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FUNGOS: MORFOLOGIA,
SAÚDE CLASSIFICAÇÃO E
DIVERSIDADE
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171p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-66104-36-3
CDD 589.2
SUMÁRIO
2.1 CITOLOGIA...............................................................................................................................18
2.1.4 Núcleos.....................................................................................................................................22
3 CRESCIMENTO DA HIFA.........................................................................................................23
5.3.1.1Gasterocarpos.........................................................................................................................58
3
5.3.1.2Perídeo .....................................................................................................................................59
5.3.1.3Gleba ........................................................................................................................................61
5.3.1.4Subgleba ..................................................................................................................................62
5.3.1.5Capilício ...................................................................................................................................63
5.3.1.6Esporos....................................................................................................................................63
6 ASCOMYCOTA .........................................................................................................................73
7.4.1 Reprodução..............................................................................................................................99
9 PREDAÇÃO EM DEUTEROMYCETOS...................................................................................129
10 PARASITISMO .........................................................................................................................149
11 SAPROFAGIA ..........................................................................................................................154
12 LIQUENIZAÇÃO ......................................................................................................................157
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................................165
1 FUNGOS: MORFOLOGIA, CLASSIFICAÇÃO E DIVERSIDADE
FIGURA 1: Queijos do tipo “azul”. As manchas escuras são resultantes de um fungo parente do bolor, Penicillium
roqueforti, utilizado para aromatizar, alterar sabor e textura aos queijos (Gorgonzola, Rochefort).
Figura 2: microfotografia de candica albicans, causadora da candidíase em crianças e adultos (500 x). 6
FIGURA 3: Fotografia de líquen comum em troncos de árvores (associação entre fungo e alga).
Figura 4: Raíz de uma planta (coloração alaranjada) com micélio (estruturas filamentosas semelhantes a algodão)
formando micorriza.
Figura 5: Saccharomyces cerevisae levedura utilizado em massas de pães (fermento para pão). Em (A) Barra: 5
µm
O verdadeiro pai da micologia, porém, foi Elias Magnus Fries (1794 – 1878),
publicando uma obra com vários volumes e descrevendo cerca de 3.000 espécies, construindo a
base da classificação sistemática dos fungos que serviria de continuidade para todos os
trabalhos posteriores. Após a sua morte, seus trabalhos foram continuados por Lucien Quélet
(1832 – 1899) que descreveu 400 novas espécies.
9
Os irmãos franceses Charles Tulasne (1818 – 1884) e Louis René Tulasne (1815 –
1885), realizaram desenhos ilustrativos de estruturas microscópicas dos fungos trazendo nova
luz ao conhecimento destes organismos, e o italiano Giacomo Bresadola (1847 – 1929) publicou
extensos trabalhos descrevendo os Ascomycetes por meio de desenhos considerados obras de
arte pela minúcia e exatidão nos detalhes. Os trabalhos de Roger Heim atentaram para os
cogumelos alucinógenos do México e para os fungos em termiteiros.
Alguns são bastante comuns e responsáveis por alergias respiratórias. Desde 1863 a
espécie Aspergillus fumigatus (Figura 7) é conhecida como causadora da Aspergilose
Broncopulmonar Alérgica, tendo sido identificada durante estudos realizados em pulmões de
pássaros com aspergilose. Estes fungos filamentosos são sapróbios de distribuição universal, e
produzem esporos encontrados na atmosfera durante todas as estações do ano. O A. fumigatus
pode ser encontrado com grande facilidade no solo, em vegetais ou qualquer outra matéria
orgânica em decomposição aeróbia, o que explica a fácil propagação de seus conídios pelas
correntes aéreas.
10
(A) (B)
Figura 8: (A) Aspecto macroscópico de Penicillium chrysogenum (bolor) encontrado em alimentos e também produtor
da penicilina (antibiótico). (B) Conídios com esporos de P. chrysogenum.
A convivência entre o homem e este grupo de seres vivos, porém, também remonta a
outro aspecto, o das epidemias. Quando o homem passou a cultivar alimentos de origem
vegetal, por meio da reprodução sexuada ou assexuada, selecionou plantas que pareciam ser
mais produtivas. Ao se formarem grandes extensões de cultivos, uma espécie de planta qualquer
que seja infectada por um fungo, será fonte de uma epidemia, passando o patógeno para as
demais plantas ao redor que sejam suscetíveis ao parasita. Desta forma, o homem se deparou
com a perda de produções inteiras, sem que se soubesse a causa.
Em 1834, foi a vez do míldio da uva (Plasmopara viticola), observado a primeira vez
nos Estados Unidos (Figura 10). Em 1878, o patógeno foi levado para França por meio de
mudas que chegavam da América do Norte (Gregory, 1876). Em 1868, Hemileia vastatrix,
relatado primeiramente no Ceilão (Sri-Lanka), causou a ferrugem do café e prejuízos de grandes
proporções e 1970 infectou as plantações de café do Brasil, maior produtor mundial deste grão
na época (Centro de Informações da Ferrugem do Cafeeiro, 2002).
12
(A) (B)
Figura 9: (A) Fungo Phytophora infestans, causador do míldio da batata em microscopia óptica. (B)
Aspecto de batatas infectadas com o fungo P. infestans.
Não podem ser esquecidas as toxinas produzidas pelos fungos, as micotoxinas, que
podem ser letais ao homem e animais ao se ingerir alimento contaminado ou cogumelos
venenosos. Putzke e Putzke (1998) comentam sobre a ergotina, um alcaloide produzido pelo
fungo Claviceps que infecta, ovários de gramíneas formando um esclerócio que substitui o grão
13
(Figura 11).
Alguns anos atrás, o subproduto de gramíneas, como a farinha com alto grau de
ergotamina, causava náuseas, vômitos, mal-estar, cefaleia, surtos psicóticos, constrição dos
vasos periféricos e efeitos mais graves como isquemia das extremidades. Nos últimos 50 anos,
porém, a ergotamina administrada na dosagem correta, é utilizada para tratamento de
enxaquecas e para acelerar trabalho de parto em gestantes.
Na Idade Média, grãos de centeio (Secale cereale) contaminados por Claviceps que
foram consumidos pela população causaram um surto de ergotismo, que na época ficou
conhecida como Fogo de Santo Antonio. Durante a epidemia do ano de 994, cerca de 40 mil
pessoas morreram com sintomas de contaminação por ergotamina. As pessoas que consumiram
grãos tornaram-se temporariamente insanas, acreditando estarem possuídas pelo demônio.
Dentre as micotoxinas, o grupo das aflatoxinas, no entanto, são ainda mais
importantes, pois são termoestáveis (não são eliminadas com a fervura ou aquecimento) e
comuns em milhos e amendoins. Existem pelo menos 13 tipos diferentes de aflatoxinas de
origem natural que permanecem presentes em grãos estocados, mesmo quando já não há mais
a presença do fungo, podendo passar à ração e ao leite. A ingestão de altas concentrações 14
dessas toxinas produz graves danos ao fígado, tais como necrose, cirrose hepática, cancer, ou
edemas. De todas as toxinas, à aflatoxina B1 é considerada como sendo a mais tóxica,
produzida pelos fungos Aspergillus flavus e A. parasiticus. As aflatoxinas G1 e G2 são produzidas
exclusivamente pelo fungo A. parasiticus.
Na ordem Agaricales, encontram-se os fungos macroscópicos mais consumidos: os
cogumelos. Os fungos desse grupo são bastante procurados pelas substâncias psicoativas para
rituais, ou para serem utilizados na culinária pelo seu sabor suave. Mas, pertencem a esse grupo
também, os maiores enganos na identificação e ingestão acidental de cogumelos tóxicos
(Abordaremos este tópico no módulo V).
Os cogumelos da família Amanitaceae lembram o padrão clássico do chapéu vermelho
com manchas brancas (Amanita muscaria). Uma curiosidade sobre esta espécie, é que a
variedade Siberiana é potencialmente alucinógena, mas o mesmo não acontece para a
variedade Americana (Pacini, 1981). Ambas as variedades, contudo, causam diarreia, sono
profundo e sudorese. Fácil de confundir com Amanita muscaria, Amanita phalloides é letalmente
tóxica. O mesmo acontece com Amanita verna e Amanita virosa, este último chamado de “anjo
destruidor”, alusão à cor totalmente branca do seu carpóforo potencialmente letal (Figura 12).
Isto serve para alertar que não existe uma regra básica que possa ser utilizada para determinar
quais são comestíveis e quais são tóxicos.
15
(A) (B)
Figura 12: Fácil de ser confundido com o comestível Amanita virosa (A), Amanita verna é
potencialmente tóxico, causando a morte (B).
Reino Stramenopila
Filo Oomycota
Filo Hypochytridiomycota
Filo Labyrinthulomycota
Reino Protista
Filo Dictyosteliomycota
Filo Acrasiomycota
Filo Myxomycota
Filo Plasmodiophoromycota
Reino Fungi
Filo Chytridiomycota
Filo Zygomycota
Filo Ascomycota 18
Filo
Basydiomycota
2.1 CITOLOGIA
(A) (B)
Figura 15: Hifas septadas: (A) corte longitudinal de uma célula fúngica observada em microscopia eletrônica (cw –
parede celular; s - septo; n - núcleo; m – mitocôndria); (B) detalhe de um septo doliporo com parentossomas
(microscopia eletrônica)
A quitina é um polissacarídeo, polímero de N-acetil-D-glicosamina (GluNac), típico da
estrutura das carapaças de insetos, aracnídeos e crustáceos. O GluNac é produzido no
citoplasma por sua transferência da uridina-difosfato-GluNac para cadeias de quitina pela ação
da enzima quitina sintetase que se localiza em organelas denominadas quitossomos. As
microfibrilas de quitina são transportadas à membrana plasmática e subsequentemente
integradas na parede celular em formação (Jennings, 1995).
Em fungos septados, o crescimento da hifa é apical e, à medida que esta cresce, ela
vai adquirindo aspectos diferentes nas porções mais velhas. Os vacúolos podem ser visíveis em
compartimentos da região subapical, embora pequenos no início, eles aumentam e se unem uns
aos outros, armazenando e reciclando metabólicos celulares como enzimas e nutrientes.
2.1.2 Citoplasma
2.1.3 Microtúbulos
2.1.4 Núcleos
Dois modelos têm sido propostos para explicar os mecanismos de crescimento apical.
Eles diferem em se as enzimas líticas da parece celular são ou não necessárias.
De acordo com o modelo, se a hifa é capaz de estender sua ponta, terá de ser capaz
de ter lisina para “amaciar” a parede da célula e ser capaz de sintetizar e incorporar novos
materiais na parede. Mas, estes processos terão de ser balanceados no final – do contrário, a
parede pode se tornar demasiadamente fraca ou rígida demais para um crescimento adicional.
1. Vesículas
contendo enzimas líticas ou
precursores da parede da
hifa movem-se através do
citoplasma para o topo da
hifa, onde eles se fusionarão
a membrana plasmática
liberando seu conteúdo na
24
parede da hifa.
2. Enzimas líticas
liberadas atacam as fibras
de polímeros (quitina +
proteína).
3. As fibras fracas
se encolhem e separam-se
uma da outra pela pressão
de turgor no propotlasma.
4. Enzimas
sintetizantes e precursores
da parede celular constroem
novas fibras e sintetizam
componentes adicionais
amorfos da parede da hifa.
5. A superfície da
parede da hifa aumenta. A
fusão de vesículas com a
membrana plasmática
assegura que uma contribua
para o aumento da
superfície da área da outra.
3.2 MODELO 2 – DO ESTADO ESTACIONÁRIO
Figura 19: (a) A união entre a célula-mãe e o botão é chamada de pescoço e tem a forma de um vidro
de relógio como resultado da ação das formins, que são proteínas envolvidas na polimerização de cadeias de
polipeptideos, e septins, um grupo de proteínas que se mantiveram conservadas evolutivamente e são responsáveis
por funções essenciais na citocinese. As células são mononucleadas. (b) Pseudo-hifas são formadas a partir de
uma extensão surgida durante o período de crescimento polarizado, embora transitório, e a mudança nos padrões
do botão da levedura formam botões alongados na extensão oposta aos locais onde se formaram os septos do
último ciclo celular. Isto leva a formação de uma cadeia alongada de células mononucleadas com constrições
evidentes nos lugares de septação. As verdadeiras hifas filamentosas têm uma largura contínua sem constrições em
torno do septo. (C) Muitos fungos filamentosos também podem dividir a região da polarização em um processo
chamado, em inglês, “tip-spliting”, que é a bipartição da região de polarização celular, causando uma dicotomia em
forma de “Y” e duas hifas surgem a partir de uma única hifa.
3.4 DIGESTÃO
3.4.2 As Enzimas
29
Diferentes Fungos têm capacidades para digerir uma ampla variedade de moléculas
complexas. Especialmente, se a molécula libera energia na digestão, então pelo menos um
fungo terá enzimas capazes de parcial ou completamente digerir a molécula. Por exemplo, o
“fungo-querosene”, Amorphotheca resinae é apto em colonizar o altamente energético creosoto
preservado. Poucos outros fungos têm a capacidade de colonizar este tipo de substrato, o que
dá ao organismo uma vantagem distinta, uma vez que neste substrato somente as moléculas
que formam o creosoto e outras similares estarão presentes.
As moléculas absorvidas por meio da membrana plasmática tendem a ser menor que
5.000 da, então apenas açúcares simples, aminoácidos, ácidos graxos e outras pequenas
moléculas podem ser digeridas. Em alguns casos, as moléculas são processadas por enzimas
localizadas na parede celular. Por exemplo, a sacarose-invertase tem sido localizada na parede
celular de leveduras. A glucose parece ser o açúcar preferido pela maioria dos fungos. A
utilização de outros açúcares é suprimida quando a glucose está disponível. Similarmente,
amônia, glutamina e aspargina regulam a remoção de compostos nitrogenados, e a cisteina de
compostos sulfurosos.
30
4 ASPECTOS EVOLUTIVOS
O ancestral primitivo e as relações evolutivas nos diferentes grupos de fungos não são
bem compreendidas. Existem poucos registros fósseis, possivelmente pela dificuldade de
fossilização dos tecidos destes organismos e, ainda que os fósseis da maioria dos grupos de
fungos encontrados pertençam ao Carbonífero (300 m.a.), algumas referências bibliográficas
citam a ocorrência de formas primitivas semelhantes a fungos em camadas geológicas do Pré- 31
Cambriano (cerca de 900 M.a), embora com datação não muito precisa (RAVEN et al. 1998), e
no baixo Devoniano (cerca de 400 M.a.). Entretanto, é no final do período Terciário (20 M.a.),
que os registros fósseis mostram uma rápida e divergente evolução dos fungos que incluem
formas similares às espécies atuais.
Figura 19: Corpo de frutificação de fungos Agaricales fossilizados (aprox. 15 – 20 Ma) em âmbar na Dominicana:
Coprinites dominicana (Poinar e Singer, 1990).
A hipótese de uma origem monofilética dos fungos foi à teoria mais aceita pelos
micologistas desde o começo do século XX (ATKINSON, 1915; GÄUMAN e DODGE, 1928;
LUTTRELL, 1955; SAVILE, 1968). Nesta teoria, supunha-se que todos os fungos derivaram de
um organismo eucarionte unicelular, um grupo de algas que perdeu a capacidade de
fotossíntese, originando os “fungos” flagelados. Supunha-se que tenha sido um membro dos
Chytridiomycota que tinha similaridade morfológica aos exemplares modernos dessa classe e
posteriormente produziu os zoósporos uniflagelados (Figura 20). Como muitos de seus parentes
atuais, este “quitrídeo ancestral” era um eucarionte aquático, mas com o tempo tornou-se 32
adaptado ao ambiente terrestre originando os fungos cenocíticos que se caracterizam por
possuírem vários núcleos por citoplasma. As células cenocíticas são típicas de Zygomycetos,
enquanto que na divisão Ascomycota e Basidiomycota, as células (hifas do micélio) possuem
septos transversais com um poro central por onde os vários núcleos migram de um ponto a outro
na hifa. Em termos de arranjo, as células cenocíticas são muito mais simples estruturalmente
que as septadas.
Figura 20: Aspecto geral do rizomicélio de Cladochytrium tenue, um Chytridiomycota encontrado na Reserva
Biológica de Paranapiacaba, Santo André, SP.
FIGURA 21 33
35
REINO FUNGI
Filo Basidiomycota
Classe Basidiomycetes
Subclasse HolobasiomycetIdae
Divisão Hymenomycete
Ordem Dacrymycetales
Tulasnellales
Agaricales
Aphylophorales
Divisão Gateromycete
Ordem Sclerodermatales
Melanogastrales
Tulostomatales
Lycoperdales
Nidulariales
Phallales
Gautieriales
Hymenogastrales
Podaxales
SubclassePhragmobasidiomycetidae
Ordem Heterogastridiales
Atractiellales
Agaricostilbales
Tremellales
Auriculariales
Classe Ustomycetes
36
Telyomycetes
(A) (B)
(C) (D)
Figura 23: (A) Eletromicrografia de basídios com esporos; corte transversal da lamela de um cogumelo mostrando o arranjo
de hifas e basídios em microscopia óptica na região do himênio: aumento de 40x (B); aumento de 500x (C); aumento de 1000x (D).
Esta estrutura é produzida aos milhares em região do fungo chamada himênio e possui a forma de uma
se apresentar inteira ou segmentada, dependendo da classe. Geralmente, cada basídio produz quatro esporos em su
Neste filo, os esporos recebem o nome de basidiósporos e podem apresentar parede externa lisa, rugosa ou or
forma de espinhos (Figura 23).
(A) (B)
FIGURA 24: Eletromicrografia de basídios: (A) quatro esporos lisos ainda permanecem presos ao basídio pelos
esterigmas;
As hifas dos basidiomycetes são septadas com um poro central que permite à
passagem dos núcleos de uma posição a outra da célula e podem ou não apresentar
parentossoma. O crescimento da hifa é apical e, à medida que a hifa vai se tornando mais
velha, vai aumentando o número de vacúolos de reserva (Figura 24).
38
(A)
(C)
(B)
Figura 25: Eletromicrografia de uma hifa septada sem parentossomas (A) e com parentossomas (B) circundando o
septo; (C) esquematização mostrando a disposição das organelas celulares em uma hifa septada de basidiomiceto
e uma correlação com as estruturas na eletromicrogafia em A e B.
5.1 REPRODUÇÃO
I) Conídios tálicos-ártricos
São os mais comuns, formados em conidióforos bem diferenciados dispostos em
frutificações ou diretamente sobre as hifas vegetativas, em grupos. Ocorrem em
Tricholomataceae, Polyporaceae, Bolbitiaceae, Corpinaceae e Cortinareaceae (cogumelos).
II) Clamidósporos
Os conídios são formados isoladamente no ápice de ramos hifálicos longos e finos que
lembram os esterigmas. Eles podem multiplicar o micélio primário, quando são uninucleados, ou
o micélio secundário quando são binucleados. Ocorrem em Pleurotus (Polyporaceae) e
Hohenbuehelia (Tricholomataceae). Nestes fungos é possível encontrar estruturas com formação
de mucilagem no ápice, a qual serve para a captura de nematódeos.
V) Mycelia Sterilia
São os micélios dicarióticos que não formam estrutura de reprodução assexuada típica,
mas que podem reproduzir-se por fragmentação do talo, pelo menos. É o caso do gênero
Rhyzomorpha, que como o próprio nome diz, corresponde às rizomorfas do teleomorfo
Armillariella mellea.
42
Bulbilos são estruturas análogas às formadas por algas, musgos e fanerógamas, isto é,
propágulos pseudoparenquimatosos em diferenciação estrutural interna. O esclerócio é
diferenciado porque representa mais uma estrutura de resistência do que um propágulo e por
desenvolver-se gradativamente.
43
Dacrymycetales
Tulasnellales
Aphylophorales
Agaricales (também subdividida por alguns autores em Agaricales, Cortinariales,
Boletales e Russulales)
Sclerodermatales 44
Melanogastrales
Tulostomatales
Lycoperdales
Nidulariales
Phallales
Gautieriales
Hymenogastrales
Podaxales
ORDEM AGARICALES
45
Figura 28: Morfologia geral de um cogumelo. Os corpos de frutificação geralmente apresentam um píleo (chapéu)
que pode apresentar alguma ornamentação: escamas, estrias, zonações, e um estipe que pode, em alguns casos,
encaixar-se lateralmente no píleo, estar muito reduzido ou até mesmo, ausente. O anel membranoso pode ser
persistente em algumas espécies, e tem a função primordial de proteger o himênio até que os esporos estejam
prontos para serem liberados. O himênio encontra-se na parte interior do “chapéu” e pode ser formado por lamelas
ou poros (como em Boletaceae onde é possível encontrar os deliciosos Boletus edulis e outros do gênero Suilus). O
mesmo acontece com a volva, que pode estar ausente para alguns basidiomas.
A volva é uma estrutura que não está presente em todas as espécies, mas é
característica de alguns gêneros, sendo utilizada como carácter taxonômico. No gênero Amanita
está bem representada e faz parte do desenvolvimento do corpo de frutificação (basidioma). O
carpóforo jovem emerge do solo em forma de um “ovo”, uma camada grossa de hifas que o
envolvem formando o chamado véu universal. À medida que o basidoma se desenvolve, o
estipe cresce e o véu universal vai se rompendo, deixando a maior parte de sua estrutura na
forma de uma volva na base do estipe e fragmentos espalhados sobre o píleo na forma de
escamas. O anel membranoso também é outra estrutura que não está presente em todas as
espécies. Em algumas ele persiste após a maturação dos basídios, preso no estipe, em outras
desaparece por completo. Ele tem como função a proteção do himênio até que se complete a
maturação dos esporos (Figura 29).
1
1 1 1
46
4
2 3 3
2
2
2
Figura 29: Estágios de desenvolvimento de Amanita muscaria mostrando a formação da volva e das escamas que cobrem
o píleo, e o anel persistente na fase madura. (A) Basidioma jovem em forma ovoide; píleo (1) e estipe (2) ainda não
distinguíveis. (B) Já é possível observar a coloração avermelhada no píleo e fragmentos do véu formando as escamas (1);
volta (2) e estipe ainda pouco diferenciados. (C) Forma típica de cogumelo já é perfeitamente observada embora o
“chapéu” ainda não esteja aberto, protegendo desta forma o himenóforo até a maturação dos esporos: (1) píleo, (2) volva
e (3) estipe. (D) Estágio de maturação do basidioma: (1) píleo completamente aberto expondo as lamelas do himênio, (2)
volva completamente diferenciada, (3) estipe completamente formado e (4) anel membranoso resultante do rompimento do
véu que envolvia o himênio.
Figura 30: A espécie de Agaricales de maior biomassa por frutificação encontrada em regiões da
América Central e EUA (Tricholoma titans).
(A) (B)
Figura 33: (A) Estruturas de frutificação do fungo Pleurotus ostreatus. (B) Nematódeo sendo envolvido por hifas de
P. ostreatus durante a predação.
5.2.3 Estruturas auxiliares na reprodução
O micélio dos agaricales apresenta duas fases distintas em seu ciclo de vida. Durante
a fase vegetativa o micélio é monocariótico (com um núcleo) e durante a fase reprodutiva o
basidioma é formado por micélio dicariótico (Ver figura 4). As hifas que se estendem pelo
substrato não possuem uma diferenciação sexual em estruturas “femininas” ou “masculinas”,
mas sim “linhagens” que podem ser consideradas para fins ilustrativos como “+” e “-”. 50
Em grande número de fungos desse grupo as fíbulas (ou ansas), que são estruturas
em forma de “gancho” sobre o septo da hifa, exercem papel importante para a distribuição dos
núcleos durante o processo de formação dos basidiósporos.
A hifa apresenta dois núcleos, um deles passa pelo porto do septo transversal. O
segundo núcleo, como não consegue atravessar o poro, utiliza-se dessa ponte como um
caminho alternativo formado pela fíbula e alcança o outro núcleo (Figura 34)
Figura 34: (A) Nos basidiomicetos, a presençade ansas sobre os septos distinguem as difas dicarióticas. As fíbulas
ou ansas são formadas durante a divisão celular. Supõe-se que garantam a distribuição dos dois núcleos
geneticamente diferentes (linhagens diferentes) no basidioma. (B) Eletromicrografia de uma fíbula e do septo
característico em hifa de Auricularia aurícula.
A liberação dos esporos é geralmente violenta, quando se leva em consideração o seu
tamanho em relação à força de ejeção. A alta pressão de turgor de líquidos na região do
esterigma causa o rompimento e separação dos esporos do basídio em uma velocidade próxima
aos 50 km/h (Figura 35).
51
(A) (B)
Figura 35: Detalhe de dois basidiósporos. Uma gota se forma na base de cada basidiósporo antes de sua liberação
do esterigma. O basidiósporo da direita apresenta estágio mais avançado. (B) No basidiósporo da esquerda, a gota
permanece aderida ao poro.
Figura 36: Arranjo dos sistemas de hifas em microscopia óptica (400x): (A) Sistema de hifas monomíticas (hifas
regenerativas) (B) Sistema Dimítico (hifas regenerativas de parede mais delgada e hifas esqueléticas de parede
mais grossa); (C) Sistema Trimítico contendo os três tipos de hifas.
De acordo com Hawsksworth et al. (1983), as famílias estão agrupadas de acordo com
a forma: 53
Formas poroides
Figura 37: (A) Aspecto do corpo de frutificação do fungo Ganoderma applanatum (orelha-de-pau) encontrado em
troncos de árvores (o himenóforo poroso sendo à região branca do basidioma).
Os fungos deste grupo são eficientes agentes biológicos, pois podem atacar a madeira
ainda viva, parasitando-a e, após a morte, ainda atuar como decompositor extraindo o máximo
de reservas energéticas de um único hospedeiro.
A presença de Laetiporus sulphureus (Figura 38) em árvore viva, por exemplo, significa
o “início do fim da árvore”. Uma inspeção na madeira revelará “raízes” vermelho-amarronzadas
no coração da árvore, causado pelo micélio deste fungo.
(A) (B)
Figura 38: Corpos de frutificação jovens do fungo Laetiporus sulphureus parasitando uma árvore (A); aspecto dos corpos de
frutificação (B)
Também existem alguns poucos, mas saborosos, fungos comestíveis dentre os
poliporos, pois a maioria é lignificada, ou seja, tem textura semelhante à madeira. Não se
conhecem espécies perigosamente tóxicas, mas muitas espécies também nunca foram testadas
quando à sua comestibilidade. Entretanto, o próprio fungo Laetiporus sulphureus quando jovem
possuem corpos de frutificação tenros e podem ser utilizados na culinária.
Formas cantareloides
Formas clavarioides
Formas teleforoides
Formas cupunuloides
57
(A) (B)
Figura 42: Schizophyllun commune (A) Aspecto encontrado na natureza; (B) Detalhe das lamelas duplas.
Formas Hidinoides
Figura 43: Algumas formas lembram os Agaricales apresentando um píleo e estipe, diferenciando-se
macroscopicamente pelo himênio denteado (Hydnum rufescens). Outras formas não possuem um padrão definido e
se desenvolvem espalhando-se pelo substrato.
Este grupo reúne os fungos que produzem basídios em basidocarpos fechados, sendo
por isso, denominados angiocárpicos. Os corpos de frutificação estão envoltos por parede
externa chamada perídio, a qual pode abrir-se de diversas maneiras ou permanecer fechada,
mesmo com esporos já maduros. A parte interna fértil recebe o nome de gleba.
5.3.1.1 Gasterocarpos
(A) (B)
Figura 44: Corpos de frutificação de Sphaerobolus stellatus (A) e Calvatia gigantea(B).
5.3.1.2 Perídeo
Fragmentação;
Rachaduras apicais;
Rachaduras em linha e ao longo do diâmetro;
Por poros.
60
Figura 45: Algumas formas de gasteromycetes encontradas na natureza e seus diferentes modos de abertura do perídio.
Quando a deiscência ocorre por poros, estes podem ser variadamente ornamentados
(rodeados por fibrilas, sulcos ou depressões) ou lisos. O Perídio pode ser formado por apenas
uma ou por várias capas, sendo assim classificado:
61
(B)
(A)
(C)
Figura 46: (A) Corte longitudinal do gasterocarpo de Cyathus olla; (B) desenho ilustrando as estruturas formadas
durante a reprodução de C. olla, (C) gasterocarpos de Crucibulum laeve com peridíolos.
5.3.1.3 Gleba
62
5.3.1.4 Subgleba
63
5.3.1.6 Esporos
(D) (E)
Figura 49: Sequência de desenvolvimento epígeo do fungo Clathrus sp. (A – C); aspecto do gasterocarpo maduro (D);
detalhe da região que guarda os esporos. Os fungos do gênero Clathrus exalam odor fétido, semelhante à matéria
decomposta, que atrai insetos. Os insetos são dispersores dos esporos destes fungos.
65
(A) (B)
(D)
(C)
(B) (C)
FIGURA 30: Gasterocarpos de Dyctiophora em diferentes estágios de desenvolvimento; (A) secção longitudinal do
estágio jovem – a forma de ovo; C e D estágio maduro para diferentes variedades do gênero.
68
Figura 32: a Estágios de desenvolvimento do ciclo de vida de U. maydis life cycle. b, Formação do tumor em milho.
c, Microscopia eletrônica (SEM) imagem de um teliósporo haploide. d, SEM imagem de hifa em epiderme de planta;
a seta mostra filamento dicariótico. e, SEM imagem do apressório; a seta marca o ponto de fixação. f, Acima,
imagem do apressório; abaixo, imagem epifluorescente da célula do fungo com calcofluor (azul) e vesículas
endocíticas evidenciadas com FM4-64 (vermelho). A região claro-brilhante indica atividade de secreção e
endocitose na interface fungo-planta; a seta indica o ponto de penetração no tecido da planta. g, Teleiósporos
pretos visíveis no tumor seccionado. h, SEM imagem de hifa esporogênea e estágios inicias do desenvolvimento do
esporo. i, SEM imagem de teliósporo ornamentados. Barra de escala, 5 m. (NATURE, 2006).
69
(A) (B)
Figura 33: Milho (A) e centeio (B) afetados por Ustilago maydis.
Os teliósporos podem ser formados em vários órgãos das plantas, incluindo flores,
folhas, caules, rizomas e, em poucos casos, também nas raízes (Entorrhiza - Tilletiaceae), a
partir de hifas dicarióticas, quando o protoplasto de cada célula se arredonda e forma uma
parede grossa própria, ao mesmo tempo em que a parede hifálica gelatiniza-se. Este protoplasto
formará o teliósporo. Tamanho, forma, cor e ornamentação dos esporos são caracteres mais
importantes para a identificação dos Ustomycetes. Os esporos podem ocorrer isolados, aos
pares, ou em grupos, algumas vezes formando verdadeiras bolas de esporos, frouxa ou
firmemente cimentados, inclusive com células estéreis entremeadas.
Luz e temperatura parecem influenciar na germinação, mas isto somente ocorre após a
cariogamia no probasídio (teliósporo), formando um metabasídio onde acontece a meiose e
formação direta dos basidiósporos sobre a sua superfície, sem formação de esterigmas. Os
basidiósporos não são liberados ativamente. Todos estes eventos variam muito entre as
diferentes espécies.
A reprodução assexuada ocorre com a formação de conídios diretamente a partir de
hifas uni e binucleadas, os quais podem ser originados sobre esterigmas e destes liberados
ativamente. Tanto conídios como basidiósporos podem produzir brotos repetitivamente, tanto na
natureza quanto em cultura.
70
(A) (B)
Figura 34: Cochonilha não parasitada sobre uma folha (A); massa micelial de um teleomicetes envolvendo uma
cochonilha.
Na ordem Uredinales são encontradas as ferrugens. Recebem este nome pelo aspecto
típico ferruginoso das manchas causadas nas plantas onde são patógenos. O micélio nessa
ordem não apresenta fíbulas, sendo geralmente intercelular, frequentemente formando
haustórios; são limitados a parte das folhas ou de outros órgãos aéreos do hospedeiro causando
o que conhece de “infecção local” (Figura 35). 71
A figura seguinte (Figura 55) mostra o ciclo de vida da ferrugem do trigo, Puccinia
graminis. O fungo P. graminis é um fungo heteroaécio, passando parte da sua vida sobre
Berberis e parte sobre uma gramínia, neste caso o trigo. Como está sendo mostrado, no início
da primavera um exemplar de Berberis é infectado por basidiósporos uninucleados. As hifas
provenientes dos basidiósporos, as quais possuem linhagens + ou -, dão origem a
espermogônios + e -. Quando os espermácios de uma linhagem entram em contato com as hifas
receptivas da linhagem oposta, a plasmogamia ocorre e os aécios são formados. Aciospóros
dicarióticos (n + n) produzidos pelos aécios infectam então o trigo. Listras avermelhadas, os
uredossoros, contendo uredosporos dicarióticos, logo aparecem sobre o trigo. Uredosporos –
produzidos durante todo o verão – reinfectam o trigo. Com a aproximação do outono, os
uredossoros convertem-se em telossoros escuros, contendo teliósporos bicelulares dicarióticos,
que não infectam outro hospedeiro. Com a chegada da primavera os dois núcleos de cada célula
dos teliósporos se fundem (cariogamia). A meiose ocorre as duas células do teliósporo
germinam. Cada célula dá origem a um basídio e quatro basidiósporos haploides.
72
Economicamente é um grupo
importante, pois os fungos atacam material
vegetal causando a podridão de madeira viva ou
morta; causam doenças em plantas e animais e, também, porque muitas espécies são utilizadas
nos processos de fermentação alcoólica e em alimentos (Figuras 36 e 37). Outro aspecto
relevante que será abordado no módulo V é a liquenização. A liquenização é uma simbiose
entre fungo e alga. Dentre os liquens, a maioria das associações ocorre com fungos do filo
Ascomycota.
74
Figura 37: Imagem SEM da madeira de cedro (esquerda) não infectada por fungo, e imagem da madeira de cedro
infectada pelo mal de “Toque de Rei Midas”, que leva à deterioração do material. Fotografia de microscopia óptica
de ascos com esporos (estruturas escuras) em seu interior (esquerda); desenho esquemático ilustrando a
morfologia e a disposição dos ascos com esporos no ascocarpo (direita).
6.1 TAXONOMIA EM ASCOMYCOTA
Apesar dos estudos já terem avançado muito em várias frentes, a taxonomia dos
Ascomycota ainda está confusa e precisa ser revista de modo mais amplo, para que possamos
nos apoiar em uma proposta mais consistente, baseada em vários caracteres.
75
Em Hawskworth et al. (1983; 1995) encontramos uma tabela com revisão de todas as
principais propostas envolvendo a classificação desse grupo que resume a confusão existente
em torno dos Ascomycota. Minter (1988) comenta a dificuldade em definir uma classificação
aceitável para os ascomicetos em “What is happening in ascomycetes classification?”. Várias
propostas foram lançadas rapidamente, mas também, rapidamente rejeitadas, deixando o filo
sem uma divisão aceitável.
Class Taphrinomycetes
Order Taphrinales
Class Schizosaccharomycetes
Class Pneumocystidiomycetes
Class Neolectomycetes
Ordem Saccharomycetales
Classe Pezizomycetes
Ordem Pezizales
Classe Dothideomycetes 76
Ordem Dothideales
Ordem Capnodiales
Ordem Myriangiales
Ordem Pleosporales
Ordem Botryosphaeriales
Ordem Hysteriales
Ordem Patellariales
Classe Eurotiomycetes
Ordem Eurotiales
Ordem Onygenales
Ordem Coryneliales
Ordem Mycocaliciales
Ordem Chaetothyriales
Ordem Pyrenulales
Ordem Verrucariales
Classe Laboulbeniomycetes
Ordem Laboulbeniales
Ordem Pyxidiophorales
Classe Lecanoromycetes
Classe Arthoniomycetes
Ordem Arthoniales
Classe Leotiomycetes
Ordem Helotiales 77
Ordem Erysiphales
Ordem Rhytismatales
Ordem Cyttariales
Ordem Thelebolales
Classe Sordariomycetes
Ordem Sordariales
Ordem Ophiostomatales
Ordem Diaporthales
Ordem Coniochaetales
Ordem Chaetosphaeriales
Ordem Microascales
Ordem Melanosporales
Ordem Coronophorales
Ordem Xylariales
Ordem Trichosphaeriales
Ordem Phyllachorales
Ordem Meliolales
Ordem Lulworthiales
Ordem Calosphaeriales
É tido com a mais provável radiação dos Ascomycetes (Bullerwell et al., 2003).
Membros característicos do grupo incluem Neolecta, a levedura Schizosaccharomyces, o
patógeno humano Pneumocystis carinii, e o fitopatógeno Taphrina. Como é esperado, as formas
de frutificação são particularmente diversas entre Taphrinomycotina (Figura 38).
Geralmente, dois planos corporais simples são encontrados na produção do asco: asco
não coberto com crescimento unicelular ou um rudimentar ascocarpo com crescimento hifálico.
Ou seja, estes fungos crescem tanto em formas unicelulares ou com um micélio esparso, e sua
fase sexual normalmente produzem ascos nus diretamente do ascogônio. Apenas Neolecta
produz um (primitivo) ascocarpo encapsulado (LIU e HALL, 2004).
Figura 38: Aspectos dos ascocarpos de Taphrina – ilustração (A) e Neolecta (B)
6.1.2 Subfilo Saccharomycotina (antigo Hemiascomycetes) – Leveduras
Os sabores dos vinhos proveem diretamente das uvas, mas muitos têm origem na
ação direta das leveduras. Nas cervejarias, o meio é esterilizado pelo calor antes da
fermentação, e culturas puras de leveduras são adicionadas. A maioria das leveduras
80
importantes para a produção de vinho, cidra, saquê e cerveja constitui linhagens de uma única
espécie, Saccharomyces cerevisiae, ainda que outras espécies possam atuar. Muitas cervejas
amargas, por exemplo, são feitas usando S. carlsbergensis. Saccharomyces cerevisiae é agora
praticamente a única espécie usada para panificação. Algumas espécies de leveduras são
importantes patógenos do homem, causando sapinho.
82
É o grupo que abrange a grande maioria dos ascomicetes. Os fungos desse subfilo
possuem ascocarpo de tamanhos e formas variadas, com colorações que vão do chamativo e
brilhante, ao discreto. Podem ser parasitas ou decompositores de matéria orgânica, crescendo
acima do solo ou serem subterrâneos. O himênio pode ficar exposto desde o início ou apenas
em estágios avançados. A descarga dos ascóporos, em algumas espécies é bastante violenta,
podendo ser percebida pela audição humana, se o ascocarpo estiver próximo ao ouvido
(BULLER, 1934), mas em outras, podem nem ocorrer (Figura 40).
83
Fazem parte deste subfilo fungos bastante utilizados na alimentação. As trufas são
reconhecidas na Europa pelo aroma e sabor extremamente delicados e agradáveis. São
ascocarpos hipógeos, ou seja, tem seu desenvolvimento subterrâneo e para serem encontrados,
geralmente utilizam-se cães farejadores ou, até mesmo, porcos.
Figura 42: Sistema complexo de ornamentações em esporos de trufas Tuber melanosporum (esquerda) e Tuber
magnatum (direita).
85
Figura 43: Aspecto geral do basidiocarpo de Lactarius infectado por Hypomyces lactifluorum (esquerda) e aspecto
do himênio de Lactarius infectado: as lamelas desaparecem recobertas por uma camada de “tecido” do fungo
parasita (direita).
Figura 44: Artrópodes infectados e mortos por Cordyceps neovolkiana: (esquerda) Larva de
coleóptera infectada (estruturas amarelas); (direita) uma aranha morta – as hifas do fungo saem pelo
exoesqueleto do animal.
7.2 BIOLOGIA
Figura 45: (esquerda) Hifas de Neurospora crassa; (direita) detalhe do septo de N. crassa (sem
parenstossomos, comum em Basidiomycetes)
B
Figura 46: Eletromicrografia de septos de Ascomycota: (equerda-direita) detalhe do septo (círculo amarelo) e os
corpos de Woronin (setas vermelhas).
Como já sabemos os fungos não formam tecidos verdadeiros. Entretanto, iremos nos
referir à organização das hifas especializadas como “pseudotecidos”. Nos ascomicetos, uma
87
série de diferentes tipos de hifas ou pseudotecidos podem ser formados entre os ascos, dentro
do ascoma ou de seu ostíolo, recebendo um nome geral: hamatécio. O hamatécio pode ser de
sete tipos diferentes:
FASE ASCIGENA 88
PERFEITA
FASE CONIDIAL
IMPERFEITA
Interessante observar, entretanto, que muitos fungos pertencentes a este grupo nunca
apresentaram fase teleomórfica (fase reprodutiva perfeita), enquanto outros nunca foram
observados em sua fase conidial (imperfeita). Os ascomicetos formam um grupo bastante
interessante no que diz respeito às fases reprodutivas. Uma espécie na sua fase sexual
teleomórfica pode ser completamente diferente na morfologia de quando se apresenta em sua
fase conidial. Essas diferenças, por muitas vezes, levam os taxonomistas a classificarem como
duas espécies totalmente distintas.
89
A B
Figura 47: Processo de formação do tricógine: (A) início do tricógine com a passagem dos núcleos; (B) aspecto do
ascogônio após formação das hifas ascógenas.
91
Cleistotécio
Figura 50 Corte transversal de cleistotécio em microscopia óptica (esquerda); desenho ilustrando a organização
interna de um cleistotécio mostrando a posição dos ascos e ascósporos.
7.3.2 Apotécio
São corpos de frutificação em forma de taça. Os ascos são produzidos em himênio
com ou sem paráfises simples ou ramificadas (Figura 51). Quando as paráfises se unem acima
dos ascos, temos o que se chama de epitécio; quando estão abaixo do himênio, chamamos
hipotécio.
93
Figura 51: Esquerda: Secção transversal de um apotécio, os ascos com ascósporos escuros são visíveis na
extremidade da estrutura; Direita: ilustração mostrando a organização interna de um apotécio com seus ascos e
esporos.
Figura 52: Peritécio em secção transversal mostrando o ostíolo no ápice da estrutura e ascósporos com esporos (A);
desenho ilustrando um peritécio seccionado mostrando a organização interna.
Aparentemente, o peritécio não teve muitas alterações em sua morfologia nos últimos
400 M.a. Alguns ascomycetos fósseis encontrados em camadas geológicas do Devoniano
apresentam basicamente a mesma estrutura (Figura 53).
A B
Figura 54: (A) Tecido vegetal infectado com ascostromas (amarelo) se desenvolvendo; (B) esquema da distribuição
dos estromas em tecido infectado.
96
Figura 55: Ascos de Taphrina vistos em microscopia óptica desenvolvendo-se diretamente sobre as células do
hospedeiro (A); aspecto de folhas de plantas infectadas por Taphrina.
Como já foi dito, os ascos podem apresentar de uma a cinco camadas de células. Esta
característica é comum entre espécies e entre gêneros. (Sherwood, 1981) identifica oito tipos de
ascos dentre os ascomicetos, utilizando microscópio óptico que, basicamente, são variações de
apenas quatro tipos:
II) Unitunicados: Possuem apenas uma camada de células e podem ser operculados
ou não operculados (Figura 56). Dentro dos unitunicados existem algumas outras subdivisões
conforme alguns taxonomistas sugerem:
97
Figura 56: Ápice de ascos e suas deiscências: (A) aspecto de um asco operculado – observe que alguns ápices já
estão abertos; (B) eletromicrografia do ápice de um asco operculado aberto; (C) ápice de um asco com deiscência anelada.
Quanto aos requerimentos nutricionais estes fungos parecem ser muito variados.
(Alexopoulos, 1962) cita que alguns são de interesse especial (Phoma casuarina e Phoma sp.)
por serem capazes de fixar nitrogênio.
7.4.1 Reprodução
A reprodução, como já comentamos, ocorre por meio de conídios, que são esporos de
origem assexual e imóveis, produzidos sobre o ápice de estruturas especializadas, denominadas
conidióforos. Os conídios podem apresentar formas, cores e número de células muito variado.
Os conidióforos podem ser produzidos livres e aleatoriamente sobre hifas somáticas, ou
agrupados em vários tipos de corpos de frutificação assexuais. A célula na qual os conídios são
formados diretamente é chamada de conidiogênica. Esta célula pode ser morfologicamente
similar às células das hifas somáticas ou completamente diferente na aparência. As células
conidiogênicas que possuem uma abertura, por meio da qual, conídios com uma parede
parcialmente contínua com a célula conidiogênica, são denominadas de fiálides. A célula
conidiógena que sofre repetidas proliferações durante a produção de conídios em cadeias, de
forma que as células conidiogênicas alongam-se e ficam marcadas com uma série de cicatrizes,
são chamadas de anélide.
101
Figura 57: Morfologia e ornamentação dos esporos: (A) Amerósporos: sem septos; (B) Didimósporos: com apenas um
septo; (C) Helicósporos: esporos em forma de espiral; (D) Estaurosporos: esporos em forma de estrelas; (E) Dictiósporos:
apresentam septos verticais e horizontais; (F) Fragmósporo: dois ou mais septos; (G) Escolecósporo: conídios muito
alongados, assemelhando-se a um verme.
Quanto ao tipo de células envolvidas na sua formação, o conídio pode ser enterotálico
(se a camada mais externa de hifas não participar da formação da parede conidial), ou
homotálico se todas as células da camada da parede conidial participar do processo. Quanto ao
tipo de formação, ele pode ser Blástico ou Tálico.
Conidiogênese blástica: o
conídio jovem é formado antes da
formação do septo transversal por
meio de um “estrangulamento” da
extremidade da hifa.
7.4.4Conidiogênese Blástica
Cada novo ápice de hifa passa a ser convertido em conídio blástico. Os próximos eixos
de células crescem por fora, alternadamente, atrás o eixo já convertido, dispondo-se ao seu lado
(Figura 60)
Figura 60: Etapas de crescimento simpodial; Gêneros de fungos com conidiogênese simpodial.
III Conidiogênese Blástica - Anélide
Cada conídio excedente deixa uma cicatriz em forma de anel ao redor da célula
conidiogênica que cresce a partir da cicatriz para formar o próximo conídio. A figura 61 mostra 104
um conídio com as bases truncadas e diversas cicatrizes anelares no centro da célula
conidiogênica.
Recentemente tem sido confirmado que alguns indivíduos anamórficos podem ser
tanto anelídicas quanto simpodiais.
A B
Figura 61: (A) Conídio com cicatrizes resultantes dos crescimentos anteriores; (B) etapas de formação do conídio
resultando em uma hifa com cicatrizes em forma de anel.
IV – Conidiogênese Blástica – Reversa
106
B
A
Figura 64: (A) Etapas da formação de fiálides e o engrossamento da parede da hifa; (B) Eletromicrografia de um
esporo desprendendo-se da hifa pelo processo de formação de fiálides.
VI – Conidiogênese Basi-axial
Cada cadeia de conídios consiste de séries de conídios gradualmente maduros, o mais velho na
ponta e o mais jovem na base, próximo à hifa indiferenciada. Novos conídios são adicionados na base da
cadeira, empurrando os mais velhos para o topo, conforme demonstrado na figura abaixo:
VII - Conidiogênese Artrotálica
Em Coremiella algumas
hifas degeneram para
liberar células em forma
alternativa de
“atroconídios” (figuras ao
lado).
O início do ciclo ocorre com a formação de um micélio heterocariótico, que pode ser
a partir de anastomoses entre duas hifas somáticas de diferentes linhagens. O núcleo produzido
no micélio se multiplica e seus progenitores distribuem-se pelo micélio que fica completamente
heterocariótico. Outra maneira de formar um micélio heterocariótico é por meio de mutações em
um ou mais núcleos, ou pela fusão de alguns núcleos e sua subsequente multiplicação entre
núcleos haploides.
7.5.1 A manutenção da variabilidade genética pelo ciclo parassexual
Um micélio heterocariótico pode ter sido originado, então, por dois processos:
109
Assim, o micélio pode conter até cinco tipos de núcleos: dois do tipo haplópide, dois de
homozigóticos diploides e núcleos heterozigóticos diploides. Ocorre, então, multiplicação dos
núcleos haploides e diploides. Essas recombinações dão aos fungos alguns avanços em
direção à sexualidade dentro do ciclo parassexual.
Um micélio que tenha recebido um núcleo externo por meio da fusão de hifas de outras
linhagens e tenha praticado o ciclo parassexual por vários anos, pode conter núcleos haploides
semelhantes ao das hifas de origem, núcleos haploides com várias recombinações gênicas,
núcleos heterozigóticos e homozigóticos diploides de vários tipos.
Figura 65: Deuteromiceto Arthrobotrys dactyloides aprisionando um nematoide. A armadilha consiste em hifas
circular composta por três células que, quando estimuladas, alargam-se rapidamente cerca de três vezes seu
tamanho original em 0,1 segundo, estrangulando o nematoide. Uma vez o animal preso, as hifas penetram em seu
corpo, digerindo-o.
8 FILO ZYGOMYCOTA (ZYGOMYCETES)
ESPORANGIÓSPOROS
COLUMELA
C Figura 67: (A) Formação de zigósporo jovem pelo processo de cariogamia (reproduça
sexuada) entre duas hifas especializadas de Rhizopum estolonifer; (B) Zigósporo form
(estrutura escura) em R. estolonifer; (C) esporângio formado pela reproduçao assexu
um zigomyceto.
Os esporângios são formados ao final de hifas especializadas chamadas
esporangióforos (Figuras 68 - 69). No fungo Phycomyces blakesleeanus, o desenvolvimento do
esporângio tem sido extensivamente estudado para compreender a genética básica para
diversos tropismos, incluindo a forte resposta à luz azul.
Alguns membros de Entomophthorales (Basidiobolus, Conidiobolus) também se
reproduzem por meio de esporos descarregados violentamente. De modo interessante, espécies
114
de Basidiobolus, Conidiobolus e diversos outros gêneros produzem um segundo tipo de esporo
em um longo estipe que parece ter certas adaptações morfológicas para uma eficiente dispersão
por insetos.
A B
Figura 68: Ilustração mostrando a morfologia dos esporângios de Peniciulium e Aspergilus (A); ilustração esporângios de Mucor e
Rhyzopus (B).
115
Figura 70: Eletromicrografia de merosporângio unisseriado de Syncephalastrum racemosum (Mucorales) produzido em uma
vesícula.
Figura 71: Foto do talo de Genistellospora homothallica (Harpellales) com tricosporos presos.
As paredes das hifas não estão presentes em todas as espécies e são constituídas por
quitina, quitosano e ácido poliglucorônico. Os centríolos, estrutura celular comum nas células
eucarióticas estão ausentes. Alguns fungos são dimórficos, ou seja, crescem tanto como forma
de leveduras ou desenvolvendo um micélio. A reprodução assexuada pode ocorrer pela
produção de esporangiósporos, conídios, oídios, clamidósporos e artrósporos.
Figura 72: Esporângios de Spinellus fusiger (Mucorales) parasitando uma frutificação de Agaricales Mycena pura.
Figura 73: O parasita Amoebophilus simplex (Zoopagales) e seu hospedeiro. A transferência ocorre através de uma
hifa especializada chamada haustório que penetra a ameba.
III) Espécies homotálicas cujas estruturas de reprodução assexuadas não são bem
diferenciadas e se limitam a um crescimento somático (Entomophthorales).
IV) Espécies heterotálicas com uma reprodução assexuada bem elaborada e também
de hábito parasítico (Zoopagales).
Figura 74: Eletromicrografia da hifa vegetativa de Kickxella alabastrina (Kickxellales). A linha branca separando a
célula superior da inferior é uma seção da parede do septo. Observe White line separating the upper from the lower
cell is a section of the cross wall or septum. Note septo com uma estrutura lenticular no poro. Escala da barra: 0.5
µm.
Os Entomophthorales parecem ser uma das mais diferentes e problemáticas
linhagens de Zygomycota por dois motivos: 1) Análises de DNA sugerem que ele pode ser
mais proximamente relacionado aos Blastocladiales (Chytridiomycota) (James et al. 2000;
Tanabe et al. 2004), que outros Zygomycota, e 2) eles são morfologicamente diferentes dos
outros Zygomycota no modo como seus esporângios são formados e na frequente produção
de esporangiósporos secundários (COLE e SAMSON 1979; BENNY et al. 2001). A posição
filogenética das espécies mais problemáticas, Basidiobolus ranarum, é incerta (JENSEN et
al. 1998), mas uma recente análise filogenética utilizando sequenciamento de dados RPB1 120
sugerem que está posicionado entre os Zygomycota (TANABE et al. 2004). Entretanto, estas
espécies parecem ser bem distintas dos Entomophthorales com os quais têm sido
tradicionalmente classificados. Embora B. ranarum possua muitos aspectos das espécies de
Entomophthorales, como a descarga forçada dos esporos, morfologia dos esporos,
zigósporos morfologicamente similares, e associações simbióticas com insetos (KREJZOVA
1978; BLACKWELL e MALLOCH 1989), estas espécies não aparecem no grupo junto com
outros Entomophthorales nos estudos de filogenética molecular utilizando sequenciamento
de DNA sequences (NAGAHAMA et al. 1995; JAMES et al. 2000). Basidiobolus spp. possui
organelas semelhantes a centríolos associadas ao núcleo (MCKERRACHER e HEATH
1985; Cavalier-Smith 1998), entretanto, somente membros dos Chytridiomycota, os únicos
“fungos” flagelados, possuem centríolos funcionais.
8.4 REPRODUÇÃO
A figura 10 ilustra o ciclo reprodutivo de Rhizopus stolonifer, mas seus passos podem
servir para a grande maioria dos zigomicetos.
121
Quando dois indivíduos compatíveis estão próximos, são produzidos hormônios que
estimulam o crescimento dos ápices das hifas, os quais se tocam desenvolvendo-se em
gametângios. Algumas espécies são homotálicas (autoférteis) e podem produzir estruturas
sexuadas a partir de uma única linhagem; muitas outras, como Rhizopus, são heterotálicas e
necessitam de uma linhagem “+” e outra “-“ para a reprodução sexuada.
Os gametângios ficam separados do restante do micélio pela formação de septos. As
paredes entre os dois gametângios que se tocam dissolvem-se e os dois protoplastos
multinucleados entram em contato. Um zigosporângio com parede espessa é produzido após a
fusão de dois gametângios multinucleados. Dentro do zigosporângio, os gametas – que são
simplesmente núcleos – fundem-se, formando um ou mais núcleos diploides, ou zigotos (Figuras
76 e 77). Nos zigomicetos, o zigosporângio também é frequentemente chamado de zigósporo.
122
C
B
F
D E
H
G
Figura 76: Etapas de formação do zigosporângio (a sequência de fotos pertencem aos gêneros Phycomyces e
Phizopus): (A) início da fusão das hifas; (B) pró-gametângio; (C) início do gametângio; (D) gametângio formado no
processo de plasmogamia (E); (F) zigosporângio formado. Reprodução Sexual (G) Eletromicrografia da fusão de um
gametângio em Mucor mucedo. (H) Zigosporângio ornamentado de Mycotypha africana.
123
Dois gêneros são conhecidos como patógenos de plantas: Choanephora, que causa
podridão de frutos e podridão mole de abóbora (Cucurbitaceae), pimentão e quiabo; Rhizopus,
que causa podridão mole em diversos frutos, grãos e sementes.
124
Os esporos de zigomycetes são dispersos pelo vento, embora o zigósporo possa
permanecer latente por longo período de tempo, suportando inclusive grandes modificações
climáticas.
125
126
Figura 80: Conidiobolomicose em ovino: assimetria do crânio de uma cabra com exoftalmia, aumento do volume do
globo ocular, ulceração da córnea e secreção ocular.
Figura 81: Esporos de Pandora phalangicida fungo Entomophthorales que ataca artrópodes da ordem Opilionida.
8.5.2 Classe Trichomycetes
Exceto por Amoebidium parasiticum, que vive fixo a carapaça externa de crustáceos e
em insetos imaturos (fase de larva), todas as espécies crescem internamente no trato digestório
do hospedeiro. Várias espécies ocorrem no intestino anterior, onde se fixam por meio de
estruturas denominadas “holdfast”. Esta estrutura é segregada junto a um dos polos pelos
órgãos reprodutivos do fungo. O micélio destes fungos nunca penetra no hospedeiro, e este
parece obter nutrientes do lúmen do intestino, não podendo, por isto, considerá-los como
parasitas.
As estruturas somáticas parecem estar relacionadas ao tipo de habitat que vivem estes
fungos, pois o micélio é muito limitado, apesar de ocorrerem espécies com micélio ramificado ou
não. Exames ultraestruturais de hifas destes fungos concluíram que esta é completamente
distinta das encontradas nos demais fungos.
128
Há formação de zigósporos, após a conjugação de duas hifas. Cada zigósporo é
produzido individualmente em uma hifa ramificada, denominada de zigosporóforo, e situa-se
sobre uma ou outra das células conjugadas. Em uma espécie, após o pareamento, forma-se um
tubo de germinação. Com o encontro ocorre a plasmogamia e, em seguida a cariogamia. Todos
os zigósporos são bicônicos, diferindo de todos os outros esporos sexuados de Zygomycota.
9.1.1 Micorriza
I) Plantas
As micorrizas são associações que
os fungos realizam não apenas com plantas
lenhosas (árvores) de uma formação florestal
(Figura 1), mas incluem membros de todos os
grupos de plantas: samambaias, licopodiuns,
equisetos, musgos (briófitas e hepáticas). Um
ponto em comum entre estes organismos é
que todos têm partes subterrâneas e quase
todos produzem seu próprio alimento por meio
dos processos de fotossíntese. No processo
de fotossíntese, a planta captura energia na Figura 82: Um cogumelo de Laccaria bicolor
crescendo junto a uma plântula de pinus. O tamanho
forma luminosa, geralmente solar, e obtém
da frutificação indica que uma boa taxa fotossintética
carbono a partir do dióxido de carbono (CO2),
está ocorrendo e promovendo a troca de nutrientes
para ser utilizado na construção de seu corpo entre os organismos nesse sistema raiz/micorriza.
e dos componentes químicos essenciais. O
principal produto da fotossíntese
(fotossintéticos) é um açúcar simples
chamado glicose.
II) Fungo
Os fungos capazes de realizar micorrizas estão distribuídos entre as diversas ordens
das classes e filos existentes. Devido às grandes frutificações, são mais conhecidos os fungos
dos Basidiomycetos (cantarelos, boletos e amanitas) e Ascomycetes (trufas, helvellas e
possivelmente algumas morchellas). Porém, os fungos Zygomycetes, parentes do bolor preto do
pão e com frutificações microscópicas são os mais envolvidos neste tipo de simbiose (Figura 2).
131
Nem todas as partes subterrâneas das plantas são raízes. Por exemplo, plantas como
samambaias, gengibre, e certas iridáceas estão fixas, primeiramente por sistemas subterrâneos
chamados rizomas. Muitas das outras chamadas plantas-inferiores, como os musgos, também
têm estruturas subterrâneas simples de fixação que muitos botânicos não consideram raízes
verdadeiras, sendo então chamadas de rizoides. As micorrizas ocorrem em rizomas e rizoides,
bem como em raízes verdadeiras (Figura 84).
Por intermédio da fotossíntese plantas verdes obtém energia da luz do sol e armazena
um pouco dela em forma de açúcar ou outros compostos químicos. Deste modo, as plantas
clorofiladas são energeticamente autossuficientes enquanto tiverem a fonte luminosa. Humanos
e outros animais, por outro lado, precisam obter alimento pré-pronto e então quebrá-lo por meio
da digestão e outros processos para obtenção de energia. Apesar dos fungos não ingerirem 132
seus alimentos da mesma forma que os animais fazem, eles também obtém energia por meio
daquilo que eles “comem”. Então, quando falamos de fungos micorrízicos obtendo energia das
plantas, significa que os fungos estão recebendo compostos altamente energéticos como o
açúcar proveniente delas. Os fungos então “queimam” estes compostos para liberar energia
armazenada em cadeias químicas bem como para providenciar a construção dos blocos
estruturais.
V) Fontes inorgânicas
As plantas necessitam mais que a luz solar e dióxido de carbono para construírem
seus corpos e prosseguirem ativamente vivas. Elas também precisam de água e outras
substâncias que são frequentemente chamadas nutrientes ou minerais, tudo o que é obtido do
solo. A lista de nutrientes requisitada pelas plantas é longa, entretanto a maioria é necessária em
pequenas quantidades. Aquelas necessárias em grande quantidade são nitrogênio (N), fósforo
(P) e potássio (K) – o NPK.
A epiderme é a primeira
camada de células e sua função é
proteger os tecidos internos. Os pelos 133
radiculares são tubulares e extensão
das células epidérmicas; são efêmeros
e confinados na sua maioria, à região
de maturação. O córtex é formado por
células semelhantes a bolhas e
frequentemente servem de reserva de
alimentos e desgaste de materiais.
Figura 84: Corte transversal de uma raiz primária de Salix sp.
(salgueiro) perto de completar sua maturidade.
O fungo não penetra por lugares danificados da raiz e nem onde o córtex está aberto
pelo surgimento de uma raiz lateral, indicando que o fungo necessita de um sítio fisiologicamente
funcional para que haja a penetração (SILVEIRA, 1992). As quatro partes (fases) de uma
micorriza a serem consideradas são:
1 – Intrarradical;
2- Perirradical;
3 – Extrarradical;
4 – Reprodutiva.
A fase intrarradical é compreendida de hifas simples, com ou sem estruturas
adicionais, que ocorrem entre a epiderme radicular e o córtex, tanto entre e dentro de células
individuais ou apenas entre elas. O fungo está restrito ao córtex e epiderme – não atravessa a
endoderme penetrando no cilindro vascular. 134
A fase perirradical é composta de uma camada de hifas que circunda a raiz como
uma meia ou luva.
A fase extrarradical é formada de hifas que se estendem em típico micélio pelo solo
circulando a raiz. Um dos componentes de maior importância dessa simbiose é o micélio
externo, o qual é uma das estruturas biológicas mais fascinantes, visto que constitui, estrutural e
funcionalmente, uma interfase entre os componentes edáfico e vegetal dos ecossistemas. A
principal função do micélio externo é o importante papel que possui na reciclagem de nutrientes
nos ecossistemas. Esta fase pode também apresentar rizomorfas, que são agregações de
muitas hifas e frequentemente visíveis a olho nu (PÉREZ-MORENO e READ, 2004).
A fase reprodutiva são os esporos, que podem ser produzidos dentro do corpo de
frutificação ou esporocarpo, como nos cogumelos ou trufas. A figura 86 mostra um pouco o
aspecto das micorrizas em microscopia óptica e eletromicrografia.
A
B
Figura 5: (A) Estágio inicial do desenvolvimento da micorriza em cultura de Laccaria amethystina (fungo) – Picea
abies (fanerógama); (B) Eletromicrografia mostrando a hifa junto à superfície da raiz e dissolvendo a camada
superficial de suberina da raiz.
135
C D
Figura 86: Estágio inicial de colonização de uma ponta de raiz de Pinus tinctorius. A hifa (setas) está começando a crescer no ápice da
raiz. Barra de escala: 10 mm (C); estágio final da colonização (D)
São as mais facilmente reconhecidas em campo, sendo discernidas a olho nu. O termo
foi proposto por Peyronel et al. (1969) e deriva do fato de que elas possuem uma fase
perirradical bem desenvolvida (chamada “manto” ou “bainha”), presente como uma fina massa
de hifas que cobre a parte externa da raiz e confere a aparência característica.
É um dos mais importantes tipos de associações micorrízicas, do ponto de vista
ecológico e biogeográfico. Trabalhos realizados constataram que 1 m de raiz colonizada pode
estar associada com até 8 km de micélio externo ECM (Smith e Read, 1997), e que em 3m2 de
solo florestal pode existir micélio ectomicorrízico suficiente para dar uma volta inteira ao planeta
ao longo da linha do Equador (LEAKE, 2003; Figura 88).
A 137
B
CD
E
F
Figura 88: Morfotipos de ectomicorrizas. Diferentes combinações de fungos e plantas produzindo vários aspectos de micorrizas.
(a) Hebeloma crustuliniforme; (b) Cortinarius sp.; (c) Melanogaster intermedius; (d) Amanita muscaria; (e) Rhizopogon vinicolor; (f)
Lactarius rubrilacteus.
A B
II) Endomicorrizas:
Não formam um manto ao redor da raiz, então não possuem fase perirradical.
Frequentemente elas têm uma fase extrarradical bem desenvolvida, como uma típica rede de
micélio permeando o solo. O fungo não forma esporocarpos complexos, em vez disso se
reproduzem por meio de grandes esporos que permanecem no solo e são movidos ao redor
dele. Estes esporos podem ser grandes o suficiente para serem vistos a olho nu (geralmente são
10 a 50 vezes maior que os típicos esporos de um cogumelo), e por isso não podem ser
transportados facilmente pelas correntes de ar como os demais esporos são.
A fase intrarradical das endomicorrizas consiste de hifas que crescem entre as células
do córtex, e frequentemente penetram nelas (daí o nome endomicorriza). Apesar das hifas
penetrarem a parede das células corticais, elas NÃO PENETRAM a membrana celular, mas
meramente fazem uma INVAGINAÇAO (deformação) sem rompê-la. Esta relação pode ser
compreendida se imaginar uma caixa de sapato com um balão inflado dentro. A caixa é a parede
celular e o balão a membrana. Se pressionarmos com os dedos o balão ele irá se deformar
(desde que não seja estourado), sem que se esteja “dentro” do balão. A hifa do fungo e
estruturas associadas permanece fisiologicamente fora da membrana celular apesar de estarem
presentes dentro da célula.
Há três tipos de endomicorrizas: arbuscular, ericoide e orquidoide.
Dentro da célula a hifa pode formar densos emaranhados, enrolando-se várias vezes
em forma de bobinas, originando estruturas chamadas de “arbúsculos” ou “vesículas” (Figura
9). Os arbúsculos (“pequenas árvores”) são semelhantes às ramificações dos galhos de arbustos
onde se acredita ser o local de transferência de nutrientes entre os simbiontes. Todas as
endomicorrizas parecem produzi-los, embora pode não estar presentes o ano todo. As vesículas
são globulares, ocorrem intra e extracelular com a função de reserva e armazenamento
(GIANNINAZZI et al., 1983; RAMOS, 2001; AMARAL, 2007).
Baseado nas duas formas anteriores (arbúsculos e vesículas), este tipo de micorriza há
muito é chamada de vesicular-arbuscular ou VA. Entretanto, como nem todos os fungos
endomicorrizios parecem produzir vesículas, a tendência atual é chamá-las de micorrizas
arbusculares. Nas literaturas podem ser encontrados os três termos: endomicorriza, micorriza
vesicular-arbuscular e micorriza arbuscular.
B
A
Figura 90: (A) vesículas da micorriza VA com o fungo Acaulospora Scutellospora sp. em
B. Microrriza Ericoide:
Recebem este nome por ser comum a associação com plantas da família Ericaceae.
As ericáceas predominam em solos ácidos pobres em minerais e matéria orgânica e, em
condições como estas, um grupo de Ascomicota realizam a simbiose (BRUNDRETT, 2002).
Estas micorrizas se caracterizam por produzir pouco micélio externo, similar a um manto estreito
e um extenso crescimento das hifas dentro das células do córtex radicular em forma de “rolos”
de densidades variáveis (DOUGLAS et al. 1989). Os fungos envolvidos nessa micorriza
141
possuem a capacidade de transformar uma grande variedade de compostos orgânicos em
produtos assimiláveis pelas plantas (SYLVIA, 1999). Este tipo de micorriza pode degradar quitina
e hexosaminas como importante fonte de nitrofênio. Em alguns casos pode conferir à planta a
resistência a metais pesados e aos baixos níveis de pH (READ, 1991; Figura 91).
A B
Figura 91: A e B: Células de ericácea realizando micorriza. Dentro das células é possível observar os rolos de hifas
C. Micorriza orquidoide
Figura 92: Secção transversal de um embrião de uma orquídea (Neottia); as massas de hifas fúngicas estão
indicadas pelas setas (A).
III) Ectendomicorrizas
É uma forma de transição entre ecto e a endomicorriza. As raízes das plantas são
recobertas externamente pelo manto de hifas que pode ser reduzido ou mesmo ausente, a rede
de Hartig é bem desenvolvida e a penetração do micélio é intra e intercelular (SILVEIRA, 1992;
SYLVIA, 1999).
143
As ectendomicorrizas representam o segundo tipo de micorrizas, as quais podem ser
abundantes em bosques de pinus ou piceas. De modo geral, as ectendomicorrizas se parecem
com as ectomicorrizas, mas geralmente não possuem as grossas e abundantes hifas que são
características, embora tenham um manto colorido. Em um corte transversal o fungo pode ser
visto penetrando o interior das células corticais, como que formando a rede de Hartig entre estas.
Ainda que se saiba pouco da ecologia das ectendomicorrizas, seus efeitos no crescimento,
nutrição e sobrevivência das plantas, as ectendomicorrizas têm se mostrado benéficas em
alguns casos (LoBuglio e Wilcox, 1988; Wilcox e Ganmore-Neumann, 1974). O fungo é um
Ascomiceto e a maioria das vezes carece de estruturas de frutificação características de muitos
fungos, ainda que alguns formem esporocarpo em forma de pequenas copas na superfície do
substrato.
Alguns autores incluem as duas últimas categorias de micorrizas como uma subseção
das ectendomicorrizas: Micorrizas arbutoides e Micorrizas monotropoides, devido ao modo como
se relacionam com a planta envolvida. Mas, em algumas bibliografias também é possível
encontrá-las como uma forma de associação categorizada de modo independente das demais
(JACKSON e MASON, 1984; SMITH e READ, 1997).
144
V) Micorrizas monotropoides
Até recentemente essa associação formada com plantas da família Monotropaceae era
classificada como arbutoide. Entretanto diferenças fundamentais foram observadas por
Duddridge e Read (1982) resultando em uma nova categoria de micorriza.
Enquanto uma típica micorriza arbutoide com Arbustus e Pyrola mostra extensiva
penetração intracelular, com aglomerados de hifas preenchendo grandes volumes em muitas
células, fungos que colonizam as Monotropaceas, como Monotropa hypopitys nunca penetram a
parede da célula (Figura 5). Esse aspecto é suficientemente distintivo para garantir a criação de
uma nova classe de micorrizas. Os fungos envolvidos nessa associação são Basidiomycetos, um
bem conhecido é Boletus edulis. As espécies do gênero Boletus formam micorrizas com muitas
espécies de árvores, e isto pode explicar como o monotropaceas está associado à grande
diversidade de árvores (JACKSON e MASON, 1984; Figura 94).
145
Nas monotropaces também são encontrados 10 gêneros nada comuns, pois todos são
totalmente aclorofilados, incapazes de fotossintetizar e produzir carboidratos. Em vez disso,
utilizam a micorriza para obter, não somente minerais e nutrientes, mas igualmente as fontes de
carbono de plantas próximas por meio de suas raízes. Estas plantas podem ser a faia, carvalho
e cedro, mas geralmente são pinus e abetos, uma vez que as espécies de monotropaceas são
geralmente encontradas em florestas de coníferas (JACKSON e MASON, 1984; SMITH e READ,
1997). Os carboidratos passam de uma conífera para uma monotropacea via porções comuns de
suas micorrizas, esse fluxo de nutrientes assemelha-se a relação ecológica “source-sink”, ou
seja: “fonte-sumidouro” (BJORKMAN, 1960).
Fitobiontes Micobiontes
Leguminosae
Acácia, Afzelia, Aldinia, Anthonota, Aphanocalyx, Amanita, Cantharellus, Gyrodon, Gyrospus, Inocybe,
Berlinia, Brachystegia, Didolotia, Eperua, Lactarius, Porphyrellus, Russula, Scleroderma,
Gilbertiodendron, Ingá, Instia, Isoberlinia, Julbernandia, Sclerogaster, Strobilomyces, Xerocumus
Macrolobium, Microberlinia, Monopetalanthus,
Ormosia, Parabelinia, paramacrolobium, Pericopsis,
Tetraberlinia
Casuarinaceae
Casuarina, Allocasuarina Amanita, Elaphomycetes, hysterangium, Laccaria,
146
Paxillus, Pisolithus, Scleroderma, Thelephora
Dipterocarpaceae
Anisioptera, Dipterocarpus, Dryobalanopus, Hopea, Amanita, Boletus, Cantharellus, Cenococcum,
Marquesia, Monotes, Shorea, Vateria Geastrum, Lactarius, Russula, Scleroderma
Euphorbiaceae Amanita, Austrogautieria, Boletellus, Cantharellus,
Uapaca Coltricia, Elasmomyces, Lactarius, Pulveroboletus,
Russula, Scleroderma, Tubosaeta, Xerocomus
Fagaceae
Cantaneopsis, Quercus, Lithocarpus, Pasania Boletus, Boletellus, Gyroporus, Leccinum, Tylopilus
Myrtaceae
Campomanesia, Eucalyptus, Eugenia, Melaleuca, Cenococcum, Hebeloma, Laccaria, Pisolithus,
Tristania Scleroderma, Setchelliogaster
Nyctaginaceae
Neea, Pisonia, Torrubia nr
Polygonaceae
Coccoloba Cantharellus
Pinaceae
Pinus Amanita, Boletus, Coltricia, Gyroporus, Hebeloma,
Lycoperdon, Pisolithus, Rhizopogon, Scleroderma,
suilus, Thelephora, Tylopilus
Proteaceae
Faurea nr
Sapindaceae
Allophyllus, Nephelium nr
Fitobiontes Micobiontes
Leguminosae
Acácia, Afzelia, Aldinia, Anthonota, Aphanocalyx, Amanita, Cantharellus, Gyrodon, Gyrospus,
Berlinia, Brachystegia, Didolotia, Eperua, Inocybe, Lactarius, Porphyrellus, Russula,
Gilbertiodendron, Ingá, Instia, Isoberlinia, Scleroderma, Sclerogaster, Strobilomyces,
Julbernandia, Macrolobium, Microberlinia, Xerocumus
Monopetalanthus, Ormosia, Parabelinia,
paramacrolobium, Pericopsis, Tetraberlinia
Casuarinaceae
Casuarina, Allocasuarina Amanita, Elaphomycetes, hysterangium, Laccaria, 147
Paxillus, Pisolithus, Scleroderma, Thelephora
Dipterocarpaceae
Anisioptera, Dipterocarpus, Dryobalanopus, Amanita, Boletus, Cantharellus, Cenococcum,
Hopea, Marquesia, Monotes, Shorea, Vateria Geastrum, Lactarius, Russula, Scleroderma
Euphorbiaceae Amanita, Austrogautieria, Boletellus, Cantharellus,
Uapaca Coltricia, Elasmomyces, Lactarius, Pulveroboletus,
Russula, Scleroderma, Tubosaeta, Xerocomus
Fagaceae
Cantaneopsis, Quercus, Lithocarpus, Pasania Boletus, Boletellus, Gyroporus, Leccinum,
Tylopilus
Myrtaceae
Campomanesia, Eucalyptus, Eugenia, Melaleuca, Cenococcum, Hebeloma, Laccaria, Pisolithus,
Tristania Scleroderma, Setchelliogaster
Nyctaginaceae
Neea, Pisonia, Torrubia nr
Polygonaceae
Coccoloba Cantharellus
Pinaceae
Pinus Amanita, Boletus, Coltricia, Gyroporus, Hebeloma,
Lycoperdon, Pisolithus, Rhizopogon, Scleroderma,
suilus, Thelephora, Tylopilus
Proteaceae
Faurea nr
Sapindaceae
Allophyllus, Nephelium nr
Tabela 1: Famílias e gêneros de simbiontes tropicais formadores de ectomicorriza e micobiontes
conhecidos.* Recompilado principalmente Brearley et al.( 2003), nr: não registrado.
Ascomycota
Balsamia, Elaphomyces, Genea, Geopora, Abies, Bétula, Corylus, Eucalyptus, Fagus,
Helvella, Hydnotria, shaerosporella, Tuber Laryx, Pinus, Populus, Pseudotsuga, Quercus,
Salix, Tsuga
Zygomycota
Endogone Eucalyptus, Pinus, Pseudotsuga
Deuteromycota
Cenococcum Abies, Larix, Pinus, Polygonum, Pseudotsuga
10 PARASITISMO
A B
Muitos fungos biotróficos não penetram diretamente através da cutícula, mas formam
preferivelmente o apressório sobre os estômatos. Após entrar na cavidade substomatal, a hifa de
penetração incha e forma uma vesícula substomatal. A vesícula continua a alongar-se e em
151
contato com uma célula mesófila diferencia-se em uma célula-mãe do haustório, um instrumento
de nutrição sofisticada da célula (Dean, 19979.
A superfície da folha libera uma variedade de sinais químicos, tais como açúcares,
fenóis, lipídeos e vários metabólitos voláteis que os fungos são capazes de reconhecer. O gás
etileno estimula o amadurecimento da fruta climatérica e tem também um sinal de infecção por
certos fungos (FLAISHMAN e KOLATTUKUDY, 1994). Os conídios de C. gloeosporoides e de C.
musae germinam e produzem múltiplos apressórios quando expostos aos níveis de etileno
tipicamente produzidos pelo amadurecimento de frutos de abacate ou de banana,
respectivamente. Frutos transgênicos de tomate (Lycoersicon esculentum) foram incapazes de
produzir etileno, e não houve estímulo para a germinação do apressório a menos que sejam
expostos ao etileno (PADILA et al., 1993).
Nectria galligena
Claviceps purpurea Puccinia graminis
Armilaria mellea
Cravagem do Centeio Ferrugem Negra do Trigo
Figura 97: Imagem de uma alga unicelular (verde) envolta por hifas de um fungo formando uma associação (líquen).
Por muito tempo acreditou-se, sem duvidar, que se tratava de uma associação
mutualística de modo que os componentes liquênicos não poderiam viver separadamente e que
havia troca de benefícios mútuos. O fotobionte fornece à associação de produtos da fotossíntese
e, no caso de ser uma cianobactéria, fornece também nitrogênio. Os benefícios recebidos pelo
fotobionte e proporcionados pelo micobionte são menos óbvios, mas pode incluir proteção a
dessecação, radiação excessiva manutenção de uma alta pressão parcial de dióxido de carbono
(em virtude da atividade respiratória) e a fixação e provisão de nutrientes minerais retirados do
substrato. 158
A B C
Figura 99: Ilustração das camadas de células de um líquen de disposição heterômera para as algas e hifas
fúngicas (A); exemplos de estruturas de liquens crostoso e foliaceo (B –C).
Figura 20: Liquens e suas estruturas de reprodução marcadas com setas: à direita: Physcia aipolia com apotécios
formando sorédios; à esquerda: Cladonia formando isídios.
Figura 101: Os liquens podem desenvolver-se nos mais diversos substratos: portões de ferro (A),
rochas (B) ou árvores (C).
165
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