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GORDA E SAPATÃO 

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HOME » AFETIVIDADE » 

A or dos meus anos, meus


ARTIGOS
Sexo Gordo e o corpo que
balança (+18 porque não

olhos insanos de te esperar: A quero ser processada)


#NFSW

solidão afetiva da mulher negra CORPO POSITIVO

lésbica
Eu nunca conheci alguém
que tenha feito sexo oral
usando plástico lme

SEM CATEGORIA

By Jész Ipólito. Published on 13 de setembro de 2015. Porque eu posto foto de


mulheres peladas

CORPO POSITIVO
Casei aos 19 anos. Com outra mulher negra, e na época, eu não A gorda que se acha
gostosa
entendia politicamente o que isso significava para além de ter uma
EMPODERAMENTO
20 páginas anti-
companheira. Eu tinha acabado de sair da casa senhora minha mãe e gordofobia que você
precisa conhecer !
cai no redemoinho do mundo, que me triturou até os ossos! Não que

ULTIMOS COMENTÁRIOS
agora tenha amenizado, mas com certeza, ter consciência política do

CARMEN RIBEIRO on
que eu sou me propiciou uma reviravolta gigantesca na minha vida, um Aceitou o desafio: Joana Lorenzetti #desafioa

Que lindeza!
alerta geral e uma paz interior que nunca havia tido antes. Hoje eu olho
SUZANA on Todo corpo tem uma história
pra trás e entendo tudo com outros olhos… Lembro de
oi, jéssica, tudo bem? te acompanho há
um tempo, não sei quanto, mas encontrei
algumas  situações racistas que passamos juntas na rua e que eu não seu blog porque também sou gorda,
também sou sapatão e ainda […]

tinha noção! Lembro das pessoas perguntando se éramos irmãs ou LARISSA on


Eu nunca conheci alguém que tenha feito sex

primas, ou das vezes em que as pessoas nos olhavam com ar de O mais doido é que como bissexual super
me preocupo quando transo com
meninos: camisinhas e mais camisinhas,
estranhamento na fila do mercado, por exemplo. Outras coisas pilulas e remédios e coisa e tal, […]

apagaram da minha memória, e talvez seja até bom assim. Me reservo DANN on
Eu nunca conheci alguém que tenha feito sex

no direito de manter as coisas boas dessa época. Dito isso, depois Eu já usei filme plástico. E foi horrível. A
primeira tentativa cortei um pedaço
pequeno, perdi as pontas dele rapidinho.
desse casamento, não namorei mais. Sou nova, comecei a desenvolver Daí cortei um pedaço maior, […]

DAÍZA LIMA on
minha sexualidade depois doas 18 anos, me entendi lésbica aos 19;
Eu nunca conheci alguém que tenha feito sex

também não sou a mais pegadora no rolê, e menos ainda uma pessoa Queridas, porque vocês têm problemas
com ginecologistas? Elxs tratam diferente
quem é lésbica?! Amo os textos desse
fácil de lidar -confesso-. Mas será que é somente por isso que até hoje blog!! Obrigada por escrevê-los e
compartilhar com

eu não consegui firmar um relacionamento saudável?! Porque  até tive


TAGS
 um relacionamento mais longo, que foi cheio de idas e vindas por
#desafioartegorda

conta da não-monogamia e responsabilidade afetiva, tanto de minha


29 de agosto afetividade

parte quanto da outra envolvida. Resumindo: essa relação me serviu amor antiracismo

arte beleza
pra abrir mais chagas do que fechar as que eu já tinha. Senti que
branquitude corpo

depois disso, fiquei muito mais insegura, fechada e inacessível. Passei dor empoderamento

familia feminismo
um longo tempo sem ficar com alguém, quero dizer beijar na boca,
feminismo negro

sabe?! Um período quase que de celibato porque eu simplesmente feminismos força

fotografia gorda
parei de pensar sobre afetos e me dediquei à outras tantas coisas na
gordas gordofobia

minha vida. Na época, achava que fazer isso, ignorar o que eu estava luta lésbica

lésbicas manifesto
passando, seria de mais valia do que ficar quebrando minha cabeça.
medo midia

Trouxa fui de não resolver essa minha questão. Mas como eu resolveria mulheres

mulheres negras
isso?! Resp: Tentando uma nova relação! Ahhh como isso é difícil…
mulhernegra negra

Nossa! Há um tempo atrás até tentei, mas em vão (por uma série de negra lésbica negras

noDietDay peso
motivos). Novamente, estava eu na estaca zero e com a sensação de
poesia política

“isso é impossível pra mim”. Eu, que sou tão louca e impulsiva, não paro racismo redes sociais

representatividade
quieta, vivo procurando novidade pra me ocupar, vivo procurando o
resistencia

que fazer pois se não for assim eu piro facilmente! Culpa do meu signo, sapatonize agosto

sapatão sexo
alguns vão dizer. Culpa da minha falta de coragem, eu digo.  Culpa,
visibilidade

culpa, culpa! Tento amenizar essa questão, mas eu realmente me sinto


visibilidade lésbica

muito culpada por isso:  por não conseguir estabelecer um

relacionamento gostoso, que eu possa ser eu mesma, me sentir amada

e desejada, e também amar de desejar a outra ao meu lado. Mas me

pego pensando e desconstruindo essa culpa, que não contribui em

nada e, aliás, só me destrói aos pouquinhos.

Será que é só, exclusivamente, culpa minha essa dificuldade em me

relacionar com as outras?! Será que eu sou assim tão difícil, e portanto,

nenhuma mulher vai querer ficar comigo mais de uma noite? Será que

eu não vou conseguir constituir uma família? Será que não sou boa

suficiente pra andar de mãos dadas na rua, apresentar aos amigos?

Será que não sou digna de fazer parte de planos futuros da outra? Será?

by Laurence Jaugey-Paget, Untitled, 1990

Não sou parâmetro pra nada, tampouco acho que o que vivo é

exclusividade minha,  então me ponho a observar minhas amigas:

poucas tem namoradas. Conto nos dedos de uma mão aquelas que

estão em relacionamentos longos. A maior parte delas estão sozinhas,

assim como eu. A maior parte delas também se indaga sobre essa

solidão que ecoa baixinho dentro da gente e só sai em momentos

muitos pontuais, de desabafo. E depois seguimos adiante com nossas

vidas porque é preciso. Algumas das minhas amigas, que são pretas e

lésbicas, gostariam de estar namorando agora. Gostariam de ser a

opção para além do sexo. Sexo esse que nos vem com muita facilidade,

afinal, ninguém tá morta, mas também vai embora fácil. Mas não

vivemos só de sexo, só de beijos no canto da balada, não vivemos só

dos beijos de carnaval. Desejamos o companheirismo, o carinho em

suas diversas manifestações, desejamos mãos dadas na praça; àquela

cumplicidade de ter certeza que vai encontrar na outra apoio mútuo, ao

menos um colo aconchegante; desejamos conchinha embaixo do

cobertor quentinho em dia frio, e em dia de calor também! Desejamos

muito mais do que uma noite, mas o que temos é tão somente algumas

horas onde precisamos nos dar por satisfeitas com isso.

by Parminder Sekhon, Untitled, 1994

Essa semana a Revista Forum lançou uma matéria muito rica sobre a

solidão da mulher negra, você pode acessar aqui. Intitulada “A solidão

tem cor”, o texto conta a colaboração intelectual das pesquisadoras

Ana Claudia Pacheco,  doutora em Ciências Sociais pela Universidade

Estadual de Campinas (Unicamp) com a tese Branca para casar,

mulata para f…., negra para trabalhar”: escolhas afetivas e

significados de solidão entre mulheres negras em Salvador, Bahia, e

também a Claudete Alves, mestre em  Ciências Sociais pela Pontifícia

Universidade de São Paulo (PUC-SP) com a dissertação A solidão da

mulher negra – sua subjetividade e seu preterimento pelo homem

negro na cidade de São Paulo. Delineando com muito cuidado, as

autoras Jarid Arraes e Anna Beatriz Anjos, levantam o histórico racial da

condição da mulher negra brasileira, que foi destituída de seu corpo-

intelecto-prazer com o processo escravizador ao qual fomos

submetidas, cujas consequências permanecem até hoje em nossas

vidas. Sem precisar recorrer à acadêmicos, olho para minha mãe que

até hoje é uma mulher solitária. Passou a maior parte da vida dela

completamente sozinha, sendo responsável por absolutamente tudo.

Uma história recorrente na vida das mulheres negras. Destaco abaixo

um trecho da matéria pra pontuar o privilégio branco que é latente e

que se reproduz nas relações afetivas, sem sombras de dúvidas:

“(…)A situação de vantagem em que a mulher branca se


encontra em relação à negra no mercado matrimonial,
sobretudo em relação aos homens pardos e negros, é
evidente. “Isso é uma pista segura de que há a interferência
social e histórica que termina também sendo um dos fatores
que tira, para além de todos os outros direitos da mulher
negra, o direito ao amor”, destaca Alves.(…)”

Ruth & Zenobia, by nayahri

Essa matéria reviveu uma dor em mim e um medo também. O medo de

ficar sozinha pra sempre, vivendo de pedaços, migalhas. Mas como

uma amiga me disse “é preciso superar o medo para que ele não te

tome por completo e você estagne”. De fato, mas eu sinto que esse

medo não é só meu e por isso eu trago nesse texto a proposta de

investigar a afetividade das lésbicas negras. Não encontrei nenhuma

pesquisa acadêmica sobre isso (se alguém conhecer, pfvr comenta

aqui!), tampouco discussões políticas fazendo o recorte de orientação

sexual.  É preciso ter muito cuidado mesmo para tocar nesse assunto,

pois envolve muitas questões que academia nenhuma dá conta. Por

exemplo, como lidar com o fato de que já somos rechaçadas dentro de

casa, a partir do momento em que expressamos nossa lesbianidade?!

A dificuldade que muitas passam no trabalho, na escola ou faculdade,

por ser o que é?!  Se não conseguimos nos posicionar como lésbicas

perante a sociedade, como vamos conseguir uma companheira? Se

somos violentadas dentro de casa, de onde tiramos forças para

assumir um relacionamento? Se somos ameaçadas de demissão pela

desconfiança da nossa orientação sexual, como podemos exerce-la?

São muitas questões que perpassam essa questão pungente. Mas acho

que um passo precisamos dar. Porque já iniciamos nossas vidas

afetivas com mais solidão do que companheirismos?! Porque nos

incumbem, desde jovens, a dar conta de conselhos amorosos para vida

de outrém, quando a nossa se quer existe?! Porque somos nós que

ficamos de canto toda vez que é pra ter um relacionamento? Somos

nós as culpadas? Minhas amigas também são difíceis de lidar? São

seus signos e ascendentes? Acho que tem muito mais aí que a gente

não tem dado conta de falar. A solidão da mulher negra é, por vezes,

levantada por um viés heterossexual, sendo investigado apenas

aquelas que se relacionam com homens. E a bissexualidade da mulher

negra, como fica? A lesbianidade, como existe? Muitas perguntas, zero

respostas – por enquanto.

Stephanie and Monica, Boston, MA, 1987. from Sage Sohier’s At Home with Themselves: Same-Sex

Couples in 1980s America

A heterossexualidade compulsória sempre nos enfiou goela abaixo um

modelo afetivo de relacionamento, que é voltado para o homem,

retirando toda e qualquer agência de desejo afetivo pelo mesmo

gênero que possamos ter e, por termos esse histórico latente racista e

misógino,  nos colocou ao longo de séculos – enquanto mulheres

negras – como meras reprodutoras de pequenas crianças a serem

escravizadas, e também como um produto sexual a ser consumido pelo

homem branco. Nunca houve uma brecha para nos voltarmos à nosso

desejo, à ideia de que possamos talvez desejar outra mulher, e não um

homem. Portanto, a lesbianidade negra chega demarcando uma

ruptura brutal com heterossexualidade compulsória racista, uma vez

que rejeitamos os homens em todas as instâncias: do afetivo ao sexual,

da reprodução obrigatória à servidão. Rejeitamos também a

maternidade compulsória, que prega que toda mulher só irá se realizar

quando mãe. Nós nos realizamos enquanto lésbicas, podendo ser mãe

ou não. Inclusive, há muitas mamães lésbicas por aí,  quebrando de

novo o mito de que as nós “nunca” poderíamos ser mães, ou “onde já se

viu você ser lésbica?! Você é mãe!” Um VRAW atrás do outro nós damos,

pelo fato de existirmos e sermos dissidentes da heteronorma racista.

Elaine Harley, 43, graphic designer & Mignon R.Moore, 42,

professor at UCLA. Togetter for 11 years, married in New York

City in March 2012, live in Los Angeles. By Peter Hapak

Um tempo atrás escrevi sobre a imposição de relacionamentos

afrocentrados. Vejam bem: IMPOSIÇÃO! Eu odeio imposições, não é atoa

que luto contra todas as merdas impostas diariamente, né. Mas houve

uma época em que relacionamentos interraciais passaram a ser alvo

de rechaço na web, e discussões sobre a cor da pessoa que a mulher

preta estava, foi mote de textos e posts no facebook! Isso me deu nos

nervos! Escrevi sobre a agência da mulher negra lésbica em estar com

uma outra mulher, onde quem escolhia era ela. E questionei os

relacionamentos afrocentrados que não pautavam uma desconstrução

da reprodução do machismo, da reprodução de racismo; que não se

questionava sobre a posse e o ciúme que enclausura muitas das vezes…

Enfim, relacionamentos que buscavam somente, e tão somente, a cor

da pele para estabelecer-se. Jamais vou negar a resistência, o ato

político que é duas pretas juntas, namoradas, casadas, amigadas, seja

lá o que for sinônimo de estar juntas. Não há o que se questionar que

uma relação afrocentrada é um ataque direto ao sistema racista que

visa miscigenar para dizimar com a população negra. Mas também

não quero deixar passar batido que num cenário como este que

vivemos, de brutal solidão e violência, não temos realmente condições

de ficar escolhendo a dedo e medindo melanina quando uma paixão

brota e um amor desabrocha. Por isso, meu foco não é questionar

relações interraciais, mas sim, levantar a bola do porquê somos tão

preteridas entre nós mesmas. Porque, assim como as negras

heterossexuais, somos preteridas pelas lésbicas negras? Porque não

somos prioridades quando o assunto é afeto? O amor não tem cor?

Será? Eu vejo com mais constância casais lesbianos de mulher preta

com branca. E poucos que são o contrário, preta com preta. O ponto

aqui é levantar o questionamento dentro da comunidade lésbica negra,

do porquê olhamos tão pouco para aquelas que são como nós, porque

consideramos tão pouco que elas possam ser nossas companheiras, e

acabamos com uma mulher branca no final das contas. Não esperem

de mim por em cheque o relacionamento interracial aqui, eu realmente

passo longe de fazê-lo com juízo de valor e moralismos.

by Zanele Muholi

Afim de dialogar com vocês e entender isso,  eu pensei em um

formulário simples de perguntas, que pode ser respondido

anonimamente ou não, para que vocês possam me ajudar a

fundamentar essa questão e falar mais sobre isso.  Uma questão tão

dolorida e pouco tocada, porque mexe com nossa estrutura emocional,

de ponta à ponta, mas que eu percebo que essa é uma das feridas que

se alargam mais dentro da gente, enquanto temos que lutar

diariamente contra o racismo. Se não falamos, se nos mantermos

caladas, se não assumimos que o sentimentos quando estamos com

uma mulher branca, o que sentimentos quando estamos com uma

mulher preta, o que sentimentos quando estamos sozinhas, não

poderemos avaliar verdadeiramente os impactos do racismo nas

nossas vidas, nas nossas relações.  Não acho que precisamos esperar

alguma/um acadêmico trazer esse debate à tona, por isso o faço aqui.

Não é uma pesquisa, é mais uma conversa. A metodologia é a nossa

vivência, as referências são vocês, nós, que nenhuma instituição tira.

Nós precisamos dar um passo, juntas. Por isso eu peço a gentileza de

todas as lésbicas negras, das jovens às mais velhas, que preencham

com sinceridade o formulário e envie pra mim. É simples, com a maioria

das perguntas abertas. Eu quero saber como vocês enxergam essa

questão, o que sentem a respeito,  se sentem preteridas, como se

sentem… Enfim. Quero saber mais de vocês, pretas lésbicas, pra gente

poder se enxergar mais também! Pra nos olharmos como uma

possibilidade afetiva-sexual, também! Pra não ficarmos abandonadas

afetivamente achando que é culpa nossa.

Você pode acessar o formulário clicando aqui. Ah! Eu também peço a

gentileza de vocês divulgarem para amigas e conhecidas, nas suas

redes sociais e tal. O facebook me bloqueou por 30 dias da rede,

denunciaram fotos minhas que não continha nudez, mas o facebook é

misógino e me botou de castigo! Por isso eu conto com a ajuda de

vocês pra esse formulário chegar até outras pretas da rede.

Um beijo!

by Annie Gonzaga (Salvador, BA)

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TAGS ABANDONO AFETIVIDADE AMOR LESBIANIDADE LÉSBICAS MULHERES NEGRAS

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Jész Ipólito

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