país entre
2007 a 2018. Conforme a literatura, identificou-se a necessidade de estudos sobre
intervenções educacionais para a DCO tendo em vista o aumento do número de casos
por ano. Nicholson et al. (2010) encontraram evidências para apoiar o uso de
programas de treinamento para trabalhadores para reduzir a incidência de DCO e
evidências moderadas para intervenções em mudanças comportamentais. Uma
revisão sistemática de programas de prevenção de dermatite nas mãos encontrou
evidências moderadas pela eficácia dos programas de prevenção para diminuir a
incidência e melhorar a adesão a medidas preventivas. Embora essas revisões se
refiram ao treinamento de maneira geral, nenhuma abordou especificamente
treinamento relacionado à prevenção de DCO.

O diagnóstico de DCO é baseado na história, exame físico e testes. O primeiro


passo é fazer uma análise detalhada do histórico de sintomas e exposição e a relação
entre os dois. Há várias diretrizes que enfatizam a importância da história, incluindo
uma história detalhada da exposição [Nicholson et al. (2010) and Alfonso et al. (2017)].
A Saúde Ocupacional Britânica de 2010 nas diretrizes da Fundação de Pesquisa para
a DCO foram resumidas por Adisesh et al. (2013). O padrão de atendimento no Reino
Unido está em realizar uma história clínica e ocupacional completa para qualquer
indivíduo em idade ativa apresentando erupção cutânea, incluindo o trabalho e os
materiais com os quais trabalham, a localização da erupção cutânea e qualquer
relação temporal como trabalho. Johnston et al. (2017) revelam alguns detalhes sobre
os componentes da história, incluindo produtos usados e como eles são manipulados,
e o uso de equipamentos de proteção individual. Além disso, também é importante
obter informações sobre práticas de cuidados com a pele.

Uma fonte importante de informações sobre os agentes utilizados no local de


trabalho são fichas de dados de segurança denominadas fichas de dados de
segurança do material. Enquanto lá existem algumas limitações no conteúdo das
fichas de dados de segurança, eles podem fornecer informações detalhadas sobre os
componentes de vários produtos utilizados no local de trabalho. Há informações na
literatura sobre a frequência com que uma história ocupacional é feita no contexto da

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DCO, no relato de histórico ocupacional, dependendo se as informações são


provenientes do paciente ou médico. Dois estudos separados na mesma clínica
investigaram as experiências de pacientes e médicos com o tratamento da DCO,
Holness (2007). Os pacientes relataram que a maioria dos médicos de família
perguntou sobre seu trabalho (67%), mas a maioria não pediu fichas técnicas de
segurança dos materiais (3%).

Similarmente, Holness et al. (2004) relataram que 53% dos dermatologistas


perguntaram ao paciente sobre o trabalho e apenas 3% pediram dados de segurança
do material. Do ponto de vista dos médicos, 91% dos dermatologistas relatam sempre
um histórico de exposição, comparado com 57% dos médicos de família. Justificativas
comuns as quais impediram dermatologistas e médicos de família de registrar
históricos do local de trabalho foram: restrições de tempo, falta de conhecimento, falta
de reembolso adequado, formulários complicados e excessivos para preencher. O
exame físico deve incluir documentação da localização e morfologia da dermatite,
Diepgen et al. (2015). Contudo, para as mãos e o rosto, o padrão e a morfologia não
são confiáveis na diferenciação entre dermatite atópica e dermatite de contato,
Adisesh et al. (2013). Sugere-se que teste de adesivo seja feito quando houver
suspeita de alergia de contato ou se a dermatite não melhorou em 3 meses ou há
implicações no emprego. Há uma variedade de diretrizes para teste de contato (Patch
Test) [Johansen et al. (2015) and Lachapelle & Maibach (2019)]. Com base no
histórico de exposição, as decisões sobre os alérgenos apropriados para o teste
podem ser feitas. No entanto, além de testar alérgenos comercialmente disponíveis,
muitos centros que se concentram na DCO também realizam testes personalizados
com vários agentes do local de trabalho.

O teste personalizado requer experiência em testes de contato (Patch Test) e


DCO e só deve ser realizado em centros com experiência e instalações. Lachapelle e
Maibach (2019) fornecem diretrizes úteis para testes personalizados. Sabendo que o
teste de adesivo é o principal teste diagnóstico para dermatite de contato, é importante
determinar onde os pacientes podem obter o adesivo. Geralmente, dermatologistas e
alergistas prestam serviços de teste de contato (Patch Test). Vários estudos iniciais
pesquisaram dermatologistas e alergistas sobre suas práticas de teste de adesivo.

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Um estudo que entrevistou dermatologistas americanos descobriu que dos 83% dos
dermatologistas, mais de 83% deles realizam menos de 5 testes de adesivo por mês,
Warshaw & Nelson (2002). Em contra partida, os dermatologistas que não utilizaram
o teste concluíram que os motivos apresentados para não testar incluíam a história do
paciente adequada para o diagnóstico (43%), teste de adesivo consome muito tempo
(41%), tem reembolso insuficiente(26%) e o teste é inconveniente para a prática(12%).

Ao mesmo tempo, uma pesquisa com alergistas sobre testes de adesivo, nos
EUA, descobriu que dos 53% de testes realizados, mais de 89% ocorrem em menos
de 6 pacientes por mês, Farrell et al. (2002). Um estudo recente de membros
pesquisados da Sociedade Americana de Dermatite de Contato sobre barreiras ao
teste de contato, Zhu et al. (2018), revelou que o reembolso inadequado está entre a
principais barreiras para realização do teste. O novo desenvolvimento tem sido o uso
de bancos de dados administrativos para examinar o teste de contato e suas
características. Um estudo analisou o faturamento Medicare em 2012 nos EUA e
encontrou variação substancial no uso do teste de adesivo, Meyer et al (2016). Um
estudo de Ontário, Canadá, onde existe um seguro de saúde universal e dois códigos
de cobrança para testes de contato, um para o ocupacional e outro para o não
ocupacional, examinou o teste de contato, durante um período de 20 anos, de 1992
a2014, Arrandale & Holness (2019). Constatou que havia variação por região. Sobre
o tempo, houve um aumento no teste de contato não ocupacional enquanto a taxa
para testes de contato ocupacionais era bastante estável. Sendo que, para testes de
adesivo não relacionados ao trabalho, 72% foram realizados por dermatologistas e
17% por outras especialidades médicas, incluindo alergia e medicina do trabalho. Para
teste de contato ocupacionais, apenas 46% foram realizados por dermatologistas e
46% realizados por outras especialidades médicas.

Uma vez que a história, o exame físico e o teste do adesivo tiverem sido
concluídos, um diagnóstico final pode ser determinado. Mathias et al. publicou um
conjunto de critérios para o diagnóstico de DCO para auxiliar médicos no diagnóstico
de doenças relacionadas ao trabalho. Ingber et al. (2004) avaliaram os critérios de
Mathias e os considerou úteis na avaliação da DCO. O gerenciamento médico deve
ser guiado por diretrizes para dermatite de contato ou dermatite das mãos em geral.

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A partir disso, tratamentos tópicos são utilizados, pelo menos inicialmente. Estes
incluem o uso regular de medicamentos, mais comumente corticosteróides, mas
também inibidores da calcineurina. Conforme Budd et al. (2019), se a dermatite for
grave e não responder a medicamentos tópicos, fototerapia ou terapias sistêmicas
como corticosteróides, retinóides e imunossupressores podem ser considerados.

Somado a isso, igualmente importante é a atenção aos fatores do local de


trabalho. Após o diagnóstico e gravidade da reação, várias modificações nos locais
de trabalho serão necessárias. Em alguns casos, o trabalhador pode não conseguir
retornar ao local de trabalho. Considerações importantes na gestão do local de
trabalho incluem a eliminação ou redução da exposição a agentes causadores, no uso
de equipamento de proteção adequado e no gerenciamento de cuidados com a pele.
Dependendo de pré-requisitos do local de trabalho, outras considerações podem ser
feitas, como a necessidade de higiene das mãos nos cuidados de saúde dos
trabalhadores. Uma ferramenta útil para resumir e transmitir recomendações no local
de trabalho é a prescrição no local, Kudla et al. (2017). Ela orienta o provedor nas
várias modificações comuns no local de trabalho e fornece um registro por escrito de
recomendações que podem ser compartilhadas com o trabalhador, empregador e
outros envolvidos no cuidado do trabalhador. Indivíduos que retornam com dermatite
de contato irritante podem ser auxiliados por recomendações para retorno gradual ao
trabalho, Chen et al. (2016).

A avaliação e o diagnóstico são críticos para fornecer um gerenciamento


adequado do local de trabalho. Sendo assim, informar os serviços de saúde torna-se
necessário, por trabalhadores com DCO, a fim de entender possíveis lacunas no
atendimento. Estudos demonstraram um tempo significativo entre o início dos
sintomas e a consulta por um médico. Keegelet al. (2005), na Austrália, descobriu que
a duração média dos sintomas de DCO antes da avaliação do médico era de 120
semanas. Holness et al. (2007), em um estudo de pacientes da clínica de dermatite
de contato encontraram um atraso médio de 25 meses em pacientes com DCO. Em
um estudo mais recente, Nurmohamed (2014) descobriu que 20% esperaram mais de
1 ano para consultar um médico. Hald et al. (2009) encontrou a média da duração
entre o início e o atendimento de um médico 1,4 anos e 2,1 anos para consultar um

14
Volume 5 – Edição 1 - 2021

dermatologista. Ruscaet al. encontrou um atraso médio de 8,6 meses. Paciente com
maior atraso para atendimento e maior exposição ao agente causador demonstrou
correlação com pior prognóstico.

Além disso, existem informações sobre os motivos do atraso na buscado do


cuidado. Rusca et al. encontraram fatores do paciente e da doença na decisão de
procurar atendimento médico. Fatores do paciente como medo e ansiedade em
relação a perder o emprego foram os motivos mais comuns de atraso, expressos por
62% dos participantes do estudo. A atitude do paciente em relação à consulta do
sistema de saúde é importante: 83% tentaram pela primeira vez seus próprios
métodos antes de procurar ajuda. Pacientes com alterações sintomáticas da pele,
como dor e queimação, e múltiplasáreas têm menos atraso. Nurmohamed et al. (2014)
investigou os dois motivos para esperar para procurar atendimento e, em seguida, os
motivos para procurar atendimento. Os motivos mais comuns para não procurar
atendimento foram pensar que os sintomas melhorariam (75%), que eles não estavam
em quadro grave o suficiente (44%) ou que não estavam limitando sua capacidade de
trabalhar (29%). Os motivos para procurar atendimento incluíam a piora (51%), os
sintomas eram incômodos (24%) e dificuldade para realizar o trabalho ou atividades
(8%). Bathe et al. (2012) descobriram que a maioria dos pacientes era incapaz de
interpretar a pele seca como característica da doença dermatológica.

O atraso na procura de cuidados pode resultar em exposição prolongada ao


agente causador de doença. Como observado acima, há evidências, Curr Allergy
Asthma Rep (2019), na literatura de que quanto mais cedo for feito o diagnóstico,
melhor o resultado. À medida que a identificação e o gerenciamento precoce
melhoram os resultados, seria desejável uma triagem para detectar doenças
precoces. Há informações limitadas na literatura em relação a triagem para
trabalhadores em indústrias de alto risco para dermatite nas mãos. Enquanto Emmett
recomendou a triagem há muitos anos, houve pouca publicação nesta área e as
diretrizes geralmente sugerem que a triagem pode ser útil, mas não há evidência
suficiente. Embora o Nordic Skin Questionnaire tenha uma versão curta com quatro
páginas que relata a importância do programa de triagem, Susitaival et al. (2003).
Recentemente, a ferramenta de triagem foi desenvolvida e testada na área da saúde

15
Volume 5 – Edição 1 - 2021

de trabalhadores, Nichol et al. (2019). De fato, isso pode servir como uma ferramenta
de triagem útil e também pode ser auto-administrada.

Além disso, dada a frequência da DCO e o impacto não apenas sobre


trabalhadores, mas também empregadores, seguradoras e sistema de saúde, a
prevenção é a chave. Um excelente recurso que abrange os vários aspectos da
prevenção foi exposto no artigo de Sithamparadanadaraj & Evans (2008). Há várias
revisões sistemáticas da prevenção de doenças ocupacionais como a dermatite de
contato, incluindo a da British Occupational, Fundação de Pesquisa de Higiene,
resumida por Nicholson et al. (2010).Além de uma revisão Cochrane para a prevenção
de dermatite de contato irritante que foi atualizada recentemente [Johnston et al.
(2017) and Bauer et al. (2018)].Os princípios de prevenção incluem a eliminação ou
substituição do agente perigoso, controles de engenharia, equipamentos de proteção
individual, educação e cuidados com as mãos.

Embora estratégias de prevenção sejam bem conhecidas e frequentemente


exigidas em saúde ocupacional e legislação de segurança, há evidências de que elas
nem sempre são realizadas. Estudos recentes demonstraram que menos da metade
dos trabalhadores, sendo avaliados quanto a possíveis DCOs e exposição no local de
trabalho, relatam treinamento específico para prevenção da exposição à DPO, [Gupta
et al. (2017) and Zack et al. (2018)].

2 CONCLUSÃO
A DCO continua sendo a DPO mais comum que causa malefícios na função do
trabalho, qualidade de vida e consequências econômicas. A análise epidemiológica
encontrou dados alarmantes sobre o número de casos das DOs notificados pelo
SINAN no Brasil. Dessa forma, estratégias de prevenção primária no país tornam-se
necessárias. O trabalho constantemente em contato com solventes, “trabalho úmido”,
continua sendo a principal fonte de exposição irritante. Novos usos de alérgenos

16
Volume 5 – Edição 1 - 2021

conhecidos e alérgenos emergentes continuam a ser reconhecidos. A clínica e a


história do paciente, em particular uma história ocupacional completa e testes de
contato são importantes, mas estudos mostram atrasos na procura de assistência
médica e também variações na disponibilidade de testes de contato. O gerenciamento
médico é para a melhoria da dermatite, mas intervenções no local de trabalho são
necessárias para resultados bem-sucedidos. Além de que a identificação e o
gerenciamento precoces resultam em melhores resultados. Sendo que a nova
ferramenta de triagem para dermatite da mão (http://creod.on.ca/occupational-skin-
disease/skin-health-toolbox/) foi desenvolvida para esse fim.
Além disso, esta revisão identificou várias intervenções de treinamento de
prevenção primária que demonstraram a prevenção da DCO entre trabalhadores em
uma variedade de setores, bem como trabalhadores da indústria. Programas eficazes
de prevenção primária compartilharam conteúdo semelhante, mas diferiram na
estrutura para públicos específicos. Esses programas são caracterizados por
recomendações específicas do setor, aprendizado multimodal, provisão de recursos
para cuidados com a pele e envolvimento de toda a organização do trabalho. São
necessárias mais pesquisas para determinar a eficácia a longo prazo dos programas
e a aplicabilidade geral da estrutura do mesmo. O papel da organização da cultura
dos trabalhadores e a ação participativa são necessários para o sucesso dos
programas e difusão desses programas para o contexto global.
Por fim, embora as estratégias de prevenção para a DCO sejam conhecidas,
há relatos na literatura de que não são necessariamente implementadas no local de
trabalho. Em resumo, embora o conhecimento sobre a DCO seja difundido, continuam
a existir lacunas na prática relacionadas a prevenção primária, secundária e terciária
que precisam de atenção a fim de reduzir a prevalência da DCO no Brasil e no mundo.

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4 ANEXO

BASE DE INFORMAÇÃO NÚMERO DE TRABALHOS

LILACS 33

Medline 1875

Total: 1908

Tabela 1: Número de trabalhos recuperados com estratégias de busca utilizadas para cada
base de informação científica.

Total: 1908 artigos

Após eliminação dos artigos duplicados (954 artigos)

608

Após eliminação de artigos não correspondentes à questão da pesquisa

57

Após eliminação de artigos não correspondentes aos critérios de inclusão

22
Volume 5 – Edição 1 - 2021

12

Fonte: Souza, Silva e Carvalho (2010).

Figura 1: Diagrama de fluxo do processo de inclusão de artigos, Rio de Janeiro, Brasil, 2020
Distribuição do número de casos de dermatoses
ocupacionais no Brasil entre 2007 a 2018 (Sinan)

1017 992
855

693 700
554
508
393 419
370
300
129

NÚMERO DE CASOS NOTIFICADOS (N=6930)

2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Figura 2: Distribuição do número de casos de dermatose ocupacional no Brasil entre o


período de 2007 a 2018 (n = 6930).

23

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